




























































































Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Prepare-se para as provas
Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Prepare-se para as provas com trabalhos de outros alunos como você, aqui na Docsity
Os melhores documentos à venda: Trabalhos de alunos formados
Prepare-se com as videoaulas e exercícios resolvidos criados a partir da grade da sua Universidade
Responda perguntas de provas passadas e avalie sua preparação.
Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Comunidade
Peça ajuda à comunidade e tire suas dúvidas relacionadas ao estudo
Descubra as melhores universidades em seu país de acordo com os usuários da Docsity
Guias grátis
Baixe gratuitamente nossos guias de estudo, métodos para diminuir a ansiedade, dicas de TCC preparadas pelos professores da Docsity
Uma tese que investiga o processo de consolidação de carreiras de escritores profissionais no contexto do mercado editorial brasileiro contemporâneo, com ênfase na inserção na maior casa editorial do país e na participação em feiras literárias internacionais. O estudo explora a projeção do escritor como agente profissional e aprofunda a compreensão da profissionalização no campo literário, além da importância da figura do editor e da internacionalização.
O que você vai aprender
Tipologia: Resumos
1 / 151
Esta página não é visível na pré-visualização
Não perca as partes importantes!
A Francisco e Valdeci, meus amados pais.
Fábio Figueiredo Camargo e João Carlos Biella, pela generosidade na defesa e, também, no momento de qualificação da tese. Sou imensamente grata e, jamais conseguirei agradecer, de modo satisfatório, à professora Luciene Azevedo e ao professor Antônio Marcos Pereira pelos ensinamentos. Aos meus amigos “brasileiros” que compartilhando de um mesmo momento, o doutorado sanduíche, me ajudaram sobremaneira nos momentos de dificuldade e alegrias, sendo a presença familiar que eu não tinha naquele momento. Agradeço, também, aos senhores professores que aceitaram compor a banca de defesa desta tese; pela leitura atenta e as contribuições que fazem parte desse momento tão crucial para a conclusão deste doutorado. A todos os meus colegas do curso de Doutorado pela imensa compaixão e mão estendida; Aos meus companheiros de trabalho, da Escola Municipal do Bairro Shopping Park e da Escola de Educação Básica da UFU (Eseba/UFU), pelo incentivo e apoio durante a elaboração deste trabalho. Aos meus queridos alunos, agradeço pelo convívio, pela força e pela oportunidade de conviver com cada um deles. Ao Bruno, meu amor, uma das pessoas mais generosas que conheci, sou grata por estar ao meu lado nos melhores e piores momentos.
Duas almas moram no teu peito humano, nas entranhas tuas. Evita o insano esforço da escolha: precisas das duas. Para ser um, amigo, deves ter contigo conflito incessante: um lado elevado, bonito, elegante; o outro, enfezado e sujo, aos molambos. Precisas de ambos. Bertolt Brecht, epílogo de A Santa Joana dos Matadouros
En vista de las innumerables variables y dinámicas que circunscriben la noción de escritor profesional en el contexto del mercado editorial brasileño contemporáneo, además de sus transformaciones radicales en los últimos años, principalmente debido a la posibilidad de que los productores ocupen posiciones prominentes en la escena literaria internacional, el objetivo principal de esta tesis es verificar cómo se lleva a cabo el proceso de consolidación de las carreras de escritores profesionales después de pasar por un ciclo que comienza desde su inserción en la lista de escritores de la editorial más grande de Brasil – Companhia das Letras – y va a su participación en reconocidas ferias literarias internacionales, como la Feria Internacional del Libro de Frankfurt (2013) y el Salón del Libro de París (2015). Además, también consideramos otras variables que conforman este ciclo de profesionalización del escritor y que, suponemos, corroboran el aumento del capital simbólico de sus marcas de derechos de autor en el campo literario y editorial brasileño, a saber: el logro de premios literarios nacionales e internacionales; la opción para que publiquen en antologías importantes, como el caso de la reconocida revista británica Granta ; traducciones de sus obras a otros idiomas; el volumen de comentaristas de la crítica especializada, etc. Con esto en mente, elegimos como corpus de análisis los aspectos de esta tesis de las trayectorias profesionales de tres escritores que circulan en el mercado nacional e internacional: Carola Saavedra, Michel Laub y Daniel Galera. Por lo tanto, como base teórica para esta investigación, movilizamos el concepto de campo de Pierre Bourdieu, considerándolo como un posible enfoque para comprender la regulación de las variables y dinámicas referidas del campo literario. En esta perspectiva, el sociólogo entiende la participación del escritor como un agente que alimenta y subsidia un juego de lenguaje, poder y relaciones que sostienen los intereses del mercado, ya sea material o simbólico. Además, para comprender cómo se lleva a cabo este proceso de profesionalización del escritor, también movilizamos la noción de campo expandido, según los estudios de Rosalind Krauss, Florencia Garramuño y Josefina Ludmer, y de los polisistemas, desarrollados por Itamar Even-Zohar. Palabras clave: Escritor. Profesionalización. Internacionalización. Campo literario. Literatura brasileña.
13 A presente tese tem sua origem em uma trajetória de pesquisa dedicada a investigar a literatura contemporânea enquanto objeto do campo dos Estudos Literários. Mais especificamente, a questão originária desta tese foi elaborada por ocasião da dissertação de mestrado a respeito da produção ficcional do escritor Luiz Ruffato, intitulada Fragmentos de um escritor: Ruffato em perspectiva(s). No primeiro capítulo da referida dissertação, ao apresentar aspectos da biografia do autor, a partir de suas declarações em entrevistas e reportagens veiculadas na mídia, percebemos fortemente a projeção do escritor enquanto um agente profissional dentro do campo literário. Tendo isso em vista, partimos desse aspecto para elaborar a questão central desta tese. Isto é, de que maneira se dá a profissionalização do escritor no contexto contemporâneo. Sob essa perspectiva, este estudo tem como cerne verificar como se dá a profissionalização do escritor na contemporaneidade, a partir da sua circulação entre os cenários nacional e internacional no meio editorial, além do processo de sistematização de uma “marca autoral profissionalizada” dentro do campo literário brasileiro. Em outras palavras, interessa-nos compreender o que é e o que significa ser escritor profissional hoje, no Brasil, tendo em consideração a condição do produtor^1 imbricado aos processos atuais de internacionalização do(s) campo(s). Em vista disso, depois de um refinamento da proposta de tese, sobretudo em razão das contribuições propiciadas no período de doutorado sanduíche, realizado na Universidade de Santiago de Compostela, na Espanha, sob a orientação da Profa. Dra. Maria del Carmen Vilarino Pardo, e da participação no projeto CULTURFIL^2 , foi pulsante a necessidade de se rediscutir a condição do campo literário brasileiro e da sua interferência na posição assumida por escritores que passaram pelo crivo de instâncias de legitimação internacionais. (^1) Even-Zohar opta pelo uso de produtor em detrimento ao termo ‘escritor’ com a justificativa da palavra 'escritor' carregar uma imagem historicamente construída e com muita especificidade. Além disso, defende- se a desierarquização da figura do escritor e vê-se a possibilidade de se discutir textos que são produtos, logo, produzidos por um produtor. Entendendo que o produtor está inserido em uma lógica vinculado a um discurso de poder e que, para isso, molda-se segundo certo repertório aceitável e legitimado. Assim sendo, faremos uso do termo produtor, no entanto, mesmo cientes da especificidade do uso, optaremos pelo uso de produtor e escritor, por considerar que a imagem historicamente construída do escritor também nos interessa enquanto abordagem. (^2) O projeto CULTURFIL é coordenado pela Profa. Dra. Carmen Villarino Pardo e recebe o título de “Nuevas estrategias de promoción cultural. Las ferias internacionales del libro y la condición de invitado de honor” (FFI2017- 85760 - P).
14 Conforme mencionamos, a proposição inicial da tese alicerça-se na questão “o que é ser profissional?”. Nessa perspectiva, parte-se do movimento de internacionalização dos escritores, movimento imposto pelo mercado global. Nesse contexto, é inegável a influência de determinados mecanismos para o funcionamento do mercado editorial e, sobretudo, de “crivos”, como o selo de uma casa editorial, para a projeção dos autores; o que justifica, em alguma medida, a escolha do título da tese “Em boa companhia: escritores e trajetórias profissionais”, fazendo referência à maior editora do Brasil, a Companhia das Letras. Conforme poderemos observar no decorrer da tese, a referida editora funciona como um elemento de consolidação nacional e projeção internacional, acentuando, desse modo, a construção de uma assinatura enquanto marca autoral. Sob essa temática, o pesquisador Teodoro Koracakis (2006, p. 134), em sua tese de doutoramento, defendida pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), “A Companhia e as Letras: um estudo sobre o papel do editor na literatura”, teoriza sobre o potencial prestígio que a casa editorial oferece a seus autores: Na verdade, o mecanismo inicial de produzir livros de qualidade forneceu tamanho prestígio à editora que, com a sua consolidação como produtora de bens de elevado valor simbólico, passou a funcionar como garantia de valor para os livros que viabilizava, e aos seus respectivos autores. Inicialmente o autor dá prestígio à editora. Mas, com a consolidação do seu prestígio, é ela que passa a dar prestígio ao autor e à sua obra. O valor simbólico que a casa editorial é capaz de propiciar aos autores que estão filiados a ela nos interessa para esse trabalho, assim como os mecanismos para que essa transferência da “autoridade do valor” seja atribuída àqueles nomes. A assinatura, a nosso ver, é a condição que garante a possibilidade de mensurar a credibilidade de determinado autor no mercado. A assinatura é performativa e pode ser compreendida como um elemento importante para um trabalho que se dedica a pensar a profissionalização do escritor. Em vista disso, há consequências, desdobramentos, que aparecem de modo posterior à valoração da assinatura, como a própria condição profissional e o processo de internacionalização. A premissa da pesquisadora Luciene Azevedo é que: um “[...] aspecto, digamos, mais imanente à questão da profissionalização, diz respeito à elaboração de uma assinatura, de um nome de autor que se sustente pela aposta de uma voz própria” (AZEVEDO, 2013, p.7).
16 contemporaneidade, sobretudo pela pretensão da Granta em selecionar escritores que, por meio da sua escrita, “contribuem para mudar o panorama das letras no país” (FEITH, 2012 , p.5). Segundo informações disponibilizadas no site da revista, o periódico, em seu formato inicial, surgiu em 1889, e era produzido por e para universitários, na Inglaterra, na Universidade de Cambridge. O nome da produção, ou seja, The Granta^3 , foi escolhido pela menção ao rio que atravessa a cidade. Inicialmente a revista funcionava como uma publicação panfletária sobre política e dilemas do espaço universitário, mas com o tempo passou a contemplar jovens escritores e a focar em literatura especificamente. Na década de 1970, o autor e jornalista norte-americano Bill Buford promoveu uma transformação na perspectiva editorial da revista; e o que era antes uma publicação destinada e encerrada ao mundo universitário, torna-se uma das revistas literárias mais famosas do mundo. Em 1989, surge, então, a Granta Books , uma das editoras literárias independentes mais respeitadas do Reino Unido. A tradição e a credibilidade da revista Granta revelou e impulsionou carreiras de escritores como: Vidiadhar Naipaul, Ian McEwan, Salman Rushdie, Martin Amis, Julian Barnes, Will Self, Jonathan Safran Foer, Nicole Krauss e Jonathan Franzen. Ainda segundo dados do site da revista, a Granta “have been defining the contours of the literary landscape since 1983^4 ”, como se, de algum modo especial, a produção fosse capaz de legitimar e consolidar carreiras no meio literário desde 1983. Todo esse prestígio é endossado ou reafirmado pela pretensão dos títulos inseridos no projeto “Granta’s Best of Young^5 ” – a cada dez anos a revista lança edições especiais dos melhores jovens escritores – que se propõem a apresentar “as vozes mais importantes de cada geração”. As obras que compõem essa edição especial já foram lançadas na Inglaterra, América do Norte, Brasil e Espanha. Dados que podemos confirmar no próprio site da Granta : Granta’s Best of Young issues, released decade by decade, introduce the most important voices of each generation – in Britain, America, Brazil and Spain – and have been defining the contours of the literary landscape since 1983. As the Observer writes: ‘In its blend of memoirs (^3) Disponível em: https://granta.com/about/. Acesso em 18 de set. de 2019. (^4) Apesar de conhecermos as normas que regulamentam as traduções em língua estrangeira, optamos por deixar, no corpo do texto, a versão original para preservar língua de origem dos textos e, depois, apresentarmos as nossas traduções em nota de rodapé. “Define os contornos do cenário literário desde 1983.” (^5) Os melhores jovens da Granta.
17 and photojournalism, and in its championing of contemporary realist fiction, Granta has its face pressed firmly against the window, determined to witness the world.’^6 O discurso disponibilizado no site da Revista – considerando a impossibilidade de neutralidade em qualquer discurso – não é, de modo algum, isento, e constrói uma imagem da revista enquanto parte da dinâmica do campo e como agente que se propõe a “definir os contornos do cenário literário” mundial. Resguardadas as devidas proporções dessa afirmação, levando em consideração o impacto da leitura em todos os países em que a obra é lançada, a crítica nacional e o mercado receberam a Granta 9 : os melhores jovens escritores brasileiros com entusiasmo e especulação. Manchetes como “Brasil lança concurso da revista ‘ Granta ’”^7 ou “Bolão: quem você acha que estará na Granta ?”^8 figuraram em veículos de comunicação de grande circulação como a Revista Veja e o Jornal Folha de S. Paulo , demonstrando a posição central do periódico e valorizando a importância do reconhecimento do escritor que, caso escolhido, atribuiria valor simbólico e de mercado a sua assinatura no campo literário brasileiro. Figurar entre os escritores escolhidos é atribuir certa valoração a sua assinatura e a dinâmicas que podem consolidar a condição profissional desses escritores, tornando-se, assim, uma oportunidade potente e, no caso da revista Granta 9 – os melhores jovens brasileiros – , até então, inédita. A assinatura dos autores que se inserem na Granta 9 – em português – remonta a uma construção autoral desses escritores, em que já não é mais possível ser recebido por seus pares e pelos muitos atores do campo como um mero autor/autora estreante, sendo ele/ela quase um desconhecido(a) ou não do mercado, pois essa inscrição “participante da Granta ” atribui certa legitimação, valor estético, artístico, e nos leva a projetar a (^6) “As edições Granta’s Best of Young , lançadas década a década, apresentam as vozes mais importantes de cada geração – na Grã-Bretanha, América, Brasil e Espanha – e definem os contornos do cenário literário desde 1983. Como escreve o Observador : ' Em sua mistura de memórias e fotojornalismo e em sua defesa da ficção realista contemporânea, Granta tem o rosto pressionado firmemente contra a janela, determinado a testemunhar o mundo.'” Disponível em: < https://granta.com/about/>. Acesso em 18 de set. de 2019 (^7) Disponível em: <veja.abril.com.br/blog/meus-livros/brasil-lanca-concurso-da-revista- 8216 - granta- 8217/>. Acesso em 18 de set. 2019. (^8) Acesso em: <https://abibliotecaderaquel.blogfolha.uol.com.br/2012/05/08/bolao-quem-estara-na- granta/comment-page-1/>. Disponível em 18 de set. 2019.
19 um país como o Brasil? São “cartas marcadas”, ou seja, apesar da seleção, a decisão já tinha sido tomada? Importa a relação estabelecida a priori entre os escritores e os jurados? O fato de alguns dos escolhidos estarem na academia é um fator positivo frente a outros candidatos? Os prêmios são balizadores do processo de escolha? A filiação editorial desses autores é levada em consideração no processo de seleção dos textos? Entre outros tantos questionamentos que rondam a condição de qualquer processo de seleção. Além disso, a própria denominação dos escritores da coletânea enquanto “os melhores” é provocadora; ao nomear os autores selecionados dessa forma, promove-se uma disputa por um espaço e/ou posicionamento dos autores envolvidos e, também, dos escritores não envolvidos na publicação. Vale mencionar que, assim como na grande maioria das antologias, houve insatisfação em razão das escolhas estéticas feitas pelos jurados da Granta 9 , o que gerou a criação de um ambiente virtual em que os “autores não selecionados” tiveram espaço para publicação dos contos enviados e negados na publicação oficial; o blog recebeu o nome de OFFGranta^11. Sabemos que todos esses movimentos de definição dos textos estão cercados por questões editoriais que normalmente não estão ao alcance do grande público, porque, envolvem muitos fatores, sendo alguns previstos no edital do projeto e outros não. Nesse sentido, lançamos mão do que afirmam os pesquisadores Esteves e Mattos, em 2016, no artigo “A prática discursiva editorial: leitura monocromática, enciclopédias e precarização”: É relevante aí o papel não só de instituições — aparelhos — culturais, universitárias e acadêmicas, mas também, e talvez principalmente, o das editoras, que decidem, em última instância, o que pode e deve ser lido em determinado sistema literário. Refrações não são apenas traduções, mas também resenhas, textos críticos, adaptações, isto é, todo um aparato discursivo que circunda e sustenta o lugar ocupado por determinado texto no sistema em questão. Esse lugar é (re)produzido pelo mecenato/patronagem, que hoje encontra sua atuação máxima na figura das editoras. As editoras são aparelhos que não só permitem a circulação da cultura letrada, como também escolhem que cultura letrada deverá circular (ESTEVES; MATTOS, 2016, , p.232, grifo nosso). (^11) Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1181925-selecao-off-granta-reune-autores- que-ficaram-de-fora-da-lista-oficial.shtml>. Acesso em: 24 de jan. de 2019. O Blog OFFGranta tinha o seguinte endereço na web: https://offgranta.wordpress.com, não se encontra mais disponível.
20 A reflexão dos estudiosos reforça a proposição de centralidade da casa editorial enquanto elemento de legitimação de uma trajetória. A publicação mencionada ainda critica o apagamento de muitos profissionais que contribuem para que a circulação dos livros exista, mas que não são mencionados nas obras. Tendo isso em vista, aproveitamos para afirmar que não estamos aqui ditando que apenas grandes editoras e, no caso, a Companhia das Letras , consiga interferir no mercado editorial, mas também não desprezamos a sua forte influência no cenário. Levando-se em consideração a premissa de Pierre Bourdieu de que o campo é relativamente autônomo, ou seja, que possui regras específicas que o rege, é importante destacar que as editoras colocam o sistema literário em tensão com outros sistemas, como o econômico e o político. Desse modo, a partir dessa relação de encontro de sistemas ou microssistemas que podemos evocar a teoria dos polissistemas, defendida por Itamar Even-Zohar, já que é possível compreender esse cenário a partir do entendimento dos vários sistemas que funcionam de maneira simultânea, ou seja, esse movimento é inerente às pequenas, às médias e às grandes editoras e impactam diretamente a dinâmica do campo literário, haja vista os microssistemas que cada uma dessas editoras opera e, também, a interação com outros possíveis sistemas. O campo leva em conta o movimento do mercado como um todo – o que inclui as pequenas, médias e grandes editoras. Nesse sentido, concordamos com a afirmação de Carlito Azevedo a Paulo Werneck, em 2011, na seção Ilustrada da Folha de S. Paulo^12 : Detesto este sistema em que uma editora pequena descobre o cara, e aí vem a editora poderosa, que não quer correr risco absolutamente nenhum, fazer aposta nenhuma, e fica só esperando uma dessas apostas da editora pequena se revelar para levá-lo. O que fazer? Assim são as coisas, enquanto a editora grande continuar desejando usar o autor interessante para justificar os imensos lucros que conseguem com a publicação de porcarias anticulturais, e o autor continuar trocando seu gesto inicial pela possibilidade de ganhar prêmios, ser convidado para as festas literárias das grandes editoras, para as entrevistas televisivas, coisas que em geral só chegam para os superbem editados, a coisa não muda. E não é coincidência que esses autores piorem tanto com o tempo, é que eles passam a se levar a sério (^12) Disponível em: <https://m.folha.uol.com.br/ilustrada/2011/09/976746-editar-bem-poesia-e-aceitar- editar-antimercadoria-diz-escritor.shtml>. Acesso em 25 de jun. 2019.