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Uma pesquisa bibliográfica sobre a temática educação infantil e planejamento pedagógico. Ele discute a importância do planejamento na rotina da educação infantil, analisa os desafios e possibilidades do planejamento na educação infantil e destaca sua importância na organização e elaboração diária da sala de aula. O texto também explora a história da luta pela educação infantil de qualidade no brasil e os movimentos sociais que contribuíram para garantir os direitos das crianças à educação.
Tipologia: Notas de aula
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Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Pedagogia do Campus Universitário de Castanhal da Universidade Federal do Pará como requisito parcial para obtenção de título de Licenciada Pleno em Pedagogia.
Orientadora: Profª. Drª. Eula Regina Lima Nascimento
Ao Todo Poderoso e Senhor da minha vida... Ao meu Deus por ter me capacitado desde o início, dando-me sabedoria e discernimento para fazer a escolha certa. E também por ter sido meu consolador nos momentos difíceis.
A Deus por ter me dado força e sabedoria para concluir este trabalho tão significativo e fundamental para a minha formação. A família que acreditou nos meus sonhos e ajudou nessa caminhada. Desejo salientar neste meio familiar minha querida mãe Lucinalva Carneiro dos Santos e meu padrasto José Maurício de Araújo Teran, pois foram os maiores incentivadores, não medindo forças para o alcance desta vitória. Aos amigos que a vida me presenteou. Amigos, estes, que atravessaram meu caminho, compartilharam amizades sinceras, torceram (e torcem) por mim. Aos professores das escolas que estudei, pois também contribuíram para minha formação como ser humano e agora como profissional. Obrigado a todos esses profissionais que tão empenhadamente se dedicam para nos tornar pessoas melhores. Aos professores da Faculdade de Pedagogia da Universidade Federal do Pará/Castanhal pela dedicação e sabedoria em tentar fazer dos discentes pessoas e profissionais compromissado com seu ofício. Aos professores de outras faculdades da UFPA/ Castanhal que também se dispuseram a compartilhar seus conhecimentos. Quero dedicar um agradecimento especial aos Professores de Pedagogia Madison Ribeiro e Luizete Cordovil, pessoas maravilhosas e acolhedoras. Agradeço pela oportunidade que me deram no Projeto Formação Continuada de professores onde trabalhei como bolsista por alguns anos, os momentos vividos ao lado desses profissionais foram gratificantes e me permitiu aprender muito mais sobre minha profissão. Aos funcionários que trabalham (e trabalhavam) na Universidade Federal do Pará, especialmente, os de Castanhal pela atenção em muitas situações das quais necessitei de auxílio. A minha orientadora prof.ª e Drª Eula Regina pela disponibilidade incansável de me ajudar na construção desse trabalho, obrigada professora pelo carinho, atenção e respeito com que tem me tratado.
avaliador e de disponibilizar um pouco do seu tempo para prestigiar meu trabalho de pesquisa.
O presente trabalho constitui-se de pesquisa bibliográfica com a temática Educação Infantil e Planejamento Pedagógico: uma revisitação teórica , estando dividido em dois tópicos, a saber: a infância no Brasil: recortes de percalços e lutas, que apresenta em linhas gerais a história da criança no Brasil e a luta pelo direito a educação, tendo como eixo de debate os autores: Azevedo e Sarat (2015), Santana (2011, 2014), Silva e Francischini (2012), Kuhlmann (2000), Kramer (2006), Campos et al (2006) e marcos legais. O segundo aborda: um olhar sobre o planejamento na educação infantil, sendo discutidas as dificuldades e os avanços que o planejamento pedagógico proporcionou aos educadores, o texto também debate a importância do mesmo na rotina da educação infantil. Os autores destacados para esses diálogos são: Menegolla (2010), Júnior (2007), Ostetto, (2012), Kramer (2003, 2004), Junqueira Filho (2013), Formozinho (2008). A pesquisa estreitou a relação entre a educação infantil e planejamento no trabalho pedagógico com as crianças pequenas, reconhecendo que esse elo favorece a garantia da qualidade na educação infantil e o respeito pela criança enquanto cidadão de direito.
Palavras-chaves: Infância. Educação. Planejamento Pedagógico.
El presente trabajo se constituye de investigación bibliográfica con la temática Educación Infantil y Planificación Pedagógica: uma revisión teórica, siendo dividida en dos tópicos, a saber: la infancia en Brasil: recortes de percances y luchas, que presenta en líneas generales la historia del niño em Brasil y la lucha por el derecho a la educación, teniendo como eje de debate los autores: Azevedo e Sarat (2015), Santana (2011, 2014), Silva e Francischini (2012), Kuhlmann (2000), Kramer (2006), Campos et al (2006) y marcos legales. El segundo aborda: uma mirada sobre la planificación em la educación infantil, siendo discutidas las dificultades y los avances que la planificación pedagógica proporcionó a los educadores, o texto también discute la importância del mismo en la rutina de la educación infantil. Los autores destacados para estos diálogos son: Menegolla (2010), Júnior (2007), Ostetto, (2012), Kramer (2003, 2004), Junqueira Filho (2013), Formozinho (2008). La investigación estrechó la relación entre la educación infantil y la planificación en el trabajo pedagógico com los niños pequenos, reconociendo que ese eslabón favorece la garantía de la calidae en la educación infantil y el respeto por el ninõ como ciudadano de derecho.
Palavras claves: Infancia. Educación. Planificación Pedagógica.
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CONSIDERAÇÕES INICIAIS: Inscrições subjetivas do meu desejo de pesquisar
Para ser educador não basta ter contrato de trabalho numa escola particular ou um emprego de funcionário público. É preciso competência, habilidade e comprometimento. Ninguém se faz professor, do dia para anoite, sem aprendizagem e preparação satisfatórias. (LUCKESI, 1994, P.117).
Durante minha trajetória na Universidade Federal do Pará/Castanhal onde cursei Pedagogia, tive a oportunidade de conhecer vários ambientes escolares e não escolares que me permitiram obter grande aprendizado. Ao contrário de algumas amigas da faculdade, nunca tinha desempenhado o papel de educadora, por isso encontrei dificuldades em lidar com certas situações, entretanto os problemas possibilitaram adquirir conhecimentos valorosos ainda não experimentados nessa área. Entre as instituições educacionais vivenciadas estavam as escolas de educação infantil onde realizei alguns estágios, os momentos vividos nesse período foram fundamentais para a construção da minha formação, na condição de educadora em formação aprendi que não aprendemos somente a fazer, mas como diria Ostetto (2012, p.23): a ―pensar sobre e decidir como, de forma ampla, contextualizada, articulada‖. Identifiquei-me bastante na educação infantil, e apesar de ter convivido pouco com crianças senti-me atraída pelo jeito simples e intenso de viver delas, os momentos alegres regados a fantasia revelavam emoções cheias de interatividades que se entrelaçavam entre um diálogo e outro, construindo uma teia de conhecimento e experiência das mais variadas. Sempre ouvira dizer que crianças não mentem em relação aos seus sentimentos, por isso são vistas como sinceras, deixando claro seus desejos. Na convivência pude perceber esta singularidade que transformava a sala de aula em um ambiente complexo e diversificado, pois quando os pequenos queriam expor suas emoções deixavam a intimidade de lado, fazendo pouco caso das circunstâncias e de quem estava ao seu redor; choravam quando queriam; ficavam com raiva, se assim desejavam; riam sem reprimir seus sentimentos de alegria; e desviavam suas atenções sem pudor algum quando algo não lhes agradavam. Entretanto, nem todas as relações foram harmoniosas, em uma das escolas de educação infantil, por exemplo, o convívio entre o educador e as crianças revelava constantes atritos, permitindo-me conhecer outra realidade. Nesse momento as concepções de serenidade
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nutrida pela infância se esvaíram aos poucos dos meus pensamentos, dando espaço a uma compreensão de sujeitos cheios de desejos e interesses poucas vezes compreendidos pelos educadores devido sua estreita visão ao ensino clássico. Tudo bem que existam conflitos, isso faz parte das relações humanas, mas há de se ter atenção quando as divergências passam dos limites, trazendo prejuízo a todos, os conflitos somente serão positivos se houver possibilidade de aprendizagem, para Ostetto (2012) um ambiente saudável se constrói a partir das relações sociais onde o diálogo deve está sempre presente. Por outro lado, isso demonstra também que educar pessoas nem sempre é tarefa fácil, exige uma postura crítica fortificada pelos laços afetivos, principalmente quando diz respeito à educação infantil em que cuidado e educação andam juntos (OSTETTO, 2012; KRAMER, 2004). Nos processos de vivências pude verificar que as crianças se sentiam seguras quando tinham a disposição profissionais envolvidos, organizando atividades interessantes sem deixar de lado o olhar humano, esse estreitamento de vínculo é importante para que vindo os obstáculos as coisas não desandem e tomem rumos diferentes. Nos percursos vivenciados pude ainda perceber que os esforços para tornar a aprendizagem das crianças significavas começam a partir do olhar do educador sobre as particularidades delas, absorvendo informações essenciais para construção do seu trabalho, pois o ato de educar vai além do ensino das boas maneiras e dos cuidados físicos tão comuns na educação infantil (OSTETTO, 2012). A construção do trabalho do educador infantil demanda elaboração, execução e avaliação, tendo em vista os objetivos estabelecidos mediante a organização da prática pedagógica. Essa é uma atitude centrada nos propósitos constituídos a partir da reflexão, já que antes de tomar qualquer decisão o educador tem de analisar a situação escolar em que se encontra e os sujeitos que dependeram dele, assim como o espaço, tempo e materiais disponíveis (KRAMER, 2004; MENEGOLLA, 2010). Avaliando esses pensamentos, retornei as reflexões teóricas vivenciadas durante o curso de Pedagogia sobre planejamento, relembrando o quanto o mesmo se destacava como uma ferramenta importante na organização das atividades, no decorrer dos estágios realizados era comum darmos atenção a esse instrumento na hora de observar a rotina das salas de aulas ou nas conversas com os professores sobre suas tarefas.
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mobilizador que necessita ganhar vida para colaborar e fazer as coisas acontecerem (VASCONCELLOS 2002; OSTETTO, 2012). Além disso, é um elemento orientador do processo educativo que ajuda a organizar as ações na tentativa de buscar o equilíbrio entre o meio e o fim a partir da racionalização das atividades com intuito de alcançar os objetivos propostos. Diante de todas essas vivências teóricas e práticas na educação infantil, fiz a opção por uma pesquisa bibliográfica, destacando autores que pudessem auxiliar na compreensão do tema em questão. A pesquisa bibliográfica é um trabalho pautado nas análises de documentos e autores reconhecidos cientificamente e que ajudam a contribuir para a elucidação do que se desejar pesquisar sem recorrer a outros meios, a saber: ―fato/fenômenos da realidade empírica diretamente‖ (OLIVEIRA, 2010, p. 69). Lembrando que, embora não faça uso da pesquisa de campo, a análise bibliográfica aborda discussões vivenciadas e estudadas por autores que se comprometeram deixar registrado suas experiências e produções. Por ser uma fonte inexaurível de informações, recebe atenção entre as demais sem deixar a desejar. Em todos os projetos de pesquisas está presente, constituindo como ponto de partida, já que coopera com a organização das ideias e a formação cultural do saber. Para usufruir deste tipo de pesquisa Fachin (2006, p. 119) ressalta que: ―o consulente dever ser ativo, despender esforços mental e, muitas vezes, perseverar no estudo [...]‖, evolvendo-se cuidadosamente no processo da pesquisa para obter a aprendizagem e a compreensão do tema estudado. A pesquisa bibliográfica a qual direcionarei meu trabalho pauta sobre o Planejamento no âmbito da Educação Infantil por acreditar que ambos constituem eixos fundamentais na obtenção eficiente da ação educativa, visando garantir a formação de qualidade que priorize os aspectos físico-motor, psicológico, cultural e intelectual das crianças. Para elucidar este debate ressaltei como problematização as seguintes indagações: como é tratado na educação infantil o planejamento pedagógico? Outros questionamentos surgiram para ajudar no entendimento da problematização, são eles: Qual estrutura do planejamento na educação infantil? O que considerar importante no processo de elaboração e execução do planejamento na educação infantil? A questão problemática se pauta no fato de que muito se tem discutido sobre a forma de trabalhar para/com as crianças pequenas, esses debates vem ganhado força e
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alimentando muitas perspectivas, desafios e controvérsias, uma vez que o trabalhado pedagógico realizado ainda está configurado nas concepções tradicionais, tendo como base o assistencialismo e a mecanicidade, ao mesmo tempo em que novos pensamentos emancipadores tomam conta da realidade com a intenção de apresentar outros meios de trabalhar a prática pedagógica. A pesquisa tem como objetivo: debater a relação entre a educação infantil e planejamento pedagógico. E para embasar esta discussão houve a necessidade de discutir a estrutura do planejamento e ainda analisar os fundamentos essenciais no processo de elaboração e execução do planejamento na educação infantil. A pesquisa bibliográfica sobre Educação Infantil e Planejamento Pedagógico: Uma revisitação teórica está estruturada nas seguintes seções, a primeira intitulada ― A infância no Brasil: recortes de percalços e lutas” , que retrata em linhas gerais a história da infância no Brasil e a luta pelo direito a educação, tendo com eixo de debates os autores: Azevedo e Sarat (2015), Santana (2011, 2014), Silva e Francischini (2012), Kuhlmann (2000), Kramer (2006), Campos et al (2006) e documentos legais. E a segunda aborda ― Um olhar sobre o planejamento na educação infantil”, o capítulo discutirá os desafios e as possibilidades do planejamento na educação infantil, além de destacar sua importância na organização e elaboração no dia a dia da sala de aula. Os autores em destaque para esse debate são: Menegolla (2010), Júnior (2007), Ostetto, (2012), Kramer (2003, 2004), Junqueira filho (2013), Formozinho (2008).
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difícil, então as crianças seriam seus alvos, isso pareceu bem aos olhos dos loyolistas, pois as crianças eram vulneráveis, sendo, portanto, fáceis de dominar (AZEVEDO e SARAT, 2015). Por conta disso, as crianças indígenas acabaram se tornando instrumento precioso no trabalho de evangelização, bem como nas ―organizações comunitárias, nas relações de poder entre adultos e crianças, e no processo de construção da infância brasileira‖ (AZEVEDO e SARAT, 2015, p. 22). O conceito de criança propagado na Europa e adotado pelos portugueses nessa época era de um ser santo, ingênuo e inocente capaz de ―suportar as agruras em prol da fé‖ (AZEVEDO e SARAT, 2015, p. 22), assim a criança santa moldada sob o princípio religioso cristão tinha uma estreita relação com a ideia de menino-Jesus (PRIORE, 1996). Os jesuítas ainda caracterizavam estes seres como: ―[...] ‗papel branco‘, cera virgem, em que tanto desejavam escrever: e inscrever-se‖ (PRIORE, 1996, p. 12), foi sob essa ideologia de ―criança mística‖ que a subordinação indígena começou (AZEVEDO e SARAT, 2015, p. 22). As medidas civilizatórias estabelecidas nesse contexto apresentavam como proposta o cuidado e a conversão dos pequenos, que em seguida cuidariam em transmitir aos mais velhos (AZEVEDO e SARAT, 2015; DAHER, 2001). A educação baseada em rigorosos ensinamentos, castigos físicos e um ―forte disciplinamento dos modos e costumes‖ era visto como natural e necessária (AZEVEDO e SARAT, 2015, p. 22), os jesuítas se apropriavam da fragilidade destes seres indefesos para tirar-lhes o direito de viver segundo a sua vontade e arrancar sua cultura para impor o que achavam mais conveniente. Se os pequenos indígenas recebiam uma educação voltada para aculturação e conversão (SANTANA, 2014), os filhos dos portugueses, desfrutavam de melhores tratamentos e ainda tinham a sua disposição uma educação diferenciada, deixando evidente a relação estreita entre o modo de instrução e a classe social (AZEVEDO e SARAT, 2015; SANTANA, 2014). Além de serem educados nos próprios lares com a ajuda de ―preceptores
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contratados pela família‖ (AZEVEDO e SARAT, 2015, p. 24), os pequenos afortunados possuíam no seu currículo educativo extensa atividade pedagógica e a oportunidade de ampliar sua escolaridade em outros países quando crescessem (SANTANA, 2014). Os índios não eram os únicos a sofrerem nas mãos dos colonizadores. Outra realidade deprimente fazia parte do cenário brasileiro: a escravidão dos negros vindos da África, que desembarcaram com os portugueses para se tornarem servos destes, eles traziam estampado no rosto a ruptura da integridade humana e a angústia de viver em uma terra desconhecida sob condições miseráveis. O sofrimento desses pobres indivíduos começava quando eram tirados a força de suas terras e familiares, deixando inexpressível qualquer esperança de poder reencontrá-las. O estado crítico em que se encontravam, inclusive durante as viagens, definia o cenário de horror, isto é: sem comida, cuidados físicos adequados, sendo submetidos a todo tipo de violência que causava doença e morte de muitos. E como se não bastasse, passavam horas acorrentados nas embarcações ou senzalas como se fossem animais. Junto aos negros estavam as crianças acompanhadas de algum familiar ou sozinha. Segundo Lopes (2005) e Santana (2011) estas eram divididas e tratadas conforme sua classe social, ou seja: os grumetes, que pertenciam às famílias mais pobres, eram encarregados de realizar os piores serviços, muitas vezes, à custa de castigos físicos; as órfãs do rei, enviadas para o casamento, estas supriam a carência de mulheres brancas e sofriam abusos sexuais constantemente pelos colonos; e os pajens oriundos de famílias médias que gozavam de melhores condições. A rejeição às crianças era tão evidente que nem durante os naufrágios tinham prioridades nos momentos de fugas, e as poucas que sobreviviam corriam o risco de serem levadas pelos ―piratas e corsários‖ que as vendiam ou usavam como escravas (LOPES, 2005, p. 16). A infância brasileira nos tempos da escravidão deixa claro uma realidade sofrida cheia de dor, violência, maus tratos, abusos sexuais e trabalho infantil, em outras palavras, uma vida desumana, sem afeto e proteção. Diferente da realidade das crianças indígenas e brancas, as negras eram totalmente excluídas de qualquer tipo de ensino (FARIAS, 2005; SANTANA, 2014). Para Farias (2005) a situação destas mostrava-se crítica em todos os sentidos, se comparada a das outras, pois além de não receber nem um tipo de educação tinham seu direito de infância usurpado. Civiletti (1991) ressalta que as escravas parturientes, ao dar à luz, recebiam três dias de repouso, em algumas situações os seus filhos eram levados à casa de exposto para não
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fracassando nos seus propósitos, uma vez que o ambiente não apresentava condição digna de acolhimento devido a falta de higiene em seus alojamentos e a péssima qualidade no atendimento, além disso as crianças eram recebidas nas Santa Casa de Misericórdia juntamente com os doentes, colaborando com alto índice de mortalidade infantil (SANTANA, 2014). Ao completarem o tempo de saírem da casa, os enjeitados eram enviados a algumas famílias para o trabalho forçado e em troca a instituição ganhava certa quantia em dinheiro (SANTANA, 2014; CIVILETTI, 1991). Isso evidenciava o caráter paradoxal das casas de exposto, pois ao mesmo tempo em que ajudavam os enjeitados a não terem uma vida sofrida, contribuíam para a trágica sina escravocrata, tendo a responsabilidade apenas de retardar o processo. O século XIX foi um período de grandes mudanças política e econômica, pois marca a passagem do Brasil Imperial para a República em 1889 (RIBEIRO, 2001). Nesse tempo, o Brasil apresentava amplo crescimento na produção da cana-de-açúcar e café, considerando esta última a atividade originalmente brasileira mais conhecida nacional e internacionalmente (RIBEIRO, 2001), a nova fase acabou interferindo profundamente na organização social, já que consentiu ―a passagem de uma sociedade exportadora com base rural-agrícola para urbano-agrícola-comercial‖ (RIBEIRO, 2001, p. 53). Com as transformações sociais a todo vapor, a educação, impulsionada pelo surgimento da burguesia que muito cooperou para o desenvolvimento econômico e reorganização social, ganhava novos impulsos. Para reforçar as ideias em ascensão, o debate em torno da educação no Brasil e sua importância deu-se no diálogo com o contexto europeu, no qual Estados-nação investiam na educação como fator promotor da coesão nacional. Os estudiosos educacionais brasileiros, entusiasmados pelo pensamento filosófico do alemão Friedrich Wilhem Froebel^4 , trouxeram para o país muitas de suas ideias pedagógicas que tinha ―como objetivo e prática educar os sentidos das crianças‖, despertando o divino existente em sua alma, utilizando para isso: jogos, cantos, danças, marchas e pinturas, (SILVA e FRANCISCHINI, 2012, p. 261). (^4) O criador do jardim de infância. Mais informações sobre o filosofo Friedrich Wilhem Froebel e seu trabalho podem ser encontrados na obra de Helmut (2010) apresentada como Friedrich Fröbel. Tradução: Ivanise Monfredini. O livro faz parte da coleção de educadores e obteve a cooperação da UNESCO, MEC, Fundação Joaquim Nabuco e da Editora Massangana. Outras informações também podem ser adquiridas nos artigos de Alessandra Arce (2004) intitulado O jogo e o desenvolvimento infantil na teoria da atividade e no pensamento educacional de Friedrich Froebel. Disponível em: http://www.cedes.unicamp.br.
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Com base nessa influência foi criado no Brasil em 1875 no Rio de Janeiro ―pelo médico Joaquim José Menezes Vieira e sua esposa D. Carlota‖ o primeiro jardim de infância, os frequentadores eram crianças da elite do sexo masculino de três a seis anos que aprendiam a ler, escrever, praticar exercício físico, além de aprender matemática e religião (SANTANA, 2014, p. 240). De acordo com Silva e Francischini (2012, p. 261) ―no ano de 1899 foi fundado o Instituto de Proteção e Assistência à Criança do Brasil que tinha, dentre outros objetivos, criar creches e jardins de infâncias‖, mas foi em 1909 que surgiram as primeiras creches destinadas, basicamente, aos filhos das operárias. A reconfiguração do cenário social embalado pelo crescimento industrial contribuiu para a urbanização desordenada e o agravamento da miséria, paralelo a isso o sistema capitalista reivindicava a participação da mulher no mercado de trabalho o que permitiu a construção de instituições infantis para acolher os filhos das operárias (CAMPOS, FULLGRAF e WIGGERS 2006; CAMPOS, 2013; SILVA e FRANCISCHINI, 2012;), em algumas cidades estes espaços ficavam dentro das próprias fábricas. Segundo Kuhlmann (2000) as criações das instituições partiram, no começo, de uma concepção de sociedade civilizada , servindo como espaços modeladores tanto nos países europeus como aqui no Brasil durante o século XIX E XX. Em meio a esse contexto, os movimentos dos médicos higienistas entravam em ação para combater os altos índices de mortalidade infantil causados pelo abandono, aborto e também pelo infanticídio ocorrido nas casas de exposto que ainda existiam (AZEVEDO E SARAT, 2015; SILVA e FRANCISCHINI, 2012). Outros movimentos também surgiram com objetivos diferentes, por exemplo, os encarregados de proteger policial e juridicamente os pequenos abandonados, esse grupo lutava contra a exploração do trabalho infantil e ainda incentivava a criação de instituições correcionais destinadas a lidar com crianças delituosas e pobres (SILVA E FRANCISCHINI, 2012).