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Uma pesquisa sobre a construção de personagens em dramaturgia clássica, analisando o processo através do uso do tarô como ferramenta de descobrimento de caminhos internos e construção de personagens. O autor relata suas experiências artísticas em disciplinas de montagem e interpretação teatral, onde transformou textos realistas em performances intervencionistas e descobriu camadas profundas das personagens e suas relações. O uso do tarô serviu como uma ferramenta de compreensão para os caminhos internos da personagem, suas motivações, relações e evolução.
Tipologia: Slides
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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - UnB INSTITUTO DE ARTES - IdA DEPARTAMENTO DE ARTES CÊNICAS - CEN DIARA SELCH FREIRE
Julho de 2019
Uma jornada pelos arquétipos do Tarô Trabalho de conclusão do curso apresentado ao Departamento de Artes Cênicas do Instituto de Artes da Universidade de Brasília como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Interpretação Teatral Orientadora: Profª Drª Roberta Kumasaka Matsumoto BRASÍLIA JULHO DE 2019
À corrente espiritual que me guia
Agradeço às amadas mestres que me mostraram os caminhos pulsantes da arte, agradeço pela força feminina - Simone Reis, Vancleia Porath, Roberta Matsumoto, Cynthia Carla, Sulian Vieira, Giselle Rodrigues e Alice Stefania. À minha mãe pela vida e por todo o amor e apoio. À minha família pela força e união. Aos amigos que fiz durante minha trajetória artística acadêmica e que sustentaram essa jornada ao meu lado – Yasmin Boreli, Emanuel Lavor, Enrico Scodeler, Daniela Souza, Jackson Bauer, Mari Lotti, Marisa Graciano, Glau Soares, Ana Larissa, Estela Monteiro e Álvaro Rosa. Ao meu parceiro de estudos das artes ocultas, Jorge Augusto. 1.1. 1.2. 1.3.
Essa pesquisa é resultado de sucessivas sincronicidades que findaram no desvendar de conteúdos inconscientes dentro de um processo artístico teatral. A percepção de acasos artísticos que se chocavam e faziam surgir significados, símbolos e sentidos, faiscou internamente uma vontade de analisar a relação entre inconsciente-arquétipo-teatro, e de que forma essa relação poderia influenciar no processo de criação artístico. Portanto, esse trabalho está dividido em três capítulos que contém uma análise baseada nos simbolismos ocultos presentes nas cartas e nas figuras milenares do Tarô, bem como suas interpretações dentro do universo artístico teatral. O primeiro analisa um processo de construção de personagem através da jornada da heroína dentro de uma dramaturgia clássica, o segundo examina as transformações da personalidade de uma personagem por meio da relação texto-Tarô como uma ferramenta para descobrir caminhos internos e de construção da personagem. Palavras-chave: Inconsciente, Tarô, Arquétipo, Teatro, Personagem, Simbolismos
This research is the result of successive synchronicities that ended in the unveiling of unconscious contents within a theatrical artistic process. The perception of artistic coincidences that collided and gave rise to meanings, symbols and senses, internally sparked a desire to analyze the relationship between unconscious-archetype- theater, and how this relationship could influence the process of artistic creation. Therefore, this work is divided in three chapters that contains an analysis based on the occult symbolisms present in the letters and the millenary figures of the Tarot, as well as their interpretations within the artistic theatrical universe. The first examines a character-building process through the heroine's journey into a classic dramaturgy, the second examines the transformations of a character's personality through the text-tarot relationship as a tool for discovering inner ways and character building. Keywords: Unconscious, Tarot, Archetype, Theater, Character, Symbolism
Figura 1 – Em ensaio com Leili Sadri, Anna Marques, Ana Brandão e Yasmin Boreli, em As Três Patetas em Chamas (2016), dirigido por Simone Reis. Fotografia: Larissa Souza; junho de 2016 ................................................................................................................................................ 18 Figura 2 – Em ensaio com Pedro Raposo, Aleksandro Silva, Thiago Andre, Alexandre El Afiouni, Zé Reis, Tauã Franco, Leili Sadri, Anna Marques, Jessica Apariciello, Ana Brandão e Yasmin Boreli, em As Três Patetas em Chamas (2016), dirigido por Simone Reis. Fotografia: Larissa Souza; junho de 2016 ................................................................................................................................................ 19 . Figura 3 – Valete de Copas, Rider Waite-Smith Tarot por Arthur Waite & Pamela Smith. Disponível em: http://www.clubedotaro.com.br/site/galerias/Imagens/waite-c11.jpg ................................................................................................................................................ 21 Figura 4 – Princesa de Copas, Illuminati Tarot por Erik Dunne. Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/f2xwH_XcL8k/Uqen7ML- Lb0I/AAAAAAAAN8A/lkDaQlNqIwU/s1600/princesadecopas3.jpg> ................................................................................................................................................ 21 Figura 5 – Princesa de Copas, Thoth Tarot por Aleister Crowley & Lady Frieda Harris. Disponível em: <http://userimages.strikinglycdn.com/res/hrscywv4p/image/upload/c_limit,fl_lossy,h_9000,w_1200,f _auto,q_auto/867803/Princess_of_cups_thoth_mkn6t3.jpg> ................................................................................................................................................ 22 Figura 6 – Às de Copas, Rider Waite-Smith Tarot por Arthur Waite & Pamela Smith. Disponível em: http://www.clubedotaro.com.br/site/galerias/Imagens/waite-c01.jpg ................................................................................................................................................ 23 Figura 7 – Dois de Copas, Rider Waite-Smith Tarot por Arthur Waite & Pamela Smith. Disponível em: http://www.clubedotaro.com.br/site/galerias/Imagens/waite-c02.jpg ................................................................................................................................................ 24 Figura 8 – Dois de Copas, Princesa de Copas , Illuminati Tarot por Erik Dunne. Disponível em: < https://thetarotclub.com/wp-content/uploads/2013/11/six_of_cups_by_elric2012-d3e1sad- 629x1024.jpg> ................................................................................................................................................ 25 Figura 9 – Três de Copas, Rider Waite-Smith Tarot por Arthur Waite & Pamela Smith. Disponível em: http://www.clubedotaro.com.br/site/galerias/Imagens/waite-c03.jpg ................................................................................................................................................ 26 Figura 10 – Três de Copas , Illuminati Tarot por Erik Dunne. Disponível em: https://ethony.com/wp-content/uploads/2014/06/3-of-Cups-Tarot-Illuminati.jpg
Figura 22 – Durante os ensaios de ContrAção (2019), dirigido por Alice Stefania. Fotografia: Fernando Santana; julho de 2019 ................................................................................................................................................ 41 Figura 23 – Rei de Paus , Waite-Smith Tarot por Arthur Waite & Pamela Smith. Disponível em: http://www.clubedotaro.com.br/site/galerias/Imagens/waite-p14.jpg ................................................................................................................................................ 43 Figura 24 – Rei de Paus , Illuminati Tarot por Erik Dunne. Disponível em: https://i.pinimg.com/originals/0c/5b/0c/0c5b0c31d6e95c98d502955fbb7cb160.jpg ................................................................................................................................................ 42 Figura 25 – Sete de Espadas, Waite-Smith Tarot por Arthur Waite & Pamela Smith. Disponível em: http://www.clubedotaro.com.br/site/galerias/Imagens/waite-e07.jpg ................................................................................................................................................ 43 Figura 26 – Sete de Espadas , Aquarian Tarot por Palladini David. Disponível em: https://i.pinimg.com/originals/2b/fe/10/2bfe10de050a841c4ace3c13f80b5373.jpg ................................................................................................................................................ 43 Figura 27 – O Louco, Waite-Smith Tarot por Arthur Waite & Pamela Smith. Disponível em: < http://www.clubedotaro.com.br/site/galerias/Imagens/waite-00.jpg > ................................................................................................................................................ 45 Figura 28 – O Louco, Illuminati Tarot por Erik Dunne. Disponível em: < http://4.bp.blogspot.com/- xdE8vmlNNVY/TyIu9Uj1q0I/AAAAAAAAAVI/VqaknIXOdrs/s1600/thefool> ................................................................................................................................................ 45 Figura 29 – Em cena na montagem ContrAção (2019), dirigido por Alice Stefania. Fotografia: Fernando Santana; julho de 2019 ................................................................................................................................................ 46 Figura 30 – Em cena na montagem ContrAção (2019), dirigido por Alice Stefania. Fotografia: Fernando Santana ................................................................................................................................................ 47 Figura 31 – Em cena na montagem ContrAção (2019), dirigido por Alice Stefania. Fotografia: Fernando Santana; julho de 2019 ................................................................................................................................................ 48
O jogo de baralho, que é de provável origem chinesa, foi amplamente difundido pela Europa Medieval a partir do século XIV e sua primeira documentação foi registrada em 1367. Ao passar do tempo sua configuração tradicional foi sofrendo alterações e sua utilização incluiu tiragens para a divinação e estudos de simbolismos por ordens esotéricas e estudiosos de ocultismo da Europa Ocidental. É decorrente desses estudos e transformações que surgiu a formação do baralho de Tarô que conhecemos atualmente. O Tarô foi também uma maneira dos europeus aprofundarem o conhecimento acerca da Cabala Judaica, visto que a configuração de todo seu conteúdo se encaixa perfeitamente dentro do conceito de Árvore da Vida Cabalística. Esta ligação entre o Tarô e a Cabala ganha mais repercussão no século XIX com Eliphas Levi em seu Dogma e Ritual da Alta Magia, onde ele explicita os Arcanos Maiores do Tarô como códigos ocultos, fazendo a correlação do significado das lâminas com as letras hebraicas. No século XX essa ideia foi muito divulgada pela Ordem Hermética da Aurora Dourada, fundada por Samuel L. Mcgregor Mathers, William W. Westcott e William R. Woodman. Seus participantes utilizavam o Tarô não só como adivinhação, mas também em ritualísticas e estudos sobre a estrutura de formação do universo, correlacionando com a Árvore da Vida da Cabala Judaica. O Tarô é um baralho constituído de setenta e oito lâminas que são divididas entre vinte e dois Arcanos Maiores e cinquenta e seis Arcanos Menores. Os Arcanos Menores subdividem-se entre os quatro naipes que também são presentes nos baralhos comuns (paus, espadas, copas e ouro) e suas respectivas cartas da corte, com a adição de mais uma carta para cada naipe (Príncipe ou Princesa). Em uma visão esotérica, os vinte e dois Arcanos Maiores contam a respeito do processo de criação do universo e dos estágios em que o ser humano é levado através do caminho da iniciação, o conduzindo ao autoconhecimento e iluminação. São figuras misteriosas que despertam potenciais latentes do ser e representam grandes arquétipos presentes na sociedade.
Este trabalho de conclusão de curso em Artes Cênicas mescla questões do teatro e movimento com os significados das figuras de Tarô. Essa proposta teórico- prática está ligada às matérias de Prática de Montagem e Diplomação em Interpretação Teatral (DIT), ministradas pelas docentes Simone Reis e Alice Stefania respectivamente, do curso de bacharelado de Artes Cênicas da Universidade de Brasília. A pesquisa busca analisar de que maneira os arquétipos^2 e significados se relacionam com os caminhos de criação corporal e dramatúrgica das cenas levantadas pelos intérpretes durante um processo de montagem de peça e/ou investigações performáticas. O objeto escolhido a ser analisado, são as cartas de Tarô, uma esfera de simbolismos ocultos que se manifestam a partir dos conteúdos inconscientes. As figuras milenares do Tarô são representações de personagens que mesmo com todo o seu ocultismo e nebulosidade, representam o real, o cotidiano e as relações interpessoais. Por isso são fonte de pesquisa para esse projeto de conclusão de curso. Os processos inconscientes estabelecidos dentro de uma montagem de peça ou performance, muitas vezes, não são inteiramente percebida pelos integrantes. Quanto a essa questão, C.G Jung defende que: O homem contemporâneo não consegue perceber que, apesar de toda a sua racionalização e toda a sua eficiência, continua possuído por “forças” além do seu controle. Seus deuses e demônios absolutamente não desapareceram; tem apenas novos nomes. (2008, p. 5). Ora, se essa afirmação diz respeito à vida do homem e da mulher contemporânea em seu cotidiano, com certeza também se manifesta e interfere (^2) A palavra arquétipo deriva do grego e pode ser dividida em dois termos, o “arché” (ἀρχή) significando “principal” ou “princípio” e “tipos” (τύπος) que quer dizer “impressão” ou “marca”. Assim, pode-se dizer que essa expressão se refere a algo que tem uma marca desde o princípio, ou seja, que arquétipo é o mesmo que antigas impressões sobre determinadas coisas. Esse conceito surgiu por volta de 1919, com o suíço Carl Gustav Jung, um discípulo de Freud. Jung rompe com Freud e cria a psicologia analítica fundamentada nos conceitos de arquétipo e inconsciente coletivo.Para ele, que foi um dos psiquiatras mais importantes de sua época, arquétipo define estruturas inatas comuns à psique de todos os sujeitos.. O estudioso cria, portanto, a ideia de conjunto de “imagens primordiais”,comuns a todas as civilizações.. Por exemplo, as ideias que as pessoas possuem de herói, ladrão, morte etc., são praticamente as mesmas. Essas ideias primordiais existem e se assemelham mesmo em lugares diferentes, com culturas, religiões e crenças divergentes. (Disponível em: https://www.estudopratico.com.br/entenda-o-que-sao-os-arquetipos-e-como-se-aplicam/
Essa pesquisa pretende analisar os resultados de uma busca por um lugar intuitivo após e durante o processo de criação de personagens e cenas com base nas minhas experiências artísticas que ocorreram, como dito anteriormente, nas disciplinas de Prática de Montagem e Diplomação em Interpretação Teatral (DIT).
A tarefa não é ver aquilo que ninguém viu, mas pensar o que ninguém ainda pensou sobre aquilo que todo mundo vê. (Arthur Schopenhauer) A primeira vez em que me ocorreu a associação das cartas de Tarô com o intuitivo artístico e o universo teatral foi ao realizar a leitura do livro Como Parar de Atuar, de Harold Guskin, quando defrontei-me com a seguinte afirmação do autor sobre a análise das falas de um personagem por um intérprete: De fato, a análise faz com que o ator fique com medo de confiar em sua intuição. [...] A análise tem de ser deixada para os acadêmicos e os críticos. Atores sabem sobre sentimentos, imaginação e improvisação. Eles são bons em se transformar em outras pessoas. Sua intuição é o seu talento. Quanto mais eles confiam em sua intuição, mais inesperada e inspiradora fica a sua performance. (2015, p. 2). O autor faz uma associação entre a intuição e o processo de criação: ‘’O objetivo é deixar a fala (dos personagens) circular pelo inconsciente [...] O ator acessa seu self inconsciente, surpreendendo-se com a sua resposta inconsciente. ’’ (GUSKIN, 2015, p. 4). Ele propõe afastar análises frias e técnicas durante a preparação de um personagem e defende que o artista deve buscar sua intuição como uma maneira de despertar novos materiais sensíveis sobre a personagem e sobre a peça a ser interpretada. Tentar ignorar as intuições e os instintos do inconsciente dentro do teatro, pode suscitar em um ator/atriz preso e bloqueado em suas funções imaginativas, uma vez que segundo Jolande Jacobi ‘’A opinião de que a principal postura humana seria a consciência é uma falácia’’ (2013, p. 26). Tal afirmação se baseia na colocação de C. G. Jung, quando este afirma que ‘’passamos grande parte de nossas vidas no inconsciente; nós dormimos ou cochilamos. [...] É indiscutível que a consciência depende do inconsciente em todas as situações importantes da vida. ’’ (Apud JACOBI, 2013, p. 26). Uma vez que somos regidos pelo grande maestro da inconsciência, é imprescindível admitir a existência e importância do inconsciente para que então seja possível compreendê-l e interpretar seus movimentos com afinco quando necessário. Não é possível, no entanto, contatar todos os - fenômenos do inconsciente, não é possível assimilar todos os gestos do maestro, uma vez que:
sua origem em experiências ou aquisições pessoais, sendo inata. Esta camada mais profunda é o que chamamos inconsciente coletivo. Eu optei pelo termo "coletivo" pelo fato de o inconsciente não ser de natureza individual, mas universal; isto é, contrariamente à psique pessoal ele possui conteúdos e modos de comportamento, os quais são ‘’cum grano salis’’ os mesmos em toda parte e em todos os indivíduos. Em outras palavras, são idênticos em todos os seres humanos, constituindo, portanto, um substrato psíquico comum de natureza psíquica suprapessoal que existe em cada indivíduo. (2002, p. 14). O choque entre esses dois mundos pode gerar faíscas que se transmutam em prol de uma criação artística: Os conteúdos do inconsciente pessoal são principalmente os complexos de tonalidade emocional, que constituem a intimidade pessoal da vida anímica. Os conteúdos do Inconsciente Coletivo, por outro lado, são chamados arquétipos. (JUNG, 2002, p. 15). Em uma comparação com a definição de Jung, a pesquisa de cada intérprete com seu papel está para o inconsciente pessoal, enquanto que a estruturação coletiva da peça pode se relacionar para o inconsciente coletivo. Analisar as partes simbólicas individualmente e então uni-las acarreta numa leitura geral e macroscópica de uma obra artística. Porém ao mesmo tempo que existe o todo, existem as particularidades de cada fragmento que tornam a obra especial. Assim é a relação do inconsciente com o consciente, um não existe sem o outro.
A finalidade da arte é dar corpo à essência secreta das coisas, não é copiar sua aparência. (Aristóteles) No primeiro semestre de 2016 cursei a disciplina Prática de Montagem sob a supervisão e direção da professora Simone Reis. Foi decidido que iríamos trabalhar com a peça clássica As Três Irmãs de Anton Tchekhov, arquitetada conforme a estética performática e desconstrutivista das mais diversas pesquisas e experiências da vida artística de Simone Reis. Montar uma peça clássica pautada na performatividade ao invés da famosa estética realista, muito atribuída a esse gênero dramatúrgico, foi um desafio para todos os alunos e para o processo em si. Transformar um texto realista e clássico numa performance intervencionista com quebras de quarta parede e de auto ficção auxiliou a descobrir camadas mais profundas das personalidades das personagens e suas relações ao longo do desenvolver da trama. Principalmente pela perspectiva da loucura, do grotesco e do absurdo, conceitos que estão presentes nos objetos de pesquisa de Simone Reis. Sob essa estética performática, o nome da peça foi alterado para As Três Patetas em Chamas, e cada aluno teve a oportunidade de escolher o personagem que gostaria de interpretar e, no caso, a personagem escolhida por mim foi Irina Prózorov, a caçula das três irmãs Prózorov. A escolha dessa personagem foi por ter me despertado interesse em seu jeito doce e inocente, o que enquanto atriz seria um desafio explorar esse lado mais suave, além de ser uma oportunidade para acessar locais internos e psicofísicos mais delicados, brandos e transformá-los em cena. Irina é a típica personagem sonhadora, inocente e muito jovem que acaba de entrar na vida adulta e que ainda não conheceu as mazelas do mundo por não possuir muitas experiências sociais, sejam através de relações familiares ou profissionais. O retrato dos males da sociedade cotidiana e como isso interfere nas personalidades e nos laços humanos é um assunto recorrente nas histórias criadas por Tchekhov. Portanto, temos nessa peça a relação de uma família que busca encontrar a felicidade no futuro e, apesar das mais diversas peculiaridades, desejos, e situações enfrentadas por cada membro da família e de seus conhecidos, a esperança é um tom que está presente em todos os personagens até o final.