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Neste trabalho, douglas kellner aborda o papel da mídia na construção de identidades e na política, com ênfase na mídia norte-americana e na sua influência global. Ele combina análises da produção e da recepção dos textos culturais, revisitando estudos da escola de frankfurt e do birmingham centre for contemporary cultural studies. O autor também discute a importância da resistência e da construção de significados por parte do público, mas alerta para o perigo de fetichismo na ênfase exclusiva dessas perspectivas.
Tipologia: Notas de aula
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Não perca as partes importantes!
KELLNER, Douglas. A cultura da mídia – estudos culturais: identidade e política entre o moderno e o pós-moderno, Bauru, SP, EDUSC, 2001, 454 pp.
Alexandre Busko Valim**
Professor de Ciência Social e Filosofia da Educação da Escola de Educação e Ciências da Informação da University of California (UCLA), Douglas Kellner é tido como um dos mais importantes críticos na área dos estudos culturais da atualidade. Entre seus livros mais recentes estão Grand Theft 2000: Media Spectacle and a Stolen Election; The Postmodern Adventure: Science, Technology, and Cultural Studies at the Third Millenium , co-autoria com Steven Best; Media and Cultural Studies: KeyWorks , co-editado com Gigi Durham; Toward a Critical Theory of Society ; Film, Art and Politics: An Emile de Antonio Reader , co-editado com Dan Streible; Technology, War, and Fascism (traduzido pela editora da UNESP); The Postmodern Turn , co-autoria com Steven Best; Articulating the Global and the Local: Globalization and Cultural Studies , co-editado com Ann Cvetkovich. Neste trabalho, o autor se preocupa com o modo como os textos culturais veiculados pela mídia agem nas lutas políticas e sociais, moldando a vida diária e influenciando comportamentos e construções de identidade. O foco de sua atenção é a mídia norte-americana e sua cultura, mas, devido à grande circulação desta mídia, argumenta que seus estudos devem ser de interesse global e não meramente regional. Para Kellner, o papel da imagem, da moda, da música popular na construção da identidade é muitas vezes moldado por visões fictícias de uma sociedade cada vez mais dominada pela mídia e pela informação. Nestes textos, estão presentes mecanismos de indução, que levam as pessoas a se identificar com certas opiniões,
atitudes, sentimentos, etc. Por outro lado, em sua avaliação, os indivíduos podem acatar ou rejeitar estes discursos na formação de sua identidade, em oposição aos modelos dominantes. Devido à complexidade dos produtos culturais veiculados pela mídia, de acordo com o autor, é necessária uma abordagem crítica ampla e multidimensional, a fim de se analisar satisfatoriamente tais textos. Por conseguinte, sua abordagem combina análise da produção e da economia política dos textos; análise e interpretação textual e análise da recepção por parte do público e de seu uso na cultura da mídia. Nesta discussão, Kellner retoma criticamente alguns estudos elaborados pela Escola de Frankfurt, que analisavam as produções culturais de massa no contexto da produção industrial, em que os produtos da indústria cultural apresentavam as mesmas características dos fabricados em massa, ou seja, transformação em mercadoria, padronização e massificação. Kellner assevera que, apesar de ser importante, no trato de algumas características, presentes nos produtos culturais, este modelo tem sérias deficiências. Por esta razão, seu trabalho é fundamentado não somente nestes estudos, mas também nos desenvolvidos através do Birmingham Centre for Contemporary Cultural Studies , dentre eles, alguns de Raymond Williams, Richard Johnson e Stuart Hall. Trabalhos elaborados sob a influência deste Centro, nas décadas de 1950 e 1960, utilizavam principalmente o modelo gramsciano de hegemonia e contra- hegemonia, mas, por enfatizarem demasiadamente as formas de recepção, também apresentariam certos limites. Um dos conceitos que o autor emprega é o de articulação, cunhado por Stuart Hall, que indica o modo como vários componentes sociais se organizam na produção de um texto, demonstrando a importância da análise das relações e das instituições sociais, nas quais os textos são produzidos e consumidos. A intenção de Hall era equilibrar a balança entre o dominante e o opositor, superando a divisão entre a “teoria da manipulação”, que vê na cultura e na sociedade meios de dominação dos indivíduos, e a “teoria populista da resistência”, que enfatiza o poder que os indivíduos têm de resistir à cultura dominante e lutar contra ela. Próximo de algumas proposições de Michael de Certeau, o autor pondera que os indivíduos podem produzir seus próprios significados com os textos veiculados pela mídia, até porque a hegemonia é negociada, renegociada e vulnerável a ataques e à subversão, em uma relação em que a própria mídia, contraditoriamente, oferece recursos que os indivíduos podem acatar ou rejeitar na formação de suas identidades, em oposição aos modelos dominantes. No entanto, a exemplo de outros autores, como Roger Chartier, Kellner aponta para o perigo de fetichismo na ênfase da importância da resistência ou da recepção e da construção de significados por parte do público. Por este motivo, o modelo crítico ideal estaria no meio termo entre estas duas posições, ou seja, reconhecer a força da emissão, mas também uma certa liberdade na recepção.
inovações trazidas pelas teorias pós-modernas de Michel Foucault, Jean Baudrillard e Fredric Jameson, dentre outros. Para o autor, embora uma parte da teoria pós-moderna elucide certas características novas e mais evidentes de nossa cultura e de nossa sociedade, a afirmação de que há uma ruptura pós-moderna na sociedade e na história é exagerada. Ao construir uma teoria social para o estudo da cultura da mídia contemporânea, combina recursos propiciados pelas teorias modernas com algumas perspectivas pós-modernas, constituindo, segundo ele, o instrumental mais útil para se fazer teoria social e crítica cultural na atualidade. Ao lidar com manifestações em torno do termo “pós-moderno”, que, em função do uso impreciso e confuso, produziu mais incerteza que clareza, Kellner se preocupa com a teoria e com o discurso, mostrando como a pós-modernidade é, por um lado, uma simples batalha por capital cultural e, por outro, uma tentativa de descrever adequadamente mudanças que a modernidade explicaria de modo insuficiente. Grosso modo, segundo o autor, é possível identificar duas grandes visões pós-modernas, uma formalista e anti-hermenêutica, preocupada em descrever as superfícies ou as formas dos textos culturais, e outra, preocupada em analisar a imagem e o significado, a superfície e a profundidade. Para Kellner, é preciso analisar em um dado texto o que há de superficial e o que há de problemáticas ideológicas mais profundas, como faz, por exemplo, no exame da série Miami Vice. Nesta perspectiva, a artificialidade da identidade é uma questão de escolha, estilo e comportamento, que pode ser construída através da aparência, da imagem e do consumo, como, por exemplo, através do fenômeno Madonna, ao passo que a identidade moderna giraria em torno de escolhas profissionais e da função na esfera pública ou familiar. Portanto, segundo o autor, a identidade pós-moderna, por tender a ser construída a partir de imagens de lazer e consumo, é mais instável e sujeita a mudanças do que as identidades modernas. Ao trabalhar com teoria e cultura pós-modernas e ficção cyberpunk, afirma que os textos pós-modernos de Jean Baudrillard e os cyberpunk de William Gibson, por serem produtos do mesmo contexto, servem para mapear e elucidar o ambiente high-tech. Em sua concepção, tais textos são teorias sociais que podem ser utilizadas segundo o grau de contribuição para a teorização e a elucidação das tendências, dos fenômenos e das experiências atuais, ou criticadas, desde que mitifiquem, ignorem ou distorçam as realidades sociais contemporâneas. Portanto, até a antiteoria de Baudrillard pode ser uma forma de visão e mapeamento teórico, porém menos útil do que os textos de Gibson para o desenvolvimento das análises e da compreensão das sociedades contemporâneas. Por fim, sentimos falta de algumas de suas proposições em suas análises, em razão de talvez utilizar uma proposta teórica demasiadamente ampla. No estudo dos filmes Platoon e Poltergeist , por exemplo, e Ases indomáveis (Top Gun) , em menor medida, parece faltar uma abordagem mais consistente das formas de recepção, que, por sua vez, é farta na análise da série Rambo, da música rap, da série Beavis and
Butt-Head e, principalmente, no exame do papel da mídia na guerra contra o Iraque, no início da década de 1990, discussão que, ressaltamos, encerra uma incômoda atualidade. No entanto, gostaríamos de salientar que, por tratar-se de um considerável estudo teórico, tais lacunas não diminuem sua relevância, pois o livro, no todo, evidencia a importância de seu trabalho e a necessidade de tradução de outros textos de sua autoria.
É provável que Kellner estivesse ciente destas deficiências, posto que indica, por diversas vezes, ao longo do livro, que suas análises devem ser lidas em conjunto com textos que publicara anteriormente, como, por exemplo, Critical Theory, Marxism and Modernity; From Marxism to Postmodernism and Beyond: Critical Studies of Jean Baudrillard; Television and the Crisis of Democracy; The Persian Gulf TV War; Camera Politica: The Politics and Ideology of Contemporary Hollywood Film, co-autoria com Michael Ryan.
Concluindo, em sua avaliação, negligenciar a economia política, festejar o público e os prazeres do popular, deixando de lado questões de classe e ideologia e não analisar ou criticar a política dos textos culturais são maneiras de transformar os estudos culturais em apenas mais uma subdivisão acadêmica inofensiva. Por este motivo, sua constante preocupação em contribuir para que as pessoas entendam melhor e sejam capazes de discernir as mensagens, os valores e as ideologias, presentes na cultura veiculada pela mídia, nos parece bastante louvável, pois promove um questionamento mais geral da organização da sociedade, favorecendo a participação política e contribuindo para transformações sociais.