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Um diálogo entre twitter, uma plataforma de microblogging de mensagens curtas, e o peripatetismo de aristóteles. O texto discute as semelhanças e diferenças entre as práticas e processos de ambos, além de referir-se a pensadores e criadores contemporâneos. O documento foi escrito por magaly prado e jerusa pires ferreira.
O que você vai aprender
Tipologia: Slides
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Diálogos: oTwitter e o peripatético
Dialogues: Twitter and peripatetics
M a g a l y P r a d o * J e r u s a P i r e s F e r r e i r a * *
** Professora livre-docente da ECA/USP e do Programa de Comunicação e Semiótica da PUC-SP, onde criou e coordena o Centro de Estudos da Oralidade do COS/PUC-SP.
Resumo O trabalho parte de uma colaboração de ideias, um intercâmbio e interação de do- mínios, discute o Twitter e suas práticas e processos, comparando-os com os proce- dimentos da escola filosófica peripatética de Aristóteles, e referindo-se a pensadores e criadores contemporâneos. Palavras-chave: twitter, peripatético, comunicação, filosofia, redes sociais
AbsTRAcT This work started from an interchange and interaction of ideas in different fields for discussion, in order to consider Twitter and peripatetics, observing constructions procedures of twitters as well as aristotelic school for peripatetics, also referring to contemporary thinkers and authors. Keywords: twitter, peripatetics, communication, philosophy, social net
LiTeRAcy
sem TRoPeços Sabemos também que o ato de tuitar, apesar de fixar um limite de no máximo 140 caracteres a cada mensagem, requer do nosso olhar atenção para a telinha do celular. Entretanto, quanto a isso, não há o que se preocupar; já pensaram na problemática e resolveram o que poderia ser um risco entre aqueles que por ventura pudessem tropeçar em algo não visto no chão e criaram o programa Walk MSG´n para tuitar andando. O visor da tela aciona a câmera fotográfica do celular, permitindo que se enxergue a imagem do chão enquanto se anda, digita e manda mensagens ao mesmo tempo. Assim, o link com a escola peri- patética é reforçado. Obviamente, Aristóteles dava suas paradas para falar, e o tuiteiro que possui seguidores de hoje também. Mas, precisamos levar em conta que tuitar na caminhada é possível, sim. E aí, somos levados a pensar que o que se apresenta de modo diferente é a propria natureza do pensamento, seu espectro, amplitude e alcance. O que também tem sua especificidade é a escala da utilização, e isto não se pode perder de vista 4. O que altera dos 335 a 323 a.C para 2006 a 2010? O regime temporal do trabalho, noturno, diurno ou da madrugada. Antes, o passeio do filósofo e seus discípulos ocorria durante o dia e de noite. Durante o dia, recebia seus alunos, à noite abria para os não-iniciados. Lembremos que nos dois casos a iniciação é importantíssima. O filósofo de origem médica e naturalista teria começado com suas caminhadas logo após o almoço no intuito de facilitar a digestão, prova- velmente influenciado por seu pai, também médico. Porém, o costume passou a ocorrer em outros horários também. Já o ambulante de hoje se espalha nas 24 horas de um dia, inclusive na madrugada, com o celular junto ao seu corpo, parte dele, como um detalhe que o faz assemelhar-se a um homem-máquina, já que não consegue sair sem ele. Portanto, podemos fazer um paralelo entre o hábito de Aristóteles de transmitir ensinamentos, enquanto andava e oferecia preleções sob os portais cobertos do Liceu, conhecidos como perípatoi, ou sob as árvores que o cercavam, e o hábito dos tuiteiros que cobrem conferências, principalmente quando os congressos disponibilizam rede wi-fi para facilitar a conexão. A pergunta que nos fazemos é: de que maneira se agencia o tempo/espaço? O agenciamento do tempo é outro, a paisagem também, bem como os desafios neurológicos, as histórias das sinapses nervosas pelas mediações dos aparelhos eletrônicos que interferem sobre os atos do ambular.
#TAgueAnDo TemAs O taguear é a compartimentação didática dos temas, em que se evidencia e é oferecida uma síntese no rótulo escolhido. No caso de se tratar de conferências em pleno século 21, costuma-se usar uma ferramenta que separa postagens
Le plaisir de marcher comme une résurrection, une «ouverture au monde». La marche nous apparaît alors comme un acte libérateur où l’on se rencontre, échange, on se détache petit à petit du matériel pour revenir à l’essentiel: la pensée, libre... (Le BRETON, 2000)
e considerarmos que o Twitter, o serviço de microblog de mensagens curtas instantâneas que mais cresce entre as redes sociais, foi criado para ser acionado pelos dispositivos móveis com ferramentas 3G, e a bem dizer, hoje é usado tanto nos celulares quanto na web, podemos fazer uma aproximação entre o ato de tuitar andando e o peripatetismo 1 de Aristóteles (384-322 a. C.). Peripatético vem de perípatos – passeio por onde se anda conversando, motivo pelo qual a escola aristotélica foi chamada peripatética, como referência ao fato de que Aristóteles e os estudantes costumavam passear discutindo filosofia. Hoje, com a mobilidade tecnológica, segundo Rios e Speck (2009), criou-se uma condição nomádica constante. O tuiteiro é assim um citadino nômade. Claro que nem tudo que é tuitado pode ser considerado como conheci- mento. Porém, se destacarmos aqueles que tuitam oferecendo informações, opiniões, críticas e o que pode ser chamado de ensinamento, podemos apontar, sim, para uma analogia entre o Twitter e o peripatetismo. Da mesma maneira que no Twitter forma-se, no ciberespaço, um círculo de pessoas em torno de outras com afinidades ou por admiração, assim ocorria na escola peripatética da Grécia antiga. A diferença é que, enquanto no Twitter são vários os participantes – dos muito conhecidos até mesmo quem só é notado na rede – que conquistam seguidores, no Liceu 2 era Aristóteles que atraía dis- cípulos quando ensinava caminhando ao ar livre. Os fluxos de transmissão de ensinamento, outrora unidirecionais, passaram para bidirecionais (no telefone) e hoje são multidirecionais, ou seja, de muitos para muitos, com uma forte capacidade de articulação. Algo que a cibercultura facilita colocando todos em uma mesma nuvem 3. Beth Saad (2009), por exemplo, lista o tipo de pessoa que consegue seguidores: A recentíssima migração para o Twitter de figuras deste Brasil que podem ser categorizadas (termos cunhados pela própria mídia) como celebridades, gurus, comunicadores influentes, comunicadores emergentes, pioneiros, entre outros, tem chamado a atenção: alardeiam no ciber e no papel números recordes de segui- dores, “conversam” com essa massa numérica e distribuem “olás” e “obrigados” rede afora (Saad, 2009).
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Como os discípulos de Aristóteles, os followers no Twitter também são voluntários, ou seja, não existe a menor obrigação de seguir alguém, mesmo em se tratando de um professor e os alunos de sua classe. Na era das redes telemáticas, qualquer um pode se expressar. O título dado pelo filósofo, etnólogo e psicanalista francês Octave Mannoni, Um começo que nunca termina (Un Commencement qui n’en finit pas, de 1980) nos conduz por várias razões a esta vinculação que estamos desenvolvendo sobre o peripatético e o Twitter. Ser um peripatético, aquele que passeia, obtém com isso seguidores, por pior que essa palavra possa sugerir entre aqueles que a rejeitam, por imaginar a ideia de guia espiritual que, em geral, possui seguidores à ma- neira de rebanho. Melhor pensar que nesses espaços se constrói um tipo de conhecimento cada vez mais descentralizado e distribuído. Muitas vezes, o tuiteiro segue pessoas que não conhece e passa a conhecer na rede. Faz-se aqui também um paralelo com o que o poeta-memorialista Óssip Mandelstam (1891-1938) falou sobre o Outro em Viagem à Armênia (Mandelstam, 2000), em 1933, seguido das considerações que estão no livro Armadilhas da Memória.
...[ ] é bem o exercício do espaço, do olhar não apenas a paisagem diferente, mas é o enfrentamento da cultura do outro, seu modo de ser e de representar. Aqui é a Alteridade que está em causa, e o autor o explicita dizendo que “não há nada de mais ilustrativo e alegre que mergulhar na companhia de pessoas de raça [sic] inteiramente distinta que a gente respeita, com quem simpatiza e de quem se orgulha como um estranho” (Pires Ferreira, 2003: 50, apud Mandelstam).
É certo que Mandelstam está se referindo à alteridade, e na tuitosfera, pessoas seguem aqueles em quem confiam e em quem não confiam. Inexiste regra nessa escolha de seguir. Mas é possível imaginar que o mais seguido é o que inspira maior confiança, sim.
A alteridade será então uma diferença vinda de fora, sem as ameaças que im- plicam confronto ou convívio. E é então que a presença do outro nos ajuda a definir-nos. Comumente objeto de desconfiança ou de repulsão, ao contrário, aqui o outro se transforma num pólo de atração na própria razão de sua alte- ridade (Ibid.).
contiguidades espaciais e a outro tipo de limitação. Avançando para conside- rar questões de oralidade e da voz, não são a metrificação, o verso, elementos constrangedores por um lado, e acionadores de memória por outro? No caso da conferência, o evento é significado e, no que toca ao diário, no sentido original de jornal, ele é acompanhado por todos. Mas é bom deixar claro que também têm vez aqueles que registram seus pensamentos em toda a parte, fechados em uma sala de aula ou em suas passagens pelos “não-lugares” 6 (AUGÉ, 1994); no aeroporto, por exemplo, sempre ao esperar uma decolagem, o que fazer? Alguns preferem tuitar. Ou no trânsito engarrafado das cidades, na monotonia das grandes estradas. Não importa onde, o fato é que em qual- quer parte é possível acessar seu aparelhinho e transmitir informações, ou até mesmo fazer passar os seus ensinamentos ou somente exercer atividades lúdicas. Haverá sempre na vida e nos meios um espaço para uma errância descomprometida, para o aliciamento de um interlocutor, convidando-o a uma pausa, a um cafezinho ou ao riso. E este direito faz parte de toda socia- bilidade humana. Apesar da busca pela informação filtrada por aqueles que são seguidos, que a princípio possuem os mesmos interesses, sobressai a evidente vontade de papear. E por que não? Quem disse que temos de estar sérios o tempo todo? Escolher o que tuitar pensando duas vezes sempre? É possível que exista uma baixa audiência para notícias datadas, links exaustivamente retuitados, piadas de mau gosto, preconceitos. Basta comparar com a vida, levando em conta a superexposição que a rede propicia e faz expandir. É preocupante pelos dados fornecidos. Segundo o Adnews 7 de 23 de fevereiro de 2010, o Twitter alcança 50 milhões de mensagens por dia. No fluxo de informações, que assola os habitantes de espaços midiáticos, uma das principais estratégias é o filtro da seleção. Aliás, esse é o princípio básico para pensar as relações interativas entre memória e esquecimento, a manutenção possível de informações essenciais, a partir de uma escolha que nos encaminha aos estudos de semiótica da cultura de Iuri Lotman.
FiLTRo como PALAvRA-chAve Se o peripatetismo nos remete a discussões de alunos e mestres, enquanto passeavam, no Twitter não é diferente. A rede social é espaço adequado para discussões acaloradas sobre todo tipo de assunto, reforçando que nem sempre são temas relevantes. O filtro poderá ser feito pelo próprio tuiteiro ao escolher seguir este ou aquele. Aliás, por decorrência de tuitadas impróprias de toda espécie, é que seguidores e seguidos bloqueiam certas pessoas, e neste ato de aceitar seguir alguém ou deletar refina-se o rol de seguidores.
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questionamento seguinte: nem todos almejam ter seu tema ou o tema do seu link no trendings topics? (Quando o assunto é o mais comentado do momento e vai para o topo da lista). Nesse ponto, o hipertexto entra como nos primórdios da web, quando um pensamento leva a outro e são complementados com sugestões de links que levam a outros links em navegação própria da rede. Gerard Génette traz a ideia de que a literatura é hipertexto, sempre pronta às novas interpretações. Para o autor, hipertexto designa “todo texto derivado de um texto anterior por transformação simples (…) ou por transformação indireta” (1982: 12). Bairon e Petry (2000) lembram que existe uma montagem e colagem próprias do mundo virtual. As redes sociais como o Twitter provocam não só essa montagem, como incitam a remontagem, as recombinações, a junção de múltiplas autorias, quando listam as várias arrobinhas em uma citação. Tudo com a liberdade que norteia a rede, pois sem ela não há inovação possível.
PeRiPATéTico = exAgeRADo Se levarmos em conta uma definição figurativa de peripatético, como exagerado na expressão, nos gestos, no que concerne à expressão, os tuiteiros aproveitam a liberdade da rede para escrever o que vem à mente. Mesmo quem está em posição consolidada no mercado desabafa, solta palavrões, usa abreviaturas e gírias sem o menor pudor. Afinal, estão em um ambiente pessoal. E essa narrativa é fragmentária, rica em detalhes, a vida é uma fabulação. A fábula é a captação da vida, a narração do que se passa, como sendo mais importante do que o que se passa realmente. Muitas vezes percebemos que um seguidor reverbera reflexões de seu seguido por concordar plenamente com ele, sendo assim, não é preciso deixar a própria opinião, basta retuitar o outro. Nesse caso, sobra mais tempo para borboletear na companhia dos passarinhos
Podemos pensar na relação que o seguidor de desconhecidos trava na rede. Alguns seguem os mortos e são eles: escritores, poetas, músicos, cientistas, enfim personalidades. Veja o exemplo do twitter de Paulo Leminski (1944-1989), na figura abaixo:
cAminhAnDo e LenDo Lembremos que Aristóteles também lia nessas andanças. Aqui ressaltamos a ideia de que ele parava de tempos em tempos, e não se tratava de andar desen- freadamente. É o que acontece quando um tuiteiro lê e copia um trechinho no microblog para compartilhar o que está lendo. Muitas vezes, é possível ver escritores postando partes de seus escritos no Twitter para sondar a aceitação do que vêm escrevendo. Outros vão mais longe, escrevem direto no Twitter e depois salvam a timeline para compor um roteiro, um livro, uma apostila, seja o que for que estiver digitando no momento. Trata-se de uma escrita com- partilhada. Vemos ainda aqueles que arriscam escrever de forma coletiva e começam uma história pedindo a cooperação de quem quiser continuar, como um texto colaborativo. E os créditos de quem começou com a ideia aparecem na medida em que as retuitadas vêm acompanhadas pelo símbolo arroba: @ + o nick, o apelido de quem postou. Não existe apuração a respeito, então fica o
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com quem não conversa. Veja o exemplo do jornalista Rodrigo Flores papeando com seu próprio plantão de final de semana: “boa tarde, plantão.Tudo bem com você ?” Se uma história assim, por um lado, nos oferece a ideia de um preenchi- mento vital possível, por outro, deixa-nos aflitos, pelo nível de solidão e busca de paliativos frente a máquinas indiferentes. Ou seja, tudo que uma rede social faz quando favorita alguém, aumentando sua reputação, ou então banindo-o e, por consequência, desacreditando-o, é como se respondesse a um estabelecido padrão de qualidade. Um dos cuidados que muitos não têm é quanto à quantidade de tuitadas, e como verdadeiros tagarelas, cansam quem está logado. A tagarelice atenta contra o mencionado e antigo ato filosófico. É provável que a ferramenta de unfollow para deixar de seguir alguém seja mais usada do que a de clicar na estrelinha para tornar-se fã, o que ficou muito caracterizado e até banalizado no Orkut. “Bons ouvintes são bons aprendizes. Quem fala demais só repete o que ouve por aí” Rudolph Giuliani 12.
A quem seguiR? No início, foi uma busca descomedida por seguir pessoas, e passados os pri- meiros anos, o que importa no Twitter é saber a quem seguir, ter propósitos ao acompanhar os escritos de determinadas pessoas e distinguir quem tem perti- nência, que nem sempre é quem tem notoriedade. Quem afinal tem autoridade? Saber fazer essa escolha é o ponto forte deste momento. E se destaca aquele com tuites interessantes, mesmo que simples posts da sua realidade, mas bem escritos, poéticos ou engraçados, o que fica perceptível com a quantidade de retuites e dos comentários dos comentários. Para tanto, os notáveis sabem se relacionar e aperfeiçoam cada vez mais sua performance e o grau de sociabili- dade para ganhar apreço, aumentar a popularidade e chamar a atenção sempre. A possibilidade de conversar no reservado, por direct message, propõe maior vínculo com os seguidores, como uma forma de mantê-los na barra da saia. E há quem faça um filtro das melhores frases do Twitter e fora dele também. Há quem fale para todos de uma vez só. Veja o exemplo da estudante Carolina Almeida, que termina com riso: “boa tarde, não vou falar aquilo que vcs querem ler. hahahaha”. A ideia deste artigo não é entrar nos meandros de como funciona a fer- ramenta, nem juntar todos que se conhecem em outros meios, importando de rede para rede, e nem tem a pretensão de problematizar aqui quem usa o Twitter só para se autopromover, quem entra com perfil fake, e muito menos aqueles que espalham spam. Mas os que escrevem mentiras em tom de gozação
são engraçados, pois colocam a palavrinha “NOT” depois da frase enganadora. Veja o estudante Manoel Correia de Araújo Júnior desabafando: “Morrendo de dó do #Berlusconi.# NOT”.
PensAR ALTo Não se deve esquecer que nas redes o leque de pessoas com quem se convi- ve virtualmente é imensamente maior do que poderíamos encaixar num dia físico. Até porque nem sempre são pessoas conhecidas que nos adicionam, mas acabam por interagir conosco e conseguem ter acesso aos nossos tiques, fotos no Twitpic – o lugar para agrupar galerias de imagens com espaço para comentários, inclusive –, momentos de pensar alto, erros de digitação, risadas. Enfim, posts são, em geral, públicos – ainda que alguns coloquem cadeados, fugindo e distorcendo a própria finalidade de estar em uma rede social.
o eu-você coLeTivo Sem discutir os detalhes, existe a possibilidade da conversa, da linkania^13 (DIMANTAS: 2006) acontecer no meio da madrugada e poder ser recebida ou acessada a qualquer hora ou quando a multidão fizer o login. Trata-se de uma contaminação de atitudes, em que a vida na rede influencia e interfere na vida física. Um contínuo que dá a sensação de série quando um tuiteiro completa, complementa e continua o pensamento do outro. Esse conceito de contínuo vem da matemática, passa para as ciências comparadas do século XX, a antropologia, a linguística, a comunicação e a semiótica. E o incluímos aqui pelos vínculos com a comunicação. Por isso, evocamos Iuri Lotman (1990) quando ele faz considerações sobre a comunicação entre eu-eu e entre eu-você, considerando que é no balanço e na interação dessas duas possibilidades que ocorre a força da criação na cultura (Lotman, 1990, 1996). Conectamos com os coautores que retuitam e complementam opiniões de outros que são seguidos, não só corroborando o que se diz, mas confrontando também. Enquanto isso, vale trazer Bakhtin (Cf. Pires Ferreira, 2003: 17) a essa reflexão, ao pensar no dialogismo como o próprio agenciamento desejável nos processos da cultura. No Twitter, a principal atitude é a da conversação, só depois vem a sequência de informações. Se considerarmos os números de um bate-papo, como os do Uol, por exemplo, que arregimenta cerca de 200 mil por minuto em seu portal, pode-se deduzir que as pessoas querem conversar. E elas conversam linkando páginas com textos (ou fotos etc.) recomendados na função primeira do hipertexto. As redes de hoje vão além. Pedidos de demissão ou de casamento pelo Twitter são um hype na internet. Apesar da incredulidade de muita gente que considera impróprias determinadas intimidades na rede.
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o que ouvimos No formato de rede de associação, um ponto forte é a divulgação daquilo que se ouve nas redes sociais musicais acopladas ao Twitter, como a Blip.fm, com forte presença entre os usuários. A partir do momento que uma música é clicada, agregando comentários sobre ela ou não, automaticamente o post entra na timeline, facilitando assim não ter que digitar a url para mostrar aos seguidores o que é considerado bom para ouvir. Mas afinal, o que eles esperam dos seus seguidos? Trazendo à baila a frase “O que você quer de mim?” como um bordão do pacto fáustico. É possível prever a satisfação ou não de quem segue, dependendo da prática do unfollow, quando o seguidor deixa de seguir a qualquer momento ou alimenta seu encantamento a cada tuitada. Afinal, evocando Fausto de novo, basta lembrar mais uma frase atribuída a ele: “Sou apenas um ator.” Boa para dar um reply^14 nos seguidores- discípulos que cobram posturas, respostas rápidas e análises prontas, fechadas.
memoRiAL nA nuvem No Twitter, tudo fica ali, como um memorial itinerante, guardando cada ins- tante da vida para que não tenhamos necessidade de decorar, anotar, registrar de outras formas, basta tuitar e salvar de tempos em tempos as tuitadas para manter o raio de informes de cada um na posteridade, como o eu-arquivo de Fausto Colombo (1991). Afinal, quem sabe podemos voltar a andar nas nuvens, distraídos, como os nefelibatas da era do universo ultra romântico?
ReFeRênciAs
Campinas: Papirus, 1994. (Coleção Travessia do Século).
editora Mackenzie, 2000.
Companhia das Letras, 2002.
Mind – A semiotic theory of culture. London. I.B. Tauris. 1990.
______. La semiosfera I – Semiótica de la cultura y del texto. Madrid: Ediciones Cátedra,
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Editorial, 2003.
Twitter. Intercom Júnior 2009. DT Interfaces Comunicacionais.
endereços eletrônicos AdNews. Disponível em: http://www.adnews.com.br/internet.php?id=99896 Último acesso em 15.dez.2009.
em:http://www.time.com/time/business/article/0,8599,1902604,00.html. Último acesso em 6 jan.2010.
Disponível em http://www.mollat.com/dossier/la_marche_une_philosophie_abor- dable-12075.html Acesso em 18 abr.2010.
seu quadrado?Disponível em: <http://imezzo.wordpress.com/2009/12/14/a-twitter- litteracy-de-nossas-celebridades-e-gurus-cada-um-no-seu-quadrado/> Último acesso em 14 dez. 2009. Twitter with voice. Disponível em: http://www.twitterfone.com/ Último acesso em 16.dez.2009.
defendida em 2006 na PUC-SP. http://pub.descentro.org/midia/linkania.pdf Último acesso em 19.abr.2010.
Artigo recebido em 31 de março e aprovado em 16 abril de 2010.