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The Wayback Machine - https://web.archive.org/web/20140612020900/http:… História por Ana Aguiar | Revisão por Gabriella
- Capítulo 1 -
O início das minhas férias já estava bem complicado antes de aquela carta chegar, mas quando minha mãe me mandou verificar a caixa do correio e eu encarei a primeira carta que alcancei, logo percebi, as pequenas desventuras que tinham acontecido eram apenas o começo. O endereço de origem da carta era bem claro, escrito com uma letra demasiado ilegível, mas sem dúvidas eu não tinha me confundido ao ler aquela palavra. A carta viera de Bolton. O fato de eu achar que aquela carta não trazia notícias que me agradassem era simples... Nada que viesse daquele lugar me agradava. A primeira coisa que devem saber é que meu pai é de Bolton. Nasceu e viveu lá até seus vinte anos, quando decidiu vir à Londres arriscar a sorte e procurar um emprego. Foi aqui que ele conheceu a minha mãe e eles começaram a namorar, se casaram e me tiveram. Meu pai tem três irmãos, e eles ainda continuam morando em Bolton.
E o único motivo pra eu temer essa cidade tem nome e sobrenome e é da família: Danny Jones. Antes de vocês acharem que ele é um dos meus tios e eu tenho horror a tios, não, não é isso. Ele é filho de um deles e faz jus às suas origens até demais... Quer dizer, ele não precisa ser caipira daquele jeito. Conheço muita gente que mora na fazenda e não é caipira. Ok, não conheço ninguém que mora com vacas e galinhas e é socialmente normal. Esse meu horror pelo garoto não é de agora. Ah, não é mesmo. Começou quando eu nasci, na verdade. Tudo bem, não exatamente quando eu nasci, mas quando eu o conheci pela primeira vez. Eu tinha três anos e ele o mesmo. Eu era a primeira filha do meu pai e a família Jones queria conhecer a garotinha. E por coincidência tio Steve também tinha um filho de três anos e todo mundo estava louco pra juntar as duas crianças e fazer uma família feliz. Bom, a coisa de juntar as famílias deu certo. Mas a parte do feliz é que não rolou. Quando alguém é retardado e maléfico, nasce assim. E sempre vai ser assim. Era o caso de Danny. Eu não sei o que ele viu em mim, mas no primeiro momento que me olhou já voou pra cima de mim e agarrou os meus cabelos, puxando com força. Alguém pode me explicar o que eu tinha feito de errado pro garoto me atacar? Não tinha explicação, ele simplesmente teve vontade de iniciar a perseguição e foi com tudo. Ninguém o culpou, ele só tinha três anos. Mas tudo mudou a partir do momento que nós crescemos e ele continuou me perseguindo. A última vez que vi Danny tínhamos quinze anos. Me forçavam anualmente a ir visitar meus avós e o resto da família Jones. Mas no meu décimo quinto aniversário decidi que nunca mais voltaria a pôr o pé naquele lugar. Meu cabelo sempre foi comprido, quase chegava na minha cintura. E eu sempre deixei ele assim, longo e liso natural. Chegava a ser meu tesouro particular, todo mundo elogiava. Eu tinha clareado as pontas e ele estava mais lindo do que nunca. Eu estava tendo todo o cuidado do mundo naquela fazenda pro meu cabelo não sujar ou não prender em nada, e era o meu aniversário, eu precisava ficar bonita. Acordei um dia depois, já com quinze anos, e a primeira coisa que eu faço todos os dias de manhã é pentear os cabelos. Então me levantei e me arrastei com sono até o banheiro. Encarei meu reflexo e peguei a escova. Quando encarei pela segunda vez, deixei cair a escova e me afastei assustada da imagem na minha frente. Eu não tinha mais cabelo. Ele estava curto. PELOS OMBROS. Eu nunca permitiria que alguém cortasse o meu cabelo. Mas é claro que estando na fazenda da família Jones em Bolton não basta apenas permitir ou não alguma coisa. Você tem que se defender. Dei o maior
Com carinho, sua avó Mollie. Terminei de ler a carta e a dobrei, me levantando. Minha mãe esperava alguma reação.
- Sinto muito querida, mas você terá que ir visitar os seus avós. – falou ela quando percebeu que eu não iria falar nada.
- Não vou, não. – disse como se fosse óbvio. – Sinto falta deles, mas eu prometi a mim que nunca mais voltaria a pôr os pés naquela cidade, não com aquele garoto lá. Ele atormentou a minha infância inteira. E cortou três quartos do meu cabelo sem permissão.
- Eu sei, querida, seu primo é meio perturbado, mas tenho certeza que ele não faz mais esse tipo de coisa. Não acredito que um garoto de dezoito anos vá pregar peças na prima.
- Ah, eu acredito. Mãe, eu não vou. Está decidido.
- Então explique pro seu pai que você vai rejeitar um pedido de sua avó que está sentindo falta da neta. – falou minha mãe por fim e me deixou com cara de tacho parada na sala, saindo e voltando pra cozinha. Como eu falei no início, minhas férias não estavam sendo das mais belas e adoráveis. Eu estava na primeira semana, e tinha começado mal. Minha melhor amiga, Alice, tinha viajado com a família para o Egito e só voltaria na última semana. Harry, nosso amigo que andava constantemente com a gente tinha ido pra uma espécie de acampamento junto com sua irmã e também nossa amiga, Wendy, e os dois também só voltariam no final das férias. E por fim e mais importante, Tom, meu melhor amigo, vai fazer um curso de jornalismo nos Estados Unidos na próxima semana e eu vou ficar completamente sozinha em Londres. Agora esse troço todo de Bolton era o ingrediente final pro meu desgosto eterno. Ou desgosto de três meses, tanto faz. Mas eu não iria, estava decidida.
- BOA TARDE, PEQUENA! – Levei um susto tão grande que a carta voou das minhas mãos e eu cai sentada de volta no sofá, soltando um gritinho de horror ao mesmo tempo.
- Tom! Pelo amor de Deus, pra quê fazer isso? E como entrou aqui? – perguntei encarando o garoto que com um enorme sorriso no rosto (como sempre) se aproximava de mim.
- A porta estava abeta... e eu gosto de marcar presença. – falou ele se atirando ao meu lado e me puxando pra um abraço diário. Eu já comentei o quanto eu gosto do e a minha mãe sorriu encantada. Ela tinha uma adoração por Tom
inexplicável.
- Muito bem querido, qualquer coisa me chamem. – disse ela voltando a subir os degraus. Tom voltou a me olhar e sorriu, mostrando uma covinha na bochecha esquerda do rosto. Eu era apaixonada por aquela covinha. Mas logo ficou sério.
- O que houve, Bru? – perguntou ele analisando o meu rosto. Odiava o quanto ele me conhecia.
- Nada, estou normal. – menti.
- Não está, não. Pode ir falando. O que é isso na sua mão? – perguntou ele apontando pra carta da minha avó. Eu dei a carta pra ele, que começou a ler. Passou meio minuto e Tom voltou a me olhar. – Ah, Bolton.
- É. Eu não quero voltar, Tom, você sabe porquê.
- Olha, acho que o teu primo Danny não vai fazer nada agora que tem dezoito anos, assim como você.
- Ele cortou o meu cabelo quando tinha quatorze anos. Imagina agora, ele vai arrancar minha roupa e me tacar junto com os porcos. Ew, não quero nem imaginar o que ele vai fazer comigo se eu voltar.
- Bom, não duvido nada de ele arrancar a sua roupa, mas não vai jogar você junto com os porcos, e sim na própria cama. – falou Tom rindo como se aquilo fosse normal.
- FLETCHER! CREDO! Você não tem noção de como aquele garoto é abominável, nojento, perturbado e... feio. E me odeia.
- Duvido ele ser feio! Você é linda e é da família. Bom, mas sempre tem o desprovido da família. Na minha, por exemplo, sou eu.
- Tom, pára de se fazer, você arranca suspiros de todas as garotas que passam por você. E elas ainda me olham feio quando eu estou junto.
- Claro, porque você é mais bonita que elas.
- Ou porque eu estou com você.
- Prefiro a minha versão dos fatos.
- Tanto faz, o fato é que ele é feio e estranho e eu não quero voltar pra lá.
- Sua avó parece sentir sua falta. Pense bem. Vai deixar a sua avó magoada só por causa do abominável menino da roça?
- Se ele não existisse eu até moraria lá, se quer saber.
- Acho que você deveria ir. Ainda mais que eu vou viajar semana que vem e você vai ficar aqui sozinha... Pelo menos estará em outro lugar e com alguém da sua idade.
- Tom, eu não considero o Danny alguém que conte para diminuir meu
puxando para um longo abraço. Nem tinha muito o que fazer, ele ia embora amanhã e eu tinha que aceitar. Acompanhei ele até a porta e lhe dei um último abraço.
- Não se esqueça de me mandar um e-mail pelo menos a cada três dias. Tenho que me consolar pelo menos com as suas palavras. – falei tentando dar o meu melhor sorriso.
- Não vou me esquecer... Boa sorte com o seu primo podre. – disse ele me dando um beijo no rosto e eu ri, depois fiquei séria.
- Eu não disse que vou.
- Tenho certeza que você vai, é uma boa menina e vai fazer o que a sua vovó pediu. – disse ele num tom engraçado e eu cerrei os olhos meio rindo. – E ah... também quero receber seus e-mails me contando de como é trabalhar na roça.
- Tom, eu vou ficar em Londres.
- Pense bem, não vou mais discutir isso com você. Te vejo em setembro. – ele saiu andando pro jardim, pegando a calçada e se afastando. Pensando bem, Tom parece ter razão. Não posso fugir das minhas origens e da minha família só por causa de um acontecimento do passado. É injusto com a minha avó e o meu avô, e acredito que Danny já foi castigado pelo que fez com meu cabelo. Mas tenho minhas dúvidas de que ele não evoluiu e continua o mesmo ogro perturbado, como eu disse anteriormente, nasce retardado fica sempre retardado. Mas só de lembrar as maldades que ele fazia comigo... Era horrível. Não quero passar por isso de novo. E se meus avós viessem passar um tempo em Londres? Iria ser bem melhor, e não precisar ficar ao ar livre no meio de bosta de vaca era reconfortante.
- Ah, olá querida. Acabei de ver o Tom aqui na rua. – ouvi meu pai falar ao fechar a porta. – Ele vai pros Estados Unidos semana que vem, não é? – perguntou ele me encarando, eu estava de volta atirada no sofá. Ótimo ter que lembrar que Tom iria me deixar amanhã.
- Não... ele vai amanhã.
- Ah, vai ficar sozinha?
- Não, Marty... Ela não vai ficar sozinha. Mostre pro seu pai a carta, Bru. – falou minha mãe ao sair da cozinha.
- Que carta? – perguntou meu pai me olhando na dúvida. Entreguei a carta e ele levou um minuto para ler. – Disso eu já sabia. Sua avó e seu avô estão sentindo a sua falta.
- Eu notei.
- Bom, sei que você não gosta muito da fazenda e de Bolton... mas terá que ir.
- Eu pensei que a vovó e o vovô poderiam passar um tempo aqui em Londres...
- Não Bru, nem pensar. Eles estão muito velhos pra viajar tanto tempo, e ficar em uma casa que não é a deles... Não. Você vai ter que ir.
- Não quero olhar pra cara do Danny.
- Bru, o Danny está completamente diferente do que você pensa. Se tornou um rapaz gentil.
- Na sua frente. É só eu aparecer lá que ele volta a ser o monstro de sempre.
- Você passou muito tempo longe, não pode falar o que não sabe. Ele não é mais o garotinho mal criado de antes.
- Olha papai, o Danny pode até ter se transformado num ser humano normal, mas eu não quero ficar lá. Não me dou bem com animais e campo. Eu odeio natureza.
- Mais um motivo pra você ir, se familiarizar com suas origens. Você vai e está decidido. Sábado de manhã eu te levo, esteja com as malas feitas para três meses.
- TRÊS MESES? PENSEI QUE ERA SÓ UMA SEMANA!
- Sua avó vai adorar saber que vai passar todas as férias lá!
- Só pode ser alguma brincadeira. Pegadinha? Vamos, Ashton, apareça de onde você está.
- O que temos hoje, Heather querida? – perguntou meu pai para minha mãe, ignorando meu comentário. Três meses na fazenda Jones, com meu primo Danny, o abominável menino da roça. Era o fim da minha vida, eu voltaria careca pra Londres.
- Capítulo 2 -
Acordei naquela manhã de sábado me sentindo disposta até eu me lembrar qual seria o rumo do dia. Minha expressão se fechou no momento em que eu encarei minhas malas feitas perto da porta do meu quarto. A viagem até Bolton levava mais ou menos um dia inteiro de carro, por isso precisávamos sair de Londres de manhã cedo.
- Vamos Bru, não gosto de dirigir à noite. Você toma café no carro, sua mãe preparou uns muffins pra gente. – falou meu pai ao passar pela porta do meu quarto, pegando as minhas malas e descendo. Ele já estava vestido pra roça,
- Eu sei que você não está muito feliz em ter que sair de Londres... mas garanto a você que vai ser uma experiência única.
- É, vai ser única mesmo. – resmunguei com sarcasmo.
- Vai ser uma oportunidade pra você e Danny se entenderem. Estão brigados há três anos! Deveriam ser amigos, têm a mesma idade.
- Pai, entenda, ele perturbou a minha infância e eu vou manter o máximo de distância desse garoto enquanto estiver na fazenda. E não me peça pra fazer coisas com ele porque eu não vou.
- Ah, pena. Todos os seus outros primos são menores que vocês.
- Ele deve ter ficado muito feliz em saber que eu vou ficar três meses lá, vai ter tempo de sobra pra pregar peças em mim.
- Querida, honestamente, você parou no tempo.
- O que quer dizer com isso?
- Danny não é mais aquele garoto bobo! Já é um adulto, e cuida da fazenda junto com seus tios e seus avós. Ele é um ótimo garoto agora, e sempre pergunta por você quando eu vou lá.
- Ah é? Aposto que quer saber se conseguiu estragar a minha vida.
- Não seja tão dramática. Aposto que vão virar grandes amigos.
- Não aposte isso, papai. Você vai perder toda a sua poupança. – falei e ele riu, balançando a cabeça em negação. Quando pegamos a alta estrada eu já estava exausta de ficar dentro do carro. Já tinha ouvido todas as músicas possíveis do meu iPod. Ao meio-dia, paramos no restaurante que eu sempre comia quando era menor e estava indo para Bolton. Estávamos sentados na mesa quando meu celular tremeu no bolso da calça. Acredite se quiser, mas estou dentro de um avião. Califórnia, lá vou eu. Onde está? xx Tom Primeiro acontecimento do dia que me deixava um pouco feliz. Tom iria para as belas praias da Califórnia, infestado de garotas bonitas e eu ia... pra roça. Eu acredito, depois do que aconteceu, acredito em tudo. Estou na estrada. xx Bru Eu não fazia idéia de como Tom estava enviando mensagens de dentro de um
avião, mas com aquele garoto tudo é possível. Então decidiu ir visitar o menino da roça? Me comunique quando vê-lo, quero rir da sua reação. Quanto tempo vai ficar ordenhando? xx Tom Ah, como meu amigo era delicado. Vai poder saber em primeira mão do meu desespero, não se preocupe. Adivinha? Até o final de agosto. Ah, não se esqueça de mandar lembranças pras garotas lindas e loiras que você pegar. xx Bru O quê? Eu tinha certeza que Tom iria aproveitar ao máximo sua estadia na Califórnia. Wow, vai voltar pra Londres sabendo tudo sobre vida na roça. Uma caipira formada! Ah Bru, você sabe que eu só tenho olhos pra você. Mas não se preocupe, transmitirei o recado pra todas elas! xx Tom Como se eu não soubesse que ele iria afogar o ganso. Me dá raiva saber que ele vai se divertir a beça e eu vou ficar presa no meio do mato. Por que eu não fui junto com ele mesmo? Ah sim, você é muito nova pra atravessar outro continente sozinha, Bru! Mas mamãe, vou estar com o Tom. Por isso mesmo, dois adolescentes irresponsáveis! Adorava a confiança que a minha mãe tinha em mim. Mas deixar a filha sofrer na roça ela deixava. Que delicado da sua parte. Me mande uma mensagem quando chegar nos EUA, por favor, se não eu vou ficar angustiada. Aviões me dão medo. xxBru
- Bru, o que tanto você mexe nesse celular? Coma o almoço. – murmurou o meu pai me encarando.
- Tom está no avião mandando SMS’s.
- Diga para ele que é perigoso usar aparelhos eletrônicos dentro de um avião. Tom demorou para responder, eu estava ficando nervosa.
de flores. Ela me puxou para um longo abraço e depois ficou me encarando com uma expressão de orgulho. – Você está linda! Nem parece a minha netinha, o que a cidade grande fez com você? Ah, como eu estava sentindo a sua falta! – falou ela voltando a me abraçar e depois chegou o tio Steve me apertando e falando as mesmas coisas.
- Já deve ter um bocado de namorados essa Bru! – disse uma das minhas tias, irmã do meu pai, tia Emma. Ela era legal.
- Ah, só alguns. – brinquei e todo mundo caiu na gargalhada. Meu avô apareceu e parecia mais velho do que antes. Bom, isso era óbvio. Tive que ouvir as mesmas baboseiras pela quinta vez.
- Vocês chegaram na hora do jantar! Mollie preparou algo especial pra vocês!
- falou meu avô empolgado. – Entrem, depois descarregam suas bagagens. Eu e meu pai entramos e aquela barulheira de gente conversando feliz parecia não ter fim. Quem eu não tinha visto ainda era o abominável. Ainda bem, talvez ele nem estivesse ali. Eu estava rezando para que ele estivesse em alguma viagem inesperada ou algo do tipo.
- Ah, Jessy, vá avisar Daniel que Bru já chegou. Ele não sai daquele quarto, passa o dia tocando aquele negócio... – falou minha avó logo depois resmungando. Ao ouvir aquele nome me deu um treco que eu quase saí correndo de horror. Ok, ele estava ali mesmo. Fiz uma cara desagradável pro meu pai que conversava animado com meu tio Steve, e ele fez uma cara de repreensão. Não demorou muito para Jessy, minha priminha de 10 anos, voltar do segundo andar com um sorriso empolgado no rosto puxando alguém pela mão. Quando eu vi quem ela puxava, não pude acreditar que fosse o abominável. Não podia ser. Só podia ser um amigo dele, mas ele não era. O garoto sendo puxado irradiava um sorriso brincalhão no rosto. Ah meu Deus. Ele estava lindo. Meu primo podre, Danny Jones, tinha se tornado um GATO. Ele tinha agora cachos naturais castanho claro, que antes era um cabelo horrível curto arrepiado, e o rosto era repleto de sardinhas. Seu sorriso era tão lindo. Nem lembrava que ele tinha olhos azuis. E ele estava... forte. O antes garotinho frango, tinha se tornado um garoto forte e musculoso. Usava uma camisa xadrez típica de onde estávamos, e uma calça jeans. Quando me viu, seu sorriso se tornou envergonhado. Minha avó nos olhava com ternura.
- Ora meninos, não vão se cumprimentar? – falou ela fazendo sinal para Danny se aproximar. Eu estava prestes a cair dura. – Espero que ainda lembre do seu primo, Bru. – disse ela sorrindo pra mim e depois para Danny, que sorriu
lindamente para minha avó.
- É, eu lembro. – sibilei completamente envergonhada, eu tinha certeza que estava vermelha e minha cara devia ser semelhante à de alguém que vira um fantasma.
- Oi. – disse Danny olhando pra baixo e coçando a nuca. Puta merda, aquilo foi tão lindo. Eu estava ficando louca? Se controla Bru, é o seu primo da roça que cortou seu cabelo.
- Ahn, oi. – murmurei, olhando pros lados tentando disfarçar.
- Pelo amor de Deus, crianças. Se cumprimentem direito. – disse a minha avó e de repente me empurrou contra Danny nos forçando a dar um abraço. Ah, o perfume. Como alguém que morava no meio do nada podia cheirar tão bem? Era o melhor cheiro que eu já tinha sentido na vida. Quando suas mãos tocaram a minha cintura eu senti um arrepio interno, externo, por todo o corpo que eu podia sair berrando por aí de tanto... deixa pra lá.
- Vamos jantar, Mollie. Eles devem estar morrendo de fome. – murmurou o meu avô se arrastando até a sala de jantar e todos se levantaram, indo atrás. Bom, não preciso nem dizer que o jantar foi bem tenso, pelo menos pra mim. A troca de olhares entre eu e Danny já estava me deixando nervosa, e ele ficava dando aquele sorriso dele o tempo todo, porque ele fazia aquilo? Mas que droga.
- Nos conte Bru, o que faz agora que saiu do colégio? – perguntou minha tia Emma.
- Ahn, eu... estou na universidade, estudando moda.
- Moda? Uau, me parece incrível. – respondeu a minha tia irradiando orgulho da sobrinha. – É o último ano de Danny aqui em Bolton, não é querido? Vai estudar Biologia na Universidade de Oxford! Estamos tão felizes que ele foi admitido.
- Ah, parabéns, Danny. – falei completamente sem jeito olhando pra ele rápido e depois encarando o meu prato.
- Hm, obrigado. – murmurou ele em resposta e eu não pude ver sua expressão, estava muito ocupada encarando meu purê de batatas.
- Nos conte, Bru, já tem namorado? – perguntou meu tio Fred, acho que não o mencionei ainda, o cara era uma figura.
- Eu... não. – falei, começando a sentir meu rosto ficar vermelho. Danny me olhou.
- Mas como? Uma garota tão linda como você deveria ter! Se até Danny está se arranjando... – disse meu tio Fred e Danny arregalou os olhos, encarando o
proibido achar primas bonitas, então tive que fazer alguma coisa. Mas não adiantou muito, você continuou bonita. Até mais. – falou ele me encarando e eu com certeza estava vermelha de vergonha.
- Não é proibido achar primas bonitas. – murmurei, meio sem jeito.
- É, eu só fui perceber isso mais tarde. Depois que você tinha ido embora. Então... desculpa por ter te incomodado tanto quando éramos crianças.
- Tudo bem. – falei nervosa.
- Você vai ficar aqui até setembro?
- Vou.
- Não deve estar gostando disso.
- Eu não sou muito fã da natureza, sabe... Mas vou sobreviver. – falei e logo depois senti meu bolso de trás da calça tremer e começar a tocar Penny Lane , dos Beatles. – Ah, meu celular. Telefone. – disse, tirando do bolso e olhando pra tela.
- Eu sei o que é um celular. – disse Danny com uma cara engraçada. – Viver na fazenda não é se isolar do mundo.
- Ah, tá. Eu sabia que você sabia. Vou atender, com licença. – falei, atendendo o telefone com uma felicidade inexplicável. – TOM!
- Oi pequena! Cheguei na Califórnia, estou no quarto da família agora.
- Sério? Eu estou em Bolton.
- AH! Me conta do seu primo podre. Quero saber, ele já começou a te encher?
- Na verdade... – comecei e olhei pro lado, Danny dedilhava inocente alguma coisa no violão. Levantei e me afastei, me certificando de que ele não podia ouvir. – Na verdade, ele é o contrário do que eu pensava que fosse. Agora.
- Ele é um nerd almofadinha?
- Não, Tom... Ele está... lindo. E ele agora é... legal. Estávamos conversando a pouco, ele é bem engraçado. Me pediu desculpas por tudo que fez.
- Então vocês agora vão ser amigos? Ah, isso é bom, Bru. Espera... eu ouvi bem? Você falou que ele está lindo? Ah não Bru, você não vai me trair né?
- Tom! Para de besteira, é o meu primo. Por mais charmoso e perfeito que esteja, é da minha família. Seria nojento.
- Acho bom. Tenho que desligar, já é de madrugada aqui. Tchau!
- Tchau! Não esquece dos e-mails.
- Não vou! Finalizei a ligação e Danny continuava sentado dedilhando o violão. Sentei novamente ao seu lado.
- Era o seu namorado? – perguntou ele sem parar de dedilhar. – Esse Tom.
- Não, não. É meu melhor amigo. Ele está na Califórnia de férias. Por quê? – Danny queria saber se eu tinha namorado? Não pensem que eu fiquei feliz quando ele perguntou.
- Ah, nada. Curiosidade. Quer ouvir uma música?
- Ah, claro. Manda ver.
- Bem, eu vi que você gosta de Beatles... pensei que gostaria de ouvir... – disse ele e começou a tocar Across The Universe. Não preciso nem dizer que ele tocava bem. E quando ele cantou o primeiro verso confesso que fiquei um pouco assustada. A voz dele era... perfeita. Eu não imaginava que o meu primo ex-abominável tinha uma qualidade, além de ser bonito e cheirar bem. Não consegui tirar os olhos do rosto dele até o final da música. Fazia um tempo que eu não ouvia alguém cantar daquele jeito. Tão simples e tão profundo, como se pra ele aquilo fosse o mesmo que respirar. Eu já sabia do talento da família Jones na música, boa parte dos meus tios tocava e cantava muito bem. Se eu falar que o meu pai tinha uma banda vocês acreditam? Bom, é verdade. E pela minha mãe, ele era muito bom. E eu? Nunca tentei cantar pra falar a verdade, e nunca vou. Morro de vergonha e tenho quase certeza que a minha voz é um lixo. Danny terminou a música e me encarou. Eu não sabia o que falar.
- Huh... nossa, Danny. Você é muito bom.
- Obrigado. – disse ele corando. Que lindo. – Aposto que você é tão boa quanto eu.
- Ah, não. Eu não sei cantar nem tocar.
- Na verdade você nunca tentou, não é? – perguntou ele me olhando. Como ele sabia?
- É... Mas não preciso tentar pra saber que sou ruim. – falei e ele riu.
- Se você quiser se apresentar na quermesse da cidade para arrecadar fundos... Pára tudo. QUERMESSE? Ah, por que eu estou surpresa? É claro. Toda cidade do interior inventa uma quermesse. Por mais que eu não tenha certeza sobre O QUE É uma quermesse, eu imagino. Mas que dá vontade de rir dá, bem típico do Danny.
- Fundos pra quê? – perguntei, segurando o riso. Se Tom estivesse junto ele estaria rolando de rir no chão.
- Pra impedir o governo de transformar as fazendas em shoppings e coisas do tipo. Eles estão querendo fazer isso há anos.
- Até a nossa fazenda? – perguntei, agora não achando mais graça.
- Sim, tudo. É bem chato, nossos avós estão preocupados. Eles cresceram aqui,
cedo, e percebi que Danny ria. Qual é o raio da graça? Ignorei o engraçadinho e entrei pra dentro de casa.
- Querida, suas malas já estão no seu quarto. – falou minha vó saindo da cozinha. – Quer ajuda?
- Não, obrigada, vovó. – disse, subindo as escadas e tentando me lembrar aonde era o meu quarto. Eram tantas portas, eu não lembrava.
- Está procurando o seu quarto? – ouvi uma voz atrás de mim e me virei rápido. Minha prima Cassey estava parada me encarando. Ela tinha 12 anos e algumas sardas espalhadas pelo rosto igual à Danny.
- Ah, estou. – respondi, tentando entender qual era a dela.
- É pra cá, vem. – disse ela dando meia volta e parando em frente a uma porta rosa. Rosa. Minha porta era rosa. – Não lembra mais?
- Ahn... é que faz tempo.
- Entendo. Vem, vou te ajudar. – falou ela entrando no quarto. A segui, entrando também. Após colocar o pé no quarto, lembrei de tudo. Como pude esquecer. O papel de parede com flores. O armário branco, e a cama bem embaixo da janela. Havia também uma escrivaninha, nunca usada por mim, claro, eu não estudava nem nada do tipo quando estava na fazenda.
- Você cresceu, da última vez que te vi. – comecei, tentando puxar um assunto, aliviando o clima tenso entre nós duas.
- É, você também. – disse ela, sentando na cama.
- Vai ficar aqui durante a semana? – perguntei, com uma ponta de esperança, esperando ter alguém com quem conversar sem ser o ex-abominável.
- Não, a gente mora em Manchester, esqueceu? Vou voltar amanhã. – disse ela se referindo ao tio Fred, que era o seu pai, sua mãe e seu irmão menor de 3 anos e também meu primo, Luke.
- Não está de férias?
- Estou, mas minha mãe inventou de me colocar num acampamento de férias, tenho que voltar. – explicou ela, e eu fiz uma expressão de derrota. Mesmo ela sendo bem menor que eu, iria gostar de conversar com ela. Cassey percebeu minha expressão e me encarou. – Bem, o Danny fica aqui sempre. Ah, como se isso fosse a solução de todos os meus problemas.
- Você não gosta dele, né? – perguntou Cassey meio rindo.
- Não é que eu não goste, mas ele...
- Lembro de vocês dois brigando quando eu era menor. Realmente ele era um porre. Mas não é mais, ele agora está bem mais legal e... bonito. – disse ela e soltou uma risadinha. Eu estava olhando pro chão e a encarei abismada.
- Cassey! – falei, segurando o riso.
- É verdade, eu tenho 12 anos, mas eu sei ver quando um garoto é bonito! E parece que ele já foi fisgado. – disse ela com uma risada engraçada.
- Como assim?
- Mary. Eu acho que ela sempre foi afim dele, e ele o mesmo.
- Não lembro dessa garota.
- Ah, quando eles se conheceram você já tinha ido embora. Concordei com a cabeça, com uma cara de “que bom pra ele”.
- A odeio. – ouvi Cassey murmurar. A olhei. – Tudo bem, ela é querida e canta muito bem, todos a amam. Mas ela me irrita com aquela aparência angelical querendo ser boazinha e legal com todo mundo. Blé. Danny quase lambe o chão que ela pisa. Esqueci como Cassey era parecida comigo.
- Você tem ciúmes do Danny! – falei, rindo.
- Eu gostaria que ele desse mais atenção pros primos quando aquela senhorita perfeita está aqui. Quando ela não está, Danny é muito legal comigo.
- Quando ela está aqui? – perguntei, já temendo a resposta.
- Sim, ela aparece aqui às vezes. Como se alguém tivesse convidado.
- Danny não a convida, mas ela aparece?
- Sim, ele convida. Mas eu não aprovo. Tudo bem, vamos arrumar suas coisas. Era bem estranho conversar sobre um primo com outro. Principalmente como se a gente estivesse falando de um garoto qualquer da escola. Ele era da minha família! Que doentio. Cassey pegou uma mala minha e colocou em cima da cama.
- Suas roupas são lindas. – disse ela ao abrir a mala e tirar uma calça jeans de dentro.
- Ah, valeu.
- Duvido que vá ter coragem de usar isso aqui. – murmurou ela colocando a calça em cima da cama e tirando as outras.
- Por quê?
- Se não quiser rasgar ou sujar, aconselho deixá-las no armário e pegar as roupas que você considera velhas.
- Ótimo. – resmunguei, abrindo outra mala.
- Não será tão ruim, pode apostar. – disse ela e eu gostaria que aquilo fosse verdade.