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Herança de Max Weber: Economia e Sociedade na Edição de Suas Obras Completas (mwg), Manuais, Projetos, Pesquisas de Economia

Este artigo discute a herança de max weber através da edição de sua obra completa (mwg), enfatizando as complexidades na organização dos textos de economia e sociedade. O autor explora as decisões editoriais de marianne weber e johannes winckelmann, as diferentes versões e fases de concepção e composição dos escritos, além de destacar a importância de textos relacionados como a sociologia da religião e a sociologia do direito.

O que você vai aprender

  • Como as edições anteriores de Economia e Sociedade foram organizadas por Marianne Weber e Johannes Winckelmann?
  • Quais outros textos de Max Weber são relevantes para a compreensão de Economia e Sociedade?
  • Qual foi a intenção original de Max Weber para Economia e Sociedade?

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Florentino88
Florentino88 🇧🇷

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“Economia e sociedade”
A herança de Max Weber à luz da edição de sua
Obra completa (mwg)
Sabemos que Economia e sociedade de Max Weber, organizado por Ma-
rianne Weber e posteriormente por Johannes Winckelmann, é um torso.
Weber entregou para impressão apenas os três primeiros capítulos e o início
do quarto; somente estes são “autorizados”. Marianne Weber e Johannes
Winckelmann consideraram que esses capítulos e os textos encontrados no
espólio formavam uma obra coesa e os apresentaram como uma unidade.
Mas não é esse o caso. É bastante improvável que o próprio Max Weber
tivesse publicado uma obra como Economia e sociedade na forma que atual-
mente a conhecemos. O que temos diante de nós são versões inacabadas,
originadas em diferentes fases de trabalho. A situação tornou-se ainda mais
complicada quando, em 1956, Johannes Winckelmann, a partir do acervo
dos textos legados por Weber, acrescentou à quarta edição de Economia e
sociedade uma “Sociologia do Estado”. Embora Weber a tenha planejado,
não foi encontrado no espólio um manuscrito correspondente. Winckel-
mann compilou a seção 8 do capítulo “Sociologia da dominação” a partir de
outras publicações de Weber, em suas palavras, a “complementando dentro
do possível” a partir de “propósitos conscientemente didáticos” (Winckel-
mann, 1972, p. xix). Temos, portanto, três acervos de textos em Economia
e sociedade : 1) os textos que o próprio Weber, entre 1919-1920, entregou
para impressão e corrigiu; 2) os textos que não se encontram ordenados no
espólio e 3) a “Sociologia do Estado” compilada por Winckelmann.
M. Rainer Lepsius
Tradução de Sibele Paulino
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“Economia e sociedade”

A herança de Max Weber à luz da edição de sua

Obra completa (mwg)

Sabemos que Economia e sociedade de Max Weber, organizado por Ma- rianne Weber e posteriormente por Johannes Winckelmann, é um torso. Weber entregou para impressão apenas os três primeiros capítulos e o início do quarto; somente estes são “autorizados”. Marianne Weber e Johannes Winckelmann consideraram que esses capítulos e os textos encontrados no espólio formavam uma obra coesa e os apresentaram como uma unidade. Mas não é esse o caso. É bastante improvável que o próprio Max Weber tivesse publicado uma obra como Economia e sociedade na forma que atual- mente a conhecemos. O que temos diante de nós são versões inacabadas, originadas em diferentes fases de trabalho. A situação tornou-se ainda mais complicada quando, em 1956, Johannes Winckelmann, a partir do acervo dos textos legados por Weber, acrescentou à quarta edição de Economia e sociedade uma “Sociologia do Estado”. Embora Weber a tenha planejado, não foi encontrado no espólio um manuscrito correspondente. Winckel- mann compilou a seção 8 do capítulo “Sociologia da dominação” a partir de outras publicações de Weber, em suas palavras, a “complementando dentro do possível” a partir de “propósitos conscientemente didáticos” (Winckel- mann, 1972, p. xix). Temos, portanto, três acervos de textos em Economia e sociedade : 1) os textos que o próprio Weber, entre 1919-1920, entregou para impressão e corrigiu; 2) os textos que não se encontram ordenados no espólio e 3) a “Sociologia do Estado” compilada por Winckelmann.

M. Rainer Lepsius

Tradução de Sibele Paulino

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Disso, os organizadores da mwg extraíram três encaminhamentos. Em primeiro lugar, as compilações de Winckelmann foram retiradas do texto e editadas no âmbito dos escritos originais de Weber, a saber: os textos “Política como profissão” e “Parlamento e governo na Alemanha reordena- da”, assim como a “História econômica”. Em segundo lugar, separaram-se os capítulos entregues por Weber para impressão daqueles outros que integravam os acervos do espólio. Eles serão publicados em separado no volume 23 da seção i da mwg. Em terceiro lugar, os acervos do espólio dos anos 1909-1914 foram editados em cinco tomos no volume 22 da seção i. Com isso, já deve tornar-se visível que Economia e sociedade em sua versão tradicional não existe e, menos ainda, na versão de estudo difundida pela quinta edição de 1972. Com efeito, a edição mantém como título principal o já instituído Economia e sociedade , mas diferencia, por meio do subtítulo, as versões de antes da Primeira Guerra da versão do pós-guerra. Os tomos do volume 22 da seção i da mwg, com os textos oriundos do espólio, trazem o subtítulo “A economia e as ordens e poderes sociais”, que Weber havia escolhido em 1914 para a sua contribuição no Grundriss der Sozialökonomik [Compendio de economia social]. No volume 23 da seção i da mwg, por outro lado, o subtítulo é “Sociologia”. Como se pode depreender da correspondência com o editor, Weber falava com frequência da “minha sociologia”. Ademais, há uma prova de impressão com esse título. “Economia e sociedade” era, em 1914, o título de uma seção específica do Grundriss der Sozialökonomik , que deveria compreender, ao lado da contribuição de Weber, também uma de Eugen von Philippovich. Após a morte de Weber, e por iniciativa de sua viúva, a contribuição de Philippovich foi publicada em outra parte do Grundriss , com isso, a seção “Economia e sociedade” passou a conter apenas a contribuição de Weber. E o que era o título da seção passou a ser o título da contribuição. Portanto, havia vários motivos para eliminar totalmente o título “Economia e sociedade” da edição e utilizar apenas o subtítulo atual. Entretanto, um título já enraizado há tantas décadas deveria ser mantido. A mwg trabalhou minuciosamente a massa de material textual do espó- lio. Em formato gráfico maior, depois do redimensionamento das partes (eliminando a composição em tipos menores) e em razão do acréscimo dos comentários, temos agora cinco tomos imponentes: 1) “Comunidades”; 2) “Comunidades religiosas”; 3) “Direito”; 4) “Dominação”; 5) “A cidade”. Weber não deixou instruções quanto à disposição dos textos que se encon-

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sobre “religião”, “direito” e “Estado”, ainda que Weber não tivesse se ma- nifestado por uma sequência exata desses temas. Com relação ao capítulo “Estamentos e classes”, ele também poderia ter sido intitulado “Tipos de desigualdade social”: desigualdade segundo a situação econômica de vida e a posição externa de vida (classes) e desigualdade segundo o prestígio social e conduta interna de vida (estamentos). Nos primeiros quatro capítulos, Weber tratou de categorias gerais, que aparecem em todas as relações comu- nitárias e societárias. Ambas as reformulações mostram a estrutura interna modificada da versão de 1919-1920. Estamentos e classes são tratados agora em separado das comunidades, desvinculados dos partidos e considerados como processos gerais de estruturação do agir social.

  1. Faltava uma introdução sistemática aos manuscritos do espólio. O texto que provavelmente ocupava essa posição, “Sobre algumas categorias da sociologia compreensiva”, foi publicado em separado por Weber em
  2. Ele foi substituído pelos “Conceitos sociológicos fundamentais”, cuja terminologia, por essa razão, também não se encontra nos manuscritos do espólio. Mas tampouco a terminologia do artigo sobre as categorias foi utili- zada continuadamente. Esta última, utilizada em parte nos manuscritos do espólio, precisa ser vista como superada. Os conceitos de “agir comunitário” e “agir concordante” foram substituídos pelo de “agir social”. A nova introdução, “Conceitos sociológicos fundamentais”, não faz mais parte do contexto do Grundriss der Sozialökonomik nem de sua estrutura- ção de 1914, mas constitui fundamentação da sociologia compreensiva de Weber, que tem seu ponto de partida nas orientações da ação e progride sistematicamente, passando pelas relações e ordenações sociais, até as asso- ciações. Trata-se, de fato, de um texto de “sociologia”. No decorrer de 1913, Max Weber via-se cada vez mais como sociólogo. Em 30 de dezembro de 1913, ele escreveu a Paul Siebeck: “elaborei uma teoria e uma exposição sociológicas acabadas” (mwg ii/8, p. 449). Já em 23 de janeiro de 1913, ele tinha anunciado “uma completa teoria sociológica do estado” (mwg ii/8, p. 53). Aqui já é visível a intenção de uma nova versão, que Weber, contudo, levou a cabo somente depois da guerra.
  3. Não sabemos que forma Weber teria dado aos manuscritos do espólio que não foram retrabalhados; em todo caso, eles não são textos autorizados pelo autor.
  4. Os textos do espólio, editados no tomo 1 do volume 22 da seção i, “Comunidades”, são em parte fragmentários e devem ser lidos como tal. Pode-se supor que Weber os teria retrabalhado para a impressão.

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  1. Como se sabe, a “Sociologia da religião”, editada no tomo 2 do volume 22 da seção i, “Comunidades religiosas”, possui relação de complementari- dade com os estudos sobre a “Ética econômica das religiões universais”, em especial sua segunda parte, do oitavo parágrafo em diante. Não sabemos como Weber, ao retomar a sociologia da religião, a teria vinculado com os Gesammelte Aufsätze zur Religionssoziologie [Escritos reunidos de sociologia da religião].
  2. O tomo “Direito” abrange dois textos: “Condições de desenvolvimento do direito” (a antiga sociologia do direito) e “A economia e as ordenações” (cf. mwg i/ 22-3). Este último, em sua versão original – uma das mais antigas contribuições ao projeto –, foi alocado em diferentes lugares por Marianne Weber e Johannes Winckelmann. De resto, esses textos sobre “direito”, nem sempre de fácil leitura, tornaram-se mais transparentes por meio de comen- tários minuciosos. Como, nesse caso, os manuscritos de Weber subsistiram (amplamente) na forma original, a edição possibilita uma visada única no modo de trabalho de Weber. A cada novo exame de seus manuscritos, ele costumava complementá-los ou ampliá-los, com o que ocasionalmente tornava obscuro o encadeamento das ideias. Esses acréscimos e ampliações dificultam a leitura. Também no caso dos textos sobre a sociologia do direito, pode-se supor que Weber os teria comprimido e abreviado, como no caso da “Sociologia da dominação”.
  3. Como já foi mencionado, a “Sociologia da dominação” (cf. mwg i/22- 4 ) existe em uma versão mais antiga e em outra mais nova. As diferenças na formação de conceitos e na disposição não permitem tratá-la como uma unidade. Uma vez que Weber havia tratado dos “tipos de dominação” no capítulo iii reformulado, sem dúvida a antiga “Sociologia da dominação” não seria mais publicada. O lugar desta seria decerto ocupado pela planejada “Sociologia do Estado”.
  4. O status do texto “A cidade” (cf. mwg i/ 22-5) continua sendo con- troverso. Também aqui pode-se presumir que Weber teria retrabalhado em profundidade a versão disponível para a publicação, ou mesmo a teria publicado fora de Economia e sociedade.

Em suma, é certo que os manuscritos do espólio foram produzidos em diferentes momentos, entre 1909 e 1914, e que as ideias de Weber sobre a composição modificaram-se substantancialmente durante esse período. A “Disposição da obra como um todo” de 1914 mostra grande ampliação se comparada ao “Plano de distribuição da matéria”, de 1910 (cf. mwg i / 24,

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uma nota preliminar, ele não deveria desenvolver “nenhum tipo de teoria econômica”. E ainda: “Toda e qualquer ‘dinâmica’ permanece por ora de lado” (Weber, 1972, p. 31). Isso remete inicialmente à distinção entre teoria econômica, história econômica e sociologia econômica – uma diferenciação de perspectivas de problematização. O capítulo deveria, portanto, desen- volver categorias fundamentais da sociologia econômica. Fica claro o que Weber entendia por teoria econômica no curso “Econo- mia política geral (‘teórica’)” e no handout preparado para este. A mwg, nesse ínterim, publicou esse curso e o handout deste no volume 1 da seção iii^1. Para Weber, a teoria econômica refere-se a um “sujeito econômico construído” e argumenta, portanto, com “um ser humano irreal , análogo a uma figura ideal matemática” nos quadros de uma ordem econômica (cf. mwg iii/ 1 , pp. 123 ss.). Aqui, Weber segue amplamente a escola austríaca. Sua sociologia econômica contrasta com isso, pois analisa o agir econômico não de modo abstrato, mas “realista”, e com isso leva em consideração a “relação da economia com ou- tros fenômenos culturais, sobretudo o direito e o Estado”, tal como enuncia o título do parágrafo 6 da disposição dos temas do curso de 1898 (cf. mwg iii/ 1 , p. 364). Isso também corresponde à disposição estabelecida por Weber para sua contribuição para o Grundriss der Sozialekonömik de 1910, nesse momento ainda denominado Handbuch der politischen Ökonomie [Manual de economia política]. Por fim, a história econômica ocupa-se das transfor- mações das condições organizacionais e institucionais, mas também mentais, do agir econômico, em especial do “surgimento do capitalismo moderno” e da relação de racionalidade e irracionalidade na vida econômica. É inevitável que a “racionalidade material” (no sentido de suprimento das necessidades) e a “racionalidade formal” (no sentido de cálculo exato) afastam-se uma da outra: essa irracionalidade fundamental e, ao fim, inevitável da economia é uma das fontes de toda a “problemática ‘social’” (Weber, 1972, p. 60). As dis- tinções fundamentais são, de um lado, entre o orçamento orientado segundo as necessidades e a atividade econômica orientada ao lucro e, de outro lado, entre “capitalismo moderno” e formas econômicas pré-modernas. Também nestas, Weber reconhece variadas características capitalistas. Quanto a isso, cabe indicar o curso “Compêndio de história universal social e econômica” (cf. mwg iii/ 6 ), publicado a partir de anotações de aula. O capítulo “As categorias sociológicas fundamentais da economia” em Economia e sociedade , portanto, é o lugar certo para conhecer maiores detalhes sobre a sociologia econômica. Em comparação com o primeiro capítulo, que em trinta páginas apresenta uma fundamentação teórica da

  1. Ver a respeito o artigo de Knut Borchardt neste Dossiê. [N. E.]

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“sociologia compreensiva”, o segundo capítulo, três vezes mais extenso com suas noventa páginas, não contém qualquer fundamentação sistemática similar da sociologia econômica. Atividade econômica é agir/agir social de indivíduos e de associações. A exposição inicia-se com uma casuística deta- lhada de tipos de agir econômico e de associações econômicas, associações parcialmente econômicas e associações reguladoras da economia. Seguem-se seções (ordenadas segundo critérios morfológicos) sobre dinheiro, crédito, mercado, racionalidade formal e material e a apropriação de oportunidades de disponibilidade. O teor sociológico depreende-se, não sem restrições, de uma casuística excessiva. Weber acentuava o potencial de luta e de conflito da atividade econômica; a guerra de preços sob oportunidades de mercado desiguais; os conflitos de interesse na imposição de regulações jurídicas e estatais da economia e, ligadas a isso, as oportunidades desiguais de apropriação da valorização do trabalho e dos meios objetivos de aquisição. Para Weber, atividade econômica significa sempre “a luta do homem com o homem” (Weber, 1972, p. 49, 58) por oportunidades de rentabilidade, direito de disposição de recursos aquisitivos, oportunidades de aquisição e de suprimento. Por fim, importante notar que as reflexões de Weber sobre a sociologia econômica encontram-se não só nesse capítulo, mas também em diversas partes de sua obra, como, por exemplo, em seu estudo sobre o capitalismo antigo (cf. mwg i/ 6 ); sobre a bolsa de valores (cf. mwg i/ 5 ); sobre a psicofísica do trabalho industrial (cf. mwg i/ 11 ); sobre a questão dos trabalhadores ru- rais (cf. mwg i/3, 4); nas notas para os cursos (cf. mwg iii/1, 4-5); assim como, evidentemente, na história social e econômica (cf. mwg iii/ 6 ) e nos estudos sobre a ética protestante e a ética econômica das religiões universais (cf. mwg i/ 9 , 18, 19-21). A reconstrução da sociologia econômica de Weber, com suas variadas problematizações e conceitos, precisa, portanto, levar em consideração vários de seus textos. Sob esse ponto de vista, sua herança ainda não está definida. A tríade teoria econômica, sociologia econômica e história eco- nômica contém tanto tensões de concepção como superposições materiais, que ainda resta analisar.