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A digestão de macronutrientes orgânicos (carboidratos, proteínas e lipídios) é efetuada pelas enzimas do sistema gastrintestinal (SGI) ou sistema digestório.
Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas
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DIGESTÃO E ABSORÇÃO DE NUTRIENTES ORGÂNICOS Sônia Malheiros Lopes Sanioto
Os processos digestivos dos nutrientes orgânicos são efetuados por enzimas luminais e da borda em escova dos enterócitos do delgado, A digestão de macronutrientes orgânicos (carboidratos, proteínas e lipídios) é efetuada pelas enzimas do sistema gastrintestinal (SGI) ou sistema digestório (SD). Estas são hidrolases , que catalisam a adição de moléculas de água às ligações C-O e C–N dos nutrientes em sítios específicos como representado na sequência:
O processo de adição de água cinde a molécula dos nutrientes orgânicos em moléculas menores; o processo inverso, de remoção de água, é a condensação. As enzimas secretadas na luz do SGI denominam-se enzimas luminais e as sintetizadas nas células do SGI, denominadas enterócitos e incorporadas às suas membranas luminais como proteínas integrais, são as enzimas da borda em escova. A meia vida destas enzimas é menor do que a dos enterócitos. Assim, vários ciclos de quebra e síntese das enzimas ocorrem durante a vida destas células. As atividades das enzimas digestivas são facilitadas pelas secre- ções de água e íons para a luz do TGI (trato gastrointestinal). Resultam dos processos digestivos monômeros, dímeros e trímeros absorvidos através do epitélio do delgado. Os processos hidrolíticos ocorrem nas várias porções do TGI, na cavidade oral, no estômago e predominantemente no duodeno e nas porções proximais do íleo. O cólon não apresenta enzimas luminais e da borda em escova. Na Figura 22.1 estão indicados os locais de secreção das principais enzimas luminais e da borda em escova ao longo do TGI. Figura 22.1 – Sítios de secreção das enzimas luminais e localização das enzimas da borda em escova ao longo do trato gastrointestinal.
A membrana luminal (ML) dos enterócitos absortivos apresenta microvilo- sidades com cerca de 1 μm comprimento por 0,1 μm de diâmetro, elevando mais cerca de 20 vezes a superfície absortiva. As microvilosidades formam a borda em escova do epitélio intestinal, havendo cerca de 3.000 por célula ou 200 milhões por mm^2 de membrana luminal. Assim, o aumento total da área absortiva do del- gado, considerando-se os três graus de complexidade morfológica, é igual a 3x 10 x 20, ou seja, 600 vezes superior à área de um cilindro liso de dimensão semelhan- te à do delgado. Isto equivale a uma área absortiva de 200 a 250 m^2 , o que cor- responde a aproximadamente 100 vezes a área superficial corpórea ( Figura 22.3 ). Figura 22.3 – As dobras ou pregas circulares que aumentam a superfície absortiva 3 vezes, em B e C as vilosidades (aumento de dez vezes) e em D as microvilosidades da membrana luminal ou borda em escova (aumento de 20 vezes). A mucosa duodenal compreende o epitélio, a membrana basal, a lâmina própria e a muscular da mucosa. O epitélio da mucosa intestinal é monoestratificado e heterocelular contendo as seguintes células: 1. absortivas, 2. secretoras, 3. caliciformes, secretoras de muco ( globet cells ), 4. digestivas contendo enzimas luminais, 5. endócrinas variadas e 6. células M. A lâmina própria é o tecido conjuntivo de sustentação do epitélio e preenche as vilosidades e as criptas, fazendo contato, de um lado, com a membrana basal do epitélio e, do outro, com a muscular da mucosa. Os tipos celulares mais comuns encontrados na lâmina própria são células mononucleadas como linfócitos, mastó- citos, macrófagos e eosinófilos. São comuns, em caso de doenças inflamatórias do intestino, leucócitos polimorfonucleados.
As células do sistema imunológico do intestino secretam vários parácrinos que regulam processos absortivos e secretores dos enterócitos, como histamina, cininas, metabólitos do ácido araquidônico, prostaglandinas e leucotrienos. São encontra- dos ainda na lâmina própria, miofibroblastos, fibras colágenas e elásticas, além de fibras nervosas amielínicas do SNE (sistema nervoso entérico) e do SNA (sistema nervoso autônomo). A membrana basal , sobre a qual repousa o epitélio, é formada por proteo- glicanas, fibronecitina, laminina, colágeno e fibroblastos, localizados na face con- traluminal da membrana basal. Estas proteínas afetam funções epiteliais como diferenciação celular e transporte de íons e de água. Cerca de 500 poros com 0, a 5 μm de diâmetro são encontrados na membrana basal de cada vilosidade, o que torna esta membrana bastante permeável às moléculas absorvidas pelos enteróci- tos e que trafegam entre a lâmina própria e o epitélio. O epitélio das criptas apresenta os seguintes tipos de células: 1. principais, indiferenciadas, secretoras de água e íons; 2. absortivas; 3. mucosas caliciformes ( goblet cells ); 4. endócrinas variadas; 5. raras células caveoladas ( tuft cells ) e
6. células de Paneth, secretoras. Durante o processo de migração das células, das criptas aos ápices das vilosi- dades, há aumento de suas atividades enzimáticas e de seus elementos transporta- dores. Esta migração ocorre com uma velocidade de 10 μm/h, levando 3 a 4 dias para as células nascentes alcançarem os ápices das vilosidades, onde substituem as células mais velhas que são descamadas para a luz intestinal. Desta maneira, o epitélio intestinal é completamente renovado a cada 6 a 7 dias. O processo de descamação das células dos ápices das vilosidades fornece cerca de 10 a 25 g de proteínas endógenas por dia. Estas são digeridas e absorvidas como as proteínas exógenas da dieta. A divisão celular das células das criptas e o seu processo de migração é re- gulado por fatores tróficos, hormônios gastrointestinais, fatores de crescimento epidérmico e também pela natureza do conteúdo luminal. Como o epitélio do TGI é constantemente renovado, é muito susceptível a agentes quimioterápicos e a radiações. O cólon não tem enzimas luminais e da borda em escova e absorve apenas água, íons e ácidos graxos voláteis. O cólon possui diâmetro superior ao do delgado, mas comprimento inferior, de 1,5 m. Estende-se do esfíncter ileocecal ao ânus, apresentando as seguintes diferenciações anátomo-fisiológicas: o ceco , os cólons ascendente, transverso , des- cendente e o sigmoide que termina no canal retal que se abre para o exterior pelos esfíncteres anais interno e externo.
Figura 22.4 – As barreiras epiteliais absortivas intestinais. Adaptada de Johnson L.R. In Gastrointestinal Physiology, The Mosby Physiology Monograph Series, 6th^ Ed, 2001.
1. A camada de água não agitada que recobre a borda em escova. Sua es- pessura é de 200 a 500 μm e é a principal barreira para a absorção dos produtos da hidrólise lipídica. 2. O glicocálix. 3. A estrutura lipoproteica da membrana luminal ou borda em escova das células absortivas. 4. O citosol, se a absorção for transcelular; se for intercelular, as tight-junctions apicais e os espaços interce- lulares. 5. A membrana basolateral das células absortivas. 6. O endotélio capilar. Estas barreiras estão esquematizadas na Figura 22.4. O epitélio intestinal diferencia-se eletrofisiologicamente no sentido cefa- locaudal. O compartimento luminal é negativo em relação ao intersticial. Esta diferen- ça de potencial elétrico decorre dos distintos mecanismos de transporte de íons nas duas membranas em série das células epiteliais, a membrana luminal (ML) e a membrana basolateral (MBL) e da contribuição das tight-junctions (TJ). que são os elementos estruturais mais apicais dos complexos juncionais intercelulares que mantêm as células epiteliais coesas. Abaixo estão comparadas as razões entre as resistências elétricas das membranas celulares (MC) e as das “ tight-junctions ” (TJ) apicais intercelulares no intestino delgado e no cólon. R MC / R TJ = 20 no delgado, e R MC / R TJ ~ 1 no cólon.
Isto significa que a resistência das MC no delgado é 20 vezes superior à das TJ, enquanto no cólon, a resistência das TJ é quase tão alta quanto à das MC. Por este motivo, o epitélio do delgado é classificado como epitélio do tipo leaky e o do cólon do tipo tight. Como consequência, há, assim, um gradiente decrescente de permeabilidade iônica (ou de condutividade iônica) intercelular, no sentido cefalocaudal no intestino refletindo o aumento de resistência elétrica (ou diminuição da condutância elétrica) da via intercelular. Assim, no delgado, os fluxos iônicos intercelulares contribuem de maneira mais significativa aos fluxos transepiteliais totais do que no cólon. Decorrem desta diferença várias características de transporte nos epité- lios. Como as TJ funcionam como uma via de “ shunt ” ou de curto-circuito do transporte transcelular de cargas elétricas ou íons, quanto maior for a resistên- cia das TJ, menor é o curto-circuito e maior a diferença de potencial elétrico transepitelial ou DPtrans. Assim, a magnitude da DPtrans eleva-se gradativamente no sentido cefalocaudal, alcançando no cólon valores entre -30 a -50 mV, a luz negativa, em relação ao compartimento intersticial-vascular. No delgado, a via de “ shunt ” é muito condutiva (ou pouco resistiva), representando quase 95% da condutância total do epitélio; no cólon, assim a contribuição da via de “ shunt ” à condutância transepitelial total é menor, de 60 a 80%. Na Figura 22.5 estão representados os principais mecanismos de trans- porte de um epitélio do tipo tight, no qual o influxo de Na+^ do meio lumi- nal para o intracelular ocorre de maneira desacoplada ou eletrogênica, por mecanismo de eletrodifusão via canais epiteliais para Na+, bloqueáveis por amiloride. Estes canais epiteliais para o Na+^ (ENaC) já foram clonados no cólon de mamíferos. A Na+/K+ATPase, eletrogênica (ou reogênica) é mostrada em círculo escuro nas MBL onde também está representado um canal para K+. As vias de transporte transcelular, por via das duas membranas em série e da via intercelular estão também esquematizadas. Na base da figura está representado o perfil de potencial elétrico através do epitélio. Tomando-se, como referencial, o potencial luminal, como zero, a célula é negativa tanto em relação à luz como em relação ao interstício. O potencial elétrico do interstício é superior ao da célula e ao da luz. A DPtrans é a diferença entre o potencial elétrico entre a luz intestinal e o interstício.
que acompanham o desenvolvimento do indivíduo são geneticamente progra- madas. Em humanos há pouca informação sobre alterações enzimáticas relacio- nadas com o desenvolvimento. As dissacaridases estão no nascimento e não diminuem com a idade, com exceção da lactase. Esta enzima é mais elevada no recém-nascido do que no adulto, e em muitos adultos ela diminui ou desa- parece.
A quantidade de carboidratos da dieta humana é por demais variável sendo função de fatores culturais, geográficos e nível socioeconômico das populações. Seu consumo varia inversamente com o seu poder aquisitivo. A proporção relativa de carboidratos da dieta humana, recomendada pela Organização Mundial de Saúde e pelo Comitê Americano de Nutrição, é de 58%, mas a proporção efetivamente utilizada na dieta das populações de países desen- volvidos é de 50%, o que representa de 300 a 500 g/dia. Como os carboidratos, quando totalmente degradados a CO 2 e água fornecem 4 kcal, uma ingestão de 300 a 500 g/dia representa 1.200 a 2.000 kcal/dia. Os principais carboidratos e suas proporções relativas na dieta humana ocidental. Na Tabela 22.1 estão representados os principais carboidratos e suas pro- porções relativas na dieta humana ocidental. Tabela 22.1 – Principais carboidratos e suas proporções relativas (em %) na dieta humana ocidental Amido (grãos e cereais): unidades de glicose 50 Sacarose (cana de açúcar): glicose + frutose 30 Lactose (leite e derivados): glicose + galactose 10 Maltose (malte): glicose + glicose 2 Glicogênio de origem animal: unidades de glicose quantidades variáveis Celulose e pectinas (vegetais) quantidades variáveis O amido é um polímero de glicose com PM > 100 Kd, encontrado em grãos e tubérculos de origem vegetal. É formado por cadeias retilíneas de amilose com PM < 10^6 , com ligações α [1-4]-glicosídicas e de cadeias ramificadas de amilo- pectina com PM > 10^6 , com ligações α [1-6]-glicosídicas. A amilose representa 20% da molécula de amido com aproximadamente 25 a 2.000 monômeros de glicose. A amilopectina representa 80-90% da molécula do amido com 6. ou mais monômeros de glicose. O glicogênio é um polissacarídeo semelhante à amilopectina, de origem animal e com um número maior de ramificações e de
pode hidrolisar até 75% do amido ingerido, resultando os dissacarídeos , maltose , maltotriose e α -limite dextrina que são os mesmos oligossarídeos com ligações α [1-6]-glicosídicas, contendo de seis a nove moléculas de glicose. No intestino delgado, a α -amilase pancreática é secretada na forma de enzi- ma ativa, em concentração elevada possuindo, também, alta atividade catalítica: 1 ml de suco duodenal é capaz de hidrolisar 1 a 9 g do amido por hora. Assim, dezminutos após a chegada do quimo ao duodeno, o amido é completamente hi- drolisado. A hidrólise final dos di e trissacarídeos e da α -limite dextrina é efetuada pelas oligossacaridases da borda em escova: maltase (ou glicoamilase), lactase, sacarase, α -dextrinase (ou isomaltase) e trealase. Assim, a digestão final dos polis- sacarídeos é efetuada por estas enzimas da membrana luminal. Figura 22.7 – Os produtos intermediários da hidrólise de polissacarídeos (glicogênio ou amido) pelas α -amilases lumiais (salivar e pancreática) e pelas enzimas da borda em escova intestinal e os produtos finais destas hidrólises. A Figura 22.7 ilustra a hidrólise dos polissacarídeos tanto pelas enzimas lumi- nais, as α -amilases salivar e pancreática, como pelas enzimas da borda em escova, maltase, dextrinase, lactase, sacarase, trealase e glicoamilase. As enzimas da borda em escova têm especificidades para vários substratos. Assim, as α -dextrinases hidrolisam quase 95% das α -limite dextrinas que também podem ser hidrolisadas (cerca de 5%) pela maltase, embora apenas as α -dextri- nases hidrolisem as ligações α [1-6]-glicosídicas. A maltotriose pode ser hidroli- sada tanto pela α -dextrinase (50%) como pela maltase (25%) e pela sacarase (25%). As mesmas enzimas hidrolisam a maltose em proporções similares. As en- zimas da borda em escova com especificidade para os seus substratos são a lactase e a trealase. Lactose, trealose e sacarose são 100% hidrolisadas, respectivamente, pelas lactase, trealase e sacarase. Os produtos finais da digestão dos carboidratos pelas enzimas luminais e da borda em escova são glicose , cerca de 70 a 80%, fru- tose , cerca de 15% e galactose , cerca de 5% ( Figura 22.7 ).
Figura 22.8 - Esquema indicando a cadeia reta de amilose com ligações [alfa-1-4]-glicosídicas (a); a estrutura do amido ou glicogênio, sendo cada círculo um monômero de glicose (b) e a cadeia ramificada da amilopectina com ligações [alfa-1-6]-glicosídicas (c). As atividades das enzimas da borda em escova são mais elevadas no duodeno e jejuno proximal, decaindo no sentido cefalocaudal ao longo do delgado. Isto significa que a digestão dos carboidratos completa-se já no jejuno proximal. As oligossacaridases da borda em escova são afetadas tanto por fatores exógenos, genéticos, assim como por alterações da dieta. Nas populações não caucasianas, como negros e asiáticos, assim como, em vários outros mamíferos, ocorre, com frequência bastante elevada, uma diminui- ção ou mesmo um desaparecimento da atividade da lactase após o desmame. Estas alterações são programadas geneticamente, causando a condição patológi- ca conhecida como intolerância à lactose que pode ser congênita aparecendo no recém-nascido. Crônica ingestão de sacarose ou ausência de sua ingestão afeta grandemente a atividade da sacarase. Por outro lado, a atividade da lactase é mais resistente às alterações da dieta do que a sacarase, mas é muito mais sensível do que as outras oligossacaridases às injúrias dos enterócitos. Como há grande reserva de α -amilase pancreática e de dissacaridases na bor- da em escova, o passo limitante para o aproveitamento ou assimilação dos car- boidratos da dieta não é o processo digestivo, mas a absorção das hexoses que,
Figura 22.9 – Mecanismos de absorção de glicose, galactose e frutose nas duas membranas das células do delgado, a membrana luminal (ML) e a membrana basolateral (MBL). Os produtos finais da digestão dos carboidratos, glicose, galactose e frutose são absorvidos em duas etapas mediados por carregadores nas duas membranas dos enterócitos. O cotransportador 2Na+: glicose ou galactose e as várias isoformas dos GLUTs ( transportadores de glicose ) já foram sequenciados e clonados. A especi- ficidade SGL-T 1 é penas para as formas D e para as hexoses que possuem o anel piranose. A Figura 22.10 mostra a estrutura do transportador de glicose/galactose da membrana luminal do enterócito do delgado. Figura 22.10 – Transportador de glicose e/ou galactose através da membrana luminal dos enterócitos. Esta proteína apresenta 12 domínios intramebrânicos. Seu PM é cerca e 73 kDa e é específico para o transporte de hexose que tem confor- mação D e anel piranose como na figura em que o anel é o da D-glicose. O anel da D-galactose tem o H e o OH no carbono 4 invertidos (adaptado do livro de Mediacal Physiology, Boron WF e Boulpaep EL, updated ed., 2005, figura 44-4, pag. 952). ML
A absorção de hexoses diretamente ingeridas ou provenientes de dissacarí- deos ocorre mais rapidamente e se completa totalmente até o jejuno proximal; entretanto, as taxas e os sítios de absorção de hexoses provenientes do amido variam conforme o tipo de alimento e certa quantidade não é absorvida. Esta quantidade é cerca de 6% a 10% de uma refeição contendo 20 a 60 g de amido. Os carboidratos não absorvidos no delgado servem de fonte de carbono para as bactérias colônicas. Há grande variação nos índices glicêmicos de pessoas normais, medidos após a ingestão dos diversos tipos de alimento contendo amido. Esta variação pode ser aferida pelo índice glicêmico é o valor da quantidade de glicose sanguínea após a ingestão de uma determinada quantidade de alimento contendo amido, compara- tivamente à quantidade de glicose sanguínea 2 h após a sua ingestão. Como há grande reserva de alfa-amilase pancreática e de dissacaridases na borda em escova, o passo limitante para o aproveitamento dos carboidratos da dieta não é o processo digestivo, mas sim a absorção das hexoses que, em condi- ções normais, efetua-se no jejuno proximal, decaindo no jejuno distal e no íleo.
Deficiência de sacarase-isomaltose (dextrinase). É uma doença hereditária autossômica recessiva, caracterizada por baixos níveis de atividade destas enzimas da borda em escova resultando intolerância à sacarose e ao amido. Estas duas enzimas são subunidades da mesma proteína, associadas não covalentemente. A doença é descrita em 10% dos esquimós e em cerca de 0,2% em norte-americanos. Os pacientes recebem dietas com baixo conteúdo de amido e sacarose. Síndrorme de má absorção de glicose e galactose. É uma doença de origem genética, bastante rara, em consequência de múltiplas mutações que resultam em substituição de um único aminoácido do cotrasportador 2Na+: glicose ou galactose (SGLT-1). Cada uma destas substituições induz alterações que previnem o transporte de glicose e/ou de galactose nos indivíduos afetados. Os pacientes apresentam diarreia osmótica em consequência da má-absorção das hexoses e de Na+. Neste caso, a dieta não deve conter amido, glicose ou galactose. A frutose é bem tolerada. As outras dissacaridases da borda em escova não são afetadas. Os pacientes não apresentam glicosúria, uma vez que o túbulo proximal do néfron possui as isoformas SGLT-1 e SGLT-2, ocorrendo, assim, reabsorção tubular normal de glicose no rim.
São encontradas de 35 a 200 g por dia de proteínas endógenas na luz do TGI. Estas resultam das secreções salivar, gástrica, pancreática, biliar e intestinal e são enzimas, hormônios e imunoglobulinas e do muco além das originárias da desca- mação das células da parede do TGI e algumas proteínas plasmáticas que podem ter entrado na luz do TGI. Todas são hidrolisadas e absorvidas como as da dieta. As proteínas encontradas nas fezes são originárias do cólon, de células descamadas, do muco, e principalmente, de proteínas derivadas de origem bacteriana ( Quadro 22.1 ). Quadro 22.1 - Proteínas contidas na luz do TGI. Proteínas exógenas da dieta (quantidade recomendada para manter o balanço nitrogenado de 70 a 100 g/dia). Proteínas endógenas originadas de células descamadas e de bactérias na luz do TGI: quantidade de 35 a 200g/dia. Nas fezes são encontradas proteínas originárias do cólon: 6 a 12 g de proteína/dia ou 1 a 2 g de N. Os processos digestivos e absortivos são altamente eficientes no delgado. 1g de proteína fornece 4 Kcal. Os principais processos digestivos e absortivos das proteínas ocorrem no duodeno e no jejuno proximal. Até o jejuno distal, todos os produtos da hidrólise das proteínas foram absorvidos. As enzimas luminais de origem gástrica e pancreática originam oligopeptí- deos e aminoácidos livres. Os processos da digestão proteica luminal podem ser divididos nas fases gástrica e intestinal (ou pancreática), segundo os sítios de origem das enzimas proteolíticas. Na fase gástrica , a hidrólise ocorre pelas pepsinas e pelo HCl que confere um pH adequado para a ativação do pepsinogênio a pepsina. A ativação ocorre pela remoção de 44 aminoácidos da terminação NH 2 do pepsinogênio ou pró-enzima. A clivagem entre os resíduos 44 e 45 do pepsinogênio ocorre via reação intramo- lecular (autoativação) mais lentamente a valores de pH de três a cinco e muito rapidamente a pH < 3. A pepsina ativada efetua autocatálise e a atividade máxima da pepsina ocorre entre valores de pH 1,8 a 3,5, ou seja, no estômago secretando maximamente durante a fase gástrica quando a secreção das células parietais está sendo estimulada por mecanismos neuro-hormonais. O peptídeo da terminação NH 2 permanece ligado à tripsina e age como um inativador da pepsina a valores de pH acima de 2. Esta inibição é liberada quando o pH cai a valores abaixo de 2. O mecanismo catalítico da pepsina, a pH ácido, depende de dois grupos carboxíli- cos no sítio ativo da enzima. Assim, em condições favoráveis de pH, o pepsinogê- nio é convertido a pepsina por autoativação e por autocatálise numa progressão exponencial. O HCl, além da função bactericida, de ativação do pepsinogênio, é
estimulador das células principais, e desnatura proteínas globulares o que facilita a ação hidrolítica da pepsina. O pH ótimo de ação da pepsina é entre 2 e 3, sendo inativada a valores de pH acima de 5. Assim, acloridria, como ocorre na anemia megaloblástica ou perniciosa em que o pH intragástrico é > 7 e, em pacientes gastrectomizados, há aumento da excreção fecal de nitrogênio. A pepsina é uma endopeptidase e hidrolisa proteínas nas ligações peptídicas formadas por aminogrupos de ácidos aromáticos como a fenilalanina, tirosina e triptofano, originando oligopeptídeos e não aminoácidos livres. Ela é capaz de digerir o colágeno, que é pouco hidrolisado por outras enzimas proteolíticas. A digestão do colágeno pela pepsina facilita a penetração de outras enzimas proteo- líticas nos tecidos a serem digeridos. Assim, disfunção péptica causa má digestão. Cerca de 10 a 15% das proteínas ingeridas são hidrolisadas pela pepsina resultando oligopeptídeos. A ação proteolítica da pepsina não é, porém, essencial, mas a sua importância reside na ação dos olipeptídeos hidrolisados que estimu- lam tanto a secreção de gastrina pelo estômago como a de colecistocinina (CCK) por células endócrinas do duodeno, estimulando as células acinares do pâncreas a secretarem enzimas. A fase intestinal da digestão proteica luminal é efetuada pelas enzimas pro- teolíticas lançadas no duodeno pela secreção pancreática. A chegada do quimo ácido do estômago estimula as células endócrinas do delgado, mais concentradas no duodeno, a secretarem a secretina (células S) e a CCK (células I). Estes dois hormônios gastrintestinais estimulam, respectivamente, as células dos ductos pan- creáticos a secretarem NaHCO3 e as células dos ácinos a secretarem enzimas. O bicarbonato não só tampona o HCl como gera o ambiente alcalino propício à ação das enzimas pancreáticas cujas atividades são máximas a valores de pH próximos à neutralidade ( Quadro 22.2. ). Quadro 22.2 - Fase intestinal da digestão proteica Tripsinigênio Tripsina Proenzimas: tripsinogênio, quimiotripsinogênio, pró-elastase, pró-carboxipeptidase: Enzimas ativas: tripsina, quimiotripsina, elastase, carboxipeptidases; Produtos finais: oligopeptídeos, di e tripeptídeos, aminoácidos livres. São cinco as enzimas proteolíticas pancreáticas, conforme mostra o Quadro 22.2. Elas são secretadas nas formas inativas de pró-enzimas. O tripsinogênio é ativado no jejuno por uma enzima da borda em escova, uma endopeptidase (enteroquinase) por clivagem de um hexapeptídeo de sua molécula originando a Endopeptidase