Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Derivação de Verbos Possessivos e Copulativos no PB a Partir dos Traços do Verbo Existenci, Slides de Construção

Uma análise do verbo existencial no português brasileiro e sua relação com os verbos possessivos e copulativos. O autor defende que esses verbos derivam de uma instância temática comum a um mesmo tipo de verbo. O texto também discute a hipótese de que o verbo existencial pode portar traços de caso partitivo, o que pode explicar a associação de possessivos com sujeito nulo em construções existenciais.

O que você vai aprender

  • Quais categorias funcionais podem instanciar a coda em português brasileiro?
  • Como acontece a concordância do verbo existencial com seu complemento em português brasileiro?
  • Por que os verbos possessivos e copulativos do português brasileiro são obtidos a partir do verbo existencial?
  • Qual é a relação entre verbos existencial, possessivo e copulativo no português brasileiro?
  • O que é a hipótese de que o verbo existencial pode portar traços de caso partitivo?

Tipologia: Slides

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Garrincha
Garrincha 🇧🇷

4.1

(47)

225 documentos

1 / 256

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
Juanito Ornelas de Avelar
DINÂMICAS MORFOSSINTÁTICAS
COM TER, SER E ESTAR
EM PORTUGUÊS BRASILEIRO
Dissertação de Mestrado apresentada
ao Departamento de Lingüística
do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp
como requisito parcial para obtenção
do título de Mestre em Lingüística
Orientador:
Prof. Dr. Jairo Morais Nunes (IEL/UNICAMP)
Banca Examinadora:
Profa. Dra. Evani Viotti (FFLCH/USP)
Prof. Dr. Rodolfo Ilari (IEL/UNICAMP)
Instituto de Estudos da Linguagem
Universidade Estadual de Campinas
Março / 2004
pf3
pf4
pf5
pf8
pf9
pfa
pfd
pfe
pff
pf12
pf13
pf14
pf15
pf16
pf17
pf18
pf19
pf1a
pf1b
pf1c
pf1d
pf1e
pf1f
pf20
pf21
pf22
pf23
pf24
pf25
pf26
pf27
pf28
pf29
pf2a
pf2b
pf2c
pf2d
pf2e
pf2f
pf30
pf31
pf32
pf33
pf34
pf35
pf36
pf37
pf38
pf39
pf3a
pf3b
pf3c
pf3d
pf3e
pf3f
pf40
pf41
pf42
pf43
pf44
pf45
pf46
pf47
pf48
pf49
pf4a
pf4b
pf4c
pf4d
pf4e
pf4f
pf50
pf51
pf52
pf53
pf54
pf55
pf56
pf57
pf58
pf59
pf5a
pf5b
pf5c
pf5d
pf5e
pf5f
pf60
pf61
pf62
pf63
pf64

Pré-visualização parcial do texto

Baixe Derivação de Verbos Possessivos e Copulativos no PB a Partir dos Traços do Verbo Existenci e outras Slides em PDF para Construção, somente na Docsity!

Juanito Ornelas de Avelar

DINÂMICAS MORFOSSINTÁTICAS

COM TER , SER E ESTAR

EM PORTUGUÊS BRASILEIRO

Dissertação de Mestrado apresentada

ao Departamento de Lingüística

do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp

como requisito parcial para obtenção

do título de Mestre em Lingüística

Orientador:

Prof. Dr. Jairo Morais Nunes (IEL/UNICAMP)

Banca Examinadora:

Profa. Dra^. Evani Viotti (FFLCH/USP)

Prof. Dr. Rodolfo Ilari (IEL/UNICAMP)

Instituto de Estudos da Linguagem

Universidade Estadual de Campinas

Março / 2004

ii

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________

Prof. Dr. Jairo Morais Nunes (IEL-UNICAMP) orientador

____________________________________________________________

Prof. Dr. Rodolfo Ilari (IEL-UNICAMP)

____________________________________________________________

Prof. Dr. Evani de Carvalho Viotti (FFLCH-USP)

____________________________________________________________

Prof. Dr. Maria Filomena Spatti Sândalo de Sá Porto (IEL-UNICAMP) (suplente)

iv

Para

MARÍLIO E N ILDECIR, in memoriam

v

A GRADECIMENTOS

A FAPESP , pelo financiamento a essa pesquisa; a J AIRO NUNES , pela dedicação, desempenho e solicitude na orientação deste trabalho. Sem a sua genialidade, teria sido impossível enxergar a parte submersa do iceberg... a EVANI VIOTTI , não apenas pela participação na banca de avaliação, mas por oferecer à comunidade um dos trabalhos mais instigantes sobre as construções existenciais em português; a RODOLFO I LARI , pelas observações valiosas (e incômodas para os limites de um sintaticista) como membro da banca de qualificação e defesa deste trabalho; a FILOMENA SÂNDALO , pela participação na banca de avaliação deste trabalho; a DINAH CALLOU , com quem trabalho há sete anos. São dela as primeiras idéias que permitiram o desenvolvimento desta investigação; a M ARIA EUGÊNIA DUARTE, por seu apoio e incentivo, que perduram desde os primeiros tempos da iniciação científica; a M ARY KATO , pelas contribuições que permitiram enriquecer a dissertação; a CHARLOTTE GALVES , pelas aulas e conversas (ainda que rápidas) de corredor, que ajudaram a construir alguns dos pilares deste estudo; a ROSE , CLÁUDIO e demais funcionários do Departamento de Lingüística, não apenas pela postura sempre solícita, mas sobretudo pela competência profissional, que vem contribuindo para a manutenção da qualidade dos serviços oferecidos por este Instituto; a J OCYARE , M ARINALVA , NELI, SIMONE e TELMA , pela amizade nesses dois anos de Campinas. Cada uma merece mais do que um parágrafo... O que vivemos nestes dois anos (e o que ainda vamos viver) não cabe nos agradecimentos desta dissertação; aos amigos da sintaxe e áreas afins: FLAVIANE, CRISTIANE, SÍLVIA, BRENDA, J ÉSSICA, CINTHIA, CRISTINA, ÉRICA, MARINA, I RÊ, M ANOEL, LURDINHA, ALBA, ANA PAULA, ADRIANA, ANA CLÁUDIA e outros que, porventura, eu tenha me esquecido de mencionar. Vida longa à Sintaxe! a EDVANIA, CÂNDIDA , DANIEL, M ÔA, CÍNTIA, KASSANDRA, JORGE, VALDEREZ, GRAZIELA, J ULIENE, CRISTIANE, CLÁUDIA, RUBER, ELENITA e tantos outros, pela descontração que tornaram esses dois anos em Campinas ainda mais agradáveis. a DONA DINÁ , minha avó-mãe , e à SANDRA , minha mãe-mãe , as pessoas que eu mais amo neste mundo, pelo cuidado que se multiplicaram nestes dois anos, mesmo à distância. E à JUANA e J OSÉ MACHADO , pessoas a quem eu devo muito do que tenho e sou. E é claro: a DIRCILÉIA, ELISA, MARÍLIA, MAURÍLIO, MÁRIA, MYCHELLE, DAIANA, PAULINHA, JUAN, VITÓRIA, CLARINHA, CLARISSE e PAULINA , minha família , pelo carinho com que sempre me acolheram. a DONA DORINHA , pela acolhida generosa (sem esquecer dos almoços de fim-de-semana) com que sempre me recebe em sua casa; e a ROGÉRIO , um lingüista-enrustido, que deu algumas das dicas diretivas para a elaboração deste trabalho. Um universo inteiro de palavras ainda seria mínimo! A ele, todo amor que houver nessa vida ...

vii

  • INTRODUÇÃO Í NDICE
    • 1.1 Introdução CAPÍTULO 1: Paralelismos temáticos
    • 1.2 Paralelismos temáticos entre construções com ter , ser e estar
    • 1.3 O verbo possessivo e a preposição abstrata...............................................................
      • 1.3.1 Have : incorporação a be -existencial.............................................................
      • 1.3.2 Possessivas, existenciais e relações PARTE-TODO.................................................
      • 1.3.3 Double object constructions e interpretação possessiva...............................
      • 1.3.4 Sumário.........................................................................................................
    • 1.4 Uma base existencial para as construções com ser e estar
      • 1.4.1 Ter -existencial e estar
      • 1.4.2 Ter -existencial e ser
      • 1.4.3 Efeito de definitude e verbos monoargumentais...........................................
    • 1.5 Um modelo morfossintático para a obtenção de ter , ser e estar
      • 1.5.1 Operações morfológicas e checagem de traços.............................................
      • 1.5.2 Condições de adjacência...............................................................................
      • 1.5.3 Complexos de traços para ter , ser e estar
    • 1.6 Sumário......................................................................................................................
    • 2.1 Introdução.................................................................................................................. CAPÍTULO 2: Sentenças existenciais e paráfrases estativas
    • 2.2 O constituinte locativo
      • 2.2.1 O status do locativo no interior da coda.......................................................
      • 2.2.2 Ter -existencial e ter -possessivo....................................................................
      • 2.2.3 Ambigüidade estrutural.................................................................................
      • 2.2.4 Small clauses locativas..................................................................................
      • 2.2.5 Sumário.........................................................................................................
    • 2.3 Paráfrases estativas para as construções existenciais................................................
    • 2.4 A posição de sujeito e as possibilidades de configuração da coda............................
      • 2.4.1 A posição de sujeito nas existenciais............................................................
      • 2.4.2 Sobre a arquitetura do DP.............................................................................
      • 2.4.3 A derivação das estativas a partir das existenciais........................................
      • 2.4.4 Inversão locativa...........................................................................................
    • 2.5 Sumário......................................................................................................................
    • 3.1 Introdução.................................................................................................................. CAPÍTULO 3: Sentenças possessivas
    • 3.2 Constituintes nominais possessivos
      • 3.2.1 A preposição de em DPs possessivos...........................................................
      • 3.2.2 Pronomes possessivos...................................................................................
      • 3.2.3 Sobre a preposição com
      • 3.2.4 Sumário.........................................................................................................
    • 3.3 As sentenças possessivas...........................................................................................
      • 3.3.1 Possessivas e referenciação
      • 3.3.2 Adjacência entre v e Poss..............................................................................
    • 3.4 Paralelos entre ter e estar com viii
    • 3.5 Possessivas, existenciais e indeterminação...............................................................
      • 3.5.1 Você genérico................................................................................................
      • 3.5.2 Caráter episódico...........................................................................................
      • 3.5.3 Sujeitos locativos..........................................................................................
      • 3.5.4 Indeterminação do sujeito
    • 3.6 Sumário......................................................................................................................
    • 4.1 Introdução.................................................................................................................. CAPÍTULO 4: Sentenças copulativas
    • 4.2 Cópula e predicação..................................................................................................
      • 4.2.1 A cópula como um verbo de alçamento........................................................
      • 4.2.2 Argumentos, predicados e referencialidade..................................................
      • 4.2.3 Cópula, dêixis e definitude............................................................................
      • 4.2.4 Sumário.........................................................................................................
    • 4.3 Tópico, relações apositivas e cópula.........................................................................
      • 4.3.1 Sobre TopP....................................................................................................
      • 4.3.2 Restrições sobre DPs quantificados..............................................................
      • 4.3.3 Do verbo existencial ao copulativo...............................................................
      • 4.3.4 A natureza categorial do predicado copular..................................................
      • 4.3.5 Sumário.........................................................................................................
    • 4.4 Sobre a terceira cópula..............................................................................................
    • 4.5 A cópula pronominal.................................................................................................
    • 4.6 Sumário......................................................................................................................
  • CONCLUSÃO
  • REFERÊNCIAS

sentido que iremos precisar. Vale de antemão considerar algumas implicações dessa abordagem, antes de apontar o que tomamos como diferencial neste trabalho. Que a noção de incorporação tomada em alguns dos estudos citados deveria apresentar uma caracterização morfo-fonética é inegável. Contudo as propostas para a obtenção de algo como have a partir de be ficam circunscritas à dimensão sintática. Reporta-se a um processo que transforma uma forma da língua, com um contorno morfológico específico, numa outra forma que detém um contorno igualmente específico, mas inteiramente diferente do primeiro. Considerando o caso do inglês, por exemplo, em propostas como as de Kayne (1993) e Hornstein et al. (2002), argumenta-se que a forma have consiste num be transformado após ser incorporado a uma categoria híbrida entre determinante e preposição/complementizador. Seria interessante vermos elucidadas algumas peculiaridades desse processo, o que nenhum dos autores promove a fundo, provavelmente pelas limitações do modelo teórico adotado: qual é a natureza do que se convenciona chamar de incorporação, operação que integra uma categoria abstrata a uma forma verbal e permite obter uma outra forma que em nada lembra, pelo menos em termos morfológicos, as duas categorias integradas? Por natureza , estamos nos referindo aos mecanismos de efetivação, bem como a motivação para o desencadeamento do processo. Kayne e Hornstein et al. procuram estabelecer, pelo menos, os fatores do desencadeamento: a incorporação de uma categoria à cópula vai permitir que operações de movimento necessárias à derivação da sentença possessiva sejam legitimadas. Tal assunção dá margem a considerarmos que uma sentença possessiva resulta, em parte, da incorporação efetivada, mas o quadro ideal nos parece exatamente o contrário: a incorporação e a realização de um verbo diferenciado devem ser um dos resultados, e não uma das causas, dos mecanismos que permitem gerar uma construção possessiva. O que postular para aquelas línguas em que o verbo possessivo apresenta a mesma forma que a do verbo copulativo, aparentemente indicando não ter havido qualquer processo de incorporação? Se essas línguas dispõem de sentenças com interpretação possessiva, sem qualquer verbo exclusivamente possessivo em seu sistema, não deve ser a incorporação o procedimento gerador da construção de posse a partir da cópula, a não ser que as línguas naturais disponham de um comportamento parametrizado para configurar suas possessivas. Se for este o caso, somos obrigados a assumir que algumas línguas naturais, entre as quais se incluiria o inglês, vão deixar para a sintaxe a tarefa de construir não somente a sentença, mas também o próprio significado de posse, fato cuja explicação nos parece um complicador para sustentar a hipótese de que a expressão de posse deriva da expressão copular.

Além disso, não existe qualquer indício morfológico de be em have que nos faça evidenciar a metamorfose de um em outro. Os argumentos para a tese da incorporação vão recair sobre propriedades de caráter semântico-pragmático e sintático exibidas pelas construções com os dois verbos, como o esvaziamento semântico de ambos, o compartilhamento dos mesmos constituintes e o paralelismo temático entre algumas sentenças com um e outro item. Não se apresentam evidências morfológicas para justificar a incorporação, a não ser a ocorrência de uma forma diferente da cópula. Falta, portanto, o que poderia ser uma prova física para evidenciar a transformação do copulativo no possessivo quando incorporado a uma dada categoria. Por exemplo, digamos que o verbo possessivo do inglês consista do copulativo incorporado à forma in ou ao marcador genitivo ’s. O que poderia ser uma prova material da incorporação seria a ocorrência de algo como inbe ou bein , no caso de a preposição ser o item incorporado, ou be’s ou s’be , para o caso de a incorporação contar com o genitivo. O resultado, sabemos, não é esse. Se atentarmos para o fato de que muitos dos trabalhos em que se assume a hipótese da incorporação adotam um modelo derivacional lexicalista, a questão fica ainda mais intrincada. Num aparato lexicalista, o sistema computacional deve contar com informações fonéticas desde o início da derivação e, sob essa restrição, tem de alterar o material fonético de uma forma como be e transformá-la em algo como have , modificando o arranjo inicial de itens lexicais. Não é o caso de tachar essa alteração como um dispositivo computacional impossível, mas asseverar que as teorias defensoras da incorporação poderiam indagar acerca do processo de transformação em si mesmo, evidenciando como a alteração de be para have se implementa. De uma forma geral, a realização de categorias distintas numa única forma através de incorporação e outros processos similares guardam uma evidência material: por exemplo, a contração da preposição e do artigo em português ou a necessidade de um clítico se juntar a uma dada forma da sentença para apresentar condições de realização; ou, ainda, as diversas marcas flexionais associadas a tempo, modo, número e pessoa que podem se agregar a uma forma substantiva, compondo a categoria que chamamos de verbo. Para o caso de have e be , não existem evidências desse tipo. A falta de evidência morfológica dentro de um quadro lexicalista assoma, portanto, como um dos principais problemas empíricos para tratar a obtenção do verbo possessivo a partir do copulativo. É em torno dessa questão que a abordagem ora desenvolvida traz uma novidade. Mesmo sem qualquer evidência material para o fenômeno, vamos defender que os verbos possessivos, copulativos e existenciais derivam de uma mesma forma básica, conseqüência direta de as construções de posse, estado e existência se originarem de uma base comum. Se tomarmos um dos pontos do modelo teórico que se vem convencionando chamar de Morfologia Distribuída,

considera um acidente vai corresponder a singularidades do acervo vocabular de uma determinada língua. O quadro não lexicalista se apresenta então como mais adequado para explorar a hipótese de obtenção do possessivo a partir do copulativo. Em vez de partirmos para a elaboração de técnicas sem prova morfológica para sustentar a incorporação, podemos nos ocupar, por exemplo, das informações semânticas codificadas nos diferentes morfemas abstratos que vão permitir, em português brasileiro, a realização de três formas verbais diferenciadas. As questões que tomamos como diretivas para a investigação são as seguintes: (a) se copulativas, possessivas e existenciais resultam de uma mesma base estrutural, como essa base se configura? (b) qual a natureza das operações aplicadas a essa base, permitindo a ocorrência de diferentes tipos sentenciais? (c) qual a natureza das categorias que sofrem a suposta incorporação? A questão-chave vai se concentrar em torno dos padrões morfossintáticos associados à ocorrência de formas verbais distintas: se resultam de um mesmo esquema, como esses três tipos sentenciais vão ser realizados com a presença de formas verbais diferenciadas? Associemos o esquema em (1) às construções em (2) abaixo, por ora sem maiores discussões.

(1) [PredP [muitos líderes da Europa] [a favor da política de Bush]] (2) a. Tem muitos líderes da Europa a favor da política de Bush. b. A Europa tem muitos líderes a favor da política de Bush. c. Muitos líderes da Europa são a favor da política de Bush. d. Muitos líderes da Europa estão a favor da política de Bush.

Estritamente, o que se quer saber é como a ocorrência do sujeito de PredP em (1) acima, resultando em (2c)-(2d), está relacionada à ocorrência de ser e estar , respectivamente; igualmente, como a ocorrência de a Europa , na posição de sujeito em (2b), está relacionada com a implementação do verbo que integra a relação possessiva. Vamos também nos perguntar por que a aparente manutenção da estrutura de (1) em (2a) resulta na interpretação existencial e na realização de um verbo idêntico ao possessivo em português. No capítulo 1, destacamos estudos que seguem a tese de Freeze (1992) em torno da obtenção do verbo possessivo a partir da incorporação de uma preposição abstrata à cópula. Kayne (1993,1994) desenvolve uma abordagem que tomamos como ponto de partida para as análises posteriores: a construção possessiva do inglês vai ser obtida a partir de operações aplicadas sobre constituintes internos a um DP tomado como complemento de be -existencial. Uma dessas operações vai resultar na associação de um item funcional do DP à cópula, permitindo a obtenção da forma possessiva. Também abordamos os estudos de Uriagereka (2002)

e Hornstein, Rosen & Uriagereka (2002), que tratam de interpretações possessivas e locativas veiculadas pelas existenciais. O ponto relevante desses dois estudos para os nossos objetivos é a tentativa de obter as sentenças possessivas a partir de constituintes não-verbais que portem em seu interior uma relação de posse. Ocupamo-nos ainda da proposta de Harley (2001), que fornece uma evidência independente para a existência de uma preposição abstrata entre línguas que dispõem de um verbo inerentemente possessivo. Num segundo momento, apresentamos fatos do português brasileiro associados à relação entre ordem e definitude na organização das copulativas e existenciais. Mostramos que o observado nessa língua é similar ao apontado por autores como Clark (1978) e Freeze (1992) em outros sistemas: a realização de sujeitos indefinidos num esquema paralelo àquele esboçado em (1) está associada à ocorrência de construções existenciais; contrariamente, sujeitos definidos tendem a integrar os outros padrões sentenciais. Finalizamos o capítulo com a apresentação dos pressupostos da Morfologia Distribuída, nos termos de Halle & Marantz (1993) e Bobaljik (1995,1996). No capítulo 2, analisamos as construções existenciais e suas paráfrases com o verbo estar em português brasileiro. Seguindo Viotti (1999), vamos considerar que a presença do traço D em T no sistema do português brasileiro é opcional. Se o complexo v +T, formado na sintaxe, não portar o traço D, a entrada vocabular acessada após Spell-Out é a de ter , correspondente ao verbo existencial. De outra forma, se T entra na estrutura com traço D ou se o complexo v +T se amalgama à categoria D no componente morfológico, a entrada vocabular acessada é a de estar. Também discutimos o status do constituinte locativo no interior da coda, bem como assumimos a presença de traço de Caso partitivo no verbo existencial, seguindo a proposta de Belletti (1988). No capítulo 3, abordamos as construções possessivas, procurando associar propriedades de constituintes não-verbais com marcação de posse às observadas em sentenças com o verbo ter. Para derivar a construção possessiva, vamos assumir que o verbo existencial toma como complemento um constituinte que abarca em seu interior uma preposição abstrata responsável pela fixação de relações como POSSUIDOR-POSSUÍDO , CONTROLADOR-CONTROLADO , EXPERIENCIADOR-EXPERIÊNCIA , TODO-PARTE e outras afins. Uma vez incorporada a v +T+D no componente morfológico, a preposição determina o acesso à entrada vocabular correspondente ao verbo possessivo. Ainda nesse capítulo, analisamos a inserção do pronome você com referência genérica na posição de sujeito de construções com ter , propondo que esses casos são, na verdade, uma instância de marcação possessiva, e não existencial, contrariamente ao proposto em estudos como os de Duarte (1999) e Avelar & Callou (2000).

CAPÍTULO 1

P ARALELISMOS TEMÁTICOS

1.1 Introdução Línguas de famílias diversas demonstram um comportamento bastante similar no que diz respeito às propriedades demonstradas por sentenças copulativas, possessivas e existenciais, o que torna o estudo dessas construções um programa profícuo para a busca de universais lingüísticos. As diferenças intersistêmicas estão restritas, em geral, à ordem dos constituintes dentro de uma ou outra construção e à quantidade e combinação das formas verbais empregadas para veicular os três padrões. As semelhanças vão ser bem mais proeminentes, conforme sugerem os estudos de Lyons (1968), Clark (1978) e Freeze (1992), dentre outros. Efeitos de definitude, por exemplo, podem determinar propriedades que vão estar associadas à organização de um ou outro tipo sentencial. A interpretação existencial parece depender da relação entre um constituinte indefinido e um marcador locativo. Já as estativas especificamente locativas tendem a associar uma expressão espaço-temporal a um constituinte definido. Quanto às possessivas, conforme atestam estudos como os de Ouhalla (1998) e Harley (2001), o comportamento vai depender de uma determinada língua reter em seu léxico um verbo inerentemente possessivo; quando tal verbo inexiste, o sistema tende a elaborar suas construções de posse ou sob o padrão existencial ou sob o padrão copulativo. Esse compartilhamento universal de propriedades específicas pode remeter a relações entre aspectos cognitivos radicados na mente humana e o componente gerador dos três tipos sentenciais – o componente sintático, propriamente dito. Em outras palavras, se a hipótese de que existe um órgão mental para a linguagem estiver correta (Chomsky 1995:167- 168), é esperado que investigações em torno das expressões de cópula, posse e existência evidenciem características relevantes dessa faculdade humana. Em termos mais estritos, o estabelecimento de um suporte universal pode ser aliado à idéia de que as construções copulativas, possessivas e existenciais são formadas a partir de um padrão subjacente em comum. 1 A expressão de posse, por exemplo, pode consistir na especificação de

(^1) Costuma-se estender o termo existencial àquelas sentenças que realizam a chamada função apresentacional, que corresponderia a uma motivação discursiva associada à configuração sintática de certas construções. Junto às construções com o verbo ter , que focalizamos neste estudo, seriam incluídas entre as apresentacionais as construções com acontecer , aparecer , chegar , existir , surgir etc. Sintaticamente, essas construções apresentam em comum a possibilidade de ocorrência de um argumento nominal posposto ao verbo, num padrão similar ao das existenciais com ter. No âmbito semântico-discursivo, esses verbos integrariam construções que permitem introduzir ou apresentar um novo elemento no plano do discurso. Remetemos o leitor para o estudo de Franchi, Negrão e Viotti (1998), que desenvolvem uma discussão sobre a função discursiva desse conjunto de construções existenciais/apresentacionais em português brasileiro. De acordo com esses autores, “mais do que uma predicação de

(4) a. waska tiya-puwan (quéchua boliviano) rope exist-for-me ‘I have a rope’ b. wíkikmal-em hem- wák?a míyaxwen (cahuilla / Uto-Aztecan) bird- PL their wing exists ‘(The) birds have wings’ (5) a. seηkau a n yee- i (kpelle / Mande, Niger-Congo) money.PL be my hand-LOC ‘I have money’ b. du ‘a vədo (gisiga / Chadic, Afro-Asiatic) millet at body-my ‘I have millet’ (Heine 1997:52-62)

Dentro do arcabouço gerativista, Lyons (1968) é um dos primeiros a propor uma base locativa subjacente comum às possessivas e existenciais. Para o autor, as sentenças de posse e existência são obtidas a partir de procedimentos sintáticos que, atuando numa tal ordem, afetam uma estrutura locativa e derivam aquelas construções. Partindo da proposta de Lyons, Freeze (1992) compara línguas de famílias diversas e argumenta que o verbo possessivo pode ser obtido pela incorporação de uma preposição – ou de uma categoria similar – ao verbo existencial/copulativo. Posse, locação e existência são caracterizados como padrões integrantes de um mesmo paradigma – o paradigma locativo, instanciado pela Gramática Universal, no dizer do autor (ver seção 1.2). Na mesma linha, Kayne (1993,1994) e Hornstein et al. (2002) concentram-se nos casos de be e have do inglês e demonstram similaridades entre posse e existência, tanto do ponto de vista sintático quanto do semântico (ver respectivamente as seções 1.3.1 e 1.3.2). Kayne, em particular, estabelece uma abordagem unificada para o have possessivo e o have auxiliar, defendendo que ambos são obtidos pela incorporação de uma categoria abstrata ao verbo copulativo; Hornstein et al. apresentam correlações gerais entre o be estativo e o be existencial, que estariam na base da formação de uma sentença possessiva pelo mesmo processo apontado por Kayne. 3

“ação” não esteja embutida no verbo possessivo do português, é importante ressaltar que ter , no português arcaico, era empregado como um verbo semanticamente pleno e correspondia a acepções como segurar , manter , prender , dentre outras afins (Mattos e Silva 1997). Daí as construções possessivas do português corresponderem a uma estrutura paralela à de um verbo transitivo. Retorno a esse ponto no capítulo 4, quando trato mais diretamente das construções possessivas. Um ponto a ser destacado nessa abordagem de Heine é que, com exceção do esquema de action , todas as demais fórmulas são construídas em torno do verbo copular ( is ) ou do verbo existencial ( exists ). As representações estabelecidas pelo autor prevêem, então, a construção de uma sentença possessiva de acordo com o indicado por Benveniste: o sentido de posse é derivado a partir de expressões estativas, seja por via existencial, seja por via copulativa, o que corrobora a idéia de que posse, cópula e existência podem compor um mesmo paradigma. (^3) Para uma visão contrária às abordagens de Freeze (1992), Kayne (1993,1994) e Hornstein et alii (2002), ver o capítulo 2 de Viotti (1999).

A saliência de uma condição locativa sob a ótica de Freeze (1992) pode ser corroborada por investigações no campo da aquisição da linguagem. Conforme destacado por Lemos (1987:3), dados de aquisição evidenciam que expressões locativas precedem a ocorrência de estruturas atributivas e possessivas. Para o caso do português brasileiro, focalizando a aquisição de ser e estar , os dados listados pela autora indiciam que construções espaciais dêiticas com o verbo estar são realizadas pela criança antes que outras modalidades de sentenças estativas sejam implementadas. Até mesmo construções com uma possível interpretação possessiva, como cauo...papai (realizada por uma criança ao ouvir o barulho do carro do pai) ou quéti...vovó (com a criança diante de um chiclete dado pela avó) são realizadas com uma intenção dêitica, referindo-se a elementos da esfera locativa em torno da qual a criança se encontra. As primeiras existenciais realizadas são também de denotação locativa – tem teevisão no jonau , tem leão no zoógico?. Posteriormente a essa fase é que as construções com predicados nominais e adjetivais passam a ser implementadas. Os dados de Lemos podem então evidenciar uma etapa locativa (hipótese de nossa responsabilidade), que antecede e pode estar atuando como um suporte primitivo para a produção das possessivas, existenciais e outras estativas. Análises diacrônicas também podem contribuir para a argumentação em favor de um paradigma locativo. Os dados dispostos por Mattos e Silva (1989, 1997, 2002) em torno da variação seer / star e seer / aver no português arcaico sugerem que as expressões copulativas e existenciais com constituintes locativos foram as primeiras a ceder à inserção de novos verbos nos domínios da cópula, que abrangia todos os tipos de estativas e existenciais.^4 Entre as estativas, os dados do período podem servir de base à hipótese de que são em sentenças como aquela em (6) a seguir, com predicado locativo, que star inicia sua invasão sobre o campo de seer. Entre as existenciais, a superposição de aver parece se iniciar entre as construções com constituintes locativos, do tipo em (7). No século XIII, as existenciais e estativas sem denotação locativa ainda seriam preferencialmente realizadas com seer , como nos casos de (8) e (9a), respectivamente.

(^4) Os estudos desenvolvidos por Mattos e Silva são uma das fontes inspiradores desta investigação. Por meio de diversos trabalhos, a autora traça o percurso de ter , haver , ser e estar do século XIII ao século XVI, apresentando pistas relevantes para depreendermos a relação entre posse, locação, cópula e existência, não apenas para a determinação de propriedades do português, mas para especificidades da relação entre esses padrões sentenciais no possível aparato subjacente às diversas línguas naturais. Para pesquisas desenvolvidas dentro da Morfologia Distribuída, os resultados expostos pela autora constituem um desafio empírico: como um sistema com apenas duas formas vocabulares ( seer e aver ) para as expressões de cópula, posse e existência evoluiu até apresentar quatro formas ( ser , estar , ter e haver ) para as mesmas expressões? Embora não nos ocupemos desta questão no presente