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Variação Linguística na Comunidade Afro-Brasileira de Matição: Uso de [γ] e [λ], Notas de estudo de Linguística

Um estudo sobre a variação linguística na comunidade afro-brasileira de matição, jaboticatuba/mg, que se refere à co-ocorrência do uso da semivogal [γ] e da lateral palatal [λ]. O trabalho inclui uma análise quantitativa dos dados utilizando o programa de regras variáveis varbrul, com ênfase na influência de fatores linguísticos e sociais sobre o comportamento da variável em estudo. Além disso, o documento discute a relação entre a variação e o fator idade, sugerindo que é uma mudança em progresso evidenciada pelo tempo aparente.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Cunha10
Cunha10 🇧🇷

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Enilde Fortunato Castro
Sobre o uso da semivogal [γ] e a inserção da
lateral palatal [λ] no Português Brasileiro
UFMG- Belo Horizonte
2006
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Baixe Variação Linguística na Comunidade Afro-Brasileira de Matição: Uso de [γ] e [λ] e outras Notas de estudo em PDF para Linguística, somente na Docsity!

Enilde Fortunato Castro

Sobre o uso da semivogal [γ] e a inserção da

lateral palatal [λ] no Português Brasileiro

UFMG- Belo Horizonte

Enilde Fortunato Castro

Sobre o uso da semivogal [γ] e a inserção da

lateral palatal [λ] no Português Brasileiro

Dissertação apresentada ao Curso de Pós- Graduação em Estudos Lingüísticos da Faculdadede Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Lingüística.

Área de Concentração: Lingüística Linha de Pesquisa: Variação e Mudança Lingüista Orientadora: Profª. Drª Eunice Nicolau

Faculdade de Letras da UFMG Belo Horizonte - 2006

A minha querida mãe Terezinha (in memoriam): agradeço-lhe, mãe, pelas orações diárias a meu favor, pelas preocupações, pelos cuidados dispensados a mim e aos meus filhos durante o tempo que passamos juntos. O meu eterno amor...

  • CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO ............................................................................... Página
  • CAPÍTULO 2: A VARIÁVEL LINGÜÍSTICA EM ESTUDO
    1. Preliminares.......................................................................................................
    • Palatal [λ] no PB................................................................................................ 2. Da Influência Africana na co-ocorrência da Semivogal [γ] e da Lateral
      • recentes............................................................................................................ 3. Da co-ocorrência da Semivogal [γ] e da Lateral Palatal [λ]: abordagens
    1. Síntese...............................................................................................................
  • CAPÍTULO 3: PRESSUPOSTOS TEÓRICO- METODOLÓGICOS .....................
    1. Preliminares.......................................................................................................
    1. Sobre a Teoria da Variação...............................................................................
    1. O universo da pesquisa: A comunidade afro-descendente de Matição.............
    1. Hipótese e objetivos...........................................................................................
    1. Procedimentos Metodológicos Adotados........................................................... - 5.1. As variáveis consideradas na análise ....................................................... - 5.1.1. Fatores Lingüísticos............................................................................ - 5.1.2. Fatores Sociais................................................................................... - 5.2. A Amostra.................................................................................................. - 5.3. A coleta dos dados....................................................................................
  • CAPÍTULO 4: ANÁLISE DOS DADOS
  • 1.Preliminares........................................................................................................
  • 2.Os Resultados da Análise Quantitativa............................................................... - 2.1. O Uso da Lateral Palatal: Atuação dos Fatores Estruturais...................... - 2.1.1. Grupo de Fatores: Vogal Precedente................................................. - 2.1.2. Grupos de Fatores: Classe Morfológica.............................................. - 2.2. O Uso da Lateral Palatal: Atuação dos Fatores Sociais............................
    • 2.3. Síntese.......................................................................................................
    1. Sobre a Propagação da Mudança.....................................................................
  • CAPÍTULO 5: CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................
  • REFERÊNCIAS .....................................................................................................

ÍNDICE DAS TABELAS

Página

TABELA 1 – Influência dos Fatores dos Grupos selecionados na realização de cada variante ..............................................................................

TABELA 2 – Influência da Vogal Precedente sobre o comportamento da variável ............................................................................................

TABELA 3 – Influência da Classe Morfológica sobre o comportamento da

variável..............................................................................................

TABELA 4 – Influência da Faixa Etária no comportamento da variável................

TABELA 5 – Influência de uso da Lateral Palatal considerando Grau de Contato...................................................................................................

TABELA 6 – O uso da Lateral Palatal considerando o Grupo de Fatores Faixa Etária e Classe Morfológica...................................................

TABELA 7 – Freqüência de [λ] por item lexical, Classe morfológica e Faixa Etária...........................................................................................................

ÍNDICE DOS ANEXOS

ANEXO 1– Roteiro para coleta de dados em função da caracterização do informante

ANEXO 2– Localização do município de Jaboticatubas no Estado de Minas Gerais

ANEXO 3 – Localização do município de Jaboticatubas na grande BH

ANEXO 4 – Posição geográfica de Jaboticatubas: limites e cidades

ANEXO 5 _ Jaboticatubas: localização dos principais equipamentos urbanos

ANEXO 6_ Localização da comunidade de Matição no município de Jaboticatubas

RESUMO

O presente trabalho analisa o uso da semivogal [γ] e o uso da consoante lateral palatal [λ] no português falado pela comunidade afro-descendente de Matição, Jaboticatubas/MG. Nessa análise, realizada sob a perspectiva sociolingüística laboviana (Labov 1972, 1994, 2001), [γ] e [λ] são consideradas como duas variantes (a primeira, conservadora e a segunda, inovadora) de uma variável lingüística cujo comportamento é influenciado por fatores lingüísticos e sociais. Assume-se, então, como hipótese, que, na comunidade de Matição: (a) a presença da variável em estudo revela predominância da semivogal [γ], o que aponta para o conservadorismo de um traço característico de línguas africanas; (b) a preferência pela semivogal concentra-se na fala dos mais idosos enquanto a preferência pela lateral palatal concentra-se na fala dos mais jovens, o que aponta para a caracterização da variação como mudança em progresso. No estudo, foi utilizado um corpus constituído de 230 dados extraídos de entrevistas, gravadas na referida comunidade. Os dados foram analisados quantitativa e qualitativamente. Os resultados quantitativos obtidos apontaram os fatores vogal precedente [ i ] e [כ ], substantivo e adjetivo e o grupo 1, dos mais jovens (entre 25 e 45 anos) favorecendo o uso da lateral palatal [λ] no português falado pela comunidade focalizada. Evidenciaram, portanto, que a variação se associa a uma característica de mudança em progresso (nesse caso, em direção ao uso da lateral palatal e conseqüente perda da semivogal) e que parece plausível a hipótese de MADUREIRA (1999), segundo a qual, no português brasileiro, a presença da semivogal [γ] é resultado de um processo de vocalização ocorrido, possivelmente, por influência de línguas africanas. Esses resultados ainda permitem supor que, na comunidade de Matição, há inserção da variável [λ] através dos falantes mais jovens, que mantêm contato mais freqüente com a comunidade urbana de Jaboticatubas- MG.

CAPÍTULO 1:

Introdução

Este trabalho analisa o uso da semivogal [γ] e o uso da consoante lateral

palatal [λ] no português brasileiro (doravante, PB) falado pela comunidade afro- descendente de Matição -Jaboticatubas-MG. Esse estudo foi motivado pela pesquisa realizada por MADUREIRA (1987), que trata da variação constituída do uso da consoante lateral palatal [λ] e do uso da

semivogal [γ] no português, focalizando a fala da cidade de Belo Horizonte-MG. A autora pesquisou os contextos nos quais a variante desprestigiada (a semivogal [γ]) é usada, inclusive, pelos falantes do grupo social mais privilegiado. Nesse estudo, a autora considerou a semivogal (uma variante inovadora) em competição com a lateral palatal (uma variante conservadora) e constatou ser tal variação um caso de mudança no sentido da vocalização no PB, que tem se propagado por difusão lexical. De acordo com MADUREIRA (1987), a vocalização da lateral palatal é, segundo Leite de Vasconcelos (1901), um fenômeno presente em diversas línguas românicas (francês, espanhol, romeno e italiano); entretanto, no que diz respeito à ocorrência de tal fenômeno no PB, alguns autores (dentre eles, MENDONÇA: 1973 e MELO: 1975) defendem que a semivogal [γ] que co-ocorre com a lateral palatal [λ] teria resultado da influência de línguas africanas. Essa posição é assumida como o ponto de partida do presente trabalho, que, adotando o modelo sociolingüístico variacionista (LABOV: 1972, 1994, 2001), assume [γ] e [λ] como duas variantes de uma variável lingüística cuja presença na comunidade de Matição decorre de fato oposto ao que se observa no PB; ou seja: assume que, nessa comunidade afro-descendente, [γ] é a forma herdada de língua africana (portanto, nos termos variacionistas, é uma variante conservadora), enquanto [λ] é uma forma que foi/está sendo introduzida nessa

os itens lexicais são considerados como propulsores de mudança na direção de uso da semivogal em substituição à lateral palatal. Em vista disso, a análise considera quatro grupos de fatores lingüísticos (Vogal Precedente, Vogal Posterior, Classe Morfológica e Tonicidade) ao lado de três grupos de fatores sociais: Faixa Etária, Sexo e Grau de Contato dos membros da comunidade com a área urbana de Jaboticatubas-MG. Através de uma análise quantitativa dos dados utilizando-se o Programa de Regras Variáveis VARBRUL (versão 1994), buscou-se verificar a influência de cada grupo de fatores no comportamento da variável e o Peso Relativo (PR) de cada fator em relação ao uso da lateral palatal na comunidade de Matição. Assim sendo, além deste Capítulo introdutório, o presente trabalho inclui mais quatro capítulos: o Capítulo 2, que retoma alguns estudos sobre a variável lingüística em questão; o Capítulo 3, que trata dos pressupostos teórico-metodológicos assumidos no desenvolvimento dessa pesquisa, de modo que apresenta as hipóteses, os objetivos e as variáveis consideradas no estudo, além da descrição do universo da pesquisa e dos procedimentos adotados para a coleta e o tratamento dos dados; o Capítulo 4 analisa os dados coletados atentando para a atuação dos grupos de fatores (lingüísticos e sociais) sobre o comportamento da variável em estudo, focalizando o uso da lateral palatal [λ] (a variante inovadora) pela comunidade e apresenta os resultados quantitativos obtidos; o Capítulo 5 apresenta as conclusões permitidas pelos resultados quantitativos e tece algumas considerações sobre o fenômeno em pauta retomando as hipóteses e os objetivos que orientaram a realização desse estudo.

CAPÍTULO 2:

A variável lingüística em estudo

1º) No francês, o fonema [λ] apresentou uma variante [γ] que se instituiu

como forma padrão no século XVIII, isto é, vocalizou-se. No século IX, devido à invasão dos germânicos, os processos de palatalização, na língua francesa, foram suspensos, principalmente nos grupos que mais palatalizavam. Posteriormente, com a estabilização política, surgem novas mudanças lingüísticas, dentre as quais, as palatalizações, que foram interrompidas por oito séculos. DAUZAT^2 (segundo MADUREIRA, 1987) afirma que algumas dessas mudanças lingüísticas foram contidas e anuladas pelo esforço dos gramáticos como as palatalizações de t e d ; outras são introduzidas, como ocorreu com as palatalizações de n+y; paralelamente, se dá a vocalização da lateral palatal. O autor atribui, à Revolução Francesa, a propagação desse fenômeno em território francês, com maior abrangência em algumas regiões do sul da França que ainda conservam a lateral palatal. 2º) No espanhol, língua que mais se aproxima do francês com relação à vocalização, tal fenômeno é conhecido por yeísmo. Esse yeísmo iguala o espanhol ao francês nos seguintes aspectos: a - Quanto à época de origem, pois ambas as línguas registram a variação [λ]~[γ] em épocas aproximadas: o francês, no século XVII; o espanhol, na segunda metade do século XVIII. b - Em relação à propagação, o fenômeno pode ser observado tanto em regiões adjacentes quanto distanciadas, mantendo assim a variação apenas em nível regional em ambas as línguas. No francês, a lateral palatal sobrevive na Suíça e em algumas partes do Sul da França. Quanto ao espanhol, tanto a Espanha quanto a América registram a

(^2) DAUZAT, A. Phonétique et Grammaire Historiques de la Langue Française. Libraire Larouse, 1950,pp. 90-95, apud MADUREIRA,1987.

variação, sendo que em algumas áreas de ambos os territórios são denominadas de lheístas e outras yeístas. c - Quanto às características fonéticas das variantes, Alonzo^3 (conforme MADUREIRA, 1987) diz que, no francês, a alternância se dá entre [λ] e [γ] exclusivamente; porém, no espanhol, essa alternância é acrescida sempre em nível regional, das variantes [ž], [ŷ] e [y surda] sendo [ŷ] mais generalizada na América do que na Espanha. d - Quanto ao ciclo de transformação da palatal, a língua francesa desconhece qualquer fenômeno de vocalização antes do século XVII; ao contrário, a língua espanhola registra dois processos distintos: um em termos de época, outro em termos de características fonéticas de mudança da lateral palatal; segundo Bourciez^4 (citado por MADUREIRA, 1987), do primeiro processo de mudança da lateral palatal ocorrido no século XVII, registra-se hoje, no espanhol, a realização [χ]. Em relação ao segundo processo de mudança ocorrido no século XVIII, registra-se a variação [λ] ~ [γ]. 3º) O romeno também apresenta o fenômeno da vocalização da lateral palatal. Entretanto, o contato íntimo dessa língua com as línguas eslavas deixa dúvidas quanto à origem românica desse processo. Todavia, Bourciez entende que a vocalização da lateral palatal [λ], no romeno, é de origem românica e, não, de

origem eslava; o autor menciona a vocalização das consoantes l e n (provenientes de l + y e n + y do latim) e de l (do grupo kl), respectivamente: FIIU (FILLIUM), CHEIE (CLAVEM).

(^3) ALONZO, A. Estúdios Lingüísticos _ Temas Hispanoamericanos, Editorial Gredos. Madri, 1967 apud MADUREIRA ,1987, 31. (^4) BOURCIEZ, E. Éléménts de Linguistique Romane. Librairie C. Klincksieck, Paris, 1946, p.559, apud MADUREIRA, 1987, p. 31.