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Tipologia: Notas de estudo
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"ATOTÔ OBALUAYÊ AJUBERU"
UM OLHAR SEMIOLÓGICO SOBRE
A INDUMENTÁRIA DE OBALUAYÊ.
.
ABRANTES, Samuel Sampaio
ATOTÔ, Obaluayê Ajuberu. Um olhar semiológico sobre a indumentária de
Obaluayê
Rio de Janeiro, UFRJ, EBA, 1996.
Dissertação: Mestrado em História da Arte (Antropologia da Arte)
2 - Os signos contidos na Indumentária do Orixá 1 - A arte de vestir o santo
de 4 - A tradição do Candomblé 3 - Cantigas para Obaluayê Obaluayê
Ketu na Bahia e no Rio de Janeiro.
1 - Universidade Federal do Rio de Janeiro
Prof. Dr. Frederico Augusto L. de Góes Orientador:
li - Título
IV
**- Ao Prof. Frederico Augusto L. de Góes, o estímulo primeiro, a orientação e a liberdade de pesquisa;
Sinceros Agradecimentos.
VII
OBALUAYIÊ
1 • lntroduc;lo
"Sua cor, Marco inicial de rejeição. Mas o tronco Logo se espalha..." (1)
Esta pesquisa teve início no primeiro semestre de 1994. O trabalho que ora formulo é o relato/análise do levantamento das questões relacionadas com as maneiras e modos de vestir os orixás. Tais questões que foram apresentadas em sala de aula pela Profl Liana Silveira e tem norteado o universo de pesquisa/estudo desde aquela data. Em 1994, tive a oportunidade de manter contatos com uma série de pessoas ligadas aos cultos de Candomblé e, mais especificamente ao ILÊ AXÊ OPÔ AFONJA (2). Dos encontros, foram registrados vários questionamentos pertinentes à indumentária no Candomblé de Ketu. Entrevistei Joaquim Motta (Joaquim D'Omolu) (3), Ogum Jobi (4), lldásio Tavares (5), mãe Stella (Maria Stella de Azevedo Santos) (6). Tive contatos com o Prof. Agenor M. Rocha (7), gravei entrevista do programa "Jô Soares Onze e meia" com Walter Alegrio (8). Prossegui nas investigações com farto material
(1) Tavares, lldésio; Tapete do Tempo, p. (2) ILÊ AXÊ OPÔ AFONJA - nome nagõ de um terreiro de candomblé da Bahia, situado em São Gonçalo do Retiro, fundado por Eugênia Ana Santos, "mãe Aninha". (3) Joaquim Motta, também conhecido como Joaquim D'Omolu, babalorixá do Rio de Janeiro, proprietério do terreiro de candomblé de nome "ILÊ FI ORO SAKAPATA", em Nova Iguaçu. (4) Ogum Jobi, Babalorixá do terreiro "AXÊ OGIBOJU FIRE EMO OGUN OYA•, em Coelho da Rocha, RJ. Foi iniciado por Joaquim Motta nos cultos dos orixés. (5) lldésio Tavares, Prof. Dr. em Literatura Portuguesa iniciado e atuante no AXÊ OPÔ AFONJA da Bahia, ocupa o cargo de OBÁ de XANGÔ. (6) Mãe Stella (Maria Stella de Azevedo Santos). lalorixá, atual llder do AXÊ OPÕ AFONJÁ da Bahia. (7) Prof. Agenor M. Rocha, o oluwõ, adivinho e zelador de lfé, muito respeitado na tradição Ketu-brasileira. Atuante no AXÊ OPÔ AFONJÁ desde 1921. Iniciado por ABEDÊ, Cipriano ABEDÊ, de Ogum no Rio de Janeiro na década de 20, na Rua João Caetano, Saúde. (8) Walter Alegrio - é de Recife, foi iniciado no Rio de Janeiro e atualmente tem um terreiro de Candomblé em São Paulo. Ê conhecido como "Pai Walter de Logum Edé".
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Recorro aos ensinamentos de Jean Baudrillard sobre O sistema dos objetos, (^) no qual o filósofo trabalha o imenso campo de objetos em que o homem contemporâneo vive mergulhado. O estudo semiológico vê os objetos como um conjunto de unidades, de funções e de forças. Baudrillard amplia o sentido que os objetos sintetizam e que permite manipular conceitos organizados culturalmente e ainda apresenta a diferença que existe entre o sistema dos objetos e o da língua. Ele se utiliza do instrumental lingüístico para a abordagem do tema. Ê certo que a dialética estabelecida entre língua e fala, entre denotação e conotação, extraídas das questões levantadas pelos semiólogos demonstraram que a minha atenção teve que ser redobrada ao querer, inutilmente, fechar conceitos que poderiam comprometer as questões relacionadas aos objetos presentes no Candomblé. Ao apontar para uma rede complexa de especulações, de práticas e de processos, os problemas relacionados à expressão em língua portuguesa objetivada e a língua falada nos terreiros, que se expressa através de instrumentos e dialetos, foi preciso observar o Candomblé como uma prática em que o princípio é a tradição oral.
Em cada terreiro, os membros formam associações e estabelecem a hierarquia que funciona em consonância com as necessidades do grupo. O objetivo é manter viva a tradição do culto aos orixás encadeados pelos mecanismos automatizados pelo condicionamento social, com os códigos desenvolvidos pela sociedade moderna. Há uma transparência em sentido de ambivalência simbólica entre africanismos e brasilidade, decodificável a partir da compreensão dos sistemas e das organizações revelados no processo cultural.
Cada cultura, cada religião possui seus valores, seus padrões próprios pertinentes, suas especificidades, seus instrumentos de uso, com um ritmo próprio que a caracteriza. Os critérios de avaliação, normalmente, vão ao encontro das conjunturas de cada cultura. Se é certo que a comunicação escrita e o uso das máquinas caracterizam uma forma avançada de comunicação, não servem, por exemplo, como parâmetro para análise da permanência das entidades que caracterizam as formas de expressão nos rituais do Candomblé. Elas se desenvolveram a partir de outros aspectos, através de uma outra
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dinâmica entre os adeptos dos cultos e os processos de trocas diversas e de identificação que cada estrutura reproduz. Entretanto,os tempos modernos operaram sigruficativas transformações na veicuJação desses ritos que, me parece, escapam à observação das pessoas que estão envolvidas com as coisas do santo. Uma profusão de tecidos, mateciais, objetos "modernos" fazem parte dos cultos, atualmente. A comercialização cada vez maior da cultura material das casas de santo evidencia essas transformações ,_ impostas por uma nova maneira de ver o mundo, o progresso e a evolução tecnológica.
Investigar o caráter alternativo de valores peculiares e o desenvolvimento na dinâmica da sociedade atual requer um trabalho atento de grande dificuldade. Principalmente, para aquele q.ue não é iniciado nos cultos e q.ue deles se aproxima com uma outra carga ideológica que sustenta. constitui e informa a percepção do observador ,_ reproduzindo novas ideoJogias que são oo passam a ser "co-participantes". Essas ideologias são agentes e orientam o recorte da reaJidade **,** da qual resultam as representações_ Na dinâmica social do Candomblé. como em qualquer _grupo, existem interesses, aspirações. mas a neutralidade e imparcialidade devem reger a percepção da realidade em âmbito maior, no macro-sistema que a compõe.
O objetivo geral desta di-ssertação- é a elaboração- de um- estudo sobre- a indumentária do orixá OBALUAYl:. de tradição Jeje, no Kandomblé de KeilL Desse modo� as questões levantadas e observadas ao longo da pesquisa referem-se à cultura material desse orixá e mais especificamente a sua indumentária, suas cores e formas.
O sistema de objetos que participa do culto de Candomblé precisa ser percebido como parte integrante da cultura e da vejcuJação do mito. Ele reflete o conjunto dos meios pelos quais se dá a afirmação do mito/orixá e a permanência. entre nós, de ritos tradicionais e de um estilo de vida africana. Arotatividade de materiais/objetos que participam dos assentamentos, nos rituais sofreram as transformações devido à disponibilidade de matéria�primas existentes. lsto resultou numa complexidade de processos de troca/compra de busca de
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esses objetos como sistema de comunicação e de produção de significados_ As formas de comunicação visual veiculam mensagens de naturezas diversas e contribuem para a definição do orixá.- do � da dança ou do jogo. A combinação de materiais diferenciados em cor. textura, tamanho e forma constitui a
entre os componentes de uma determinada comunidade e dos conceitos veiculados pelos rituais, identificando as raízes, as famílias, os clãs.
estudo dos aspectos erurohddoa no ritual Através do discurso é passivei ir além
outras instancias.. Favoreca acr.iação de uma teia da significados_ A permanência de ícones confere uma eficácia na simboJização dessas energias/forças veiculadas no Candomblé.
Muitas questões podem ser levantadas ou respondidas quando um culto
passível de responder a indagações primárias como: "onde?". "o quê?". "por quê?" ,. poderei elaborar uma etnografia dos cuJtos e urna análise de seu desempenho junto aos grupos que manipulam. bem como dos contextos sociais em que estão inseridos.
Charlotte Otten, citada pela professora Berta Ribeiro em curso de AntropoJogia, enfatiza a natureza da memória de um grupo, em sua obra ao afirmar: Nas culturas pré-letradas ou protoletradas, o simbolo artístico se
simultaneamente, seus referentes. Nessas culturas, os objetos de arte e os eYentos silo os meios de resgatar a informaçllo, em lugar dos livros. (1971, OTTEN, XIV)
Através da análise dos- objetos- rituais, é possh:el projetar- possibilidades- e introduzir a ordem religiosa que se oferece para a decodificação. É nos objetos
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que se encontram os elementos passíveis de análise. Eles se referem a dados específicos da indumentária e dos demais signos que cercam o orixá.
Apesar da aparente arbitrariedade dos rituais e dos códigos, é viável dotar as vestimentas e os paramentos de sentido. Resgatar a significação implícita do que não é dito, mas se faz referente. É necessário ver os objetos com os "olhos de lá", com os "olhos de dentro".
Foi preciso mergulhar no universo mítico-religioso para construir em meu discurso os seus objetos. Dotá-los dos valores que estes objetos detêm, no sentido real. Foi um processo semiológico por natureza, que se desenvolveu na medida em que busquei o tempo próprio dos sistemas, a história das formas, dos objetos, das coisas.
Roland Barthes em Elementos de Semiologia propõe o processo aqui adotado, quando articula a possibilidade de produção de um pensamento ou discurso que dê conta dessas projeções, desses significados. A análise da indumentária, por exemplo, permite uma leitura interessada nos elementos que compõem o vestuário no terreiro e que gera as opções por determinadas formas cores ou texturas, que leva à utilização deste ou daquele objeto ou paramento, cada qual com sua pertinência, sua "sabedoria" implícita. Neste sentido, procurei observar na indumentária e nos demais códigos que cercam o OBALUAVÊ a continuidade do sistema, para registrar sua "ciência" e a "arte" de sua execução e buscar a história das formas como propõe o estudo semiológico.
Na África, os "orixás" somavam cerca de seiscentos. Ao serem transportados para o culto brasileiro, esse número foi reduzido a uns cinqüenta. No Candomblé atual passaram a ser cultuados os 16 principais, pois estes se desdobram em vários outros nomes, qualidades e particularidades.
Alguns orixás têm sua origem associada a lendas de reis e rainhas de um período muito remoto que foram divinizados e que, em síntese, representam as vibrações das forças elementares da natureza - raios, trovões, ventos,
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manifestação religiosa que já existia muitos séculos antes de Jesus Cristo, dos santos e, principalmente, da Igreja Católica.
Os orixás se desdobram em "qualidades" que reforçam determinadas características ou particularidades de sua manifestação. Nesses casos, o orixá receberá um nome esp.ecífJCO ou acrescentará ao seu nome ariginaJ um outro nome. Daí ouvirmos falar de Oxum Apará; Xangô Alafin; Oxum Pandá; Ogum Narué; lbualama (Oxossi); Otin (Oxossi); Obaluayê; lntotu (qualidade de Omolu).
Os orixás são assentados em objetos ritualísticos. Dependendo de cada <>fixá, são cGIOGaGos em uma- vasilha de louça, óleos, azeite, mel- e eFVas com uma pedra^ -^ o^ OTA^ Obaluayê^ tem^ seus^ assentamentos^ colocados^ no Cuscuzeiro. (pág. 1 1 )
No culto a Obaluayê, há uma dicotomia intimamente ligada aos símbolos veiculados ,_ à idéia de vida e de morte. Ao analisá-los, procurei relacionar as ordens da- cultura, destacar os- valores expressos- nos- objetos, nos- adereços e nos paramentos da indumentária do OBAWAYÊ._ Através do levantamento das idiossincrasias do orixá, de suas características expressas através do processo artístico/religioso, procurei comp(eender a ordem religiosa expressa nas coisas do santo, de domínio deste orixá.
Estou ciente da dificuldade de se elaborar uma epistemologia das coisas do santo que permita ultrapassar o nível do emp.irico e que atinjaas. questõea e relações sociais implícitas. Este estudo me possibilitou perceber a realidade pluriculturai do- candomblé, as diferenças- de classes, de culturas e coo existentes neste universo. A difícil tarefa de documentar o ritual em sua "alteridade" própria se apresentou como o maior desafio a ser vencido.
Em anexo, apresento as fotos e os desenhos da indumentária encontrada nas "casas" visitadas e algumas selecionadas de farto materiaJ iconogr.áfico reunido durante a pesquisa. Há também, a íntegra das entrevistas. com os depoentes e os artigos de jornais e programas de rádio transcritos.
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