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Depressão e Epilepsia: Relação entre Depressão Neurótica e Depressão Reativa, Notas de aula de Psiquiatria

Estudos sobre a relação entre epilepsia e depressão neurótica e reativa. O autor reviu observações de pacientes que apresentavam crises comícias e encontrou manifestações emocionais, como medo, depressão e agressividade. Outros estudos encontraram manifestações de medo e depressão em pacientes com foco temporal. Além disso, os autores descreveram sintomas de angústia ou depressão na fase pós-crítica de epilepsia. Esses sintomas podem durar até 6 horas. Além disso, os autores afirmam que em alguns epiléticos, alterações mentais periódicas, ora eufóricas, ora depressivas, podem ser observadas e denominam-as 'síndrome epilética periódica'. Na fase depressiva, o suicídio é frequente. Os autores estudaram pacientes hospitalizados com depressões periódicas, que não referiam ataques epiléticos e que revelavam alterações no lobo temporal. Tais pacientes responderam satisfatoriamente ao tratamento antiepileptico, levando os autores a propor a designação de 'depressão temporal episódica'.

O que você vai aprender

  • Quais estudos apoiam a relação entre epilepsia e depressão reativa?
  • Qual é a relação entre alterações no lobo temporal e depressão temporal episódica?
  • Qual é a relação entre epilepsia e depressão neurótica?
  • Quais sintomas emocionais são comuns em pacientes com epilepsia?
  • Quais sintomas podem ser observados em pacientes com síndrome epilética periódica?

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

usuário desconhecido
usuário desconhecido 🇧🇷

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DEPRESSÃO
PERMANENTE
E
DISRITMIA
DO
LOBO
TEMPORAL
ENEIDA
BAPTISTETB
MATARAZZO
*
O
preconceito que a nossa sociedade armazena ainda contra a epilepsia, as
restrições legais e as do mercado de trabalho que colocam o
epilético
em posição
de inferioridade na luta por uma plena realização afetiva e profisisonal, aliados
às dificuldades criadas pela
própria
doença, sobretudo quanto ao risco que as
crises
podem representar
para
sua integridade física,o motivo bastante
para
que
o
epilético
apresente, com certa freqüência, sintomas neuróticos e reativos,
entre os quais a depressão é dos mais comuns.
Além
desta origem que determina quadros de depressão neurótica e depres-
o reativa, é bastante conhecida a relação direta de causa e
efeito
entre a epi-
lepsia e outras formas de depressão.
Williams
a3, revendo as observações de 165 pacientes que apresentavam
crises
comiciais, verificou a
existência
de conteúdo emocional em 100 casos;
61%
destes
tinham manifestações de medo, 21% de depressão e os demais ti-
nham
emoções
que o autor classificou como sendo do tipo agressividade, bem-
-estar e mal-estar.
Scott20,
em trabalho de revisão sobre o componente emo-
cional das
crises
epiléticas
conclui, como
Williams23,
que o mais freqüente é
o medo, vindo a seguir, a depressão. A resultado semelhante chegou
Armbrust-
Figueiredo
3, que estudou 1000 pacientes com foco temporal e encontrou 28%
com manifestações de medo e 12% de depressão.
Quando
relacionada diretamente à manifestação comicial, a depressão
tanto pode surgir no início, sob a forma de
pródromo,
durando horas ou dias 6.
7.18,
como sob a forma de
aura
3.18; pode surgir durante uma crise psico-motora,
como, também, ser o componente único da crise
3>9,
sendo, portanto desacom-
panhada
de alterações motoras, ideativas ou sensorials. Nestes
casos
pode ocor-
rer
ouo amnésia da crise 9.
Armbrust-Figueiredo
3 encontrou, na casuística
já
citada, 17% de pacientes que ao
recobrar
a consciência, portanto na fase
pós-crítica, referiam angústia ou depressão,o explicáveis pela situação psi-
cológica que os envolvia; a duração máxima que encontrou,
nessas
manifesta-
ções,
foi de 6 horas. Delgado a assinala que as *distimias
epiléticas
inter-criticas,
entre as quais a depressão, além de terem duração breve, tendem a aparecer
após o despertar, pela manhã. Alínio1, ao contrário, observou o aparecimento
de
leves
estados de depressão, em
epiléticos,
com maior freqüência à noite.
Alonso-Fernandez
2, descreve as distimias
epiléticas
como alterações agudas do
Assistente do Departamento de Neuro-Psiquiatria da Faculdade de Medicina da
Universidade
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Paulo.
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DEPRESSÃO PERMANENTE E DISRITMIA DO LOBO

TEMPORAL

ENEIDA BAPTISTETB MATARAZZO *

O preconceito que a nossa sociedade armazena ainda contra a epilepsia, as

restrições legais e as do mercado de trabalho que colocam o epilético em posição

de inferioridade na luta por uma plena realização afetiva e profisisonal, aliados

às dificuldades criadas pela própria doença, sobretudo quanto ao risco que as

crises podem representar para sua integridade física, são motivo bastante para

que o epilético apresente, com certa freqüência, sintomas neuróticos e reativos,

entre os quais a depressão é dos mais comuns.

A l é m desta origem que determina quadros de depressão neurótica e depres-

são reativa, é bastante conhecida a relação direta de causa e efeito entre a epi-

lepsia e outras formas de depressão.

Williams a^3 , revendo as observações de 165 pacientes que apresentavam

crises comiciais, verificou a existência de conteúdo emocional em 100 casos;

61% destes tinham manifestações de medo, 21% de depressão e os demais ti-

nham emoções que o autor classificou como sendo do tipo agressividade, bem-

-estar e mal-estar. S c o t t 2 0 , em trabalho de revisão sobre o componente emo-

cional das crises epiléticas conclui, como W i l l i a m s 2 3 , que o mais freqüente é

o medo, vindo a seguir, a depressão. A resultado semelhante chegou Armbrust-

Figueiredo 3 , que estudou 1000 pacientes com foco temporal e encontrou 28%

com manifestações de medo e 12% de depressão.

Quando relacionada diretamente à manifestação comicial, a depressão

tanto pode surgir no início, sob a forma de pródromo, durando horas ou dias 6.

7. 1 8 , como sob a forma de aura 3. 1 8 ; pode surgir durante uma crise psico-motora,

como, também, ser o componente único da crise 3 > 9 , sendo, portanto desacom-

panhada de alterações motoras, ideativas ou sensorials. Nestes casos pode ocor-

rer ou não amnésia da crise 9. Armbrust-Figueiredo 3 encontrou, na casuística

j á citada, 17% de pacientes que ao recobrar a consciência, portanto na fase

pós-crítica, referiam angústia ou depressão, não explicáveis pela situação psi-

cológica que os envolvia; a duração máxima que encontrou, nessas manifesta-

ções, foi de 6 horas. Delgado a assinala que as *distimias epiléticas inter-criticas,

entre as quais a depressão, além de terem duração breve, tendem a aparecer

após o despertar, pela manhã. A l í n i o 1 , ao contrário, observou o aparecimento

de leves estados de depressão, em epiléticos, com maior freqüência à noite.

Alonso-Fernandez 2 , descreve as distimias epiléticas como alterações agudas do

- Assistente do D e p a r t a m e n t o de N e u r o - P s i q u i a t r i a d a F a c u l d a d e de Medicina da U n i v e r s i d a d e de São P a u l o.

estado de ânimo, imotivadas ou pelo menos insuficientemente explicadas e con-

sidera mais freqüentes as formas i r r i t á v e l e depressiva. Esta teria quase sem-

p r e u m colorido hipocondríaco, levando, às vezes, a tentativas de suicídio; sua

duração, segundo esse autor, é de horas ou dias, podendo aparecer antes ou de-

pois das crises ou c o m o fenômenos equivalentes ao ataque. Mayer-Gross e col.

1 9 assinalam que nesses episódios de depressão, a l é m do início agudo e da du-

r a ç ã o curta, há possibilidade de variação brusca entre estados de depressão

e de exaltação.

Marchand e A j u r i a g u e r r a 1 8 , analisando o estado depressivo, a f i r m a m que

p o d e m ser observados, e m alguns epiléticos, alterações mentais periódicas, ora

eufóricas, ora depressivas e as denominam "síndrome epilética periódica"-

A c r e s c e n t a m que nas fases de depressão o suicídio é freqüente e que o quadro

clínico t e m as mesmas características das psicoses periódicas.

Grecu e K a l m a n 1 2 estudaram 38 pacientes hospitalizados que apresentavam

depressões periódicas, que não r e f e r i a m ataques epiléticos e que r e v e l a v a m , no

e x a m e eletrencefalográfico, alterações no lobo t e m p o r a l ; tais pacientes respon-

d i a m satisfatoriamente ao t r a t a m e n t o antiepilético e a seqüência desses fatos

levou os autores a proporem para o quadro, a designação de "depressão tem-

poral episódica".

C o m o no trabalho acima, a correlação entre a depressão de o r i g e m epilé-

tica e a disritmia do lobo temporal t e m sido assinalada por vários autores 3. 1 0 >

2 2. 2 3. L e n n o x 1 6 descreve o caso de um paciente c o m ataques de depressão, de

duração de 1 a 3 horas e freqüência de várias ao dia e não hesita a incluí-lo

no capítulo dedicado à epilepsia temporal, apesar do eletrencefalograma ter-se

r e v e l a d o normal e da paciente não apresentar outros tipos de crise. E n t r e os

21 pacientes c o m depressão relacionada a crises epiléticas, citados por W i l l i a m s

2 3 , 10 tinham alterações eletrencefalográficas localizadas na área t e m p o r a l e os

11 restantes tinham alterações difusas ou não localizadas. Alonso-Fernandez 2 ,

analisando a sintomatologia dos tumores profundos do lobo temporal, afirma

que podem dar alterações permanentes atípicas e p o l i m o r f a s : psico-síndrome

neurastênico, esquizofreniforme, depressivo, confusional, psico-orgânico. L o -

renz de H a a s 1 7 , estudando as manifestações de 162 pacientes epiléticos, encon-

trou disforia (depressão inter-crítica) e m 23 casos, sendo a localização da dis-

r i t m i a na área t e m p o r a l e m 87% destes.

Resumindo, é extensa a bibliografia sobre depressão de o r i g e m epilética,

sendo descritas, nos textos consultados, manifestações pré-críticas (auras e pró-

d o m o s ). críticas e pós-críticas, a l é m de episódios inter-críticos de início agudo e

duração curta.

Este trabalho pretende demonstrar que a depressão causada por disritmia

cerebral, a l é m das formas acima citadas, pode assumir, t a m b é m , u m caráter

permanente.

CASUÍSTICA

O m a t e r i a l é c o n s t i t u í d o de 4 casos de depressão, sendo dois d e c l í n i c a p a r t i c u l a r e dois r e g i s t r a d o s no A m b u l a t ó r i o d o H o s p i t a l de P s i q u i a t r i a da F a c u l d a d e d e M e d i - c i n a da U n i v e r s i d a d e de S ã o P a u l o. N o s dois p r i m e i r o s m a n i f e s t a v a m - s e a p e n a s d e -

C A S O 2 •— R. C. A. C. ( R e g. 45589) 24 anos, s e x o f e m i n i n o , b r a n c a , b r a s i l e i r a , s o l - t e i r a , a t e n d i d a p e l a p r i m e i r a v e z no H o s p i t a l de P s i q u i a t r i a e m 02-10-69. A p a c i e n t e p e r t e n c i a a f a m í l i a de classe m é d i a - s u p e r i o r , l e g a l m e n t e c o n s t i t u í d a. Sua m ã e , d e t e m p e r a m e n t o i r r i t a d i c o , a g r e s s i v o e i m p u l s i v o t e v e v á r i a s crises e p i l é t i c a s , d e t i p o h i p e r t ô n i c o , da i n f â n c i a a t é à i d a d e a d u l t a ; a l é m disto t i n h a c o n d u t a m o r a l i r r e g u l a r t e n d o por a m a n t e o m o t o r i s t a da f a m í l i a. O pai, a p á t i c o e p o u c o a t u a n t e nas decisões f a m i l i a r e s , t a m b é m m a n t i n h a u m a a m a n t e. U m i r m ã o , de 22 anos, t i n h a c o n d u t a social i n a d e q u a d a , sendo de t e m p e r a m e n t o c o l é r i c o ; sofreu dois a c i d e n t e s de a u t o - m ó v e l e m q u e se l a n ç o u c o n t r a u m m u r o , sem n e c e s s i d a d e e s e m d a r conta, p a r e c e n d o , p e l a d e s c r i ç ã o t e r o c o r r i d o o f a t o n u m a crise de ausência. U m a i r m ã , de 20 anos, t e v e p r o b l e m a s de f r i g i d e z s e x u a l q u e foi s o l u c i o n a d o c o m p s i c o t e r a p i a. U m a s o b r i n h a d e 3 anos, f i l h a dessa i r m ã , e r a i r r i t a d i ç a , a g r e s s i v a , i n s t á v e l e seu E E G r e v e l o u " d i s r i t m i a p a r o x í s t i c a b i l a t e r a l s í n c r o n a ". C o m t o d o s esses p r o b l e m a s , o a m b i e n t e f a m i l i a r e r a tenso, d e s a r m ô n i c o e g e r a d o r d e sérios c o n f l i t o s. A p a c i e n t e nasceu b e m , após g e s t a ç ã o n o r m a l , d e s e n v o l v e n d o - s e s a t i s f a t o r i a m e n t e do p o n t o de v i s t a físico. D e s d e os p r i m e i r o s a n o s de v i d a , e n t r e t a n t o , r e v e l o u - s e u m a c r i a n ç a m e d r o s a , c o m m a n i f e s t a ç õ e s de t e m o r d i a n t e de m ú l t i p l a s s i t u a ç õ e s. E r a t í m i d a , q u i e t a , e m o t i v a e r e a g i a às f r u s t r a ç õ e s q u a s e s e m p r e c h o r a n d o. C o m e ç o u a f r e q ü e n t a r a e s c o l a c o m 5 a n o s ; foi s e m p r e b o a a l u n a e e m 1967 c u r s a v a o 2.° a n o de E n g e n h a r i a C i v i l , p o r é m a b a n d o n o u o estudo d e v i d o aos seus p r o b l e m a s psíquicos. D e s d e os 5 a n o s d e i d a d e c o m e ç o u a t e r p e r í o d o s d e d e p r e s s ã o c o m d u r a ç ã o de horas, d i a s ou s e m a n a s , r e p e t i n - do-se u m a ou m a i s v e z e s no m ê s. S e g u n d o suas i n f o r m a ç õ e s , esses episódios s e m p r e t i v e r a m as m e s m a s c a r a c t e r í s t i c a s. D e s c r e v i a os m a i s r e c e n t e s da s e g u i n t e f o r m a : " D e r e p e n t e , sem r a z ã o , eu m e t o r n o triste, d e s i n t e r e s s a d a d e tudo q u e m e c e r c a , i n d i f e r e n t e. F i c o a m a i o r p a r t e do t e m p o d e i t a d a , sem v o n t a d e de m e cuidar, de m e p e n t e a r e nem m e s m o de t o m a r b a n h o ; n ã o t e n h o v o n t a d e d e ler, d e m e a l i m e n t a r ou de r e a l i z a r q u a l q u e r coisa. N ã o t e n h o v o n t a d e de v i v e r , m a s n ã o m e passa p e l a c a b e ç a a idéia de m e m a t a r ". T ã o b r u s c a m e n t e c o m o s u r g i a a depressão c e s s a v a. D e s d e o i n í c i o a p a c i e n t e foi e x a m i n a d a por p s i q u i a t r a s e s u b m e t e u - s e a v á r i o s t r a t a m e n t o s c o m d r o g a s a n t i - d e p r e s s i v a s e a n s i o l í t i c o s sem q u a l q u e r r e s u l t a d o p o s i t i v o e s e m q u e se a l t e r a s s e a s e q ü ê n c i a dos s i n t o m a s. H o u v e m e l h o r a e s p o n t â n e a , c o m depressões m a i s espaçadas, dos 14 aos 17 anos, c o m r e c r u d e s c i m e n t o das m a n i f e s t a ç õ e s a p a r t i r d e e n t ã o. A o s 19 anos c o m e ç o u a a p r e s e n t a r crises de d o r a b d o m i n a l intensa, de i n í c i o e f i m bruscos, d u r a ç ã o de h o r a s e r e b e l d e s a t o d a m e d i c a ç ã o a n a l g é s i c a. S u b m e t e u - s e a e x a m e c l í n i c o e a v á r i o s e x a m e s de l a b o r a t ó r i o q u e r e s u l t a r a m n o r m a i s. P o r esse m o t i v o o s i n t o m a foi c o n s i d e r a d o de o r i g e m p s i c ó g e n a e a p a c i e n t e f o i e n c a m i n h a d a p a r a p s i c o t e r a p i a de base a n a l í t i c a. Seis m e s e s após o i n í c i o do t r a t a m e n t o as crises v i s c e r a i s c e s s a r a m , p o r é m passou a t e r crises a t ô n i c a s , f r e q ü e n t e s e c o m d u r a ç ã o d e m i n u t o s. O c o r r i a m a q u a l q u e r m o m e n t o e e m q u a l q u e r c i r c u n s t â n c i a e a p e r d a de c o n s c i ê n c i a e r a a b r u p t a , o q u e o c a s i o n o u f e r i m e n t o s na p a c i e n t e e m v á r i a s o c a s i õ e s. E l e t r e n c e f a l o g r a m a f e i t o e n t ã o foi n o r m a l e por esse m o t i v o não foi m e d i c a d a. A ú l t i m a crise o c o r r e u 3 m e s e s a n t e s da consulta. A o c o m e ç a r a p s i c o t e r a p i a , a p a c i e n t e a p r e - s e n t a v a sérios c o n f l i t o s e m o c i o n a i s , p é s s i m o r e l a c i o n a m e n t o f a m i l i a r , d i f i c u l d a d e e m se e n t r o s a r c o m n a m o r a d o s , s e n t i m e n t o d e r e j e i ç ã o i n s e g u r a n ç a , a g r e s s i v i d a d e r e p r i - m i d a. T o d o s esses p r o b l e m a s f o r a m a n a l i s a d o s e i n t e r p r e t a d o s d u r a n t e os 4 a n o s de p s i c o t e r a p i a e m e l h o r a r a m s e n s i v e l m e n t e. Os episódios de depressão, e n t r e t a n t o , p e r - sistiam, o q u e l e v o u o p s i q u i a t r a a i n t e r p r e t á - l o s c o m o d e c o r r e n t e s de u m t r a ç o d e t e m p e r a m e n t o da p a c i e n t e que, por esse m o t i v o , r e s o l v e u d a r a p s i c o t e r a p i a p o r c o n - c l u í d a. P o r s u g e s t ã o de u m a p a r e n t e , a p a c i e n t e p r o c u r o u o H o s p i t a l de P s i q u i a t r i a , u m m ê s depois, p a r a t e n t a r n o v o t r a t a m e n t o. D u r a n t e a consulta, a e n t r e v i s t a d a , j o v e m b o n i t a e de a s p e c t o s a u d á v e l , m a n t e v e d i á l o g o f l u e n t e q u e i n d i c a v a m u i t o b o m n í v e l i n t e l e c t u a l. D e s c r e v e u c o m os d e t a l h e s o s e p i s ó d i o s d e depressão, d u r a n t e os q u a i s c o n s e r v a v a p e r f e i t a l u c i d e z. N e g a v a a e x i s t ê n c i a d e a l t e r a ç õ e s i d e a t i v a s ou s e n s o - p e r c e p t i v a s , nessas fases, a f i r m a n d o q u e t a m b é m não se a c o m p a n h a v a m de s e n s a ç ã o de s o f r i m e n t o. N ã o r e l a c i o n a v a o d e s e n - c a d e a m e n t o das d e p r e s s õ e s c o m f a t o r e s p s i c o g ê n i c o s a p a r e n t e s , a p e s a r de e x i s t i r e m p r o b l e m a s r e a i s , s o b r e t u d o d e n t r o da d i n â m i c a f a m i l i a r , q u e d i f i c u l t a v a m o seu e q u i - l í b r i o e m o c i o n a l. R e f e r i a t a m b é m m e d o c o n s t a n t e e difuso, e x t e r i o r i z a d o e m m ú l t i -

p i a s s i t u a ç õ e s e m o t i v a d o p e l o m e d o d e m o r r e r. Esse f a t o a t o r n a v a e x t r e m a m e n t e d e p e n d e n t e do a p o i o de a d u l t o s ; s o l i c i t o u , p o r e x e m p l o , a o n a m o r a d o q u e a a c o m - p a n h a s s e a o h o s p i t a l , p o r q u e t i n h a m e d o de v i r sozinha. C o m o c o m p l e m e n t a c ã o p a r a o estudo do caso foi s o l i c i t a d o e l e t r e n c e f a l o g r a m a , q u e deu r e s u l t a d o n o r m a l. D e v i d o à s i n t o m a t o l o g i a ictal e a o c a r á t e r r e c o r r e n t e dos episódios de depressão, foi i n d i c a d o o uso de t e r a p ê u t i c a a n t i e p i l é t i c a , sendo p r e s c r i t o F e n o b a r b i t a l (100 m g. a o d i a ). A p ó s duas s e m a n a s de t r a t a m e n t o r e f e r i a s e n s í v e l m e l h o r a nas m a n i f e s t a - ções de m e d o p a t o l ó g i c o , p o r é m a c h a v a q u e a depressão h a v i a p i o r a d o , pois a g o r a t i - nha t a m b é m crises de c h o r o. A m e d i c a ç ã o foi m a n t i d a e na s e m a n a s e g u i n t e , c o m o a e v o l u ç ã o se m a n t i n h a i n a l t e r a d a , a u m e n t a d a a dose d e F e n o b a r b i t a l p a r a 150 m g. a o dia. U m m ê s depois h a v i a r e m i t i d o t o d a a s i n t o m a t o l o g i a r e l a c i o n a d a à depressão e a o m e d o. Cinco meses m a i s t a r d e , s e m p r e c o m o m e s m o t r a t a m e n t o , a p a c i e n t e i n f o r m a v a q u e se sentia m u i t o b e m , n ã o t i n h a m a i s depressão, n e m m e d o p a t o l ó g i c o , sentia-se m a i s segura, o h u m o r t o r n a r a - s e e s t á v e l e n ã o a p r e s e n t a v a s i n t o m a s físicos. F e z a i n d a esse c o m e n t á r i o c u r i o s o : " D u r a n t e os 4 anos d e p s i c o t e r a p i a eu n ã o c o n - s e g u i a sentir nada, a p e s a r de se f a l a r o t e m p o todo e m a m o r , depressão, r a i v a , m e d o. A g o r a estou d i f e r e n t e , pois t e n h o s e n t i m e n t o s intensos e sinto e m o ç õ e s f o r t e s ".

C A S O 3 — T. F. , 37 anos, s e x o f e m i n i n o , branca, b r a s i l e i r a , casada, a t e n d i d a p e l a p r i m e i r a v e z e m 31-08-1966. A p a c i e n t e p e r t e n c i a a f a m í l i a de classe m é d i a , d e si- t u a ç ã o e c o n ô m i c a e s t á v e l e de a m b i e n t e a f e t i v o m u i t o b o m. U m a sobrinha sua t e v e q u a d r o d e p r e s s i v o de c u r t a d u r a ç ã o , aos 24 anos, sua filha m a i s v e l h a ( c a s o 1 ) c o - m e ç o u a a p r e s e n t a r episódios de depressão aos 12 anos; u m f i l h o d e 10 anos t i n h a c o m p o r t a m e n t o n o r m a l e o ú l t i m o , de 8 anos, e r a a g r e s s i v o e i n s t á v e l. A p a c i e n t e nasceu e m c o n d i ç õ e s n o r m a i s , após g e s t a ç ã o a t e r m o. T e v e u m a i n f â n c i a sadia do p o n t o de v i s t a físico, n ã o r e f e r i n d o d e s m a i o s , c o n v u l s õ e s ou t r a u m a t i s m o s c r a n i a n o s. F o i u m a c r i a n ç a t í m i d a , q u i e t a e pouco s o c i á v e l , c o m a l t e r n â n c i a d e p e r í o d o s d e h u m o r t r i s t e e a l e g r e. N u n c a foi m e d r o s a. S e m p r e t e v e sono a g i t a d o , c o m s o n i l ó q u i o. D o s 5 aos 10 anos t e v e f r e q ü e n t e s crises de s o n a m b u l i s m o. A o s 12 anos c o m e ç o u a a p r e - s e n t a r crises de t o n t u r a , c o m s e n s a ç ã o de a t o r d o a m e n t o e d e p e r d a d e e q u i l í b r i o e d u r a ç ã o de segundos ou m i n u t o s ; t a m b é m nessa época, c o m e ç o u a t e r crises de c e - f a l é i a , f r e q ü e n t e s e r e b e l d e s a a n a l g é s i c o s ; e s p a ç a r a m - s e depois dos 14 anos, q u a n d o t e v e a m e n a r c a e p a s s a r a m a s u r g i r g e r a l m e n t e no p r é - m e n s t r u o. D e s d e os 17 anos c o m e ç o u a ter, c o m c e r t a f r e q ü ê n c i a , crises d e " f l a s h - b a c k " : s u r g i a m a l e m b r a n ç a , r e p e n t i n a m e n t e , v i s õ e s do passado, a c o m p a n h a d a s de sensação de a n g ú s t i a e m a l - e s t a r. C o m e ç o u a e s t u d a r c o m 7 anos, foi s e m p r e boa a l u n a e t e r m i n o u o curso d e s e c r e - t a r i a d o ; t r a b a l h o u nessa profissão d u r a n t e dois anos. Casou-se aos 20 anos, p o r a m o r e c o m p l e n o a s s e n t i m e n t o da f a m í l i a e passou a se d e d i c a r u n i c a m e n t e aos a f a z e r e s d o m é s t i c o s. T e v e b o m a j u s t a m e n t o c o m o m a r i d o , i n c l u s i v e do p o n t o de v i s t a s e x u a l. A o s 21 anos, q u a n d o v i a j a v a n u m ônibus, sentiu s u b i t a m e n t e a n g ú s t i a intensa e t e v e i m p r e s s ã o de q u e os fios q u e e l e t r i f i c a v a m o v e í c u l o se a f a s t a v a m e se a p r o x i m a v a m. T e v e , depois, sudorese, p a l p i t a ç ã o , t o n t u r a e dispnéia, a l é m de s e n s a ç ã o de m a l - e s t a r e e s t r a n h e z a e m r e l a ç ã o a tudo q u e a c e r c a v a. A l g u n s m i n u t o s depois sentiu d e p r e s - são, c a n s a ç o e t e v e crises de c h o r o. A p a r t i r dessa crise seu c o m p o r t a m e n t o m u d o u m u i t o. T o r n o u - s e p e r m a n e n t e m e n t e d e p r i m i d a , c h o r a v a p o r q u a l q u e r m o t i v o e m e s m o s e m r a z ã o , sentia c a n s a ç o constante, v o n t a d e de p e r m a n e c e r a c a m a d a e r e a l i z a v a , c o m g r a n d e esforço, apenas p a r t e da a t i v i d a d e d o m é s t i c a h a b i t u a l. N ã o sentia m o - t i v a ç ã o p a r a v i v e r , n ã o se p r e o c u p a v a p e l a sua a p a r ê n c i a física, p e r d e u o interesse p o r t o d a a t i v i d a d e social e n ã o se e x c i t a v a m a i s s e x u a l m e n t e. O m a r i d o assumiu a t i t u d e c o m p r e e n s i v a d i a n t e de seus s i n t o m a s e l e v o u - a desde o i n í c i o a c o n s u l t a c o m v á r i o s p s i q u i a t r a s. O p r i m e i r o t r a t a m e n t o p r e s c r i t o f o i d e c o n v u l s o t e r a p i a p e l o e l e t r o c h o q u e ; f e z 3 a p l i c a ç õ e s , a depressão se a c e n t u o u e o t r a t a m e n t o f o i suspenso. F e z , e m seqüência, v á r i o s t r a t a m e n t o s c o m d r o g a s a n t i - d e p r e s s i v a s , a n s i o l í t i c a s e a t é m e s m o c o m n e u r o l é t i c o s. N e n h u m dos t r a t a m e n t o s deu r e s u l t a d o f a v o r á v e l. O q u a d r o d e depressão p e r d u r o u p o r 3 anos. A o f i n a l desse t e m p o e n g r a v i d o u e c o m e ç o u a m e l h o r a r e s p o n t a n e a m e n t e , h a v e n d o c o m p l e t a r e m i s s ã o dos s i n t o m a s no s e g u n d o m ê s d e g r a v i d e z. E s t a t r a n s c o r r e u b e m , n a s c e n d o u m a m e n i n a ( c a s o 1 ). D u r a n t e 7 anos a p a c i e n t e c o n t i n u o u b e m , c o m a c o n d u t a q u e l h e e r a h a b i t u a l , a n t e s d o q u a d r o d e depressão.

•cebeu a r e a l i d a d e da v i d a " , foi p e r d e n d o a a l e g r i a a t é t r a n s f o r m a r - s e e m u m a a d o - l e s c e n t e tristonha, q u e c h o r a v a c o m f a c i l i d a d e. A j u d o u a m ã e a c u i d a r da casa a t é o s 14 anos, q u a n d o passou a t r a b a l h a r na r o ç a. E n t r e t a n t o , sentia-se m a l d u r a n t e essa a t i v i d a d e , c a n s a v a - s e , t i n h a dores no c o r p o e p o r isso v á r i a s v e z e s i n t e r r o m p e u o t r a b a l h o , p e r m a n e c e n d o s e m a n a s e m casa, a t é se r e f a z e r. A ú l t i m a t e n t a t i v a d e t r a b a l h a r na l a v o u r a foi a o s 16 anos. Sua r o t i n a d i á r i a e x i g i a q u e se l e v a n t a s s e à s 5 horas, d e v e n d o c a m i n h a r c e r c a d e 3 q u i l ô m e t r o s , p a r a e s t a r no s e r v i ç o às 7 h o r a s da m a n h ã. E m d e t e r m i n a d o d i a a c o r d o u c o m atraso, a r r u m o u - s e r a p i d a m e n t e , n ã o t o m o u c a f é e iniciou o p e r c u r s o p a r a o l o c a l d e t r a b a l h o na c o m p a n h i a d e u m a i r m ã e d e seu pai, q u e a r e c r i m i n a v a p e l o a t r a s o ; c a m i n h a v a r á p i d o ou c o r r i a , p r o c u r a n d o se d i s t a n c i a r do pai p a r a f u g i r as c r í t i c a s. Q u a n d o c h e g o u a o a l t o d e u m m o r r o , t e v e f o r t e t o n t u r a , e s f r i a m e n t o das e x t r e m i d a d e s e sudorese e, a seguir, c o m e ç o u a c h o r a r c o n v u l s i v a m e n t e. Seu pai fez c o m q u e v o l t a s s e p a r a casa e a p e s a r d a a t e n ç ã o dos f a m i l i a r e s , ficou a c a m a d a e o c h o r o n ã o c e s s a v a. "Eu só p e n s a v a q u e h a v i a p e r d i d o a h o r a ; esta i d é i a n ã o m e d e i x a v a " , c o n t a a p a c i e n t e. N o d i a s e g u i n t e , c o m o c o n - t i n u a v a c h o r a n d o , foi l e v a d a a u m h o s p i t a l , o n d e ficou i n t e r n a d a. A p l i c a r a m - l h e u m a i n j e ç ã o s e d a t i v a , d o r m i u u m pouco, p o r é m v o l t o u a c h o r a r q u a n d o d e s p e r t o u. N o 3.° dia as crises se e s p a ç a r a m e no 4.° dia, sentindo-se m e l h o r , l e v a n t o u - s e. D e s d e esse episódio, "tornou-se u m a pessoa d i f e r e n t e " ; passou a f a l a r p o u c o e m casa e m e n o s a i n d a c o m estranos. Sentia-se p e r m a n e n t e m e n t e d e p r i m i d a. D e i x o u d e t r a b a l h a r f o r a e f a z i a l e n t a m e n t e e c o m e s f o r ç o as t a r e f a s da casa. A g o r a m a i s n a d a d e s p e r t a v a o seu interesse. Se e m a l g u m a o c a s i ã o , p o r insistência dos f a m i l i a r e s , se dispunha a sair, no m o m e n t o final desistia; c h o r a v a c o m e x t r e m a f a c i l i d a d e , p o r c o n t r a r i e d a d e s m í n i m a s e t i n h a t a m b é m crises de c h o r o s e m r a z ã o a p a r e n t e , c o m d u r a ç ã o d e u m a h o r a ou m a i s ; nestas ocasiões c o n t i n u a v a p l e n a m e n t e c o n s c i e n t e , p o r é m n ã o sabia e x p l i c a r p o r q u e c h o r a v a. A o s 18 anos, e m p r e g o u - s e c o m o a t e n d e n t e e m u m h o s p i t a l ; e m c e r t a o c a s i ã o t e v e crise de c h o r o t ã o p r o l o n g a d a , q u e precisou ser m e d i c a d a c o m i n j e ç ã o a n a l g é s i c a. U m a n o depois f o i t r a b a l h a r c o m o d o m é s t i c a , e x e r c e n d o 4 anos essa a t i v i d a d e. A s e g u i r e m p r e g o u - s e c o m o b a l c o n i s t a e m bar; c o n t o u q u e nas h o r a s de m o v i m e n t o f i c a v a a f l i t a p a r a q u e o t e m p o passasse a f i m d e esconder-se e m q u a l - q u e r l u g a r e c h o r a r l i v r e m e n t e. D u r a n t e todos esses anos a d e p r e s s ã o persistia. P e n - s a v a c o n s t a n t e m e n t e q u e " n ã o d e v i a t e r nascido, q u e o c u p a v a o l u g a r d e a l g u é m na t e r r a ". D e p o i s do t r a b a l h o e nos dias de f o l g a c o s t u m a v a p a s s a r l o n g a s h o r a s e m c e m i t é r i o s , " c h o r a n d o , r e z a n d o e p e d i n d o a D e u s q u e a tirasse do m u n d o ". U m dia p e r m a n e c e u m u i t o t e m p o de pé, d i a n t e de u m a c o v a a b e r t a , " c o m e s p e r a n ç a d e c a i r m o r t a e f i c a r l á de u m a v e z ". N o e n t a n t o , a p e s a r de t e r v o n t a d e c o n s t a n t e d e m o r - r e r nunca pensou e m suicídio, d e s e j a n d o m o r t e n a t u r a l. P r e o c u p a v a - s e c o m os p r o - b l e m a s de s a ú d e e f i n a n c e i r o s da f a m í l i a , p o r é m c o m base e m f a t o s r e a i s ; n ã o t i n h a p r e o c u p a ç õ e s sem f u d a m e n t o. N ã o sentia disposição p a r a o t r a b a l h o , c a n s a v a - s e fa- c i l m e n t e. C u i d a v a de sua h i g i e n e e de sua a p a r ê n c i a p o r é m s e m v a i d a d e ; n ã o saia p a r a festas ou passeios, n ã o se i n t e r e s s a v a p o r r a p a z e s , n ã o f a z i a p l a n o s p a r a o futuro, n e m p e n s a v a è m c a s a r ou t e r filhos. A o s 26 anos v e i o p a r a São P a u l o e e m p r e g o u - s e c o m o d o m é s t i c a. O a f a s t a m e n t o d o c o n v í v i o e dos p r o b l e m a s f a m i l i a r e s d e u - l h e c e r t o a l í v i o , p o r é m n ã o a l t e r o u seu h u m o r ou sua conduta. C o n t i n u a v a s e m e n t u s i a s m o p a r a v i v e r e c o m crises f r e q ü e n t e s de choro, c o m ou sem m o t i v o a p a r e n t e. E r a v a - g a r o s a no t r a b a l h o , t i n h a d i f i c u l d a d e e m se a j u s t a r às n o v a s t a r e f a s , m a n t i n h a r e l a - c i o n a m e n t o f r i o e d i s t a n t e c o m o u t r a s e m p r e g a d a s d a casa, n ã o saia p a r a passeios o u festas. A l é m dessas m a n i f e s t a ç õ e s a p a c i e n t e r e l a t a q u e aos 17 anos t e v e episódios q u a s e d i á r i o s de s o n a m b u l i s m o ( d e a m b u l a ç ã o s i m p l e s ) q u e c e s s a r a m e s p o n t a n e a m e n t e. D e s d e os 19 anos t i n h a crises e s p o r á d i c a s de t i p o n e u r o - v e g e t a t i v o ( s u d o r e s e , e s f r i a m e n t o das e x t r e m i d a d e s , eretisrr.o c a r d í a c o , t o n t u r a e d i s p n é i a ). N a s e m a n a q u e p r e c e d e u a c o n s u l t a t e v e v á r i a s crises de c e f a l é i a e d e t o n t u r a f o r t e , s e m e s c u r e c i m e n t o d e v i s t a p o r é m c o m p e r d a do e q u i l í b r i o , p r e c i s a n d o a p o i a r - s e p a r a n ã o cair. F o r a m estes sin- t o m a s q u e a l e v a r a m a p r o c u r a r o H o s p i t a l d e P s i q u i a t r i a p a r a t r a t a r - s e e m 26-09-1973. A e n t r e v i s t a r e v e l o u u m a j o v e m de a s p e c t o f r á g i l , p o r é m de c o n d i ç õ e s físicas g e r a i s a p a r e n t e m e n t e s a t i s f a t ó r i a s , n a d a sendo c o n s t a t a d o d e a n o r m a l no e x a m e d o s d i v e r s o s a p a r e l h o s. A p r e s e n t a v a - s e v e s t i d a e p e n t e a d a c o r r e t a m e n t e , p o r é m s e m t r a ç o

d e v a i d a d e : t i n h a o f á c i e s de u m a pessoa d e p r i m i d a , m a s s e m e x p r e s s ã o de s o f r i m e n t o ; a a t i t u d e astênica, a f a l a e os g e s t o s lentos, a p o b r e z a de e l a n v i t a l e o c o n t e ú d o do d i á l o g o t r a n s m i t i a m a i m a g e m de u m a j o v e m a p á t i c a e i n f e l i z. Sua a p a r ê n c i a física e r a a g r a d á v e l , a m a n e i r a d e ser d e l i c a d a e e d u c a d a. R a c i o c i n a v a c o m f a c i l i d a d e ^ e v i d e n c i a n d o i n t e l i g ê n c i a n o r m a l. E m b o r a dissesse q u e m u i t a s v e z e s d e s e j a r a m o r - rer, n e g a v a a e x i s t ê n c i a d e i m p u l s o s suicidas, e m q u a l q u e r fase de sua d o e n ç a. A i d é i a da m o r t e n ã o se a l i c e r ç a v a no d e s e j o de f u g i r a o s o f r i m e n t o e sim n a a b s o l u t a ausência de m o t i v a ç ã o p a r a v i v e r. N e g a v a a e x i s t ê n c i a de distúrbios s e n s o - p e r e e p t i - v o s ou i d e a t i v o s. R e v e l a v a impulsos a g r e s s i v o s conscientes e d e s p r o v i d o s d e s e n t i m e n t o d e c u l p a c o n t r a seu pai, cujo c o m p o r t a m e n t o i r r e g u l a r r e p r o v a v a , c o n s i d e r a n d o - o m a u c h e f e de f a m í l i a. R e v e l a v a t e r pena d e sua m ã e , e m b o r a e s t a surgisse c o m o u m a f i g u r a a p a g a d a e de m e n o r i m p o r t â n c i a e m suas descrições. N ã o f a z i a p r o s p e c ç õ e s p a r a o f u t u r o e n ã o r e v e l a v a o u t r a a m b i ç ã o se n ã o a de v i v e r à sua m a n e i r a , sem ser i n c o m o d a d a p e l a s pessoas c o m q u e m c o n v i v i a. N ã o s u p u n h a q u e seus s i n t o m a s fossem u m a d o e n ç a e p o r isso n ã o b u s c a v a a cura, n e m a c r e d i t a v a nessa p o s s i b i l i d a d e. N a r r o u os f a t o s d e s c r i t o s a n t e r i o r m e n t e p o r q u e d u r a n t e a e n t r e v i s t a , foi s o l i c i t a d a a f a z ê - l o. D o c o n t r á r i o t e r i a se r e s t r i n g i d o à d e s c r i ç ã o dos s i n t o m a s físicos p a r a os quais d e s e j a v a t r a t a m e n t o.

P a r a e s c l a r e c i m e n t o do d i a g n ó s t i c o foi s o l i c i t a d o e x a m e e l e t r e n c e f a l o g r á f i c o q u e r e v e l o u " a t i v i d a d e i r r i t a t i v a na r e g i ã o t e m p o r a l esquerda, c o m r e p e r c u s s ã o p a r a a r e g i ã o h o m ó l o g a ". E m 8 de o u t u b r o de 1973 foi m e d i c a d a c o m P l a c e b o ( 1 c o m p r i m i d o à n o i t e ) ; após 3 s e m a n a s de uso a p a c i e n t e i n f o r m a v a q u e n ã o s e n t i r a q u a l q u e r e f e i t o. F o i e n t ã o m e - dicada c o m F e n u r o n a (200 m g ) , D i f e n i l h i d a n t o i n a ( 4 0 m g. ) e F e n o b a r b i t a l (15 m g ). U m m ê s d e p o i s a p a c i e n t e i n f o r m a v a : " N o s p r i m e i r o s dias c o m e c e i a d o r m i r m e l h o r e a t o n t u r a d i m i n u i u , m a s c o n t i n u i e i c h o r a n d o m u i t o. A o s poucos c o m e c e i a m e l h o r a r ; a g o r a há dias e m q u e passo bem, e o u t r o s e m q u e a c o r d o t r i s t e e c h o r o sem m o t i v o ". D i a n t e dessa e v o l u ç ã o a p r e s c r i ç ã o foi m a n t i d a e h o u v e m e l h o r a l e n t a e p r o g r e s s i v a d e todos os s i n t o m a s. A s crises de c h o r o f o r a m se e s p a ç a n d o , o h u m o r t a m b é m mudou. A o f i m de 3 meses a p a c i e n t e r e f e r i a q u e n ã o c h o r a v a mais, q u e t i n h a dis- p o s i ç ã o p a r a o t r a b a l h o c o m o nunca o c o r r e r a antes, q u e se sentia f i s i c a m e n t e b e m. T o r n o u - s e m a i s c o m u n i c a t i v a , f e z a m i z a d e s , c o m e ç o u a f r e q ü e n t a r festas e c i n e m a s e a passear. O h u m o r tornou-se e s t á v e l e e m b o r a n ã o pudesse a f i r m a r q u e e r a u m a pessoa a l e g r e , j á n ã o sentia tristeza. A v o n t a d e d e m o r r e r d e s a p a r e c e r a. P a s s o u o c a r n a v a l de 1974, e m casa dos pais, na f a z e n d a , e p e l a p r i m e i r a v e z e m sua v i d a foi aos bailes, d a n ç a n d o a t é a festa t e r m i n a r. S e g u n d o suas p r ó p r i a s p a l a v r a s todos q u e a c o n h e c i a m n o t a r a m g r a n d e m u d a n ç a e m sua conduta. Sua m ã e , s e m saber q u e es- t a v a e m t r a t a m e n t o , c o m e n t o u e m casa, q u e e l a e s t a v a m u i t o d i f e r e n t e. A única q u e i x a da p a c i e n t e e r a a de i r r i t a r - s e c o m c e r t a f a c i l i d a d e ; se isto o c o r r i a , p r e f e r i a g e r a l m e n t e isolar-se, a discutir. A t é s e t e m b r o de 1974 foi m a n t i d a a m e s m a t e r a - pêutica. N e s s a é p o c a a p a c i e n t e c o m e ç o u a t e r insônia e crises f u g a z e s d e t o n t u r a ; a i r r i t a b i l i d a d e j á v i n h a a u m e n t a n d o desde as ú l t i m a s semanas. D i a n t e dessas q u e i x a s foi substituída a m e d i c a ç ã o por D i f e n i l h i d a n t o i n a (100 m g. , v. o. , à n o i t e ). A p a c i e n t e v o l t o u a d o r m i r b e m e poucos dias depois a f i r m a v a q u e esse r e m é d i o e r a m e l h o r q u e o a n t e r i o r , pois a g o r a sentia-se c a l m a e p o d i a c o n v i v e r m e l h o r c o m as d e m a i s pes- soas. U m m ê s depois a p r e s e n t o u s i n t o m a s de g a s t r i t e a g u d a , r e l a c i o n a d o s c o m o uso da D i f e n i l h i d a n t o i n a , sendo suspenso esse m e d i c a m e n t o substituído por P l a c e b o. A p ó s 3 s e m a n a s a p a c i e n t e r e t o r n o u d i z e n d o q u e a g a s t r i t e d e s a p a r e c e r a r a p i d a m e n t e e q u e nos p r i m e i r o s dias passou b e m. N a ú l t i m a semana, p o r é m , v o l t o u a sentir d e s â n i m o , v o n t a d e d e c h o r a r e se m o s t r a v a m u i t o a f l i t a , t e m e r o s a de q u e a d o e n ç a v o l t a s s e c o m o antes. F o i e n t ã o a d m i n i s t r a d a C a r b a m a z e p i n a (200 m g. diários, v. o. ) e a p a c i e n t e m e - lhorou r a p i d a m e n t e , d e s a p a r e c e n d o a depressão j á nos p r i m e i r o s dias. Esse t r a t a m e n t o v e m sendo m a n t i d o a t é o m o m e n t o c o m e x c e l e n t e s r e s u l t a d o s. A p a c i e n t e n ã o a p r e - senta a t u a l m e n t e q u a i s q u e r indícios de depressão. T e m d i s p o s i ç ã o p a r a o t r a b a l h o , r e l a c i o n a - s e b e m c o m as pessoas, m a n t é m h u m o r e s t á v e l ( n e m triste, n e m a l e g r e ). Sua f i s i o n o m i a é m a i s e x p r e s s i v a , os m o v i m e n t o s e a f a l a não t ê m a l e n t i d ã o a n t e r i o r. N ã o a p r e s e n t a q u a l q u e r q u e i x a d e n a t u r e z a física. D i z q u e n ã o c o m p r e e n d e p o r q u e antes d e s e j a v a a m o r t e : " a g o r a n ã o q u e r o m o r r e r d e j e i t o n e n h u m ". É s o c i á v e l , g o s t a

N a s depressões orgânicas, K i e l h o l z e c o l. 1 4 incluem as de o r i g e m senil, ar-

terio-esclerótica, pós-traumática, oligofrênica e epilética; as sintomáticas são

pós-infecciosas, hemodinâmicas, endrócrinas, tóxicas.

D e n t r o da classificação acima, que abarca todas as etiologias e formas

conhecidas de depressão, p o d e m excluir-se, para análise do diagnóstico diferen-

cial e m relação aos casos apresentados, as depressões orgânicas de outra etio-

logia a l é m da epilética, as sintomáticas, as esquizofrênicas, as cíclicas, as tar-

dias ( o u i n v o l u t i v a s ) e as depressões por esgotamento. R e s t a m , para comparar,

as formas periódicas, neuróticas e reativas. A s formas periódicas correspondem

às depressões endógenas monopolares da psicose m a n í a c o - d e p r e s s i v a 1 4.

O quadro clínico das depressões periódicas 2 > 5 > 1 9 , t e m início insidioso ou

sub-agudo. O começo é muitas vezes mascarado por u m estado de ansiedade ou

por queixas somáticas que se t r a n s f o r m a m e m centro da atenção do paciente.

O a g r a v a m e n t o da sintomatologia é lento, p o r é m p r o g r e s s i v o. D e u m estado

de indiferença que pode o c o r r e r nas primeiras fases, o paciente passa a uma

situação de tristeza profunda, com choro freqüente, sentimento de impotência,

atividade m e n t a l diminuída, dificuldade para desempenhar as tarefas diárias.

Torna-se pessimista, preocupado e m excesso c o m sua própria saúde e dos fa-

miliares, t e m insônia, inapetência, e m a g r e c e e interpreta seu estado como

prova de que padece de u m m a l g r a v e. O impulso ao suicídio é quase uma cons-

t a n t e e é o mais perigoso dos sintomas, pois freqüentemente se concretiza.

C o s t u m a m o c o r r e r idéias delirantes de auto-acusação e de ruína. Falsas inter-

pretações e ilusões são freqüentes, sendo mais raras as alucinações. Costuma

h a v e r oscilação no r i t m o circadiano do quadro clínico, c o m a g r a v a m e n t o pela

manhã e melhora vespertina A influência heredológica é admitida sem res-

trições. É t a m b é m aceito que a causa básica dessa f o r m a de depressão endó-

gena é uma a l t e r a ç ã o metabólica, sobretudo na f o r m a ç ã o de catecolaminas e

de mono-amino-oxidases. O t r a t a m e n t o de escolha são as drogas anti-depressi-

vas e a convulsoterapia pelo eletrochoque.

A depressão reativa, segundo M a y e r Gross e c o l - 1 9 , e A l o n s o - F e r n a n d e z 2 ,

instala-se rapidamente e está sempre relacionada a u m t r a u m a emocional de-

sencadeante, que se transforma no núcleo das preocupações do p a c i e n t e : a mor-

te de u m ente querido, rutura de uma l i g a ç ã o amorosa, deblacle financeiro, por

e x e m p l o A depressão pode ser t ã o intensa que leva ao suicídio. Incide e m pes-

soas de personalidade lábil, pessimistas e c o m alternância de humor. A sinto-

m a t o l o g i a na depressão reativa, segundo M a y e r Gross e c o l. 1 9 , é apenas quan-

t i t a t i v a m e n t e diferente dos episódios compreensíveis de depressão que o c o r r e m

no indivíduo normal. A m a i o r intensidade na resposta emocional se explicaria

por uma predisposição congênita, de o r i g e m genética. Os estímulos para distrair

o paciente e a mudança de ambiente c o s t u m a m ser benéficos, o que não ocorre

nas depressões endógenas. O t r a t a m e n t o mais indicado é o psicoterápico. A n t i -

-depressivos, t a m b é m são úteis nesta f o r m a de depressão, segundo C a r v a l h o 6.

A f o r m a de depressão neurótica não é aceita por todos os autores. E y e

c o l. 9 a usam c o m o sinônimo de depressão reativa, posição adotada t a m b é m por

L e m e L o p e s 1 5. K i e l h o l z e c o l. 1 4 , atribuem a depressão neurótica à existên-

cia de um conflito psíquico reprimido e encapsulado, relacionado à v i v ê n c i a de

perda do objeto amado. C a r v a l h o 6 defende a separação entre depressão r e a t i v a

e neurótica, uma v e z que nesta o fator causai só pode ser conhecido a t r a v é s

da análise dinâmica do paciente. V a l l e j o - N a j e r a 2 1 considera a depressão neu-

rótica uma f o r m a cronificada de depressão r e a t i v a ou então a cristalização de

uma f o r m a endógena; o tema da depressão j á não guarda relação c o m o f a t o r

t r a u m á t i c o desencadeante, continuando a reação depressiva quando a causa dei-

xou de atuar A sintomatologia seria semelhante à da f o r m a reativa.

P e l o que foi exposto conclui-se que os quadros clínicos de depressão per-

manente c o m o t a m b é m os de depressão periódica aqui descritos t e m caracte-

rísticas bastante diferentes do que identifica as depressões periódicas endógenas,

permitindo afastar esta possibilidade diagnostica.

R e s t a m as hipóteses de depressão r e a t i v a e neurótica.

N o caso 3 a sintomatologia surgiu sem relação aparente c o m qualquer

problema emocional, o que elimina o diagnóstico de depressão reativa. O qua-

dro das depressões neuróticas não está ainda suficientemente elucidado ( a t é

m e s m o sua existência é discutida) e não se pode a f i r m a r que não se ajustaria

ao apresentado pela paciente. Tratando-se, porém, de sintomatologia ligada à

existência de conflitos inconscientes, seu desaparecimento deveria o c o r r e r m e -

diante psicoterapia ou pelo menos através de um t r a t a m e n t o clínico e não es-

pontaneamente, durante uma gravidez. P o r outro lado, admitindo-se a etiologia

epilética para o quadro, a remissão dos sintomas fica perfeitamente explicada,

pois, c o m o a f i r m a m Marchand e A j u r i a g u e r r a 1 8 , e C h a v a n y 7 , a g r a v i d e z pode

ser agravante, p o r é m c o m mais freqüência t e m efeito suspensivo sobre as m a -

nifestações epiléticas. Aceitando-se, porém, como e m último recurso de ar-

gumentação, que a gravidez atuou sobre a dinâmica da paciente, solucionando

conflitos neuróticos e determinando a melhora, não haveria c o m o explicar o

ressurgimento dos sintomas, desta v e z sob a f o r m a de depressão episódica,

p o r é m absolutamente semelhantes ao quadro permanente c o m o t r a t a m e n t o

convulsivante pelo eletrochoque, a ineficácia das drogas antidepressivas, dos

ansiolíticos e da psicoterapia e o desaparecimento dos episódios depressivos c o m

uso exclusivo de medicamentos antiepiléticos é o a r g u m e n t o final que p e r m i t e

a f i r m a r que as duas formas de depressão tinham, nessa paciente, a m e s m a

etiologia epilética.

N o caso 4, aparentemente a depressão foi provocada por u m estado de

"stress" emocional. Deve-se lembrar, porém, que outras circunstâncias poderiam

t e r tido ação desencadeante: a paciente levantou-se atrasada, arrumou-se apres-

sadamente, não se alimentou e subiu, correndo, u m m o r r o que devia atravessar

para chegar ao local de trabalho; é de admitir-se que a u m estado p r é v i o de

tensão emocional e de hipoglicemia, somou-se u m grande esforço físico e hipó-

xia cerebral. T o d o s esses fatores sabidamente concorrem para a g r a v a r sinto-

mas epiléticos ou para desencadear focos latentes, c o m o assinalam L e n n o x 1 6 e

C h a v a n y 7. C o n v é m l e m b r a r t a m b é m que a atitude do pai era habitual, não

podendo ser interpretada como causadora de u m t r a u m a emocional. N ã o se

justifica, por ese m o t i v o , supor que a paciente tenha apresentado u m a depres-

P o r analogia c o m a nomenclatura proposta por Grecu e K a l m a n 1 2 , de

"depressão t e m p o r a l episódica" para a depressão periódica de etiologia epilética,

parece adequado utilizar, na f o r m a duradoura, a denominação de "depressão

t e m p o r a l permanente".

C O N C L U S Õ E S

1. A casuística estudada neste trabalho indica que, a l é m das formas conhe-

cidas de depressão epilética — pré-crítica, crítica, pós-crítica e inter-crítica

— existe uma f o r m a duradoura de depressão, t a m b é m de o r i g e m epilética.

2. C o m o nas demais formas de depressão epilética, os resultados eletrencefa¬

lográficos m o s t r a m relação topográfica da f o r m a permanente c o m disrit¬

mia do lobo temporal.

3. Baseada nas características do quadro e por analogia c o m a denominação

"depressão t e m p o r a l episódica" para a depressão periódica epilética, pro-

põe-se a expressão "depressão t e m p o r a l p e r m a n e n t e " para a f o r m a dura-

doura.

4. A análise fenomenológica da casuística sugere a possibilidade de que a de-

pressão epilética — episódica ou permanente — tenha características que

p e r m i t i r i a m distingui-la de outras formas de depressão. Esta hipótese só

poderá se confirmar mediante o estudo de número m a i o r de casos.

R E S U M O

A p ó s revisão bibliográfica a respeito da depressão de o r i g e m epilética, a

autora conclui que são citadas as formas pré-ictal, ictal, pós-ictal e inter-ictal.

E s t a última, denominada por Grecu e K a l m a n "depressão t e m p o r a l episódica",

é descrita como tendo duração de horas, dias ou semanas. N o presente trabalho

são analisados 2 casos c o m depressão episódica, 1 c o m depressão duradoura ( 3

anos) e posteriormente episódica, e um outro c o m depressão duradoura (

a n o s ). O estudo clínico c o m p a r a t i v o dos 4 casos, o resultado eletrencefalo¬

g r á f i c o e a resposta ao t r a t a m e n t o antiepilético p e r m i t e m concluir que tanto

as manifestações episódicas como as duradouras tinham etiologia epilética, sen-

do a disritmia localizada na área temporal. Baseada no estudo fenomenológico

dos casos, a autora admite a hipótese de que as depressões epiléticas tenham

quadro clínico característico que p e r m i t e distingui-las das depressões de outra

etiologia e sugere para as formas duradouras a denominação "depressão tem-

poral permanente".

S U M M A R Y

Permanent depression and temporal lobe epilepsy

M a k i n g a bibliographic r e v i e w about epileptic depression, the A u t h o r found

t h a t ictal, pre, post-ictal and inter-ictal forms are described. T h e last one,

n a m e d b y Grecu and K a l m a n "Episodic temporal depression", is accepted as

R E F E R E N C I A S

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lasting f o r hours, days o r w e e k s. T h e present w o r k analyses t w o patients w i t h episodic depression, o n e w i t h p e r m a n e n t ( 3 y e a r s ) and l a t e r episodic f o r m and a n o t h e r o n e w i t h p e r m a n e n t depression o n l y (13 y e a r s ). T h e c o m p a r a t i v e study o f the 4 patients, t h e E E G results and t h e e f f e c t o f a n t i e p i l e p t i c t r e a t m e n t p e r m i s e t o conclude t h a t e v e n t h e episodic and the p e r m a n e n t depression w e r e of epileptic e t i o l o g y , w i t h t e m p o r a l lobe localisation. B a s e d on t h e s y m p t o m a - t o l o g y found in the 4 patients, the A u t h o r a d m i t s the hypothesis t h a t t h e epi- leptic depression is c h a r a c t e r i s t i c and t h a t i t should be possible t o distinghish it, clinically, f r o m o t h e r depressions. I t is suggested, f o r this p e r m a n e n t f o r m , the n a m e " p e r m a n e n t t e m p o r a l depression".