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Este documento discute as motivações e impactos de servidores públicos que retomam seus estudos para concorrerem a novas vagas, chamados de concursados-concurseiros, em um contexto contemporâneo marcado por instabilidade, consumo, liquidez e ideologias oriundas de processos de gestão. O documento aborda as mudanças no cenário de preparação para concurso público, a formação de grupos de estudos online e os motivos que levam servidores públicos a continuarem estudando, como a insatisfação com o salário atual e a busca por novas oportunidades.
Tipologia: Notas de estudo
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Não perca as partes importantes!
Dissertação apresentada como requisito para a aprovação no Curso de Mestrado em Administração, do Programa de Mestrado em Administração, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Orientador: Prof. Dr. Leonardo Tonon.
Aos meus familiares e a todos que me apoiam.
“Em nosso país, o veneno do consumismo e todas as suas sequelas não apenas foi instilado pelas forças do mercado, mas o próprio poder público ajudou na sua difusão. Na medida em que era necessário matar no nascedouro toda veleidade da cidadania – incompatível com os objetivos e a prática de um regime autocrático -, era igualmente imperioso acreditar o consumismo como lei permanente da vida”. (SANTOS, 2007, p. 153).
(Djavan e Gabriel - O Pensador) Não vá levar tudo tão a sério Sentindo que dá, deixa correr Se souber confiar no seu critério Nada a temer
Não vá levar tudo tão na boa Brigue para obter o melhor Se errar por amor Deus abençoa Seja você
No que sua crença vacilou A flor da dúvida se abriu Vou ler a carta que o Biel mandou pra você, lá do Brasil:
Eles me disseram tanta asneira, disseram só besteira feito todo mundo diz. Eles me disseram que a coleira e um prato de ração era tudo o que um cão sempre quis. Eles me trouxeram a ratoeira com um queijo de primeira que me... que me pegou pelo nariz. Me deram uma gaiola como casa, amarraram minhas asas e disseram para eu ser feliz. Mas como eu posso ser feliz num poleiro? Como eu posso ser feliz sem pular? Mas como eu posso ser feliz num viveiro, se ninguém pode ser feliz sem voar? Ah, segurei o meu pranto para transformar em canto E para meu espanto minha voz desfez os nós que me apertavam tanto E já sem a corda no pescoço, sem as grades na janela e sem o peso das algemas na mão Eu encontrei a chave dessa cela devorei o meu problema e engoli a solução. Ah, se todo o mundo pudesse saber como é fácil viver fora dessa prisão E descobrisse que a tristeza tem fim e a felicidade pode ser simples como um aperto de mão.
Entendeu?
É esse o vírus que eu sugiro que você contraia Na procura pela cura da loucura quem tiver cabeça dura vai morrer na praia.
aqui escrevo, a atual) deu-se em um órgão do executivo distrital, com remuneração consideravelmente melhor. Abandonei o status de trabalhar em um órgão federal, com melhor infraestrutura e visibilidade nacional, em troca desse salário melhor. No primeiro mês em exercício recusei mais uma posse: um órgão federal, com plano de carreira e infraestrutura melhor, mas com remuneração duas vezes menor. Mesmo oferecendo uma carga horária de duas horas a menos por dia, optei pelo dinheiro e permaneci no que já estava.
No ano de 2013, três meses antes de adquirir a sonhada estabilidade, fui nomeada em uma Empresa Pública Distrital, com salário melhor, benefícios que eu não possuía, infraestrutura moderna. Preferi não tomar posse. Financeiramente eu sei que não foi a melhor escolha, pois a Empresa possui mais privilégios e reconhecimento político que o órgão que estou. Naquela época, a minha escolha por não assumir baseou-se única e exclusivamente na estabilidade. Sem dúvidas eu assumiria naquela Empresa se fosse estável, pois poderia retornar no período de dois anos se algo de ruim acontecesse nesse período. Mas eu não era estável, e por apenas três meses. Tive medo da mudança, de perder a estabilidade que estava próxima e de assumir um emprego que não me proporcionaria essa garantia.
A estabilidade não me trouxe nenhuma consequência prática direta até hoje, mas a sensação de segurança no emprego sempre foi, e é, inegavelmente irresistível. O Brasil enfrentou altos e baixos nessa última década, principalmente com a crise mundial de 2008, e a taxa de desemprego tem aumentado anualmente. Muitos dos colegas que se formaram comigo em Administração sofreram com essa realidade e eu não conseguia cogitar passar por isso, voltando a ser dependente dos pais. Assim, ser servidor público estável é, para mim, sem dúvidas, muito confortante: salário certo^2 ao fim do mês; distância das pressões do mercado e das ameaças de superiores hierárquicos; salário justo e muitas vezes acima do valor pago pela
(^2) Cabe informar que alguns estados estão passando por crise e as contas públicas não fecham. O caso mais impactante é o do Rio de Janeiro, em que diversos servidores públicos ficaram meses sem receber salário. A crise nesse estado iniciou-se em 2016 e teve auge no ano de 2017. A reportagem “mapa da crise: RJ tem quase 20 municípios com salário de servidores atrasados” (https://g1.globo.com/rio-de- janeiro/noticia/mapa-da-crise-rj-tem-quase-20-municipios-com-salarios-de-servidores-atrasados.ghtml), realizada em setembro de 2017 pelo G1, observa que “a estabilidade e a segurança d o serviço público deram lugar a incertezas e as pessoas, que começaram a ter o salário atrasado, tivera que mudar os hábitos para se adaptarem a nova realidade financeira”. Outra observação importante é sobre o contexto da crise de corrupção que o país enfrenta desde a deflagração da operação “Lava Jato”, em 2014, pela Polícia Federal: diversos políticos e empreiteiras foram investigados, acusados, indiciados e julgados pela prática de crimes de lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva, desvio de verbas dos cofres públicos. Tudo isso provocou grave dano ao erário e consequências financeiras e orçamentárias em todos os estados. O ano de 2019 iniciou-se com diversos estados declarando “calamidade financeira” e o novo Governo realizando cortes em áreas como a educação.
iniciativa privada; livre da ameaça de desemprego arbitrário e emprego precário. Na atual conjuntura nacional, de extrema instabilidade política, econômica e social, ser servidora pública é, sem dúvidas, um privilégio.
Mas nem tudo é alegria (e isso vale para tudo na vida): trabalhei por cinco anos em um setor que recebia muitas demandas internas e externas. Assumi uma chefia em 2012 que, por lidar diretamente com recursos financeiros, exigia muito de mim, tanto técnica quanto emocionalmente. O estresse era diário e eu levantava triste, todos os dias, para trabalhar. Em 2016, não vendo mais sentido no que fazia, sem motivação ou prazer, pedi dispensa da função e relotação em qualquer setor que desenvolvesse tarefas não-administrativas. Recebi diversas propostas dentro do órgão, mas todas era fielmente administrativas. Nada de novo. Eu estava cansada de papelório, processos, despachos. Queria alguma atividade mais dinâmica, que fugisse do convencional burocrático.
Dois meses depois, eu estava lotada na Gerência de Geoprocessamento e Informações Territoriais e satisfeita com o trabalho, pois me proporcionava novidades diariamente. De certa forma ainda não me sentia completamente realizada. Cada vez mais eu me via presa ao órgão público e à cidade de Brasília. Eu tentava estudar para concursos de órgãos federais, que me proporcionariam mobilidade e jornada de trabalho menor, porém, sempre iniciava os estudos e abandonava precocemente. Eu buscava, entre os vários que me inscrevia, a aprovação no Ministério Público da União (MPU), a “menina dos meus olhos” e de milhares de concurseiros. Participei, sem êxito, dos certames de 2010, 2013, 2013/2 e 2018, sendo que neste último, reprovei por apenas dois^3 pontos.
Ainda em 2016, não conseguindo focar nos estudos para concurso, decidi avançar academicamente. Graduada em Administração e com especialização em Direito Administrativo, interessei-me por ingressar no mestrado. A dedicação exclusiva também era uma boa oportunidade para viver longe de Brasília por algum tempo. Optei em participar das
(^3) Nota de campo : Hoje, 08 de novembro de 2018, descubro que não fui classificada no concurso do MPU. Mas o que me causou maior desconforto não foi o fato de não ter encontrado o meu nome na lista de aprovados, mas o fato de ter obtido pontuação muito próxima da nota de corte (a nota que permite classificação e inclusão no cadastro reserva, em ordem de colocação, aguardando possível – mas não garantida – nomeação). Por apenas dois pontos meu nome não apareceu na esperada lista de classificados do certame. [...]após certo tempo estudando esses acontecimentos não me abalam tanto quanto no início da minha preparação para concurso. Como dizem os professores, o concurso público é uma fila e uma hora a minha vez chega (mais uma vez).
A lógica capitalista tem acentuado o consumo e cada vez mais os desejos são majorados e a idealização por melhores posições sociais se evidencia. A gestão gerencialista utiliza-se disso como forma de transformar indivíduos em máquinas capazes de gerar aumento na eficiência e maiores lucros para as empresas. Simultaneamente, aliena, mobiliza e controla o indivíduo. Alguns buscam fugir dessa lógica e encontram certo conforto no serviço público, como concursados, tornando-se estáveis conforme a Lei. Mas a estabilidade, no contexto efêmero e fluido do mundo contemporâneo, é violação ao movimento, à liquidez, à ruptura do status quo , acabando por desvelar-se em um imaginário social predestinado à insatisfação. É nesse contexto que muitos funcionários e servidores públicos concursados recomeçam seus estudos para concurso em busca de novas aprovações, que possam satisfazer gradativamente seus desejos. Revela-se aí a instabilidade do estável como um possível fenômeno a ser analisado, ancorado no contexto da sociedade contemporânea - ébria de instabilidade, consumo, liquidez e características ideológicas oriundas dos processos de gestão. Nesse sentido, a presente pesquisa, numa perspectiva rizomática, utiliza a metodologia cartográfica como forma de acompanhar a processualidade do contexto que se insere, visando identificar as tensões capazes de gerar o desejo incansável do concursado-concurseiro por novas aprovações. No período de 2018, segundo semestre, e 2019, primeiro semestre, utilizamos as redes sociais como ferramenta para análise do contexto e alcance dos sujeitos, acompanhando discussões e instigando debates. Em um segundo momento, seguimos as investigações, por meio da divulgação de questionário qualitativo, no Facebook e no Whatsapp , com perguntas que exploravam os achados colhidos no campo em estudo. Como forma de aprofundar as linhas da cartografia, utilizamos a técnica de nuvem de palavras para auxiliar a análise dos dados obtidos por meio das quarenta e quatro respostas dadas por concursados-concurseiros. Os resultados demonstraram que a estabilidade é o principal motivo para ingresso e permanência no serviço público. Além disso, revelaram que a busca por novas aprovações, coerentes com os elementos ideológicos da gestão gerencialista, está relacionada com a necessidade de satisfação financeira (aumento da remuneração, do consumo e da possibilidade de ajudar a família); profissional (carreira “dos sonhos”, cargo coerente com a formação acadêmica); e pessoal (mais tempo para lazer, família, viagens). A instabilidade dos estáveis é desvelada, dessa forma, no decorrer do percurso cartográfico. Os dados apontaram que os concursados-concurseiros reconhecem as diferenças entre as vantagens existentes na iniciativa pública e privada. Porém, apenas poucos pediriam exoneração caso recebessem o que julgam ser uma boa proposta de emprego privado. Entre as causas apontadas para justificar esse baixo índice, estão a insegurança e instabilidade no cenário político e econômico contemporâneo e os efeitos gerados pela gestão gerencialista.
Palavras-chave: Concursado-concurseiro; Contemporaneidade; Gestão Gerencialista; Trabalho; Ideologia da aprovação.
Capitalist logic has accentuated consumption and more and more desires are enhanced and the idealization for better social positions is evident. Management management uses this as a way of transforming individuals into machines capable of generating increased efficiency and greater profits for companies. Simultaneously alienates, mobilizes and controls the individual. Some seek to evade this logic and find some comfort in public service as contractors, becoming stable under the Law. But stability, in the ephemeral and fluid context of the contemporary world, is a violation of movement, liquidity, and the disruption of the status quo. , eventually revealing itself in a social imaginary predestined for dissatisfaction. It is in this context that many tendered civil servants resume their studies to seek new approvals that can gradually satisfy their desires. This reveals the instability of the stable as a possible phenomenon to be analyzed, anchored in the context of contemporary society - drunk on instability, consumption, liquidity and ideological characteristics arising from management processes. In this sense, the present research, in a rhizomatic perspective, uses the cartographic methodology as a way to follow the processuality of the context that is inserted, aiming to identify the tensions capable of generating the tireless desire of the concursado-concurseiro for new approvals. In 2018, second semester, and 2019, first semester, we used social networks as a tool to analyze the context and reach of the subjects, following discussions and instigating debates. Secondly, we followed the investigations, through the disclosure of qualitative questionnaire, on Facebook and Whatsapp, with questions that explored the findings gathered in the field under study. In order to deepen the lines of cartography, we use the word cloud technique to help analyze the data obtained through the forty-four answers given by concursados-concurseiros. The results showed that stability is the main reason for entry and permanence in the public service. Moreover, they revealed that the search for new approvals, consistent with the ideological elements of managerial management, is related to the need for financial satisfaction (increased remuneration, consumption and the possibility of helping the family); professional (“dream” career, position consistent with academic background); and personal (more time for leisure, family, travel). The instability of the stable is thus revealed during the cartographic course. The data indicated that the concursados-concurseiros recognize the differences between the advantages existing in the public and private initiative. However, only a few would ask to be discharged if they received what they think is a good private job offer. Among the causes pointed to justify this low index are the insecurity and instability in the contemporary political and economic scenario and the effects generated by management.
Keyword : Stable public server; Contemporaneity; Management; Job; Approval ideology.
Instabilidade, Consumo, Liquidez e Características Ideológicas oriundas dos Processos de Gestão: atributos presentes na sociedade contemporânea - fluida e, muitas vezes, indiferente com relação aos vínculos adotados tradicionalmente nas relações interpessoais. Uma procura incessante por preencher um vazio perenal se torna quase uma utopia. Encontramo-nos fadados a uma busca infindável por mais e mais, acumulando e descartando a mais variada gama de bens, ideias e relações, nos diversos aspectos existenciais. Estamos, portanto, diante de uma sociedade que conceitua cada vez mais seus membros como consumidores para a utilização dos desejos como ativadores da força de trabalho (BAUMAN, 1999, 2007; GAULEJAC, 2007; LIPOVETSKY, 2004).
Em outras palavras, é possível afirmar que o mundo contemporâneo, construído nas bases capitalistas, estimula e intensifica cada vez mais o consumo, mantido em atividade e crescimento constante, instilando variadas formas de desejos para sua sustentação. Felicidade e satisfação atrelados ao trabalho, passam a ser edificadas, construídas e reproduzidas por meio de bordões vendidos como o pleno sucesso na carreira e família, dotados de absoluto reconhecimento social. Resta para o indivíduo, portanto, acreditar que ser feliz é estado que se condiciona a sua capacidade de manter-se nos padrões estabelecidos e no movimento veloz ditado pela sociedade – acompanhando, como exemplo, as rápidas mudanças tecnológicas – , e sempre atento para agir em constante manutenção: imobilidade jamais (BAUMAN, 1999, 2008b).
Nesse contexto de fluidez, as mudanças no consumo acentuam os momentos efêmeros e, cada vez mais, o presente se aproxima de forma acelerada do futuro. As inovações tornam- se triviais em curto espaço de tempo e a ansiedade pelo novo passa a envolver e compor de, modo mais intenso, a dinâmica globalizada da sociedade contemporânea. Nessa nova ordem global, demanda-se que as organizações sejam estruturadas de forma apropriada para a flexibilidade e velocidade, transpondo os limites de tempo e espaço (VERGARA; VIERA, 2005). Nessa sociedade, as organizações têm papel indispensável para a lógica da produtividade do capital, especialmente as empresariais. Essas, por sua vez, se estruturam com o objetivo de conduzir à um processo de acumulação que propicie aumento na produção; desenvolvendo formas de controle e dominação sobre o indivíduo e gerando medo (CASTELHANO, 2005),