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Guias e Dicas
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Psicodrama: A Relação entre Jogos Dramáticos e Espontaneidade, Notas de aula de Cultura

Uma pesquisa bibliográfica sobre a relação existente entre a aplicação da técnica psicodramática de jogos dramáticos e a espontaneidade. O texto aborda a história do psicodrama, a definição de espontaneidade, a explicação dos jogos dramáticos e sua relação com o fator e (espontaneidade). O autor relata observações feitas durante estágios, aulas e atendimentos, onde a utilização de jogos dramáticos resultou em reflexões, tomadas de consciência e mudanças comportamentais. O objetivo do estudo é verificar a relação entre a utilização de jogos dramáticos e as possibilidades de resgate do recurso inato da espontaneidade.

O que você vai aprender

  • O que é a espontaneidade e como ela é definida pelos psicodramatistas?
  • Como os jogos dramáticos promovem a espontaneidade?
  • Quais são as vantagens de utilizar jogos dramáticos na terapia?
  • Qual é a história do psicodrama e como ocorreu sua consolidação?
  • Quais são os jogos dramáticos e como eles são classificados?

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Pipoqueiro
Pipoqueiro 🇧🇷

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FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – FACS
CURSO: PSICOLOGIA
CONTRIBUIÇÕES DOS JOGOS DRAMÁTICOS NO
RESGATE DA ESPONTANEIDADE
JULIA DE A. M. MANZONI
BRASÍLIA
DEZEMBRO/2008
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Baixe Psicodrama: A Relação entre Jogos Dramáticos e Espontaneidade e outras Notas de aula em PDF para Cultura, somente na Docsity!

FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – FACS

CURSO: PSICOLOGIA

CONTRIBUIÇÕES DOS JOGOS DRAMÁTICOS NO

RESGATE DA ESPONTANEIDADE

JULIA DE A. M. MANZONI

BRASÍLIA

DEZEMBRO/

JULIA DE A. M. MANZONI

CONTRIBUIÇÕES DOS JOGOS DRAMÁTICOS NO

RESGATE DA ESPONTANEIDADE

Monografia apresentada como requisito

para conclusão do curso de Psicologia do

UniCEUB – Centro Universitário de

Brasília. Professor orientador: Maria do

Carmo de Lima Meira

Brasília, Dezembro/

iii

Dedico o presente trabalho e os anos de estudo e esforço a Deus, em primeiro lugar, fonte da minha inspiração e perseverança. Aos meus pais, que me oportunizaram tamanha realização, aos meus irmãos que participaram, em todo tempo, da minha vida. Ao meu esposo, que é meu amigo e companheiro de todas as horas, compartilhando comigo os momentos de alegria e de tensão. Aos amigos que, certamente, contribuíram para minha conquista com debates, conversas, idéias e muito humor. E, também, aos professores, especialmente, à mestra Maria do Carmo Meira que me acompanhou em toda a produção deste trabalho final com dedicação e disponibilidade para ensinar e ajudar.

iv

Sumário

  • Introdução ............................................................................................................................... Resumo .....................................................................................................................................................................v
  • Capítulo I – Psicodrama ........................................................................................................
    • 1.1 Histórico do Psicodrama..................................................................................................
    • 1.2 Modelo Psicodramático ...................................................................................................
    • 1.3 Psicodrama e o Contexto Antropológico.........................................................................
    • 1.4 A Prática Psicodramática.................................................................................................
      • Capítulo II – Espontaneidade ...........................................................................................
        • 2.1 Conceito de Espontaneidade .........................................................................................
        • 2.2 Treinamento da Espontaneidade ...................................................................................
        • 2.3 Relação entre a espontaneidade e outros conceitos morenianos ...................................
      • Capítulo III – Jogos Dramáticos e o Desenvolvimento da Espontaneidade ................. - 3.1 Conceituação de jogos dramáticos.............................................................................. - 3.2 Utilização dos jogos dramáticos ................................................................................. - 3.3 Classificação dos jogos dramáticos ............................................................................
      • Considerações Finais .........................................................................................................
      • Referências Bibliográficas .................................................................................................

O presente estudo foi realizado em decorrência de observações feitas nas supervisões de estágio, aulas assistidas, leituras teóricas e atendimentos realizados, no período de estágio, onde foi perceptível que, ao introduzir a ferramenta dos jogos dramáticos, reflexões, tomadas de consciência e mudanças comportamentais ocorriam mais rapidamente. Dentre as diversas técnicas propostas pelo modelo psicodramático, há uma muito comum nos atendimentos grupais, individuais ou bipessoais: os jogos dramáticos. Esta requer do diretor um alto nível de desenvolvimento télico para que este faça intervenções apropriadas nos momentos adequados, auxiliando o paciente a enxergar e trabalhar seus conteúdos conflituosos de forma mais relaxada e propícia a manifestações espontâneas. Diante disto, o estudo realizado pretende, por intermédio de uma revisão bibliográfica, verificar a relação existente entre a utilização de jogos dramáticos e as possibilidades de resgate do recurso inato da espontaneidade. Para tal, o trabalho foi categorizado em três capítulos, os quais também foram subdivididos em sub tópicos, a fim de haver um ordenamento tal, das informações, que possibilite o leitor acompanhar a história psicodramática, desde seu surgimento até a aplicação da técnica proposta para, finalmente, compreender a existência da relação entre os assuntos abordados. O primeiro capítulo é dedicado exclusivamente ao entendimento do psicodrama, contendo desde a biografia de seu autor, a história do seu surgimento e desenvolvimento, até sua consolidação como abordagem terapêutica. O psicodrama é uma técnica psicoterápica cujas origens se acham no Teatro, na Psicologia e na Sociologia. Do ponto de vista técnico, constitui, em princípio, um processo de ação e de interação. Seu núcleo é a dramatização.

Diferentemente das psicoterapias puramente verbais, o Psicodrama faz intervir, manifestamente, o corpo em suas variadas expressões e interações com outros corpos. Esta intervenção corporal envolve o compromisso total com o que se realiza, compromisso que é fundamental para a terapia e, consequentemente, para o indivíduo e para o desenvolvimento de melhores e mais completos meios de comunicação com seus semelhantes. (Bermúdez, 1980, p. 21) Assim, o primeiro sub tópico restringe-se à explanação do histórico de Moreno, contendo o surgimento e desenvolvimento do psicodrama. O segundo trata da organização dada aos estudos psicodramáticos e como ficou estabelecido, então, este modelo terapêutico e como é entendido, nele, o desenvolvimento humano, desde seu nascimento até sua maturidade. Já o terceiro, apresenta um contexto antropológico, respaldando a idéia psicodramatista acerca do homem em relação, abordando a interação homem-sociedade e a evolução individual e cultural. Finalmente, o quarto versa sobre a prática psicodramática, suas principais técnicas e sua aplicabilidade. O segundo capítulo limita-se ao conceito de espontaneidade. Este é um tema presente em toda a teoria moreniana e, como faz parte da questão em pauta, entendeu-se ser necessário evidenciar e esclarecer o que Moreno entendia e a que se referia ao usar o termo espontâneo para adjetivar o ser humano. Portanto, os três sub itens pertencentes a este capítulo, referem- se a conceituação do fator E , ao detalhamento do processo de seu treinamento e, por fim, aos conceitos a ele vinculados, respectivamente. A abordagem psicodramática é toda permeada pelo conceito de espontaneidade, sendo seus objetivos a análise da perda, a rigidez ou a necessidade de treinamento da mesma a fim de que a pessoa mantenha ou retorne ao seu estado saudável, conforme as condições individuais apresentadas.

I

PSICODRAMA

1.1 Histórico do psicodrama

É muito importante o conhecimento da biografia de Jacob Levy Moreno, pois é nela que encontramos os primórdios do desenvolvimento do Psicodrama, como terapia e técnica psicoterápica. De origem judaica, aos cinco anos mudou-se com a família para Viena, onde teve a experiência de brincar de ser Deus. Até 1920 a vida de Moreno teve uma característica religiosa marcante, durante este período formou, juntamente com alguns amigos, a “Religião do Encontro”, afirma Gonçalves (1988). Após isto, em 1914, como estudante de medicina e acompanhado de um médico, fez um trabalho com as prostitutas vienenses utilizando-se de técnicas grupais e, por volta de 1916, trabalhou com refugiados, observando as interações psicológicas entre os elementos do grupo. Moreno se formou em 1917, em medicina, e três anos depois escreveu seu primeiro livro, denominado “As Palavras do Pai”. A data do aparecimento do psicodrama é de difícil determinação, por isso, ele estabeleceu a data oficial da inauguração como dia 1° de abril de 1921, visto que nesta data ele se apresentou sozinho, no Komodien Haus, em Viena, numa sessão considerada histórica. O psicodrama nasceu como um ato político, onde Moreno acreditava que as pessoas presentes seriam o seu elenco, os atores, mas também seus dramaturgos, pois o enredo da peça estava presente no inconsciente social dos que, no cotidiano, viviam as expectativas e desempenhavam papéis verdadeiros. Nesta primeira sessão, o público, de Moreno, era composto em sua maioria de curiosos habitantes de Viena pós-guerra. O tema era a busca de uma nova ordem de coisas, testar cada um dos que aspirasse à liderança, e que atuaria como

rei. Todavia, segundo o próprio Moreno, “ninguém foi considerado digno de ser rei e o mundo permaneceu sem líder”. Desde 1911, Moreno estava envolvido com o teatro e encenava a peça de sua autoria Aventuras de Zaratustra no Teatro das Crianças de Viena. Ali propunha uma experiência que denominou de ‘teatro do auditório’. Durante a encenação, na condição de espectador, ele fazia uma intervenção no andamento das cenas, testando a espontaneidade dos atores e estimulando o auditório a acompanhá-lo. Queria a participação comunitária na situação_._ (Almeida, 1991, p. 43) Conforme Gonçalves (1998, p. 14), A proposta de Moreno despertou muito interesse, mas discutia-se a possibilidade de fazer teatro realmente espontâneo. Quando se conseguia representação autêntica, correta do ponto de vista artístico, acusavam-no, e aos artistas, de terem ensaiado cuidadosamente. Quando havia fracasso, com dramatizações não convincentes, carentes de vitalidade, argumentavam que a proposta era inviável. Moreno percebia o quanto era difícil mudar a atitude fundamental da platéia e dos críticos, o que, se conseguindo, equivaleria à verdadeira revolução cultural. É durante o seu trabalho de teatro espontâneo com paciente, em 1923, que surge o caso Bárbara-Jorge, que caracterizou o início do Teatro Terapêutico. Em 1931 introduz o termo Psicoterapia de Grupo e este fica sendo o ano verdadeiro do início da psicoterapia de grupo científica. A última etapa de sua vida foi marcada pelo diálogo com terapeutas de outras linhas, visando esclarecer os fundamentos de sua proposta como pesquisador e psicoterapeuta. Morreu em 1974, aos oitenta e cinco anos de idade, afirma Gonçalves (1998, p. 17). Osório (2003, p.40) afirma ser, o psicodrama, o veículo por excelência para o desenvolvimento da espontaneidade do adulto ou a recuperação da espontaneidade infantil

admitiu a possibilidade de sucesso diante de uma conduta passiva. Tal modo de pensar evidencia sua personalidade expansiva, ágil e fortemente extrovertida”. Por isso, de acordo com sua própria personalidade descobriu e propôs uma nova modalidade, na qual houvesse mais espaço para a expressão e a liberdade de seu paciente. Segundo Moreno, conforme citado em Fonseca, nunca o EU poderá encontrar-se através de si mesmo, só poderá encontrar-se através de um outro, do TU. Em psicodrama, procura-se não incitar a relação transferencial com o psicoterapeuta, mas quando ela surge é mostrada para se estabelecer entre paciente e terapeuta uma relação pessoal adequada à realidade, a fim de que exista o encontro e não o pseudo-encontro, continua ele (Fonseca, 1980, p.7). O autor do psicodrama entendia que se não existisse um bom desenvolvimento da Tele, poderia acontecer um pseudo-encontro, ou seja, que a aproximação por ele proposta não fosse vivenciada de forma profunda e real. Esses conceitos serão explicados mais detalhadamente adiante. De acordo com Almeida (1991, p. 43), “o psicodrama moreniano prefigura-se nos elementos clássicos do teatro grego, principalmente na ressonância do coro”. As propostas desse modo de fazer teatro podem ser resumidas em cinco itens: (1) Palco aberto, com plena visibilidade de qualquer ponto do auditório. Daí o palco circular e o teatro de arena; (2) Eliminação do dramaturgo e do texto escrito; (3) Participação do auditório, num esforço comunitário, onde todos são autores e atores. Um teatro sem espectadores; (4) Improvisação: tudo é improvisado, a obra, a ação, o tema, as palavras, o encontro e a resolução dos conflitos e, por fim, (5) Tudo ocorrerá no “aqui e agora” da apresentação em status nascendi , a partir de um lócus. (Almeida, 1991, p. 44) Esse cinco itens do teatro moreniano objetivavam a produção de um espaço propício à manifestação da espontaneidade de cada participante, quer

fosse o protagonista quer não. Por intermédio da improvisação, questões pertencentes aos participantes viriam à tona e seriam passíveis de modificações. Mesmo “diante das dificuldades do teatro da espontaneidade, ele não se deu por vencido e criou o ‘jornal vivo’, denominado depois ‘jornal dramatizado’”. Após o fracasso comercial do seu teatro, instalou-se mais uma reviravolta na vida de Moreno. Ele decidiu fazer improvisação com pacientes psiquiátricos, realizando-a em “clima terapêutico”, acrescenta Almeida (1991, p. 46). Apesar das dificuldades e com todo seu esforço, Moreno conseguiu construir e sistematizar todo o seu trabalho de campo realizado ao longo de sua história, estabelecendo, então, um novo modelo de atuação para sua época: o modelo psicodramático.

1.2 Modelo Psicodramático

Este modelo parte de uma visão positiva do homem. Moreno acreditava que o homem nascia com recursos inatos como a espontaneidade, a criatividade e a sensibilidade. Entretanto, essas condições, que favorecem a vida e a criação, podem ser perturbadas por ambientes ou sistemas sociais constrangedores. Nesse caso, resta a possibilidade de recuperação dos fatores vitais, através da renovação das relações afetivas e da ação transformadora sobre o meio. Segundo Gonçalves (1998, p.46), “o homem nasce espontâneo e deixa de sê-lo devido a fatores adversos do meio ambiente. Os obstáculos ao desenvolvimento da espontaneidade encontram-se tanto no ambiente afetivo-emocional quanto no sistema social em que a família se insere”. A espontaneidade foi um dos fatores mais desenvolvidos e estudados por Moreno, porém, desta falaremos no próximo capítulo. Outro fator estudado por Moreno foi o Fator Tele, definido por ele como “a capacidade de se perceber de forma objetiva o que ocorre nas

p.50). Portanto, ao ver que tal fenômeno está acontecendo, o modelo psicodramático defende que o terapeuta deve trabalhá-lo para que não interfira na relação terapeuta-paciente. À medida que essas distorções diminuem e que a comunicação flui, criam-se condições para a recuperação da criatividade e da espontaneidade. Esta proposta de recuperação da espontaneidade e da criatividade, através do rompimento com padrões de comportamento estereotipados, com valores e formas de participação na vida social que acarretam a automatização do ser humano, foi chamada de Revolução Criadora. Outra idéia moreniana muito difundida é a do Encontro. Conforme Gonçalves (1998, p.52), “o convite moreniano ao encontro é uma espécie de convocação, é um apelo para a sensibilidade do próximo”. É um apelo da espontaneidade a uma vivência télica. Este acontecimento especial que alguns podem experienciar, eventual e repentinamente, escapa a definições lógicas. Ele propõe a disposição e a convocação para a proximidade; a proposta de uma vivência plena de troca; o empenho na compreensão mútua, a confiança na receptividade do outro; a acolhida também do silêncio que envolve o acontecimento; o afastamento efetivo do ruído, das interferências que distorcem; o lugar não pode ser delimitado; e a palavra é um dizer pleno e não brota de definições. A proposta metodológica de Moreno, para a abordagem do relacionamento bipessoal e grupal é a investigação das características do inter-relacionamento entre os indivíduos envolvidos na situação, tal como está acontecendo, naquele instante. Para ele, tanto no Encontro como no momento da criação - situações em que o ser humano se realiza, afirmando o que é essencial no seu modo de ser - há uma espécie de curto-circuito, vivido como se a duração fosse alterada subitamente, permitindo o destaque de um instante que transforma as pessoas envolvidas. A isto Moreno denominou o Momento. Acerca da formação da identidade, Moreno acreditava que esta se iniciava na Matriz de Identidade, que é o lugar preexistente, modificado pelo nascimento do sujeito, o qual é o

ponto de partida para o seu processo de definição como indivíduo. Moreno a definiu também como placenta social, pois estabelece a comunicação entre a criança e o sistema social da mãe, incluindo aos poucos os que dela são mais próximos. Assim, Matriz de Identidade é o lugar onde a criança se insere desde o nascimento, relacionando-se com objetos e pessoas dentro de um determinado clima. A sua dissolução é gradual, à medida que a criança vai ganhando autonomia, acrescenta Gonçalves (1998). Moreno divide o desenvolvimento infantil em dois momentos: O Primeiro Universo e o Segundo Universo. O Primeiro Universo é subdividido em dois tempos: o período da Identidade Total, no qual não há diferenciação entre pessoas e objetos, nem entre fantasia e realidade; só há o tempo presente para a criança; todas as relações são de proximidade; a criança apresenta fome de atos, desempenhando somente os papéis psicossomáticos; e que corresponde à Matriz de Identidade Total Indiferenciada. O outro período é denominado Identidade Total Diferenciada ou Realidade Total. Neste há um decréscimo da fome de atos; o começo da diferenciação de objetos e pessoas; o surgimento de certos registros, possibilitando sonhos; as relações começam a ter certa distância; e é correspondente à Matriz de Identidade Total Diferenciada. Já “o início do Segundo Universo é marcado pela ocorrência daquilo que Moreno chamou de “a brecha” entre fantasia e realidade. A partir desse momento o indivíduo começa a desenvolver dois novos conjuntos de papéis: sociais e psicodramáticos”, afirma Gonçalves (1998, p.61). Inicialmente ele descreveu cinco etapas dessa formação na Matriz, sendo elas: (a) Fase da indiferenciação: onde a criança, a mãe e o mundo são uma só coisa; (b) Fase onde a criança concentra atenção no outro, esquecendo-se de si mesma; (c) A criança está atenta a si mesma, ignorando o outro; (4) A criança e o outro estão presentes de maneira concomitante, e ela já se arrisca a tomar o papel do outro e, finalmente, (5) Pode haver concomitância na troca de papéis entre a criança e a outra pessoa.

sociais, opera de forma predominante a função da realidade, e estes correspondem à dimensão da interação social. Moreno observa que papéis desempenhados na idade adulta, os sociais, como o papel de doente, contêm estruturalmente as marcas dos papéis psicossomáticos e dos psicológicos desempenhados na infância. Na visão psicodramatista, o ego constitui-se a partir da dinâmica entre aglomerados de papéis, que são comunicantes entre si, como os papéis sociais, psicológicos e fisiológicos, é o que acredita Gonçalves (1998). De acordo com o grau de liberdade ou de espontaneidade o processo de desenvolvimento de um novo papel passa por três fases distintas: Role-taking - tomada de papel ou adoção de papel, que consiste simplesmente em imitá-lo; Role-playing - jogo de papéis, explorando suas possibilidades de representações; e Role-creating, que é o desempenho do papel de forma espontânea e criativa (Gonçalves, 1998, p.73). No Psicodrama, os papéis desempenhados, durante a dramatização, constituem papéis psicodramáticos. A ação dramática permite insights profundos, por parte do protagonista e do grupo, a respeito do significado dos papéis assumidos. Vale ressaltar que todos os papéis são complementares. São unidades de ação realizadas em ambiente humano ou na expectativa de inter-relação. Obviamente não há papel de senhor se não houver papel de servo e vice-versa. Papéis opostos ou solidários, de indivíduos diferentes, completam um o sentido do outro, diz Gonçalves (1998). Sendo os papéis comportamentos e condutas, somos levados a buscar entender de que forma a teoria moreniana compreende as ações humanas. A Teoria da Ação, criada por Moreno, propõe que “a experiência da ação livre, ou seja, espontânea e correspondente aos verdadeiros anseios do sujeito, permite-lhe recuperar suas melhores condições para a vida criativa” (Gonçalves, 1998, p.75). A realização da verdadeira ação espontânea equivale à criação e ao desempenho de papéis que correspondem a modelos próprios de existência.

Toda ação é interação por meio de papéis. Portanto, para agir em conjunto ou de forma combinada, as pessoas precisam de um tempo de preparação. Todo e qualquer ato está relacionado a três fatores: a zona , que é o conjunto dos elementos atuantes e presentes numa ação determinada; o foco , que é a região de coincidência dos diversos componentes da zona, sendo o núcleo principal da zona; e o aquecimento , o qual é a preparação para agir de acordo consigo mesmo ou com outrem; é um processo que se constitui como uma indicação concreta e mensurável de que a espontaneidade começa a atuar, explica Gonçalves (1998). O aquecimento presente na teoria da Ação demonstra a importância de se estar preparado para agir coerentemente não só consigo mesmo, mas com outros. Por isso o psicodrama visa o estudo do homem e suas relações, e este desde seu nascimento é inserido em grupos com seus costumes e sua cultura. A matéria-prima da psicologia é o homem em todas as suas expressões, as visíveis e as invisíveis, as singulares e as genéricas. O mundo social e cultural, conforme vai sendo experienciado por cada um possibilita a construção de um mundo interior. Ao combinar diversos fatores, o homem é levado a vivências muito particulares, que o constroem a cada dia. O homem vive uma relação dialética com a sociedade e cultura em que está envolvido, pois, ao mesmo tempo em que é influenciado e formado por ela, também a influencia e forma. A subjetividade, portanto, é a síntese singular e individual que cada um vai constituindo conforme vai se envolvendo e vivenciando as experiências da vida social e cultural. É o mundo das idéias, significados e emoções construído internamente pelo sujeito a partir de suas relações sociais, de suas vivências e, também, de sua constituição biológica. Ou seja, a subjetividade é a maneira de sentir, pensar, fantasiar, sonhar, amar e fazer de cada um. Assim, o sub item seguinte procura abordar algumas questões relacionadas a vários aspectos que envolvem este ser social, o ser humano, procurando relacionar o desenvolvimento individual e a evolução cultural.