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Guias e Dicas
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Cachaça Brasileira no Mercado Internacional: Estudo de Caso em Pernambuco., Notas de estudo de Políticas Públicas

Um estudo sobre as desafios e oportunidades de negócios no mercado internacional para a cachaça brasileira, com ênfase no estado de pernambuco. O trabalho inclui pesquisas secundárias no mercado consumidor e produtivo, levantamentos na união europeia e análises de preços e barreiras à exportação. O objetivo é caracterizar a eficiência da produção e identificar fatores críticos que afetam a competitividade externa.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Amazonas
Amazonas 🇧🇷

4.4

(80)

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VICENTE INÁCIO DE OLIVEIRA NETO
DESAFIOS E OPORTUNIDADES DA
CACHAÇA NO COMÉRCIO
INTERNACIONAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
RECIFE
2005
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VICENTE INÁCIO DE OLIVEIRA NETO

DESAFIOS E OPORTUNIDADES DA

CACHAÇA NO COMÉRCIO

INTERNACIONAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

RECIFE

VICENTE INÁCIO DE OLIVEIRA NETO

DESAFIOS E OPORTUNIDADES DA CACHAÇA NO COMÉRCIO

INTERNACIONAL

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Economia Aplicada da Universidade Federal de Pernambuco UFPE/PIMES, Turma de Comércio Exterior e Relações Internacionais. Orientador: Prof. José Raimundo de Oliveira Vergolino, PhD

RECIFE

Aos meus pais (in memorian)

“Benoni Barbosa Leal e Maria da Penha Oliveira Leal”. Pelo sagrado respeito com que me educaram. Meu eterno agradecimento.

LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS

TABELA 1 PERNAMBUCO -VARIEDADES DE CANA INDICADAS PARA O

CULTIVO......................................................................................................... 27

TABELA 2 BRASIL - PADRÕES ESTABELECIDOS PELO MINISTÉRIO DA

AGRICULTURA PARA A CACHAÇA.......................................................... 33

TABELA 3 CARACTERÍSTICAS ADICIONAIS DA AGUARDENTE (EM MG /

100ML DE ÁLCOOL A 100%) ........................................................................ 34

TABELA 4 PERNAMBUCO - PARÂMETROS DE RENDIMENTOS DE PEQUENA

DESTILARIA PRODUTORA DE CACHAÇA............................................... 35

TABELA 5 AGUARDENTE DE CANA OU CANINHA E AGUARDENTE DE

MELAÇO OU CACHAÇA.............................................................................. 45

TABELA 6 CLASSES DE REFERÊNCIA DO IPI............................................................ 46

TABELA 7 BRASIL^ -EVOLUÇÃO^ DO^ CONSUMO^ PER^ CAPITA^ E^ POTENCIAL^ DA

CACHAÇA.................................................................................................................. 57

TABELA 8 BRASIL -PRODUÇÃO DA CACHAÇA POR ESTADOS DA

FEDERAÇÃO/2004.......................................................................................... 58

TABELA 9 EVOLUÇÃO DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE AGUARDENTE

DE CANA E CACHAÇA................................................................................. 63

TABELA 10 EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE AGUARDENTE DE CANA E

CACHAÇA POR PAÍSES IMPORTADORES 2000/2004 .............................. 68

TABELA 11 EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE AGUARDENTE DE CANA E

CACHAÇA POR ESTADOS DA FEDERAÇÃO........................................... 72

TABELA 12 CONSUMO DE DESTILADOS NO MUNDO................................................ 74

TABELA 13 CONSUMO PER CAPITA POR TIPO DE BEBIDA...................................... 88

TABELA 14 CONSUMO PER CAPITA POR TIPO DE BEBIDA – CONTINUAÇÃO..... 88

TABELA 15 TAXAS DE IMPOSTOS PARA DESTILADOS NA EUROPA..................... 92

TABELA 16 TAXAS DE IMPOSTOS PARA DESTILADOS – 0,71.................................. 93

TABELA 17 IMPOSTOS SOBRE O VALOR AGREGADO –IVA..................................... 94

TABELA 18 IDADE LEGAL MÍNIMA................................................................................ 97

TABELA 19 RESTRIÇÕES NA TELEVISÃO PARA PROPAGANDA ALCOÓLICA..... 98

TABELA 20 IMPORTAÇÕES DE CACHAÇA E CANINHA (RUM E TAFIÁ) DA

EUROPA – 2001............................................................................................... 99

TABELA 21 IMPORTAÇÕES DE CACHAÇA E CANINHA (RUM E TAFIÁ) DA

EUROPA – 2000............................................................................................... 100

TABELA 22 IMPORTAÇÕES DE CACHAÇA E CANINHA (RUM E TAFIÁ) DA

EUROPA – 2002............................................................................................... 101

TABELA 23 IMPORTAÇÕES DE CACHAÇA E CANINHA (RUM E TAFIÁ) DA

EUROPA – 2003............................................................................................... 102

TABELA 24 IMPORTAÇÕES DE CACHAÇA DO BRASIL NA EUROPA...................... 104

GRÁFICO 1 EVOLUÇÃO DO VALOR DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE

CANA E CACHAÇA (US$ FOB).................................................................... 65

GRÁFICO 2 PAÍSES IMPORTADORES............................................................................. 67

GRÁFICO 3 EVOLUÇÃO DO VALOR DAS EXPORTAÇÕES PERNAMBUCANAS

DE AGUARDENTE DE CANA E CACHAÇA.............................................. 73

GRÁFICO 4 UNIÃO EUROPÉIA – CONSUMO PER CAPITA POR TIPO DE BEBIDA 88

GRÁFICO 5 COMPARAÇÃO DE PREÇO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS (EU 25+)....... 89

GRÁFICO 6 ESTUDO COMPARATIVO DE IVÃ.............................................................. 95

GRÁFICO 7 IMPORTAÇÕES DE CACHAÇA DO BRASIL DOS PRINCIPAIS PAÍSES

DA EUROPA –2000/2003................................................................. 103

LISTA DE QUADROS E DIAGRAMAS

DIAGRAMA 1 MACROAMBIENTE............................................................................... 22

DIAGRAMA 2 ESQUEMA DA CADEIA PRODUTIVA DA CACHAÇA DE

ALAMBIQUE.......................................................................................... 25

DIAGRAMA 3 FLUXOGRAMA DO PROCESSO DE PRODUÇÃO............................. 36

DIAGRAMA 4 PERNAMBUCO- PRINCIPAIS PROBLEMAS DE

COMPETITIVIDADE CONFORME OS ELOS OU COMPONENTES

CENTRAIS DA CADEIA PRODUTIVA................................................ 55

QUADRO 1 TIPOS DE MERCADO DA CACHAÇA................................................ 57

QUADRO 2 CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO DAS EXPORTAÇÕES......................... 80

MAPA 1 UNIÃO EUROPÉIA................................................................................. 85

QUADRO 3 CÓDIGO TARIC – 2208401100 PAIS DE ORIGEM/DESTINO:

BRASIL (BR 508).................................................................................... 90

QUADRO 4 CÓDIGO TARIC 2208405100 PAIS DE ORIGEM/DESTINO:

BRASIL – (BR 508)................................................................................. 90

SUMÁRIO

  • 1 INTRODUÇÃO......................................................................................................
  • 2 OBJETIVOS...........................................................................................................
  • 2.1 Objetivo Geral........................................................................................................
  • 2.2 Objetivos Específicos.............................................................................................
    1. MODELO TEÓRICO.............................................................................................
  • 4 CARACTERIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DA CACHAÇA
  • 4.1 O Processo de Produção.........................................................................................
  • 4.1.1 A Fase Agrícola......................................................................................................
  • 4.1.2 A Fase de Processamento......................................................................................
  • 4.1.2.1 Preparação de cana para moagem..........................................................................
  • 4.1.2.2 Moagem..................................................................................................................
  • 4.1.2.3 Fermentação...........................................................................................................
  • 4.1.2.4 Destilação..............................................................................................................
  • 4.1.2.5 Filtragem................................................................................................................
  • 4.1.2.6 Acondicionamento..................................................................................................
  • 4.1.2.7 Envelhecimento......................................................................................................
  • 4.1.2.8 Engarrafamento......................................................................................................
  • 4.1.2.9 Padrões da Cachaça................................................................................................
  • 41.2.10 Aspectos Importantes da Qualidade da Cachaça...................................................
  • 4.2 Breve Descrição dos Componentes Centrais da Cadeia Produtiva........................
  • 4.2.1 Fornecedores de Matéria-Prima.............................................................................
  • 4.2.2 Fornecedores de Tecnologia...................................................................................
  • 4.2.3 Fornecedores de Máquinas e Equipamentos..........................................................
  • 4.2.4 Fornecedores de Material de Embalagem..............................................................
  • 4.2.5 Agentes de Capacitação..........................................................................................
  • 4.2.6 Fontes de Financiamento........................................................................................
  • 4.2.7 Sistema de Regulação.............................................................................................
  • 4.2.7.1 Legislação Ambiental.............................................................................................
  • 4.2.7.2 Legislação para Produção e Comercialização da Aguardente................................
  • 4.2.7.3 O Sistema Tributário do Setor................................................................................
  • 4.2.8 Distribuição e Comercialização..............................................................................
    1. OS PONTOS CRÍTICOS DA CADEIA PRODUTIVA........................................
  • 5.1 Dificuldades no Processo de Produção..................................................................
  • 5.2 Dificuldades nos Elos da Cadeia Produtiva...........................................................
    1. AS OPORTUNIDADES DE MERCADO DA CACHAÇA..................................
  • 6.1 Diagnóstico da Oferta Local e Nacional da Cachaça.............................................
  • 6.1.1 Produção e Consumo da Cachaça de Coluna.........................................................
  • 6.1.2 Produção e Consumo da Cachaça de Alambique...................................................
  • 6.1.3 Aspectos Concorrenciais do Mercado Interno da Cachaça....................................
  • 6.2 O Mercado Externo e as Exportações Brasileiras de Cachaça...............................
  • 6.3 As Exportações Pernambucanas de Cachaça.......................................................
  • 6.4 Políticas Públicas de Promoção das Exportações de Cachaça...............................
    1. PESQUISA DE MERCADO DA CACHAÇA......................................................
  • 7.1 Aspectos Relevantes ao Processo de Exportação...................................................
  • 7.1.1 Formação do Preço de Exportação.........................................................................
  • 7.1.2 Sistemas de Distribuição........................................................................................
  • 7.1.3 Barreiras à Exportação...........................................................................................
  • 7.2 Pesquisa de Mercado da Cachaça na União Européia............................................
  • 7.2.1 Metodologia............................................................................................................
  • 7.2.2 Dados Políticos e Administrativos........................................................................
  • 7.2.3 Dados Macroeconômicos.......................................................................................
  • 7.2.4 Fluxo de Investimentos e Comércio com o Brasil.................................................
  • 7.2.5 Características do Setor de Bebidas Alcoólicas no Mercado Europeu..................
  • 7.2.5.1 Consumo per capita................................................................................................
  • 7.2.5.2 Comparação de Preços..........................................................................................
  • 7.2.5.3 Impostos.................................................................................................................
  • 7.2.5.4 Restrições e Exigências..........................................................................................
  • 7.2.5.5 Outras Leis e Regulamentos..................................................................................
  • 7.2.5.6 Importações de Cachaça e Caninha (Rum e Tafiá) da Europa
  • 7.2.5.7 Importações de Cachaça e Caninha (Rum e Tafiá) do Brasil para à Europa.........
  • 7.2.5.8 Tendências Gerais e Oportunidades.......................................................................
    1. OS DESAFIOS DE MERCADO PARA A CACHAÇA.......................................
    1. PRINCIPAIS CONCLUSÕES...............................................................................
  • 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................
  • ANEXO..................................................................................................................

ABSTRACT

The general objective of this work is to identify the challenges and business- oriented chances in the international market for Brazilian cachaça, specially that one produced in the State of Pernambuco, by means of secondary applied research to the consuming market and its productive chain, so as to characterize the efficiency of same and the possible critical factors, direct and indirect, present or potential, and that it hinders external competitiveness of the product. The clarifying model adopted in the present thesis took as conceptual landmark of agro-industrial systems, such as initially it was developed by Davis e Goldberg (Harvard, 1957), and for the French school of Analysis of Filières in years 60, and later enriched for the competitiveness boarding systemic or of clusters (Porter, 1985). As support to the carried through studies, also was undertaken a secondary research in the market of cachaça in the countries that compose the commercial block of the European union, in the period of December of 2004 to March of 2005, aiming at to subsidize the formularization of a strategy of access to the European market on the part of the producing companies of cachaça, and that it was developed mainly through secondary surveys in the Internet, specific literature and through the consultation of the official sources, such as the Sectors Commercial of the embassies of Brazil in the selected countries. Beyond these surveys, there were direct consultations to associations, such as: associations of producers of distilled spirits and data bases of international research institutes. In accordance with results of this work, it can be inferred that the external competitiveness of the production of distilled spirits of Brazilian sugar cane and cachaça, and Pernambuco in particular, depends on the resolution of the critical points of its productive chain and of the reorientation of its sales for products that follow the external trends of consumption, so as to add content and image value to the product, and to increase the profit derived from the exportations and, mainly, the sales profit margin.

Words - keys : Cachaça, Productive Chain, Exports.

1. INTRODUÇÃO

A cachaça não é mais apenas uma bebida de botequim. Denominação oficial e exclusiva, desde 2001, da aguardente de cana produzida no Brasil, de acordo com decreto federal, a cachaça, hoje, freqüenta restaurantes e delicatessens sofisticadas e, em parte apoiada pelas notícias de seu sucesso no exterior, começa a ganhar o consumidor brasileiro de maior poder aquisitivo. Destilado tipicamente brasileiro, a cachaça vem conquistando novos mercados e expandindo-se além das fronteiras do país. Dado o interesse na expansão de suas exportações, este trabalho apresenta uma análise prospectiva de mercados com potencial importador, em especial para a cachaça de alambique, também conhecida como artesanal, delineando um contexto analítico que permite fundamentar estudos mais específicos a serem desenvolvidos para cada um dos mercados identificados. A produção brasileira de cachaça, segundo dados apresentados pelo Programa de Desenvolvimento da Aguardente de Cana, Caninha e Cachaça -PBDAC, tem representado aproximadamente 1,3 bilhão de litros/ano (Destilarias, 2001) - sendo 10% deste volume de origem artesanal ou de alambique - espalhada por cerca de 30.000 produtores, a maioria produzindo pequenos volumes comercializados localmente através de 5 mil marcas. A produção em larga escala é realizada em modernas colunas de destilação com sofisticados recursos de análises laboratoriais. Segundo essa mesma fonte, a cachaça é o 3º destilado mais consumido no mundo (perde apenas para a vodka e para o uísque), sendo produzida em todas as regiões brasileiras, concentrando-se a maior parte, contudo, nos estados de São Paulo, Pernambuco, Ceará, Rio de Janeiro, Goiás e Minas Gerais. Esta produção gerou em 2003 um faturamento de mais de R$ 2,0 bilhões, empregando mais de 450 mil pessoas direta e indiretamente e propiciando uma arrecadação de aproximadamente R$ 765,0 milhões em impostos. A Associação Brasileira de Bebidas – ABRABE (2003), avalia, no entanto, que o mercado de cachaça no Brasil apresenta-se consolidado, tendendo a uma desaceleração no seu crescimento. A princípio, essa redução tem sido associada a uma queda do consumo desta bebida no mercado interno^1 e aos preços baixos (Destilarias, 2001). Este fato faz com que o setor passe a buscar os mercados mundiais, visando aumentar o seu faturamento, sua rentabilidade e principalmente fortalecer a sua imagem, também no mercado interno.

(^1) De acordo com Martinelli (2000) a redução no consumo de cachaça encontra-se associada aos segundo fatores: aumento no consumo de cerveja e preferência dos jovens por essa bebida em relação à cachaça, além do preconceito que associa o consumo de cachaça à pessoa de baixa renda.

(posteriormente de cobre) sob a forma e nome de aguardente. Com o aprimoramento da produção, a cachaça passou a atrair consumidores de diversas classes sociais e passou a ter importância econômica para o Brasil Colônia. A bebida tornou-se, inclusive, moeda corrente na compra de escravos. Além do fato de alguns engenhos terem diminuído suas produções de açúcar para fabricarem aguardente, o que mais incomodou Portugal foi a queda nas vendas de vinhos portugueses e da bagaceira (um aguardente feita a partir da uva). Diante dessa nova realidade, a venda da cachaça foi proibida em 1635. Durante a mineração, apesar da proibição, o consumo de aguardente aumentou. Dessa forma, Portugal criou impostos que aumentaram o preço da bebida, mas, mesmo assim a cachaça continuou sendo degustada e passou a representar a resistência brasileira à dominação portuguesa. O período que a bebida angariou maior prestígio talvez tenha sido durante o Brasil Império. Nessa época, a boa aguardente nacional, ou Paraty, oriunda dos engenhos da cidade do mesmo nome no Rio de Janeiro, era degustada em cálices de cristal pela família e amigos do imperador. Pois antes, a cachaça transformara-se em símbolo de brasilidade, de resistência contra a condição de colônia de Portugal. A cachaça estimulara revoltosos em Pernambuco, em Minas Gerais...Em outras palavras, durante as lutas de independência, não bebê-la representava uma atitude antipatriótica. Ocorre que no século XIX, após a Independência, o boom da economia cafeeira, a abolição da escravatura e o início da República alteraram substancialmente este quadro. A oposição ao Império era sobremodo elitista. Ainda mais com o país recebendo excedentes populacionais, os excluídos do velho mundo. Os imigrantes europeus, árabes e asiáticos que traziam seus hábitos e bebidas. Gente que enriquecia os costumes e produtos da nova terra republicana, tornando-os ainda mais populares. Em compensação, a cachaça, bebida genuinamente brasileira, deixava de ser símbolo de resistência e nacionalidade. Em decorrência da abolição e da conseqüente liberação da mão de obra escrava, contingentes de pessoas desocupadas acorriam desordenadamente aos maiores núcleos urbanos do país, normalmente às cidades que eram capitais dos Estados, aí formando favelas, perambulando pelas ruas sem emprego e exibindo sua miséria: sujas, famintas e esmolando, para culminar desafogando seus infortúnios na embriaguez da cachaça mais barata (Feijó e Maciel, 2001). Daí nasce o preconceito contra a bebida e igualmente a tudo que fosse relativo ao Brasil. As elites mais do nunca sonhavam com as modas e maneiras européias. Das idéias ao conteúdo dos cálices postos na mesa. Só em 1922, o Movimento Modernista tentou resgatar a

brasilidade na literatura, na música e nas artes plásticas, reforçado posteriormente pelo nascimento de um novo gênero musical que a partir dos anos 30 iniciava uma trajetória de retumbante e inesgotável sucesso: o Samba. Era através das letras de consagrados sambistas populares que compunham as marchas carnavalescas e os enredos das primeiras escolas de samba que a memória da cachaça se perpetuava como indiscutível item da preferência gastronômica popular e símbolo da afirmação cultural de um povo. Contudo, mesmo nos anos da industrialização substitutiva de importações iniciada na década de 30, continuada no pós-guerra de 45 e reforçada pelo regime ditatorial inaugurado em 1964, a cachaça, curiosamente, apesar do clima cultural nacionalista das eras “Vargas“, “Kubitschek” e “Militar”, respectivamente - que ensejaram o crescimento econômico do país a taxas superiores a 7% ao ano até o início dos anos 80 – jamais desfrutou de um maior prestígio, seja entre as elites, seja entre as classes de renda média já socialmente consolidadas. Nunca foi contemplada com uma campanha de fortes cores nacionalistas, do tipo “O PETRÓLEO É NOSSO” ...Continuando a vigorar o indisfarçável preconceito contra seu consumo social e festivo. Enfim, chega-se aos anos 90 com a abertura de mercado e a globalização dos fluxos financeiros, de comércio e de investimentos. A economia brasileira naturalmente sofre os impactos da competição externa e a necessidade de modernizar o seu desenvolvimento. A sociedade, todavia, começa a vivenciar a realidade da importação cada vez mais acentuada de hábitos e costumes estrangeiros, além, é claro, dos produtos e serviços vindos de fora, normalmente “pasteurizados” por uma forte promoção comercial, fundada numa divulgação massiva que não esconde seu forte viés descaracterizador dos traços culturais locais. E aí Pimba! Ou melhor, Pinga! Em outros termos, renasce a admiração pela bebida nacional temporariamente esquecida, e o desejo de colocá-la no mesmo patamar gastronômico e cultural de outras tantas bebidas destiladas de outros países, a exemplo do uísque escocês, da vodca russa, da tequila mexicana, etc.e, porque não confessar, de elevá-la à condição perante o mundo de um símbolo de brasilidade e amor ao país.

Pois, a despeito das indústrias de destilados de outros tantos países que após comprovarem a boa aceitação de seus consumidores pela bebida brasileira, ingerida pura ou em forma de coquetéis, como a caipirinha, continuarem insistindo em confundi-la com outros destilados, como o rum, ou mesmo insinuarem o desejo de se apropriarem da designação literal da marca brasileira, isto é do próprio nome “cachaça“, a única iniciativa comercial e

em volume, a 20º Celsius, obtida pela destilação do mostro fermentado da cana-de-açúcar com características sensoriais peculiares, podendo ser adicionada de açúcares até seis gramas por litro, expressos em sacarose. Já o rum é definido como bebida com a graduação alcoólica de 35% a 54% em volume, a 20º Celsius, obtida do destilado alcoólico simples de melaço, ou da mistura dos destilados de caldo de cana-de-açúcar e de melaço, envelhecido, total ou parcialmente em recipiente de carvalho, ou madeira equivalente, conservando suas características sensoriais peculiares.

  • O decreto publicado também define a caipirinha, como bebida típica brasileira, com graduação alcoólica de 15% a 36% em volume, a 20º Celsius, obtida exclusivamente com cachaça, acrescida de limão e açúcar. O decreto define também o que é aguardente de melaço, de cereal, de vegetal e de rapadura ou melaço. Uma informação também importante é a classificação do produto no mercado externo. A classificação na NCM (Nomenclatura Comum do MERCOSUL) posiciona a mercadoria para todos os efeitos relativos ao comércio exterior. A NCM, que substituiu a Nomenclatura Brasileira de Mercadorias (NBM), possui oito dígitos e uma estrutura de classificação que contém até seis níveis de agregação: capítulo, posição, subposição simples, subposição composta, e subitem (MAIA 2002). A descrição para a cachaça é: NCM 22.0840.00 (cachaça e caninha)
  1. (bebidas, líquidos alcoólicos e vinagres) 22.08: Álcool etílico não desnaturado com teor alcoólico, em volume inferior a 80% vol. Aguardentes, licores e outras bebidas espirituosas; 22.0840.00: cachaça e caninha (rum e tafiá).

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Identificar desafios e oportunidades de negócios no mercado internacional para a cachaça brasileira, em especial aquela produzida no Estado de Pernambuco, mediante pesquisas secundárias aplicada ao mercado consumidor e à sua cadeia produtiva, de forma a caracterizar sua eficiência e possíveis fatores críticos. Entenda-se por eficiência da cadeia produtiva, a capacidade do setor de responder as exigências do mercado consumidor internacional, oferecendo-lhe um produto de qualidade, com regularidade na oferta e preços compatíveis. Por fatores críticos devem ser compreendidos os obstáculos diretos e indiretos, presentes ou potenciais, colocados à cadeia produtiva, e que impedem a competitividade externa do produto.

2.2. Objetivos Específicos

  • Proceder a uma caracterização da cadeia produtiva da cachaça pernambucana, descrevendo brevemente seu processo produtivo em suas fases agrícola e industrial/artesanal, e realçar igualmente os aspectos tecnológicos nele envolvidos;
  • Analisar os componentes centrais desta cadeia produtiva, destacando os aspectos relacionados à legislação pertinente para produção e comercialização do produto, assim como à tributação que lhe é aplicada;
  • Apresentar os principais problemas e pontos críticos ou de estrangulamento da cadeia produtiva da cachaça, a partir da análise de seus componentes centrais, e que comprometem seu eficiente e pleno desenvolvimento;
  • Realizar um diagnóstico dos aspectos de mercado da oferta local e nacional do produto, enfatizando a evolução do setor e os aspectos relacionados aos custos de produção e formação do preço de venda;
  • Analisar o desempenho recente das exportações brasileiras e pernambucanas de cachaça, destacando as principais dificuldades encontradas para sua expansão, entre elas, as barreiras tarifárias e não tarifárias colocadas pelos blocos de comércio em suas importações desses produtos;