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Educação Física na Educação de Jovens e Adultos, Notas de aula de Educação Física

Os alunos de EJA já possuem uma representação da escola, da atividade física e da Educação Física escolar, formada a partir das vivências que compõem a.

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Wanderlei
Wanderlei 🇧🇷

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Educação Física

Derivam daí conhecimentos e representações que se transformaram com os anos. Ressignificadas suas intencionalidades, formas de expressão e sistematização, eles constituem a cultura corporal de movimento. Portanto, cabe à Educação Física formar o cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e transformá-la, instrumentalizando-o para usufruir de jogos, esportes e ginásticas, em benefício do exercício crítico da cidadania e da melhoria da qualidade de vida. Trata-se de localizar em cada uma dessas práticas os benefícios humanos e suas possibilidades na organização da disciplina no contexto escolar. Um ponto de destaque nessa nova significação atribuída à Educação Física é que a área ultrapassa a idéia de estar voltada apenas para o ensino do gesto motor correto. Muito mais que isso, o professor deve problematizar, interpretar, relacionar, compreender junto com os alunos as amplas manifestações de sua área de ensino, de tal forma que eles entendam o significado das práticas corporais. As inovações tecnológicas e o conforto moderno criaram novas formas de socialização, com implicações para a vida de todo jovem e adulto, tanto na esfera do trabalho como do lazer. Muitas pessoas – crianças, jovens ou adultos – vêm substituindo a atividade pela passividade. Com isso, correm o risco de se tornarem ociosas; as conseqüências imediatas são uma diminuição do trabalho corporal, advindo do sedentarismo, e o aparecimento de males típicos da sociedade contemporânea, como obesidade, elevada incidência de problemas posturais e doenças hipocinéticas. Nesse sentido, a escola de maneira geral e a Educação Física em particular podem colaborar, na medida em que mostram para os alunos os benefícios da prática regular de atividade física e constroem metodologias de ensino que propiciam a experimentação de atividades prazerosas, de tal modo que eles desejem continuá-las também fora da escola. Assim, espera-se que os alunos de EJA sejam capazes de assumir uma postura ativa na prática das atividades físicas e estejam conscientes da sua importância. As aulas de Educação Física devem discutir as mudanças no comportamento corporal decorrentes do avanço tecnológico e analisar seu impacto na vida do cidadão. Os alunos devem compreender essas transformações, bem como analisar suas relações com o presente. Partilhar o conhecimento socialmente construído, aquilo que foi herdado do passado, é apenas o começo do reconhecimento da parte que cabe a cada um no processo

O desenvolvimento

de uma proposta de

Educação Física para

Educação de Jovens e

Adultos constitui-se,

simultaneamente,

numa necessidade e

num desafio.

EDUCAÇÃO FÍSICA

histórico. É necessário um esforço significativo de todos os profissionais envolvidos com a educação de jovens e adultos a fim de que sejam criadas as condições de valorização desse universo, de modo que se tenha mais um núcleo de difusão dessa área cultural que, além de ser regida pela obrigatoriedade legal, tem seu valor na construção da cidadania. O desenvolvimento de uma proposta de Educação Física para Educação de Jovens e Adultos constitui-se, simultaneamente, numa necessidade e num desafio. É preciso reconhecer que chegou o momento de olhar para esse segmento da sociedade brasileira e buscar novas formas de viabilizar o seu acesso a esse saber. Trata-se de ajustar a proposta de ensino aos interesses e possibilidades dos alunos de EJA, a partir de abordagens que contemplem a diversidade de objetivos, conteúdos e processos de ensino e aprendizagem que compõem a Educação Física escolar na atualidade. É um desafio perceber e considerar suas especificidades de caráter metodológico, pois, embora já exista um percurso na Educação Física de jovens e adultos, muitos caminhos ainda estão por ser percorridos. Com isso, atrair o convívio do aluno por meio das linguagens da Arte e da Educação Física aponta para o aumento da oferta de canais de expressão para um aluno que nem sempre procura na escola, de imediato, o acesso a esse tipo de conhecimento. Ampliar a diversidade de expressão numa sociedade que valoriza intensamente (por vezes exclusivamente) a linguagem escrita e a matemática, para um aluno que não domina muito bem esses códigos – e que, portanto, pode ter uma imagem negativa de si mesmo – é um modo de fortalecer a auto-estima. Propiciar o contato corporal consigo e com os outros, por meio de linguagens que favoreçam a expressão das idéias, sentimentos e crenças pelo movimento, pode dar oportunidade ao aluno de refletir sobre sua história pessoal e sobre como esta é “gravada” em seu corpo com o tempo. Delimitado esse campo de ação e reflexão, duas questões primordiais precisam nortear o professor, servindo de eixos orientadores para o trabalho da Educação Física escolar com jovens e adultos:

_- Quem são os alunos de EJA?

  • Como pode ser desenvolvida a Educação Física para esses alunos?_

Os alunos de EJA já possuem uma representação da escola, da atividade física e da Educação Física escolar, formada a partir das vivências que compõem a história pessoal de cada um; por isso, é importante incluir na perspectiva do ensino, como um dos eixos norteadores das ações educativas para jovens e adultos, a possibilidade de resgatar as memórias construídas a partir das diferentes práticas. Isso significa valorizar e respeitar a história pessoal do

EDUCAÇÃO FÍSICA

condições de suportar no período noturno. Tal conclusão reflete uma concepção ultrapassada de Educação Física, baseada exclusivamente em parâmetros energéticos e fisiológicos, e desconhece a possibilidade da adequação de conteúdos e estratégias às características e necessidades dos alunos que trabalham, bem como a possibilidade de inclusão de conteúdos específicos – aspectos ergonômicos dos movimentos e da postura, trabalho e lazer, exercícios de relaxamento e compensação muscular etc. No entanto, o professor pode estruturar, para os alunos do ensino noturno, um programa de aulas de Educação Física que esteja de acordo com o projeto educativo da escola, conforme preconiza a LDBEN n.º 9.394/96, reforçando a necessidade de a disciplina estar integrada à proposta pedagógica da escola. Como indicativos imediatos, a lei mostra a importância da participação dos professores das diversas áreas nas reuniões, na elaboração dos planejamentos, nos conselhos e também, de acordo com contexto da escola, o oferecimento das aulas de Educação Física no mesmo horário dos demais componentes curriculares. Essa organização, na verdade, facilita o encontro dos professores, a discussão e o encaminhamento de projetos interdisciplinares.

Mídia e Educação Física para jovens e adultos

Para o ensino de Educação Física na escola, é tão importante considerar os valores elaborados pelo aluno ao longo de sua história pessoal quanto esclarecer os valores difundidos pela mídia em torno desse universo. No mundo contemporâneo, o esporte, de um modo geral, vem se tornando cada vez mais um produto de consumo, amplamente divulgado junto ao grande público. As transmissões televisivas – que incluem jogos, entrevistas, análises especializadas, aulas de ginástica, vendas de produtos e equipamentos etc. –, juntamente com a vasta quantidade de matérias veiculadas quase que diariamente pela imprensa escrita, vêm contribuindo de forma decisiva para compor o imaginário social acerca da cultura corporal de movimento: estabeleceu-se um padrão para o corpo humano; convencionou-se adotar o esporte como única manifestação corporal; o consumo de materiais e equipamentos esportivos cada vez mais modernos e com tecnologias avançadas é freqüentemente estimulado. Paradoxalmente, na esteira do consumo desenfreado que vende o esporte como panacéia universal para os problemas do indivíduo e da sociedade, divulgam-se os malefícios do uso de anabolizantes; mostram-se as exigências de um atleta de alto nível que convive com dor e lesões; denunciam-se os riscos da prática de uma atividade física intensa sem orientação profissional etc.

Desse modo, o que a mídia propicia, num primeiro momento, é um grande mosaico sem estrutura lógica aparente, composto de informações desconexas e, em geral, descontextualizadas. A Educação Física na escola não pode ignorar os meios de comunicação e as práticas corporais que eles retratam, tampouco o imaginário que ajudam a criar. É necessário que as aulas forneçam informações relevantes e contextualizadas. Então, caberá à disciplina manter um permanente diálogo crítico sobre a mídia, trazendo esse tema para reflexão dentro do contexto escolar. As Diretrizes Curriculares Nacionais apontam para essa questão, enfatizando a necessidade de entender como a mídia interfere no desenvolvimento dos alunos. Sabe-se que ela é uma formadora de opinião e participa do processo de homogeneização da cultura de massa, que se sobrepõe à cultura popular. O ideal de corpo, dentro desse processo, é apresentado segundo um padrão único, sem espaço, na maioria das vezes, para a diversidade de padrões estéticos espalhados pelo Brasil. A mídia geralmente mostra o corpo jovem, branco, musculoso para os homens e essencialmente magro para as mulheres como padrões exclusivos de beleza. Essas representações podem ser observadas em protagonistas de novelas, modelos de propaganda ou em revistas etc. Por outro lado, o corpo “real” e a cultura corporal popular são muito valorizados nas comemorações religiosas, que estão imbuídas de grande significado. Nessas festividades, cidadãos comuns, distantes dos modelos cultuados pela mídia, encontram um lugar de expressão, um palco para vivenciar aquilo em que acreditam. Muitas vezes, as manifestações culturais populares estão ligadas à história local, ao cotidiano, na relação com o trabalho ou com a devoção. A vivência em sociedade é determinante na manutenção da identidade, um conhecimento da própria história que nunca pára de se transformar. É necessário sensibilizar o aluno para que reflita sobre o modelo de imagem corporal difundido e defendido pela mídia a partir da própria imagem corporal e seus significados.

Síntese de princípios norteadores

A discussão da prática pedagógica na área de Educação Física parte de quatro aspectos fundamentais: o princípio da inclusão , o da diversidade , as categorias de conteúdos e os temas transversais. Alguns procedimentos em determinados esportes podem levar à exclusão

Ao propor o princípio

da inclusão, a intenção

é vislumbrar uma

Educação Física na

escola com capacidade

para superar a exclusão

e a seleção.

presente nas vivências dos diferentes grupos que chegam à escola. Esse movimento ocorre a cada novo período e pode ser associado às possibilidades de relacionamento com outras áreas do conhecimento, dentro dos projetos de trabalho ou mesmo dos conteúdos segmentados e predeterminados no planejamento. Não se pode perder de vista que os alunos estão inseridos numa cultura, trazem suas vivências próprias e são regidos por uma organização política e social. Isso cria a necessidade de olhar para a Educação Física como uma disciplina comprometida com o desenvolvimento da consciência crítica, capaz de estabelecer um canal para o desvelamento da realidade mediante a problematização das ações cotidianas do esporte – por exemplo, dos valores presentes na mídia em relação a Educação Física e Saúde, Ética etc. Outro aspecto relevante e fundamental, nesse processo, é a necessidade de um canal de comunicação entre o saber do aluno e o saber proposto pela escola. O papel do professor é de mediador, garantindo espaço para que os alunos tenham voz ativa e possam caracterizar a aprendizagem segundo suas necessidades. A relação de aproximação, apreensão, crítica e recriação da produção dos alunos ocorre assim num contexto realista e político. De acordo com a concepção freiriana, não existe educação neutra, e os conteúdos precisam estar ligados à realidade, desenvolvidos de maneira não-mecânica, sempre buscando uma reflexão. Na Educação Física, precisa-se ensinar não só o movimento, mas a realidade a que ele pertence, que está por ser desvelada.

O que ensinar?

Nesse ponto há uma discussão entre os professores de Educação Física em torno dos conteúdos significativos para o real desenvolvimento dos alunos: alguns desejam que ocorram alterações e incorporações de hábitos mais saudáveis e responsáveis para a saúde em geral. Isso só se efetivará dentro de um contexto em que o grupo se encontre mobilizado por razões muito específicas. É muito discutível que se prepare um programa, um planejamento de Educação Física para cada etapa escolar, antes que o professor conheça algumas inquietações dos alunos sobre o corpo e as práticas a ele relacionadas. Deve-se considerar que muitos conteúdos se inter-relacionam; logo, objetivos podem ser atingidos por muitas vias do conhecimento, principalmente quando se amplia o foco para o desenvolvimento de competências e habilidades. A abordagem dos conteúdos escolares segue as diferentes naturezas dos conteúdos: procedimentais , conceituais e atitudinais. A dimensão procedimental não se restringe ao universo das habilidades motoras, capacidades físicas e fundamentos dos esportes, devendo incluir também

EDUCAÇÃO FÍSICA

organização, sistematização de informações e aperfeiçoamento, entre outros. Aos conteúdos conceituais de regras, táticas e alguns dados históricos factuais de modalidades somam-se reflexões sobre os conceitos de ética, estética, desempenho, satisfação, eficiência etc. Nesse sentido, deverão compor o rol de conteúdos da disciplina de Educação Física na escola, numa dimensão mais biológica, por exemplo:

  • as relações entre nutrição, gasto energético e as diferentes práticas corporais;
  • as relações entre exercício, lesões e uso de anabolizantes;
  • o desenvolvimento das capacidades físicas (força, resistência e flexibilidade) e a aquisição e melhoria da saúde.

Além disso, numa dimensão mais sociocultural, devem ser esclarecidos aos alunos alguns pontos, relacionando:

  • esporte, sociedade e interesses econômicos;
  • organização social, esporte e violência;
  • o esporte com intenções de lazer e de profissionalização;
  • a história e o contexto das diferentes modalidades esportivas;
  • qualidade de vida, atividade física e contexto sociocultural;
  • as diferenças e similaridades entre a prática dos jogos e dos esportes;
  • as adaptações necessárias para a prática do esporte voltado para o lazer.

E, finalmente, os conteúdos de natureza atitudinal são explicitados como objeto de ensino e aprendizagem e propostos como vivências concretas pelo aluno, o que viabiliza a construção de uma postura de responsabilidade perante si e o outro. Na Educação Física escolar, por conta de sua trajetória histórica e da sua tradição, a preocupação do docente centralizava-se no desenvolvimento de conteúdos procedimentais. Entretanto, é preciso superar essa perspectiva fragmentada, envolvendo também as dimensões atitudinal e conceitual. Neste sentido, o papel da Educação Física ultrapassa o ensino de esporte, ginástica, dança, jogos, atividades rítmicas e expressivas e o conhecimento sobre o próprio corpo, em seus fundamentos, técnicas e organização (dimensão procedimental), e inclui também os seus valores subjacentes, ou seja, quais atitudes os alunos devem ter nas e para as atividades corporais (dimensão atitudinal). E, finalmente, busca garantir o direito do aluno de saber por que está realizando este ou aquele movimento, isto é, quais conceitos estão ligados àqueles procedimentos (dimensão conceitual).

EDUCAÇÃO FÍSICA

Para quem ensinar?

Os subsídios para que os professores reflitam sobre os processos de ensino e aprendizagem devem ser oferecidos mediante respostas para essa e inúmeras outras questões, como:

  • Quem é o aluno do ensino de jovens e adultos?
  • Quais são os seus interesses de aprendizagem?
  • Quais são os seus conhecimentos prévios?
  • Como são compostos os grupos?
  • Como abordar as diferenças de faixa etária dentro de um mesmo grupo e os diferentes interesses e necessidades?
  • Quais as transformações corporais, cognitivas, afetivas e sociais que ocorrem no universo diversificado dos alunos?
  • Que grau de autonomia, em relação ao próprio processo de aprendizagem, o aluno pode assumir em cada etapa de seu processo?

É preciso lembrar que os alunos de EJA possuem, na maioria da vezes, opinião formada sobre a Educação Física, baseada em suas experiências pessoais anteriores. Se estas foram marcadas por sucesso e prazer, o aluno terá, provavelmente, uma visão favorável quanto a freqüentar as aulas. Ao contrário, quando o aluno registrou várias situações de insucesso, e de alguma forma se excluiu ou foi excluído, sua opção será pela dispensa das aulas, ou a passividade perante as atividades. Transformar essas opiniões se constitui num enorme desafio para os professores de EJA. A adoção da concepção de um ensino contextualizado pode amenizar o afastamento. O tratamento contextualizado do conhecimento é o recurso que a escola tem para demover o aluno da condição de espectador passivo. Se bem trabalhado, permite que, ao longo da transposição didática, o conteúdo do ensino provoque aprendizagens significativas que mobilizem o aluno e estabeleçam entre ele e o objeto do conhecimento uma relação de reciprocidade. O aluno de EJA, jovem ou adulto, traz preocupações pessoais com o próprio corpo e sua saúde que em boa medida são definidas pelo meio sociocultural em que vive – bombardeado pela indústria de massa da cultura e do lazer com falsas necessidades de consumo e com mitos de saúde, desempenho e beleza, assimilando informações pseudocientíficas e imprecisas. Assim, carrega suas visões, fantasias e decisões, atitudes e formas de comportamento em relação a aparência, sexualidade e reprodução, consumo de drogas, hábitos de alimentação, limite e capacidade física, papel do esporte, repouso, atividade e lazer, padrões de beleza e saúde etc.

Cabe à disciplina de Educação Física rever cientificamente a importância dessas questões, para tratá-las pedagogicamente. Conhecer o corpo humano não é apenas saber como operam os diversos órgãos e sistemas, mas principalmente entender como funciona o próprio corpo e os reflexos disso em decisões pessoais de suma importância, tais como fazer dieta, usar anabolizantes, praticar exercícios físicos e exercer a sexualidade. Valores, preconceitos e estereótipos são o pano de fundo determinante para a geração de interesses e motivações dos alunos. Nesse contexto, deve-se valorizar a função social da escola como espaço de experiências em que ampla parcela da população pode ter acesso à prática e à reflexão da cultura corporal de movimento.

Como ensinar?

Nas aulas de Educação Física, os aspectos procedimentais são mais facilmente observáveis, pois a aprendizagem desses conteúdos está necessariamente vinculada à experiência prática. No entanto, a valorização do desempenho – com pouca ênfase no prazer, ou vice-versa –, a abordagem técnica com referência em modelos muito avançados, a desvalorização de conteúdos conceituais e atitudinais e, principalmente, uma concepção de ensino que deixa como única alternativa ao aluno adaptar-se ou não a modelos predeterminados têm resultado, em muitos casos, em exclusão. Portanto, além de buscar meios para garantir a vivência prática da experiência corporal, as propostas de ensino e aprendizagem devem considerar a realidade social e pessoal do aluno e sua percepção de si e do outro, bem como as dúvidas e necessidades de compreensão dessa mesma realidade. A partir da inclusão, pode-se constituir um ambiente de aprendizagem significativa, no qual ele tenha a possibilidade de fazer escolhas, trocar informações, estabelecer questões e construir hipóteses. Ao diversificar as estratégias de abordagem dos conteúdos, aluno e professor podem participar de uma integração cooperativa de construção e descoberta, em que o aluno contribui com seu estilo pessoal de executar e refletir, e, portanto, de aprender, trazendo em alguns momentos a síntese da atualidade para o instante da aprendizagem (recursos de troca de informações, conhecimentos prévios, informações da mídia etc.), e o professor promove uma visão organizada do processo como uma possibilidade real (experiência socioculturalmente construída, referências para a leitura etc.). Em EJA, essa organização do professor pode ser complementada mediante a ação dos alunos, que se tornam co-responsáveis pelo ensino e aprendizagem dos colegas. Muitas vezes subjaz a ela uma aparente desorganização – se

políticos, a globalização no esporte, o uso de anabolizantes, a ética e o fair play , a presença feminina, as adaptações e treinamentos físicos necessários, lesões e muitos outros temas. Incluir no processo de construção do conhecimento o debate de assuntos polêmicos em torno das atividades físicas e do esporte-espetáculo, aliando a isso o estímulo à pesquisa, ao debate e ao confronto de opiniões, pode representar uma mudança na relação com o conhecimento, fundamentando uma observação crítica ao que se apresenta como verdade “científica”, ou ao conhecimento do senso comum

Usufruir do tempo livre de lazer, resgatando o prazer enquanto aspecto fundamental para a saúde e melhoria da qualidade de vida. É fundamental abordar diferentes práticas corporais como forma de lazer, que é um importante direito social (assegurado constitucionalmente). Devem ser oferecidas, ao aluno, condições para o exercício desse direito. Valorizar o período de lazer para a ampliação das relações interpessoais dentro da comunidade é pensar em qualidade de vida, que pode ser promovida por meio de algumas atitudes como a reivindicação de espaços públicos para esse fim e a organização em torno da utilização desses espaços. Promover trabalhos em grupo para discutir a gestão de tais espaços, pesquisando na própria comunidade ou em outros espaços, pode ser o ponto de partida para um trabalho que viabilize alternativas com um público que apresenta maiores possibilidades de interferência na comunidade.

Valorizar, por meio do conhecimento sobre o corpo, a formação de hábitos de cuidado pessoal. Trata-se de ampliar os conhecimentos relacionados à saúde mediante práticas da cultura corporal de movimento que tenham reflexo na melhoria da qualidade de vida e no bem-estar. Propostas de ensino que contemplem tal objetivo são oportunas nesse momento da escolarização e muitas vezes representam a única via de acesso a esse conhecimento para o aluno de EJA. Por exemplo, o uso do corpo em situações de trabalho repetitivo, as posições de apoio que protegem a coluna durante um esforço físico, a relação entre atividades aeróbicas e doenças cardiovasculares etc.

Compreender e ser capaz de analisar criticamente valores sociais como padrões de beleza, relações entre os sexos e preconceitos. Analisar os padrões de estética veiculados pela mídia, relacionando-os aos diferentes significados e interesses a eles vinculados, abre espaço ao debate sobre Consumo e Trabalho relacionados ao corpo e ao movimento. Pode-se

EDUCAÇÃO FÍSICA

incluir, enquanto abordagem de conteúdos, os modelos estéticos e a sua relação com o comércio de produtos dietéticos, com os modismos das dietas, com programas de emagrecimento e atividade física veiculados pela mídia etc. Não se trata de negar os conhecimentos construídos sobre a necessidade de combate ao sedentarismo, mas, antes de tudo, de fornecer informações que possibilitem a análise dos meios de comunicação e possam gerar um grau de autonomia no gerenciamento de práticas pessoais.

Conteúdos do ensino de Educação FísicaConteúdos do ensino de Educação FísicaConteúdos do ensino de Educação Física Conteúdos do ensino de Educação FísicaConteúdos do ensino de Educação Física

Os conteúdos são apresentados segundo categorias: conceitual (fatos, conceitos e princípios), procedimental (ligados ao fazer) e atitudinal (normas, valores e atitudes). Os dois primeiros mantêm uma grande proximidade, na medida em que o objeto central da cultura corporal de movimento gira em torno do fazer, do compreender e do sentir com o corpo (incluem-se também nessas categorias os processos de aprendizagem, organização e avaliação). Os conteúdos atitudinais apresentam-se como objeto de ensino e aprendizagem e apontam para a necessidade de serem vivenciados concretamente no cotidiano escolar, buscando-se minimizar a construção de valores e atitudes por meio do “currículo oculto”. É importante ainda considerar em que medida as normas e valores dos alunos de EJA determinam sua participação nas atividades.

Critérios de seleção dos conteúdos

Para garantir a coerência entre a concepção exposta e a concretização dos objetivos, alguns critérios foram utilizados a fim de selecionar os conteúdos que serão trabalhados com os alunos. Sua definição buscou guardar uma amplitude que possibilite a consideração das diferenças entre regiões, cidades e localidades brasileiras e suas respectivas populações. Além disso, tomou-se como referencial a diversidade de possibilidades de aprendizagem dos alunos nessa etapa da escolaridade. A seleção dos conteúdos está vinculada à relevância que essas práticas têm na cultura corporal de movimento do povo brasileiro. A aprendizagem delas, enquanto conteúdo, deve ser ampliada, considerando as dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais, as capacidades de interação social, o usufruto das possibilidades de lazer e a promoção da saúde pessoal e coletiva. É importante também, sempre que possível, estabelecer vínculos com os temas transversais, atendendo à demanda social sem perder de vista as características do aluno de EJA.

EDUCAÇÃO FÍSICA

principalmente a partir da percepção do próprio corpo, isto é, o aluno será capaz de, estimulado por suas sensações e de posse de informações conceituais sistematizadas, analisar e compreender as alterações que ocorrem em si mesmo durante e depois de fazer atividades. Poderão ser feitas análises sobre alterações no curto, médio ou longo prazo. Sob a ótica da percepção do próprio corpo, os alunos também poderão analisar seus movimentos no tempo e no espaço: como são seus deslocamentos, qual é sua velocidade etc. Fazem parte deste bloco os conhecimentos sobre os hábitos de postura e atitudes corporais. A ênfase deste item está na relação entre as possibilidades e as necessidades biomecânicas e a construção sociocultural. Por que, por exemplo, os orientais sentam-se no chão, com as costas eretas? Por que há uma tendência de as pessoas se apoiarem em apenas uma das pernas quando estão de pé? Observar e procurar compreender essas atitudes corporais são atividades que podem ser desenvolvidas juntamente com projetos de História, Geografia e Pluralidade Cultural. Além da análise dos diferentes hábitos, pode-se incluir a questão da postura dos alunos na escola (as mais adequadas para determinadas tarefas e diferentes situações etc.). O corpo, como sede de sensações e emoções, deve ser contemplado como conteúdo, de modo a permitir a compreensão da dimensão emocional que se expressa nas práticas da cultura corporal de movimento e a percepção do corpo sensível e emotivo, por meio de vivências como jogos dramáticos, mímicas, massagem etc.

Esportes, jogos, lutas e ginásticas

Não se pretende, com esta proposta, definir cada uma das práticas, mas transformá-la em um instrumento viável ao professor e à escola no sentido de operacionalizar e sistematizar os conteúdos da forma mais abrangente, diversificada e articulada possível. As práticas que adotam as regras de caráter oficial e competitivo, organizadas por federações regionais, nacionais e internacionais que regulamentam a atuação amadora e a profissional, são consideradas como esporte. Envolvem condições de local – como campos, piscinas, pistas, ringues, ginásios etc. – e equipamentos sofisticados. A divulgação pela mídia favorece a sua apreciação por um diverso contingente de grupos sociais e culturais. Por exemplo, os jogos olímpicos, a copa do mundo de futebol, determinadas lutas de boxe profissional são vistos e discutidos por um grande número de apreciadores e torcedores. Os jogos podem ter maior flexibilidade nas regulamentações, que são adaptadas em função das condições de espaço e material disponíveis e do número de participantes, entre outros. São exercidos com caráter competitivo,

cooperativo ou recreativo em situações festivas, comemorativas, de confraternização ou, ainda, no cotidiano, como simples passatempo e diversão. Assim, incluem-se entre os jogos as brincadeiras regionais, os jogos de salão, de mesa, de tabuleiro, de rua e as brincadeiras infantis de modo geral. As lutas são disputas em que o oponente deve ser subjugado com técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um determinado espaço na combinação de ações de ataque e defesa. Caracterizam- se por uma regulamentação específica, a fim de punir atitudes de violência desnecessária e deslealdade. Podem ser citados, como exemplos de lutas, desde as brincadeiras de cabo-de-guerra e braço-de-ferro até práticas mais complexas como capoeira, judô e caratê. As ginásticas são técnicas de trabalho corporal que, de modo geral, assumem um caráter individualizado com finalidades diversas. Por exemplo, podem ser feitas como preparação para outras modalidades, como relaxamento, para manter ou recuperar a saúde ou, ainda, como forma de recreação, competição e convívio social. Envolvem às vezes a utilização de materiais e aparelhos, podendo ocorrer em espaços fechados, ao ar livre e na água. Cabe ressaltar que são conteúdos que têm uma relação privilegiada com o bloco de “Conhecimentos sobre o corpo”, pois, nas atividades de ginásticas, estes se explicitam com bastante clareza. Atualmente, existem várias técnicas de ginástica que trabalham de modo diferente das tradicionais (de exercícios rígidos, mecânicos e repetitivos), visando a percepção do próprio corpo: ter consciência da respiração, perceber o relaxamento e a tensão dos músculos, sentir as articulações da coluna vertebral. Uma prática pode ser vivida ou classificada em função do contexto em que ocorre e das intenções de seus praticantes. Por exemplo, o futebol pode ser praticado como um esporte, em que se valorizam os aspectos formais, considerando as regras oficiais estabelecidas internacionalmente (e que incluem as dimensões do campo, o número de participantes, o diâmetro e o peso da bola, entre outros aspectos), com platéia, técnicos e árbitros. Ou pode ser considerado um jogo, quando ocorre na praia, ao final da tarde, com times compostos na hora, sem árbitro nem torcida, com fins puramente recreativos. Incluem-se, neste bloco, as informações históricas sobre as origens e características dos esportes, jogos, lutas e ginásticas, assim como a valorização e a apreciação dessas práticas.

Atividades rítmicas e expressivas

Em princípio, é relevante sublinhar que todas as práticas abordadas, mais ou menos explicitamente, possuem expressividade e ritmo. Quanto à expressão, elas se constituem em códigos simbólicos, por meio dos quais a vivência