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Este artigo discute a herança de max weber através da edição de sua obra completa (mwg), enfatizando as complexidades na organização dos textos de economia e sociedade. O autor explora as decisões editoriais de marianne weber e johannes winckelmann, as diferentes versões e fases de concepção e composição dos escritos, além de destacar a importância de textos relacionados como a sociologia da religião e a sociologia do direito.
O que você vai aprender
Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas
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Não perca as partes importantes!
Sabemos que Economia e sociedade de Max Weber, organizado por Ma- rianne Weber e posteriormente por Johannes Winckelmann, é um torso. Weber entregou para impressão apenas os três primeiros capítulos e o início do quarto; somente estes são “autorizados”. Marianne Weber e Johannes Winckelmann consideraram que esses capítulos e os textos encontrados no espólio formavam uma obra coesa e os apresentaram como uma unidade. Mas não é esse o caso. É bastante improvável que o próprio Max Weber tivesse publicado uma obra como Economia e sociedade na forma que atual- mente a conhecemos. O que temos diante de nós são versões inacabadas, originadas em diferentes fases de trabalho. A situação tornou-se ainda mais complicada quando, em 1956, Johannes Winckelmann, a partir do acervo dos textos legados por Weber, acrescentou à quarta edição de Economia e sociedade uma “Sociologia do Estado”. Embora Weber a tenha planejado, não foi encontrado no espólio um manuscrito correspondente. Winckel- mann compilou a seção 8 do capítulo “Sociologia da dominação” a partir de outras publicações de Weber, em suas palavras, a “complementando dentro do possível” a partir de “propósitos conscientemente didáticos” (Winckel- mann, 1972, p. xix). Temos, portanto, três acervos de textos em Economia e sociedade : 1) os textos que o próprio Weber, entre 1919-1920, entregou para impressão e corrigiu; 2) os textos que não se encontram ordenados no espólio e 3) a “Sociologia do Estado” compilada por Winckelmann.
Tradução de Sibele Paulino
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Disso, os organizadores da mwg extraíram três encaminhamentos. Em primeiro lugar, as compilações de Winckelmann foram retiradas do texto e editadas no âmbito dos escritos originais de Weber, a saber: os textos “Política como profissão” e “Parlamento e governo na Alemanha reordena- da”, assim como a “História econômica”. Em segundo lugar, separaram-se os capítulos entregues por Weber para impressão daqueles outros que integravam os acervos do espólio. Eles serão publicados em separado no volume 23 da seção i da mwg. Em terceiro lugar, os acervos do espólio dos anos 1909-1914 foram editados em cinco tomos no volume 22 da seção i. Com isso, já deve tornar-se visível que Economia e sociedade em sua versão tradicional não existe e, menos ainda, na versão de estudo difundida pela quinta edição de 1972. Com efeito, a edição mantém como título principal o já instituído Economia e sociedade , mas diferencia, por meio do subtítulo, as versões de antes da Primeira Guerra da versão do pós-guerra. Os tomos do volume 22 da seção i da mwg, com os textos oriundos do espólio, trazem o subtítulo “A economia e as ordens e poderes sociais”, que Weber havia escolhido em 1914 para a sua contribuição no Grundriss der Sozialökonomik [Compendio de economia social]. No volume 23 da seção i da mwg, por outro lado, o subtítulo é “Sociologia”. Como se pode depreender da correspondência com o editor, Weber falava com frequência da “minha sociologia”. Ademais, há uma prova de impressão com esse título. “Economia e sociedade” era, em 1914, o título de uma seção específica do Grundriss der Sozialökonomik , que deveria compreender, ao lado da contribuição de Weber, também uma de Eugen von Philippovich. Após a morte de Weber, e por iniciativa de sua viúva, a contribuição de Philippovich foi publicada em outra parte do Grundriss , com isso, a seção “Economia e sociedade” passou a conter apenas a contribuição de Weber. E o que era o título da seção passou a ser o título da contribuição. Portanto, havia vários motivos para eliminar totalmente o título “Economia e sociedade” da edição e utilizar apenas o subtítulo atual. Entretanto, um título já enraizado há tantas décadas deveria ser mantido. A mwg trabalhou minuciosamente a massa de material textual do espó- lio. Em formato gráfico maior, depois do redimensionamento das partes (eliminando a composição em tipos menores) e em razão do acréscimo dos comentários, temos agora cinco tomos imponentes: 1) “Comunidades”; 2) “Comunidades religiosas”; 3) “Direito”; 4) “Dominação”; 5) “A cidade”. Weber não deixou instruções quanto à disposição dos textos que se encon-
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sobre “religião”, “direito” e “Estado”, ainda que Weber não tivesse se ma- nifestado por uma sequência exata desses temas. Com relação ao capítulo “Estamentos e classes”, ele também poderia ter sido intitulado “Tipos de desigualdade social”: desigualdade segundo a situação econômica de vida e a posição externa de vida (classes) e desigualdade segundo o prestígio social e conduta interna de vida (estamentos). Nos primeiros quatro capítulos, Weber tratou de categorias gerais, que aparecem em todas as relações comu- nitárias e societárias. Ambas as reformulações mostram a estrutura interna modificada da versão de 1919-1920. Estamentos e classes são tratados agora em separado das comunidades, desvinculados dos partidos e considerados como processos gerais de estruturação do agir social.
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Em suma, é certo que os manuscritos do espólio foram produzidos em diferentes momentos, entre 1909 e 1914, e que as ideias de Weber sobre a composição modificaram-se substantancialmente durante esse período. A “Disposição da obra como um todo” de 1914 mostra grande ampliação se comparada ao “Plano de distribuição da matéria”, de 1910 (cf. mwg i / 24,
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uma nota preliminar, ele não deveria desenvolver “nenhum tipo de teoria econômica”. E ainda: “Toda e qualquer ‘dinâmica’ permanece por ora de lado” (Weber, 1972, p. 31). Isso remete inicialmente à distinção entre teoria econômica, história econômica e sociologia econômica – uma diferenciação de perspectivas de problematização. O capítulo deveria, portanto, desen- volver categorias fundamentais da sociologia econômica. Fica claro o que Weber entendia por teoria econômica no curso “Econo- mia política geral (‘teórica’)” e no handout preparado para este. A mwg, nesse ínterim, publicou esse curso e o handout deste no volume 1 da seção iii^1. Para Weber, a teoria econômica refere-se a um “sujeito econômico construído” e argumenta, portanto, com “um ser humano irreal , análogo a uma figura ideal matemática” nos quadros de uma ordem econômica (cf. mwg iii/ 1 , pp. 123 ss.). Aqui, Weber segue amplamente a escola austríaca. Sua sociologia econômica contrasta com isso, pois analisa o agir econômico não de modo abstrato, mas “realista”, e com isso leva em consideração a “relação da economia com ou- tros fenômenos culturais, sobretudo o direito e o Estado”, tal como enuncia o título do parágrafo 6 da disposição dos temas do curso de 1898 (cf. mwg iii/ 1 , p. 364). Isso também corresponde à disposição estabelecida por Weber para sua contribuição para o Grundriss der Sozialekonömik de 1910, nesse momento ainda denominado Handbuch der politischen Ökonomie [Manual de economia política]. Por fim, a história econômica ocupa-se das transfor- mações das condições organizacionais e institucionais, mas também mentais, do agir econômico, em especial do “surgimento do capitalismo moderno” e da relação de racionalidade e irracionalidade na vida econômica. É inevitável que a “racionalidade material” (no sentido de suprimento das necessidades) e a “racionalidade formal” (no sentido de cálculo exato) afastam-se uma da outra: essa irracionalidade fundamental e, ao fim, inevitável da economia é uma das fontes de toda a “problemática ‘social’” (Weber, 1972, p. 60). As dis- tinções fundamentais são, de um lado, entre o orçamento orientado segundo as necessidades e a atividade econômica orientada ao lucro e, de outro lado, entre “capitalismo moderno” e formas econômicas pré-modernas. Também nestas, Weber reconhece variadas características capitalistas. Quanto a isso, cabe indicar o curso “Compêndio de história universal social e econômica” (cf. mwg iii/ 6 ), publicado a partir de anotações de aula. O capítulo “As categorias sociológicas fundamentais da economia” em Economia e sociedade , portanto, é o lugar certo para conhecer maiores detalhes sobre a sociologia econômica. Em comparação com o primeiro capítulo, que em trinta páginas apresenta uma fundamentação teórica da
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“sociologia compreensiva”, o segundo capítulo, três vezes mais extenso com suas noventa páginas, não contém qualquer fundamentação sistemática similar da sociologia econômica. Atividade econômica é agir/agir social de indivíduos e de associações. A exposição inicia-se com uma casuística deta- lhada de tipos de agir econômico e de associações econômicas, associações parcialmente econômicas e associações reguladoras da economia. Seguem-se seções (ordenadas segundo critérios morfológicos) sobre dinheiro, crédito, mercado, racionalidade formal e material e a apropriação de oportunidades de disponibilidade. O teor sociológico depreende-se, não sem restrições, de uma casuística excessiva. Weber acentuava o potencial de luta e de conflito da atividade econômica; a guerra de preços sob oportunidades de mercado desiguais; os conflitos de interesse na imposição de regulações jurídicas e estatais da economia e, ligadas a isso, as oportunidades desiguais de apropriação da valorização do trabalho e dos meios objetivos de aquisição. Para Weber, atividade econômica significa sempre “a luta do homem com o homem” (Weber, 1972, p. 49, 58) por oportunidades de rentabilidade, direito de disposição de recursos aquisitivos, oportunidades de aquisição e de suprimento. Por fim, importante notar que as reflexões de Weber sobre a sociologia econômica encontram-se não só nesse capítulo, mas também em diversas partes de sua obra, como, por exemplo, em seu estudo sobre o capitalismo antigo (cf. mwg i/ 6 ); sobre a bolsa de valores (cf. mwg i/ 5 ); sobre a psicofísica do trabalho industrial (cf. mwg i/ 11 ); sobre a questão dos trabalhadores ru- rais (cf. mwg i/3, 4); nas notas para os cursos (cf. mwg iii/1, 4-5); assim como, evidentemente, na história social e econômica (cf. mwg iii/ 6 ) e nos estudos sobre a ética protestante e a ética econômica das religiões universais (cf. mwg i/ 9 , 18, 19-21). A reconstrução da sociologia econômica de Weber, com suas variadas problematizações e conceitos, precisa, portanto, levar em consideração vários de seus textos. Sob esse ponto de vista, sua herança ainda não está definida. A tríade teoria econômica, sociologia econômica e história eco- nômica contém tanto tensões de concepção como superposições materiais, que ainda resta analisar.