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Guias e Dicas
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A Importância da Crítica Literária em Formação da Imagem de Eça de Queirós no Brasil, Notas de aula de Literatura

Este texto apresenta a evolução da recepção crítica de eça de queirós no brasil, desde a primeira aproximação dos leitores brasileiros até as publicações de livros sobre o autor no início do século xx. O documento discute as perspectivas críticas e o processo de construção da imagem do autor, que sofreu mudanças durante o século xx. Além disso, o texto aborda a infância de eça e sua influência na formação do autor, a análise psicológica da obra de eça, e as obras consideradas cruciais para a formação do escritor.

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS COMPARADOS DE
LITERATURAS DE LÍNGUA PORTUGUESA
CRISTIANE NAVARRETE TOLOMEI
Eça de Queirós e os brasileiros
São Paulo
2010
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS COMPARADOS DE

LITERATURAS DE LÍNGUA PORTUGUESA

CRISTIANE NAVARRETE TOLOMEI

Eça de Queirós e os brasileiros

São Paulo

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS COMPARADOS DE

LITERATURAS DE LÍNGUA PORTUGUESA

Eça de Queirós e os brasileiros

Cristiane Navarrete Tolomei

TeseGraduação apresentada em Estudosao Programa Comparados de Pós-de Literaturas de Língua Portuguesa do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, comvistas à obtenção do título de Doutor em Letras.

Orientador: Prof. Dr. Hélder Garmes

São Paulo

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador Hélder Garmes , pela orientação sábia. À professora Elza Miné , por me guiar no início da pesquisa com maestria e companheirismo. Ao professor Paulo Motta , que apresentou sugestões valiosas na qualificação. À professora Fátima Bueno , pelas observações pertinentes durante a qualificação. Às funcionárias do Centro de Estudos das Literaturas e Culturas de Língua Portuguesa (CELP), Creusa e Mari, pelo apoio e amizade. À amiga Cláudia Maria Fernandes Corrêa , pela amizade sincera e divertida, pelo carinho e pelas reflexões a respeito do mundo. À amiga Silvia Dafferner, pelos momentos de aprendizado que passei ao lado dela. À amiga Flávia Rodrigues Benfatti , pelas conversas importantes sobre a vida. À amiga Luciana Prudente Guiotti, pelo apoio importante na reta final do trabalho. Às amigas Daniela, Patrícia e Gisele, companheiras de toda vida. À amiga Marli Baldini , que me mostrou a seriedade da profissão. Às minhas famílias , pela força e entusiasmo e, principalmente, por acreditarem em mim. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelo auxílio financeiro que trouxe tranquilidade durante a pesquisa.

TOLOMEI, C. N. Eça de Queirós e os brasileiros. Tese (Doutorado em Letras, Área de Concentração: Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa). Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.

RESUMO

Este trabalho analisa o delineamento da imagem do escritor português José Maria Eça de Queirós (1845-1900) no Brasil, tomando como base a crítica seminal queirosiana brasileira e verificando como se dá o diálogo entre ela e outras leituras críticas sobre o autor até o final do século passado. Para a realização deste estudo, dividiu-se a crítica queirosiana produzida no Brasil em três momentos: o primeiro, que remonta à primeira crítica de peso sobre Eça, escrita por Machado de Assis, em 1878 até 1942, último livro sobre o escritor que antecede as comemorações da primeira efeméride em 1945, conjunto de textos aqui definido como crítica seminal; o segundo, que apresenta as publicações baseadas no modelo dessa crítica seminal, realizando releituras dos textos fundadores entre as duas grandes efemérides, de 1945 e de 2000; e finalmente o terceiro, que apresenta as publicações não seguidoras da crítica seminal, inaugurando novas abordagens à respeito da vida e da obra de Eça, perfazendo o mesmo período entre 1945 e 2000. Resta, então, demonstrar como a crítica seminal permanece, ainda hoje, como fundamento da imagem vulgarizada do escritor no Brasil.

Palavras-chave: Eça de Queirós; Brasil; crítica; recepção; leitores.

SUMÁRIO

CAPÍTULO I

CRÍTICA SEMINAL (1878 A 1942):

CAPÍTULO II

CAPÍTULO III

  • INTRODUÇÃO
  • A gênese da crítica literária brasileira sobre Eça de Queirós............................................... AS PRIMEIRAS PUBLICAÇÕES SOBRE EÇA NO BRASIL - Brasil........................................................................................................................... 1 Machado de Assis: a pedra basilar no caminho da canonização da obra queirosiana no
    • 2 Miguel Mello: Eça, o domínio da linguagem.............................................................. - 2.1 O estudo da obra................................................................................................ - 2.1.1 O estilo e a linguagem queirosiana...................................................... - 2.1.2 A elaboração dos personagens............................................................. - 2.1.3 As fases da obra queirosiana................................................................ - 2.2 O estudo da vida..............................................................................................
    • 3 Viana Moog: Eça, personagem.................................................................................. - 3.1 A abordagem psicológica da infância de Eça................................................. - 3.2 A formação de Eça.......................................................................................... - 3.3 A autobiografia de Eça....................................................................................
    • 4 Álvaro Lins: Eça, artista............................................................................................. - 4.1 A formação inicial de Eça............................................................................... - 4.2 A construção romanesca.................................................................................
      • 4.3 A centralidade dos personagens......................................................................
      • 4.4 Eça e a política................................................................................................
      • 4.5 O Eça de Álvaro Lins......................................................................................
    • 5 José de Melo Jorge: Eça, criador de tipos...................................................................
      • 5.1 Os personagens tipos: retratos da vida de Eça................................................
    • 6 Clóvis Ramalhete: Eça, uma presença invisível.............................................................
      • 6.1 O culto de Eça no Brasil..................................................................................
      • 6.2 O processo de escrita de Eça...........................................................................
        • 6.2.1 Eça, cronista...............................................................................
        • 6.2.2 Eça, romancista..........................................................................
        • 6.2.3 Eça, correspondente de jornais...................................................
  • A herança da crítica seminal sobre Eça de Queirós no Brasil.............................................. ECOS DA CRÍTICA SEMINAL
    • 1 A análise sócio-histórica sobre Eça.............................................................................
    • 2 O biografismo de Eça................................................................................................
    • 3 A leitura de Eça pela perspectiva psicológica...........................................................
  • A ruptura da crítica seminal sobre Eça de Queirós no Brasil............................................. ALGUNS NOVOS OLHARES A RESPEITO DE EÇA DE QUEIRÓS
    • 1 A tensão dialética na obra queirosiana......................................................................
    • 2 A interpretação estilística da obra queirosiana..........................................................

Eça, quando não vê a olho nu, põe a luneta; quando não vê com a luneta, pega no microscópio; e, se a noite é tenebrosa, transforma- se em tigre; e, se o olhar felino não é ainda bastante perspicaz,transforma-se em vidente, em iluminado.

Guerra Junqueiro

INTRODUÇÃO

Eça de Queirós foi, assim, ajustado ao que era o modo de escrever, digamos normal do seu tempo na Europa. Homem desse tempo, ele captou-lhe a cor própria e a incorporou à sua prosa incomparável, transmitindo-a às sucessivas gerações de leitores. Daí, talvez, a relativa constância do efeito que exerce sobre estes,fazendo com que leiamos hoje de maneira relativamente próxima à dos nossos pais e avós. Antonio Candido

De acordo com os excertos, o coro de vozes que fala de toda parte – e ao mesmo tempo – e que se multiplica, marca o intenso interesse dos brasileiros por Eça de Queirós. Observa-se também o contingente rico e diversificado de leituras que foi aumentando gradativamente desde a época do escritor até hoje. De acordo com Isabel Pires de Lima,

ontem como hoje, cem anos após a sua morte, Eça é lido, relido eestudado por brasileiros e portugueses com idêntico interesse. Uma tal perenidadeatualidade da obra queirosiana. Exatamente porque produziu arte através é sinal indiscutível da elevada dimensão artística e da damomento da publicação, é que Eça de Queirós se mantém atual e linguagem, obsessiva e penosamente trabalhada até ao último continuamos, brasileiros e portugueses, a lê-lo com paixão. A atualidadee a perenidade de um escritor decorrem sobretudo da capacidade de os seus textos gerarem sempre novos leitores, produzirem ao longo dostempos novas interpretações, convidarem à constante revisitação (LIMA, 2000, p. 69).^42

Assim, o presente trabalho procura apresentar o papel da crítica literária sobre Eça no Brasil, tendo em vista as perspectivas críticas e o processo de construção da imagem do autor, que sofreu mudanças durante o século XX. Para desenvolver este estudo, o corpus é constituído por publicações em formato de livro uma vez que ele exerce, na sociedade, um poder maior de legitimidade da produção intelectual. O livro apresenta um valor simbólico superior às outras formas de produção intelectual escrita, como, por exemplo, o periódico, a revista, o panfleto. Desse modo, o livro pode ser tomado como um símbolo do prestígio do autor e da obra. Além disso, em vista de sua extensão, propicia a análise crítica mais detalhada do que um artigo ou ensaio, colocando-se mais facilmente como referência para a reflexão acerca de um escritor. Por conseguinte, busca-se, por meio dos estudos queirosianos publicados em volume durante o século XX, visualizar como a crítica, enquanto mediadora entre os (^42) Este trecho sofreu alteração na mudança da norma linguística portuguesa para a brasileira. No decorrer deste trabalho, sempre quando necessário, ocorrerá esse tipo de modificação.

produtos de bens simbólicos^43 e o público, teve o poder de legitimar a obra de Eça no âmbito da cultura designada erudita, além de atuar como instância significativa na consagração desse autor juntamente ao público. Como nota Bourdieu (1974), é por intermédio da atuação da crítica que muitas obras entram para o cânone literário e Eça, apesar de ter caído no gosto popular, chegando mesmo a ser considerado um autor dotado de um erotismo excessivo, não fora exceção à regra e teve na crítica os mais árduos defensores de seu valor literário. Tendo em mente a importância da crítica brasileira na divulgação de Eça no século passado, esta foi dividida em três momentos distintos, para ilustrar o aprimoramento dos estudos queirosianos no país e, consequentemente, apresentar o delineamento da imagem do autor a partir das diferentes publicações que levaram o leitor brasileiro a imaginar a figura do escritor de diversos ângulos. Inicialmente, privilegia-se a primeira crítica exponencial sobre o escritor no Brasil, elaborada por Machado de Assis, em 1878 (apresentando-se, por sua importância, como a única exceção ao formato livro que caracteriza o recorte deste trabalho), passando-se de imediato para as publicações em livro de 1911 a 1942, quando ocorre o lançamento do último volume sobre o escritor antes das comemorações da primeira efeméride em 1945. Considera-se este conjunto de textos como crítica seminal, pois servirá de base para grande parte dos estudos subsequentes. No segundo momento da tese, apresentam-se as publicações que retomaram o modelo da crítica seminal, realizando releituras ou se apropriando das abordagens críticas dos textos fundadores entre as duas grandes efemérides, de 1945 e de 2000.

(^43) Cf. BORDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1974.

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A gênese da crítica literária brasileira sobre Eça de Queirós Este “Primeiro Capítulo” apresenta o resultado da observação sobre as publicações em formato de livro sobre a vida e a obra de Eça de Queirós no Brasil entre 1911 e 1942. Considera-se esse período a inauguração dos estudos queirosianos no país uma vez que surgem os primeiros textos mais completos sobre o autor português. Embora a preocupação neste trabalho esteja voltada à análise dos volumes, acredita-se que não poderia deixar de citar o trabalho seminal da crítica eciana brasileira publicada por Machado de Assis na segunda metade do século XIX. A importância da crítica machadiana de 1878 sobre a obra realista-naturalista de Eça é vista até hoje como referência aos estudos tanto brasileiros quanto portugueses à produção literária do escritor lusitano. A crítica de Machado abriu caminho para que outros brasileiros se interessassem pela obra queirosiana e passassem a divulgá-la, interpretá-la, analisá-la e tomá-la como patrimônio comum entre Brasil e Portugal. O posicionamento crítico de Machado chamou atenção de outros estudiosos da época e passou a orientá-los, de certa forma, em futuras leituras sobre a obra de Eça. A visão do escritor brasileiro a respeito de O Primo Basílio (1878)^44 desencadeou posicionamentos críticos que percorreram a crítica do século XX. Do texto de Machado até o ano da primeira publicação crítica em formato de livro no Brasil, em 1911, os leitores brasileiros intensificaram a sua aproximação com a obra de Eça, dando início ao chamado culto ao escritor português no país. Esse processo de conhecimento da obra queirosiana dá ao Brasil lugar de destaque na divulgação e análise dos textos queirosianos, já que a recepção no país foi mais intensa do que a dos

(^44) A data de publicação do livro somente será empregada na primeira vez em que o texto for mencionado.

exemplo dessa dedicação foi Gilberto Freyre^49 que não escondia sua admiração por Eça e, muito menos, sua identificação intelectual e artística com o escritor português. No mesmo período – além do número incontável de artigos, capítulos de livros, verbetes de enciclopédias e outros gêneros de texto sobre Eça –, as publicações em forma de livro floresceram e mais outros quatro volumes foram publicados até o início da década de 1940: Eça de Queiroz e o século XIX (1938), por Viana Moog, História Literária de Eça de Queiroz (1939), por Álvaro Lins, Os tipos de Eça de Queiroz (1940), por José de Melo Jorge e Eça de Queiroz (1942), por Clóvis Ramalhete. O lançamento desses cinco volumes em conjunto com outros tipos de publicações contribuiu para a criação de um laço afetivo entre o autor e o seu público brasileiro. Afrânio Peixoto, certa vez, mencionou esse quadro da seguinte maneira: “Eça foi o vento largo de ideias, foi a forma fresca, irreverente, do mais ameno bom humor que já conheceu a nossa linguagem. Isto é a explicação de um êxito, maior aqui do que na própria mãe- pátria” ( apud AYRES, 1983, p. 188) 50. Esse grupo pioneiro representa a crítica seminal dos estudos queirosianos no país e é responsável pela difusão de uma abordagem crítica, vinculada a uma visão extrínseca da obra literária. Em outras palavras, eles trazem ao público o biografismo de Eça e mostram como é possível ver a obra do escritor português como reflexo de sua própria vida.

(^49) Cf. GOMES, Vânia Regina. O aprendiz de Fradique Mendes. Eça de Queirós na leitura de Gilberto Freyre Portuguesa) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – Universidade de São Paulo, São Paulo.. São Paulo: 2006, 157f. Dissertação (Mestrado em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Cf. OLIVEIRA, Paulo Motta. Gilberto Freyre leitor de Eça. In: SCARPELLI, Marli Fantini; OLIVEIRA,Paulo Motta (orgs.) Os centenários de Eça, Freyre, Nobre. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2001, p. 341-352. (^50) A citação em forma de apud é utilizada neste estudo, quando não foi possível encontrar a fonte primária do texto citado.

1 Machado de Assis: a pedra basilar no caminho da canonização da obra queirosiana no Brasil

Machado de Assis (1839-1908), certa vez, afirmara que por ele poderia se dispensar de voltar a falar do texto de Eça de Queirós, afirmação anunciada pelo brasileiro quando fora praticamente obrigado a retomar a sua crítica de 16 de abril de 1878, depois de 14 dias, em função da grande polêmica gerada, a partir dali, acerca de sua crítica ao romance O Primo Basílio. Também, como ele, se poderia dar por encerrada a discussão em torno da crítica machadiana, visto que esta já foi exaustivamente discutida pela historiografia literária brasileira e portuguesa. Porém, ela ainda é motivo de debate e, sobretudo, considerada neste estudo a pedra fundamental de todas as críticas que surgiriam posteriormente, portanto, a relevância de revisitá-la. A crítica de Machado de Assis fora e ainda é tomada com extremo respeito e valorizada na forma como trata a obra queirosiana. Além de ser considerada a responsável pela abertura e divulgação da produção artística do escritor português no Brasil, a crítica machadiana, segundo Paulo Franchetti, também “até hoje orienta a apreciação crítica de O Primo Basílio no Brasil, sendo citada praticamente toda vez que se analisa o romance de Eça” (FRANCHETTI, 2000, p. 48). O texto crítico foi publicado nas páginas de O Cruzeiro e pode ser dividido em dois momentos: o primeiro, que faz a análise da obra queirosiana em torno de nova tendência literária que surgia na época, o Naturalismo, de Zola; e o segundo, que faz a análise do que Machado entendia ser os problemas de concepção e de construção do texto de Eça, especificamente no tratamento da criação dos personagens e da estrutura narrativa. Ao comentar o primeiro momento, José Maria Bello (1952) ressalta que o artigo de Machado foi um exemplo de uma “crítica de defeitos”: