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Dom casmurro, de machado de assis, é uma narrativa que exerce a função de uma pseudo-autobiografia do personagem principal, bentinho. A obra tem a intenção clara de deixar o leitor responsável por resolver a maior dúvida de bentinho: quem é realmente culpado por sua separação de capitu? ao longo do texto, bentinho tenta convencer-nos da culpa de capitu, mas a professora americana helen cadwel propôs uma nova interpretação, destacando a não-confiabilidade do narrador. Neste documento, analisamos as datas e personagens da história, além das chaves importantes da narrativa.
O que você vai aprender
Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas
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Não perca as partes importantes!
Análise da obra Narrado em primeira pessoa, Dom Cas- murro foi publicado em 1900, embora a data da edição seja de 1899. Essa obra continua a trajetória de renova- ção iniciada com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, em 1881. O emprego de capítulos cur- tos, da já conhecida ironia, do pessimismo amargo e de técnicas narrativas renovadoras, como as digressões, metalinguagem e intertextualidades, mantêm-se tam- bém nesse romance. Em Dom Casmurro, a narrativa exerce a função de uma pseudo-autobiografia do protagonista, Benti- nho. Dessa forma, a memória servirá de vínculo entre a narrativa presente e a suposta verdade dos fatos, que a distância entre o passado e o presente teimou algumas vezes em nublar para o narrador. Esse resgate pela me- mória a partir do presente (flash-back) é, como acaba- mos de dizer, falho, já que o tempo incumbiu-se de dis- tanciar os fatos do momento da escrita. Com isso, a nar- rativa não poderia seguir um caráter linear, nascendo fragmentada, digressiva. Esse processo de escrita tem a nítida intenção de atribuir ao leitor o papel de explicar a maior dúvida de Bentinho: teria sido traído pela esposa com seu me- lhor amigo, Escobar, ou não? Ao final da narrativa, per- cebemos que carregamos a mesma dúvida de Bentinho, pois não conseguimos provar a culpa ou inocência de Capitu. Essa dúvida persiste porque o narrador tanto fornece indícios da existência do adultério quanto da pureza do comportamento da esposa. Entretanto, ele procura de todo modo, através de sua narrativa, con- vencer-nos da culpa de Capitu, o que terminaria por jus- tificar sua decisão de abandonar mulher e filho na Su- íça. A obra significou, por mais de 60 anos, mais um exemplo de adultério feminino explorado na literatura realista. Entretanto, em 1960, a professora americana Helen Cadwel propôs a sua releitura, apontando Benti- nho, e não a esposa, Capitu, como o problema central a ser desvendado. Dom Casmurro é um livro complexo e cada leitura origina uma nova interpretação. Machado de Assis faz no romance um fato inacreditável em sua narrativa: Ele cria um narrador que afirma algo (ou seja, diz que foi traído) e o leitor não consegue decidir-se se ele está mentindo ou não. Desde então, o romance vem sido lido e relido, com novas chaves que cada vez mais comprovam tra- tar-se de um enigma elaborado pelo autor. Dentre as tais chaves destaca-se a não-confiabilidade do narrador (Bentinho), envolvido por sua personalidade ciumenta, invejosa, cruel e perversa aponto de destruir aqueles que ama por uma suspeita que o leitor atento percebe ser no mínimo discutível. Ao evocar o passado, Bentinho (D. Casmurro), que é o narrador-personagem, coloca-se em um ângulo neutro de visão. Dessa maneira pode repassar, sem contaminar, episódios e situações, atitudes e reações. Simultaneamente, opõe a esse ângulo de reconstrução do passado, o ângulo do próprio momento da evoca- ção, marcado pelo desmoronamento da ilusão de sua felicidade. Dessa forma, temos uma dupla visão da ex- periência, reconstituída em termos de exposição e aná- lise. A visão esfumaçada do adultério é intencional. Dele o leitor só tem provas subjetivas, a partir da ótica do narrador, que nele acredita. Ao adotar um narrador unilateral, fazendo dele o eixo da forma literária, Machado de Assis se ins- creveu entre os romancistas inovadores. Estrutura da obra O romance Dom Casmurro é dividido em 148 capítulos de diversas dimensões, predominando os cur- tos (técnica já utilizada em Memórias Póstumas de Brás Cubas). Ação – O enredo da obra não é dinâmico, já que predomina o elemento psicológico. A narrativa é digressiva, ou seja, interrompida todo o tempo por fugas da linearidade para acrescentar pensamen- tos ou lembranças fragmentadas do narrador. Foco narrativo – O romance é narrado em primeira pessoa, por Bento Santiago, que escreve a história de sua vida. Dessa forma o romance funciona como uma pseudo-biografia de um homem já envelhe- cido que parece preencher sua solidão atual com a recordação de um passado que nunca se distancia verdadeiramente, porque -foi marcado pelo seu sofrimento pessoal. Tempo – O tempo é cronológico, cuja primeira re- ferência é o ano de 1857, no momento que José Dias sugere a D. Glória a necessidade de apressar a ida de Bentinho para o seminário. Em 1858, Benti- nho vai para o seminário. Em 1865, Bentinho e Ca- pitu casam-se. Em 1872, Bentinho e Capitu sepa- ram-se. Aliás, se observarmos melhor essas datas, veremos que entre a ida de Bentinho para o semi- nário e o casamento decorrem sete anos, entre este último e a separação mais sete anos. Se tomar- mos em conta essa suposta coincidência, podemos perceber que cada período forma um ciclo com- pleto: ascensão, plenitude e declínio ou morte do sentimento amoroso. Espaço – Toda a ação narrativa passa-se no Rio de Janeiro. O narrador faz-nos acompanhar sua
trajetória pelos bairros e ruas do Rio, desde o En- genho Novo, onde -escreve sua obra, até a Rua de Matacavalos, onde passou sua infância e conheceu Capitu. É interessante lembrar, que as duas casas amarram-se novamente num círculo perfeito, já que a do Engenho Novo foi construída à seme- lhança da casa de Matacavalos. A tentativa do nar- rador de atar as duas pontas da vida parece funci- onar não apenas na ligação entre o presente e o passado, mas também na própria estrutura da obra, como vimos na introdução dessa parte. Personagens Em Dom Casmurro, as personagens são apre- sentadas a partir das descrições de seus dotes físicos. Temos, portanto, a descrição, funcional, bastante co- mum no Realismo. As personagens principais são:
É dessa forma que Machado conduz a força te- mática de Dom Casmurro, não utilizando, como era ha- bitual na literatura realista, o adultério em si, mas a sus- peita do adultério. Dom Casmurro resultaria de uma tentativa do pseudoautor de recompor o passado, como percebe- mos em suas palavras: O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescên- cia. O que leva Bento Santiago a essa busca do tempo perdido é, indiscutivelmente, a necessidade de expur- gar o sentimento doloroso da dúvida em torno da trai- ção. O que teria levado Bentinho à situação de indi- víduo ensimesmado, fechado, solitário, teimoso, um casmurro? A narrativa da primeira parte desse trabalho mostra-nos a construção lenta desse homem triste e so- litário. Para analisarmos o homem, devemos aproveitar a máxima machadiana de que o menino é o pai do ho- mem , surgida num de seus contos, intitulado Conto de Escola. Primeiro foi a perda do pai, cujo modelo ele não teve presente para seguir; depois, as proteções ma- ternas e familiares que terminaram por tomá-lo inse- guro, mimado, fragilizado e indeciso ao ser obrigado a tomar qualquer decisão. Bentinho é inseguro, fraco, ao contrário de sua mãe ou mesmo de Capitu. Dona Glória, José Dias e a prima Justina fizeram dele um menino mi- mado, acostumado com que lhe fizessem todas as von- tades. Assim, parecia incapaz de aceitar a independên- cia das pessoas que o cercavam. Qualquer passagem além desse limite de seu sentimento de posse, parecia- lhe uma traição. Capitu era independente, tinha von- tade própria. Não costumava tomar conselhos do ma- rido antes de qualquer atitude. O mesmo ocorre com Escobar, que já não dependia mais do dinheiro de Dona Glória, mãe de Bentinho, pois realizara-se profissional- mente. Capitu sempre soube exatamente o que que- ria: casar-se com o garoto rico da vizinhança, ou seja, Bentinho. Ao contrário de Bentinho, ela é forte, conse- gue facilmente dissimular situações embaraçosas, como as duas primeiras vezes que se beijaram. Em am- bas ela tomou a atitude inicial e também soube sair-se bem diante da mãe, e depois, do pai. Na verdade, é dessa força de Capitu que nasce a fraqueza de Bentinho. Este não sabia o que esperar das atitudes da mulher, que seguia seus próprios passos e princípios. Isso gerava a incerteza e fazia nascer a sus- peita. Estamos certos de que, se o quisesse, Capitu re- almente teria traído Bentinho, sem que esse sequer suspeitasse, se é que não o fez. Ela sabia dissimular como ninguém e manter-se em seu pedestal. Bentinho sabia disso e daí cresce a dúvida que o amargura e an- gustia. A morte, primeiro dos familiares, depois da mulher e do filho, tornam o narrador um indivíduo sem amigos, que vive apenas em seu mundo particular, iso- lado das demais pessoas. Destruir essa incerteza que o acompanha desde muito parece uma questão de vida ou morte, mas Bentinho parece terminar sua obra sem atingir seu desejo maior. Apesar de ser um bom advogado em causa própria, cujos argumentos racionais parecem persuadir uma parte dos leitores, Bentinho não só não provou para si mesmo o adultério de Capitu – nem o contrário, sua fidelidade -, como não conseguiu es- quecê-la. Ao retomar o passado, retomou também a forte lembrança desse amor e, claro, de seu ciúme do- entio. Mas o que lhe restou senão atacar a mulher e o amigo, ambos mortos? Ambos sem direito de defesa ampla, como exigiria a lei? A única saída de Bentinho foi voltar ao seu projeto inicial de escrever a História dos Subúrbios. Fonte: https://www.passeiweb.com/estudos/livros/dom_casmurro/