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Este artigo discute a caracterização da personagem coraline no livro coraline, de neil gaiman, e no filme coraline e o mundo secreto, de henry selick, através de uma análise comparativa. O texto aborda as diferenças e semelhanças na caracterização da protagonista coraline em ambos os meios, considerando principalmente sua caracterização física. Além disso, o artigo discute a importância das traduções de textos literários para o cinema e as novas práticas de leitura que elas podem trazer.
Tipologia: Esquemas
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Aline Scarmen Uchida 1 Nara E. Ribeiro Silva 2 Liliam Cristina Marins^3
RESUMO Este trabalho tem como objetivo principal realizar uma análise da tradução intersemiótica do texto literário Coraline (2002), do autor britânico Neil Gaiman, em sua versão cinematográfica Coraline e o Mundo Secreto (2009), dirigido por Henry Selick. Especificamente, este estudo pretende verificar as possibilidades de leitura com relação à caracterização da personagem Coraline em ambos os meios, levando em consideração que o cinema conta com recursos diferentes do meio impresso, como som e imagem. Justifica-se a relevância deste trabalho em função da atual importância das traduções de textos literários para o cinema, uma vez que, além de ser uma prática prestigiada na indústria cinematográfica, também valoriza letramentos diferentes daqueles requeridos para a leitura do meio impresso. Nessa perspectiva, serão utilizados os pressupostos teóricos de Diniz (2005), Vermeer (1989) e Iser (1999).
Palavras-chave: Tradução intersemiótica. Cinema. Leitura.
ABSTRACT This study aims to analyse the intersemiotic translation of the literary text Coraline (2002), by the British author Neil Gaiman, in its cinematographic version Coraline e o Mundo Secreto (2009), directed by Henry Selick. Specifically, this study intends to investigate the reading possibilities regarding the characterization of the protagonist Coraline in both medias, taking into consideration that the film counts on image and sound, which is different from the book. The relevance of this analysis is based on the current importance of translations of literary texts to films, since it is a prestigious practice in the cinematographic industry. In addition, this segment of cultural industry values different literacies from the ones required to read and comprehend written texts. Thus, this study will be based on the following scholars: Diniz (2005), Vermeer (1989) and Iser (1999).
Keywords: Intersemiotic translation. Cinema. Reading.
(^1) Pós-graduanda em Estudos Literários pela Universidade Estadual de Maringá. aline.uchida@hotmail.com 2 3 Pós-graduanda^ em Estudos Literários^ pela Universidade^ Estadual de Maringá. nara@outlook.com Doutora em Letras pela Universidade Estadual de Maringá. liliamchris@hotmail.com
Neste artigo, será discutida a caracterização da personagem Coraline no livro Coraline , de Neil Gaiman (2002), e no filme em stop motion Coraline e o mundo secreto (2009), de Henry Selick, por meio de uma análise comparativa. Stop motion é uma técnica de animação quadro a quadro, que dispõe de recursos como filmadora, máquina fotográfica ou um computador. Essa técnica recorre a bonecos feitos de massa de modelar, o que torna o filme mais atrativo ao público infantil. Como a análise será pautada em dois meios, primeiramente, o conceito de tradução intersemiótica será apresentado. De forma específica, as diferenças e semelhanças da caracterização da protagonista Coraline, tanto em sua versão cinematográfica quanto em sua versão impressa, serão levantadas, considerando, principalmente, sua caracterização física. É importante lembrar que a maior parte das produções cinematográficas está inserida na cultura de massa, o que pode atribuir uma visão pejorativa a essas produções, principalmente por seu caráter popular. Entretanto, sua popularidade não diminui a valoração artística, afinal, é um meio que, por recorrer ao uso da imagem visualizada, possibilita que um número maior de pessoas com diferentes letramentos tenha contato com textos literários antes acessados apenas no papel. No cinema, há elementos distintos do livro, como a rápida sucessão de imagens aliadas ao som. Já no texto impresso, quando há ilustração, as imagens são estáticas e o “som” é substituído por diálogos e narrações. Conforme Iser (1999) cita, versões de textos literários para o cinema são, de certa forma, visualmente limitadoras, pois materializam para o espectador a caracterização dos personagens, do ambiente, do tempo, entre outros aspectos. De forma distinta, a leitura do texto impresso envolve a representação de imagens, que resulta da interpretação do leitor. Isso não significa que, caso o texto seja ilustrado, o leitor tenha uma participação interpretativa menor, pois as ilustrações são apenas um complemento à palavra. Além desses aspectos, o texto impresso exige uma leitura mais linear, que, consequentemente, demanda mais tempo por parte dos leitores quando comparada ao tempo que se leva para assistir a um filme. Nesse sentido, justifica-se a relevância deste trabalho em função da popularidade e importância que as traduções intersemióticas de textos literários para o cinema têm atualmente. Esse estudo pode, assim, contribuir para o
se torna “original” em si e não uma mera cópia do texto de partida, já que é produzido considerando uma finalidade e um público receptor. Não há uma questão valorativa entre o texto/meio de partida e o texto/meio de chegada, visto que cada meio semiótico apresenta características intrínsecas que, aliadas à leitura de produtores e diretores, podem influenciar a caracterização de personagens e dos espaços da narrativa. Segundo Diniz (2005), uma produção cinematográfica baseada em um texto literário o enriquece, não por ser mais valiosa do que o texto de partida, mas por proporcionar diferentes possibilidades de leitura e interpretação. Para a teórica, a narrativa existe em diferentes meios e não há a perda de significado nessa passagem de um meio para outro, mas construções distintas que recorrem aos recursos disponíveis em cada meio. Portanto, uma análise comparativa entre meios semióticos distintos não deve ser pautada por princípios de equivalência (os quais podem desvalorizar a produção), mas por questões extratextuais que valorizem a forma como os meios são constituídos e as práticas de leituras que cada meio proporciona.
2 CORALINE : CARACTERIZAÇÃO DA PROTAGONISTA NO LIVRO E NA TELA
Coraline, de Neil Gaiman, foi escrito e publicado em 2002 e conta a história de uma garota curiosa que se mudou para uma casa, cuja vizinhança é basicamente formada por adultos: Mr. Bobo, que treinava ratos de circos; e as irmãs aposentadas Miss Forcible e Miss Spink, que outrora foram atrizes. Em certo dia chuvoso, Coraline, entediada, começa a explorar a nova casa e descobre uma grande porta de madeira, que estava trancada. Ela, então, pede a sua mãe para abri-la, mas não encontra nada lá. No dia seguinte, Coraline decide visitar seus vizinhos. O primeiro, Mr. Bobo, transmite a Coraline o seguinte recado de seus ratos de circo: “ Don't go through the door” (p. 25), ou em português, Não ultrapasse a porta^4. Depois, ela visita Miss Forcible e Miss Spink, que leem seu futuro nas folhas de chá, dizendo que ela está correndo perigo. Coraline não compreende o que essas mensagens significam e, mesmo assim, decide abrir novamente a grande porta de madeira, mas, dessa vez, sozinha. Diferentemente da primeira vez, a porta revela uma passagem que a leva para uma casa igual a sua, contudo, seus pais são outros: sua mãe se
(^4) Tradução nossa.
transformou na “Outra Mãe”, cujos olhos eram, na verdade, grandes botões pretos, pele mais branca, além de ser mais alta e magra que a sua mãe de verdade; e seu pai passou a ser o “Outro Pai”, também com olhos de botão. Assim, dá-se início à narrativa de Coraline, a menina que, ao se sentir ignorada por seus pais, resolve explorar a casa onde mora e é transportada para um “outro mundo”. Embora, de forma generalizada, essa seja a estrutura básica da trama, os elementos que caracterizam a protagonista são distintos em ambos os meios. Um desses elementos é seu vestuário, que é descrito de forma mais saliente no segundo capítulo do livro quando Coraline sai para dar um passeio e encontra Miss Spink: “ Coraline put on her blue coat with a hood, her red scarf and her yellow wellington boots ” (p.23) ou “Coraline vestiu seu casaco azul com capuz, seu cachecol vermelho e suas botas de chuva”.^5 É importante ressaltar que o livro trabalha com ilustrações; no entanto, elas não são constantes e são monocromáticas. Além disso, os tons escuros são mais evidenciados, o que confere à história uma atmosfera mais sombria e a endereça a um público mais juvenil que infantil, como a figura da mão da “Outra Mãe” reflete:
Figura 1 - Mão da outra mãe (p.170)
Além disso, os personagens são representados com uma estrutura corpórea pouco ou nada harmoniosa em termos de proporção assimétrica, como pode ser observado a seguir:
(^5) Tradução nossa.
Outro aspecto relacionado ao vestuário de Coraline são suas galochas. O termo wellington boots, utilizado no livro para descrever suas características físicas, remete à rain boots ou, ainda, rubber boots , ou seja, botas de proteção contra a chuva. Diferentemente do casaco, na representação das botas no filme, há uma construção semelhante àquela da linguagem verbal no livro. Embora no filme seu cabelo seja azul (que pode ter relação com a troca da cor azul do casaco na descrição do livro pela cor amarela na imagem do filme) e curto na altura dos ombros, no livro, não há descrições que possibilitem saber como ele é salvo pelas ilustrações presentes entre um capítulo e outro (em que ela aparece com cabelos curtos também). As cores da caracterização de Coraline no filme a destacam em meio ao tédio sugerido no espaço da narrativa (apesar de ser um lugar novo, não há atrativos para a idade que Coraline aparenta ter em ambos os meios – em torno de 10 anos) e aos outros personagens, que são ou adultos sempre ocupados com o trabalho (como seus pais) ou pessoas idosas. Ao considerar que as imagens ilustradas são uma representação da leitura do ilustrador, que é um leitor, como estabelece Iser (1999), uma imagem representada visualmente, de certa maneira, pode limitar a forma como as personagens são imaginadas pelos leitores do livro. Enquanto o livro é basicamente formado por palavras, permitindo que os espaços vazios do texto sejam preenchidos por imagens representadas pelo leitor, o filme apresenta uma imagem visualizada, já construída da personagem. Assim, as ilustrações presentes no livro podem influenciar, assim como as imagens do filme (principalmente quando o espectador assiste à versão cinematográfica de um texto literário antes da leitura do livro), a construção da personagem pelo leitor, pois este estará sujeito a atribuir as características físicas da ilustração à sua interpretação. Segundo Diniz (2005), inicialmente, a preocupação dos diretores cinematográficos quando traduziam um texto literário para o cinema era captar a maior parte dos elementos da narrativa, tais como enredo, personagem, entre outros aspectos. Tudo isso criou nos telespectadores uma estética de apreciação baseada em uma equivalência entre os meios, ou seja, quanto mais elementos do texto literário estivessem presentes no filme, maior seria o sucesso de sua recepção pelo público. Essa perspectiva, atualmente, considera outros elementos quando analisa a estética da recepção de um filme, que é um meio diferente do impresso e conta com outros recursos que o impedem de ser “fiel” a qualquer outro meio.
Ao levar todas essas questões discutidas anteriormente em consideração para a análise da interface texto/filme, pode-se propor que Coraline no livro ilustrado com desenhos mais assustadores foi endereçado para um público mais juvenil, diferentemente do filme que, ao recorrer à técnica de Stop Motion , tornou a produção mais infantilizada. Quando se transcendem os limites do verbal para atingir novos meios, modificações são necessárias para que essa transposição seja possível, já que cada meio conta com um conjunto específico de caracteres que o identifica enquanto tal. Por isso, observar a circulação da literatura em outro meio semiótico não é apenas observá-la como ilustração, mas, principalmente, como uma nova leitura, com escolhas tradutórias e objetivos diferentes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta análise mostrou que, ao mudar de meio semiótico, um novo olhar sobre o texto de partida pode se estabelecer de acordo com as características da nova linguagem, sem que isso interfira, necessariamente, no mérito qualitativo da nova criação. Como os meios são destinados a diferentes públicos, esse é um fator determinante na escolha do tradutor intersemiótico (produtor/diretor) na representação da personagem da forma como aconteceu no filme, por exemplo. Neste meio, há uma abrangência maior de público, já que o cinema é um meio que exige um tipo de letramento diferente daquele exigido pelo texto escrito e impresso. Por isso, ao utilizar uma cartela mais ampla de cores e um estilo de modelagem das figuras mais próximo ao imaginário infantil, típico da arte de animação em Stop Motion , a caracterização de Coraline no filme é a de uma personagem que mais atraente às crianças. O modo como sua tradução para o cinema será realizada será distinta da proposta do livro, pois a questão “para quem?” se destina uma tradução também justifica as escolhas do tradutor em optar por algumas caracterizações e não por outras. No livro, cujas ilustrações são monocromáticas e recorrem a um estilo de desenho que pode despertar uma leitura mais aterrorizante, a atmosfera do livro pode ser recebida pelo leitor como algo mais sombrio e, por isso, mais atraente para o público juvenil. Caso fosse aplicada exatamente a mesma caracterização da personagem do livro para o filme (ou se fosse utilizada a caracterização das