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Tema contextual.
Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas
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Na seção “Relatos de sala de aula” são socializadas experiências desenvolvidas por professores de química na perspectiva de se ampliar as reflexões sobre as práticas de sala de aula, de reconstruí-las e de melhorá-las sistematicamente. Neste número a seção apresenta dois artigos.
Aulas experimentais de química no ensino médio continuam problemáticas, seja pela ausência de material e infra-estrutura adequados, ou por serem muitas vezes vistas como um “recreio intelectual”, no qual os alunos reproduzem experimentos sem conexão entre suas vivências e os tópicos teóricos discutidos em classe
ma preocupação constante dos educadores na atualidade é a priorização de metodologias aptas a tornar o processo ensino- aprendizagem mais produtivo (Herron e Nurrenbern, 1999). Um número signi- ficativo de pesquisas em ensino de química no país reflete essa neces- sidade, sendo que estudos têm sido publicados, por exemplo sobre quí- mica ambiental, visando a abordagem construtivista (Rodrigues e Jucá, 1993) e a cinética química para avaliar a fragmentação do conhecimento dos alunos (Justi e Ruas, 1997). Apesar dessa produção marcante, aulas expe- rimentais de química no ensino médio continuam problemáticas, seja pela ausência de material e infra-estrutura adequados seja por serem muitas ve- zes vistas como um “recreio intelec- tual”, no qual os alunos reproduzem experimentos sem conexão entre suas vivências e os tópicos teóricos discu- tidos em classe. Partindo do postulado de que aprender é relacionar , interagindo com linguagens que desafiem o aluno e promovam a compreensão de temas
Cláudio Nazari Verani, Débora Regina Gonçalves e Maria da Graça Nascimento
O presente artigo trata de uma experiência desenvolvida junto a estudantes da primeira série do ensino médio que se refere a uma abordagem de conteúdos de química articulada a vivências cotidianas dos alunos - no caso o tema social ‘sabões e detergentes’.
sabões e detergentes, ensino médio, técnicas de ensino, química experimental
de vivência articuladamente a concei- tos científicos (Kinalski e Zanon, 1997), elaborou-se um programa no qual dife- rentes enfoques e técnicas de ensino, que promovem o pensamento crí- tico dos alunos, são utilizados no estudo de um te- ma organizador relacionado ao cotidiano dos alunos. O presente re- lato refere-se à exploração do te- ma ‘sabões e de- tergentes’ - pro- cessos de sapo- nificação e ação de tensoativos. Este tema foi estudado objetivando (1) a abertura de vias de comunicação entre alunos e o profes- sor, (2) a auto-organização dos alunos em grupos de estudo, (3) o aprendizado cooperativo, (4) o uso de pesquisa bibliográfica e da Internet como suporte para redação de monografia com tema afim e (5) apresentação de seminários.
Acredita-se que por meio dessas ativi- dades as aulas podem adquirir uma conotação investigativa, fundamentada em um comprometimento mútuo entre educadores e educandos, visando a estruturação for- mal do conhecimento ba- seado em conceitos cien- tíficos. Essa aproximação é particularmente importante quando as atenções se vol- tam ao estudante do ensino médio, pois o processo de formação de conceitos mo- vimenta-se entre um estágio mais primitivo de pensa- mento e outro mais ama- durecido (Romanelli, 1996). Despertar a sua atenção, “conduzindo-o” em seu pró- prio aprendizado dentro de uma lógica coerente e sistematizadora passa a ser o maior desafio do professor.
O estudo foi realizado com 88 alu- nos de química experimental de 1o^ ano em um colégio da rede particular em Florianópolis, 1 sendo um de nós o pro- fessor. Teve duração de 7 semanas, com 2 sessões de 50 minutos por se- mana. Assim, um total de 12 horas-aula foi empregado para desenvolver o
R
O
O
H 2 C C
H
O
CH 2 O + 3NaOH^ 3R
O-Na+
O
OH
H 2 C C
H
OH
CH 2 OH
Glicerídio (gordura)
Base Sais de ác. graxos (sabões)
Glicerinas
R = Cadeias iguais ou diferentes contendo entre 18 carbonos.
R O
R O
12 e Figura 1: Reação genérica que descreve o processo de saponificação.
conteúdo resumido na Tabela 1, e envolveu o levantamento do conheci- mento dos alunos sobre o tema organi- zador (sabões e detergentes); passou para o desenvolvimento ou formali- zação de conteúdos via aulas teóricas, experimentos, comparação entre produtos obtidos e comerciais; pesqui- sa bibliográfica e em rede Internet; e foi concluído com a elaboração de texto escrito, apresentação de seminá- rios e avaliação final dos alunos. Estes formaram equipes espontâneas entre 3 e 5 componentes baseadas em cri- térios pessoais. Partindo da reação genérica que descreve o processo de saponificação (Figura 1), foram utilizados óleos de soja e milho, gordura de coco, marga- rina, manteiga e gordura animal em reação com hidróxido de sódio, visan- do a produção de sabões duros e hidróxido de potássio para a obtenção de sabões moles. O suporte teórico sobre sabões du- ros e moles,^2 aquo e lipofilicidade e mi- celas,^3 água dura e sabões insolúveis (cracas), 4 detergentes e sabões em pó,^5 biodegradabilidade e redução da tensão superficial da água 6 foi obtido em textos de reforço paradidático (Vanin, 1995) e complementado com textos de química orgânica (Morrison & Boyd, 1992 e Allinger et al., 1985). A descrição experimental^7 foi adap-
tada de literatura difundida no ensino médio (Reis, 1993) e a obtenção de detergentes foi adequada, tendo como reagentes de partida o ácido para-do- decil benzenossulfônico e o hidróxido de sódio. Aos sabões e detergentes obtidos foram acrescentados corantes, essências, espessantes e hidratantes disponíveis em casas de artigos de toucador. Todos os produtos são de origem comercial e de fácil aquisição. O comportamento dos produtos em ‘água dura’, bem como a síntese inten- cional de sabões insolúveis com hidró- xido de cálcio também foram estudados. Optou-se pela apresentação prévia dos tópicos teóricos com posterior de- senvolvimento dos experimentos, po- rém a inversão dessas atividades em que os conceitos são primeiramente introduzidos em nível fenomenológico para depois serem abstraídos também
pode gerar bons resultados (Spencer, 1999), sendo essencial o estabeleci- mento das inter-relações teoria-prática. Como exibido na Tabela 1, procurou- se alternar as abordagens teóricas e práticas. Ainda que o estudo não seja de cu- nho avaliativo, os resultados foram mo- nitorados por meio de duas avaliações. A primeira, com perguntas dissertati- vas, visou o levantamento do conheci- mento prévio dos alunos e foi aplicada antes do início das atividades, consis- tindo nas cinco perguntas a seguir:
A escolha do tema visou aproveitar um assunto comum às vivências dos alunos, previamente conhecido pelo seu uso cotidiano e pela sua ampla
Tabela 1: Resumo das atividades desenvolvidas. Aula Atividade Conteúdo
1 a^ Avaliação inicial Levantamento do conhecimento dos alunos 2 a^ Teoria Saponificação, classificação dos sabões, aquo e lipofilicidade 3 a^ e 4 a^ Prática Produção de sabões duros e comparação com ‘sabões em pedra’, ‘ sabão de coco’ e sabonetes 5 a^ Teoria Sabões moles, aplicações comerciais e sabões insolúveis 6 a^ e 7 a^ Prática Produção de sabões moles e comparação com cremes de barbear, espuma, ‘água dura’ e sabões insolúveis (cracas) 8 a^ Teoria Detergentes e ‘sabões em pó’, micelas e mecanismos 9 a^ Prática Produção de detergentes 10 a^ Teoria + prática Detergentes e redução da tensão superficial da água em lagos 11 a^ Pesquisa Consulta à biblioteca do colégio 12 a^ e 13a^ Seminários Temas: sabões duros, sabões moles, detergentes, ‘sabões em pó’, biodegradabilidade e redução da tensão superficial da água, mecanismos 14 a^ Avaliação final 5 perguntas objetivas
valoriza o uso do pensamento critico, promovendo o papel do professor a mediador e orientador do processo educacional. A abertura de vias de comunicação centradas no diálogo é um instrumento poderoso de motivação da aprendi- zagem. Assim sendo, uma atmosfera favorável ao ensino é alcançada quan- do as tentativas de aprender dos alu- nos são valorizadas, quando há ausên- cia de comentários desfavoráveis, dosagem dos conteúdos e, princi- palmente, a inter-relação de informa- ções entre prática e teoria. A organização dos alunos em gru- pos espontâneos - considerando-se critérios pessoais - permite a divisão de responsabilidades, a troca de infor- mações e a necessidade de compa- tibilizar divergências, resultando em cooperação. É importante ressaltar, que adotar uma postura não autori- tária, não significa passividade e condescendência, permitindo que o trabalho de criação mental seja ofus- cado pela falta de método e de disci- plina dos próprios alunos. A série de sabões e detergentes obtidos teve por finalidade estimular a reconstrução interna do objeto de es- tudo, valorizando o papel da imitação de processos de produção. As técni- cas utilizadas (sínteses e comparações com produtos comerciais) foram se- melhantes, porém conduziram a resulta- dos diferentes (tipos de sabões e deter- gentes). As pesquisas bi- bliográficas, a reda- ção do texto escrito e a apresentação dos seminários viabiliza- ram uma troca de idé- ias e conhecimentos entre alunos e profes- sor. Esse contexto valoriza o papel de- sempenhado pela escola e contribui com o processo de aprendizagem da química. Por tudo isso, parece válido afirmar que a utilização deste programa favo- rece, encoraja e sustenta a auto- construção e o desenvolvimento do co- nhecimento por parte dos alunos.
Agradece-se à Profa. Isabel Cunha, da Fundação Barddal, pela viabilização do projeto, e ao Prof. Dr. Marcos Aires de Brito, do Departamento de Química da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), por sugestões e críticas.
Cláudio Nazari Verani (cnverani@jhu.edu), mestre em química pela UFSC e doutor pelo Max-Planck-Institut für Strahlenchemie (Alemanha), foi docente no ensino médio e atualmente é pesquisador convidado (pós- doutorando) na Univ. Johns Hopkins, em Baltimore, EUA. Débora Regina Gonçalves, psicóloga do SAIS - Serviço de Atenção Integral à Saúde, é mestranda em educação e coordenadora-adjunta do Departamento de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina. Maria da Graça Nascimento (graca@qmc.ufsc.br), doutora em química pela UNICAMP, é docente do Departamento de Química da UFSC.
magnésio, assim formados, são insolú- veis em água e formam a ‘craca’ ou ‘crosta’ presente em ralos e banheiros.
Uma atmosfera favorável ao ensino é alcançada quando as tentativas de aprender dos alunos são valorizadas, quando há ausência de comentários desfavoráveis, dosagem dos conteúdos e, principalmente, a inter- relação de informações entre prática e teoria
ALLINGER, N.; CAVA, M.; DEJONGH, D.; JOHNSON, K.; LEBEL, N. e STEVEN, C. Trad. de R.B. de Alencastro, J.S. Peixoto e L.R.N. de Pinho. Química orgânica. Rio de Janeiro: Guanabara 2, 1985. p. 173. ARAÚJO, D.X.; SILVA, R.R. e TUNES, E. O conceito de substância apreendido por alunos do ensino médio. Química Nova, v. 18, p. 80-90, 1995. GIESBRECHT, E. O ensino de química no Brasil, problemas e perspectivas. Anais da Associação Brasileira de Química, v. 30, p. 5-9, 1979. HERRON, J.D. e NURRENBERN, S.C. Chemical education research. Journal of Chemical Education , v. 76, p. 1354-1361,
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BARBOSA, A.B. e SILVA, R.R. Xampus. Química Nova na Escola, n. 2, p. 3-6, 1995. GALLET, C. Problem-solving teaching in the chemistry laboratory: leaving the cooks... Journal of Chemical Education , v. 75, p. 72-77, 1998. HOWE, A.C. Development of science concepts within a vygotskian framework. Science Education , v. 80, p. 35-51, 1996.
Este livro é um desdobramento da tese de doutorado de Eduardo Fleury Mortimer, um dos melhores trabalhos de pesquisa da área de ensino de Ciências, aprovada na Faculdade de Educação da USP, em 1994. Ele relata uma intervenção real, em uma sala de aula concreta do ensino fundamental, com estudantes reais. O leitor encontrará diversas transcrições de trechos dos debates entre os alunos e de produções deles, buscando cons- truir significados para as noções de um modelo atômico da matéria. Essa experiência é analisada de forma crítica e erudita, sob diversos pontos de vista. A teoria piagetiana da equilibração é um dos referenciais privilegiados da análise; a idéia de Bachelard dos perfis epistemológicos dos conceitos é ampliada, adquirindo, além da dimensão epistemológica, uma outra, ontológica, idéia original de Mortimer. Há, também, uma incur- são competente pelos domínios da história da Ciência. Seguros da qualidade do trabalho, o autor e sua orientadora, a profa. Ana Maria Pessoa de Carvalho, perce- beram a importância de que ele enri- quecesse a sua formação em Leeds,
Inglaterra, onde Mortimer participou do grupo de Rosalind Driver e exercitou outros referenciais teóricos: a corrente sócio-histórica da psico- logia soviética e as idéias de Bakhtin da heterogenia discursiva. Num momento em que se anun- ciava uma crise da concepção cons- trutivista de ensino, particularmente do seu modelo da aprendizagem pela mu- dança conceitual, o autor teve a coragem de se arriscar a produzir um modelo alterna- tivo, a aprendizagem como reformulação de um perfil con- ceitual. Eis a obra que a Editora UFMG hoje disponibiliza aos leitores, um raro testemunho de um pensamento em per- manente reformulação e o re- gistro das múltiplas vozes presentes na voz do autor: dos estudantes, sujeitos de sua pesquisa, das eminentes pesquisadoras que o orien- taram, dos autores que o inspiraram... Vozes que o au- tor consegue harmonizar, de- monstrando, pelo exemplo, a idéia bakhtiniana da polifonia. (Luiz Otávio Fagundes Amaral DQ/UFMG)
Liguagem e formação de donceitos no ensino de ciências. Eduardo Fleury Mortimer. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2000. 383p. ISBN 85-7041-181-