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Um estudo sobre o filme 'bonequinha de luxo' (1961), dirigido por blake edwards, e sua relação com o conceito de luxo. O trabalho inclui uma análise bibliográfica e um estudo de caso, onde 20 pessoas que consumem produtos de luxo e já haviam assistido o filme foram entrevistadas sobre a relação entre o filme e a marca tiffany. O documento explora como o filme ilustra a moda dos anos 60 e como os meios de comunicação auxiliam na construção do conceito de luxo.
Tipologia: Exercícios
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Brasília 2016
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro Universitário de Brasília UniCEUB, na forma monografia, como um dos pré-requisitos para obtenção do grau de bacharel em Comunicação Social, habilitação em Jornalismo. Orientadora: Dra. Flor Marlene E. Lopes Brasília 2016
Agradeço a Deus por fornecer todas as oportunidades na minha vida que tornaram este momento possível. À minha família por sempre me amar e apoiar, além de me ensinar o verdadeiro valor do aprendizado e conhecimento. Também aos meus queridos amigos que foram sempre um refúgio e fonte de alegria nos momentos de estresse e quando tudo parecia dar errado, mas no final, dava certo. Agradeço, também, à todos os professores que contribuíram ao longo da minha formação e me incentivaram a não desistir de investir em mim mesma e em minha carreira. Em especial, gostaria de agradecer à minha orientadora Flor Marlene, pela inspiração deste trabalho e por todas as conversas, apoio, paciência e dedicação.
O trabalho a seguir teve como objetivo entender de que forma o filme Bonequinha de Luxo é capaz de auxiliar a construção do conceito do luxo, analisando, primeiramente, os significados do cinema, do espetáculo massificado, da moda e do luxo e a forma como eles influenciam a sociedade de consumo. Assim, o projeto abrange a relação entre estes conceitos e de que forma eles fortalecem uns aos outros. Também trabalha a maneira como as estrelas de cinema hollywoodianas são capazes de enaltecer o valor e a identidade de marcas de luxo, além de serem vistas como modelos ideais de moda e comportamento. Após os estudos bibliográficos, foi feito um estudo de caso que aborda o filme Bonequinha de Luxo e sua relação com o conceito do luxo. Por fim, foi aplicada uma pesquisa qualitativa com o intuito de se chegar a uma melhor avaliação sobre essa relação do cinema com o luxo a partir do filme estudado. Através desta pesquisa e do referencial teórico, o trabalho obteve resultados que confirmam a ideia de que o cinema e as estrelas hollywoodianas são capazes de fortificar o conceito do luxo e de agregar mais valor às marcas luxuosas, além de apontar as maneiras como esse fato se aplica. Palavras-chave: Luxo. Cinema. Moda. Bonequinha de Luxo.
2.1 Cinema e antecedentes................................................................................ 11 2.2 Cinema e o espetáculo................................................................................. 12
2. 3 Moda e antecedentes.................................................................................... 2.4 O luxo............................................................................................................ 2.5 O luxo e glamour hollywoodiano................................................................
3.1 Análise do filme Bonequinha de Luxo....................................................... 3.2 Influências do filme Bonequinha de Luxo na atualidade........................ 4 ASCENSÃO DE MARCAS DE LUXO ATRAVÉS DO CINEMA ....... 5 PESQUISA DE CAMPO............................................................................ 5.1 Perfil dos entrevistados............................................................................... 5.2 Resultados.................................................................................................... 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................... 6 .1 Sugestões....................................................................................................... REFERÊNCIAS.................................................................................................... APÊNDICE A........................................................................................................
8 1 INTRODUÇÃO O cinema e a moda apresentam-se como fenômenos influentes no que diz respeito ao comportamento da sociedade moderna. A forma como uma pessoa se veste reflete traços de personalidade e, consequentemente, revela seus comportamentos, valores e atitudes. Já no cinema, a moda representada por meio de figurinos pode ser percebida pelo espectador de uma maneira idealizada, despertando o desejo criado a partir da experiência cinematográfica. “O figurino é grande gerador de tendências tanto no teatro, como na música, nas novelas e especialmente no cinema, área que vem tornando-se cada vez mais, grande referência para a criação da moda” (DEL-VECHIO; SCHOLL; WENDT, 2009, p. 1). Essas influências do cinema e da moda presentes na sociedade de consumo atual, devem-se, também, ao fato de que ambos são importantes ferramentas de comunicação e de criação de significados. “O cinema incorpora as tecnologias e os discursos distintos da câmera, iluminação, edição, montagem do cenário e som – tudo contribuindo para o significado” (TURNER, 1993, p. 56). Assim como a moda que também apresenta-se como um meio eficiente de expressão de significados. “A roupa torna-se, portanto, uma expressão, apresentação, comunicação em diversas instâncias ou maneira de produzir a diferenciação de indivíduos ou grupos, assim como a interação entre estes” (BRANDINI, 2007, p. 26). Esta dinâmica proporcionado pela moda, em que ao mesmo tempo existe a necessidade de identificação entre as pessoas, há também, o desejo de se diferenciar. A individualidade e a exclusividade são elementos facilmente observados no ramo da alta costura e no mercado de luxo. Para Passareli (2010), “[...] as necessidades estão associadas ao processo de manutenção da vida e os desejos, ao processo de diferenciação da vida em sociedade”. E acrescenta que a chamada economia de luxo é o império dos desejos, já que as demandas estão voltadas para satisfazer desejos formados a partir de sonhos, emoções e sensibilidade. Os desejos organizam o conjunto de bens e serviços ligados à diferenciação da vida em sociedade. Se examinarmos atentamente a oferta de uma economia moderna, veremos que a quase totalidade dos bens e serviços oferecidos está ligada ao processo de diferenciação da vida, destacando-se o marketing como elemento indutor dessas demandas. (PASSARELI, 2010, p. 28) A comunicação apresenta-se, portanto, como uma ferramenta essencial para o luxo, já que possibilita as empresas deste mercado, despertarem o desejo do consumo, além de criar e reforçar o valor e status das marcas. Passa-se a vender, então, além do produto propriamente
10 O filme Bonequinha de Luxo ilustra, de forma icônica, a moda dos anos 60 inserida no mundo cinematográfico. Além disto, o estudo da relação entre o luxo e o cinema faz-se pertinente para compreender de que forma os meios de comunicação auxiliam a construir o conceito do luxo e como o público é influenciado ao receber tal conteúdo, o que pode ser melhor compreendido a partir da pesquisa de campo aplicada em Brasília, em que 20 pessoas que consomem produtos de luxo e já haviam assistido esse filme, foram questionadas sobre a relação entre Bonequinha de Luxo e a marca de luxo Tiffany. A pesquisa também fornece recursos para enriquecer futuros trabalhos, além de produtos criados na área do jornalismo de moda, oferecendo informações e conhecimento a respeito do tema abordado.
11 2 TEORIA DE BASE 2 .1 Cinema e antecedentes Após a primeira projeção cinematográfica feita em 1985 pelos irmãos Lumière, já era possível prever que o cinema estava destinado a ser um notável meio de comunicação. O cinema se define através da junção de fatores técnicos, artísticos, culturais e de entretenimento. É possível observar que se trata de um meio de comunicação baseado em mecanismos de representação e em dispositivos organizacionais de espaços e funções já estabelecidas como o do espectador, que recebe a mensagem e vivencia uma determinada experiência. Assim como a função do ator, que dá vida a um personagem e reproduz sua história. Essa mensagem cinematográfica possui, essencialmente, a função de contar histórias. O cinema dos primeiros anos debateu-se entre a consciência da realidade que o novo meio assegurava e a extraordinária facilidade com que se podiam reproduzir simulações da vida real, sobretudo por parte do público da época. Essa necessidade do ser humano em tentar representar a realidade que o rodeia, se firma como um dos principais fatores que deram origem ao cinema. Contudo, é importante destacar que o cinema, assim como o teatro, fornece somente uma ilusão parcial da realidade. De acordo com Arnheim (1957), o cinema pode retratar realmente a vida real, isto é, não simulada e em ambientes reais. Com isso, percebe-se que a imagem criada no cinema acaba sendo complementada com traços de uma realidade fantasiosa. Portanto, para Christian Metz (1980), não basta mais surpreender-se com o cinema como uma maravilha em estado de emergência, é preciso começar a compreendê-lo em seus diferentes aspectos, e para fazer alguma ideia dos pontos de vista que ele pode ser abordado. Compreender o cinema significa também aprender a tomar as devidas distâncias da imagem, para compreender os mecanismos de produção do sentido e, ao mesmo tempo, saber que são exatamente a distância da qual esta imagem provém e o distanciamento em relação a nossa experiência cotidiana, do universo em que nos coloca, que produzem a fascinação e que nos seduzem. (COSTA, 1985, p.29). E é fundamental compreender que, segundo Metz (1980), atualmente, os códigos não são mais sistemas parciais integrados pelo filme, mas a atividade de integração (ou desintegração), pela qual o filme, apoiando-se em todos os códigos, modificando-os, combinando-os, “representando” uns pelos outros, chega a construir seu sistema singular, seu princípio de unificação e inteligibilidade.
13 expressão, crítica e conhecimento, mas como produto trocável por dinheiro e que deve ser consumido como se consome qualquer outra coisa. A indústria cinematográfica, também, explora sua capacidade de persuasão inserida nos filmes e são capazes de direcionar essa experiência. Confirmando esta ideia, Adorno (2009), afirma que o cinema e o rádio se auto definem como indústria e as cifras publicadas dos rendimentos de seus diretores-gerais tiram qualquer dúvida sobre a necessidade social de seus produtos. Há, contudo, que se considerar a profundidade envolvida por trás dos significados que são intermediados pelo discurso cinematográfico. Enquanto, por um lado, o cinema, com algumas décadas de vida, é reconhecido como o modelo da cultura de massa, as ciências humanas, por outro, passam por um desenvolvimento notável: a exploração cada vez mais coerente do psiquismo, a observação cada vez mais fina dos processos de percepção e de seus prolongamentos, a extensão da teoria da informação a sistemas complexos de sinais, em especial à linguagem, tudo convida a uma reflexão sintética, cujo objetivo privilegiado é a imagem cinematográfica, graças à sua natureza dinâmica e “total”. (BARTHES, 2005, p.48). É através das técnicas de reprodução e de animação de imagens que a experiência oferecida inicialmente pelo cinema ao abordar aspectos cotidianos e comuns tornam-se fascinantes ao público. Igualmente, A chegada do trem na estação Ciotat e A saída dos operários das usinas Lumière , filmes que em 1895 deram início à “aventurosa história do cinema”, podem ser preciosos para o historiador não apenas por aquilo que documentam (uma estação, o ingresso de uma fábrica, comportamentos e vestuário dos operários etc.), mas sobretudo porque um trem, uma fábrica e operários se tornam objetos de espetáculo junto com outros fatos que, centrados sobre a “fascinação do poder” como um cortejo real ou uma coroação, tinham já por si próprios um alto coeficiente de espetaculosidade. (COSTA, 1985, p.49). Ainda, para Barthes (2005), a promoção da significação, que tende justamente a abranger ao mesmo tempo os fenômenos de percepção e os procedimentos de comunicação, é formado a partir da síntese. Estudos da linguística, semântica e processos de significação, afetam muitas atividades humanas, como a troca de bens, ideias, imagens ou valores. O autor defende que todo o ato social, a partir do momento em que é um ato de massa, apresenta-se de certa maneira como uma comunicação de signos; e é por esse motivo que o estudo da função significante não diminui seu crescimento.
14 E prossegue Barthes (2005), ao afirmar que é através do conjunto de experiências que podem ser produzidas pelo cinema que surge a significação. O filme é vivenciado pelo espectador como um dado, ao passo que ele é na realidade um produto e pode ser submetido a variações intencionais. Além disto, a imagem pode ser repetida, sem deixar, porém, de ser vivenciada a cada vez. As sensações e emoções provocadas pelos filmes demonstram a função que o cinema pode assumir como um meio ampliado de difusão de um processo de espetacularização e de modificação perceptiva do espaço. Desde o início da história do cinema, ao estender o espetáculo até a esfera do cotidiano, a narrativa fílmica leva o público a desfrutar o espetáculo de si mesmo. 2.3 Moda e antecedentes O vestuário surge com a proposta de servir como proteção às temperaturas climáticas, porém, moda não é apenas vestuário. A característica que as roupas sempre apresentaram é, também, a sua capacidade de adornar e distinguir quem a usava das demais pessoas. Foi por meio das convenções da indumentária que foi possível determinar os vestuários que permitiam a diferenciação dos grupos sociais. Os fatores sociais, políticos e econômicos podem contribuir para explicar a existência da moda e as evoluções por que tem passado, mas não são suficientes para descrever a moda como fenômeno: A moda começa no momento em que o gosto pelo enfeite e pelo adorno, a vontade de experimentar o novo, se tornam mais fortes do que as considerações funcionais. Possibilita a realização de algo paradoxal: ser único e inconfundível, e simultaneamente demonstrar a pertença a um grupo, seja ele qual for. Ao contrário do traje típico ou do simples vestuário, a moda significa uma constante mudança. Sublinha a individualidade e o efêmero, e são estas características que explicam o seu poder de sedução. (LEHNERT, 2001, p.6). Por trás do vestuário há sempre uma significação que, no dizer de Barthes (2005), cresce a medida que se passa do traje à indumentária. Segundo o autor, o traje é debilmente significativo, exprime mais do que notifica, já a indumentária, ao contrário, é fortemente significante, pois constitui uma relação intelectual, notificadora, entre o usuário e seu grupo.
16 econômico importante da moda, sendo, no entanto, um forte fator publicitário, do qual depende da fama das grandes casas de moda. Destinada às classes mais altas da sociedade capitalista, a Alta Costura concentra-se em vender, não somente o produto em si como também a ideia de desejo e status agregados ao objeto. Confirmando esta ideia, Marx (1996) defende que ao analisar uma mercadoria em um contexto social capitalista, este produto mostra-se complexo e repleto de sutilezas metafísicas. O misterioso da forma mercadoria consiste, portanto, simplesmente no fato de que ela reflete aos homens as características sociais do seu próprio trabalho como características objetivas dos próprios produtos de trabalho, como propriedades naturais sociais dessas coisas e, por isso, também reflete a relação social dos produtores com o trabalho total como uma relação social existente fora deles, entre objetos. Por meio desse quiproquó́ os produtos do trabalho se tornam mercadorias, coisas físicas metafísicas ou sociais. (MARX, 1996, p. 198) A visão marxista defende que a mercadoria e o valor dos produtos originados pelo trabalho do homem, não possuem relação com sua natureza física e com as propriedades materiais que se originam. Essa relação entre a sociedade e os produtos materiais resultam no fetichismo pelas mercadorias. Esse caráter fetichista do mundo das mercadorias provém através da sua troca, em que os produtos recebem uma objetividade de valor socialmente igual, separada da sua objetividade de uso, fisicamente diferenciada. A alta-costura e sua essência de provocar o fetiche de consumo único e personalizado, delimitado às altas classes sociais, a partir dos anos 60, passa a ceder cada vez mais espaço ao prêt-à-porter. O prêt-à-porter é o ramo de luxo da confecção têxtil, a qual abrange um leque muito vasto, tanto em termos qualitativos, como em termos de preços, e na qual se inclui também toda a moda que pode ser adquirida nos grandes armazéns. A confecção em massa permite produzir grandes quantidades a baixos custos, possibilitando vendas bastante elevadas. Pode ser consumida por muitos e é caracterizada por uma grande rotatividade, estando constantemente a ser comercializadas novas peças de roupa. Aqui, a arte de criar peças de vestuário deixa de assumir um papel de preponderância. O objectivo passa a ser, antes do mais, produzir peças que se vendam bem, sempre inspiradas na moda mais recente, mas destinadas ao dia-a-dia. (LEHNERT, 2001, p.7). Diante disto, é possível concluir que, a partir de então, a moda torna-se mais acessível e ampla, com surgimento da confecção industrial massificada. A subjetivação e democratização da moda atualmente, portanto, estão vinculadas com a era do consumo e da comunicação de massa, que acabam por intensificar o desejo e a necessidade em adquirir produtos deste setor.
17 2.4 O luxo As variações entre as épocas, sociedades, costumes e estilos de vida, resultam na complexidade de definir o luxo. Para Castarède (2005, p. 24 ), “é luxuoso tudo o que é raro, ou seja, tudo o que não é nem comum nem usual”. Os desejos do ser humano estão ligados diretamente à busca por algo novo, diferente e inovador. O mediano, o medíocre, o banal – eis o inimigo, ou seja, aquilo que empobrece e sufoca o dinamismo. Nivelar pelo meio nunca deu bons resultados. A criatividade, a inovação assentam-se naquela vontade do homem de sempre ir mais longe e não contentar-se com a satisfação das necessidades imediatas. O luxo participa desse movimento rumo ao rigor e à excelência. Eis o por que é indispensável. Desde a origem, o homem proporciona a si mesmo certo número de luxos. A vestimenta não atende apenas à função de proteger do frio: ela vira adorno, e, ao mesmo tempo, são criados os acessórios (joias, etc). (CASTARÈDE, 2005, p. 28) Assim, o luxo pode ser considerado um fator que visa satisfazer essa necessidade pelo diferente. O que leva o mercado deste ramo a explorar essa característica e criar produtos que ao mesmo tempo que se destacam, exploram o desejo e a fantasia. De acordo com Lipovetsky (2005), até metade do século XIX, o mundo do luxo funciona segundo um modelo de tipo aristocrático e artesanal. É após este período que o artesão passa a ser reconhecido como um artista. Dentro do universo da moda, a alta-costura e os produtos de luxo exclusivos tornam-se resultados dessa nova valorização de status das marcas. O produto de luxo personalizou-se, daí em diante traz o nome do costureiro ou de uma grande casa e não mais o de um alto hierarca ou de um lugar geográfico. Não é apenas a riqueza do material que constitui o luxo, mas a aura do nome e renome das grandes casas, o prestígio da grife, a magia da marca. [...] Com a alta-costura, o luxo torna-se pela primeira vez uma indústria de criação .” (LIPOVETSKY, 2005, p. 43) Esta indústria de criação passa, portanto, a relacionar-se de maneira mais pessoal, estética e subjetiva com as pessoas, além de criar um vínculo afetivo com aquilo que é considerado luxuoso. No mercado de luxo, o processo de decisão de consumo não está submetido necessariamente aos padrões tradicionais, que são baseados, na maioria das vezes, pela utilidade. Diante do valor agregado ao produto de luxo, os consumidores, além da utilidade, consomem uma relação marcada pela emoção. Os desejos organizam o conjunto de bens e serviços ligados à “diferenciação da vida em sociedade”. [...] A chamada economia de luxo é o império dos desejos. Todas as demandas ocorrem para satisfazer desejos desenvolvidos a partir de sonhos, emoções e sensibilidade. A dinâmica motriz subjacente nessa afirmação é o
19 concepção de consumo não apenas material, como também atribui este valor emocional da experiência em adquirir um produto de luxo. 2 .5 O luxo e glamour hollywoodiano O vestuário é capaz não somente de transmitir o conteúdo manifestado, mas também aspectos internalizados do indivíduo, inferidos de acordo com sua apresentação ao mundo. No universo cinematográfico, é possível, visualmente, delinear a personalidade, humor, status e a essência geral da personagem através do figurino. Inicialmente, cabe introduzir que o figurino carrega em si a força ritualística das máscaras do teatro grego, onde os atores utilizavam-se destas máscaras como principal elemento de transformação do ator para a caracterização de tipos e personagens. Compreendendo a história da moda e da indumentária, podemos perceber a função simbólica na construção dos trajes, pois a roupa possui significação diante da sociedade e perante os caracteres próprios de distinção dos indivíduos. (DEL-VECHIO; SCHOLL; WENDT, 2009, p. 4). As estrelas de cinema, para Morin (1972), têm seu vestuário diferenciado do ator secundário e figurantes. Enquanto eles vestem apenas roupas, a estrela é vestida. Seu vestuário é um adorno. A elegância supera a verossimilhança. O estético domina o real. Certamente, a estrela pode estar vestida modestamente, com uma capa de chuva ou mesmo com andrajos. Mas a capa de chuva e os andrajos também são criações de grandes costureiros. Partindo desta ideia, é possível perceber que o glamour hollywoodiano afirma-se constantemente na experiência cinematográfica. A projeção na tela de cinema e a atmosfera criada pelo figurino, maquiagem, iluminação, roteiro e performance, são capazes de intensificar o conceito do que seria o luxo. De acordo com Passareli (2010), em algumas situações, correlaciona-se luxo com luz, uma visão positiva do brilho e da capacidade de iluminar. Um objeto, um gesto ou maneira de agir podem ser capazes de ditar o que seria luxuoso. Diante disto, o cinema torna-se uma ferramenta eficaz para a disseminação da fantasia luxuosa. “A câmera de filmar parecia destinada a decalcar o real: começou a fabricar sonhos. A tela parecia dever apresentar ao ser humano um espelho: ela ofereceu ao século XX semideuses, as estrelas de cinema”. (MORIN, 1972 , p. 10).
20 Desta forma, aquilo que nos é apresentado através dos filmes, por meio dos atores e de toda a estrutura de composição cinematográfica, é formulado para ser capaz de iluminar essa experiência real baseada na percepção individual e subjetiva. O mundo narrado pela instituição cinematográfica está diretamente relacionada com o desejo, com o imaginário e com o simbólico. Assim, o público é submetido ao processo de identificação e aos complexos mecanismos que regulam o funcionamento do inconsciente. Essa noção de identidade, para Eco (2004), retrata os mass media como sendo aparentemente democráticos, ao oferecerem um modelo de beleza para quem já é dotado de graça aristocrática e outro para a proletária de formas opulentas. “A moda oferece roupas femininas suntuosas, como as que vemos desfilar em Roberta , e ao mesmo tempo os modelos andróginos de Coco Chanel” (ECO, 2004, p. 425). Do mesmo modo como na realidade expressa pela moda, o figurino é compreendido como uma linguagem visual, e narra algo a respeito do personagem ali representado no espaço cênico, seja ele palco ou tela. Cada elemento do figurino - a roupa, a maquiagem, e os adereços utilizados no espaço corpóreo - tem um sentido determinado, interligando o personagem à situação da narrativa em que este se encontra inscrito. Os sentidos da moda e também do figurino, estando o primeiro a serviço da concepção e do estudo da indumentária teatral, não se limitam a decodificar um texto e representa-lo imageticamente através do vestuário, mas dialogam entre si, aludindo algo próprio do momento em que o interpretam. (DEL- VECHIO; SCHOLL; WENDT, 2009, p. 11). Com isso, dentro do universo cinematográfico, a ideia do luxo acaba por ser constantemente moldada por seus ícones. Por isso, Morin (1972), afirma que é de uma forma natural que a estrela, arquétipo ideal, superior e original, orienta a moda. A moda é o que permite à elite diferenciar-se dos comuns, daí o seu movimento perpétuo, e é o que permite aos comuns se assemelharem à elite, resultando em sua persistente difusão. Diversos mimetismos se fixam no vestuário. Já antes de 1914, numa época em que o cinema francês reinava no mercado mundial, qualquer filme novo apresentado numa capital “provocava imediatamente diversas encomendas por parte das mulheres elegantes”1. Desde então, é sobre a massa do público que as estrelas de Hollywood exercem a sua influência na moda. Em 1930, o costureiro Bernard Waldam teve a ideia de capitalizar essa tendência, lançando no Modern Merchandising Bureau os Screen Star Styles e as Cinema Modes , padronizando e espalhando no mercado um gênero de roupas inspirados em filmes de sucesso. (MORIN, 1972, p.97). Seguindo esse pensamento, é possível notar que o poder de influência das estrelas de cinema é capaz de criar ou intensificar grandes tendências da moda, quebrando ou suavizando