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Estudo sobre a familia e seus desdobramentos na sociedade pos moderna
Tipologia: Resumos
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Porto Alegre 2009
Dissertação apresentada à Faculdade de Teologia, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Teologia, Área de Concentração em Teologia Sistemática. Orientador: Prof. Dr. Mons. Urbano Zilles
Porto Alegre 2009
Através de uma análise de conjuntura do matrimônio e da família constata-se que estas instituições sofreram e sofrem muitos ataques através do processo de secularização. A ideologia de gênero se abate de modo especial sobre estas instituições. Na perspectiva do ensinamento de João Paulo II e na obra de José Kentenich apresenta-se uma visão cristã do homem e da mulher no matrimônio e na família. É no sacramento do matrimônio que o amor entre um homem e uma mulher encontra sua plena realização para a edificação da família. Inspirando-se na Família de Nazaré, participando da Eucaristia, em diálogo fecundo e permanente, estas instituições constroem a Igreja doméstica e a Civilização do Amor. Matrimônio e família estão intimamente unidos com a Civilização do Amor. Se a primeira via da Igreja é a família, a Civilização do Amor é a via da Igreja.
Palavras-chave : Matrimônio. Família. Ideologia de Gênero. Cultura da Vida. Eucaristia. Diálogo. Civilização do Amor.
This study has aimed at analyzing the situation of marrige and family in view of the strong process of secularization that these institutions have been undergoing. The ideology of gender has especially hit these two institutions very hard. The Magistery of Pope John Paul II and the Joseph Kentenich’s work point to the christian view of the roles of man and woman in matrimony and family: it is in the sacrament of matrimony that love between a man and a woman is fully accomplished, regarding the building up of the family. Under the inspiration of the Family of Nazareth, by fruitful and permanent dialogue, these institutions make up the domestic church and the Civilization of Love. If the ground of the Church is the family, then the Civilization of Love is the ground of the Church.
Key words : Matrimony. Family. Ideology of Gender. Culture of Life. Eucharist. Dialogue. Civilization of Love.
O secularismo é um fenômeno da era moderna, e penetrou na sociedade humana nos seus mais diversos segmentos. A Igreja Católica Romana através do magistério e de muitos teólogos e de leigos pertencentes às mais diversas áreas do conhecimento, vêm advertindo de longa data os efeitos deste fenômeno que acabaram por desembocar num processo amplo de secularização.^3 João Paulo II falando sobre o mundo atual, seus valores e problemas, suas ânsias e esperanças, as suas conquistas e fracassos, em um mundo cujas situações econômicas, sociais, políticas e culturais, que nos dias atuais, apresentam problemas e dificuldades mais graves do que o que foi descrito pelo Concílio Vaticano II na Constituição Pastoral Gaudium et Spes, afirma:
É verdadeiramente grave o fenômeno atual do secularismo: não atinge apenas os indivíduos, mas de certa forma, comunidades inteiras, como já observava o Concílio: “Multidões cada vez maiores praticamente se separam da religião”.^4 Repetidas vezes eu mesmo recordei o fenômeno da descristianização, que atinge os povos cristãos de velha data e que exige, sem mais delongas, uma nova evangelização.^5
(^3) “A secularização se entende por um processo histórico pelo qual o mundo toma consciência de sua consistência e de sua autonomia; seria, portanto, um processo geral de libertação, pelo qual o homem, a sociedade e a cultura seriam libertados da tutela e do controle do mito, da religião e da metafísica ou das normas ou instituições dependentes do âmbito sacro ou religioso. As atenções são fortemente voltadas contra o mito, (desmitização), contra o sacro, (dessacralização), contra a metafísica, contra o sobrenatural e contra a religião como tal” (KLOPPENBURG, Boaventura. O Cristão Secularizado. Petrópolis: Vozes, 1971, p. 21- 4 22). CONCILIO VATICANO II. Gaudium et Spes : constituição pastoral sobre a Igreja no mundo de hoje, 8. São 5 Paulo: Paulus, 1997. CONCILIO VATICANO II. Exortação Apostólica pós sinodal Christifideles Laici. São Paulo: Paulinas, 1990.
É um processo no qual a sociedade e a cultura pretendem se liberar do mito, da religião, do transcendente e de qualquer conotação religiosa, é um movimento de afastamento progressivo e total de Deus e das realidades sobrenaturais. Hubert Lepargneur por sua vez, afirma que a secularização é um processo de transformação de estruturas,^6 aponta alguns componentes que conduziram a sociedade a este comportamento, como a industrialização, a educação estatal, a urbanização, a nova situação do homem no mundo, ao progresso científico-tecnológico, a aceleração do ritmo das descobertas através dos computadores, a importância da cibernética, de uma ciência geral da comunicação, afirma também que a mentalidade secular e a civilização secular são formas culturais irradiadas através dos grandes núcleos urbanizados, das cidades. Defende que a secularização é produto da urbanização, da concentração das pessoas em núcleos habitacionais.^7 A secularização é um fenômeno que atingiu a sociedade humana, o mundo da cultura e da ciência nos seus mais diversos segmentos, aportando elementos positivos e negativos.^8 Suscitou em determinado círculo de pensadores cristãos, no final dos anos cinquenta e início dos anos sessenta do século passado, um amplo debate e muitas reflexões que fez surgir o
(^6) “Antes de se constituir em problema teológico, a secularização é transformação das estruturas sociais, de conhecimento, de produção, de consumo, de ação” (LEPARGNEUR, Hubert. S ecularização. São Paulo: Duas 7 Cidades, 1971, p. 15). “A civilização secular, a mentalidade secular, são as formas culturais que a cidade irradia: daí o nosso interesse pela cidade. A grande cidade é um fenômeno recente, não sem relação com o volume do gênero humano. Corresponde a terceira fase de uma evolução da humanidade, caracterizada pelo sociólogo holandês Cornelius van Peursen como:
Esta ideologia se expandiu ganhou força e foi introduzindo seus tentáculos nos mais diversos segmentos da atividade e da vida humana. Um dos ambientes onde o secularismo e o processo de secularização fez sentir seus efeitos de forma mais contundente e devastadora foi no âmbito do matrimônio e da família. 12 É inegável que cabe ao Estado laico a realização de tarefas específicas, respeitando as diferentes etnias e crenças e, para isso, necessita de uma justa e necessária autonomia, a qual a GS denomina de “autonomia das realidades terrestres”,^13 entretanto, à Religião (ao sacro) cabe afirmar os valores transcendentes, defender o direito natural, a vida, defender e propagar os valores éticos e morais, apontando os valores permanentes que devem nortear a ação não somente dos governantes, mas bem como dos cidadãos em geral visando a plena realização do bem comum; tornando a sociedade mais justa possível.^14 O Estado não deve proibir como ocorre na China, nem por outro lado impor a religião, como ocorre em algumas “teocracias”, como as conhecidas repúblicas islâmicas no Oriente Médio (Afeganistão, Irã, Yêmen), e na Ásia (Indonésia, Índia), mas deve garantir plenamente a expressão e a liberdade religiosa
(^12) O início realmente decisivo do processo de secularização no século XVII - cujos princípios podem remontar à última metade do século XV - colocou a Igreja diante de situação completamente nova. A especulação sobre o matrimônio já não era de interesse exclusivo dos teólogos. Sábios de várias ciências novas - primeiro o humanismo e a teologia positiva, depois os filósofos e os enciclopedistas, em seguida os evolucionistas, e mais tarde ainda os etnólogos e sociólogos - começaram a devotar sua atenção à questão do matrimônio. Nos países protestantes (na Europa), a legislação matrimonial automaticamente caiu sob o controle do Estado, embora houvesse discordância entre juristas e teólogos protestantes. Também em países católicos ocorreu uma certa mudança de ênfase. Este processo de secularização continuou através do século XVIII. Tudo o que não se ligava estritamente com a união sacramental recaía sob a competência dos juízes seculares. Os teólogos do século XVIII, porém afirmavam que o matrimônio civil era a matéria, e a liturgia do sacerdote era a forma. A Revolução Francesa marcou, o verdadeiro começo do período do matrimônio civil como tal, e, da reação dos Papas a isto, expressa uma aprovação mais positiva em princípio da proposição de Pio VI, que afirmou que em princípio, de que ela (a Igreja), possui plenos poderes jurisdicionais sobre o matrimônio em sua totalidade. A noção de liberdade de consciência que se desenvolveu em tempos mais recentes levou à aceitação da validade dos matrimônios destituídos de qualquer conteúdo religioso, e à reação dos Papas a esta idéia, expressa na proposição de que nenhum matrimônio válido que ao mesmo tempo não for um sacramento não é possível para os cristãos batizados. A jurisdição exclusiva da Igreja em assuntos matrimoniais de cristãos batizados se baseava nisto em princípio. Segundo o Papa Pio IX, o elemento religioso do matrimônio pertence à sua essência. Isto adquiriu status jurídico por sua inclusão no Código de Direito Canônico ( CIC ) 13 (SCHILLEBEECKX, Edward.^ O matrimônio. São Paulo: Vozes, 1969. p. 291-3). Por autonomia das realidades terrenas se entende que as coisas criadas e as próprias sociedades têm leis e valores próprios, que o homem irá gradualmente descobrindo, utilizando e organizando, é perfeitamente legítimo exigir tal autonomia. Para além de ser uma exigência dos homens do nosso tempo, trata-se de algo inteiramente de acordo com a vontade do Criador. Pois, em virtude do próprio fato da criação, todas as coisas possuem consistência, verdade, bondade e leis próprias, que o homem deve respeitar, reconhecendo os métodos peculiares de cada ciência e arte. Por esta razão, a investigação metódica em todos os campos do saber, quando levada a cabo de um modo verdadeiramente científico e segundo as normas morais, nunca será 14 oposta à fé, já que as realidades profanas e as da fé têm origem no mesmo Deus” ( GS ,^ 36). “A Igreja não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha política para realizar a sociedade mais justa possível. Não pode, nem deve colocar-se no lugar do Estado. Mas também não pode, nem deve ficar à margem na luta pela justiça. Deve inserir-se nela pela via da argumentação racional e deve despertar as forças espirituais, sem as quais a justiça, que sempre requer renúncias também, não poderá afirmar-se, nem prosperar. A sociedade justa não pode ser obra da Igreja; deve ser realizada pela política. Mas toca à Igreja, e profundamente, o empenhar-se pela justiça trabalhando para a abertura da inteligência e da vontade, às exigências do bem” (BENTO XVI. Carta encíclica Deus Caritas Est. 28. São Paulo: Paulinas, 2006).
para todos os cidadãos.^15 As realidades terrestres devem estar a serviço da humanidade e ajudar a elevar o homem para que este possa cumprir sua missão transcendental. Esta separação em nome de uma manifestação de liberdade total, extrema, e provocada por um forte desejo de separação dos “poderes” (sacro/laico), desenvolveu-se num ambiente bastante complexo e conturbado, seguindo o caminho da violência, da intolerância e do ódio, acabando por se traduzir no que João Paulo II, na Carta Encíclica Evangelium Vitae denomina de “cultura da morte”.^16 A EV denuncia a impressionante multiplicação de eventos que ameaçam à vida de pessoas e povos, assim como o documento do episcopado latino-americano do encontro de Santo Domingo, também se pronuncia sobre a “cultura da morte”.^17 Este processo alterou conceitos fundamentais que regem a vida em sociedade, e que guardam valores que transcendem a realidade terrestre, expressas em termos como pessoa, matrimônio, família, homem, mulher, entre outros. Foi com grandes e inúmeros sofrimentos e grandes tragédias, de revoluções, com guerras de alcance mundial e outras lutas armadas, atentaram contra a vida humana e ceifaram milhares de vidas e que acabaram por semear a discórdia o ódio e a divisão, provocando feridas em vastos segmentos da sociedade humana. Neste contexto, se faz a memória das guerras étnicas (na Chechênia, Kosovo, Bósnia-Herzegovina 18 ), das guerras por motivos religiosos (Irlanda, Indonésia...) as guerras tribais na África (Ruanda-1999), no Sudão
(^15) “O Estado não pode impor a religião, mas deve garantir a liberdade da mesma e a paz entre os aderentes das diversas religiões; por sua vez, a Igreja, como expressão social da fé cristã, tem a sua independência e vive, assente na fé, a sua forma comunitária, que o Estado deve respeitar. As duas esferas são distintas, mas sempre 16 em recíproca relação” ( DCE ,^ 28). “Vida humana, matrimônio e família são colocados, hoje, radicalmente em discussão pelos agentes da “cultura da morte” (João Paulo II), cuja atuação político-ideológica leva à degradação da vida humana, da família, da sociedade e da cultura” [...] “Estes “agentes” são pessoas individuais, grupos e instituições. Junto a Simone de Beauvoir, Judith Butier, Cristina Grela, Elizabeth Schüssler ou a Jacques Lacan, existem a ONU e as ONGs a ela ligadas. Mas existem também Estados (Holanda, Grã Bretanha, Chile) e partidos políticos (de inspiração cristã, marxista ou liberal) que promovem ideologicamente e politicamente aquela “cultura”. Por último, a grande maioria dos meios de comunicação (mídia), com sátiras grotescas e grosseiras, como e The Clinic chileno, até a grande mídia (CNN, BBC de Londres, La Reppublica , Le Monde etc), pertencem às mesmas fileiras) (VALENCIA, Fernando Moreno. Família e personalismo_. In_ : LEXICON : termos ambíguos e 17 discutidos sobre família, vida e questões éticas. Brasília: CNBB, 2007. p. 375^ et seq ). “O homem marcado pelo pecado, dividido em si mesmo, rompeu a solidariedade com o próximo e destruiu a harmonia da natureza. Nisso reconhecemos a origem dos males individuais e coletivos que deploramos na América Latina: as guerras, o terrorismo, a droga, a miséria, as opressões e injustiças, a mentira institucionalizada, a marginalização de grupos étnicos, a corrupção, os ataques à família, o abandono de crianças e idosos, as campanhas contra a vida, o aborto, a instrumentalização da mulher, a depredação do meio ambiente, enfim, tudo o que caracteriza uma cultura de morte” (CONFERÊNCIA EPISCOPAL LATINO AMERICANA (CELAM). Documento da IV Conferência do Episcopado Latino-americano de 18 Santo Domingo. São Paulo: Paulinas, 1992. p. 9). A Guerra da Bósnia tem início em abril de 1992 e se estende até dezembro de 1995. Foi o conflito mais violento vivido pela Europa depois da II Guerra Mundial, deixou cerca de 200.000 mortos. Foi uma guerra civil pela posse de territórios da região da Bósnia e Herzegovina entre três grupos étnicos e religiosos: os sérvios, cristãos ortodoxos; os croatas, católicos romanos; e os bósnios, muçulmanos.
momento presente com toda a intensidade, viver a vida em sua plenitude, gozando dos bens materiais, usando inclusive dos seus semelhantes como meio de possuir cada vez mais. Hoje mais do que nunca, fala-se da felicidade plena aqui nesta terra, e procura-se obtê-la na vida presente dos mais diversos modos legais, ou não, exercendo uma profissão rentável, tendo uma boa casa, com todo o conforto, um bom automóvel, uma conta bancária com vários dígitos. Enfim, procurando saciar o vazio existencial através da busca constante de bens materiais, o que vai inexoravelmente se traduzindo em um consumismo exagerado, constatado nos tempos atuais, e amplamente idolatrado nos chamados “templos de consumo” os shopping-centers, que hoje surgem como um sucesso do empreendedorismo econômico. A qualidade de vida, ou Welfare State (Estado do Bem Estar) surge com ímpeto devastador contra a “sacralidade da vida”. Neste contexto João Paulo II afirma na EV :
O único fim que conta, é a busca do próprio bem-estar material. A chamada qualidade de vida^23 interpretada prevalente ou exclusivamente como eficiência econômica, consumismo desenfreado, beleza e prazer da vida física, esquecendo as dimensões mais profundas da existência, como são as interpessoais, espirituais e religiosas.^24
No seu afã de usufruir os prazeres que a vida pode lhe proporcionar, o homem foge da sua vocação transcendental, pisoteia os elementares direitos da pessoa humana, ultrapassando todos os limites, ferindo a lei divina, o direito natural, as normas éticas e morais que são de fundamental importância e que devem reger a vida em sociedade e a convivência entre as pessoas. Hoje o ser humano se tornou um indiferente diante do transcendente, do religioso, um
(^23) “A natureza do Welfare State (Estado do Bem Estar), também nos países mais desenvolvidos, reduziu-se ao bem-estar social em sentido material: comodidade, falta de preocupações e vida fácil; em outras palavras, aquilo que se entende de forma equívoca por “qualidade de vida”, que priva a sociedade daqueles valores que ampliam a sua estatura, a tornam mais humana e, acima de tudo, a empenham num objetivo comum. O conceito confuso de ‘qualidade de vida’ num contexto de Estado social não se pode aceitar, sem uma visão crítica, como ponto válido de referência para melhorar a vida de todos. Suas conotações materialistas e utilitaristas tornam o conceito de difícil compreensão e de difícil aplicação como um símbolo real par o desenvolvimento do homem e da humanidade no seu conjunto[...]. Não poderá existir verdadeira qualidade de vida se não se tutela a dimensão humana e religiosa das novas gerações, assim como dos membros mais idosos da sociedade. Não existirá verdadeira qualidade de vida para ninguém, enquanto existirem famílias pobres, jovens sem a possibilidade de viver em habitações decentes, pessoas idosas deixadas sozinhas, pessoas deficientes não assistidas de forma adequada, discriminação para os imigrantes, comércio de armas, de drogas e de ‘carne humana’ à disposição da prostituição” (RAGA, José-Tomás. Novo modelo de “Welfare State”. In : LEXICON : termos ambíguos e discutidos sobre família, vida e questões éticas. Brasília: CNBB, 24 2007. p. 695^ et seq ). EV , 23.
indiferente diante do seu semelhante que sofre e que passa fome, que não tem condições dignas de moradia, que não tem um seguro social como atendimento médico-hospitalar, o acesso a medicamentos, acesso a aposentadoria e outros benefícios sociais e previdenciários. São feitas pesquisas para prolongar e melhorar a qualidade de vida em vários campos das ciências, o homem pretende a “imortalidade”. Entretanto, por outro lado, procura-se de muitas formas atacar a vida e reduzir de forma drástica as taxas de natalidade, através da prática do aborto e do uso de métodos contraceptivos.^25 Atualmente a defesa do meio ambiente a ecologia ganhou destaque frente ao próprio homem, fala-se hoje muito em aquecimento global, diminuição da camada de ozônio, dos espécimes em extinção e, muito pouco, em defender a vida da pessoa, atenta-se diariamente contra a vida humana principalmente através da “livre escolha”^26 e da eutanásia.^27 Diante da necessária proteção da fauna e da flora, e da atmosfera terrestre, bem como defender as espécies em extinção, o homem, a sociedade, o Estado acaba esquecendo o projeto de defesa e de conservação mais importante, a vida humana, notadamente a instituição que gera e desenvolve a pessoa, “a primeira e essencial estrutura a favor da ‘ecologia humana’ é a família, no seio da qual o homem recebe as primeiras e determinantes noções acerca da verdade e do bem, aprende o que significa amar e ser amado e, por consequencia, o que quer dizer concretamente ser uma pessoa”.^28 A humanidade atual entregou-se de corpo e alma aos progressos da tecnociência, “que
(^25) “Gerar filhos tornou-se um problema do qual o Estado social não se ocupa ativamente. “Na esfera social, o individualismo influencia também o valor dado à vida humana. Podemos notar que, quando se discute a respeito do sujeito da vida humana num contexto social, os termos de referência são, quase sempre, utilitaristas : o cálculo dos bens. A vida humana, numa sociedade consumista, mede-se na base do que contribui para o aumento geral do bem-estar social e não como um dom a ser desenvolvido segundo a própria vocação pessoal. O nascimento de um filho torna-se um problema social, um ônus econômico que fará surgir uma série de dificuldades no futuro, em particular no que diz respeito à educação. O filho, já não é visto como um recurso de esperança para a mudança da sociedade e como uma dádiva preciosa para a família” (LXXXVI Assembléia Plenária da Conferência Episcopal Espanhola. La Família , santuário de la vida , 40 apud 26^ LEXICON : termos ambíguos e discutidos sobre família, vida e questões éticas. Brasília: CNBB, 2007. p. 703). As feministas de gênero consideram como parte essencial de sua agenda a promoção da “livre escolha” em assuntos relacionados à reprodução e ao estilo de vida. Segundo O’Leary, “livre escolha de reprodução” é a expressão chave para referir-se ao aborto provocado; enquanto “estilo de vida” visa promover a homossexualidade, o lesbianismo e todas a outras formas de sexualidade fora do matrimônio (REVOREDO, Oscar Alzamora. Ideologia de gênero: perigos e alcance_. In_ : LEXICON : termos ambíguos e discutidos sobre 27 família, vida e questões éticas. Brasília: CNBB, 2007. p. 491^ et seq ). Significado etimológico de eutanásia: Do grego “eu” (boa) e “thanatos” (morte): significa morte sem dor; tirar a vida de um ser humano com o objetivo de eliminar toda a dor. Ver também, distanásia: é uma morte lenta, ansiosa e com muito sofrimento. É um prolongamento exagerado do processo de morrer. (obs. Não se trata aqui de prolongar a vida, mas o processo de morrer; portanto, é um tratamento que não traz a cura, que não beneficia a pessoa doente, mas que aumenta seu sofrimento). Ambos os procedimentos, na visão cristã são inaceitáveis. Definição: é o ato de matar deliberadamente um doente incurável para pôr fim aos seus sofrimentos, quer dizer por motivos de piedade (PAULA, Ignácio Carrasco de. Eutanásia_. In_ : LEXICON : 28 termos ambíguos e discutidos sobre família, vida e questões éticas. Brasília: CNBB, 2007. p. 309^ et seq ). CONCILIO VATICANO II. Carta encíclica Centesimus Annus , 39. São Paulo: Paulinas, 1991.
Pensemos também nas múltiplas violações a que hoje é submetida a pessoa humana. O ser humano, quando não é visto e amado na sua dignidade de imagem viva de Deus (cf Gn 1,26), fica exposto às mais humilhantes e aberrantes forma de “instrumentalização”, que o tornam miseravelmente escravo do mais forte. E o “mais forte” pode revestir-se dos mais variados nomes: ideologia, poder econômico, sistemas políticos desumanos, tecnocracia científica, invasão dos mass-media. Mais uma vez nos encontramos diante de multidões de pessoas, nossos irmãos e irmãs, cujos direitos fundamentais são violados, também em nome de um excessiva tolerância e até da clara injustiça de certas leis civis: o direito à vida e à integridade, o direito à casa e ao trabalho, o direito à família e à procriação responsável, o direito de participar da vida pública e da política, o direito à liberdade de consciência e de profissão de fé religiosa.^34
Tratando sobre a crise que se abate sobre o matrimônio e a família, José Kentenich^35 , assegura que há um “escuro pano de fundo da vida atual, que apresenta inúmeras dificuldades contra a firme conservação do ideal católico do matrimônio”.^36 Assevera as três crises que se abatem sobre o matrimônio e em conseqüência sobre a família: crise do trabalho, crise da habitação e crise da vida.^37 José Kentenich sustentava que, sem uma habitação adequada seria impossível manter o ideal do matrimônio, e nesta perspectiva, considerando os vários aspectos da crise da habitação afirma: “a carência de espaço, falta de quartos, desordem e imundície”, cabe ressaltar que esta análise ocorre nos anos trinta do século passado, aonde em termos estimados milhares de famílias não possuíam moradia adequada na Europa daquela época. Nos dias atuais é grande o número de famílias que não dispõe de moradia digna, muitas moram em favelas, nos denominados “cinturões de miséria” principalmente no entorno dos grandes centros urbanos, em condições precárias, sem uma adequada infra-estrutura de serviços públicos, sem rede de água, de esgoto, energia elétrica, e outros serviços
(^34) ChL , 5. (^35) Fundador da Obra Internacional de Schoenstatt, nasceu em Gymnich-Alemanha, a 18 de novembro de 1885. Em 1899, ingressou no Seminário Palotino de Ehrenbreitstein, mais tarde, em 1904 em Limburgo fez o noviciado e os estudos de filosofia e teologia. Foi ordenado sacerdote a 8 de julho de 1910. Em 1912, assumiu o cargo de diretor espiritual no Seminário Palotino em Schoenstatt-Vallendar o que permitiu-lhe iniciar a grande obra de sua vida a fundação da Obra de Schoenstatt. A fundação deu-se em 18 de outubro de 1914, quando junto com seus educandos, selou a aliança de amor com a Mãe de Deus, na capelinha dedicada a São Miguel, atual Santuário da Mãe, Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schoenstatt. Durante a Segunda Guerra Mundial, com a perseguição à Igreja pelo nacional-socialismo, José Kentenich foi condenado a seis meses de prisão na masmorra de Coblença, e, por mais três anos, sofreu os horrores do campo de concentração de Dachau. De 1951 à 1965, José Kentenich e sua Fundação foram seriamente provados pela Igreja. Separado de sua Obra, permaneceu catorze anos em Milwaukee-USA. Retornou à Schoenstatt em 1965, onde continou a dedicar-se à obra que fundara. Faleceu em 15 de setembro de 1968. Sua fundação possui uma dimensão múltipla e universal. Integra pessoas de todas as idades, sexos e estados de vida. Compreende seis Institutos Seculares, seis Uniões Apostólicas, oito comunidades da Liga Apostólica além de 36 um amplo Movimento Popular e de Romeiros. 37 KENTENICH, José.^ Pedagogia Mariana do Matrimônio.^ Schoenstatt: Patris Verlag, 1975. p. 54. PMM , 54.
considerados essenciais para uma vida digna. Na GrS , João Paulo II, diz sobre a questão do trabalho “o desemprego constitui, em nossos dias, um das mais sérias ameaças à vida familiar e justamente preocupa todas as sociedades. Ele representa um desafio para a política dos vários estados e um objeto de reflexão para a doutrina social da Igreja”.^38
O matrimônio e a família são as duas instituições que sofreram e que sofrem, constantes e profundos ataques com o processo de secularização. O matrimônio por ser a raiz da família e a família a base da sociedade, foram motivos de reflexão nos últimos séculos, algumas em sentido positivo, outras querendo diminuir e até eliminar o significado e a importância destas duas importantes instituições. Entretanto, nunca como nos tempos atuais o matrimônio e família, foram tão manipulados para atender a interesses escusos. José Kentenich faz uma leitura preocupante da realidade do matrimônio e da família, e afirma que:
A vida familiar se tornou quase incuravelmente doentia e infecunda (referindo-se a diminuição da taxa de natalidade na Alemanha nos anos seguintes após a primeira guerra mundial), observamos um abalo nas idéias com respeito à família, ao ideal da família e do matrimônio. Em todos os tempos existiu o humano no matrimônio e na família. Porém, em época alguma, os ideais do matrimônio foram tão destruídos e confusos. Talvez nunca houve tempo em que os ideais do matrimônio e da família tenham sido substituídos por ídolos, como hoje.^39
Descreve uma trágica inversão de valores e da ordem do ser e diz que: “o terreno está preparado para novos ideais familiares nos mais amplos círculos - ideais que nós devemos chamar de ídolos”.^40
(^38) GrS , 17. (^39) PMM , 6. (^40) Id.