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Enfermagem em Saúde Mental e Psiquiatria, Notas de estudo de Sociologia da Saúde e Doenças

Aula da disciplina de enfermagem em saúde mental e psiquiatria da faculdade

Tipologia: Notas de estudo

2020

Compartilhado em 18/08/2020

gillianny-nunes-9
gillianny-nunes-9 🇧🇷

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A 'ATENÇÃO': O QUE SIGNIFICA E IMPORTÂNCIA EM NOSSAS VIDAS
Atenção a palavra mágica para iniciarmos qualquer atividade com sucesso. Atenção é regra de ouro
em tudo que formos fazer.
Atenção: é um processo cognitivo pelo qual o intelecto focaliza e seleciona estímulos, estabelecendo
relação entre eles. A todo instante recebemos estímulos, provenientes das mais diversas fontes, porém
atendemos a alguns deles, pois não seria possível e necessário responder a todos. É um processo de extrema
importância em determinadas áreas, como na educação, já que se exige, por exemplo, a um aluno que preste
atenção às matérias lecionadas pelo professor, ignorando outros estímulos visuais, sonoros ou outros, como o
que se está a passar fora da sala de aula (estando, neste caso, relacionado também com o problema da
disciplina). Além da atenção concentrada, em que se seleciona e processa apenas um estímulo, também pode
existir atenção dividida, em que são selecionados e processados diversos estímulos simultaneamente - como
quando se conduz um automóvel e se ouvem as notícias do rádio simultaneamente.
Para que a atenção atue são necessários três fatores básicos:
Fator fisiológico, onde depende de condições neurológicas e também da situação contextual em que
o indivíduo se encontra;
Fator motivacional: depende da forma como o estímulo se apresenta e provoca interesse;
Concentração: depende do grau de solicitação e atuação do estímulo, levando a uma melhor
focalização da fonte de estímulo.
Quanto a fonte de estímulo podemos ter estímulo visual, auditivo e sinestésico.
Existem, através da filosofia oriental, técnicas que visam estabelecer a saturação do pensamento,
promovendo um maior grau de concentração, ou seja, maior estabilidade nos pensamentos do praticante.
Segundo o livro Yôga-Sútra, de Patñjali - Dháraná (concentração) consiste em centrar a consciência em uma
área delimitada. Segundo o livro Faça-Yôga, do Mestre DeRose, o estado de intuição linear é o estágio
seguinte que se adquire após o trabalho de saturação dos pensamentos.
Anormalidades
Hipoprosexia: diminuição global da atenção;
Aprosexia: total abolição da capacidade de atenção, independente dos estímulos;
Hiperprosexia: atenção exagerada com certa tendência;
Distração: sinal de superconcentração ativa da atenção sobre determinados conteúdos e objetos;
Distraibilidade: estado patológico que se exprime por instabilidade marcante e dificuldade ou
incapacidade para se fixar ou se manter em qualquer coisa que implique esforço produtivo;
Incapacidade de concentração.
FUNÇÕES PSÍQUICAS: "CONSCIÊNCIA, ATENÇÃO E ORIENTAÇÃO"
Introdução
O exame psiquiátrico é uma avaliação médica que visa ao estabelecimento de um diagnóstico
psiquiátrico, à criação e ao desenvolvimento de uma aliança de trabalho, um planejamento terapêutico e um
prognóstico do paciente. O exame psiquiátrico deve fazer um corte longitudinal da vida do paciente,
obtendo-se nele dados referentes à sua bibliografia e à história de sua doença atual. Em seguida, obtêm-se os
dados de um corte transversal, referentes ao estado do paciente no momento do exame.
O exame psicopatológico, correspondente a um corte transversal na vida do paciente, compreende as
funções psíquicas que devem ser observadas e/ou deduzidas para a realização de um diagnóstico.
O presente trabalho tem como objetivo abordar as funções psíquicas, dentre elas especialmente a
consciência, atenção e orientação.
Introdução Em Psicopatologia
Psicopatologia é a ciência que estuda as anormalidades psíquicas do ser humano. Para este fim
podemos utilizar diferentes meios. O método utilizado pela psiquiatria como ferramenta para diagnóstico
sindrômico e nosológico é a fenomenologia: psicopatologia fenomenológica, que baseia-se na descrição dos
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A 'ATENÇÃO': O QUE SIGNIFICA E IMPORTÂNCIA EM NOSSAS VIDAS

Atenção a palavra mágica para iniciarmos qualquer atividade com sucesso. Atenção é regra de ouro em tudo que formos fazer. Atenção: é um processo cognitivo pelo qual o intelecto focaliza e seleciona estímulos, estabelecendo relação entre eles. A todo instante recebemos estímulos, provenientes das mais diversas fontes, porém só atendemos a alguns deles, pois não seria possível e necessário responder a todos. É um processo de extrema importância em determinadas áreas, como na educação, já que se exige, por exemplo, a um aluno que preste atenção às matérias lecionadas pelo professor, ignorando outros estímulos visuais, sonoros ou outros, como o que se está a passar fora da sala de aula (estando, neste caso, relacionado também com o problema da disciplina). Além da atenção concentrada, em que se seleciona e processa apenas um estímulo, também pode existir atenção dividida, em que são selecionados e processados diversos estímulos simultaneamente - como quando se conduz um automóvel e se ouvem as notícias do rádio simultaneamente. Para que a atenção atue são necessários três fatores básicos: Fator fisiológico, onde depende de condições neurológicas e também da situação contextual em que o indivíduo se encontra; Fator motivacional: depende da forma como o estímulo se apresenta e provoca interesse; Concentração: depende do grau de solicitação e atuação do estímulo, levando a uma melhor focalização da fonte de estímulo. Quanto a fonte de estímulo podemos ter estímulo visual, auditivo e sinestésico. Existem, através da filosofia oriental, técnicas que visam estabelecer a saturação do pensamento, promovendo um maior grau de concentração, ou seja, maior estabilidade nos pensamentos do praticante. Segundo o livro Yôga-Sútra, de Patñjali - Dháraná (concentração) consiste em centrar a consciência em uma área delimitada. Segundo o livro Faça-Yôga, do Mestre DeRose, o estado de intuição linear é o estágio seguinte que se adquire após o trabalho de saturação dos pensamentos. Anormalidades Hipoprosexia: diminuição global da atenção; Aprosexia: total abolição da capacidade de atenção, independente dos estímulos; Hiperprosexia: atenção exagerada com certa tendência; Distração: sinal de superconcentração ativa da atenção sobre determinados conteúdos e objetos; Distraibilidade: estado patológico que se exprime por instabilidade marcante e dificuldade ou incapacidade para se fixar ou se manter em qualquer coisa que implique esforço produtivo; Incapacidade de concentração. FUNÇÕES PSÍQUICAS: "CONSCIÊNCIA, ATENÇÃO E ORIENTAÇÃO" Introdução O exame psiquiátrico é uma avaliação médica que visa ao estabelecimento de um diagnóstico psiquiátrico, à criação e ao desenvolvimento de uma aliança de trabalho, um planejamento terapêutico e um prognóstico do paciente. O exame psiquiátrico deve fazer um corte longitudinal da vida do paciente, obtendo-se nele dados referentes à sua bibliografia e à história de sua doença atual. Em seguida, obtêm-se os dados de um corte transversal, referentes ao estado do paciente no momento do exame. O exame psicopatológico, correspondente a um corte transversal na vida do paciente, compreende as funções psíquicas que devem ser observadas e/ou deduzidas para a realização de um diagnóstico. O presente trabalho tem como objetivo abordar as funções psíquicas, dentre elas especialmente a consciência, atenção e orientação. Introdução Em Psicopatologia Psicopatologia é a ciência que estuda as anormalidades psíquicas do ser humano. Para este fim podemos utilizar diferentes meios. O método utilizado pela psiquiatria como ferramenta para diagnóstico sindrômico e nosológico é a fenomenologia: psicopatologia fenomenológica, que baseia-se na descrição dos

fenômenos psíquicos, conforme sejam observados ou relatados. O importante na fenomenologia é descrever o que é vivido diretamente pelo indivíduo. Existem dois meios de adoecer, segundo a psicopatologia fenomenológica: o desenvolvimento - o adoecer é compreendido pela constituição, personalidade e história do paciente; e o processo - algo diferente e novo na constituição e história do paciente. Normalmente, examina-se de forma isolada cada função psíquica do paciente para depois formular o todo psíquico. A psicopatologia é, pois, uma abstração analítica da realidade e da totalidade do psiquismo humano, decompondo-o em conceitos operativos para formular, mais tarde, os quadros nosológicos. A psicopatologia importa-se fundamentalmente com a forma de cada função psíquica, os conteúdos têm uma importância secundária. Exemplificando, podemos dizer que a forma de um livro é aquilo que faz com que reconheçamos que se trata de um livro, isto é, a essência deste objeto; e o conteúdo é aquilo que define tal livro, ou seja, sua mensagem. Através da caracterização das funções psíquicas, distinguimos os principais quadros clínicos das diversas síndromes mentais, valendo-nos desses parâmetros para a adoção da conduta terapêutica mais adequada. Resumiremos a seguir três das principais funções psíquicas e suas anormalidades mais freqüentes nas diversas síndromes psiquiátricas. Consciência É a capacidade neurológica de captar o ambiente e de se orientar de forma adequada, é estar lúcido. A consciência pode ser considerada do ponto de vista psiquiátrico, como um processo de coordenação e de síntese da atividade psíquica. "É uma atividade integradora dos fenômenos psíquicos, é o todo momentâneo que possibilita que se tome conhecimento da realidade naquele instante." (Rosenfeld, 1929). É uma das funções psíquicas com a qual estabelecemos contato com a realidade, através do qual tomamos conhecimento direto e imediato dos fenômenos que nos cercam. Podemos ter alterações "fisiológicas" da consciência, dentre elas, sono, sonho, hipnose e cansaço. As anormalidades da consciência podem ser classificadas como quantitativas ou qualitativas. Nas alterações quantitativas, há variação do nível de consciência, ou seja, da claridade com que os fenômenos psíquicos são vivenciados, o indivíduo apresenta fala, pensamento e emoções que dificilmente podemos entender, confunde percepções, não consegue fixar sua atenção e geralmente está desorientado. As alterações qualitativas referem-se a variação de amplitude do campo de consciência. Uma alteração qualitativa, é o estado crepuscular, onde há um estreitamento do campo da consciência, o paciente parece ter perdido o elo com o mundo exterior, quase não fala e age como se estivesse psiquicamente ausente. O estado crepuscular pode estar presente em algumas doenças como a epilepsia e a histeria. Se desenhássemos uma escala para as alterações quantitativas, ou seja, para a diminuição do nível de consciência, esta seria da seguinte forma: inicialmente teríamos o paciente em lucidez, daí passando para sonolência, da sonolência este poderia ficar em topor ou obnubilação, a diferença é que na obnubilação teríamos um conteúdo anormal na consciência, de qualquer um destes dois estágios o paciente passaria para o coma. Resumidamente, poderíamos considerar somente: Estreitamento: é a redução quantitativa e qualitativa da consciência, havendo um conteúdo menor e uma seleção sistemática dos temas, como ocorre nas manifestações histéricas (nas dissociações) e nos estados crepusculares (na epilepsia). Entorpecimento: diminuição ou perda da lucidez e da vigília, portanto a atenção dificilmente se forma ou se mantém. Ocorre em situações de febre, acidente vascular encefálico, traumatismo crânio encefálico, etc. Obnubilação: é a diminuição da lucidez (como no entorpecimento) associado à presença de um conteúdo anormal na consciência. Geralmente acompanhado de distúrbios sensoperceptivos e do pensamento, como ocorre por exemplo no delirium. No Exame Psíquico é importante: Observar modificações no nível de consciência, registrar possíveis flutuações no nível de consciência e observar se há estreitamento da amplitude do campo de consciência. Isso pode ser observado pela capacidade de responder ao ambiente, em especial a participação no exame. Duas outras funções auxiliam na avaliação da consciência, pois já estão alteradas em diminuições bem discretas do nível de consciência, quando o indivíduo nem aparenta estar sonolento ainda, que são: a atenção e a orientação.

Orientação autopsíquica: relativa ao próprio indivíduo, ou seja, à capacidade de fornecer dados de sua identificação, saber quem é, seu nome, idade, nacionalidade, profissão, estado civil, etc. Orientação alopsíquica: relacionada ao tempo e espaço, ou seja, à capacidade de estabelecer informações corretas acerca do lugar onde se encontra, tempo em que vive, dia da semana, do mês, etc. As desordens destes dois estados são chamadas de desorientação autopsíquica e alopsíquica, respectivamente. Essas alterações dependem estritamente do tipo de perturbações das funções psíquicas a que se acham subordinadas a orientação no tempo, no espaço e sobre si próprio. Em geral, a desorientação ocorre de modo gradual, inicialmente em relação ao tempo, depois ao espaço e a ultima a ser alterada é a autopsíquica. Os tipos de desorientação distinguem-se ainda em três outras formas: Desorientação apática: decorrente de alterações da vida instinto-afetiva. Paciente está lúcido e percebe com clareza e nitidez o que se passa no mundo exterior, porém há falta de interesse, inibição psíquica ou insuficiente energia psíquica para a elaboração das percepções e raciocínio. O enfermo percebe o ambiente porém não forma um juízo sobre a sua própria situação. Ocorre com frequência em esquizofrênicos crônicos e em quadros depressivos. Desorientação amnésica: relativa ao bloqueio dos processos mnêmicos. Incapacidade do doente em fixar acontecimentos (memória) e consequentemente, incapacidade de orientar-se no tempo, espaço em relações com outras pessoas. Pode ocorrer em pacientes com quadros demenciais. Desorientação delirante: produzida por perturbações do juízo de realidade, devido à presença de falsos conteúdos (ou conteúdos anormais) no campo da consciência. Pode ocorrer em pacientes que estão psicóticos: na esquizofrenia, na mania e depressão psicótica. Os esquizofrênicos com desorientação delirante geralmente apresentam, também, dupla orientação. Dupla orientação: permanência simultânea da orientação verdadeira ao lado de uma falsa, ou seja, o mundo real sincrônico ao mundo psicótico, como ocorre em esquizofrênicos. Por exemplo, um paciente orientado em tempo e lugar que acredita estar no inferno ou em uma prisão. Desorientação com turvação da consciência: aqui a pessoa encontra-se desorientada pois está com comprometimento do nível de consciência. Ocorre no delirium, seja no causado devido ao álcool (tremens) ou por doenças físicas e/ou medicamentos. Desorientação oligofrênica: A pessoa está com alteração do nível de orientação pois este não possui inteligência para correlacionar ambientes, pessoas, dias, etc. Pode ocorrer no retardo mental. No Exame Psíquico é importante: Observar desorientação no tempo, pelo correto conhecimento do dia, mês, época do ano, dia da semana e ano. Observar se o paciente tem noção do tempo decorrido no hospital ou entre eventos recentes. Quanto ao espaço, perguntar sobre o lugar (nome do hospital, andar, cidade, endereço). Quanto à pessoa, perguntar sobre dados pessoais (nome, idade, data de nascimento), bem como sobre familiares. A PSICOPATOLOGIA COMO CIÊNCIA AUTÔNOMA Isaías Paim A psicopatologia percorreu um caminho extremamente difícil até se tornar uma ciência autônoma. Não é fácil descobrir a origem do termo. É possível que o seu criador tenha sido Jeremy Bentham, jurisconsulto e filósofo inglês (Londres, 1748-1832), que, ao preparar uma lista das motivações humanas, reconheceu a necessidade da organização de uma psychological pathology (1817). Com o correr do tempo os autores empregaram várias expressões para designar esse novo campo de estudos. Aludiram a psicopatologia , psicopatologia geral , psicologia anormal , psicologia da anormalidade e psicologia do patológico. A última expressão é a mais adequada para qualificar o objeto de estudo da nova ciência, mas o termo mais empregado e amplamente aceito é psicopatologia. O termo psicopatologia é de origem grega – psiché, alma e patologia. Traduzido em sentido literal significa patologia do espírito. Mas este não é o sentido que a expressão adquiriu ao longo de mais de um século de seu desenvolvimento. O Webter’s New International Dictionary define o termo como “o estudo científico das alterações mentais do ponto de vista psicológico”. H. B. English define-o como “a investigação sistemática de estados mentais mórbidos” e L. E. Hinsie como “o ramo da ciência que trata da morbidade e patologia da psíque ou mente”. Honório Delgado conceitua a psicopatologia como “... o conjunto ordenado de conhecimentos relativos às anormalidades (anomalias e desordens) da vida mental, em todos os seus aspectos, inclusive suas causas e conseqüências, assim como os métodos empregados com o correspondente propósito”. Admite que, como ciência, a Psicopatologia não tem outro propósito senão “o saber desinteressado sobre todas as manifestações e modos de ser a atividade anímica”. O seu fim último não é a assistência ao indivíduo

anormal ou enfermo, mas “o conhecimento de sua experiência e sua conduta, como fatos e relações suscetíveis de serem formulados em conceitos e princípios gerais”. O objetivo da psicopatologia não deve ser confundido com o da psiquiatria. O seu campo é mais restrito e se limita ao estudo dos fenômenos anormais da vida mental e tem como método a fenomenologia. A Karl Jaspers cabe o mérito de ter tornado a Psicopatologia uma ciência autônoma inteiramente independente da Psiquiatria. Em épocas anteriores, alguns autores, com Chaslin, fizeram tentativas de escrever “semiologias” das enfermidades mentais, mas não uma psicopatologia. Este é um dos grandes méritos de Jaspers: ter contribuído para tornar a Psicopatologia uma ciência autônoma. Antes mesmo da publicação de sua monumental Psicopatologia Geral , Jaspers já defendia a necessidade de aplicação da fenomenologia no sentido de atualização, delimitação e ordenação panorâmica dos fenômenos psicopatológicos subjetivos, isto é, não objetivados. Considerava necessário, como primeiro passo a captação científica, “destacar, delimitar, diferenciar e descrever determinados fenômenos mentais, não claramente atualizados e denominados regularmente mediante determinadas expressões”. Karl Jaspers (1883-1969) nasceu em Oldenburg, nas proximidades de Bremen. Concluiu os estudos básicos em sua cidade natal e recebeu o grau de bacharel em letras, em 1901. Os cursos universitários foram realizados em Heidelberg, Munich, Berlim e Göttinga. Em primeiro lugar escolheu a carreira de direito, com o objetivo de exercer a profissão de advogado. Ao mesmo tempo seguiu cursos de filosofia. Não chegou a concluir o curso de direito, porque “ignorava por completo a vida o qual servia, de sorte que vi nele um complicado jogo intelectual com ficções que não tinham nenhum interesse para mim”. Resolveu, então, estudar medicina, concluindo o curso em 1909, aos 26 anos, e defendeu a tese de doutorado: Heimweh und Verbrechen (Nostal e Crime). De 1908 a 1915, trabalhou na Clínica Psiquiátrica de Heidelberg. Conta Jarpers que, durante as reuniões clínicas, ele costumava falar a respeito de “fenomenologia”, considerando necessário a aplicação desta filosofia para a orientação da psicopatologia. Ele sempre encontrou, no meio médico, grande resistência à sua inclinação filosófica. Na época em que Karl Jaspers freqüentou o “Instituto de Heidelberg”, trabalhavam na Clínica Psiquiátrica Wilmanns, Grühle, Wetzel, Homburger, Mayer-Gross e muitos outros famosos justamente por terem adotado a filosofia preconizada por Jaspers. Em 1911, Jaspers foi aconselhado por Wilmanns a escrever uma psicopatologia sob a orientação do método fenomenológico, método que vinha aplicando em seus trabalhos de pesquisas clínicas. Finalmente, em 1913, Karl Jaspers publicou a sua Allgemein Psychopatologie , obra mestra que viria corporificar uma nova ciência – a Psicopatologia – como a exercer uma influência considerável nos destinos da Psiquiatria. As suas concepções teóricas partem do enunciado de que o homem é uma totalidade, compreendida esta como unidade psicofísica. Colocando-se nesta posição, procurou superar o dualismo cartesiano corpo- alma, tão caro à psicologia racional e, ao mesmo tempo, assinalar o equilíbrio e a mútua integração das funções. Deste ponto de vista, torna-se absurda a cisão do ser humano em consciência e corpo, visto que, cada uma destas expressões perde sentido quando encaradas de forma isolada. Uma consciência “desprendida de” não tem sentido, do mesmo modo como o corpo não pode ser compreendido como a soma de relações mecânicas e topográficas, mantendo com a parte consciente relações puramente casuais. Desse modo, a distinção entre os dados fenomenológicos e orgânicos não conduz, como na psicologia racional, à separação entre o corpo e a parte mental, ao contrário, representa uma fusão de relações de compreensão. A compreensão do ser humano como unidade estrutural em si mesma e em relação com o mundo, permite a penetração no psiquismo alheio fundada na visão pluridimensional do enfermo. Assim, ao transcender os limites da consciência, a psicopatologia de Jaspers encarou a enfermidade como uma forma de comportamento que pode ter início tanto no orgânico como no psíquico. O comportamento do enfermo, que é a revelação de um comportamento-em-a-enfermidade, deve ser estudado em suas múltiplas e infinitas relações com o mundo, porque a vida é, segundo Jaspers, “existência em seu mundo”: viver é viver em seu mundo. Por isso, a visão unilateral dos organicistas, ao centralizar a atenção na parte corporal, deixa de perceber as influências que, sobre o psíquico, exerce o ambiente, ao qual o homem se adapta em virtude de sua ação sobre o mesmo”. Segundo Karl Jaspers, a psicopatologia tem por objetivo o estudo descritivo dos fenômenos psíquicos anormais, exatamente como se apresentam à experiência imediata. Difere, porém, daquele tipo de “descrição coerente e completa, em termos os mais simples possível”, adotada pelas ciências naturais, porque a psicopatologia concentra a sua atenção naquilo que constitui a experiência vivida pelos enfermos. Em sua opinião, quando se estuda a Psicopatologia, deve-se levar em conta que “o fundamento real da investigação é constituído pela vida psíquica, representada e compreendida através das expressões verbais e do comportamento perceptível. Queremos sentir, apreender e refletir sobre o que realmente acontece na

A aplicação do método fenomenológico e da psicologia compreensiva contribui para o conhecimento de três espécies de fenômenos: a) aqueles que conhecemos por nossas próprias experiências; b) fenômenos que são acentuações, diminuições ou contaminações de experiências pessoais; c) fenômenos que se caracterizam pelo fato de não poderem ser representados por analogia. A esse grupo pertencem as experiências que se denominam “primárias”, pelo fato de serem incompreensíveis. Jaspers emprestava um valor extraordinário à observação e ao registro de casos clínicos. Desde os primeiros trabalhos que o orientaram em caráter transitório para a psicopatologia, Jaspers advertiu: “Não se pode entender a psicopatologia sem a descrição de casos isolados. Eles são as pedras angulares, sem as quais iriam por terra nossas formulações conceptuais”. Na oportunidade, criticou alguns trabalhos dos seus contemporâneos, os quais precediam de observações clínicas. Outros procuravam basear-se em histórias clínicas que se encontravam publicadas na literatura médica, porém, diz Jaspers, onde elas não são “suficientemente ricas ou o autor correspondente não seja suficientemente claro, eles deveriam limitar-se a apresentar casos próprios, mesmo com o perigo de mostrar coisas conhecidas ”. O conhecido é o que se encontra na literatura. “Tudo mais é desconhecido, mesmo que se encontre muito difundido através de conversações pessoais”. Desaconselhava tomar como base as descrições gerais dos tratados pelo fato de terem um significado efêmero, “na medida em que nas descrições de quadros nosológicos se encontra elaborada uma descrição geral dos estudos de casos isolados, os quais, em uma investigação posterior, devem aparecer com freqüência essencialmente diferentes”. Criticou, também, a maneira superficial como eram feitas as observações clínicas, por insuficiência de conhecimentos ou por desinteresse pela especialidade. “O psiquiatra, na maioria das vezes, faz uma observação muito breve de seus pacientes”. Posteriormente, a fenomenologia aplicada à Psicopatologia seguiu rumos diferentes aos preconizados por Jaspers. Ao invés de centralizar a atenção no fenômeno psíquico elementar, a vivência , como recomendava Jaspers, o psicopatologista toma, em primeiro lugar, como objeto de estudo, grandes conexões psíquicas, inclusive a totalidade da história vital interna. Nessas conexões psíquicas se inclui o vivido pelo enfermo, mesmo quando não tenha sido experimentado como um saber preciso. Em segundo lugar, o seu objetivo consiste na apreensão de significações essenciais e de estruturas básicas, o que difere da descrição estática exigida por Jaspers. E, por último, impõe uma completa transformação no método fenomenológico, que passa a ter como ponto culminante o ato fenomenológico , em que o psicopatologista exercita as suas possibilidades de intuição e reflexão – para extrair significações essenciais e estruturas básicas daquilo que foi vivenciado pelo enfermo, do seu mundo interior. A Psicopatologia como ciência autônoma presta uma colaboração inestimável a um número apreciável de ciências regionais: 1º) à Psiquiatria , emprestando a sua colaboração no conhecimento dos fenômenos psíquicos anormais, conhecimento indispensável ao exame psíquico dos enfermos; 2º) à Psicopatologia Forense , prestando esclarecimentos e orientações na descrição dos sintomas subjetivos apresentados pelos enfermos mentais isentos de responsabilidade penal; 3º) à Psicologia do normal , indicando as diferenças essenciais entre os fenômenos psíquicos normais e patológicos; 4º) à Psiquiatria cranscultural , mostrando as semelhanças e as diferenças nas manifestações da doença mental em culturas distintas e, sobretudo, indicando as manifestações patológicas de coletividades anormais; 5º) à Antropologia cultural , indicando o que há de patológico nas crenças, regras de conduta e comportamento de determinado grupo social; 6º) à Sociologia , oferecendo uma explicação científica para os desvios anormais de padrões de comportamento coletivo. Assim, o campo da Psicopatologia vai se ampliando em função de suas relações com outros ramos do conhecimento humano, enquanto o âmbito da Psiquiatria vai se estreitando cada vez mais, sendo atualmente compreendida como um ramo da medicina que tem como objetivo o estudo, o tratamento dos enfermos da mente e a assistência e profilaxia das doenças mentais. A compreensão correta dos objetivos e dos limites da Psicopatologia contribui para o desaparecimento nos Tratados de Psiquiatria da parte geral e para impossibilitar o aparecimento de “semiologias” e “propedêuticas” das enfermidades mentais. O que é correto e o que está definitivamente assentado é a existência de duas independentes, mas que se completam: a Psicopatologia e a Psiquiatria. PSICOPATOLOGIA GERAL

Conceitos Básicos Ciência é: “ Um conjunto de conhecimentos certos e prováveis, fundamentados metodologicamente e dispostos sistematicamente segundo os grupos naturais de objetos ”. Psicopatologia – Teorias

  • Teorias Biofísicas: Bleuler, Sheldon, Kalinowski, Hoch
  • Teorias Intrapsíquicas: Freud, Erikson, Horney, Wolburg, Jung
  • Teorias Fenomenológicas: Rogers, May, Laing, Binswanger, Boss
  • Teorias Comportamentais: Skinner, Eysenck, Wolpe Psicopatologia, Psicopatologia Geral, Psicologia Anormal, Psicologia Da Anormalidade, Psicologia Do Patológicos. Jeremy Bentham 1817 – psychological pathology, jurisconsulto e filósofo inglês, ao preparar uma lista das “Motivações Humanas”. Ribot 1881- psicologia patológica. 1ª cátedra desta disciplina - Dumas, 1905. PSICOPATOLOGIA (Carol Sonenreich) Os estudos de caráter geral, as teorias, sobre o psiquismo alterado. OMS (1946) saúde seria o “ estado completo de bem estar, físico, mental e social”. Quem atinge este estado e quem o define? Claro: cada um a sua maneira. Saúde corresponderia a um certo funcionamento considerado “ideal” em oposição fala-se em doença. A psicopatologia geral estuda os fenômenos anormais ou mórbidos em sua essência, valorizando- os, interpretando-os, compreendendo-os ou explicando-os sempre através de conceitos gerais que orientam a ordenação e classificação de tais fenômenos. O objeto do estudo psicopatológico são os fenômenos psíquicos conscientes, suas condições, causas e conseqüências. Tem como objeto, o homem enquanto psiquicamente enfermo. "Negar a doença mental é?" a) Negar a possibilidade de desestruturação do ser psíquico b) Divinizar o homem, pois se o fato psicopatológico não é doença, o que é então? c) Negar a um único sistema do homem (psíquico) a capacidade de adoecer, dividindo assim o homem em duas partes, uma possível de ter doenças (o corpo) e a outra não (mente). Hipócrates 460 - 355 a. C “ Os homens precisam saber que de nada mais além do cérebro vêm alegrias, prazeres, divertimentos e esportes; e tristezas, desapontamentos, desesperanças e lamentações. E por isso de uma maneira especial, nós adquirimos visão e conhecimento, e nós vemos e ouvimos. E pelo mesmo órgão nos tornamos loucos e delirantes, e medos e temores nos assaltam, alguns de noite e outros de dia... Todas essas coisas nós suportamos do cérebro, quando ele não é sadio ”. CONCEITO DA ESTRUTURA DE PERSONALIDADE Prof. Anibal Silveira “ O conjunto de funções subjetivas agrupadas fundamentalmente em setores : afetividade, conação, inteligência. Estas funções psíquicas resultam do funcionamento cerebral são peculiares à espécie humana e continuadamente regem em harmonia as disposições do indivíduo e as relações com os ambientes físico e social ” Estrutura E Dinâmica Da Personalidade

AUDIFFRENT, G. - Du cerveau et do l’innervation — Dunod: Paris; 1869. Estimulo e Regência na Dinâmica do Encéfalo

Psicologia – Métodos De Estudo – Campos

Resumo Das Funções Subjetivas, Baseado No Quadro De Augusto Conte (1850)

  • Ordem de dependência crescente a partir da linha inferior ESCALA DE TEMPERAMENTO (SHELDON)

Toda atividade mental que não se percebe, mas que pode ser trazida à consciência através de esforço. Entende-se por material pré-consciente aquele do qual se diz “está na ponta da língua”. Consciente Toda atividade que se percebem ou que pode ser percebidas com pouco esforço ou nenhum. ** atividade mental pensamentos, sensações, emoções. ESTRUTURAS DA MENTE ID É a estrutura da mente que contém as forças instintivas. Estas as forças permanecem até certo ponto inconsciente, mas exercem uma contínua pressão sobre o resto do aparelho mental. Outras estruturas da mente podem ficar em oposição às forças do id, causando conflitos. O id se torna o local de um grande número de impulsos específicos que são vivenciados nos primeiros anos de vida, em adição aos componentes que estão presentes desde o nascimento, esses são chamados derivados instintivos.  Constitui a porção e está ligada à constituição;  Buscam o prazer e evitam a dor;  Se nações são definidas pela própria natureza do organismo;  Deseja gratificação imediata. EGO É formado principalmente em conseqüência de interações com o ambiente. Ele tem a função reguladora, controlando o que a pessoa diz e faz e é a mais personalizada do aparelho mental. O ego é a estrutura mental que permanece mais próxima da realidade. Uma vez tendo-se diferenciado a partir do id, o ego freqüentemente entra em conflito com este (conflito interno – conflito dentro da mente). O ego controla o aparelho muscular e o sensorial. Pode dirigir a atenção e pode reprimir certas percepções. O ego está mais próximo da realidade externa e o id, da biologia fundamental do organismo, portanto, se as exigências do id forem bloqueadas, o resultado tende a ser ansiedade e mal-estar. Diferencia-se do ID (redirei os impulsos) de modo que sejam satisfeitos dentro do princípio da realidade. Deve suportar um sofrimento para depois alcançar o prazer. Funções: 1- Autopreservação. 2- Controlar as demandas dos impulsos, decidindo se estes deverão ser: Satisfeitos - imediata Mais tarde Ou nunca 3- Perceber, lembrar, pensar, planejar e decidir. Baseando-se no fato de que todo impulso instintivo permanece ativo e molda a dinâmica intrapessoal até se descarregar por via motora, com a consequente vivência de “satisfação”, atribui Freud as alterações mentais às dificuldades que a vida social oporia À livre descarga de tais impulsos. De certo modo se poderia dizer: que o indivíduo adoece da mente para não se fazer ‘pecador’ ou ‘delinquente’, umas vezes ou por ‘havê-lo sido’, outras. As duas fontes primordiais de angustia: 1- A angústia da libido insatisfeita (procedente do id). 2- do sentimento de culpa ou remorso inconsciente (procedente do superego). SUPEREGO

Ela é uma estrutura desenvolvida, é um desenvolvimento ou diferenciação ulterior de um aparte do ego. Desenvolveu-se sob a influência do ambiente (figuras de autoridade). Com o desenvolvimento do superego surgem os sentimentos de culpa, vergonha e repugnância. As forças do superego estão em oposição às do id. A maioria dos conflitos id-ego tem lugar abaixo do limiar da consciência. Relação entre o atributo do grau de consciência e as três estruturas mentais: Adaptação do esquema de BILLINGS: Fatores que interferem no desenvolvimento da personalidade humana e nas normais ou patológicas. Conceito de Normalidade Normal é um conceito abstrato que se subentende o comportamento em várias circunstâncias, em várias épocas da vida do indivíduo, e várias fases da esma época e que corresponde de certa maneira à realidade exterior. Disso advém que de certa forma é a realidade exterior quem delimita e define o normal, ou seja, ver de que maneira, de que modo, se utiliza os estímulos da realidade e elabora os conceitos. O normal, por conseguinte, não é um conceito estatístico como também não o é, digamos, ecológico, no sentido de se aplicar a uma área da população e não a outra. Personalidade

No início do século XX, a busca pelas raízes da genialidade era um dos temas mais palpitantes da investigação psicológica. Cientistas de ponta tinham poucas dúvidas de que certos males psíquicos davam asas à imaginação. "Quando um intelecto superior se une a um temperamento psicopático, criam-se as melhores condições para o surgimento daquele tipo de genialidade efetiva que entra para os livros de história", sentenciava o filósofo e psicólogo americano William James (1842-1910). Pessoas assim perseguiriam obsessivamente suas idéias e seus pensamentos - para seu próprio bem ou mal -, e isso as distinguiria de todas as outras. Sigmund Freud também se interessou pelo assunto. Convicto de que encontraria "algumas verdades psicológicas universais", analisou vida e obra de artistas e escritores famosos, buscando pistas de transtornos mentais. Mas foi somente a partir dos anos 70 que Nancy Andreasen, psiquiatra da Universidade de Iowa, começou a investigar de forma sistemática a suposta ligação entre genialidade e loucura. Participaram de sua experiência 30 escritores cujo talento criativo havia sido posto à prova na renomada oficina de autores da universidade. Andreasen examinou essas personalidades à procura de distúrbios psíquicos e comparou os dados obtidos aos daqueles grupos de um grupo de controle: 80% dos escritores relataram perturbações regulares do humor, ante 30% no grupo de controle. Quarenta e três por cento dos artistas satisfaziam os critérios para o diagnóstico de uma ou outra forma de patologia maníaco-depressiva, o que, no grupo de controle, só se verificou em uma a cada dez pessoas. Durante o estudo, dois escritores cometeram suicídio - dado que, segundo Andreasen, não seria estatisticamente significativo. A psiquiatra comprovou pela primeira vez e com métodos científicos que, por trás da suposta conexão entre criatividade elevada e psique enferma, haveria algo mais que o mero e surrado lugar-comum. Em 1983, Kay Redfield Jamison conduziu um estudo em que obteve resultados claros e semelhantes. Psicóloga da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, ela contatou 47 pintores e poetas britânicos renomados. Seguindo os critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), examinou a presença de transtornos de humor caracterizados por fases depressivas. Segundo o Manual, esses transtornos são marcados por estados depressivos que duram de duas a quatro semanas e prejudicam sensivelmente o cotidiano dos pacientes, que não conseguem animar-se para nada, sofrem perturbações da concentração e do sono e têm pensamentos negativos beirando o desespero total. A presença desses sintomas aponta para o chamado transtorno depressivo maior. Mas, além desse, há também os transtornos bipolares, nos quais fases depressivas são alternadas com picos de euforia - os episódios maníacos. Nesse caso, os pacientes quase não dormem, estão sempre ocupados com alguma coisa, seus pensamentos saltam de um tema a outro e eles atribuem a suas idéias e, em geral, também a si próprios - grandeza absoluta. Tais males psíquicos, caracterizados como depressões maníacas, estão entre os transtornos de humor pelos quais Jamison procurava em seu estudo. Ela constatou que quase 40% dos artistas examinados haviam requerido ajuda médica alguma vez na vida - taxa 30 vezes mais alta que a verificada entre a média da população. A corporação dos escritores revelou ser a que sofria dos problemas psíquicos mais severos. Um a cada dois poetas já havia recorrido a tratamento psiquiátrico em virtude de depressão ou episódios maníacos. Na década de 80, Hagop Aksikal entrevistou outros 20 artistas europeus, tendo por base os critérios do DSM. Dois terços deles sofriam de episódios depressivos recorrentes, muitas vezes combinados com os chamados estados hipomaníacos - forma menos pronunciada da mania. Como constatou esse psicólogo da Universidade da Califórnia, em San Diego, metade dos artistas tinha enfrentado depressão em algum momento da vida. Tendência semelhante, aliás, Aksikal já havia observado entre músicos de blues nos Estados Unidos. Com base nessas pesquisas, Jamison concluiu que o grande número de artistas com diagnóstico de depressão ou de transtornos bipolares já não podia ser atribuído ao acaso. A pesquisadora admitia deficiências metodológicas também em seu próprio estudo - por exemplo, o número demasiadamente reduzido da amostra, mas a conexão entre instabilidade psíquica e potencial criativo era evidente. Ruth L. Richards e colegas da Harvard Medical School, em Boston, tentaram abordar a questão de outro ponto de vista. Em vez de saírem em busca de males psíquicos em artistas reconhecidos, inverteram a pergunta: portadores de enfermidades psíquicas seriam particularmente criativos? Eles examinaram a criatividade de 17 pacientes com depressão maníaca manifesta e de 16 ciclotímicos - a forma mais amena do transtorno bipolar, com base na chamada Lifetime Creativity Scale. Nessa escala de criatividade influenciam não apenas os testes relacionados ao pensamento inovador e original, mas também o desempenho criativo nas esferas pessoal e profissional. Os pacientes saíram-se melhor que o grupo de pessoas utilizado para comparação, composto de indivíduos sem qualquer histórico psiquiátrico.

O tipo de transtorno desempenhou aí papel bastante decisivo. Os participantes ciclotímicos revelaram-se muito mais criativos. Além disso, ficaram atrás de seus familiares sem distúrbios psíquicos evidentes, também avaliados. A hipótese aventada pelos pesquisadores foi, portanto, a de que os parentes dos pacientes talvez tendessem à instabilidade psíquica, cuja manifestação neles se daria de forma tão amena que não lhes causaria problemas. "É possível que pessoas com tendência reduzida, talvez até imperceptível, à instabilidade bipolar sejam mais criativas", concluíram os pesquisadores. Nesse meio tempo, o pensamento aguçado, de criatividade incomum, e a produtividade elevada passaram até mesmo a serem considerados indícios no diagnóstico de fases maníacas. Mas como uma enfermidade tão perturbadora e destrutiva pode incrementar nosso poder criativo? Afinal, normalmente reina o caos entre os maníaco-depressivos, tanto no aspecto profissional quanto no pessoal. Em meio a episódios maníacos, endividam-se, mergulham em relacionamentos duvidosos e aventuras sexuais sem medir as conseqüências. Agressões e até mesmo alucinações integram o quadro. Então, a esse apogeu temporário segue-se sempre o mergulho em depressão profunda. O psicólogo americano Joy Paul Guilford (1897-1987) definiu criatividade como a capacidade de, diante de um problema, "encontrar respostas incomuns, de associação longínqua". Para chegar a uma idéia original, abandonam caminhos já trilhados e pensam de modo diferente. O intelecto, então, não se aferra à busca de uma única solução correta, mas move-se em diversas direções. Quanto mais fluentes e livres jorrarem os pensamentos, melhor. São precisamente esses talentos que os portadores de transtornos bipolares exibem em abundância na fase maníaca. Seu cérebro trabalha à toda, despejando idéias nada convencionais. Essa imensa produção está longe de resultar apenas em coisas sensatas, mas pouco importa: a massa de idéias que brota da mente maníaca eleva a probabilidade de que haja entre elas alguns lampejos mentais "genuínos". O psicólogo Eugen Bleuler, contemporâneo de Freud, via aí o elo procurado entre genialidade e doença mental. "Mesmo que apenas os casos amenos produzam algo de valor, o fato de neles as idéias fluírem com mais rapidez e, sobretudo, de as inibições desaparecerem estimula as capacidades artísticas." Também para Jamison, o segredo está no pensamento rápido e flexível, bem como no dom de unir coisas que, à primeira vista, não possuem qualquer conexão entre si. O que Bleuler, no passado, só podia supor hoje é confirmado por estudos científicos. Assim, pacientes de hipomania mostram superioridade em testes de associação de palavras: num espaço de tempo delimitado e com uma palavra dada, são capazes de associar quantidade bem maior de conceitos que pessoas em perfeitas condições psíquicas. Dão menos respostas estatisticamente "normais" que as do grupo de controle, mas encontram soluções heterodoxas em número três vezes maior. Hipomaníacos chamam a atenção também por seu modo de falar. Tendem a fazer uso de rimas e empregam com freqüência associações sonoras, tais como as aliterações. Além disso, seu vocabulário compreende em média três vezes mais neologismos que o de uma pessoa saudável. E mais: nos pacientes em fase maníaca, a rapidez do processo de pensamento traduz-se numa elevação do quociente de inteligência. Maníaco-depressivos exibem também certas qualidades não cognitivas muito úteis aos artistas. Robert DeLong, psicólogo da Harvard Medical School, pediu a um grupo de crianças, todas com sinais precoces de transtorno bipolar, que fizesse desenhos sobre um tema. Na comparação com o grupo de controle, não apenas seu nítido e transbordante poder de imaginação chamou atenção. DeLong ficou ainda mais impressionado com a extraordinária capacidade de concentração dessas crianças, que se dedicaram durante horas à tarefa, sem se deixar distrair por coisa alguma. Como resultado, seu brilhantismo revelou-se tanto no desempenho espantoso da memória quanto nos desenhos detalhados. Energia fabulosa e concentração total caracterizam também as fases criadoras de muitos pintores, escultores, escritores e poetas. Muitos deles varam noites escrevendo ou passam horas sem fim no ateliê, sem dormir. Limiar Da Loucura Nancy Andreasen acrescenta outra explicação: "o sistema nervoso, afinadíssimo", simplesmente perceberia mais informações sensoriais, transformando-as em idéias criativas. Embora sem comprovação definitiva, a psicóloga supõe que a causa seja "um defeito nos processos cognitivos que filtram esses estímulos". No final de 2003, Shelley Carson, da Universidade de Harvard, e Jordan Peterson, da Universidade de Toronto, descobriram que Andreasen estava certa. Eles recrutaram 25 estudantes que haviam se destacado por seu desempenho criativo extraordinário e, com auxílio de um teste, puderam determinar a chamada

Concluída a escola, o jovem Vincent van Gogh vai trabalhar na compra e venda de objetos de arte, primeiro em Haia, depois em Londres. A infelicidade no amor o lança na primeira depressão grave. Seus pensamentos voltam-se para a religião. Passa quatro anos na Bélgica trabalhando como pastor. Ali, ajuda no que pode e luta pelos direitos das pessoas. Contudo, isso desagrada a Igreja, da qual é expulso, fazendo-o mergulhar em nova crise. "Minha única angústia é descobrir como posso ser útil ao mundo", escreve ao irmão Theo, seu mais íntimo confidente. Somente aos 27 anos, Vincent decide ser pintor. Lança-se ao trabalho com enorme intensidade. Em 1886, vai viver com Theo em Paris, onde sua saúde piora. Começa a sofrer de cãibras na mão esquerda. Passados os acessos, fica perturbado e a memória falha por breves períodos - primeiro indício da epilepsia diagnosticada mais tarde. O gosto do pintor pelo absinto contribui para o agravamento de seu estado. Sabe-se hoje que a bebida contém uma substância que favorece ataques epilépticos e psicoses. Seu temperamento explosivo e as oscilações de humor o tornam persona non grata para vários de seus conhecidos. "É como se fossem duas pessoas: uma delas, de grande talento, culta e sensível; a outra, egoísta e fria de sentimentos", descreve Theo. No início de 1888, Vincent vai para o Sul da França, "cansado e desesperado", como ele próprio diz. Ali, sintomas de um grave transtorno psíquico manifestam-se com crescente nitidez. Períodos de atividade febril alternam-se com apatia e esgotamento total - sinais típicos de depressão maníaca. Sentindo-se só, pede ao amigo Paul Gauguin que se junte a ele. Juntos, os dois pintores fundam o "Estúdio do Sul". Mas este relacionamento deteriora, culminando numa catástrofe: em dezembro de 1888, van Gogh o ameaça com uma navalha e termina por amputar a própria orelha. No hospital, o primeiro diagnóstico: psicose grave. O médico Felix Rey também suspeita de epilepsia larvada, em que os acessos convulsivos têm forma bastante amena. Em compensação, imperam outras ocorrências psíquicas e o paciente oscila entre euforia extrema e depressão profunda, acompanhadas de angústia e insônia. Alucinações e mania de perseguição integram o quadro dos sintomas, bem como pronunciada emotividade, que, com freqüência, culmina em solicitude exagerada ou religiosidade extrema. A epilepsia de lobo temporal é tida como a explicação mais provável para o perturbado estado mental de van Gogh. Rey o trata com brometo de potássio. Passados alguns dias, o artista se recupera. Embora o médico chame sua atenção para os perigos do absinto, o pintor o ignora. Essa é uma das razões para as várias recaídas, que requerem repetidas internações. Seu estado psíquico é tão instável que, em maio de 1889, interna-se espontaneamente no sanatório de Saint Rémy. O médico da instituição confirma a epilepsia, mas suspende o tratamento com brometo de potássio. Apesar dos episódios de uma grave psicose, van Gogh produz no ano seguinte mais de 300 obras. Depois, muda-se para Auvers-sur-Oise, nas proximidades de Paris. Nos campos ao redor de Auvers, pinta algumas de suas grandiosas paisagens. Em carta a Theo, menciona que gostaria de aumentar sua paleta de cores e pede apoio ao irmão. Três dias depois, o grande artista se mata com um tiro no peito.