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Raymond Boudon, dicionário de sociologia
Tipologia: Notas de estudo
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Compartilhado em 17/10/2009
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Obra: DICIONÁRIO DE SOCIOLOGIA
Autor: RAYMOND BOUDON e outros
A presente digitalização da obra destina-se exclusivamente a permitir o acesso de deficientes visuais ao respectivo texto. Por força da lei de direitos de autor, não pode ser distribuída para outros fins, no todo ou em parte, ainda que gratuitamente. No restrito âmbito referido, está, nos termos da lei portuguesa,isenta de direitos de autor.
DICIONÁRIO DE SOCIOLOGIA Sob a direcção de RAYMOND BOUDON, PHILIPPE BESNARD, MOHAMED CHERKAOUI e BERNARD- PIERRE LÉCUYER Tradução de António J. Pinto Ribeiro PUBLICAÇÕES DOM QUIXOTE LISBOA 1990
Publicações Dom Quixote, Lda. Rua Luciano Cordeiro, 116, 2º 1098 Lisboa Codex - Portugal Reservados todos os direitos de acordo com a legislação em vigor © 1989, Librairie Larousse Título original: Dictionnaire de la Sociologie Licença editorial por cortesia do Círculo de Leitores 1ª edição: Setembro de 1990 Depósito legal nº 36 895/ Fotocomposição: Fotocompográfica, Lda. Impressão e acabamento: Resopal, Lda. Distribuição: Diglivro - Rua llha do Pico, 3-B, Pontinha, Lisboa Movilivro - Rua Gomes Leal, 93, Porto ISBN: 972-20-0809-
PRÓLOGO O Dicionário de Sociologia procura conciliar duas exigências: pretende-se simples porquanto se dirige ao estudante e ao grande público; mas esforça-se igualmente por propor definições rigorosas e completas dos conceitos sociológicos mais correntes e mais fundamentais, assim como curtas monografias sobre os principais sociólogos clássicos e modernos. Trata-se de uma obra colectiva para a qual se mobilizaram as competências de cerca de sessenta professores universitários e investigadores que aceitaram participar nesta iniciativa. As diferenças de orientação e as particularidades de estilo foram respeitadas, sendo cada autor responsável pelos artigos que redigiu. Os limites de volume impostos pela colecção em que se insere este Dicionário obrigaram a opções e a sacrifícios por vezes dolorosos. Esperamos, no entanto, nada ter omitido de essencial. Encontrar-se-ão as referências bibliográficas completas das obras mencionadas na bibliografia apresentada no fim da obra.
COLABORADORES André AKOUN (A.A.) Professor da Universidade de Paris-V
Pierre ANSART (P.A.) Professor da Universidade de Paris-VII Bertrand BADIE(B.B.) Professor da Universidade de Clermont-I Jean BAECHLER (J.B.) Professor da Universidade de Paris-Sorbonne Francis BALLE (F.B.) Professor da Universidade de Direito, Economia e Ciências Sociais de Paris, vice- reitor das Universidades de Paris André BÉJIN (A.B.) Responsável pela Pesquisa no CNRS Philippe BÉNÉTON (P.B.) Professor da Faculdade de Direito de Rennes Jean-Michel BERTHELOT (J.-M.B.) Professor da Universidade de Toulouse-II Philippe BESNARD (P.B.) Director de Pesquisa no CNRS Pierre BIRNBAUM (P.B.) Professor na Universidade de Paris-I Raymond BOUDON (R.B.) Professor na Universidade de Paris-Sorbonne François BOURRICAUD (F.B.) Professor na Universidade de Paris-Sorbonne Michel BOZON (M.B.) Responsável pela Pesquisa no INED Jean CAZENEUVE (J.C.) Professor jubilado na Sorbonne, presidente do Conselho Nacional de Comunicação Bernard CAZES (B.C.) Chefe da Divisão de Estudos a Longo Prazo, comissário-geral do Plano François CHAZEL (F.C.) Professor da Universidade de Bordéus-II Mohamed CHERKAOUI (M.C.) Director de Pesquisa no CNRS Yves CHEVALIER (Y.C.) Professor da Universidade de Tours Jacques COMMAILLE (J.C.) Director de pesquisa no CNRS, director do CRI de Vaucresson Charles-Henry CUIN (C.-H.C.) Professor-conferencista da Universidade de Bordéus-II Jean-Pierr DECONCHY (J.P.D.) Professor da Universidade de Paris-X, director do Laboratório de Psicologia Social Daniel DERIVRY (D.D.) Responsável pela Pesquisa do CNRS Lilyane DEROCHE-GURCEL (L.D.G.) Funcionário do Ministério da Indústria Marcel DRULHE (M.D.) Professor-conferencista no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Toulouse François DUBET (F.D.) Professor-conferencista na Universidade de Bordéus-II Patrice DURAN (P.D.) Professor-assistente do Centro de Sociologia Política da Universidade de Bordéus-II Jacqueline FELDMAN (J.F.) Director de Pesquisa do CNS Erhard FRIEDBERG (E.F.) Director de Pesquisa do CNS, conferencista do Instituto de Estudos Políticos de Paris Alain GIRARD (A.G.) Professor jubilado da Universidade de Paris-V, consultor científico no INED Yves GRAFMEYER (Y.G.) Professor-conferencista de Sociologia da Universidade de Lyon-II Jean-Paul GRÉMY (J.-P.G.) Professor da Universidade de Paris-V François GRESLE (F.G.) Professor da Universidade de Paris-X Anne-Marie GUILLEMARD (A.-M.G.) Professor da Universidade de Paris-I Nicolas HERPIN (N.H.) Professor-conferencista na Universidade de Paris-VIII Claudine HERZLICH (C.H.) Director de pesquisa do CNRS, director de Estudos do EHESS Jean KELLERHALS (J.K.) Professor da Universidade de Genève Gérard LAGNEAU (G.L.) Director de Pesquisa do CNRS
Jean-Claude LAMBERTI (J.-C.L.) Professor da Universidade de Paris-V Barbara LASLETT (B.L.) Professor da Universidade de Minnesota Bernard-Pierre LÉCUYER (B.-P.L.) Director de Pesquisa do CNRS Patrice MANN (P.M.) Professor-conferencista da Universidade de Bordéus-II Benjamin MATALON (B.M.) Professor da Universidade de Paris-VIII Nonna MAYER (N.M.) Director de Pesquisa no CNRS Sylvie MESURE (S.M.) Pesquisador da Fundação Thyssen Raymonde MOULIN (R.M.) Director de Pesquisa do CNRS Claire PETROFF-BARTHOLDI (C.P.-B.) Sociólogo da Universidade de Genève Patrick PHARO (P.P.) Director de Pesquisa do CNRS Claude RIVIÈRE (C.R.) Professor da Universidade de Paris-V, director do Laboratório de Etnologia Michel ROBERT (M.R.) Pesquisador do CNRS, professor auxiliar da Universidade de Paris-X (Nanterre) Philippe ROBERT (P.R.) Director de Pesquisa do CNRS Dominique SCHNAPPER (D.S.) Director da Escola de Altos Estudos de Ciências Sociais Denis SEGRESTIN (D.S.) Professor-conferencista do Conservatório Nacional de Artes e Ofícios, Paris
o abstencionismo intermitente, que é o mais frequente. Longe de ser necessariamente um sinal de despolitização, a recusa da opção partidária proposta pode efectivamente assentar numa postura política racional. É por isso que, nos trabalhos mais recentes, o abstencionismo é analisado como um comportamento político autónomo, uma opção estratégica do cidadão em face da oferta política que lhe é proposta. D. D.
Acção colectiva: Acção comum que visa atingir fins partilhados. Segundo A. Bentley (1949), grupo e interesse são inseparáveis. Os membros do grupo são solidários na acção e para a acção a empreender. Nesse caso, a mobilização em ordem a uma acção colectiva não levanta nenhum problema. A ideia segundo a qual um grupo (ou uma classe) constitui uma unidade de análise é combatida por algumas teorias utilitaristas. M. Olson (1966) mostra que a lógica da acção colectiva não pode reduzir-se à lógica da acção individual. Não basta que um conjunto de indivíduos partilhe um interesse comum para que estes se empenhem numa acção colectiva em ordem a satisfazer esse interesse. A entrada na acção colectiva implica, para cada um dos membros do grupo latente, um certo custo de participação (tempo, dinheiro, etc.). Ora, se se verifica que o bem obtido graças à acção colectiva pode aproveitar a todos, não se vê porque é que cada um dos membros do grupo não seria tentado a deixar aos outros o cuidado de suportar o custo da acção colectiva. Torna-se evidente, nestas condições, que a pura expectativa generalizada gerará um "efeito perverso" (Boudon 1977): com efeito, se todos os membros optarem pela estratégia do "bilhete gratuito" ( free rider ), o bem colectivo deixará de ter qualquer possibilidade de ser obtido. A dimensão do grupo deve ser tida em conta: nos pequenos grupos, cada um terá de facto compreendido que "a acção de cada indivíduo conta", o que já não acontecerá nos grandes grupos (por exemplo, os grupos de consumidores), em que os indivíduos terão tendência para pensar que a sua participação apenas pode ter uma eficácia despicienda. O recurso às medidas coercitivas ou aos incitamentos selectivos permite aos grupos organizados limitar essas estratégias de defecção. Um oferecimento paralelo de bens individuais (lugar de responsabilidade ou qualquer outra marca de distinção que confere prestígio e respeito) será um meio para estimular os recalcitrantes: é assim que a esperança de ter acesso a posições electivas poderá levar um indivíduo a aceitar o custo implicado por um militantismo activo dentro de um partido político. Um tal oferecimento só é possível se o grupo se dotou de uma estrutura organizacional. Minimizados na teoria da escolha
11 racional (fundada no paradigma económico), os incitamentos morais e "solidários" desempenham, na realidade, um papel importante na emergência da acção colectiva. Agir colectivamente numa colectividade, em que predominam os laços de solidariedade e de amizade pode constituir uma obrigação moral para o indivíduo, podendo tornar-se igualmente, para ele, um prazer. Sob este aspecto, é a não participação que será custosa, pois que poderá pôr em questão a imagem e a estima que o indivíduo tem de si próprio. A. Oberschall (1973) mostra que a ausência de laços e a decomposição das redes de interacção são um obstáculo importante à mobilização. A capacidade de conduzir uma acção concertada depende, pois, estreitamente do grau e do tipo de organização inerentes à colectividade considerada. Se a ameaça de uma repressão da parte do poder político constitui um outro obstáculo à mobilização, razões de ordem ética ou ideológica são sempre capazes de desviar os actores dos seus interesses pessoais. A escala de avaliação "custos/vantagens" é, portanto, sempre susceptível de ser perturbada por uma ideologia portadora da esperança de um mundo melhor. P. M.
Acção (sociologia da): Praticar uma sociologia da acção equivale a tentar explicar os factos sociológicos enquanto acções produzidas por indivíduos em resposta a uma dada situação - por outras palavras, a concentrar o interesse da investigação nas decisões individuais dos actores, na sequência de autores como M. Weber e G. Simmel, e não na acção hipotética de factores gerais como as leis da história, as ideologias, etc. Uma sociologia da acção deve preencher duas condições:
12 disponíveis. Os valores ambientais não podem explicar mecanicamente as escolhas individuais, ainda que as orientem. A sociologia da acção visa, pois, determinar como é que uma acumulação de reacções individuais a uma situação geral produz um fenómeno geral. Porquê este desvio pelo indivíduo? Porque, se a relação entre a acção individual e o efeito geral é muitas vezes imediatamente perceptível, noutros casos, uma explicação que faz a economia da decisão individual falha perante um fenómeno aparentemente inexplicável: a soma das decisões individuais ultrapassa ou contradiz as decisões individuais dos actores e conduz ao overshooting ou efeitos perversos. Por exemplo, o eleitor descontente com a política seguida recentemente pelo seu partido decide abster-se a título de aviso; mas, quando vários dos eleitores do mesmo partido adoptam este mesmo raciocínio, este último acaba por ser derrotado. A intenção consciente de cada um dos actores é então ultrapassada, porque eles não podiam combinar entre si e porque as possibilidades se limitam a três: a favor, contra, abstenção. L. D.-G.
Aculturação: Segundo o "Memorandum" de R. Redfield, R. Linton e M. J. Herskovits, publicado no American Anthropologist de 1936, a aculturação é o conjunto das mudanças que se produzem nos modelos culturais ( patterns of culture ) originais, quando grupos de indivíduos de culturas diferentes entram em contacto directo e contínuo. Esta definição implica que cada cultura constitua um sistema, cujos vários elementos se reelaboram por ocasião desses contactos. Sublinha ainda que, sejam quais forem as ocasiões (invasão, colonização, migração), há aquisições, trocas e reinterpretações entre as duas culturas e que nenhuma cultura se impõe completamente à outra, embora, com toda a evidência, dado que as condições históricas criam sempre uma situação objectiva de desigualdade, o contributo de umas e de outras seja desigual (Redfield, Linton, Herskovits 1936; Herskovits 1952). Os processos de aculturação assumem formas variadas. Na sequência de R. Bastide (1970), fala- se da aculturação material quando populações adoptam marcas e modelos da cultura dominante na vida pública e nas relações secundárias, mantendo, no entanto, o seu código cultural de origem no domínio do privado e das relações primárias. É com muita frequência o que se passa com as populações imigradas. Fala-se de aculturação formal quando as populações em presença modificam as próprias estruturas do seu modo de pensamento e da sua sensibilidade, o que traz consigo uma nova cultura, síntese das duas culturas de origem. É a forma de aculturação dos filhos de imigrados (vd. migração). Noutros casos, verifica-se um processo de sincretismo: populações pertencentes a duas culturas diferentes, colocadas em contacto prolongado, elaboram uma outra, diferente das duas culturas de origem. Assim, por exemplo, temos o caso do mundo religioso brasileiro, saído ao mesmo tempo do catolicismo e dos mitos e ritos negro-africanos (Abov 1981).
a ponto de ter-se podido falar de uma "funcionarização da política", que contrabalança uma politização acrescida da administração (Baecque, Quermonne 1982). Por fim, as leis de descentralização votadas em 1982 modificaram a repartição das competências entre os escalões centrais e locais a favor destes últimos e aumentaram a autonomia das colectividades locais e dos seus representantes eleitos face à administração central (Rondin 1986). E. F.
Adolescência: Período que separa a infância da idade adulta. Esta caracterização levanta vários problemas. No séc. XVIII (o Émile de Rousseau), assimilava-se a adolescência à crise da puberdade, que era mais tardia que actualmente. Só em finais do séc. XIX, particularmente sob o efeito do prolongamento dos estudos que mantém os alunos numa espécie de infância prolongada, é que a adolescência emergiu verdadeiramente como classe etária e como cadinho de uma cultura específica. Entre as duas guerras espalhou-se a ideia de que a adolescência não era necessariamente uma transição entre duas idades mas que a pessoa podia sentir-se bem nela e nela instalar-se deliberadamente durante um período relativamente longo. Essa dificuldade ou essas reticências em sair da adolescência é hoje ligada ao facto de os acontecimentos que poderiam funcionar como "ritos de passagem", como ritos de entrada na idade adulta, terem sofrido nas nossas sociedades uma dupla alteração. Revestem cada vez menos o carácter de provas, arriscadas e probatórias (a evolução do serviço militar é disso testemunha). Por outro lado, apagou-se, mais ou menos, o seu carácter de cerimónias públicas (o casamento, por exemplo, é cada vez menos uma cerimónia solene). Assim, a maioria dos indivíduos passa insensivelmente da adolescência a uma aparente maturidade atravessando uma idade mal definida que alguns denominam "pós- adolescência" (e que pode durar até aos 35 anos, por vezes mais). A. B.
Agregação: A combinação de um conjunto de acções individuais pode, enquanto tal, produzir efeitos colectivos não procurados pelos próprios actores sociais e que podem a posteriori apresentar- se como desejáveis ou indesejáveis. A esses efeitos dá-se muitas vezes o nome de "efeitos de agregação", ou de composição.
15 Assim, quando vários indivíduos escolhem simultaneamente orientar-se para tal tipo de carreira, contribuem todos, sem desejá-lo, para obstruir a carreira em questão, para exacerbar a "competição", pelos lugares disponíveis, eventualmente para criar desemprego. Estes efeitos de agregação revestem uma grande importância nas ciências sociais, e designadamente na análise da mudança social. Assim, M. Weber (1920) vê no desenvolvimento do capitalismo um efeito não desejado dos princípios éticos inspirados pelos puritanos. K. Marx e H. Spencer interpretam ambos o devir histórico como um tecido de efeitos de agregação. Assim, segundo Marx, o progresso técnico é um efeito não desejado da concorrência a que os capitalistas se dedicam entre si. A noção de "efeito de agregação" tem, relativamente à de "efeito não desejado", a vantagem de sublinhar que os efeitos em questão resultam da combinação de uma pluralidade de acções individuais. Quando os efeitos de agregação são indesejáveis, fala-se de efeitos perversos. R. B.
Alienação: O termo alienação pertence a diversos registos de linguagem (jurídico, médico, teológico, etc.). Em filosofia e em sociologia, descobrimo-lo em J.-J. Rousseau, que o define assim no Contrato Social (1766): cada associado, "dando-se a todos, não se dá a ninguém" e abandona os seus direitos naturais para fazer nascer o corpo político. Mas é na filosofia alemã (Fichte, Hegel e depois Marx) que ele recebe a significação que hoje lhe é atribuída: a transformação da actividade própria do homem num poder que lhe seria estranho, e que o domina. É em Marx que a noção se torna, de algum modo, numa noção de sociologia. Em O Capital (1867), lê-se: "A alienação do operário significa não apenas que o seu trabalho se torna um objecto, uma existência exterior, mas que o seu trabalho existe fora dele, independentemente dele, estranho a ele e se torna um poder autónomo em relação a ele; que a vida que ele conferiu ao seu objecto se lhe opõe, hostil e estranha." A partir de então, a alienação vai tornar-se o sintoma de todos os
"incómodos" do homem moderno e das diferentes variedades do seu sentimento de espoliamento de si próprio. A extensão de um conceito faz-se sempre à custa do seu rigor. Falar-se-á da alienação colonial, da alienação feminina, da alienação da "sociedade de consumo" ou da "sociedade do espectáculo". Seja como for, a noção mantém-se inseparável dos pressupostos teológicos ou filosóficos que presidiram ao seu êxito: uma concepção do sentido da história e do destino do homem, da sua queda na alienação à sua redenção. A. A.
Anarquismo: O anarquismo é uma doutrina política que repudia toda a ideia de autoridade contrária ao princípio da liberdade individual, e em primeiro lugar a autoridade do Estado. Saint-Simon dá uma imagem dessa sociedade libertária: "Não há acção útil [...] para além da do homem exercida sobre as coisas. A acção do homem sobre o homem é sempre em si mesma prejudicial à espécie." Tal sociedade é concebida como um grande conjunto de contratos específicos, nem imutáveis nem definitivos, saídos de debates livres em que os interessados acabam por pôr-se de acordo e que correspondem à heterogeneidade da vida social.
16 Profissionais, regionais, nacionais, aparentemente incoerentes, esses múltiplos contratos geram o federalismo que se substitui ao Estado tal como o concebe Hobbes no Leviathan. O anarquismo vê na política um espaço perverso onde se perde a autonomia da pessoa. Por isso, privilegia a acção sindical, a acção mutualista e todas as formas de solidariedade e de associação que lhe parecem "vivas", não "abstractas e anónimas". Daí resulta uma utopia cujos contornos nos são dados por M. Bakunine (1873): "Quando os Estados tiverem desaparecido, a unidade viva, fecunda, benfazeja, tanto das regiões como das nações e da internacionalidade, primeiro de todo o mundo civilizado e depois de todos os povos da Terra, pela via da livre federação e da organização de baixo para cima, desenvolver-se-á em toda a sua majestade..." P. J. Proudhon (1846), M. Stirner (1842), Bakunine (1873), etc., o teórico anarquista, seja ele qual for, opõe-se radicalmente aos teóricos do colectivismo e do comunismo, que, na sua opinião, levam até ao fim o espoliamento do indivíduo pela sociedade. A. A. Sergent, Hammel (1949).
Anomia: Pela sua etimologia, a palavra significa ausência de normas, de regras ou de leis; mas a história singular deste termo conferiu-lhe significações diversas e mesmo contraditórias. J.-M. Guyau (1885) forja a palavra para designar a individualização, inevitável e desejável das regras morais e das crenças. E. Durkheim toma-lhe de empréstimo a palavra empregando-a em sentido oposto àquele individualismo anarquizante, pois que, a seu ver, todo o facto moral consiste numa regra de conduta sancionada. Na obra de Durkheim De la division du travail social (1893), a anomia é uma das formas patológicas da divisão do trabalho, a saber: a carência temporária de uma regulamentação social capaz de assegurar a cooperação entre funções especializadas. Tem como origem a insuficiência dos contactos entre os papéis sociais. Em Le Suicide (1897), a anomia é concebida como um mal do infinito proveniente da ilimitação do desejo humano e da indeterminação dos objectivos a atingir. É característica do sistema de valores, das instituições e do funcionamento das sociedades industriais modernas. Desaparecida da obra de Durkheim a partir de 1902, a palavra anomia é redescoberta nos anos 30 pelos sociólogos de Harvard, nomeadamente por T. Parsons e R. K. Merton. O texto deste último, Structure sociale et anomie , contribuiu muito para difundir a noção de anomia alterando o seu conteúdo. Sem dar dela uma definição clara, tende a identificá-la a uma situação em que o indivíduo não encontra as possibilidades de atingir um objectivo definido e mesmo prescrito pela cultura. Esta contradição entre o objectivo cultural e a ausência de meios lícitos pode gerar comportamentos desviantes pelo recurso a meios ilícitos. À noção durkheimiana de ilimitação dos fins substitui-se a de limitação dos meios. A revolução semântica é plenamente levada a cabo com o uso de escalas de atitude que é suposto medirem a contrapartida psíquica da anomia social, sendo a mais célebre a escala de anomia, elaborada por L. Srole. Esta escala reflecte uma visão pessimista do mundo, o sentimento de que não se pode tomar em mãos a sua sorte e a renúncia
dimensões. Na incapacidade de posicionar-se num eixo esquerda-direita, porque privado dos conhecimentos indispensáveis à expressão de preferências partidárias, o indivíduo apolítico seria tentado pela abstenção eleitoral. Alguns autores sublinham, no entanto, que, se se ligar demasiado estreitamente participação política e competência cognitiva, em última análise já não poderá explicar-se o empenhamento de certos operários comunistas. A razão deste mal-entendido tem a ver em parte com a extensão variável que pode ser conferida à noção de campo político. Encarada unicamente no espaço estreito da política "política" em si, a competência política é muitas vezes concebida como o domínio de uma sábia utensilagem política, e a participação vê-se reduzida unicamente ao comportamento eleitoral. Sob este aspecto, o apolitismo doutrinal do anarquista pode levantar alguns problemas de interpretação (ao recusar situar-se no espaço político instituído, o anarquista toma posição em relação ao político). P. M.
ARON (Raymond), sociólogo francês (Paris 1905 - id. 1983): Rompendo com os herdeiros de A. Comte (É. Durkheim, F. Simiand), Aron introduz na França a sociologia alemã, dominada pela figura de M. Weber ( La Sociologie allemande contemporaine , 1935). Sobre a interrogação, saída de W. Dilthey, sobre a objectividade das ciências históricas, ele articula uma reflexão sobre a acção humana na história e as condições da opção política ( Introduction à la philosophie de l'histoire , 1938a; La Philosophie critique de l'histoire , 1938b). Depois da guerra, Aron ajuda a descobrir, através do seu ensino, as obras de Tocqueville ou de V. Pareto ( Les Étapes de la pensée sociologique , 1967). As suas pesquisas orientam-se para o estudo das sociedades industriais, das relações que nelas se instauram entre a estrutura social e o regime político ( Dix-Huit Leçons sur la société industrielle , 1962). Confrontando a experiência dos regimes "constitucionais-pluralistas" com os processos habituais dos totalitarismos ( Démocratie et totalitarisme , 1965), as suas análises comparativas fazem ressaltar a fragilidade e as hipóteses das sociedades democráticas: a igual distância de um sistema negador das liberdades e de um Estado
19 que não se encarregasse de "atenuar os rigores do acaso social", a realidade das sociedades ocidentais esboça uma síntese cuja fórmula as utopias políticas falharam demasiadas vezes. S. M.
Artesão e artesanato: Mais que para outras categorias sociais, as definições mantêm-se tributárias de considerações jurídicas e administrativas contingentes. O artesanato coincide praticamente com o sector das profissões e supõe uma inscrição no "Registo" do mesmo nome. Daí resulta que o artesão é em primeiro lugar um trabalhador manual, formado no trabalho, por aprendizagem directa; é um independente, exercendo por sua conta, sozinho ou com a ajuda de membros da sua família e de alguns companheiros. O artesanato assim designado é uma denominação recente que remonta ao período entre as duas guerras. Até à Revolução Industrial, o termo "artesão" aplicava-se ao operário, sem referência a uma profissão. No séc. XIX, assinalava um estatuto (o de "patrão") que o distinguia da massa dos assalariados e o aproximava do lojista: uma confusão motivada pelo facto de os actos de produção e de venda se recobrirem largamente; donde também um problema difícil de delimitação que, ainda hoje, não está totalmente resolvido. A dar crédito aos recenseamentos, o número dos artesãos regrediu bastante depressa de 1954 a 1975. O seu efectivo estabilizou-se em seguida. Uma certa retoma é mesmo sensível desde 1982 (beneficiando dela, sobretudo, os chefes de empresas artesanais de mais de cinco assalariados). No total, a população activa compreende 760 mil artesãos autênticos, uma vez descontadas as ajudas familiares que são cerca de 150 mil. A parte dos jovens de menos de 35 anos é de 26 por cento. Em relação às outras categorias patronais, esta proporção não é fraca, mas mantém-se inferior à revelada na maior parte das categorias de assalariados. A falta de jovens explica-se pelo facto de a instalação por sua conta exigir um capital económico que se adquire por herança ou por acumulação. Trata-se de factores que jogam nitidamente em desfavor das mulheres: estas não representam mais de 10 por cento dos artesãos instalados e encontramo-las reunidas nas actividades de serviço, o têxtil e o vestuário. Quanto ao resto, a construção civil acolhe os efectivos mais numerosos (312 mil), ao passo que os artesãos de fabrico não ultrapassam os 100 mil, se se excluírem os ofícios de arte. Dir-se-á, pois, que o artesão resiste muito melhor onde não entra em concorrência directa com a indústria e onde pode evidenciar uma grande competência individual.
A sociologia não se interessou verdadeiramente por uma actividade e por um grupo que a história parecia condenar. As raras análises propostas divergem tanto pela sua orientação teórica como pelo seu ponto de vista metodológico. B. Zarca (1983) insiste na necessidade de tomar em consideração a identidade do grupo, que ele julga encontrar no espírito de profissão visto como instrumento de legitimidade e também como elemento de distinção e de reconhecimento mútuo. Para C. Jaeger (1982), em contrapartida, a especificidade do artesanato consiste no facto de ele não permitir acumulação do capital e menos ainda a reprodução alargada da empresa. A referência aos valores de profissão permanece secundária relativamente às condições reais que permitem à pequena produção mercantil
20 viver nos interstícios do capitalismo moderno. Mas pode igualmente procurar-se fora da situação de trabalho e da empresa os elementos necessários à compreensão do artesanato (Gresle 1981). O grupo assinala-se por uma morfologia e uma condição sociais próprias. A função de produção tal como a prática do ofício perdem então a sua função distintiva em benefício de determinantes familiares e patrimoniais que esclarecem o seu verdadeiro alcance. F. G.
Arte (sociologia da): A sociologia da arte realizou grandes progressos ao longo dos últimos vinte anos desde que abandonou a reflexão sobre a relação entre a arte e a sociedade para interessar-se, com meios especificamente sociológicos, pelos contextos sociais do nascimento e da recepção das obras. Foi assim que no decurso dos anos 60 a sociologia da arte se afastou das grandes sínteses de inspiração marxista, que vêem na arte o reflexo da sociedade ou que, de maneira menos simplificadora, avançam a hipótese de uma relação de homologia entre as estruturas formais das obras e as estruturas sociais. Desenvolveu pesquisas empíricas, pondo em acção os conceitos e os métodos experimentados em outros domínios da sociologia. Num primeiro tempo, a sociologia da arte foi fortemente solicitada pela exigência institucional à procura de uma avaliação das políticas de democratização cultural. As análises sociológicas dos públicos tiveram um lugar importante na investigação e originaram a publicação de obras clássicas (Bourdieu, Darbel 1966). Desde então, trabalhos históricos e sociológicos já não se orientam apenas para o estudo do "consumo cultural" (a frequência dos museus ou dos concertos), mas também para o da percepção estética. A extensão do Estado-providência cultural à protecção social dos criadores, a intervenção dos poderes públicos (particularmente na França) e das empresas (em particular nos Estados Unidos da América) nos mercados do trabalho artístico chamaram, mais recentemente, investigadores para temas novos: morfologia das populações artísticas, divisão do trabalho artístico, profissões e carreiras de artistas, mercados das artes, políticas culturais (Moulin 1985). O desenvolvimento da disciplina e o aumento do número dos pesquisadores favoreceram a concorrência das interpretações, e assiste-se hoje a uma grande diversidade teórica. A teoria do "campo artístico" e das suas articulações com os outros campos sociais que relaciona a análise das estratégias com um sistema de posições (Bourdieu 1979) e, importada mais recentemente, a do "mundo social da arte" que se interessa numa rede de interacção entre os actores que cooperam na produção social do valor artístico (Becker 1982) fornecem os principais quadros de descrição e de interpretação. Dois grandes traços caracterizam a actual sociologia da arte. Por um lado, está menos afastada hoje que ontem dos outros segmentos da sociologia: a institucionalização da arte, a racionalização dos mercados, a profissionalização (ou desprofissionalização) dos artistas põem aos sociólogos problemas familiares. A sociologia da arte contribui assim para esclarecer os actores dos mundos da arte sobre as situações com as quais estão confrontados. Por outro lado, a extensão do conceito de arte, na sua definição actual, alarga o campo das pesquisas sociológicas muito para além da noção,
21 historicamente constituída, de "belas-artes". A análise das práticas não eruditas (a literatura popular, a música de variedades, o jazz , o rock, a banda desenhada, etc.) caminha a par com a análise socioeconómica das indústrias do livro, do disco, da fotografia, do cinema, do audiovisual. O regresso da palavra "arte" para designar aquilo que se chamava, durante os anos 60-70, sociologia da cultura significa em primeiro lugar que a tónica é colocada no estudo dos mecanismos sociais da
constrangimentos, interesses, outras atitudes podem também intervir, assim como as atitudes para com os outros comportamentos possíveis. Além disso, se a ideia de que as atitudes determinam o comportamento é a mais imediata, a relação inversa é também possível. B. M. Montmollin (1985).
Autogestão : Em sentido restrito, a autogestão é a gestão das empresas por aqueles que nelas trabalham; em sentido amplo, é um modelo que, opondo-se ao modelo leninista de um socialismo "estatal", "burocrático", "autoritário", define uma gestão descentralizada da sociedade e da sua economia socializada. A autogestão confunde-se, então, com o "federalismo" de Proudhon, que via nela um regime "que permite suprimir o entrave constituído pela propriedade sem cair nas contradições da comunidade". A. A.
Autoridade : O tema da autoridade foi abordado sob ângulos tão variados no quadro da filosofia política e das ciências sociais que deu lugar a uma pluralidade de concepções; mas podemos procurar por detrás da diversidade um núcleo comum. Conformar-se ou submeter-se à autoridade equivale a "reconhecer" na vontade ou no juízo de uma outra pessoa um princípio pertinente de acção ou de apreciações, sem que se tenham previamente pesado os prós e os contras; a atenção volta-se então para a fonte da comunicação, muito mais que para o seu conteúdo: é de facto a ela que se obtempera ou se aquiesce. É essa, sem dúvida, a característica fundamental da autoridade;
23 mas as opiniões divergem quando se trata de responder à questão dos seus fundamentos. Um primeiro tipo de concepção consiste em fazer da autoridade um modo de regulação normativa: assim, T. Parsons acaba por definir a autoridade como "a institucionalização dos direitos" dos dirigentes políticos "a controlar as acções dos membros da sociedade em tudo o que se refere à realização dos fins colectivos" (1960); nesta perspectiva, a autoridade instaura uma responsabilidade diferencial a partir de um acordo prévio sobre os objectivos prioritários. Uma segunda concepção, muitas vezes qualificada de "realista", tende a encarar a autoridade sob o ângulo da imposição. Se se acompanhar esta corrente de pensamento, o fundamento essencial da autoridade deve de facto procurar-se do lado do poder de impor, fazendo apelo, se for caso disso, à coerção: assim, M. Weber (1922d) distingue, ao lado da dominação económica, a "dominação em virtude da autoridade" que se reconhece precisamente no poder de ordenar e no dever de obedecer; ela consiste, segundo os seus próprios termos, num "poder de mandar dotado de autoridade" ( autoritärer Befehlsgewalt ). Não poderá, pois, estabelecer-se dicotomia radical entre autoridade e coerção; mas, como mostra Weber, a insistência no mando não exclui a consideração da legitimidade e das formas mais importantes que ela pode revestir. Por fim, segundo uma terceira concepção, a autoridade seria primeiramente fundada na competência. A autoridade profissional (médico, advogado) tem muito a ver com este modelo; assentando num saber especializado, é sobretudo de tipo fiduciário: o cliente confia globalmente na competência superior do especialista, sendo ao mesmo tempo incapaz de avaliar a pertinência das suas directivas. Mas este modelo de autoridade-competência não pode ser generalizado à autoridade política, nem à autoridade burocrática a despeito de uma tendência recorrente no pensamento social desde Saint-Simon. F. C.
Autoritária (personalidade) : A expressão "personalidade autoritária" foi lançada pelo livro devido a T. W. Adorno e a uma equipa de psicólogos e psicossociólogos de Berkeley (1950). O objectivo destes autores era referenciar e medir as correntes ideológicas antidemocráticas por meio de escalas de atitude e pô-las em relação com outras atitudes e com as tendências profundas da personalidade. A escala de autoritarismo, também chamada escala F (de "fascismo potencial"), compreende várias componentes, tais como a submissão à autoridade, a superstição e a adesão a estereótipos, a projecção nos outros das suas pulsões inconscientes, a agressividade em relação aos desviantes, etc. Está fortemente relacionada com escalas que medem o anti-semitismo e o etnocentrismo (pre-conceitos para com os negros, outras minorias e pseudopatriotismo). Esta escala F foi, sob uma forma condensada, a escala de atitude mais utilizada nos inquéritos sociológicos dos
anos 50 e 60. Apresentava, no entanto, sérias dificuldades técnicas (escala do tipo Likert, em que as propostas eram unilaterais e estereotipadas); estava enviesada pela tendência para a aprovação. PH. BD.
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B
Bando: Grupo de jovens mais ou menos estruturado que a sociologia caracteriza em relação ao meio em que vive. Após primeiros estudos sobretudo sensíveis à desorganização social de certas zonas urbanas, insistiu-se em dois aspectos: por um lado, a resposta subcultural à frustração proletária ou a reacção a condições de vida que impedem o acesso ao êxito social; por outro, a manifestação de um conflito entre os jovens e a sociedade adulta. A tónica colocada na dramatização hostil por parte da sociedade local, ou mesmo dos media e das instituições oficiais, sofre seguramente de um certo unilateralismo. Uma visão mais equilibrada consiste em analisar o bando através de uma radicalização das atitudes segregativas que actua entre o interior e o exterior do bando. Este modelo é susceptível de integrar um ou outro dos elementos libertos ou uma das suas combinações. PH. R.
Behaviorismo : Teoria psicológica segundo a qual todo o comportamento (ingl. behavior ) é uma resposta a estímulos exteriores que actuam sobre os órgãos dos sentidos (Watson). Influenciou uma importante corrente da sociologia americana consagrada ao estudo do condicionamento social das condutas individuais e colectivas. Contudo, o behaviorismo social toma em conta os factos de consciência, na medida em que as situações sociais só influenciam essas condutas em função da significação que lhes atribuem actores socializantes numa cultura e que têm papéis específicos (Mead 1934). Psicologia, sociologia e antropologia devem, pois, concorrer neste domínio graças à elaboração de conceitos, tais como os de atitude, de aprendizagem ou ainda de valor social. Mas é no plano epistemológico que o behaviorismo marcou mais essas disciplinas ao insistir na necessidade de testar empiricamente toda a hipótese e de construir apenas conceitos operacionalizáveis; é a lição retida pelo behaviorismo em ciência política. C.-H. C.
Biografia : A biografia constitui uma das fontes que os etnólogos utilizam de maneira privilegiada mas que pode também contribuir para o conhecimento sociológico e histórico. As histórias de vida pertencem à tradição sociológica. Por exemplo, a obra de W. Thomas e F. Znaniecki (1918-1921) sobre Le Paysan polonais en Europe et en Amérique é em grande parte fundada sobre narrativas de vida e documentos pessoais; a sociologia e a antropologia social americana utilizaram-na muito a partir dos anos de 1925-1930. Como escreveu C. Lévi-Strauss, a autobiografia permite reconstituir uma cultura do interior e analisar a maneira como se articulam e se interiorizam as instituições e os costumes analisados pelo investigador. A sua utilização levanta, contudo, dois problemas, um de metodologia e outro epistemológico. A utilização das biografias corre o risco de suscitar sempre uma dupla ilusão: a de tocar a própria realidade, a de atingir a totalidade. Ora, as narrativas não são o reflexo da própria realidade; ou do "vivido", por definição inacessível. Como o tinham já sublinhado no fim do
26 séc. XIX G. Simmel e W. Dilthey, estas narrativas propõem uma reconstrução intelectual de um passado, inevitavelmente orientada pela presença do investigador quando se trata de uma conversa e, em todos os casos, pelo trabalho da memória e pelo significado que a evolução do presente dá ao passado. A utilização da biografia corre também o risco de dar ao investigador a ilusão de que pode ter acesso à "essência" do indivíduo, do grupo familiar e mesmo do grupo social na sua totalidade e de
então a advocacia, a medicina e a empresa. O seu domínio não assenta apenas na posse dos meios de produção nem no dinheiro. Os costumes, a educação, o modo de vida distinguem nitidamente os burgueses (Goblot 1925), sem falar da consciência de constituírem um escol apto a dirigir as sociedades modernas. Estes traços não desapareceram nos nossos dias. Mas o sociólogo utiliza pouco um conceito que tem o mérito de lembrar a permanência dos grandes tipos sociais. F. G.
Burocracia : Na linguagem corrente, a palavra "burocracia" ganhou uma conotação pejorativa. E sinónimo de lentidão, de processos inutilmente complicados e a burocratização designa então o processo pelo qual uma actividade ou uma organização se tornam rígidas. Na visão mais normativa do sociólogo, estes fenómenos são considerados como "disfunções burocráticas", isto é, como efeitos negativos não previsíveis produzidos por um modo de organização cada vez mais espalhado nas sociedades modernas. Com M. Weber (1922a), poder-se-ia caracterizá-la pelos traços seguintes: pela continuidade (insere-se numa ordem legal que o detentor da autoridade hierárquica não faz mais que aplicar), pelo predomínio do processo escrito, pela existência de um corpo de regras impessoais que delimitam com precisão as esferas de competências e os direitos e deveres de cada um, por uma hierarquia das funções que cria laços de subordinação claros, pelo facto de o acesso aos vários postos se fazer exclusivamente em função da qualificação publicamente constatada (exames ou concursos), finalmente pela separação entre as funções de direcção e a posse dos meios de produção. Para Weber, um tal modo
28 de organização, que caracteriza, sem dúvida, as administrações públicas, mas também a maior parte das organizações industriais e comerciais de uma certa dimensão, é superior às organizações tradicionais, porque, graças à formalização e à estandardização das actividades, permite um funcionamento regido por regras mais objectivas, e portanto mais regular e mais previsível. Está destinado a desenvolver-se justamente em virtude da sua maior eficácia. R. Merton (1949) e M. Crozier (1964) puseram em evidência que as características organizacionais de formalismo e de impersonalidade traziam consigo consequências "disfuncionais" sobre os componamentos dos membros da organização que iam não apenas contra a eficácia desta mas que produziam, além disso, círculos viciosos de burocratização (sendo estas consequências não previstas combatidas por uma acentuação dos traços organizativos de partida). Em segundo lugar, mostraram que estas características preenchiam funções latentes para os membros da organização, ou seja, que permitiam reduzir as tensões interpessoais inerentes às necessidades da subordinação e do controlo nas actividades organizadas. A burocracia, longe de ser uma fatalidade em virtude da sua eficácia, apresenta-se nesta perspectiva simplesmente como uma das soluções possíveis para o problema da acção colectiva, isto é, da organização de uma cooperação entre actores por certo interdependentes, mas ao mesmo tempo relativamente autónomos. E, como tal, ela é um fenómeno profundamente cultural, no sentido em que o seu desenvolvimento é condicionado pelas capacidades relacionais e organizacionais dos membros de uma sociedade. Por isso pôde ligar-se o desenvolvimento da burocracia à francesa com os traços culturais profundos da sociedade francesa (Crozier 1964). Mas é também nesta perspectiva que se pode procurar compreender o desenvolvimento recente de modos de organização cada vez menos burocráticos num número crescente de empresas industriais e comerciais, ou mesmo de serviços administrativos. E. F.
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C
Camponês : R. Redfield (1956) distingue o camponês do agricultor. O primeiro goza de uma relativa autonomia no seio de uma sociedade global, não industrial, que o domina sem esmagá-lo. A especialização das suas tarefas, quando existe, faz-se no quadro do grupo doméstico que é a unidade de base de uma rede aldeã de interconhecimento. Os seus contactos necessários com o exterior são assegurados pelos notáveis, que são os seus intermediários reconhecidos. Neste modelo, todos os membros da comunidade, seja qual for a sua relação com a terra, são
"camponeses" e a sociedade dita camponesa modela os valores e os costumes dos que são seus membros. A hipótese é sedutora. Mas, se se definirem os camponeses pela sua inclusão numa sociedade mais ampla (Mendras 1976), não se vê como é que eles poderiam constituir uma sociedade específica. Convém pois considerar, para a época actual, que subsistem colectividades camponesas compostas principalmente por agricultores, isto é, por trabalhadores da terra, proprietários dos seus meios de produção. Em toda a parte, o advento das sociedades industriais conduziu à sua derrocada numérica. A originalidade da França neste capítulo consiste no facto de este recuo ter sido nela mais sensível que noutros lados. Em 1954, a população activa compreendia 4 milhões de agricultores. Este efectivo caiu para 3 milhões em 1962 e para 1,7 milhões em 1975, ou seja, verificou-se uma diminuição anual média de 4,4 por cento. Apesar de um certo afrouxamento na descida destes últimos anos (-2,3 por cento), os agricultores não passavam de 1, milhões em 1985, altura em que representavam menos de 7 por cento da população activa. Embora seja difícil medir a participação exacta das mulheres, a agricultura continua a ser muito masculina (37 por cento dos exploradores agrícolas declarados são mulheres), à qual os estrangeiros não têm praticamente acesso (são menos de 1 por cento). Este rápido declínio foi acompanhado de um nítido envelhecimento da população envolvida. Em 1982, apenas um agricultor em cinco tinha menos de 35 anos, e poucos filhos aceitam suceder a seus pais na exploração da terra. Mas estes traços duráveis não poderão esconder as transformações em curso. Se as entradas na agricultura são agora pouco numerosas, elas verificam- se numa idade mais tardia e parecem mais firmes. Há que ver em tal facto o resultado de uma formação mais adaptada (58 por cento dos menos de 35 anos têm um diploma profissional contra os 14 por cento dos mais velhos) e de uma evolução das explorações que são mais modernas e menos exíguas que no passado, sobretudo quando pertencem a jovens. A imagem do agricultor já de idade, chefe de uma família de grande dimensão, de fracos rendimentos (se bem que mal captados) já não é realista. E mantêm-se fortes disparidades que desmentem a proclamada unidade do mundo camponês (Gervais et al. 1976). Baseando-se nesta verificação, os sociólogos divergem nos seus juízos sobre o futuro do campesinato ocidental. Para uns, ele deixou praticamente de existir (Mendras 1967), ainda que a utopia (rousseaunista?) de comunidades autónomas subsista e alimente os projectos fantasmáticos daqueles que procuram abolir as barreiras que separam o rural do urbano. Outros, mais próximos do marxismo, consideram que se produziram
30 mutações decisivas após a última guerra, quando os camponeses tornados agricultores foram integrados à força no sistema capitalista. Obrigados a abandonar a policultura autárcica, foram autoritariamente orientados para a produção de valores de troca regulados pelo mercado (Jollivet et al. 1974). Mas, se a proletarização de uma fracção dos camponeses é inegável, ela revela-se incapaz de traduzir por si só o abalo que o campesinato conhece actualmente. F. G.
Capitalismo : O termo, aparecido no início do séc. XIX, acabou por impor-se para designar uma certa organização das actividades económicas. Paralelamente, a noção de capitalismo serviu de ponto de reunião para todos aqueles que rejeitavam este ou aquele aspecto do mundo moderno. Recebeu portanto, ao longo do mesmo séc. XIX, uma acepção cada vez mais negativa, de que parece difícil e inútil libertá-la. O termo designa, de facto, quatro realidades ao mesmo tempo económicas, políticas e culturais. No primeiro sentido, o capitalismo é definido pela apropriação privada dos meios de produção. Essa apropriação é acompanhada por uma separação entre o ou os detentores do capital e o trabalho indispensável à sua activação. O anticapitalismo visa eliminar esta separação, quer ao permitir a todos os trabalhadores de uma unidade de produção tornarem-se os proprietários colectivos do seu capital quer ao transferir para o Estado a propriedade de todo o capital de um país. Num segundo sentido, o capitalismo é compreendido como uma economia de mercado, em que os produtores e os consumidores se encontram em mercados regulados, para trocar e partilhar bens e serviços. Estes encontros dão lugar a inúmeras negociações que acabam por concluir-se e exprimir-se em preços. Cada preço é uma informação que traduz raridades relativas que permite aos agentes económicos tomar decisões de compra, de venda, de investimentos, de poupança, cuja agregação favorece a eficácia do aparelho económico no seu conjunto. O anticapitalismo propõe-se substituir o mercado por uma planificação gerida pelas autoridades políticas.
carismático é também ele considerado como legítimo nas sociedades mais racionalizadas. Só que, estando ligado à personalidade do seu detentor, permanece muito frágil e provisório. Como é quase impossível torná-lo permanente, institucionalizá-lo e transmiti-lo, sobrevêm crises na maioria das vezes quando o herói desaparece. P. B.
Casamento : Nas sociedades simples, como nas sociedades camponesas tradicionais, o casamento apresenta-se como um acto de ordem política e económica; as decisões neste domínio são tomadas pelas linhagens e pelos grupos familiares, que controlam assim directamente o processo da sua reprodução. Nas sociedades desenvolvidas como a França, escolha do cônjuge e formação do casal tornaram-se um assunto de ordem privada, o que não os impede de continuarem a ser um elo fundamental da reprodução da sociedade. Em França, as pessoas casam-se menos que no passado. E, no entanto, os casais mantiveram-se quase tão numerosos como dantes, porque o défice em casais casados foi globalmente compensado pelo aumento dos casais que vivem em simples coabitação. O casamento, quando se verifica, já não é de resto aquele rito imponente que determinava para cada um dos parceiros a entrada numa nova vida. Nos anos 80, a maioria dos casamentos faz-se na sequência de um período de coabitação juvenil. Esta maior flexibilidade da entrada na vida conjugal inscreve-se numa recomposição dos modos de passagem à idade adulta. Maior precocidade das primeiras relações sexuais e atraso na obtenção do primeiro emprego estável introduzem uma discordância de calendário, que o desenvolvimento da união informal permite regular parcialmente. A entrada na vida conjugal é um fenómeno mais carregado de consequências para as mulheres que para os homens. Quando a situação social das mulheres se modifica, as suas práticas matrimoniais transformam-se igualmente. Ora, a relação das mulheres com o trabalho mudou muito a partir dos anos 60. Ao mesmo tempo que a sua proporção se elevava na população activa, os empregos mudavam. As configurações conjugais outrora dominantes, associando um homem e uma mulher numa mesma unidade produtiva familiar, ou então um homem trabalhando no exterior enquanto a mulher se consagrava ao seu lar, reclamavam uma forma de compromisso bastante estável e bastante rígida entre os cônjuges. O casamento preenchia esse papel protegendo a mulher, mas consagrando ao mesmo tempo a perda da sua autonomia. Actualmente, quando ambos os parceiros são assalariados e as mulheres ganharam a sua autonomia financeira, estas têm menos necessidade de uma forma conjugal constrangedora e podem contentar-se com um "casamento sem papéis". Decididamente, a união sem casamento deve uma boa parte do seu sucesso ao facto de ser uma forma flexível e neutra, ideologicamente heterogénea, que corresponde segundo os casos a uma primeira tentativa de vida comum ou a um compromisso quase matrimonial. O desenvolvimento da união informal e a evolução dos comportamentos sexuais não levaram de modo nenhum a um enfraquecimento da homogamia social, cuja força A. Girard constatava já num inquérito realizado em 1959. Continua-se a escolher parceiros socialmente próximos. O que mudou foram os mecanismos que produzem essa homogamia.
33 Pode ver-se isso mesmo examinando os lugares em que se encontra pela primeira vez o seu cônjuge. Actualmente, os encontros fazem-se num amplo leque de lugares. Aos lugares de estudo ou de trabalho há que acrescentar a diversidade das actividades de lazer e dos lugares públicos. Mas tal diversidade é muito recente. Nos anos 20, dois casamentos em três eram concluídos na sequência de um encontro no baile, no quadro do trabalho, na vizinhança ou por ocasião de uma visita a um particular. Cinquenta anos mais tarde, estas quatro circunstâncias representam apenas um terço dos encontros. O facto marcante é o declínio regular dos encontros de vizinhança. Era o mais importante modo de encontro dos anos 20: quase desapareceu nos nossos dias. Na longa duração, a instituição produtiva por excelência é o baile. O seu contributo para a formação dos casais atinge o seu máximo histórico nos anos 60 (não menos que um encontro em cinco), para depois cair para metade. A medida que o baile declina, o seu público é cada vez mais rural. O êxito matrimonial dos bailes afirmou-se nos campos com o aumento do êxodo rural e o declínio do interconhecimento. O desenvolvimento considerável dos encontros em lugares públicos (rua, cidade, bairro, café, centro comercial, hospital, etc.) nos anos 60 traz ao declínio dos encontros entre vizinhos uma compensação mais estável que o baile. No espaço privado, o encontro proporcionado por um membro ou um amigo mais velho da família cede o lugar ao serão dançante autogerido pela
jovem geração. Do olhar vigilante da família e da vizinhança, passou-se à intervenção mais maleável dos grupos de pares. Não se escolhe um lugar qualquer para encontrar o seu cônjuge. As classes populares descobrem o seu cônjuge nos lugares públicos abertos a todos: festas públicas, feiras, bailes, rua, cafés, centros comerciais, passeios, cinema, meios de transporte, etc. As classes superiores, por seu turno, travam conhecimento com o seu cônjuge nos lugares reservados onde não entra qualquer um (associação, lugar de trabalho, restaurante, boîte , concerto, etc.), cujo acesso é regulado por um numerus clausus obtido formalmente, por selecção ou cooptação ou, de modo igualmente seguro, pelo efeito dissuasor que exercem certas regras de comportamento próprias da instituição. Por detrás da multiplicidade dos cenários de encontro patenteia-se uma lógica social da homogamia. A oposição fundamental do fechado e do aberto tende a segmentar o mercado matrimonial sem que seja preciso necessariamente ver nisso o efeito de estratégias específicas: uma parte considerável do trabalho de selecção realiza-se já a montante, através de práticas de sociabilidade. O "mercado matrimonial" poderia funcionar se tivesse de contar unicamente com as estratégias dos interessados? M. B.
Casta : A palavra designa uma organização social original, que se encontra apenas na Índia, desde há cerca de dois mil anos. A palavra - que significa "puro" em português - é infeliz, porque mistura duas realidades muito diferentes numa designação única e põe a tónica numa dimensão religiosa real mas secundária. O regime das castas é, em primeiro lugar, um regime de ordens ou de estados em que as pessoas são catalogadas hereditariamente em algumas categorias definidas legalmente,
34 sancionadas politicamente e especializadas funcionalmente. Na Índia, estas ordens ou estados chamam-se varna e são em número de quatro. Os brâmanes são especialistas do sagrado; os kşatriya reservam para si a guerra e a política; os vaiśya são os produtores, agricultores, criadores de gado, artífices, negociantes; os sudra são os servidores dos três primeiros varna. Com o tempo, os excluídos do sistema, os "fora-castas", acabaram por constituir uma quase- varna de intocáveis. De facto, este regime de varna nunca teve realidade permanente, a não ser nos escritos dos brâmanes. Praticamente, nunca houve, desde os últimos séculos que precederam a era cristã, senão brâmanes, sudra e intocáveis. Um regime de ordens é coisa corrente. Único na Índia é o regime das jati , a que deveria ser reservada a palavra casta. A jati é um grupo humano articulado em dois níveis. Ao nível da circunscrição, englobando uma centena de aldeias ou mais, é um grupo estritamente endógamo, composto de famílias alargadas exógamas; separado dos outros grupos de igual definição por um conjunto complexo e rígido de regras de poluição; especializado em certas actividades económicas, colocado numa hierarquia no cume da qual figura sempre uma jati de brâmanes; tendo uma organização própria, capaz de resolver os diferendos internos e de gerir os interesses comuns. Ao nível da aldeia, cada jati é representada por um segmento. Todos os segmentos da aldeia estão ligados uns aos outros por um sistema de prestações e de contraprestações em bens e em serviços. Estas trocas são dissimétricas e jogam a favor dos segmentos da jati proprietários da terra. O regime das jati é próprio da Índia. Tem de notável o facto de permitir a perpetuação de unidades sociais e regionais, assegurando-lhes uma autarcia económica, religiosa, demográfica e afectiva quase completa, fora de todos os enquadramentos políticos estáveis. J. B.
Categorias socioprofissionais: Elaboradas pelo INSEE, têm como objectivo classificar o conjunto da população activa francesa num número restrito de grandes categorias que têm uma certa homogeneidade social. As pessoas que pertencem a uma mesma categoria presume-se poderem manter relações entre si, terem comportamentos e opiniões aproximadas, considerarem-se como pertencendo a uma mesma categoria e serem consideradas como tais pelos outros. Não se trata de uma simples classificação estatística. As categorias consideradas reflectem a representação que a sociedade pode ter de si própria num dado momento. A nomenclatura corresponde a palavras usuais da língua francesa (operários, empregados, quadros, etc.) de maneira que as pessoas que