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EFEITO DE CUSTO: A IMPORTÂNCIA DA ELABORAÇÃO DE ORÇAMENTO
CIVIL PARA CONSTRUTORES INDEPENDENTES.
COST EFFECT: THE IMPORTANCE OF CIVIL BUDGET FOR INDEPENDENT
BUILDERS.
Angela Gabriela Carneiro de Jesus^1 RESUMO: O presente artigo tem como finalidade comparar duas maneiras distintas de contratação de serviços de construção civil para uma residência familiar: através de um construtor independente e de uma construtora. Por ser um ramo onde os preços, tanto de material como de mão de obra, estão em constante oscilação, o estudo visa mostrar em números o motivo de ser tão importante elaborar orçamentos detalhados e com planejamento em cada uma das etapas necessárias para um levantamento de dados mais preciso. Por ser a orçamentação o ponto inicial de qualquer negociação, para que o produto final, o orçamento, seja seguro para ambos os lados, é preciso atentar-se à localização, recursos disponíveis e prazo para execução, além de outros aspectos adiante destrinchados. ABSTRACT: This article aims to compare two different ways of hiring construction services for a residential home: through an independent contructor and a construction company. Since this is an industry where prices, both for materials and labor, are constantly changing, the study aims to show in numbers why it is so important to prepare detailed budgets with planning in each of the steps necessary for a more accurate data collection. Since budgeting is the starting point of any negotiation, for the final product, the budget, to be safe for both sides, it is necessary to pay attention to the location, available resources and deadline for execution, in addition to other aspects outlined below. (^1) Pós graduanda MBA em orçamento e projetos aplicados à construção civil pela Faceminas, e graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Tiradentes.
1. INTRODUÇÃO
A indústria da construção civil é responsável pelo maior índice de uso dos recursos naturais do mundo e à vista disso, também é a que gera mais resíduos sólidos devido ao desperdício. Dado isto, nota-se a necessidade de implementar em todos os tipos de construção (seja ela por grandes, médias, pequenas construtoras ou construtores independentes) o planejamento e o controle da produção e a engenharia de custos é a área da engenharia que se dedica à gestão econômico-financeira dos projetos. Esta gestão compõe gastos e investimentos, e também é utilizada para direcionar o planejamento da obra. Mas dentro da gestão econômica financeira, é necessário sempre antepor o fato de que o planejamento e controle de qualquer obra está diretamente relacionado ao consumo e otimização de mão de obra e materiais, indicativo de perdas e consumos anormais pois a partir disso é que se tem uma estimativa da saúde financeira do contratado em relação a um determinado serviço (LIMMER, 1997). Atrelado à isso faz-se necessário unir a gestão à viabilidade financeira, e é exatamente neste ponto onde entra a fase mais importante de qualquer obra: a orçamentação. Para uma parte expressiva dos construtores, o orçamento é feito da soma dos custos com a obra com o lucro previsto e os impostos que deverão surgir ao decorrer do tempo de contrato para a execução (HIRSCHFELO, 1997). Mas o que torna alguns contratos deficientes é a falta de destreza para incorporar também os custos indiretos, imprevistos e margem de erro, tornando o orçamento inconsistente e cabível de falha não somente durante a gestão mas também podendo gerar inexecução da obra (GOLDAMAN, 2004). Alguns profissionais afirmam que a forma como se estipula a cobrança da prestação de serviços é que determina se aquilo irá acarretar no êxito ou em insucesso. É exatamente por esse e outros fatores que a elaboração de um orçamento é tão importante.
2. METODOLOGIA A elaboração do orçamento civil é, senão a principal, uma das mais importantes etapas de qualquer planejamento de obra, seja ela feita por uma construtora ou de forma independente
de aprender a elaborar um orçamento detalhado e preciso, e isso faz com que muitos acabem tendo prejuízos financeiros devido à estas estatísticas: Tabela 1: Margem de erro em cada tipo de orçamento. Fonte: AVILA; LIBRELOTRO; LOPES (2003) Conforme apresentado na tabela 1, o orçamento feito por meio da avaliação apresenta um risco entre 30% a 20% na margem de erro; a estimativa entre 20% a 15%; o orçamento expedido entre 15% a 10%; o detalhado entre 10% e 5%; e por fim o analítico que apresenta entre 5% a 1% de possibilidade de erros. Cada um desses dados índica que quanto mais informações se obtém sobre o local, e quanto mais planejamento é feito, menor a probabilidade de o resultado vir superestimado ou subestimado (DIAS, 2005). Em muitos casos, tratando-se de um construtor independente, o processo de orçamentação é interrompido ainda na estimativa, logo após a avaliação. Durante a primeira etapa de qualquer orçamento, é importante que haja uma visita no local da obra para identificar quais são melhores vias de acesso para entrada de materiais e saída de entulhos, se no local haverá disponibilidade para contratação de mão de obra e aquisição de materiais, se existe algum serviço peculiar o suficiente para que não haja mão de obra nos arredores, e principalmente, qual o prazo de entrega. Infelizmente o que ocorre é a comparação da obra a ser feita com alguma já executada, levando em consideração o histórico financeiro e tempo de execução (CARDOSO, 2009). O segundo tipo, a estimativa, apresenta informações um pouco mais consistentes para uma elaboração mais detalhada, como a existência e uso de um anteprojeto que norteie as atividades a serem desempenhadas e referências de preços mais reais, mas em contra partida ainda baseiam-se em especificações genéricas que ficam atrelados tanto a índices financeiros como a índices físicos de obras semelhantes (XAVIER, 2008). 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% Avaliação Estimativa Orçamento expedido Orçamento detalhado Orçamento analítico
Já no terceiro modo, o orçamento começa a ficar mais afinado porque além de agora dispor de um projeto executivo^3 , conta também com especificações definidas. Por outro lado, ainda é comum que os preços a serem utilizados como referência sejam de serviços genéricos, por exemplo: ao invés de fazer a cotação para uma parede que receberá uma textura específica, com mão de obra especializada, finaliza-se a cotação no emassamento da parede para que posteriormente seja sugerido um aditivo deste serviço seguinte (MATTOS, 2006). O quarto e penúltimo tipo, conta com todos os projetos necessários para uma execução com exatidão (isso inclui o projeto executivo e os projetos complementares – estrutural, hidrossanitário e elétrico), especificações precisas, composição de preços e cotação de serviços de acordo com as especificações e com o serviço a ser executado. Por fim, a última tipologia é o orçamento analítico. Além de todas as informações contidos no quarto, ele contempla o planejamento da obra que tem como produto final um cronograma de atividades que será o norte necessário para que a disponibilidade financeira e de mão de obra atenda o tempo em que o serviço precise estar executado e entregue (AVILA; LIBRELOTTO; LOPES, 2003). Embora o responsável por elaborar o projeto não necessariamente precise ser engenheiro, arquiteto ou técnico em edificações, é necessário que ele tenha afinidade com a interpretação de projetos arquitetônicos e complementares, para que a análise seja apurada com cuidado para que nenhum detalhe passe por despercebido. Esta análise é a premissa para o levantamento de dados, e nele, além de uma leitura correta, é preciso calcular volumes, áreas, e dimensões necessárias para a perfeita execução (VALENTINI, 2002). Se tratando da elaboração do orçamento, existem alguns indicadores para auxiliar a precificação como o CUB, ORSE, SINAPI e algumas plataformas particulares. Um dos mais utilizadas, e a que será usada como exemplo posteriormente, é o CUB^4. O CUB foi elaborado a partir da Lei Federal nº 4.591 de 1964, e serve não somente como base de dados de insumos e preços, mas também para acompanhar e estudar a evolução do mercado da construção civil em âmbito estadual e federal. Solidificando a sua seriedade e compromisso com o que se propõe, a ABNT NBR 12721:2006, norma da Associação Brasileira de Normas e Técnicas funciona conjuntamente com o CUB. A norma tem como objetivo: (...) estabelece os critérios para avaliação de custos unitários, cálculo do rateio de construção e outras disposições correlatas, conforme as disposições fixadas e as (^3) O projeto executivo detém todas as informações necessárias para a perfeita execução de uma obra, sendo minunciosamente detalhado incluindo especificações técnicas e de execução. (^4) CUB é a sigla para Custo Unitário Básico. É um conjunto de informações elaboradas pelos sindicatos estaduais da construção civil, com o objetivo de ser uma referência para os orçamentos de obras que são atualizadas mensalmente, cumprindo com a Lei Federal nº 4.591 de 16 de dezembro de 1964.
cartoriais, projetos: projetos arquitetônicos, projeto estrutural, projeto de instalação, projetos especiais; remuneração do construtor; remuneração do incorporador.” (SINDUSCON, 2022) Deste modo, é possível verificar que haverá um déficit financeiro muito grande, mesmo que ele tenha previsto uma porcentagem de lucro, pois além dos itens citados acima, não há margem de erro (extremamente necessário já que o mercado está sempre oscilando). Construtora de médio porte – A construtora já apresentava um diferencial que era um setor de orçamento onde a pessoa responsável por esse serviço não era a diretoria. Assim que foi feito o contato, a pessoa responsável pelo setor de orçamento me solicitou as seguintes informações: O projeto arquitetônico completo e, caso não tivesse, solicitou que entrasse em contato com alguns arquitetos, engenheiros ou técnicos em edificações para que o projeto fosse elaborado de forma responsável; o endereço do lote para que fosse marcada uma visita técnica in loco ; uma visita presencial no escritório assim que o orçamento estivesse pronto para que a apresentação seja clara e explique cada um dos itens orçados. O resumo da planilha foi a seguinte: Tabela 2: Detalhamento de orçamento. Fonte: Autor, 2022. No resumo do orçamento que a construtora passou, ficou muito claro quanto seria gasto para que cada engrenagem da máquina da construção funcionasse de forma mais próxima possível do perfeito. Apesar de ser exatos R$ 94.919,22 mil reais acima do preço do construtor, o que passou segurança foi o fato de existirem setores diferentes para cuidar de cada etapa da construção com destreza, cronograma de obra, além de um escopo de proposta que demonstra tudo que será entregue. Dentro do escopo estavam presentes: mobilização, custo com equipe de obra, tapume, canteiro de obra, gabarito, fundações, pilares, vigas, contrapiso, impermeabilização, cupinicida, fechamentos, chapisco, reboco, hidráulica, pluvial e hidrossanitária, coberta com rufos e calhas em zinco, forro, elétrica, dados, TV, iluminação, DESPESA BDI CASA CUSTO TOTAL MÉDIA MENSAL % SOBRE TOTAL CUSTOS DIRETOS: 100% R$ 273.811,29 R$ 273.811,29 R$ 34.226,41 71,4% ADM - LOGÍSTICA: 1,0% R$ 2.738,11 R$ 2.738,11 R$ 342,26 0,7% ADM - OPERACIONAL: 8,2% R$ 22.452,53 R$ 22.452,53 R$ 2.806,57 5,9% ADM - CENTRAL: 7,2% R$ 19.714,41 R$ 19.714,41 R$ 2.464,30 5,1% INFRAESTRUTURA: 1,0% R$ 2.738,11 R$ 2.738,11 R$ 342,26 0,7% MARGEM INCERT.: 9,0% R$ 24.643,02 R$ 24.643,02 R$ 3.080,38 6,4% TRIBUTAÇÃO OU COMISSÃO: 0,0% R$ - R$ - R$ - 0,0% LUCRO ESPERADO: 13,6% R$ 37.238,34 R$ 37.238,34 R$ 4.654,79 9,7% VALOR DA OBRA 40,0% R$ 383.335,81 R$ 383.335,81 R$ 47.916,98 100,0%
DETALHAMENTO DE VALORES DE CONTRATO
pisos internos e externos, calçada pública, revestimentos internos e externos, pintura de paredes e forros, infraestrutura para ar condicionados, portas e esquadrias, portões externos, granitos para bancadas, soleiras e peitoris, nichos, cubas e torneiras para banheiros, cuba e torneira para cozinha, tubulação para gás, vasos sanitários, chuveiros, boxes, ralos lineares e convencionais, cisternas de até 5.000 litros, kit de proteção de pisos e bancadas e limpeza final para entrega. Além disso, há todo um acompanhamento durante a execução da residência para que quaisquer dúvidas ou alterações necessárias sejam feitas do modo correto, assessoramento para documentação e, o mais importante, uma garantia de até 5 anos após a entrega da obra. O orçamento ainda contempla o detalhamento do BDI^5 que deixa claro ao cliente que a empresa está preparada para que, além de todos os custos com a obra serem contemplados, quaisquer problemas que possam surgir durante a obra estejam dentro da margem de erros – o que se torna um facilitador quando se trata de construção financiada.
4. CONCLUSÃO Este artigo nasceu com a finalidade de evidenciar o motivo de a orçamentação ser tão importante independentemente do porte da contratada. Deste modo, apresentando dois exemplos reais de orçamento (do construtor independente e da construtora) foi possível observar como, inclusive o modo como são apresentados, define quem passa mais segurança e, mesmo que aparentemente, sapiência para coordenar a execução de uma obra sem erros.Analisando ambas propostas, percebe-se que se levado em consideração o fator PREÇO, o cliente escolherá sem dúvidas o empreiteiro, mas caso ele opte pelo VALOR indubitavelmente a escolha será a construtora pois demonstraram segurança em todos os itens necessários para a execução com chances irrisórias de erro ou atraso.É baseado em um exemplo real e prático que a necessidade de estimular a busca por cursos e ferramentas de profissionalização para que os construtores independentes não percam espaço no mercado ou tenham grandes prejuízos em uma obra ou serviço prestado, por falta de discernimento ao elaborar o orçamento. Ferramentas como CUB, SINAPI ou ORSE, apesar de serem eficazes, necessitam de muito cuidado ao manusear. Vários itens não são contabilizados nesses índices e podem ser justamente eles que irão colocar o orçamento a perder. (^5) A sigla BDI é proveniente do inglês Budget Difference Income que significa Benefícios e Despesas Indiretas.
SILVA, Mozart Bezerra da. Orçamento de obras. Apostila de curso. São Paulo: Pini, 2003. SINDUSCON (Sindicato Da Indústria Da Construção Civil Do Estado De Pernambuco). Tabela CUB: Agosto/2022. Disponível em: < http://www.cub.org.br/cub-m2-estadual/PE/>. Acesso em: 25 agosto de 2022. VALENTINI, Joel. Metodologia para elaboração de orçamento de obras civis. 2009. Monografia (Especialização em Construção Civil) – Escola de Engenharia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. Disponível em: < http://hdl.handle.net/1843/BUOS- 9A4H52 > Acesso em 02 de outubro de 2022. XAVIER, Ivan. Orçamento, Planejamento e Custo de Obras. São Paulo: FUPAM – Fundação para Pesquisa Ambiental, 2008.
