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Guias e Dicas
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Jack London e o Imperialismo: Raça, Colonização e Resistência no Havaí, Manuais, Projetos, Pesquisas de Tradução

Neste documento, analisamos a narrativa de jack london sobre o havaí, onde exploramos a difusão da ideologia da supremacia racial anglo-saxã, a colonização e a resistência nativa. Através de textos de london, como 'koolau, o leproso', 'o motim do elsinore' e 'a filha da neve', examinamos a complexidade das concepções raciais de london e suas influências científicas e literárias. Além disso, discutimos a representação de london da lepra e sua repercussão na imprensa local.

O que você vai aprender

  • Qual foi a ideologia racial anglo-saxã que difundiu-se entre europeus e americanos no Havaí?
  • Qual foi a repercussão de 'Koolau, o leproso' na imprensa local?
  • Quais influências científicas e literárias impactaram as concepções raciais de Jack London?
  • Como as monarquias havaianas legitimaram a colonização europeia e americana?
  • Como London representou a lepra e o leprosário de Molokai?

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Abelardo15
Abelardo15 🇧🇷

4.6

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA
DOENÇA, LOUCURA E ANIMALIDADE NO HAVAÍ:
o controverso imaginário imperialista de Jack London
ANDRÉ LUIZ DE SOUZA OLIVEIRA
NITERÓI
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Baixe Jack London e o Imperialismo: Raça, Colonização e Resistência no Havaí e outras Manuais, Projetos, Pesquisas em PDF para Tradução, somente na Docsity!

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA

DOENÇA, LOUCURA E ANIMALIDADE NO HAVAÍ:

o controverso imaginário imperialista de Jack London ANDRÉ LUIZ DE SOUZA OLIVEIRA NITERÓI

DOENÇA, LOUCURA E ANIMALIDADE NO HAVAÍ:

o controverso imaginário imperialista de Jack London André Luiz de Souza Oliveira Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História, do Departamento de História, da Universidade Federal Fluminense, como Parte dos requisitos necessários à obtenção Do título de mestre em História Social. Orientador: Prof. Thaddeus Gregory Blanchette Niterói

Folha de aprovação

Doença, loucura e animalidade: o controverso imaginário imperialista de Jack London André Luiz de Souza Oliveira Aprovado em //___ Professor Doutor Thaddeus Gregory Blanchette - UFF (Orientador) Professora Doutora Tatiana Silva Poggi de Figueiredo - UFF Professor Doutor Rodrigo Farias de Sousa - IUPERJ Professor Doutor Flávio Limoncic - UNIRIO

Agradecimentos

Agradeço primeiramente ao meu orientador, Thaddeus Gregory Blanchette, que desde que nos conhecemos há pouco mais de um ano aceitou de maneira muito gentil orientar essa pesquisa. Alguns percalços durante o mestrado acabaram fazendo com que nosso tempo de orientação fosse menor do que eu gostaria, mas sua boa vontade e inteligência me ajudaram a compensar o atraso. Serei eternamente grato por toda ajuda. Da mesma forma fico extremamente agradecido a professora Cecília da Silva Azevedo, que além de me apresentar ao Thaddeus, foi sempre uma entusiasta da pesquisa e uma professora carinhosa e inspiradora. Desde que nos conhecemos no segundo semestre de 2016, ano do meu ingresso ao PPGH, ela sempre se mostrou interessada e preocupada com o andamento desse estudo. Uma gentileza sem fim. Aos professores Tatiana Silva Poggi de Figueiredo e Rodrigo Farias de Sousa, que participaram da banca do Exame de Qualificação, deixo aqui meu singelo agradecimento. Tentei aproveitar ao máximo, dentro do pouco tempo que dispunha, os conselhos que me foram dados. As críticas em formatação, ortografia e referências teóricas foram importantes para aprimorar este trabalho. Espero que o resultado não decepcione a nenhum de vocês. Aos meus familiares agradeço por todo apoio. Minha família desde sempre foi grande entusiasta das minhas pequenas conquistas acadêmicas. Agradeço do fundo do meu coração pela incansável dedicação e o eterno carinho que dedicam a mim, bem como pela compreensão de minha ausência devido ao trabalho e aos estudos. Aos meus pais, Carlos de Oliveira Soares e Simone de Sousa Farias Motta; aos meus tios e padrinhos, Roberta de Sousa Farias e Márcio da Silva Medeiros; à minha prima-irmã Larissa Farias Medeiros; aos meus avós, Luiz Farias e Iaponira Barbosa de Sousa; ao meu companheiro Douglas Paixão; e aos meus melhores amigos, entre eles Thailana e Filipe, que compartilham comigo suas experiências na universidade e que, juntos com minha família, acreditam no meu crescimento profissional. A todos vocês o meu mais sincero obrigado! Vocês são os amores da minha vida e os eternos tocerdores do meu sucesso. Amo todos vocês.

RESUMO

Doença, loucura e animalidade no Havaí: o controverso imaginário imperialista de Jack London Ao longo do século XIX, o Havaí foi palco de uma série de mudanças políticas e sociais ligadas a chegada dos primeiros exploradores europeus. O avanço ocidental sobre as ilhas minou a autonomia política dos havaianos, cujo desfecho foi a anexação do Havaí pelos EUA. Um dos visitantes mais ilustres e populares a viajar ao território recém-anexado foi Jack London, importante escritor naturalista americano que retrataria na ficção, de forma controversa, as consequências do domínio imperialista americano e europeu sobre o Havaí. Nossa pesquisa procura compreender como - em Koolau, o leproso, conto recheado de referências à lepra, loucura e animalidade – London consegue criticar e ao mesmo tempo reforçar os alicerces do imperialismo americano. Sob um viés interdisciplinar típico da História Cultural, analisamos a referida obra através de importantes conceitos como imperialismo, racismo e imaginário. Palavras-chave: Havaí. Estados Unidos. Imperialismo. Jack London.

ABSTRACT

Throughout the nineteenth century, Hawaii was the scene of a series of political and social changes linked to the arrival of the first European explorers. The Western advance on the islands undermined the political autonomy of the Hawaiians, whose outcome was the annexation of Hawaii by the United States. One of the most illustrious and popular visitors to travel to the newly attached territory was Jack London, an important American naturalist who would portray in fiction, in a controversial way, the consequences of American and European imperialist domination over Hawaii. Our research seeks to understand how - in Koolau the leper , a short story full of references to leprosy, madness and animality - London was able to criticize and at the same time reinforce the foundations of American imperialism. Under an interdisciplinary bias typical of Cultural History, we analyze this work through important concepts such as imperialism, racism and imaginary. Keywords : Hawaii. United States. Imperialism. Jack London.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

O estado americano do Havaí é composto por mais de 130 ilhas, sendo apenas oito delas habitadas. Localizado no hemisfério norte do Oceano Pacífico, esse arquipélago é coberto por extensos rochedos, montanhas e vulcões que há milhares de anos deram origem às ilhas. Apesar de os primeiros habitantes da região terem provavelmente descendido de polinésios vindos do Pacífico Sul por volta do ano 200 d.C.^1 , o Havaí teve sua existência descoberta pelos europeus somente na segunda metade do século XVIII. O navegador português Fernão de Magalhães foi o primeiro navegador europeu a alcançar o Oceano Pacífico, mas foi o capitão inglês James Cook quem entraria para a história como ilustre desbravador que “descobriria” as ilhas havaianas. Os primeiros contatos entre nativos e navegadores mudaram radicalmente a estrutura política, econômica, social e cultural dos havaianos, que viviam então um período conturbado que levaria à constituição de uma monarquia sob o poder de um poderoso guerreiro local – Kamehameha, o Grande. Outras importantes transformações ocorreram com a crescente influência de estrangeiros nas ilhas. Ao longo do século XIX, devido à crescente imigração europeia e americana, as ilhas havaianas seriam varridas por doenças venéreas (introduzidas pelos primeiros contatos europeus), epidemias de caxumba, varíola, sarampo, gripe e disenteria que levariam ao declínio populacional de nativos. Acredita-se que a hanseníase (“lepra”) tenha sido introduzida nas ilhas havaianas por imigrantes chineses nas décadas de 1830 e 1840. O Havaí, apesar de ser uma monarquia independente, estava submetido a fortes interesses de empresários norte-americanos, então empenhados na produção de açúcar. Foi sob esta mesma influência que o rei Kamehameha V assinou o Act to Prevent the Spread of Leprosy^2 (1865), criminalizando a doença. Eram compulsórias a prisão e detenção do suspeito de possuir lepra e sua condenação era o exílio para o leprosário na península de Kalaupapa, na ilha de Molokai. Uma polêmica representação da lepra e da resistência à lei e ao avanço imperialista é descrita no conto Koolau, o leproso , do autor naturalista norte-americano Jack London. (^1) SILER, Julia Flynn. Lost Kingdom : Hawaii’s Last Queen, the Sugar Kings, and America’s First Imperial Adventure. New York: Atlantic Monthly Press, 2012. (^2) “Lei para Prevenir a Proliferação da Lepra”, tradução livre.

Nascido em 1876 em São Francisco, Jack London tornar-se-ia jornalista, ativista social e escritor que alcançaria sucesso de proporção mundial. Desprezado durante toda a sua vida pela elite literária norte-americana, ele permaneceu popular entre os leitores. Pioneiro nas revistas comerciais de ficção, London escreveu mais de duas centenas de contos, quatrocentas peças de não-ficção e vinte romances^3. Grande parte de sua obra foi influenciada por uma nova forma da literatura que emergiu na segunda metade do século XIX fortemente influenciada por Émile Zola, que afirmava que a literatura devia ser uma forma de reportagem e um estudo do homem sujeito às leis psicoquímicas que regem a natureza e o ser humano. Na literatura naturalista, o meio receberia atenção central e se empregaria um descritivismo cru, que London levaria às últimas consequências não poupando cenas com muita luta, carne e sangue. Muitas de suas histórias eram narradas em locais que London já havia visitado, tais como o Klondike (Alasca), Pacífico Sul e Havaí. Jack London viajaria ao Havaí em dois momentos distintos: primeiro, em 1907 e, em uma segunda viagem, entre os anos de 1915 e 1916, quando já estava com sua saúde muito debilitada e viria a falecer. No entanto, foi nessa primeira viagem que Jack e sua esposa, Charmian London, visitariam o assentamento para leprosos na ilha de Molokai. Foi após essa visita que ele escreveu o conto Koolau, o leproso , uma representação polêmica sobre como a lepra afetou os nativos havaianos, transformando-os em criaturas insanas e animalescas, reforçando ainda mais discursos raciais vigentes desde a chegada dos europeus nas ilhas havaianas. Kaluako’olau, mais conhecido como Koolau, foi um nativo havaiano que se negou à segregação forçada à qual os leprosos eram submetidos no Havaí na segunda metade do século XIX. A todos diagnosticados com a doença, era compulsória a prisão e o isolamento na ilha de Molokai. Para evitar a detenção e o exílio forçado, ele se isolou em um inóspito vale onde entrou em confronto armado com as autoridades do governo provisório instaurado pelos americanos. Koolau acabou se tornando um símbolo de resistência à política de segregação imposta pelas autoridades de saúde e ao avanço imperialista dos europeus e americanos sobre o Havaí. Após sua passagem pelas ilhas havaianas, London criaria uma narrativa inspirada nesses eventos históricos. Jack London utilizou o conto Koolau, o leproso para criticar o avanço imperialista do “homem branco” sobre o Havaí. Assim como em outros textos de ficção e não ficção, London se mostrava contrário aos empreendimentos das potências imperialistas no Pacífico e pôde ver, com (^3) KERSHAW, Alex. Jack London: uma vida. São Paulo: Benvirá, 2013.

Poderes coloniais e seus aliados criminalizaram doenças na Índia e nas Filipinas, assim como foi feito no Havaí. A peculiaridade do caso havaiano está, entre outras coisas, em se tratar de uma fase do imperialismo norte-americano que transbordava as fronteiras continentais (final do século XIX) rumo ao Pacífico, onde se dispuseram complexos mecanismos que asseguravam a imagem de dependência do Havaí em relação aos Estados Unidos. Ao nosso ver, esse avanço imperialista foi, em muitos aspectos, uma continuação do imperialismo continental contra os povos nativos. A ideologia da supremacia da raça branca anglo-saxã difundida entre europeus e americanos (residentes e não-residentes nas ilhas havaianas) foi determinante para legitimar a colonização do território e dos corpos dos colonizados^5. Jack London pode ser visto, na literatura, como um caso peculiar que, ao procurar denunciar a opressão causada pelo avanço imperialista norte-americano, ao mesmo tempo e em direção oposta ao que parece se propôr na ficção, produziu uma obra que se aliava ao discurso imperialista. A imagem deturpada sobre a lepra e seus portadores legitimaria a intervenção americana no Havaí através de um discurso altruísta. De acordo com Sally Engle Merry^6 , professora de Antropologia na Universidade de Nova York, nos séculos XIX e XX uma certa ideia de humanitarismo frequentemente legitimava e justificava o controle imperial. As missões cristãs, que prometiam trazer “civilização” e “esclarecimento” para os povos colonizados, associadas à literatura de viagem e de ficção, tornaram-se forças legitimadoras do domínio estrangeiro no Havaí. Jack London, um dos poucos visitantes autorizados a entrar no assentamento de Molokai e um dos convidados do Conselho de Saúde para defender a colônia de leprosos contra a representação sensacionalista que a doença tinha na mídia^7 , foi justamente aquele que abriu mão de qualquer sutileza para descrever os efeitos da lepra sobre os havaianos em sua obra de ficção. Através de Koolau, o leproso , a representação literária dada aos leprosos acabava por naturalizar a dependência colonial exercida sobre o Havaí. O objetivo central de nossa pesquisa é investigar de que maneira o conto Koolau, o leproso representa uma crítica e ao mesmo tempo um suporte ao avanço imperialista norte- (^5) Ao dizer os “corpos dos colonizados”, fazemos referência aqui à ideia de Foucault sobre biopoder. Sobre esse termo, referimo-nos ao poder de governar a vida biológica – tanto no caso dos índios nos EUA quanto no caso dos havaianos – através de uma série de disposições legais que regulamentaria e disciplinaria os corpos daqueles que foram submetidos a tal poder (Blanchette, 2007 e Nascimento, 2012). (^6) MERRY, Sally Engle. “Human Rights in the Imperial Heartland” In MASKOVSKY, Jeff e SUSSER, Ida (editors). Rethinking America : the Imperial Homeland in the 21st^ Century. London: Paradigm Publishers, 2009. (^7) AHUJA, Neel. “The Contradictions of Colonial Dependency: Jack London, Leprosy and Hawaiian Annexation”. Journal of Literary Disability , vol. 1, n. 2, 2007.

americano sobre o Havaí. Entender a ótica do escritor americano mais influente e popular na virada do século XIX/XX torna a análise ainda mais relevante. Para compreendermos a complexidade do imaginário do autor, precisamos juntar algumas “peças de quebra-cabeça”: 1) a história do Havaí e do avanço imperialista americano e como essas duas trajetórias se tornam uma. Apresentamos a história do Havaí desde sua unificação sob o comando de Kamehameha, o Grande, o primeiro monarca havaiano, até a queda da monarquia e o golpe que levou à anexação das ilhas havaianas ao território americano. Destacamos ainda a peculiaridade do domínio americano sobre o Havaí dentro de seu projeto imperialista como um todo e como este, marcado por um distinto discurso racial, possibilitou a forte presença dos Estados Unidos no Pacífico; 2) os aspectos biológicos, sociais e políticos da lepra no Havaí e como eles abrem precedentes para a legitimação do domínio ocidental sobre o arquipélago. A política segregacionista instituída pela monarquia – já sob forte influência ocidental – e a continuação dessa política mesmo após a instauração de um governo provisório liderado por americanos afetou profundamente o estilo de vida dos nativos. A política de exílio forçado e a resistência a tal política são fundamentais para compreendermos a extensão e os limites dos poderes imperialistas sobre os havaianos. Analisamos ainda como uma forma peculiar de poder, o que o filófofo Michel Foucault chamou de biopoder, foi exercido pelo governo havaiano para controlar e submeter aqueles que eram vistos como uma ameaça para a sociedade; 3) a dramática e polêmica biografia de London e suas concepções políticas dentro de sua obra. No capítulo 3, analisamos a trajetória biográfica do autor (passando por sua infância e adolescência conturbadas, seus problemas familiares e amorosos), suas inclinações políticas (destacadamente o racismo), sua relação com o pensamento do Progressivismo americano da virada do século XIX/XX, bem como as principais características de sua escrita e traços estilísticos ligados à literatura naturalista; e 4) por fim, fazemos um paralelo entre a chamada “Batalha de Kalalau” e o conto inspirado em tal evento – Koolau, o leproso – para entender como os principais aspectos dessa representação literária podem esclarecer algumas características do imperialismo americano sob os olhos de Jack London. Ao interpretar detidamente o conto, relacionando seus principais aspectos narrativos ao estilo literário e às concepções políticas de seu autor, procuramos analisar que questões relativas ao imperialismo americano Jack London foi capaz de superar ou reforçar. Nossa pesquisa é marcada pela interdisciplinaridade. Apesar das possíveis lacunas que possamos deixar devido a isto, temos a oportunidade de produzir uma crítica analítica mais

dos temas que a pesquisa levanta, visamos analisar pontualmente e cautelosamente a importância literária e histórica do imaginário imperialista de Jack London sobre o Havaí. Assim, esperamos também lançar luz sobre uma questão tão importante para entendermos as dinâmicas da expansão imperialista americana através de um tema pouco conhecido no Brasil: o domínio dos EUA sobre o Havaí.

CAPÍTULO 1:

Ascensão e Queda do Reino Havaiano

Da escuridão primordial ao prenúncio de uma nova era O arquipélago que hoje compõe o estado americano do Havaí é composto por mais de 130 ilhas, sendo suas oito principais: Hawai’i, Maui, O’ahu, Kaua’i, Molokai, Lãna’i, Ni’ihau e Kaho’olawe. Essas são atualmente as únicas ilhas habitadas. Localizado no hemisfério norte do Oceano Pacífico, esse arquipélago é coberto por extensos rochedos, montanhas e vulcões que há milhares de anos deram origem às ilhas. Com fauna e flora exuberantes, as ilhas seriam palco de sucessivas representações paradisíacas. Figura 1 - Mapa gráfico do arquipélago havaiano Fonte: http://www.bestplaceshawaii.com/maps/ Diferentes culturas apresentam cosmogonias distintas para a origem do mundo e do universo. Comparada à mitologia dos antigos gregos ou da tradição judaico-cristã, em que a escuridão é tida como um lugar de temor e perigo, entre os antigos havaianos era comum a crença de que a força primordial de criação do mundo veio das profundezas da escuridão. De acordo com o Kumulipo , antigo canto havaiano de caráter geneológico, o mundo foi criado em sucessivas noites ao longo do tempo. Os kãhuna (antigos sacerdotes praticantes dos ritos e