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Palavras- chave: Clarice Lispector, Literatura, corpo, sexualidade, erotismo. Page 12. 12. ABSTRACT. The Via Crucis of the body , ...
Tipologia: Notas de estudo
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Abril/
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras: Estudos Literários, Universidade Estadual de Montes Claros, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Letras – Estudos Literários. Área de concentração: Literatura Brasileira Linha de Pesquisa: Tradição e Modernidade Orientador: Dr. Osmar Pereira Oliva
Abril/
Antes de qualquer teoria, havia minha mãe: a contadora de histórias que me despertou para o fato de que as histórias reproduzem cheiros, sabores, cores e sons em nossa imaginação. Desde então, sempre que me lembro da história de minha vida, vem a mim um cheirinho gostoso de minha mãe, os efeitos da tranquilidade do azul-papai, uma barulheira danada de bagunça entre mim e meu irmão, um gostinho apimentado de filhos sapecas. A vocês, pessoas inesquecíveis e indispensáveis, dedico este meu trabalho!
texto pobre, enriquecendo-o com suas opiniões, com muito zelo, sensibilidade, inteligência e competência. Com toda a generosidade, emprestou-me os objetos mágicos (livros) que me deram suporte para essa pesquisa, a quem dedico profunda admiração e respeito. Ao professor Rodrigo Guimarães, que me inspirou para a escrita desta dissertação, por meio da disciplina ―Literatura Brasileira e outras Literaturas: tensões, teóricas, estéticas, históricas e culturais‖, no primeiro semestre de 2011. À professora Ivana Rabello e à professora Generosa Souto, que me ensinaram a acreditar que nossos sonhos são possíveis, e pelas importantes contribuições na qualificação. Ao professor Anelito de Oliveira, pelo empréstimo de livros que contribuíram para o desenvolvimento da pesquisa. Ao professor Wagner Rocha, pela paciência em ouvir as minhas inquietações, e pelas palavras de apoio. À professora Marli Froes, pela interlocução na vida e nas letras, não esquecerei jamais as experiências partilhadas, pessoa de admirável grandeza humana. À professora Cláudia Maia, que me fez apaixonar mais pelas mulheres escritoras e suas representações na literatura. À professora Héllen Ulhoa, do Departamento de História, e as colegas Patrícia Gisele, Renata, Viviane, Aline, Alessandra, Fabiana, Ana Paula e Gerferson, pela acolhida e companheirismo. Ao professor Carlos Magno Gomes que gentilmente aceitou participar da Banca Examinadora. Aos professores-artistas Ricardo Malveira, Míriam Valderez e Nelcira Durães, que compartilharam comigo tardes inesquecíveis nas oficinas de teatro. Aos professores Alba Valéria, Ana Cristina Peixoto, Mariane Peixoto, Sandra Ramos, Edwirgens Aparecida Ribeiro Lopes de Almeida, Danilo Aguiar, Jaqueline Ribeiro, Janice Alves, Élcio Lucas pelo incentivo e confiança em meu trabalho como acadêmica. À tão boa recepção de todos os funcionários da Universidade Estadual de Montes Claros. Quero registar o incansável apoio da secretaria do Mestrado em Letras.
A Telly Will, com quem mantenho diálogos constantes e enriquecedores no âmbito do conhecimento. Conversas que sempre me alimentam o ânimo e o espírito. Agradeço por ter me brindado com o presente de sua amizade, por ter me oferecido sempre de mão aberta uma presença alerta e carinhosa. Ao colega Pablo Dias que, muitas vezes, presenteou-me com tardes de discussões calorosas. Muitas vezes passamos por outras estradas e, nessas andanças, por lugares nunca antes visitados. Agradeço às colegas do Mestrado Rosemary e Rosane, por me presentearem com performance dos versos de escritores mineiros pelas ruas de Ouro Preto. À Renata, Damáris, Umbelina, Osleide, Josye, Judyte e ao colega Ilmar, pela companhia, pela diversão, pelo afeto e pela paciência. À Beth agradeço o estimo criador, o calor humano, o carinho que trocamos e também as muitas conversas que me faziam rir, tornando a caminhada mais leve. À Thereza, agradeço a iniciativa de beber o elixir das palavras clariceanas e ficar completamente enfeitiçada. Assim, dividimos histórias extremamente sedutoras, perturbadoras e incertas, acima de tudo compartilhamos o prazer pela literatura. À Noêmia Coutinho, pelo encontro e o nascimento de nossa amizade, guardo na memória e no coração muitos momentos especiais que vivemos juntas, muitas conversas enriquecedoras, muito sentimento de confiança de que este trabalho, um dia, seria escrito. A Nairlan Clayton Barbosa pela afinidade rara de espírito, de sensibilidade, isso nos possibilitou significativas trocas de ideias. A Gilberto pela amizade, pelo companheirismo, pelos momentos de alegria e pelas palavras acolhedoras que sempre me impulsionaram a continuar rumo aos meus sonhos. Nesse itinerário, coube aos meus pais, Antônio e Zilva a missão de orar, proteger e encorajar-me a lutar para vencer os ―lobos ferozes‖. Com eles, aprendi a amar e respeitar a diferença, no qual o afeto e a compaixão provocam metamorfoses na relação com o outro. À eles a minha profunda gratidão!
Continuou a andar e a olhar, olhar, olhar, vendo. Era um corpo- a- corpo consigo mesma dessa vez. Escura, machucada, cega — como achar nesse corpo-a-corpo um diamante diminuto mas que fosse feérico, tão feérico como imaginava que deveriam ser os prazeres. Mesmo que não os achasse agora, ela sabia, sua exigência se havia tornado infatigável. Ia perder ou ganhar? Mas continuaria seu corpo-a-corpo com a vida. Nem seria com a sua própria vida, mas com a vida. Alguma coisa se desencadeara nela.
Clarice Lispector
RESUMO
A via crucis do corpo , de Clarice Lispector, ocupou, durante muito tempo, uma visão secundária perante a crítica, confrontando com o restante de suas publicações. A suposta má qualidade dos contos, o escrever sobre assunto perigoso exposto na ―Explicação‖, também um toque sutil de um discurso caricato em alguns contos da coletânea, inicialmente, realiza uma espécie de (pre) juízo ao livro, movimentando o crítico/leitor durante muito tempo, isso fez com que o livro não fizesse parte do rol da preferência dos pesquisadores. Clarice Lispector, em A via crucis do corpo , produz nos contos a força de Eros , o impulso vital que determina o comportamento humano, no qual o desejo das personagens é o artifício desencadeador para a manifestação erótica em busca da completude. Esta pesquisa teve como objetivo discutir as representações do corpo, da sexualidade e do erotismo, com base em autores que escreveram sobre erotismo e sexualidade, como Georges Bataille e Sigmund Freud.
Palavras- chave : Clarice Lispector, Literatura, corpo, sexualidade, erotismo.
1.1 A via crucis do corpo : as trilhas percorridas pela crítica ........................................ 22
1.2 Literatura e Metaficção ........................................................................................... 35 5
2.1 corpo envelhecido ................................................................................................... 51 2.2 O erotismo tardio ................................................................................................... 66 6
3.1 Da aparência à essência- o corpo fabricado.............................................................. 84
3.2 Duas faces do mesmo: o corpo (re) descoberto ...................................................... 97 7
INTRODUÇÃO
Nos corpos não estavam desenhados o que a nudez revela, a nudez vinha apenas da ausência de tudo o que cobre: eram os contornos de uma nudez vazia. O traço era grosso, feito com ponta quebrada de carvão. Em alguns trechos o risco se tornava duplo como se um traço fosse o tremor do outro. Um tremor seco de carvão seco. Clarice Lispector
Antônio Carlos Hohlfeldt, em O Conto brasileiro contemporâneo , afirma que a década de 60 ficou conhecida como a década do conto, na qual houve uma consolidação do gênero, pois muitos autores foram consagrados por meio dele, principalmente os escritores mineiros que venceram a maioria dos concursos literários da época. O crítico Fábio Lucas, ao analisar o conto de Clarice Lispector, diz que o conto clariceano foi, primordialmente, um ato de narrar, o enredo se agasalhava numa proliferação de motivos livres, dava a cada composição uma dramática espessura filosófica. A tônica existencialista alimentava a progressão das personagens em seu drama particular. As maquinações ontológicas geravam o labirinto da condição humana, perpassando contradições e incertezas. Clarice explorava a fragilidade do ser diante do compromisso inevitável com a vida. A mesma aura de perquirição, a mesma ironia ferina, o mesmo espanto ante a revelação do mundo, a mesma linguagem dos contos, segundo Lucas, seria explorada em outros livros; contos que se misturam a crônicas, impressões, reflexões e apontamentos com A Legião estrangeira, Felicidade clandestina, Onde estivestes de noite? e A via crucis do corpo. Em A via crucis do corpo, no fecho da ―Explicação‖, Clarice deixou o toque dramático de sua infindável indagação do ser humano: a outra pessoa. Affonso Romano de Sant´Anna, em Análise estrutural de romances brasileiros, faz análise dos contos de Laços de família e Legião estrangeira , tomando como base a crítica de Costa Lima e Roberto Schwarz, não recorrendo à interpretação filosófica de Benedito Nunes. O crítico adota a análise já praticada em Vidas secas, de Graciliano Ramos, enquanto texto híbrido de contos-romance. A leitura dos contos, segundo Sant´Anna, ocorreu em quatro pontos fundamentais. O primeiro, no nível sintagmático,
narrado‖ (MEDEIROS, 2003, p.120). A autora recorreu à noção de gênero proposta por Cortázar. Outras duas características de Cortázar usadas por Medeiros para sua análise foram a intensidade e a tensão. Ao pesquisar a composição dos contos, Medeiros verificou a disparidade de temas, de situações e de formas do conto clariceano, o que, segundo a estudiosa, seria muito enriquecedor para o conto contemporâneo. A crítica começou analisando os contos de Clarice publicados entre 1940 e 1952, o que já permita ao leitor vislumbrar os traços singulares da obra de Lispector. Os contos apresentavam personagens angustiados, melancólicos, desajustados em relação à vida; o desfecho de algumas histórias não apresentava resolução dos conflitos. Os contos também possuíam narradores em primeira e em terceira pessoa, acontecimento em que a técnica do discurso indireto livre diminuía a distância entre o narrador e a personagem, havendo um grande destaque para a introspecção na ficção de Clarice. Para Medeiros, em Laços de família , as potencialidades já anunciadas nos contos anteriores são aperfeiçoadas, o que predominou nessa coletânea foi o esfacelamento das relações familiares, e a sensação de aprisionamento provocada pelo ambiente doméstico, pela solidão e pela dificuldade humana em lidar com sentimentos mais verdadeiros e vigorosos, numa mescla de narrativas mais complexas e outras de formas mais simples, uma criação que projetava o leitor para o terreno das relações subjetivas. Já o livro A legião estrangeira , também, segundo Medeiros, foi marcado por diversidade de forma narrativa. O conto ―A repartição dos pães‖ seria uma paródia da passagem bíblica que proporcionava ao leitor fazer reflexões sobre o tema do egoísmo e avareza do ser humano. Entretanto, em dois contos dessa coletânea, ―O ovo e a galinha‖ e ―A quinta história‖, Clarice Lispector radicalizou o processo de escrita e composição do texto literário. ―O ovo e a galinha‖, por exemplo, começava com uma frase que identificaria o tempo, o espaço, e o narrador da história, contudo, o assunto inicial, o ovo, vai se desdobrando e multiplicando-se com o desenrolar do texto. Ainda conforme Medeiros, o livro Onde estivestes de noite? (1974) trouxe inovações em relação às produções anteriores, com marcas do insólito e do fantástico, principalmente no conto que deu título à coletânea. A atmosfera do conto seria onírica e surreal. As categorias de bem e mal, noite e dia se misturavam e se opunham ao mesmo tempo.
Medeiros não deixou de analisar outra coletânea publicada no ano de 1974, A via crucis do corpo , descrito por ela como um livro inovador, pois Clarice Lispector teria adotado um único tema nos treze contos: o sexo. A estudiosa refere-se à ―Explicação‖ como uma declaração assinada pela autora, na qual se diz chocada com a realidade. Medeiros também dissertou sobre a problemática da ―hora do lixo‖. No prefácio, Clarice não teria deixado de tratar da construção da subjetividade e do confronto entre o sujeito e o outro. As manifestações da subjetividade seriam retratadas em contos como, por exemplo, ―Miss Algrave‖ e ―O corpo‖. As histórias da coletânea, segundo Medeiros, despiam as atitudes moralistas e os falsos pudores da sociedade, estabelecendo códigos de ética e de comportamento particular. Clarice teria usado uma linguagem direta e franca, e não grosseira nem vulgar. O conto ―Via crucis‖ seria uma paródia do nascimento de Cristo em que o fim do conto projeta ao leitor o inusitado, muito além da fábula narrada. A via crucis do corpo colocava o leitor em contato com o mundo marginal, sendo representado por Clarice Lispector de maneira peculiar. Para Medeiros, Clarice aproveitou toda a versatilidade do conto, retomando formas tradicionais de narrativa como fábulas e parábolas bíblicas, e também houve contos que seguiram ―a coloquialidade da crônica e dos textos informativos; há, ainda, aqueles marcados pela literariedade, em que o fato narrado perde importância diante da elaboração do relato‖ (MEDEIROS, 2003, p. 128). Nas coletâneas apresentadas, Lispector, ao tratar da construção da subjetividade e de seus inúmeros desdobramentos, representou personagens variados: homens, mulheres, crianças, jovens e animais. O espaço urbano foi constantemente utilizado por ela, sendo o Rio de Janeiro o mais recorrente. A condição dos personagens seria de classe média, enfocando a introspecção e o intimismo como técnicas narrativas. A Via Crucis do Corpo , publicado em 1974, reúne uma coletânea de treze contos e nota prévia da autora. Tratam-se de narrativas em que a trajetória de vida ou de morte dos personagens e a dos leitores começa pelas provocações, tendo como eixo o caminho do corpo, narrado subversivamente. Os livros escritos por Lispector anteriores a A via crucis do corpo eram mais herméticos e filosóficos; neste, a autora adota um ―estilo‖ diferente, mais simples, de maneira nua e crua. Segundo Vilma Arêas, no livro Clarice Lispector com a ponta dos dedos, a linguagem usada por Clarice em A Via Crucis do Corpo é sem polimento, algumas
frustradas. Há corpos que gritam, corpos que são consumidos e que buscam a liberdade de criação. Apesar de os contos em A Via Crucis do Corpo serem compostos por questões que são consideradas tabus, em que os desejos sexuais pulsam a cada momento, o corpo é um caminho a ser percorrido por cada indivíduo, com o objetivo de suprir as sensações de desamparo ou como celebração do prazer, não se admitindo discussão sobre a conduta moral das personagens, mas cada uma possui seu próprio código de honra, sem uma visão reducionista. O contorno psicológico dos personagens é feito por meio da ação, com um tom de aceno sensual, escapando de qualquer tipo de cárcere, captando, pelo corpo, a complexidade da alma humana. Segundo a autora, para escrever, precisava-se de liberdade, se parecesse uma escrita indecente, promíscua ou erótica, essa classificação iria depender do ―julgamento moral‖ de cada leitor. O que poderia ser narrado? Qual seria a trajetória possível dos personagens? E o que seria um tema interessante? ―Todas as histórias deste livro são contundentes. E quem mais sofreu fui eu mesma. Fiquei chocada com a realidade‖ (LISPECTOR, 1998, p.10). Supostamente, as histórias já existiam no plano real, só faltava ficcionalizá-las. Clarice Tentou publicar os contos sob o pseudônimo de Cláudio Lemos, revelando somente as iniciais ―C.L‖ para que seus filhos não lessem, pois teria vergonha, mas não foi aceito pelo editor. Consideraremos a nota prévia ―Explicação‖ como um conto compondo a via sacra do escritor. Os dados contidos nesse texto não são puramente decorativos. Assim como nos outros textos, há a presença de conflito entre ficção e realidade, por tratar-se de um texto em que há contaminação de diferentes gêneros^1 que flutua do paratexto (marginal) para o texto ficcional. Acreditamos que a escrita da nota explicativa foi de certa forma, planejada e intencional.
(^1) Marli Silva Froes na sua tese intitulada A autoria, a paixão e o humano em Clarice Lispector afirma que é necessário promover o cruzamento entre essa nota explicativa que abre o livro com os contos nos seus entrechos, especialmente quando o sujeito autoral está ficcionalizado, isto é, ganha o espaço do literário. Nesse particular, podemos falar na presença da ficcionalização do sujeito que escreve, nos elementos autobiográficos, nas memórias, nos diários, enfim, na constelação do que se convencionou chamar de escritas do eu. Reconhecendo que a autobiografia e a ficção, para nós, não são polaridades, e sim um indecidível, verificamos que, em A via Crucis do corpo , Lispector trabalha nessa perspectiva da contaminação de gêneros, por meio da nota explicativa, que pode se afigurar como uma décima quarta história: a narrativa de um sujeito que dá a conhecer treze histórias. Na ―décima quarta‖ história, estariam chaves de leituras para as outras treze.
Clarice Lispector em A Crucis do corpo não deixou de lado a escrita que se aproxima do filosófico, pois reflete a condição humana, que também, assim como nos livros ditos herméticos, volta-se para uma escrita que envolve o ofício de escrever, por isso requisita o corpo, ou melhor, o corpo do escritor, inscrevendo-o no corpo textual, mostrando que o corpo na condição humana é a premissa. Nessa coletânea, a autora dedicou-se também a uma escrita mais objetiva, sem delongas, seca, contundente, aproximando-se do erótico, com uma linguagem mais concisa e com ausência de metáforas, mais realista, usando a pobreza estilística como recurso poético, Clarice não quis somente narrar histórias, teve como finalidade usar a linguagem para causar repercussão. No primeiro capítulo desta dissertação, fizemos uma revisão de literatura sobre a recepção crítica da obra clariceana na época em que o livro foi lançado. Percebemos que houve um (pré) conceito em relação à escrita de contos eróticos. Analisamos os contos em que as discussões giraram em torno das narrativas metaficcionais que ―explicam‖ a organização do livro, os quais problematizam o drama da escritura, nos contos ―O homem que apareceu‖, ―Por enquanto‖e ―Dia após dia‖. No segundo capítulo, analisamos os contos nos quais os corpos desejosos encontram-se em conflito devido a implicações sociais e culturais. Essas narrativas problematizam o corpo envelhecido, mas desejoso de prazer, nos contos ―Ruído de passos‖ e ―Mas vai chover‖, ou o controle social que se exerce sobre o corpo, ocasionando frustrações e desilusões, a partir de ―O corpo‖ e ―Melhor do que arder‖. No terceiro capítulo, a discussão gira em torno dos contos em que o recalque e duplicidade do eu são apresentados sob uma perspectiva psicanalítica. Então, privilegiamos os contos ―Ele me bebeu‖, ―A língua do P‖, ―Praça Mauá‖ e ―Miss Algrave‖. Nossos estudos se voltaram para as representações de mulheres que se duplicam nas narrativas, como uma forma de driblar os preconceitos sociais e, também, para manifestarem seus desejos de prazer.