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Análise de Dom Casmurro: A Pseudo-Autobiografia Enigmática do Protagonista, Manuais, Projetos, Pesquisas de Literatura

Dom casmurro, de machado de assis, é uma narrativa que exerce a função de uma pseudo-autobiografia do personagem principal, bentinho. A obra tem a intenção clara de deixar o leitor responsável por resolver a maior dúvida de bentinho: quem é realmente culpado por sua separação de capitu? ao longo do texto, bentinho tenta convencer-nos da culpa de capitu, mas a professora americana helen cadwel propôs uma nova interpretação, destacando a não-confiabilidade do narrador. Neste documento, analisamos as datas e personagens da história, além das chaves importantes da narrativa.

O que você vai aprender

  • Qual é a interpretação da professora americana Helen Cadwel sobre a narrativa?
  • Por que Bentinho procura convencer o leitor da culpa de Capitu?
  • Quem é o personagem central de Dom Casmurro?

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Vinicius20
Vinicius20 🇧🇷

4.5

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DOM CASMURRO, DE MACHADO DE ASSIS

Análise da obra Narrado em primeira pessoa, Dom Cas- murro foi publicado em 1900, embora a data da edição seja de 1899. Essa obra continua a trajetória de renova- ção iniciada com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, em 1881. O emprego de capítulos cur- tos, da já conhecida ironia, do pessimismo amargo e de técnicas narrativas renovadoras, como as digressões, metalinguagem e intertextualidades, mantêm-se tam- bém nesse romance. Em Dom Casmurro, a narrativa exerce a função de uma pseudo-autobiografia do protagonista, Benti- nho. Dessa forma, a memória servirá de vínculo entre a narrativa presente e a suposta verdade dos fatos, que a distância entre o passado e o presente teimou algumas vezes em nublar para o narrador. Esse resgate pela me- mória a partir do presente (flash-back) é, como acaba- mos de dizer, falho, já que o tempo incumbiu-se de dis- tanciar os fatos do momento da escrita. Com isso, a nar- rativa não poderia seguir um caráter linear, nascendo fragmentada, digressiva. Esse processo de escrita tem a nítida intenção de atribuir ao leitor o papel de explicar a maior dúvida de Bentinho: teria sido traído pela esposa com seu me- lhor amigo, Escobar, ou não? Ao final da narrativa, per- cebemos que carregamos a mesma dúvida de Bentinho, pois não conseguimos provar a culpa ou inocência de Capitu. Essa dúvida persiste porque o narrador tanto fornece indícios da existência do adultério quanto da pureza do comportamento da esposa. Entretanto, ele procura de todo modo, através de sua narrativa, con- vencer-nos da culpa de Capitu, o que terminaria por jus- tificar sua decisão de abandonar mulher e filho na Su- íça. A obra significou, por mais de 60 anos, mais um exemplo de adultério feminino explorado na literatura realista. Entretanto, em 1960, a professora americana Helen Cadwel propôs a sua releitura, apontando Benti- nho, e não a esposa, Capitu, como o problema central a ser desvendado. Dom Casmurro é um livro complexo e cada leitura origina uma nova interpretação. Machado de Assis faz no romance um fato inacreditável em sua narrativa: Ele cria um narrador que afirma algo (ou seja, diz que foi traído) e o leitor não consegue decidir-se se ele está mentindo ou não. Desde então, o romance vem sido lido e relido, com novas chaves que cada vez mais comprovam tra- tar-se de um enigma elaborado pelo autor. Dentre as tais chaves destaca-se a não-confiabilidade do narrador (Bentinho), envolvido por sua personalidade ciumenta, invejosa, cruel e perversa aponto de destruir aqueles que ama por uma suspeita que o leitor atento percebe ser no mínimo discutível. Ao evocar o passado, Bentinho (D. Casmurro), que é o narrador-personagem, coloca-se em um ângulo neutro de visão. Dessa maneira pode repassar, sem contaminar, episódios e situações, atitudes e reações. Simultaneamente, opõe a esse ângulo de reconstrução do passado, o ângulo do próprio momento da evoca- ção, marcado pelo desmoronamento da ilusão de sua felicidade. Dessa forma, temos uma dupla visão da ex- periência, reconstituída em termos de exposição e aná- lise. A visão esfumaçada do adultério é intencional. Dele o leitor só tem provas subjetivas, a partir da ótica do narrador, que nele acredita. Ao adotar um narrador unilateral, fazendo dele o eixo da forma literária, Machado de Assis se ins- creveu entre os romancistas inovadores. Estrutura da obra O romance Dom Casmurro é dividido em 148 capítulos de diversas dimensões, predominando os cur- tos (técnica já utilizada em Memórias Póstumas de Brás Cubas).  Ação – O enredo da obra não é dinâmico, já que predomina o elemento psicológico. A narrativa é digressiva, ou seja, interrompida todo o tempo por fugas da linearidade para acrescentar pensamen- tos ou lembranças fragmentadas do narrador.  Foco narrativo – O romance é narrado em primeira pessoa, por Bento Santiago, que escreve a história de sua vida. Dessa forma o romance funciona como uma pseudo-biografia de um homem já envelhe- cido que parece preencher sua solidão atual com a recordação de um passado que nunca se distancia verdadeiramente, porque -foi marcado pelo seu sofrimento pessoal.  Tempo – O tempo é cronológico, cuja primeira re- ferência é o ano de 1857, no momento que José Dias sugere a D. Glória a necessidade de apressar a ida de Bentinho para o seminário. Em 1858, Benti- nho vai para o seminário. Em 1865, Bentinho e Ca- pitu casam-se. Em 1872, Bentinho e Capitu sepa- ram-se. Aliás, se observarmos melhor essas datas, veremos que entre a ida de Bentinho para o semi- nário e o casamento decorrem sete anos, entre este último e a separação mais sete anos. Se tomar- mos em conta essa suposta coincidência, podemos perceber que cada período forma um ciclo com- pleto: ascensão, plenitude e declínio ou morte do sentimento amoroso.  Espaço – Toda a ação narrativa passa-se no Rio de Janeiro. O narrador faz-nos acompanhar sua

trajetória pelos bairros e ruas do Rio, desde o En- genho Novo, onde -escreve sua obra, até a Rua de Matacavalos, onde passou sua infância e conheceu Capitu. É interessante lembrar, que as duas casas amarram-se novamente num círculo perfeito, já que a do Engenho Novo foi construída à seme- lhança da casa de Matacavalos. A tentativa do nar- rador de atar as duas pontas da vida parece funci- onar não apenas na ligação entre o presente e o passado, mas também na própria estrutura da obra, como vimos na introdução dessa parte. Personagens Em Dom Casmurro, as personagens são apre- sentadas a partir das descrições de seus dotes físicos. Temos, portanto, a descrição, funcional, bastante co- mum no Realismo. As personagens principais são:

  • Capitu, “criatura de 14 anos, alta, forte e cheia, aper- tada em um vestido de chita, meio desbotado. Os cabe- los grossos, feitos em duas tranças, com as pontas ata- das uma à outra, à moda do tempo,… morena, olhos claros e grandes, nariz reto e comprido, tinha a boca fina e o queixo largo… calçava sapatos de duraque, ra- sos e velhos, a que ela mesma dera alguns pontos”. Per- sonagem que tem o poder de surpreender : “Fiquei aturdido. Capitu gostava tanto de minha mãe, e minha mãe dela, que eu não podia entender tamanha explo- são”. Segundo José Dias, Capitu possuía “olhos de ci- gana oblíqua e dissimulada”, mas para Bentinho os olhos pareciam “olhos de ressaca”; “Traziam não sei que fluido misterioso e energético, uma força que arras- tava para dentro, com a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca”. A personagem nos é pintada leviana, fútil, a que desde pequena só pensa em vestidos e pen- teados, a que tinha ambições de grandeza e luxo. Foi comparada, certa vez pela crítica, como a aranha que devora o macho depois de fecundada.
  • Bentinho, também protagonista, que ocupa uma pos- tura de anti-herói. Não pretendia ser padre como de- terminara sua mãe, mas tencionava casar-se com Ca- pitu, sua amiga de infância. Um fato interessante é que os planos, para não entrar no seminário, eram sempre elaborados por Capitu. É o narrador e pseudoautor da obra. Na velhice, momento da narração, era um homem fechado, solitário e triste. As lembranças de um pas- sado triste e doloroso, tornaram-no um indivíduo de poucos amigos. Desde menino, foi sempre mimado pela mãe, pelo tio Cosme, por prima Justina e pelo agregado José Dias. Essa superproteção tornou-o um indivíduo in- seguro e dependente, incapaz de tomar decisões por conta própria e resolver seus próprios problemas. Essa insegurança foi, sem dúvida, o fato gerador dos ciúmes da suspeita de adultério que estragaram sua vida. As personagens secundárias são descritas pelo narrador:
  • Dona Glória, mãe de Bentinho, que desejava fazer do filho um padre, devido a uma antiga promessa, mas, ao mesmo tempo, desejava tê-lo perto de si, retardando a sua decisão de mandá-lo para o Seminário. Portanto, no início encontra-se como opositora, tornando-se depois, adjuvante. As suas qualidades físicas e espirituais.
  • Tio Cosme, irmão de Dona Glória, advogado, viúvo, “tinha escritório na antiga Rua das Violas, perto do júri… trabalhava no crime”; “Era gordo e pesado, tinha a res- piração curta e os olhos dorminhocos”. Ocupa uma po- sição neutra: não se opunha ao plano de Bentinho, mas também não intervinha como adjuvante. José Dias, agregado, “amava os superlativos”, “ria largo, se era preciso, de um grande riso sem vontade, mas comunicativo… nos lances graves, gravís- simo”, “como o tempo adquiriu curta autoridade na fa- mília, certa audiência, ao menos; não abusava, e sabia opinar obedecendo”, “as cortesias que fizesse vinham antes do cálculo que da índole”. Tenta, no início, persu- adir Dona Glória à mandar Bentinho para o Seminário, passando-se, depois, para adjuvante. Vestia-se de ma- neira antiga, usando calças brancas engomadas com presilhas, colete e gravata de mola. Teria cinquenta e cinco anos. Depois de muitos anos em casa de D. Glória, passou a fazer parte da família, sendo ouvido pela velha senhora. Não apenas cuidava de Bentinho como prote- gia-o de forma paternal. *Prima Justina, prima de Dona Glória. Parece opor-se por ser muito egoísta, ciumenta e intrigante. Viúva, e segundo as palavras do narrador: “vivia conosco por fa- vor de minha mãe, e também por interesse”, “dizia fran- camente a Pedro o mal que pensava de Paulo, e a Paulo o que pensava de Pedro”. *Pedro de Albuquerque Santiago, falecido, pai de Ben- tinho. A respeito do pai o narrador coloca: “Não me lembro nada dele, a não ser vagamente que era alto e usava cabeleira grande; o retrato mostra uns olhos re- dondos, que me acompanham para todos os lados…”
  • Sr. Pádua e Dona Fortunata, pais de Capitu. O pri- meiro, “era empregado em repartição dependente do Ministério da Guerra” e a mãe “alta, forte, cheia, como a filha, a mesma cabeça, os mesmos olhos claros”. Ja- mais opuseram-se à amizade de Capitu e Bentinho.
  • Padre Cabral, personagem que encontra a solução para o caso de Bentinho; se a mãe do menino

É dessa forma que Machado conduz a força te- mática de Dom Casmurro, não utilizando, como era ha- bitual na literatura realista, o adultério em si, mas a sus- peita do adultério. Dom Casmurro resultaria de uma tentativa do pseudoautor de recompor o passado, como percebe- mos em suas palavras: O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescên- cia. O que leva Bento Santiago a essa busca do tempo perdido é, indiscutivelmente, a necessidade de expur- gar o sentimento doloroso da dúvida em torno da trai- ção. O que teria levado Bentinho à situação de indi- víduo ensimesmado, fechado, solitário, teimoso, um casmurro? A narrativa da primeira parte desse trabalho mostra-nos a construção lenta desse homem triste e so- litário. Para analisarmos o homem, devemos aproveitar a máxima machadiana de que o menino é o pai do ho- mem , surgida num de seus contos, intitulado Conto de Escola. Primeiro foi a perda do pai, cujo modelo ele não teve presente para seguir; depois, as proteções ma- ternas e familiares que terminaram por tomá-lo inse- guro, mimado, fragilizado e indeciso ao ser obrigado a tomar qualquer decisão. Bentinho é inseguro, fraco, ao contrário de sua mãe ou mesmo de Capitu. Dona Glória, José Dias e a prima Justina fizeram dele um menino mi- mado, acostumado com que lhe fizessem todas as von- tades. Assim, parecia incapaz de aceitar a independên- cia das pessoas que o cercavam. Qualquer passagem além desse limite de seu sentimento de posse, parecia- lhe uma traição. Capitu era independente, tinha von- tade própria. Não costumava tomar conselhos do ma- rido antes de qualquer atitude. O mesmo ocorre com Escobar, que já não dependia mais do dinheiro de Dona Glória, mãe de Bentinho, pois realizara-se profissional- mente. Capitu sempre soube exatamente o que que- ria: casar-se com o garoto rico da vizinhança, ou seja, Bentinho. Ao contrário de Bentinho, ela é forte, conse- gue facilmente dissimular situações embaraçosas, como as duas primeiras vezes que se beijaram. Em am- bas ela tomou a atitude inicial e também soube sair-se bem diante da mãe, e depois, do pai. Na verdade, é dessa força de Capitu que nasce a fraqueza de Bentinho. Este não sabia o que esperar das atitudes da mulher, que seguia seus próprios passos e princípios. Isso gerava a incerteza e fazia nascer a sus- peita. Estamos certos de que, se o quisesse, Capitu re- almente teria traído Bentinho, sem que esse sequer suspeitasse, se é que não o fez. Ela sabia dissimular como ninguém e manter-se em seu pedestal. Bentinho sabia disso e daí cresce a dúvida que o amargura e an- gustia. A morte, primeiro dos familiares, depois da mulher e do filho, tornam o narrador um indivíduo sem amigos, que vive apenas em seu mundo particular, iso- lado das demais pessoas. Destruir essa incerteza que o acompanha desde muito parece uma questão de vida ou morte, mas Bentinho parece terminar sua obra sem atingir seu desejo maior. Apesar de ser um bom advogado em causa própria, cujos argumentos racionais parecem persuadir uma parte dos leitores, Bentinho não só não provou para si mesmo o adultério de Capitu – nem o contrário, sua fidelidade -, como não conseguiu es- quecê-la. Ao retomar o passado, retomou também a forte lembrança desse amor e, claro, de seu ciúme do- entio. Mas o que lhe restou senão atacar a mulher e o amigo, ambos mortos? Ambos sem direito de defesa ampla, como exigiria a lei? A única saída de Bentinho foi voltar ao seu projeto inicial de escrever a História dos Subúrbios. Fonte: https://www.passeiweb.com/estudos/livros/dom_casmurro/