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História dessa entidade da Umbanda.
Tipologia: Resumos
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Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil Faculdade SENAI CETIQT
Curso de Bacharelado em Artes Visuais – Habilitação: Figurino e Indumentária
Janaina Frazão Gama
A simbologia contida na capa de um Exu de Umbanda
Rio de Janeiro 2017
Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil Faculdade SENAI CETIQT
Curso de Bacharelado em Artes Visuais – Habilitação: Figurino e Indumentária
Janaina Frazão Gama
A simbologia contida na capa de um Exu de Umbanda Trabalho de Conclusão a ser submetido à Comissão Examinadora do Curso de Bacharelado em Artes Visuais
Profª Orientadora Carolina Casarin da Fonseca Hermes
Rio de Janeiro 2017
Dedicatória
Dedico este trabalho a Mãe Cacilda de Assis e a todas as matriarcas das religiões afro-brasileiras que, em grande parte, trabalham anonimamente para sustentar suas casas e sua fé.
“Contam muitos casos de Iyá Mi como má, mas em tudo existe o mal e o bem. Um tem cumplicidade com o outro e, às vezes, o bem vence o mal”. Mãe Beata de Yemonjá
Resumo
Este trabalho consiste num estudo de caso a respeito de Seu Sete Encruzilhadas Rei da Lira e sua indumentária e, mais especificamente, sobre a simbologia contida em sua capa. Pretendemos investigar de que maneira as capas de Seu Sete contribuíram para a sua repercussão entre os anos de 1960 e 1970 e para fixação de sua imagem no imaginário de seus fieis. Para tanto, nos utilizamos de relatos, de referências bibliográficas, de matérias de jornais e revistas da época e de registros iconográficos das peças. Por meio da materialidade da cultura analisamos a religiosidade Umbandista e o culto aos Exus, outrora visto como o diabo católico, considerado rei para os milhares de fieis que frequentavam a Lira de Santíssimo.
Palavras-chave : Artes visuais. Materialidade da cultura. Exu. Umbanda. Indumentária religiosa. Capa de Exu.
Janaina Frazão Gama
Janaina Frazão Gama
O sobrenatural sempre esteve presente em minhas vivências. Pertenço a
uma família de umbandistas e cresci com a presença dos Pretos Velhos, dos
Caboclos, dos Exus e Pombagiras. Quando era a hora da gira de Exu, era
tempo de alegria, de roupas coloridas e brilhosas. Os filhos de santo e os
assistentes ficavam excitados e eu ouvia que gira de Exu era mais chamativa,
porque os Exus eram guias mais “terra a terra”, nas palavras dos meus tios.
Entendia por essas palavras que os Exus exerciam maior influência sobre as
pessoas porque falavam uma linguagem mais próxima a dos consulentes. Os
Exus entendiam sobre dinheiro, relacionamentos, problemas de trabalho e tudo
o mais que envolvia o cotidiano das pessoas. Era como se os Exus fossem os
amigos, os confidentes, aqueles que sempre tinham um conselho para dar, que
ajudavam nos problemas mais difíceis e que sempre procuravam um jeito para
resolvê-los. Diferente do vovô ou da vovó, Exu e Pombagira eram aqueles a
quem se podia confiar, sem pudores, os problemas mais íntimos, como os de
amor, de traições, de paixões incompreendidas. Exu era quem resolvia mais
rápido os problemas de falta de emprego ou de dinheiro e, principalmente, era
Exu quem dava a proteção contra todos os perigos das ruas.
Esse universo exerceu tanta influência na minha formação que passei a
trabalhar confeccionando roupas voltadas para os rituais de Umbanda e
Candomblé. As roupas do cotidiano do terreiro, calça, saia e bata brancas e as
roupas das demais entidades (variações coloridas desses mesmos padrões:
calça e bata para os homens e saia e bata para as mulheres) em geral eram
Janaina Frazão Gama
mais demarcadas, com modelagens e tecidos pré-definidos. As roupas de Exu
e Pombagira eram aquelas que permitiam maior liberdade e flexibilidade no uso
de materiais e modelagens. As de Pombagira, em sua maioria, possuíam a
parte superior mais sensual, com decotes mais profundos que as roupas
dedicadas às demais entidades; já as saias eram sempre longas, até o pé e de
forma alguma poderiam revelar as pernas da entidade. Com relação às roupas
de Exu, um elemento da indumentária deles era sempre recorrente: a capa. As
capas de Exu eram, em sua maioria, feitas de veludo, de cetim ou de oxford,
forradas com cetim ou algodão e podiam variar em seu comprimento, a partir
da altura dos joelhos até a altura dos calcanhares. Os acabamentos podiam ser
feitos com vieses de cetim ou de algodão e também com galões dourados,
prateados ou de outras cores que conferissem brilho à capa.
Algumas capas eram compradas já prontas, seguindo um modelo padrão.
Outras, os clientes pediam que fossem personalizadas para a entidade a que
seria dedicada aquela peça. Na maioria dos casos, a personalização se dava
por meio da costura de bordados na parte das costas da capa. Esses bordados
eram feitos com paetê (com um material formado por vários paetês unidos
entre si, formando uma fita de paetês) a partir de desenhos entregues pelos
compradores, que afirmavam ser o ponto riscado de determinado Exu, ou seja,
um conjunto de símbolos que identificam aquela entidade, algo como um
documento de identificação que revela quem é o Exu.
Os símbolos mais utilizados nas capas de Exu eram tridentes, caveiras,
flechas, cruzes, foices, o numeral sete, coroas. Cada símbolo possui um
significado específico, mas todos estes remetem à figura de Exu. Essas
Janaina Frazão Gama
conclusão de curso não poderia ser nada além de Exu e sua indumentária.
Pesquisando imagens sobre Exus e seus trajes, me deparei com uma capa de
revista da década de 1970, reproduzida abaixo, onde Chacrinha declarava que
acreditava no poder de Seu 7.
Ilustração 1: Capa da revista Amiga, de 1971.
Fonte: (VERDE, 2009).
Janaina Frazão Gama
Após uma breve pesquisa na internet,^1 descobri fatos interessantes a
respeito daquela entidade. Seu Sete era um Exu alegre e descontraído, sempre
muito bem vestido com roupas incomuns para os rituais umbandistas da época,
onde imperavam as roupas brancas e um ideal de simplicidade. Os trajes
simples, que até hoje são defendidos pelos umbandistas como forma de não
alimentar as vaidades dos médiuns, não possuíam relação alguma com os
trajes de Seu Sete, sempre muito luxuosos, com brilho e bordados. Os
materiais de suas roupas eram caros e isto já era um motivo para que Seu Sete
não fosse bem visto nos meios umbandistas mais tradicionais. Além disso, as
giras de Seu Sete eram conhecidas pelas músicas alegres, que também fugiam
ao ritual tradicional, onde apenas as músicas ritualísticas da Umbanda são
entoadas. Qualquer tipo de música era permitida nas giras, desde músicas
populares da época, como sambas, boleros, marchinhas de carnaval, e
também músicas clássicas e eruditas, como do músico italiano Paganini e a
clássica “Ave-Maria” de Gounod. Isso aumentou meu interesse por pesquisar
sua trajetória e investigar sua indumentária, principalmente suas capas.
Seu Sete bebia litros de cachaça durante as sessões, que começavam
nas noites de sábado e iam até o dia seguinte. Era também conhecido por ter
uma ligação com o carnaval. Ele mesmo dizia-se o Exu do carnaval e
mangueirense. Vestia-se no carnaval com fantasia verde e rosa e chegou a
comandar um bloco na Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro, em 1972,
(^1) (VERDE, 2009)
Janaina Frazão Gama
as chamadas mesas de cura, que eram imensas mesas de madeira sobre as
quais o Exu caminhava, espargindo cachaça em cima dos fieis, que diziam ser
curados até mesmo de doenças fatais, como o câncer.
Por todas as peculiaridades mencionadas acima Seu Sete da Lira não era
bem visto nos meios mais fieis à liturgia umbandista mais tradicional.
No dia 21 de junho de 2015 aconteceu um encontro organizado pelo
MIRUA (Movimento Intra Religioso de União Afro) e pela UEUB (União
Espiritista de Umbanda do Brasil) nomeado por “Overdose de Exu” (ilustração
3), no bairro de Todos os Santos, cidade do Rio de Janeiro. O encontro tinha
por objetivo o debate sobre a figura dos Exus na Umbanda, por meio de
palestras, vídeos e apresentações, contando com a presença de lideranças do
meio umbandista. Em uma das chamadas de divulgação havia a informação:
No próximo domingo, dia 21/06, a partir das 09:30 horas, no mesmo local onde o antigo "CONDU" se reuniu para afirmar que Seu Sete Rei da Lira "NÃO ERA UMBANDA", ou seja, na sede da UNIÃO ESPIRITISTA DE UMBANDA DO BRASIL, a "Casa Máter da Umbanda", Rua Conselheiro Agostinho 52 Todos os Santos, RJ, entre outras muitas atrações, estaremos exibindo um vídeo contando um pouco da história desse "verdadeiro marco" da nossa religião e corrigindo uma "INJUSTIÇA HISTÓRICA", quando na presença de centenas de Umbandistas afirmaremos que "SEU SETE REI DA LIRA" é e sempre foi Umbanda sim. Contamos com a presença de todos os Umbandistas que desejem participar deste momento histórico da nossa religião. AXÉ!
Janaina Frazão Gama
Ilustração 3: Arte de divulgação do Workshop Overdose de Exu , ocorrido em 21/06/2015 na UEUB (União Espiritista de Umbanda do Brasil).
Fonte: Acervo Pessoal.
Foi exibido um vídeo caseiro onde se contava a trajetória do Exu Sete Rei
da Lira junto de Cacilda de Assis. O vídeo contava com a exibição de diversas