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JERUSA PIRES FERREIRA Cultura é memoria O PENSADOR DE TÁRIU Em novembro de 1993, foi sepultado em Moscou um dos mais importantes pensadores JERUSA PIRES das ciências sociais deste século, aquele que levou a pequena cidade de Tártu, na Estônia, FERREIRA é professora E E É Ei da ECA-USP e da PUC- onde vivia, a ser cogitada como espécie de Meca do pensamento semiótico, da reflexão sp, É autora de, entre renovadora sobre comunicação, arte, sociedade. outros, Armadilhas da Os jornais italianos que noticiaram e comentaram o fato destacaram a notícia e presta- es SE ram comovidas homenagens a Lotman e, no suplemento de cultura de La Repubblica (1) São Cipriano (29/10/93). ocupando uma página inteira, lê-se, sob título “ Aquele Homem Formal":“Iúri (Perspectiva). Mikháilovich Lotman que, à primeira vista, parecia com as velhas fotos de Einstein, devia dar-se conta disso. Só que havia uma diferença. Em vez de ser um gênio da física o era das Ciências Humanas, e para ser mais preciso, da Semiótica”. Nesse tom, dá-se conta do seu falecimento depois de prolongada enfermidade, aos setenta e um anos, do mesmo modo que é referido o fundamental rigor com que ele desenvolveu seus modelos interpretativos e, como semioticista, apoiou-se num terreno histórico, filológico, textual, no qual mantinha hocufimane ga qo iraspmesdrals: Te icanirnck pernida, Bad potsto pure Done dial nen arpátaade qu (o Seda Dem ado mamas iso cuaipydoren inté gugesso qviastuandáie stlse ssedlugo ro — Megas Entries à bebes Seia lbvio ia arorçe) | Ttisqriolilecaris tio saturemmpdau erperemedomontr ido Tinta É morovemoscentecennrtuserdos ntiniõeo dn fisitquolu suber E Sabia, caigaçdos pel psdes iva em pssapsa nro; dis mi arDana do Ema sódio: é — meveba prireipeiiiedandaes, mprobiclar cemoB pes: ip úlisenter qual quem que iosserafdi mec: - eee ndo! qui pune quites, aum) Costi Lar oirirdeseuidas aquele rpg Endudiosasdahi À a secracdoga sesta lmss ceslesaso afiado pre esa pião rd o eo “O RDENEN DETITA MU pgizas she pontóicormal tias ágri ráskaa revisa Sisonaérioas 1111) sBsequudenca [jo Sha Lois lsmlasici Dpemiét Goo egratóçh: ini sonp ori muabmi cit Fé ms reithsx mgexatas) Somibetse dectizaoonime:rmo Sem: pre, Hilda Pessanha bee pa dipete uia qr Rise henesdá resmas aii tei graca Das Sfissira lêjguntdo, de Lind, ni-qameiiA prgonimesis:|Loissanão o mecanismo complexo e dúctil da consci- ência e que o âmbito da cultura é o teatro de uma batalha ininterrupta de tênues desencontros e conflitos de toda ordem, lu- tando-se pelo monopólio da informação. E aí nos diz que definir a essência da cultura como informação significa colocar o proble- ma relacional entre a cultura e as categorias fundamentais de sua transmissão e conser- vação, e as noções de língua e texto. O seu conceito de texto cultural, muito difundido e ao mesmo incorporado na linguagem uni- versitária, fala da cultura como um sistema de signos que organiza de um modo não de outro as informações recebidas. Assim, que ela não se contrapõe à natura mas à não- cultura, âqueles conjuntos cujos pressupos- tos de organização experimentam uma ou- tra ordem, ou seja, a desordem. A cultura é um feixe desistemas semióticos (linguagens) formalizados historicamente e que pode assumir a forma de uma hierarquia ou de uma simbiose de sistemas autônomos. Traduzir um certo setor da realidade em linguagem, transformá-la num texto, isto é, numa informação codificada de um certo modo, introduzir esta informação namemó- ria coletiva é para ele um ponto fundamen- tal. Num crescendo, vai nos mostrando que cultura é informação, codificação, transmis- são, memória, e conclui, de forma a não deixar lapsos: somente aquilo que foi tradu- zido num sistema de signos pode vir a ser patrimônio da memória. Neste sentido foi muito importante a publicação no Brasil de dois dos textos de Lotman em Semiótica Russa (6) - “Sobre o Problema de Tipologia da Cultura” e “So- bre Algumas Dificuldades de Princípio na Descrição Estrutural de um Texto”, no pri- meiro, nos é passada, com bastante clareza, a noção fundamental de códigos principais e secundários que permanecem e se reite- ram nacriação denovos textos. Aliás, essa é, de certo modo, a base de uma avaliação do sistema adaptativo que venho fazendo no universo da literatura oral, quando compa- ro a passagem de matrizes impressas às cri- ações orais. Lotman nos passa importan- tes tomadas, rumo à percepção, e sedimenta seu conceito de texto único, ao referir-se ao grande texto oral e popular: “ Antes de mais nada é preciso notar que qualquer texto cultural pode ser examina- do tanto como uma espécie de texto único com um código único, quanto um conjun- to de textos com determinados conjuntos de códigos correspondentes”, ele nos diz. CULTURA E MEMÓRIA OU CULTURA É MEMÓRIA Lotman afirma que a cultura, em essên- cia, se dirige contra o esquecimento. Seu pensamento parece estar muitas vezes par- tindo de uma dialética, que aliás tem preo- cupado muitos pensadores da Cultura e da Arte: a memória e sua contrapartida, o es- quecimento (7). Entram em consideração os barradores, os clementos que propiciam a lembrança, os vários tipos de lembrança, as estratégias e os impasses que geram o esquecimento. Assim, Freud, Lacan, Lévi- Strauss, Vernant, Zumihor, cada um a seu modo, trouxeram importantes contribui- ções. Recentemente foi realizado em paris um seminário, “Políticas do Esquecimen- to”, em que Paul Zumithor, num rico texto, consegue recuperar algumas importantes formulações de Lotmane Uspênski, perqui- rindo os mecanismos de seleção ou rejeição dasinformações, no grande texto da memó- ria de um grupo. O próprio Paul Zumthor nos fala de uma energia imemoriale se apro- xima bastante de Lotman, ao seguir os mo- dos pelos quais a comunidade expulsa os elementos indesejáveis e, mais claramente, ele nos lembra que os dois semioticistas, esboçando os princípios de uma tipologia da cultura, enfatizam de que modo o esque- cimento éum mecanismo explorado por uma instituição hegemônica, tendo em vista ex- cluir da tradição os clementos indesejáveis da memória coletiva. E é interessante ver como aí o esquecimento pode se transfor- mar num mecanismo de memória, pois “uma cultura concebe-se a si própria como exis- tente, identificando-se com as normas cons- tantes da própria memória", sendo que eles constatam e nos passam a noção de que a continuidade da memória c a da existência nesse caso coincidem. Ao observar as trans- formações sociais e ao discorrer sobre os mecanismos semióticos da cultura, fala-nos, por exemplo, Iúri Lotman, da decidida ele- vação de semioticidade do comportamen- to, oque se pode seguir na transformação de nomes, marcas, etc., mostrando que a luta contra velhos rituais poderá assumir um caráter duplamente ritualizado e Revista USP, São Paulo (24): 1149-120, dezembro!fevereiro 1994195 7 Em Armadilhas da Memória (Salvador, Casa de Jorge Amado, 1901) me ocupo do tema 4 oleraço alguma docu- mantação sobre o assunto. nz nidade à memória extremamente individu- alizada de uma pessoa particular pode ser comparada à relação discurso oficial/discur- so íntimo. Otemade queme ocupoagora,odapres- seja a captação de representações visuais na oralidade, tem em Lotman seu apoio, na medida em que ele organiza os princípios de uma “retórica icônica”. A transformação do mundo dos objetos em mundo dos signos funda-se, dizele, na pressuposição ontológica dequeé possível fazer réplicas: que a imagem refletida de uma coisa recorta-se de suas as- sociações práticas (espaço, contexto, inten- ru Belo tagics de mpuidtrtaa, gelgrito eulzeultas: pusetgce dem date o Elst (UA qa doa srta ga ah - Eudgca iindincd ips audoratas tsantão à tm E score am aaa quer gordo padiançes segunda parte é aquela que ele denomina-a 21: ppp ie jr 1 o Fa bras Ima tt rem ema jueutd “q ad, rqaes* penráliorranados =: ot bigassiinóce, - Mempaçho que enter des leriegoDas evo “Eros q qudiaçães ao pritopio prtodrabal “umergão ibidogirfigam ma OSiesaa ii) bia ma distância semântica, concluindo que quanto maior for esta distância mais alto o índice energético do texto. Universeofthe Mind (9) éumlivroprovo- cante, inteligente e, sintomaticamente, se divide em três partes. Na primeira, procura entender os textos culturais em seus meca- nismos narrativos como “gêneros”, aprofundando noções para o entendimento dos modos de ser da comunicação. Particu- larmente inovadora é a reflexão sobre o diá- logo, que discute os processos de autocomunicação, o diálogo intemo, mola da linguagem dialogada e da própria criação. A Eneboêao mo nero mio! puto ser calizennin Ina dio jaitdlias És dfres tosa veses (ÃOs nar sr teses espec Tdehpo mts papá temps Ler Bsbico ait. dojr Sist EMIREÉpES. TRE Dt TEM jornO gato tity raca d Lad os gnt O Quad se] e Lotoma armeiro SEstgu ais infor Almsines seem do asa ro louco. fix irimare juri, "RBceeris E asa TENS Abuiçadso: comsemica, do fast a obecrungicesaoa placio) Vrum esa irei a Le] dv sa ones ierie my felgeo = ia vm sat INgRaS LI COMNAS, ai ae ipeoe