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Um estudo sobre os enunciados produzidos e compartilhados na rede social facebook, com ênfase na análise de hashtags e sua importância na construção de sentido. O autor examina como as redes sociais digitais permitem a facilidade de conectar ideias e pessoas interessadas em temáticas específicas, e como as narrativas construídas naquela plataforma podem ser privadas e publicizadas, permitindo a reformulação rápida e frequente dos enunciados. O documento também discute a importância de espaços digitais como instrumentos de pesquisa e o desafio de coletar dados naqueles ambientes.
O que você vai aprender
Tipologia: Esquemas
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Dissertação — Mestrado
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagens (PPGEL), da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Campus de Curitiba, para obtenção do Grau de Mestre em Letras. Orientadora: Profa. Dra. Rossana Finau
A Dissertação de Mestrado intitulada A ressignificação das hashtags no Facebook: análise da organização das enunciações, defendida em sessão pública pela candidata Ana Luiza Cordeiro , no dia 07 de março de 2019, foi julgada para a obtenção do título de Mestre em Estudos de Linguagens, área de concentração Linguagem e Tecnologia, e aprovada, em sua forma final, pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagens.
BANCA EXAMINADORA:
Prof.ª Dr.ª Rossana Aparecida Finau Prof.ª Dr.ª Gesualda de Lourdes dos Santos Rasia – presidente – – PPGEL/UTFPR membro avaliador – UFPR Prof.ª Dr.ª Paula Ávila Nunes – membro avaliador – PPGEL/UTFPR
A via original deste documento encontra-se arquivada na Secretaria do Programa, contendo a assinatura da Coordenação após a entrega da versão corrigida do trabalho.
Curitiba, 08 de março de 2019.
Carimbo e Assinatura do(a) Coordenador(a) do Programa
O caminho de construção deste trabalho, da primeira à última linha, foi muito semelhante à minha consciência de ser mulher. Tanto a apreensão da teoria necessária para fundamentar esta dissertação quanto a aquisição de senso crítico para confrontar a realidade machista foram processos de compor uma malha complexa e delicada. Assim como a pesquisa linguística, o feminismo foi um tecer e desfazer de nós constante. Muitas vezes — na visão crítica feminista e na dissertação — tive que desmanchar inúmeros pontos e não refazê-los, mas trocar as linhas, as agulhas, porém, mantendo as mãos que tecia. Assim, agradeço à minha orientadora, Rossana, que possibilitou e conduziu uma jornalista aos caminhos da linguística, que me deu a liberdade e o norteamento adequados para que este todo pudesse ser concretizado, mas sem que ele se perdesse ou afastasse do que eu sou. Agradeço às mulheres que me acompanharam no percurso — do mestrado e da vida. Àquelas que me apoiaram, abraçaram, choraram e sorriram junto a mim. Às que deram a dupla honraria de amar e me sentir amada. Não há nada mais transgressor do que mulheres que se fortalecem, que se amam. Nem tanto como um agradecimento, mas sim um sentimento de gratidão ao que estou e ao que fui entre cada linha escrita — não como alguém satisfeita, mas alguém que sabe que foi o que melhor pode ser. Do mesmo modo que ocorreu neste trabalho, fui e sou um processo de construção e reconstrução. Desfiz-me uma centena de vezes para me refazer — processo esse que nem sempre é calmo e, geralmente, não o é. Agradeço às mulheres que, sem saber, produziram os enunciados e oportunizaram as análises. E também às que resistem, que escrevem, que lutam, que estudam, que vencem todos os dias as intempéries de existir como mulher. Às Simones, Fridas, Marielles. Às mães, esposas, namoradas, filhas. Às professoras, donas de casa, presidentas. Às rebeldes, transgressoras. Às lésbicas, bissexuais, mães solteiras, vadias. A todas que resistem e, apenas por existir, confrontam a violência.
Estamos aqui para trazer narrativas de incômodo mesmo.
- Audre Lorde
CORDEIRO, Ana Luiza. A ressignificação das hashtags no Facebook: análise da organização das enunciações. 2019, 168.f. Dissertação – Programa de PósGraduação em Estudos de Linguagens, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2019 Partindo das noções de que os enunciados produzidos e manifestados nunca são neutros ou despretensiosos, pois carregam intrinsecamente uma ordem de convencimento e argumentação, lança-se um olhar atento para diversas modalidades que emergem e se manifestam na rede social digital Facebook, constituindo e remodelando as linguagens e produções de sentido. Este trabalho visa, portanto, analisar as organizações argumentativas que sustentam os enunciados vinculados à #MeuAmigoSecreto no Facebook, postadas em novembro de 2015, identificando as características referentes à argumentação sobre aspectos de machismo e violência, intuídos pela hashtag , pela utilização da ferramenta de análise linguística LinguaKit e da teoria da Argumentação, resultando em dados sobre as formas como os indivíduos concebem e privilegiam as organizações linguísticas para produzir sentido. Para isso, são recorridos autores que articulam as noções tecnológicas e do ciberespaço, como Lévy (2009), Lemos (2002) e Xavier (2013), além dos que trabalham questões de linguística e argumentação, como Koch (2011), Castilho (2010) e, sobretudo, Fiorin (2016). Após a conceituação teórica, o presente trabalho se propõe a analisar 49 enunciados vinculados à hashtag #MeuAmigoSecreto, coletados do Facebook, de modo quantitativo e qualitativo, compondo uma metodologia pela netnografia. Por fim, cumpridos os percursos propostos, os resultados esboçam como a mobilização linguística e argumentativa convergem na rede social para produzir sentido e, dentro da temática vinculada, apontar e combater o machismo e a violência à mulher.
Palavras-chave : Argumentação. Enunciação. Facebook. Hashtag s. Cibercultura.
CORDEIRO, Ana Luiza. A ressignificação das hashtags no Facebook: análise da organização das enunciações. 2019, 168.f. Dissertação – Programa de PósGraduação em Estudos de Linguagens, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2019
From the notions that the statements produced and manifested are never neutral, since they have an order of persuasion and argumentation, one observes the different modalities that are emerged in the Facebook network, constituting and changing the languages and productions of meaning. This paper aims to analyze the argumentative organizations that support the statements linked to the #MeuAmigoSecreto on Facebook, posted in November 2015, identifying the characteristics referring to the arguments about aspects of machismo and violence through the use of LinguaKit linguistic analysis tool and Theory of Argumentation, resulting in data on the ways in which individuals conceive and privilege language organizations to produce sense. For this, authors that discuss technology and cyberspace, such as Lévy (2009), Lemos (2002) and Xavier (2013), are used, as well as those who work on linguistic and argumentative issues, such as Koch (2010), Castilho (2011) and Fiorin (2016). After the theoretical conceptualization, the present work aims to analyze 49 statements related to the hashtag #MeuAmigoSecreto, in a quantitative and qualitative way, through netnography. Finally, following the proposed pathways, the results outline how the linguistic and argumentative mobilization converge in the social network to produce meaning and, within the linked theme, to point out and combat machismo and violence against women.
Key-words : Argumentation. Enunciation. Facebook. Hashtag s. Cyberculture.
dos usuários, operam como indexador de conteúdo e veiculador informacional, atuando na esfera individual, social, subjetiva, marcando o percurso histórico e social das redes sociais devido às atribuições de vivências dos usuários. Nesse sentido, o presente trabalho dedica-se a analisar como se organizam os enunciados publicados no Facebook vinculados à hashtag #MeuAmigoSecreto, que começou a circular em novembro de 2015, incentivando a denúncia de casos de machismo e violência à mulher. O presente trabalho abrange a esfera dos estudos linguísticos e, portanto, dá enfoque à morfossintaxe e à organização dos enunciados. Mas a temática e o contexto que promovem a produção de relatos sobre a violência à mulher suscitam uma observação que não se restringe às formas de conceber os enunciados, nem às frequências de termos e elementos – ainda que essas sejam análises essenciais que serão desenvolvidas no capítulo 4. Para tanto, visando suprir, ainda que sem a pretensão ou intenção de abarcar toda a capacidade de profundidade do corpus, são tecidas observações quanto às táticas argumentativas desenvolvidas pelas enunciadoras^2. Sabendo que os enunciados são sempre argumentativos (FIORIN, 2016; KOCH, 2011), visando convencer, cooptar ou persuadir o interlocutor, será observada a disposição e mobilização dos elementos linguísticos e as táticas argumentativas empregadas a fim de produzir sentido. O aporte teórico do primeiro capítulo se dá com a elucidação das teorias de hiperconexão, de Levy (1998; 2011), e as implicações da cibercultura, de Lemos (2002) e Xavier (2013) em que são trazidos aspectos sobre a internet e a esfera social, bem como os possíveis rumos tecnológicos que se desdobram com a, relativa, emergência popular ao contexto da web 2.0. Além disso, Rudiger (2011;
(^2) Uma breve justificativa faz-se necessária quanto ao emprego do termo “usuárias” ao longo deste trabalho. Ainda que a produção de enunciados vinculados à campanha #MeuAmigoSecreto não seja monitorada, delimitada ou restrita às mulheres, optou-se pela generalização no feminino em referência à visibilidade da mulher como integrante da rede e protagonista da campanha. O termo não designa que todos os enunciados relacionados à campanha sejam efetivamente produzidos por mulheres, mas emprega-o com o intuito de legitimar e reforçar a produção de mulheres para mulheres.
esses autores auxiliam na compreensão da rede social Facebook como um ambiente recente, que rompe noções de tempo e espaço, fazendo com que comportamentos e atuações sejam testados, reformulados e experienciados. Mas ainda ressaltam que as redes digitais não se afastam completamente de tecnologias passadas e do meio histórico e social, tornando-as um meio de os usuários atuarem socialmente. Para o segundo capítulo, Koch (2011), Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996;
A presença da tecnologia, por vezes, é reduzida à mera percepção de aparelhos digitais ou redes de acesso online. Porém, o percurso sócio histórico é envolto por mudanças e desenvolvimentos tecnológicos que auxiliaram na interação do homem com a sua realidade, possibilitando a construção e expressão de sua vivência (XAVIER, 2013). Com o objetivo de traçar um caminho até a compreensão da complexa constituição das múltiplas formas de se constituir a linguagem e se expressar como parte do meio social, o presente capítulo tece, ainda que brevemente, as acepções mais relevantes sobre tecnologia, linguagem e sociedade, com maior ênfase aos desdobramentos ocorridos com o advento e ascensão da web 2.0^4 e das redes sociais. Mais do que olhar o ambiente em que essas são exprimidas, é necessário amplificar os saberes, de modo a se evitar um reducionismo, um simplismo referente, sobretudo, às noções de tecnologia, técnica e sociedade^5. Para tanto, este capítulo versa sobre as configurações sociais que auxiliaram e ainda atravessam as modelações dos ambientes digitais, apontando a importância de se observar o percurso histórico e os momentos vigentes para que se possa tomar as enunciações como constructos coletivos e individuais, possibilitados e, também, limitados pelas tecnologias em voga. Assim, a historicidade e um olhar crítico sobre os usos e impactos mais recentes das mudanças tecnosociais , sobretudo da internet, são o ponto-chave deste capítulo.
As múltiplas ferramentas e multimídias proporcionam distintas maneiras de conceber os conhecimentos e as formas de propagar os saberes. Nesse sentido, com a ascensão da internet, a emissão e disseminação da informação se articulam
(^4) Web 2.0 se refere a mudanças ocorridas na internet como plataforma e interface para os usuários. Não há um marco fundante concebendo a transição da Web 1.0 para a Web 2.0, mas uma progressão de interação e melhorias que tornou toda a experiência de navegação mais colaborativa, intuitiva e hiperconectada. Disponível em http://www.oreilly.com/pub/a/web2/archive/what-is-web- 20.html 5 Acessado em 12/10/2017, às 10:28. Ressalta-se que não permeia o presente trabalho a distinção ou discriminação entre técnica e tecnologia, logo que torna-se inconsistente dualizar essas esferas ao pensarmos as redes sociais digitais, visando que ambas se enlaçam e se mesclam compondo a web 2.0.
de maneira cada vez mais ampla e pulverizada (CASTELLS, 2003), logo que a rede digital oportuniza um registro da historicidade social mais democrático, descentralizado e participativo (SHIRKY, 2010). Deve-se pensar com certo recorte os segmentos a que se aplica a democratização do acesso à internet, já que, apesar de alguns autores apontarem a difusão cibernética, beirando a era da epidemia informacional numa tendência ascendente e irreversível, como Lévy (2009) e Lemos (2002), ainda é berrante a parcela populacional que não usufrui de acesso aos aparatos tecnológicos e digitais, chegando a apenas 58% da população brasileira com acesso à internet em 2016^6. Pierry Lévy (2009) lança olhares bastante otimistas quanto à modernização tecnológica na vida dos indivíduos. Numa perspectiva bastante otimista sobre o percurso tecnológico, almejando um futuro não tão distante, o autor ainda projeta suas percepções quanto à conciliação entre o sujeito e as ferramentas digitais para construir espaços menos afastados socialmente, tantos nas prerrogativas de distanciamento entre classes econômicas ou geográficas. Ou seja, para o autor, as barreiras culturais e políticas serão, gradativamente, reduzidas e minimizadas por desenvolvimentos tecnológicos, inclusive permitindo que sejam rompidas as noções de espaço e tempo. A popularização das ferramentas e dispositivos digitais possibilita, aos olhos de Lévy (2009), o avanço tecnológico nas esferas social, política e econômica, tornando os aparatos eletrônicos mais baratos, acessíveis, leves e intuitivos, resultando em uma significativa inserção da população na esfera digital. Contudo, é imprescindível destacar que a maior distribuição e o barateamento de aparelhos tecnológicos esbarram no viés político econômico das desigualdades sociais. Portanto, aproximar a era digital dos indivíduos, no presente sistema, que estampa níveis alarmantes de pobreza e miséria, não garante a inclusão de todas as camadas sociais. Para Castells (2000), a informatização configura um processo irreversível, que impacta nas construções sociais, físicas, atribuições valorativas e nas constituições sociais, podendo alterar as formas de interação e movimentação física e espacial, em que novos fluxos e morfologias da dinâmica social se instauram e “a difusão da lógica das redes modifica substancialmente a operação e as consequências dos processos de produção, experiência, poder e cultura”
(^6) Segundo dados do Portal Brasil, com informações da Agência Brasil. Disponível em http://www.brasil.gov.br/ciencia-e-tecnologia/2016/09/pesquisa-revela-que-mais-de-100-milhoes-de- brasileiros-acessam-a-internet Acessado em 30/09/
novos investimentos e desenvolvimentos tecnológicos está, sobretudo, a aproximação e o estabelecimento de elos sociais (SHIRKY, 2010). Se, para Castells (2003), os grandes inauguradores, modeladores e produtores da internet — ao menos das formas iniciais de usá-la e transformá-la — foram também os primeiros usuários, o meio digital e virtual foi, portanto, moldado e configurado sob a demanda e necessidade técnica, sendo ornamentado pelos conhecimentos de quem possuía interesses bastante específicos, entre eles as linguagens não naturais, como HTML, códigos de programação, sistemas de redes, entre outros. Portanto, para o autor, a cultura da internet foi, pelo menos a princípio, instaurada e disseminada, a partir da realidade comportamental e cultural dos criadores da internet. Para compreender um espaço que começa a tomar forma e moldar-se através de dinâmicas sociais preexistentes, advindas de sujeitos que passam a interagir e coabitar esses espaços, é necessário tomar a internet, mais especificamente a rede social Facebook, como uma modalidade relativamente inaugural nas atribuições de cultura e hábito social, em que a plataforma necessita de alterações nas dinâmicas comunicativas características da web 2.0 — como multimídia e hiperlink —, mas que não é capaz de ser estruturada de modo desacoplado do corpo social. Ou seja, as possibilidades e limitações técnicas não são — e não podem ser — executadas ou usufruídas essencialmente pela funcionalidade mecanicista, sem uma demanda ou interesse social (XAVIER, 2013). Reforçando que as formas de atribuir os sentidos são dadas socialmente, é importante destacar, segundo Fiorin (2016) que a cultura, determinada histórica e geograficamente, define e determina o que tem sentido e o que não tem. A linguagem, portanto, assume uma mútua noção de criar e expressar o indivíduo tanto em esferas individuais (íntimas e privadas) quanto em coletivas (públicas e compartilhadas). Assim, também no Facebook os indivíduos adotam, mobilizam e ressignificam elementos para tecer sua identidade através da linguagem, mas que não necessariamente serão compartilhadas e bem compreendidas por todos os outros falantes, proporcionando, então, um novo espaço que hibridiza as características de gêneros textuais já conhecidos e, em geral, utilizados pelo público, como jornais, bilhetes, diários, remixando-os à novidade da transmutação que o novo ambiente suscita.
Para Lévy (2009), a cibercultura é um neologismo que compreende um conjunto de significações capazes de se desenvolverem por meio de práticas e técnicas de hiperconexão da rede mundial de computadores. Nesse aspecto, abrangendo também as trocas relacionais dos seres que compõem a cibercultura, há as interações humanas, os saberes e cognições estabelecidas nas redes informáticas que tecem uma manifestação constante e de suma importância para sustentar as bases compostas por máquinas e técnicas, mas delineadas e projetadas por e para os homens (XAVIER, 2013). Portanto, não somente instâncias técnicas e jogos algorítmicos compõem os encadeamentos tecnológicos. As demandas, apelos e necessidades sociais se misturam ao desenvolvimento técnico e tecnológico, sendo que se torna cada vez mais indiscernível o ponto em que eles convergem. Ainda que o objetivo do presente trabalho não seja evidenciar — mesmo que fosse possível — o ponto latente em que a pauta ou a realidade da violência à mulher penetrou e se fincou nas redes sociais digitais, é necessário observar que em num dado momento surgiu a possibilidade ou a necessidade de abordar o tema. Diante disso, evidencia-se que as manifestações tecnológicas se vinculam às demandas sociais, misturam-se, agregam-se, reforçando a noção de Xavier (2013) de que a forma e o conteúdo das redes são adaptados conforme as necessidades de quem a usa. Nesse sentido, portanto, o hibridismo tecnológico abandona as salas e laboratórios de informática e adentra, de modos cada vez mais explícitos, o cotidiano social. Agora, há cenários mútuos em que se fala da internet nos jantares e, também, se fala do que ocorre no mundo offline nas redes digitais (SHIRKY, 2010). Constituindo uma realidade envolta por aparelhos digitais personalizáveis e pervasivos^7 , moldada por uma rede de conexão ubíqua já é tangível e vivenciada (LEMOS, 2005) ainda que efetivamente por apenas uma parcela da população, pois essas conectividades são regidas, majoritariamente, por tessituras políticas e econômicas dispares, corroborando para exacerbar as diferenças sociais que vigoram num mundo que pouco progride em questões de direitos básicos de saúde e desenvolvimento. Contudo, em um ritmo lento e envolto pelo manto pesado do
(^7) “Computadores Pervasivos” é referente à ideia de intercomunicação de máquinas e equipamentos através de programação, sistemas ou implantação de microchips. Diretamente ligada à noção de ubiquidade e onipresença da tecnologia, tudo está em constante comunicação. Disponível em http://www.pervasive.dk/ Acessado em 14/10/2017, às 12:22.