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Uma pesquisa sobre as relações entre descentralização, desempenho e acesso a meios em pesquisas agropecuárias da embrapa. Usando dados de questionários preenchidos por pesquisadores, coordenadores e chefes técnicos, a pesquisa examina como a descentralização afeta a execução de pesquisas e o acesso a recursos. Além disso, o documento discute as diferenças na centralização de pesquisas e seus produtos, o acesso a meios e a adequação a objetivos.
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Tipologia: Notas de aula
Compartilhado em 07/11/2022
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As decorrências da descentralização e suas ligações com o atendimento da demanda, são estuda- das em uma organização de pesquisa agropecuária, usando dados de 3 questionários referentes a 2011 projetos de pesquisa em andamento, preenchidos por pesquisadores, coordenadores de pro- jetos e chefes adjuntos técnicos. Desempenho, insumos, processamento e ambiente externo estão empiricamente relacionados com descentralização, como prediz a teoria contingencial. Pesquisas executadas centralizadamente se beneficiam da qualidade dos recursos humanos e do acesso à informação. Pesquisas descentralizadas se beneficiam da proximidade com os usuários. Como conseqüência, centralização sugere maior qualidade acadêmica; descentralização, maior impacto na prática agrícola. Uma agenda de descentralização é benéfica às demandas dos produtores, mas exige que se garanta acesso aos meios (recursos físicos, humanos, econômicos e organizacionais), pois estes tendem a ser insatisfatórios nas condições usuais de descentralização.
Palavras-chaves : centralização organizacional; organizações de C&T; pesquisa agropecuária; desempenho organizacional; qualidade da pesquisa.
Results of decentralization and its relationships to demand satisfaction are studied in an organization of agricultural research. Three questionnaires relative to 2011 research projects in progress, filled by researchers, project coordinators and technical directors generated the data. Performance, inputs, process and external organizational environment are found to be empirically related to decentralization as predicted by contingencial theory. Centralized research benefits from human resource quality and access to information. Decentralized research benefits from users’ proximity. As a consequence, centralization suggests academic quality and decentralization suggests stronger impact in agricultural practice. A decentralization agenda should be beneficial to the producers’ demands as far as access to the means (physical, human, economic and organizational resources) is provided as they use to be unsatisfactory in typical decentralized conditions.
Key words : organizational centralization; organizations of C&T; agricultural research; organizational performance; research quality.
Tarcízio Rego Quirino
Terceirização e descentralização se acham entre as mais insistentes demandas feitas recentemente a firmas, corporações, Governos e empresas em geral, e a organizações de pesquisa em particular (Naisbitt e Aburdene, 1990; External Appraisal Mission , 1992; BCA, 1995). Concomitantemente, a qualidade total e a atenção às demandas dos clientes são elevadas à posição de importância nunca antes recebida. Como resultado, descentralização e atenção à demanda da cliente- la se tornaram temas importantes na lista de preocupações dos gerentes e na car- teira de pesquisas dos estudiosos. É necessário saber, por um lado, como se des- centraliza e como se atende a demandas dos consumidores e, por outro, que espe- rar em decorrência desses processos.
O presente estudo visa a contribuir para o segundo aspecto: quais as decorrên- cias da descentralização e como esta se liga ao grau de atendimento da demanda dos clientes, ou seja, como se adequar a este aspecto do ambiente externo. O campo de interesse específico é a administração de pesquisa, com perspectiva metodológica de análise sincrônica; porém a lógica em que o estudo se baseia convida a maiores generalizações, pelo menos de forma experimental ou indicativa.
Para examinar as relações entre descentralização, acesso aos meios e adequa- ção ao ambiente externo, serão usados dados referentes a projetos de pesquisa agropecuária em que se observam condições de centralização e de descentralização no que se refere à execução das pesquisas. Um amplo projeto de avaliação e de planejamento estratégico, levado a efeito pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), permitiu a coleta de dados relevantes, como se ex- plica mais adiante.
Depois de delinear as bases teóricas que fundamentam a análise, o artigo des- creverá o material empírico e as circunstâncias em que foi coletado. Em seguida, serão examinadas as relações entre aspectos organizacionais teoricamente rele- vantes: desempenho, insumos, processamento e ambiente externo. Finalizando, as conclusões se aplicam a discernir os aspectos positivos e os negativos da descentralização, e a sugerir mudanças para manter os positivos e evitar ou inibir os negativos.
Tarcízio Rego Quirino
O modelo, portanto, sustenta teoricamente a hipótese de que a centralização se correlaciona negativamente com o desempenho das organizações de pesquisa agropecuária. Além disso, prediz que a centralização está correlacionada com aspectos da estrutura, dos recursos, dos pontos fracos, das contingências ambientais, da cultura e dos processos organizacionais.
No caso da pesquisa agropecuária, é razoável esperar que a descentralização dos projetos de pesquisa venha a representar um instrumento, para que se consiga um desempenho mais inovativo, de melhor qualidade e, sobretudo, mais individu- alizado e mais adaptado a condições mutantes. Durante as diversas fases do ciclo de produção dos conhecimentos e tecnologias decorrentes da pesquisa agropecuária, o grau de centralização varia consideravelmente, como se pode depreender das relações entre projetos, programas e planos diretores. É provável e esperável, porém, que a realização descentralizada dos projetos seja uma oportunidade para que a organização afine a sintonia com os problemas e com as clientelas locais.
Com a finalidade de verificar até que ponto as expectativas teóricas são confir- madas pela instância empírica em consideração, a seguir serão examinadas as relações entre centralização, no contexto dos programas de pesquisa da EMBRAPA(2)^ e os aspectos relevantes de desempenho e do acesso aos meios, tais como insumo, processamento e ambiente externo referentes às pesquisas incluí- das em cada programa. Conquanto o objetivo primordial do projeto tenha sido de ordem prático-administrativa, um exame dos dados com interesse teórico se torna oportuno. Evidências positivas favoráveis à teoria certamente fortalecerão a con- fiança que nela se pode depositar e, atentando ao dito de que nada mais prático do que uma boa teoria , encorajarão a aplicação mais conseqüente da teoria contingencial na gestão de ciência e tecnologia.
Pela sistemática implementada desde a época de sua criação, e vigente até 1992, cada Programa Nacional de Pesquisa (PNP), a unidade maior do sistema de pla- nejamento, é composto fundamentalmente de projetos de pesquisa e se subordina a um Centro de Pesquisa Agropecuária, cujo chefe tem a responsabilidade de coordená-lo. Geralmente a coordenação é delegada por este a um pesquisador de notório saber e experiência, devido ao acúmulo de outras obrigações que, no cen- tro e fora dele, disputam as atenções do chefe. A abrangência do PNP pode incluir pesquisas executadas no centro que o coordena, assim como outras, executadas em unidades de pesquisa da própria EMBRAPA, dos Estados, de universidades e de organizações nacionais, internacionais e estrangeiras.
Descentralização Organizacional, Acesso aos Meios e Adequação ao Ambiente Externo
A temática dos PNPs tem seguido de perto as especializações das unidades de pesquisa. Há programas por produto (exemplo: feijão, maçã), que abrangem em princípio todo o país e são, usualmente, coordenados pelo Centro Nacional, em cujo mandato se inclui; há programas por recursos (exemplo: recursos naturais do trópico semi-árido) que, sob a coordenação do respectivo Centro de Recursos, se voltam para as regiões edafoclimáticas, onde estes são típicos; tem havido pro- gramas especiais, com a finalidade de fazer avançar o conhecimento sobre um tema de interesse prioritário, como o de energia alternativa, coordenados por um centro escolhido por apresentar vantagens comparativas para tal, ou até mesmo por uma unidade da sede.
Os recursos financeitos para os PNPs são alocados a cada um deles pela direto- ria, à luz de pareceres técnicos do Departamento de Planejamento e Desenvolvi- mento da Pesquisa (DPD), anteriormente cognominado, por um longo período, de Departamento Técnico Científico (DTC). Neste sistema, a gerência dos recursos, tanto financeiros como físicos, humanos e organizacionais, é feita, em princípio, pelo chefe da unidade coordenadora, ficando o coordenador do PNP com a res- ponsabilidade gerencial dos aspectos científicos.
Essa descrição sumária mostra, por um lado, como a figura do PNP é central para o sistema de pesquisa da EMBRAPA e de todo o Sistema Cooperativo de Pesquisa Agropecuária e, por outro, como o PNP está entrelaçado com tudo o que se faz em cada unidade de pesquisa e como abrange e contém os projetos em sua concepção, execução e aplicação dos resultados. Por este motivo, o satisfatório andamento dos programas e, concomitantemente, sua avaliação sistemática, tor- nam-se ferramentas de inexcedível utilidade para o correto gerenciamento de C&T e para o incremento da qualidade da pesquisa e da responsividade da empresa.
Os dados usados a seguir se baseiam na avaliação dos 2011 projetos em anda- mento referentes a todos os programas de pesquisa da EMBRAPA, segundo des- crito em Quirino, Cruz e Souza (1992) e Souza, Cruz e Quirino (1993a, 1993b). Foram coletados por ocasião da pesquisa Diagnóstico de Projetos (nov./90), em meio eletrônico, com uso de 3 questionários respondidos respectivamente pelo chefe técnico da unidade, pelo pesquisador responsável do projeto e pelo coorde- nador nacional do programa.
As medidas de centralização usadas na literatura organizacional são, as mais das vezes, de dois tipos: coletam dados sobre poder, no que diz respeito a tipos
Descentralização Organizacional, Acesso aos Meios e Adequação ao Ambiente Externo
O nível de retenção que uma unidade de pesquisa pratica sobre os projetos, executando ela própria mais da metada deles, é a medida dicotomizada de centra- lização que vai ser usada. Assim, será possível testar sua relação com os diferen- tes aspectos de desempenho das unidades de pesquisa e identificar o que se pode esperar da descentralização.
Os dados sobre os programas de pesquisa, por se referirem a pesquisas em andamento, não incluem medidas do resultado final dos projetos nem evidências sobre a aplicação dos conhecimentos e das tecnologias, pois estes, no momento da coleta, estavam ainda sendo gerados (Quirino, Cruz e Souza, 1992). O problema do desempenho foi, pois, abordado no contexto do projeto em andamento, por meio da comparação entre o planejado e o executado, por um lado, e do realizável ou antecipado como possível de realizar, por outro. A presente análise examina se os projetos centralizados, isto é, aqueles que são executados nas unidades coorde- nadoras dos respectivos programas, apresentam diferenças de andamento em re- lação aos descentralizados.
Os dados indicam que não há diferença significativa entre projetos centraliza- dos e descentralizados, no que concerne ao cumprimento do cronograma previsto. Em ambos os casos, apenas cerca de 65% do planejado havia de fato sido cumpri- do até o momento da coleta de dados. O mesmo acontece com a previsão que se fez para o futuro. Foi previsto que, no final do prazo planejado, projetos centrali- zados e descentralizados conseguiriam, indistintamente, cumprir cerca de 78% de seus cronogramas (vide Tabela 2).
Tabela 2: Centralização e Desempenho de Projetos em Andamento
Faz parte do princípio que inspira e sustenta o setor público a idéia de que a
Tarcízio Rego Quirino
organização funciona para obter produtos e serviços de tipos tais que satisfaçam as demandas da sociedade. O funcionamento das organizações de pesquisa agropecuária resulta na produção de conhecimentos e tecnologias que, para serem individualizados para a demanda, requerem um modelo organizacional descentra- lizado. A Tabela 3 relaciona os tipos de produtos dos diferentes projetos de pes- quisa e o grau de centralização das pesquisas que os geram, no que se refere à coordenação dos programas.
Tabela 3: Centralização e Tipos de Produtos da Pesquisa
Dos 10 tipos de produtos gerados pela pesquisa agropecuária da EMBRAPA, 3 apresentam diferenças quanto à centralização. Métodos e tecnologias de pesquisa são gerados em proporções significativamente maiores nas unidades que desen- volvem as pesquisas dos seus próprios programas, do que naquelas cuja pesquisa é descentralizada. O mesmo se dá com tecnologias de proteção ambiental. Pelo contrário, os resultados referentes a variedades vegetais ou raças animais são oriundos, em maior proporção, de pesquisas descentralizadas.
Portanto, usando o mesmo ritmo de cumprimento dos cronogramas, as pesqui- sas centralizadas produzem mais instrumentos para gerar novas pesquisas e de- fender a natureza, enquanto as descentralizadas geram mais resultados de uso direto da produção agropecuária.
Tarcízio Rego Quirino
por igual sobre os programas, independentemente de estarem sendo executados na unidade coordenadora ou fora desta (vide Tabela 5).
Tabela 5: Centralização e Fatores que Afetam Negativamente a Execução do Projeto
A qualidade da pesquisa pode ser melhorada, se o acesso a determinados tipos de meios for facilitado. A Tabela 6 tem seus ítens ordenados de acordo com a prioridade que a eles foi dada pelo inteiro conjunto de projetos estudados, e pode ser interpretada como lista de demandas de melhoria (Quirino, Cruz e Souza, 1992); contudo, diferentemente do estudo citado, as médias foram aqui calcula- das e comparadas para identificar diferenças de prioridades decorrentes do grau de centralização dos projetos. Os resultados demonstram que, em 8 dos 18 ítens testados, a demanda é significativamente diferente entre os projetos centralizados e os descentralizados.
Em todos os casos em que isto ocorre, a demanda é mais forte com referência aos projetos descentralizados (vide Tabela 6). As unidades que coordenam e executam seus projetos levantam a lista de reivindicações na ordem idêntica ao total, pois dão o tom a este. Os dados referentes a pesquisas descentralizadas, pelo contrário, cha- mam a atenção para alguns ítens em ordem diferente. Logo depois do pessoal de apoio de campo, surge a necessidade de equipamentos e instrumental permanente de campo, mostrando que no campo está um dos problemas centrais das executoras de projetos descentralizados. Consultoria e assessoria de especialistas, que para os projetos centralizados aparece apenas em sétimo lugar, para os outros sobe ao ter- ceiro posto, logo seguido de recursos bibliográficos e acesso à informação. Material
Descentralização Organizacional, Acesso aos Meios e Adequação ao Ambiente Externo
de consumo e peças de reposição de campo e veículos sobem, respectivamente, de oitavo para quinto e de undécimo para sexto lugar. Em compensação, equipamentos e instrumentos permanentes de laboratório e de informática se apresentam como menos urgentes, no caso das pesquisas descentralizadas.
Tabela 6: Centralização e Recursos para Melhorar a Qualidade da Pesquisa (0-7)
Em resumo, a centralização dos programas afeta o acesso aos meios de que as diferentes unidades da organização de pesquisa agropecuária necessitam para produzir conhecimentos e tecnologias. Em geral, as pesquisas realizadas nas uni- dades, que coordenam o PNP de que fazem parte, têm melhor acesso aos meios, principalmente àqueles mais relacionados com a mobilização das capacidades dos recursos humanos e das organizações. Além disso, fatores negativos, tais como condições climáticas, atuação da coordenação e erro técnico de planeja- mento são mais encontrados nas pesquisas descentralizadas.
Os resultados sugerem ainda que as pesquisas centralizadas se desenvolvem em ambiente mais rico de meios, enquanto as demandas para as pesquisas descentra- lizadas reivindicam o básico, como material de campo, consultoria, bibliografia e acesso à informação.
Descentralização Organizacional, Acesso aos Meios e Adequação ao Ambiente Externo
Tabela 8: Centralização e Enriquecimento dos Projetos de Pesquisa
NS - Diferença não significante
Tabela 9: Centralização e Alterações na Execução do Projeto em Relação à Proposta Inicial
Tabela 10: Centralização, Modificações dos Projetos e Melhoria do Desempenho
Tarcízio Rego Quirino
Os projetos centralizados mais freqüentemente melhoraram os objetivos das pesquisas do que os descentralizados, embora não se observem diferenças significantes no grau em que as unidades modificaram seus projetos. No que se refere aos demais aspectos, em que os projetos foram modificados ou melhorados, não se apresentam diferenças oriundas da centralização (vide Tabela 10). É mais comum que os projetos descentralizados sejam alterados por recomen- dações da unidade coordenadora do PNP. É mais comum que os projetos centra- lizados sejam alterados por aparecimento de novas informações na literatura ou na própria execução do projeto. As demais razões para alteração não mostraram relação significante com a centralização (vide Tabela 11).
Tabela 11: Centralização e Razões para Alteração dos Projetos
Centralizadas ou descentralizadas, as pesquisas envolvem outras unidades da EMBRAPA e outras organizações na sua execução. Será que o nível de centrali- zação se relaciona com a capacidade ou com a necessidade de envolver maior número de organizações na execução das pesquisas? A Tabela 12 demonstra que as diferenças se revelam em quatro tipos de organização, pois metade das diferen- ças de médias são estatisticamente significantes. As pesquisas centralizadas apre- sentam médias de envolvimento superiores em se tratando de instituições estadu- ais de pesquisa agropecuária, empresas privadas e agências de financiamento. As descentralizadas atraem mais parceiros para o envolvimento apenas quando se trata de outras unidades da EMBRAPA.
Tarcízio Rego Quirino
mereça futuros estudos mais detalhados, depois de haver-se procedido ao devido aprofundamento teórico.
A imagem que se desenha sobre as relações entre centralização e processamento é a de que este é favorecido nas pesquisas centralizadas, por causa da adequação dos recursos humanos e materiais, do envolvimento mais freqüente de instituições externas à EMBRAPA e por causa do intenso aproveitamento das relações primá- rias entre pesquisadores mais capazes. Essa característica fica evidente pelo fato de que as alterações dos projetos se processam de modo informal nas pesquisas descentralizadas, que se aproveitam mais amiúde das novidades da literatura e dos resultados da própria pesquisa, enquanto nas pesquisas descentralizadas as alterações advêm, formalizadas, de sugestões dos coordenadores do PNP. Como resultado, observam-se mais melhorias nos objetivos das pesquisas centralizadas. Apesar de tudo isso, as pesquisas descentralizadas demonstram relevância mais duradoura dos problemas, no que se refere à necessidade de investigá-los. A cen- tralização não ajuda nem prejudica a capilaridade.
Diversos aspectos de adequação do projeto de pesquisa foram examinados com o objetivo de identificar diferenças decorrentes da centralização. Há diferenças esta- tísticas significantes para indicar que os projetos descentralizados são mais adequa- dos à missão e prioridades da unidade, enquanto os centralizados são mais conveni- entes à missão e aos objetivos do PNP. Da mesma forma, existe vantagem dos projetos centralizados no que se refere à adequação da estratégia de ação programa- da para atingir os objetivos do projeto, à consideração do provável efeito dos acha- dos científicos sobre o meio ambiente e a qualidade de vida e à consideração do impacto sócio-econômico de seus achados científicos e tecnológicos. Os projetos descentralizados são mais adequados para alcançar, com sua execução, os objetivos propostos, para beneficiar o desenvolvimento da agropecuária e contribuir para o avanço do conhecimento científico mediante a solução do problema. Dois outros aspectos examinados não revelaram nenhuma diferença (vide Tabela 13).
As pesquisas desenvolvidas centralizadamente contam com recursos externos com mais freqüência do que as descentralizadas; contudo estas assinalaram maior potencial de comercialização, de captar recursos de órgãos públicos e organismos internacionais, embora a ligeira diferença não atinja os níveis estatisticamente requeridos. O mesmo se deu com relação à iniciativa privada que, diferentemente dos itens anteriores, favorece a parte centralizada dos PNPs (vide Tabela 14).
Descentralização Organizacional, Acesso aos Meios e Adequação ao Ambiente Externo
Tabela 13: Centralização e Adequação à Missão Organizacional
Tabela 14: Centralização e Potencial de Captação de Recursos
Os quatro maiores usuários dos resultados (outros pesquisadores, agricultores e criadores, órgãos do Governo e empresas de comercialização de produtos agropecuários) não se diferenciam entre as pesquisas centralizadas ou não. A diferença aparece nos usuários menores: as indústrias de transformação se incli- nam para usar os resultados das pesquisas descentralizadas, enquanto a indústria de insumos e a de máquinas e equipamentos se ligam às centralizadas (vide Tabe- la 15).
Descentralização Organizacional, Acesso aos Meios e Adequação ao Ambiente Externo
O conjunto de dados provenientes da avaliação de projetos, aqui reanalizados sob novo ângulo, parece delinear um padrão, na qual pesquisas centralizadas nas unidades coordenadoras de PNP se beneficiam da qualidade dos recursos huma- nos e do acesso à informação, enquanto as pesquisas descentralizadas se benefici- am da proximidade com os usuários.
Como resultado, as primeiras sugerem mais alto nível de qualidade acadêmica, porém as descentralizadas sugerem maior impacto na prática agrícola. Tal padrão parece coerente com uma organização mobilizada e organizada em torno do con- ceito de centros de excelência, mas parece não atender plenamente aos requisitos de uma organização voltada para a produção de tecnologias que, sob a inspiração do conceito de P&DD (Pesquisa e Desenvolvimento para o Desenvolvimento), se devote a maximizar o impacto na produção e na produtividade da agropecuária e a satisfazer diretamente as demandas e contingências da sociedade.
A natureza da centralização interna parece basear-se em uma espécie de reserva de mercado. As unidades coordenadoras de PNP procuram desenvolver o maior número possível de projetos viáveis, de modo que ocupem plenamente sua capaci- dade de produção, sublocando às demais unidades apenas o que seja por estas insistentemente reivindicado, ou o que exceda a capacidade de produção daquelas ou não satisfaçam seus sofisticados interesses científicos.
O quadro geral que os dados sugerem não é o ideal. Por um lado, as pesquisas centralizadas atendem os aspectos mais complexos e mais básicos das necessida- des da agropecuária em geral, o que está de acordo com a divisão do trabalho entre as unidades de pesquisa adotada na concepção do modelo circular, antes praticado pela EMBRAPA, e pela pesquisa agropecuária de diversos países. Por outro, as pesquisas descentralizadas servem direta e preferencialmente os produ- tores agropecuários, mas são produzidas em condições claramente insatisfatórias de acesso aos recursos físicos, humanos, econômicos e organizacionais que deve- riam garantir sua excelência. Finalmente, se a preocupação com os métodos e meios pode ser atendida a contento pelas pesquisas centralizadas, a preocupação com os efeitos colaterais, principalmente sobre o ambiente, deveria estar igual- mente presente em todas as pesquisas.
Deste quadro emana uma agenda de descentralização que fortifica a capacidade de responder a contento às demandas mutantes dos usuários locais e corrige o viés eventualmente existente a favor dos núcleos de decisão representados pelo poder da coordenação central. Por outro lado, a expansão da missão da pesquisa
Tarcízio Rego Quirino
agropecuária, que agora enfatiza claramente os segmentos do negócio agrícola localizados antes e depois da porteira do produtor, deve, neste contexto, ser gerida com competência e decisão, de modo a gerar resultados de impacto. Provavel- mente este objetivo deve ser liderado pelas unidades mais bem aparelhadas para enfrentar a complexidade, gerar métodos e gerir processos, que são exatamente aquelas mais autônomas. Às demais unidades cabe dosar as duas vocações, de acordo com as demandas de seu ambiente mais próximo.
No caso da EMBRAPA, descentralizar apenas não é solução. É necessário viabilizar a qualidade das pesquisas descentralizadas para que seja possível apro- veitar as vantagens que estas apresentam. Fortalecer as unidades periféricas, ga- rantindo-lhes suficiente acesso aos meios, neste contexto, constitui problema prioritário da pesquisa agropecuária brasileira nos anos que vêm; deve incidir igualmente tanto sobre os meios materiais, como sobre os recursos humanos e os arranjos organizacionais.
(^1) Modelo mecânico-burocrático (altamente centralizado), tradicional-artesanal (centralizado, mas com autonomia ocupacional) e misto mecânico-orgânico (centralizado em alguns aspectos e des- centralizado em outros). (^2) As mudanças introduzidas na EMBRAPA a partir de 1992 (Silva e Flores, 1993) e a conseqüen- te adoção de um novo paradigma de administração estratégica ( empresa com respondabilidade social ) ensejaram, por um lado, a oportunidade para a avaliação dos programas e projetos de pesquisa que deram origem aos dados analisados na presente pesquisa e, por outro, a superação e reformulação do sistema de planejamento, acompanhamento e avaliação das pesquisas. O sis- tema atualmente vigente (Sistema EMBRAPA de Planejamento - SEP), regido pela Resolução Normativa 5/95 (BCA 08, 1995), e que incorpora as sugestões da Missão Internacional de Avali- ação da EMBRAPA ( External Appraisal Mission , 1992), se propõe ser mais descentralizado, mais aproximado da clientela e mais responsável perante a inspeção da sociedade. Para tal, funciona sob constante monitoramento de conselhos internos e externos de diferentes níveis, e adotou um modelo organizacional mais descentralizado, com maior separação entre os progra- mas e as unidades. Além disso, o planejamento se baseia no levantamento das prioridades da agropecuária. Foi adotado também o rodízio entre centros da coordenação dos programas, assim como a eleição do coordenador por tempo limitado e independente dos mandatos dos chefes de centro. Em decorrência das mudanças introduzidas, seria mais difícil conseguir hoje dados empíricos que se prestassem para o estudo substantivo da descentralização, usando para tal um desenho metodológico baseado em mensurações sincrônicas, como o que aqui se apresenta; todavia a análise comparativa entre o antigo e o novo sistema certamente será de grande valor teórico e prático, mas não é o objetivo do presente estudo.