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A Relação Entre Imaginação e Realidade: A Criação na Infância, Notas de aula de Construção

Este texto discute a relação entre a imaginação e a realidade, enfatizando a importância da experiência anterior na criação. O autor aborda a atividade criadora da imaginação e sua dependência da riqueza e diversidade da experiência anterior. Além disso, ele discute a forma superior de relação entre fantasia e realidade, que torna-se possível graças à experiência social. O texto também aborda a importância da imaginação na infância e na criação.

O que você vai aprender

  • Qual é a relação entre a imaginação e a realidade?
  • Qual é a importância da experiência anterior na criação?
  • Como a imaginação influencia os sentimentos?
  • Como a imaginação cria novas combinações da experiência anterior?
  • Como a imaginação é orientada pela experiência social?

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Raimundo
Raimundo 🇧🇷

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Lev S. Vigotski
Imaginação e
criação na infância
Ensaio psicológico Livro para professores
APRESENTAÇÃO E COMENTÁRIOS
Ana Luiza Smolka
Doutora em Educação pela Uninamp e pós-doutorada pelo Departamento de Psicologia da Universidade Clark
Professora assistente doutora na faculdade de Educação da Unicamp
TRADUÇÃO
Zoia Prestes
Idestre em Educação e graduada em Pedagogia e Psicologia Pré-escolar pela Universidade Estatal de Pedagogia de Magoou
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Lev S.Vigotski

Imaginação e

criação na infância

Ensaiopsicológico Livro para professores

APRESENTAÇÃO E COMENTÁRIOS

Ana Luiza Smolka

Doutora em Educaçãopela Uninamp e pós-doutorada pelo Departamento de Psicologia da UniversidadeClark Professoraassistente doutora na faculdade de Educação da Unicamp

TRADUÇÃO

Zoia Prestes

Idestre em Educaçãoe graduada em Pedagogia e Psicologia Pré-escolar pela UniversidadeEstatal de Pedagogiade Magoou

65513

  1. Criação e imaginação'

CH::=n;mEH:

construção da mente ou do sentimento, conhecida ape-
naspela pessoaem que essaconstrução habita e se ma
nifesta. Se olharmos para o comportamento humano,
para a suaatividade, de um modo geral, é fácil verificar a
possibilidade de diferenciar dois tipos principais. Um
tipo de atividade pode ser chamado de reconstituidor ou
reprodutivo. Estáligado de modo íntimo à memória; sua
essênciaconsiste em reproduzir ou repetir meios de con-
duta anteriormente criados e elaborados ou ressuscitar

marcas de impressões precedentes. Quando me lembro

da casaonde passeia infância ou de paísesdistantes que

» O conceito de af/w/date tem raízesno materialismo histórico-dialético de Karl Marx e está relacionado às bases materiais da existên cia. Refere-seà atividade especificamente humana, conscientemente orientada, que só setornou possívelno âmbito das relações sociais, e emergiu na história dessas relaçõesl é mediada por ins- trumentos e signos. Vigotski esteve interessado em inves- tigara atividade psíquica do homem com base nos prin- cípios do materialismo histó- rico-dialético. Distanciando- -se de uma visão naturalista ou estritamentecognitivista da natureza humana, ele re- alça o potencial gerador e transformador da atividade criadora, que possibilita ao hometn planejar, projetar e construirsuas próprias con dições de existência.

/

  1. Em algumas traduções(espanhol e inglês), a palavra fvorfchesfvofoi traduzi da como criatividade. No entanto, tvorfchesh'o signiâca criação, uma atividade ou um processo. A palavra criatividade, segundo o dicionário .fJozzafss,designa a qualidade ou característicade quem ou do que é criativo.(N. da t.)

14 VIGOTSKI } ENSAIOS COMENTADOS IMAGINAÇÃO E CRIAÇÃONA INFÂNCIA 15

yqçe a esse segundo gênero de comportamento criador ou »Comoinúmerospensado-:l icombinatório. O cérebro não é apenaso órgão que conser- imaginaçãoa'''c.nt,am-seÍ/va e reproduz nossa experiência anterior, mas também o intrinsecamentearticuladas.IJ que combina e reelabora, de forma criadora, elementos da Aristótelesjádiziaqueme- U .....:4...'. '. .. «óri,e paginaçãoperten-l experiência anterior, erigindo novas situaçõese novo com-

Ainsistentereferênciade^ cemàmesmapa't'd':alma B'' portamento. Se a atividade do homem se restringisse à... .. ' '''"'o

Vigotskiaocérebroindicaa mera reprodução do velho, ele seria um ser voltado somen- buwadasbmesu.i.."''s te para o passado, adaptando-se aoNfüturo apenas na medi- fundamenlosa@gânicmno 'i) da em que este reproduzisse aquelejE exatamente a ativida- "t'-t'. elecHtéaa p"l=1:~j)\idecriadora que faz do homem um ser que se volta para o

paraoutraspossibilidades' futuro, erigindo-o e modiílcando o sellpresenteç)

deexpn'açã'dofunc.na' \l A psicologia denomina de imaginação ou fantasia essa reduzemmoou ao idealismo.aoa?sociacionis- ljatividade criadora baseadana capacidadell. ,.. de combinação do nosso cérebro. Comumente, entende-se por imaginação »Vgotskiusasemdistinção ou fantasia algo diferente do que a ciência denomina com úzt'tin's.ffaaS«nação.rdi'essaspalavras. No cotidiano, designa-se como imaginação grega.Nahistóriadasideias. ou fantasia tudo o que não e real, que não corresponde à c'con:i'm's.s doist"mw realidade e, portanto, não pode ter nenhum significado prá- Mficados Dependendodocampodemaisospecíncos. tacosério.INa verdade, 4 imaginação, base.dç.tQd&atividçlde.. "'-4r..,.. '--;;-::'o '.I'''''"''' .' ..;lhe.im".toe da'eh'en' credora, ifi.anifesta-se,sem dúvida, em todos os campos da p'i'"'' ilwaai açm pstão ' ,rtvida iiiiiüial, tornando também possível a c:113çãQ.g!:!Íggca, tar maisngadaà formação Í a científica e a técni!!;INesse sentido, necessariamente, tudo de '"g".Santnsó'ias'/«, 1 0 qtlíê-aios cerca e foi feito pelas mãos do homem, toda.g lacionadaaodevaneioe à '. -piunda.da cultura, diferentemente do mundo da natureza,

ficção. ... 'P judo isso é pmduto da:iglaginação e da criação humana

U u/'v lauenela sebaseia.
"Qualquer invenção, grandiosa ou pequena'l diz

Robot', "antesde armar-se, de realizar-se de fato, manteve-

se íntegra como uma construção erigida na mente, por

meio de novas combinações ou correlações, apenas pela

Imaginação.

'[...] A grande maioria das invenções Éoifeita sabe-se]á por quem. Conservaram-se apenas alguns poucos nomes dos grandesinventores.Aliás, a imaginação sempreperma- nece por si só, quer se manifeste numa pessoa ou coletiva mente. Quem sabe quantas imaginações foram necessárias para que o arado, anteriormente um simples pedaço de pau com aspontas calcinadas a fogo, setransformasse de um ins- trumento manual singelo no que é hoje, após uma série de modiâcações descritas em textos especializados? Do mesmo modo, a chama tênue do graveto de uma árvore resinosa, a grosseiratocha primitiva, leva-nos por uma longa série de invenções até a iluminação a gás e a elétrica. Podemos dizer que todos os objetos da vida cotidiana, sem excluir os mais simples e comuns, são ímagírzação cristalizada.:'

Daí éfácil perceberque a nossaideia cotidiana de cria-

ção não corresponde plenamente à compreensão científica dessa palavra. No entendimento comum, a criação é o des- tino de alguns eleitos, gênios, talentos que criaram grandes obras artísticas, âzeram notáveis descobertas científicas ou inventaram alguns aperfeiçoamentos na área técnica. Reco- nhecemos de bom grado e prontamente a criação na ativi- dade de Tolstoi, Edison e Darwin, porém é corriqueiro pen- sarmosque na vida de uma pessoacomum não haja criação.

No entanto,comojá íoi dito, esseponto de vista éincor-
reto. Segundouma analogiafeita por um cientista russo, a

eletricidade age e manifesta-se não só onde há uma gran- diosa tempestade e relâmpagos ofuscantes, mas também na

lâmpada de uma lanterna de bolso./Da mesma forma, a

criação, na verdade, não existe apenas quando se criam grandes obras históricas, mas por toda parte em que o ho- mem imagina, combina, modifica e cria algo novo, mesmo que essenovo se pareça a um grãozinho, se comparado às

/ \

Ribot, Théodule Armand(i839-igi6).(N. da t.)

16 ViGOTSKI l ENSAIOS COMENTADOS (^) IMAGINAÇÃO E CRIAÇÃO NA INFÂNCIA 17

» Note-se a ênfase na di- mensão coletiva, histórica.

dacriaçãohumaru .:Jl{

criações dos gênios. Se levarmos em conta a presença da imaginação coletiva, que une todos essesgrãozinhos não raro insignificantesda criaçãoindividual, veremosque

grande parte de tudo o que foi criado pela humanidade

pertence exatamente ao trabalho criador anónimo e coleti- vo de inventores desconhecidos.

A grandemaioria dasinvençõesfoi feita sabe-selá por

quem, como diz corretamente Ribot. O entendimento cien- tífico dessaquestão obriga-nos, dessaforma, a olhar para a criação mais como regra do que como exceção.É claro que expressões superiores de criação foram até hoje acessíveis apenas a alguns gênios eleitos da humanidade, mas, na vida cotidiana que nos cerca, a criação é condição necessária da existência, e tudo que !ultrapassa os limites da rotina, mes mo que contenha umÃotíildo novo, deve sua origem ao pro cesso de criação do hõíiíêm. Sefor esseo nosso entendimento, então notaremos fa cilmente que)os processos de criação !nanifestam-se com toda a sua força lá na mais tenra infância. fuma das questões mais importantes da psicologia e da pedagogia infantis é a da criação na infância, do desenvolvimento e do significado

do trabalho de criação pal14,Ddesenvolvimentogeral e o

amadurecimento da criança. Jána primeira infância', iden- tificamos nas crianças processosde criação que se expres- sam melhor em suasbrincadeiras. A criança que monta tim

cabo de vassoura e imagina-se cavalgandoum cavalo; a

menina que brinca de boneca e imagina-se a mãe; a criança que, na brincadeira, transforma-se num bandido, num sol- dado do Exército Vermelho, num marinheiro - todas essas

crianças brincantes representam exemplos da mais autênti- ca e verdadeira criação\É claro que, em suas brincadeiras, elas reproduzem muita do que viram. Todos conhecem o enorme papel da imitação nas brincadeiras das crianças. As brincadeiras infantis, frequentemente, são apenas um eco do que a criança viu e ouviu dos adultos. No entanto, esses \

elementosda experiência anterior nunca se reproduzem, /

na brincadeira, exatamente como ocorreram na realidade. l A brincadeira da criança não é uma simples recordação do

que vivenciou, Qas uma reelaboraçãocriativa de impres-

sões vivenciadagÉ uma combinação dessas impressões e, baseada nelas, a construção de uma realidade nova que res- ponde às aspiraçõese aos anseios da criança. Assim como na brincadeira, o ímpeto da criança para criar é a imagina- ../ ção em atividade. "0 menino de três anos e meio': conta Ribot, "ao ver um homem manco andando pela estrada, gritou: "'Mãe, veja a perna desse pobre homeml 'Depois, ele começou a contar uma história: o homem estavasentado num cavalo alto, caiu por cima de uma pe- dra grande, machucou a perna; é preciso encontrar algum pozinho para cura-lo;: Nesse caso, a atividade combinatória da imaginação é extremamente clara. Diante de nós, há uma situação criada pela criança. Todos os elementos dessa situação, é claro, são'

conhecidos por ela de sua experiência anterior, pois, do

contrário, ela nem poderia cria-la. No gQlantg].g:.çombina- çêg.dçlgÊÊ@ntos já rep11çlÊElg..algoEgyo=criado, pró- prio daquela criança e não simplesmente alguma coisa que reproduz o que ela teve a oportunidade de observar ou ver. É essacapacidade de fazer uma construção de elementos,

de combinar o velho de novas maneiras, que constitui a ,,)

base dacriação.

» Como outros estudiosos na época, Vigotski ressalta o caráter ativo e criativo da brincadeira no desenvolvi- mento infantil. Em suas aná- lises,mostra como a percep- ção imediata da criança e suasaçõessobre osobjetos vão se transformando pela mediação do outro e do sig- no, particularmente. pela apropriação da forma verbal de linguagem. É na brinca- deira que a criança "começa a agir independentemente daquilo que vê' (A formação soc/a/da mente.p- l l O). Palavras e gestos possibili- tam transformar uma coisa em outra. E a linguagem que torna possívelofazde conta, a criação da situação imagi- nária. A criação não emerge do nada, mas requer um tra- balho de construção históri- ca e participação da criança na cultura. A brincadeira in- fantil é, assim, um lugar por excelência de incorporação das práticas e exercício de papéis e posições sociais.

j \

3.Em seus trabalhos, Vigotski refere-se a diversas idades; primeira infância, que seria a criança até três anos, ea idade pré-escolar, que seria a criança acima de três e até seis ou sete anos.(N. da t.)

20 ViGOTSKI l ENSAIOS COMENTADOS (^) IMAGINAÇÃOE CRIAÇÃONA INFÂNCIA 21

ade IAristóteles, Espinosa, Descartes, Diderot, Cassirer. Stanislavski, entre outros) e enveredava pelo conheci+Pi

mento em psicologia. Partiij cipando dos esforços de' tantos autores. suas tentati- vas se esboçam na busca de um princípio explicativoque possibilite a compreensão da imaginação como af/v/da- te banana (não uma facul dade dada a prfor0, elabo- rada com base na experiência sensível transformada pela própria produção do homem, pela possibilidade de signifi- cação,pela cultura.

mas principais de relação entre a atividade .de imaginação e a realidade. Esse esy.arecimento ajudará a compreender que jja imaginação não: é,úm divertimento ocioso da mente, uma l atividade suspensa no ar, mas uma função vital necessária. A primeira forma de relação entre imaginação e reali- dade consiste no fato de que toda obra da imaginação cons- trói-se sempre de elementos tomados da realidade ê"Pre .sentes na experiência anterior da pessoa. Seria um milagre se a imaginação inventasse do nada ou tivesse outras fontes para suascriações que não a experiência anterior. Somente as representações .religiosas e místicas sobre a natureza hu- man!.atribuem a origem das obras da fantasia a uma força estranha, sobrenatural, e não à nossa experiência. De acordo com essavisão, sãoos deusesou os espíritos que inculcam os sonhos às pessoas, a inspiração aos poetas e os Dez Mandamentos aos legisladores. A análise científica das construções mais fantasiosas e distantes da realidade, por exemplo, dos contos, mitos, lendas, sonhos etc., con- vence-nos de que ascriações mais fantásticas nada mais são do que uma nova combinação de elementos que, em última instância, foram hauridos da realidade e submetidos à mo- diõcação ou reelaboração da nossa imaginação. É claro que a ízbzzchka:sobre patas de galinha existe so- mente no conto fantástico, mas os elementos que embasam essa representação fantasiosa foram tomados da experiên- cia humana real. É somente a sua combinação que possui traços do fantástico, isto é, não corresponde à realidade. To- memos como exemplo a imagem de um mundo fantástico

retratado por Puchkin'.

Na enseada, há um carvalho verdejante Nessecarvalho, há uma corrente de ouro, E um gato sábio, de dia e de noite, Anda em círculos pela corrente. Ao ir-à direita, canta uma canção; Vai à esquerda,conta um conto. Lá há magias e silvanos, E uma sereia nos galhos; Lá nas trilhas misteriosas, Há pegadasde animais nunca vistos; A ilbá lá tem patas de galinha, 'Não tem janelas, nem portas.

Pode-se seguir essetrecho inteiro, palavra por palavra, e demonstrar que, nesse conto, apenas a combinação de ele- mentos é fantástica, ao passo que os elementos em si foram hauridos da realidade. O carvalho, a corrente de ouro, o gato e as canções existem na realidade; apenas a imagem do

gato sábio que anda em círculos pela corrente dourada,

contando contos, apenasa combinação desseselementos é que é fantástica. Quanto às imagens de cunho puramente fantástico que âguram em seguida, como os silvanos, a se reia, a izbz4c/zkasobre patas de galinha, todas são tão so- mente uma combinação complexa de alguns elementos su- geridos pela realidade. Na imagem da sereia, por exemplo, encontram-se a representação da mulher e a de pássaro no galho; na ízbzzc/zkaencantada, a representação das patas de galinha e a de uma isbá, e assim por diante. Dessa forma, a imaginação sempre constrói de mzltg-

riais hauridos da realidade. É verdade.qqe, como vimos
pelo trecho'transcrito, ã imaginação pode criar, cada vez

mais, novos níveis de combinações, concertando, de início;jl l 'i;i elementos primários da realidade(gato, corrente, carva: Ul

j \

i. Diminutivo de izba(em português, isbá), nome dado à casa camponesa de ma- deira. (N. da t.) z. Puchkin, Aleksandr Aleksandrovitch(i799-i837), um dois maiores poetas rus sos. (N. da t.)

(^22) VIGOTSKI l ENSAIOSCOMENTADOS IMAGINAÇÃO E CRIAÇÃO NA INFÂNCIA 23

Iho) e, posteriormente, as imagens de cunho fantástico (se- reia, silvano etc.). Porém, os elementosprimários dos qual se cria uma representaçãofantástica distante da realidade serão sempre impressões da realidade. Deparamo-nos, então, com a primeira e a mais impor tante lei a que se subordina a atividade da imaginação. Essa lei pode ser formulada assim: a atividade criadora da ima- ginação depende diretamente da riqueza e da diversidade da experiência anterior da pessoa,porque essaexperiência '/jconstitui o material com que se criam as construções da /jfantasia. Quanto mais rica a experiência da pessoa, mais 11material estádisponível para a imaginação dela. Eis por que 1 1a imaginação da criança é mais pobre que a do adulto, o que se explica pela maior pobreza de sua experiência. ./' Quando acompanhamos a história das grandes inven ções, das grandes descobertas, quase sempre é possível notar que elas surgiram como resultado de uma imensa experiên- cia anterior acumulada. A imaginação origina-se exatamen te desse acúmulo de experiência. Sendo as demais circuns- tâncias as mesmas,quanto mais rica é a experiência, mais rica deve ser também a imaginação. ':Após o momento de acúmulo de experiência': diz Ri-

bot, "começao período de amadurecimentoou de choco

(incubação). Ele durou i7 anos para Newton, que, quando ânalmente confirmou sua descoberta em cálculos, foi to mado por um sentimento tão forte que precisou confiar a

outra pessoaa tarefade concluí-los.O matemático Hamil

ton diz que o seu método dos quatérnios de repente apare- ceu-lhe completamente pronto, quando estavasobre a pon- te de Dublin: 'Naquele momento eu obtive o resultado de l anos de trabalhosDarwin coletou material durante suasvia- gens, observou plantas e animais por um longo período e somente após a leitura do livro de Malthus, que caiu em

suasmãos por acaso e o impressionou, é que definiu a forma final de seu estudo. Exemplos semelhantes são encontrados em um grande número de obras literárias e artísticas" A conclusão pedagógica a que se pode chegar com base nisso consiste na afirmação da necessidade de ampliar a ex- periência da criança, caso se queira criar bases suficiente-

mente sólidas para a sua atividade de criação. Qyq!!!gDqis

a criança viu, ouviu e vivenciou, mais ela sabe ç !!$imiJQy; quanto maior a quantidade ile êleinêntos da realidade de que ela dispõe em sua experiência - sendo.gs.demais,cir- cunstâncias as mesmas -, mais signiíicativae produtiva será'a atividade de sua imaginação. Po! essaprime.irajQrma de relação entre.fantasia e realidade, .já é fácil perceber o quãiito é .equivocadocontrapâ-las. A atividade combinató- ria'êo nosso cérebro não é algo completamente novo em relação à atividade de conservação, porém torna-a mais complexa. A fantasia não se opõe à memória, mas apoia-se nela e dispõe de seus dados em combinações cada vez mais novas. A atividade combinatória do cérebro baseia-se, em última instância, no mesmo processo pelo qual os traços de excitações anteriores são nele conservados. A novidade dessafunção encontra-se no fato de que, dispondo dos tra- ços das excitaçõesanteriores, o cérebro combina-os de um modo não encontrado na experiência real. A segunda forma de relação entre fantasia e realidade é diferente, mais complexa, e não diz respeito à articulação entre os elementos da construção fantástica e a realidade, mas sim àquela entre o.pKodutQ.anal da fantasia e um fenó- meno .complexo da realidade. Quando, baseando-me em estudos e relatos de historiadores ou aventureiros, compo-

nho para mim mesmo um quadro da Grande Revolução

Francesa ou do deserto africano, em ambos o quadro resul- ta da atividade de criação da imaginação. Ela não reproduz

» A possibilidadedecriação âncora-se na experiência. Podemos, certamente, pen sar que qualquer experiên cia humana tem sua riqueza, suas possibilidades, suas formas de realização. No que serefere às práticas pe dagógicas, no entanto,tra- ta-se doincansáveltrabalho de inventar e planejar, a cada dia. como viabilizar. de maneira mais efetiva. o acesso das crianças ao co- nhecimento produzido e sua participação na produção histórico-cultural. Podemos aquipensarna própria ativi- dade pedagógica como ati- vidade criadora. Esse modo de concebertraz significati vas implicações sociais e políticas, e tem repercus' sões importantes, em parti cular no âmbito da educa ção pública e nas situações de maior precariedade nas condições de vida.

» Um dos pontos mais po- lêmicos apresentados no texto. Vigotski fala em rique- za e pobreza de experiência relacionada ao acúmulo ou quantidade. O problema. então, é como quantificar e qualificar a experiência. Há que se entenderesse argu- mento. no entanto. com base no princípio da nature- za social do desenvolvimen- to humano. Se pensarmos no caso de crianças aban- donadas, sem contato com outros humanos. como Vitor de Aveiron. ou Amala e Kamala, na Índia, podere- mos compreender melhor a posição de Vigotski. A expe- riência social faz a diferen. ça. No capítulo 4, ele expli- cita mais detalhadamente esse argumento ao analisar as transformações da imagi- nação nainfância e na ado- lescência.

j \

» Podemos formar imagens. criar mentalmente cenas e cenários, imaginar, tomando porbaseaexperiênciaalheia. Isso se torna possível pela linguagem. Tanto a narrativa de uma pessoa quanto o efeito dessa narrativa no ou- tro mobilizam e produzem imagens. Tanto a ficção (can- tos de fadas. por exemplo) quanto a história(os acinte cimentos vividos e narrados) implicam a atividade criado- ra da imaginação.

26 V,GOTSKii ENSAIOS COMENTA00S (^) IMAGINAÇÃOE CRIAÇÃONA INFÂNCIA 27

determinado instante. Qualquer um sabe que vemos ascoi- sascom olhares diferentes conforme estejamos na desgraça

ou na alegria.Há muito os psicólogosnotaram o fato de
que q!!glquer sentimento nãQ.tem apenasuma expressão

externa, corporal!.pias também uma interna, que se reflete na seleção de ideias, imagens, impressões: Esse fenómeno 6oi denominado por eles delei da dupla expressão dos seü-

«timentog.O medo, por exemplo, expressa-senão somente

pela palidez, tremor, secura da garganta, alteração da respi- ração e dos batimentos cardíacos, mas também mostra-se no fato de que todas as impressões recebidas e as ideias que vêm à cabeça de uma pessoa, naquele momento, estão co- mumente cercadaspelo sentimento que a domina. Quando

o ditado diz que gralha assustadatem medo de arbusto,

pressupõe-se exatamente essainfluência do sentimento que colore a percepção dos objetos externos. Do mesmo modo que, há muito tempo, as pessoas aprenderam a expressar externamente seus estados internos, as imagens da fantasia servem de expressão interna dos nossos sentimentos. A desgraçae o luto de uma pessoa são marcados com a cor preta; a alegria, com a cor branca; a tranquilidade, com o azul; a rebelião, com o vermelho. As imagens e as fantasias propiciam uma linguagem interior para o nosso sentimen to. O sentimento seleciona elementos isolados da realidade,

combinando-os numa relação que se determina interna

mente pelo nosso ânimo, e não externamente, conforme a lógica das imagens.

Os psicólogosdenominam essainfluência do fator
emocionalsobre a fantasiacombinatóriade lei do signo

emocional comum. A essênciadessalei consiste em que as impressoes ou as imagens que possuem um signo emocio-

nal comum, ou seja,que exercemem nós uma influência

emocional semelhante, tendem a seunir, apesarde não ha-

ver qualquer relação de semelhança ou contiguidade explí- cita entre elas. Daí resulta uma obra combinada da imagi- nação em cuja base está o sentimento ou o signo emocional comum que une los elementos diversos que entraram em relação. '%.simpressões':diz Ribot, "que sãoacompanhadaspelo mesmo estado afàivo da reação, posteriormente associam -seentre si; a semelhança afetiva une e entrelaça impressões diferentes. Isso difere da associação por contiguidade, que representa a repetição da experiência, e da associação por

semelhança,no sentido intelectual. Essasimagens combi-
nam-se não porque, anteriormente, ocorreram juntas ou

porque percebemos as relações de semelhança entre elas, mas sim porque têm um tom afetivo comum. A alegria, a tristeza, o amor, o ódio, o espanto,o tédio, o orgulho, o can faço etc. podem se transformar em centros de gravidade que agrupam impressões ou acontecimentos sem relações racionais entre si, mas marcados com o mesmo signo ou traço emocional: por exemplo, alegres,tristes, eróticos etc.

Cofn bastantefrequência, essaforma de associaçãoapre-

senta-se em sonhos ou devaneios, isto é, em um estado de

ânimo tal que a imaginaçãotem total liberdade e funciona

ao acaso,de qualquer jeito. É fácil entender que essainflu-

ência explícita ou implícita do fator emocional pode favo

recer o surgimento de agrupamentos totalmente inespera- dos, representando um campo quase ilimitado para novas combinações, já que o número de imagens que têm a mes- ma marca afetiva é extremamente grande' Como exemplos simples desse tipo de combinação de

imagensque têm um mesmo signo emocional pode-se

apontar casoscotidianos de associação de duas impressões

diversas,que, sem dúvida, nada têm em comum além do

fato de nos provocarem estados de ânimo semelhantes.

» Em Psicologia da arte, Vigotskifazreferência à con- tribuição específica de Zienkovski (Ps/co/og/a da arte. p 2581. que mostra como as emoções se articu- lam a imagens, que, por sua vez,transformamasemoções. Daí sua dupla expressão.

j \

» Refere-se à convergência ou (con)fusão de imagens distintas pela prevalência de um afeto ou sentimento co- mum. A emoção ou o senti- mento agregam imagens, enquanto o estado emocio- nal atua na significação de uma experiência.

q

28 ViGOTSKI l ENSAIC'S COMENTADOS IMAGINAÇÃO E CRIAÇÃO NA iNfÂNciA 29

Quando dizemos que o tom azul-claro é frio e o vermelho é quente, aproximamos a impressão azul e a impressão frio

apenascom basenos estadosde ânimo que ambos indu-

zem em nós. É fácil entender que a fantasia guiada pelo fa tor emocional pela lógica interna do sentimento cons- tituirá o tipo de imaginação mais subjetivo, mais interno.

Entretanto, existe ainda uma relação inversa entre

imaginação e emoção. Enquanto, no primeiro caso que descrevemos,os sentimentos incluem na imaginação, nes se outro, inverso, a imaginação influi no sentimento. Esse

fenómeno poderia ser chamado de lei da realidade emo-
cional da imaginação.A essênciadessalei é formulada por

Robot do seguinte modo: "Todas as formas de imaginação

criativa contêm em si elementos afetivos': Isso significa

que qualquer construção da fantasia influi inversamente sobre nossos sentimentos e, a despeito de essaconstrução

por si só não corresponderà realidade,todo sentimento

que provoca é verdadeiro, realmente vivenciado pela pe! soa, e dela se aposta. Vamos imaginar um simples caso de

ilusão. Entrando no quarto, ao entardecer,uma criança,
ilusoriamente, percebe um vestido pendurado como se

fosse alguém estranho ou um bandido que entrou na casa.

A imagem do bandido, criada pela fantasia da criança, é

irreal, mas o medo e o susto que vivenda são verdadeiros, são vivências reais para ela. Algo semelhante ocorre com qualquer construção fantasiosa. É essalei psicológica que

pode nos explicar por que as obras de arte, criadas pela

fantasia de seus autores, exercem uma ação bastante forte em nos. As paixões e os destinos dos heróis inventados, sua ale-

gria e desgraçaperturbam-nos, inquietam-nos e conta-

giam-nos, apesar de estarmos diante de acontecimentos in verídicos, de invenções da fantasia. Isso ocorre porque as

emoções provocadas pelas imagens artísticas fantásticas

daspáginasde um livro ou do palco de teatro sãocomple

tamente reais e vividas por nós de verdade, franca e profun- damente. Muitas vezes, yma.simples -combinação. de impressões externas - por exemplo, uma obra musical - provoca na pessoaque a ouve um mundo inteiro e comple xo de vivências e sentimentos. Essaampliação e esseapro-

fundamento do sentimento, sua reconstrução criativa,
formam a basepsicológicada arte da música.
Restaainda mencionar a quarta e última forma de re-

lação entre fantasia e realidade. Por um lado, essa forma liga-se intimamente com a que acabamos de descrever, mas, por outro, diferencia-se dela de maneira substancial.

A sua essênciaconsisteem que a construçãoda fantasia

pode ser algo completamente novo, que nunca aconteceu na experiência de uma pessoa e sem nenhuma correspon: dência com algum objeto de fato existente; no entanto, ao ser externamente encarnada, ao adquirir uma concretude material, essaimaginação "cristalizada': que se fez objeto,

começaa existir realmente no mundo e a influir sobreou-

tras coisas. Essaimaginação torna-se realidade. Qualquer dispo

sitivo técnico - uma máquina ou um instrumento pode
servir como exemplo de imaginação cristalizada ou en-

carnada. Pises dispositivos técnicos são criados pela ima- ginação Combinatória do homem e não correspondem a

nenhum modelo existentena natureza,lEntretanto, man-
têm uma relação persuasiva,ágil e prática com a realida-

de, porque, ao se encarnarem, tornam-se tão reais quanto

as demais coisas/epassama incluir no mundo real que

os cerca. Essesprodutos da imaginação passaram por uma lon- ga história, que, talvez, deva ser breve e esquematicamen-

» Também chamada por Vigotski de /e/ da rea//date dos sentimentos \Psicologia da arte, p- 260), ou /e/ da sensação real Cobras esco- g/das, v. IV. p. 434). Vigotski chamaa atenção para a for- ça da ;mugem em ação e a realidade da sensação/emo- ção por ela provocada.O exemplo do medo realmente experienciado na situação imaginada ajuda a compre' ender o argumento. j \

32 viaoTSKil ENSAios COMEM'rAOOS IMAGINAÇÃOE CRIAÇÃONA INFÂNCIA^33

corvo começou a bicar a refeição e a se deliciar com ela. A águia bicou uma vez, bicou outra, bateu as asase dis- se: "Não, irmão corvo, melhor uma vez beber sangue vivo do que passar trezentos anos alimentando-se de carniça. E o futuro, seja o que Deus quiser!" Eis o conto calmuco.

vocada pela invenção: 'a.s invenções fazem-me derramar em lágrimas't Para convencer-se de que a imaginação, nes- se caso,descreveo mesmo círculo completo que quando é

encarnadanum instrumento material, basta lembrar a

ação que a obra artística provoca na consciência da socie dade. Gogol criou O í/zspeforgeral e os atores interpreta-

ram-no no teatro. Tanto o autor quanto os atorescriaram

uma obra de fantasia, enquanto a própria peça, interpreta da no palco, desnudava com muita clareza todo o horror

da Rússiade então. Com tamanha força a peça ironizava

costumes aparentemente inabaláveis, mas que sustenta vam a vida, que todos sentiram que continha uma enorme ameaçapara o regime por ela retratado. E o tsar, presente à estreia, sentiu isso mais que qualquer um: "Hoje sobrou

para todos epara mim, principalmente': disseNikolai, após
. .o espetáculo.

11 As obras de arte podem exercer essainfluência sobre a consciência social das pessoas apenas porque possuem sua

própria lógica interna. O autor de qualquer obra artística,

assim como Pugatchiov- combina as imagens da fantasia não à toa e sem propósito ou amontoando-as casualmente,

como num sonho ou num delírio. Pelo contrário, asobras

:- 'de arte seguem a lógica interna das imagens em desenvol- vimento, lógica essaque se condiciona à relação que a obra estabeleceentre o seu próprio mundo e o mundo externo. No conto do corvo e da águia, as imagens são dispostas e

combinadas segundo as leis da lógica que regulam duas

forças daquele período e que se fazem presentes nas pes

soamde Griniev e Pugatchiov.Um exemplo muito curioso

desse tipo de círculo completo que descreve a obra artísti- ca é apresentado por L. Tolstoi em suas declarações. Ele

conta como surgiu a imagem de Natacha no romance

Guerra e paz:

A história contadapor Pugatchiové um produto da

imaginação e pode-se dizer até de uma imaginação total- mente desvinculada da realidade. Corvo e águia falantes existem apenascomo invencionice da velha calmuca. No entanto, é fácil constatar que em outro sentido essacons

trução fantasiosaparte diretamente da realidadee nela

influi. SÓque essarealidade não é externa, e sim intern!

o mundo dasideias, dos conceitose dos sentimentos
próprios do homem. Dizem dessasobras que elassãofor-

tes não pela verdade externa, mas pela verdade interna. É

fácil perceberque, com as imagensdo corvo e da águia,
Puchkin representou dois tipos distintos de pensamento

e de vida, duas maneiras diferentes de relaçãocom o mun- do e, de um modo que não era possível esclarecer por

meio de uma conversasecae fria, diferençasentre o pon
to de vista de um homem comum e de um rebelde.Pelo

modo de sua expressão na história, essa diferença impri- me-se na consciência com muita clareza e com enofme~ força de sentimento. O conto ajuda a esclareceruma relação cotidiana CQn!.- plexa; suasimagens iluminam um problema vital, e o que não pode ser feito de um modo frio, em prosa, realiza-se .nahistória pela linguagem figurativa e emocional. Eis por que Puchkin está certo quando diz que o verso pode gol- pear o coração com uma força nunca vista; eis por que, em

outro poema,ele fala sobrea vivência emocional real pro

» Vigotski se refere aqui. mais especificamente, à criação literária e teatral,. mas aponta que a obra de arte não se reduz a essas formas de criação. Como construção humana, como atividade criadora do ho- mem, a obra literária implica um trabalho composicional específico, uma arqu.ífefón/- ca, como diria Bakhtin. A reunião de imagens. a carac terização de personagens,a descrição de cenas, o de senrolar da trama; os modos de narrar,as escolhasde pa- lavras e pontos de vistajas imagens dé l5ossíveis enter: locutoresltudoissofaz par- te desse trabalho! cyjgprp: duto final transcende o momento de criação, adqui re uma existência autónoma, e escapa do domínio do criador.produzindo efeitos e afetos no próprio autore na queles que o i;éõébem.

j \

VIGOTSKI ENSAIOS COMENTADOS

"Peguei a Ténia'l diz ele, "remoí com a Sânia, então, saiu a Natacha' Ténia e Sânia são, respectivamente, sua cunhada e es- posa, duas mulheres reais. Da combinação das duas foi pro- duzida uma imagem artística. Os elementos hauridos da realidade, longe de se combinarem pelo livre desejo do ar- tista, fazem-no segundo a lógica interna da imagem artísti ca. Certa vez, Tolstoi ouviu a opinião de uma das leitoras a

respeito de como eleteria sido cruel com Anna Karenina,

heroína de seu romance, obrigando-a a jogar-se debaixo do trem. Tolstoi, então, disse; 'Issolembra-me um casoocorrido com Puchkin. Certa vez, ele disse a um de seus colegas: 'Imagine o que Tatiana aprontou comigo. Ela casou-se. Jamais esperava isso dela O

mesmo possodizer de Anna Karenina.De um modo geral,

meus heróis e heroínas, às vezes,fazem coisas que eu nao esperava.Eles fazem o que devem fazer na vida real, como acontece de verdade na vida real, e não o que eu quero Verificamos essetipo de declaração em vários autores, que destacam a lógica interna que norteia a construção de uma imagem artística. Num exemplo maravilhoso, Wundt expressou essa lógica da fantasia ao dizer que a ideia de ca-. samento pode inculcar a ideia de sepultamento (união e

separaçãodos noivos), porém não a ideia de uma dor de

dente.

Assim, numa obra de arte, frequentementeencontra-

mosjustaposições de traços distantes uns dos outros e apa' rentemente desconexos, que, todavia, não são e$tEêDhos uns aos outros, como a ideia de dor de dente e de casamen-

to, masunidos por uma lógica interna.

» Quando fala em lógica in- terna - do sentimento. da imaginação, da imagem artís- tica. da obra de arte --, Vigotski se refere à dimensão intrínseca, própria de uma es- fera de atividade;àquilo que constitui uma especificidade, um modo característico de operar; àquilo que sustenta uma consistência interna e a prevalência de alguns senti- dos historicamente construí- dos. Aproximando-sedos ob- jetos de estudo pelo prisma do materialismo histórico- .diabético,ele procura com- preenderás relações e a di- nâmica internas a urDfenó- meno nas suas contr::lições, buscando incorpor#las nas análises. Em /)s/CQ©gé.da arte, por.exempjg-Vigotski mostra como a obra de qrtg. mobilizaemoções contradité. rias e produz um efeito?.99tê: iiêãããBüperaçãg gêtSP!)' {i:ãdiçõeg. Essa busca se intenslficae se explicita no es- tuda'da$1.!gjações.entrepen-- lamento. linguagem. cone. ciêhÕb,1lgQÜ@ç;'.