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Importância da Contação de Histórias na Eliminação de Preconceitos: Projeto Educativo, Notas de aula de Literatura

Este texto apresenta um projeto educacional que utiliza a contação de histórias para ensinar aos alunos a identificar e eliminar preconceitos. O autor relata como as crianças, adolescentes e adultos podem aprender a ouvir e contar histórias que abordam diferentes tipos de preconceitos, como raça, sexo, classe social e idade. O projeto tem mostrado resultados positivos, incluindo melhoria no comportamento dos alunos em relação aos colegas e às professores, além de incentivar a leitura. Os livros utilizados no projeto abordam temas relacionados à vida cotidiana e propõem valores metafóricos através de personagens, ações e comportamentos.

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Gisele
Gisele 🇧🇷

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CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: QUEBRANDO PRECONCEITOS
* Irene Zanette de Castañeda
O objetivo deste texto é mostrar através do mundo fascinante da literatura, que a
criança, a partir de 6 ou sete anos, pode aprender a quebrar “preconceitos” ou
antipatias, brincando. E a contação de histórias é a forma mais agradável de brincar
com a literatura tornando-a útil e agradável, também para jovens e adultos.Agradável
porque encanta, fascina, motiva, sensibiliza, faz vivenciar e inspira a busca de novos
mundos. Útil porque veicula valores como o respeito ao homem e à natureza, a
solidariedade, a amizade, a bondade, o amor, a fraternidade.
O trabalho que faço com alunos de diversos cursos tem trazido situações angustiantes.
Trata-se de uma vivência etnográfica com práticas e impressões. É bom observar que
não tomamos a palavra da criança ao pé da letra, mas lemos nos implícitos ou explícitos
situações constrangedoras que chocam. São crianças de escolas públicas, carentes, que
expressam seus sentimentos . As meninas ou meninos choram diante do que ouvem dos
colegas.
A proposta inicial foi selecionar livros de autores consagrados da Literatura Brasileira
ou não que tratam de valores e desvalores. Dos valores a serem seguidos. Dos
desvalores, privilegiamos a questão dos preconceitos, que estão em todos os lugares
ancorados em expressões como: a respeito da cor, que se ouve, comumente entre as
crianças e adolescentes; “cabelo de bom-bril”, “pretinha”,”neguinha suja” “café – com –
leite”, “loura burra”; de peso que comumente as crianças chamam umas as outras de
“gorducha”; de classe social “ “miserável”, “pobretona”, “zé ninguém”; de sexo, que
pejorativamente chamam de “bicha”, “sexo frágil”, de portadores de necessidades
especiais como “aleijada”, “imprestável”, “não presta para nada”; de idade: “velha
coroca”, “bruxa”, “biruta”, “gagá”, ; formas de pensar: “retrógrada”, “ultrapassada”, “já
era”, “o meu pensamento é o certo” o seu está fora de cogitação”; de religião: “crente”,
“pagão”; política: “ de esquerda, de direita”; diferenças físicas: “ magrela”, “tísica”.
Com um trabalho de contação que realizamos há vários anos, demonstramos que a
criança, é capaz de pensar, de assimilar, de discutir temas relacionados ao seu dia- a –
dia, sem dúvida, dentro de suas limitações e amadurecimento.
Tanto as crianças, os adolescentes, os jovens e os adultos podem aprender a ouvir e a
contar histórias não só prazerosas pelo humor, pelo suspense, pelo mundo imaginário,
mas também pela temática relacionada a vários tipos de preconceitos expressos pela
antipatia ou gozação, comuns entre crianças, espelhos da família e da comunidade.
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**CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: QUEBRANDO PRECONCEITOS

  • Irene Zanette de Castañeda** O objetivo deste texto é mostrar através do mundo fascinante da literatura, que a criança, a partir de 6 ou sete anos, pode aprender a quebrar “preconceitos” ou antipatias, brincando. E a contação de histórias é a forma mais agradável de brincar com a literatura tornando-a útil e agradável, também para jovens e adultos.Agradável porque encanta, fascina, motiva, sensibiliza, faz vivenciar e inspira a busca de novos mundos. Útil porque veicula valores como o respeito ao homem e à natureza, a solidariedade, a amizade, a bondade, o amor, a fraternidade. O trabalho que faço com alunos de diversos cursos tem trazido situações angustiantes. Trata-se de uma vivência etnográfica com práticas e impressões. É bom observar que não tomamos a palavra da criança ao pé da letra, mas lemos nos implícitos ou explícitos situações constrangedoras que chocam. São crianças de escolas públicas, carentes, que expressam seus sentimentos. As meninas ou meninos choram diante do que ouvem dos colegas. A proposta inicial foi selecionar livros de autores consagrados da Literatura Brasileira ou não que tratam de valores e desvalores. Dos valores a serem seguidos. Dos desvalores, privilegiamos a questão dos preconceitos, que estão em todos os lugares ancorados em expressões como: a respeito da cor, que se ouve, comumente entre as crianças e adolescentes; “cabelo de bom-bril”, “pretinha”,”neguinha suja” “café – com – leite”, “loura burra”; de peso que comumente as crianças chamam umas as outras de “gorducha”; de classe social “ “miserável”, “pobretona”, “zé ninguém”; de sexo, que pejorativamente chamam de “bicha”, “sexo frágil”, de portadores de necessidades especiais como “aleijada”, “imprestável”, “não presta para nada”; de idade: “velha coroca”, “bruxa”, “biruta”, “gagá”, ; formas de pensar: “retrógrada”, “ultrapassada”, “já era”, “o meu pensamento é o certo” o seu está fora de cogitação”; de religião: “crente”, “pagão”; política: “ de esquerda, de direita”; diferenças físicas: “ magrela”, “tísica”. Com um trabalho de contação que realizamos há vários anos, demonstramos que a criança, é capaz de pensar, de assimilar, de discutir temas relacionados ao seu dia- a – dia, sem dúvida, dentro de suas limitações e amadurecimento. Tanto as crianças, os adolescentes, os jovens e os adultos podem aprender a ouvir e a contar histórias não só prazerosas pelo humor, pelo suspense, pelo mundo imaginário, mas também pela temática relacionada a vários tipos de preconceitos expressos pela antipatia ou gozação, comuns entre crianças, espelhos da família e da comunidade.

Além de propiciarem lazer através da magia da contação, podem levar temas para um questionamento mais sério através da Literatura. Neste tipo de trabalho não se subestima a inteligência das crianças, a capacidade de pensar criticamente. Não é claro, como o olhar do adulto. Tentamos entender o olhar das crianças. Quando se trabalha com a contação, mostramos a elas e aos adolescentes que as pessoas são diferentes em certos aspectos como físicos, culturais, idiossincrásicos, porém iguais em termos de cidadania, isto é, que todas têm os mesmos direitos e deveres na sociedade. Fazemos compreenderem que é preciso respeitar as diferenças, tolerá-las para que haja harmonia e paz entre os colegas de escola, os familiares, a comunidade e o mundo.. As crianças e adolescentes compreendem que não se deve colocar apelidos pejorativos nos colegas por serem portadores de necessidades especiais auditivos ou por serem magros, gordos, índios, usarem óculos, serem de outra religião, porque podem causar traumas irreparáveis, etc.Temos proposto essa temática a partir de alguns livros da Literatura Infantil que enlaçam fantasia e realidade, de forma sutil e artística, propõem valores metaforizados através de personagens, ações e comportamentos. E, acima de tudo, através do prazer da contação de histórias. Temos utilizado vários livros para essa finalidade. Suas histórias são lidas, adaptadas, memorizadas, contadas e discutidas. Posteriormente à leitura, abrimos espaço para conversas, no nível das crianças que expõem suas idéias com mais espontaneidade, mostrando-se mais abertas às transformações desejadas como a eliminação de preconceitos, antipatias, ou o resgate da auto-estima e a motivação à leitura. No decorrer do trabalho, os participantes recolhem muitos depoimentos sobre fatos ocorridos com familiares, vizinhos ou colegas das crianças, dos adolescentes e dos adultos. Eles retratam muito bem os resultados positivos da contação. Alguns são expressos por escrito ou através de desenhos. Quanto aos idosos do asilo, percebemos que eles querem mais contar suas histórias dramáticas do que ouvi-las, querem exorcizá-las, purificarem-se. Esse lado da contação é bastante atraente, curioso, catártico e digno de um estudo mais aprofundado. Os alunos atendidos pelo projeto ACIEPE melhoram de comportamento em relação aos colegas e às professoras, à disciplina, e o respeito se restabelece, a ordem se instaura, a motivação para a leitura torna-se constante, a procura por livros, sobretudo os das histórias contadas, torna o ambiente das bibliotecas eufórico, quando há bibliotecas.Quando não existem, os alunos fazem seus próprios livros. A expectativa para as sessões de contação exige dos professores que se atualizem na leitura, na preparação de novos contos, que revejam, enfim, seus conceitos. A

enriquecedor deste trabalho foca também a questão do intercâmbio de informações intercursos e interdisciplinares. Nesse sentido, obtemos a relevância acadêmica.. .Enfim, faz-se uso da Literatura não só como fonte de prazer, de incentivo à leitura, mas como um instrumento transformador da sociedade. Tenta-se mostrar que ela pode também ser um meio formador de uma nova mentalidade. A ligação da arte de contar histórias com as atividades acadêmicas ajuda muito na eliminação da timidez e no aprofundamento do conhecimento. A arte de contar Histórias não só propicia lazer, mas desperta o senso crítico dos participantes, sobretudo das crianças, pois elas passam a ser vistas como cidadãs em sua formação e criadoras de cultura. Selecionamos as histórias para serem contadas, na maioria das vezes, polêmicas e críticas. Daí a importância do trabalho não só para o Departamento de Letras, mas de outros cursos , e das escolas públicas carentes, creches e entidades assistenciais para as crianças, jovens e adultos. A Universidade é o lugar onde se plantam essas sementes que são distribuídas para a sociedade. Neste sentido, a universidade ganha certa relevância social. O conteúdo deste projeto propõe perspectivas de soluções para problemas graves que temos na sociedade em geral: 1) Contribuirão como sementes que se proliferam em amplos campos frutíferos no seio da sociedade. 2) Contribuirão para a formação das crianças, dos jovens e de adultos no aspecto: a) da socialização, inserindo harmonicamente, sobretudo a criança no meio social, respeitando e se fazendo respeitar; b) do desenvolvimento individual na medida em que haverá interpretação pessoal bem estruturada, fazendo-a construir-se no seio da comunidade ; c) da educação, passando-se o conhecimento reflexivo, tornando a sociedade mais justa, solidária, fraterna e mais humana. Os livros mais indicados são os seguintes:. Literatura Infantil de Fanny ABRAMAOVICH. ;ALMEIDA. Não me Chame de Goducha, , Fernanda Lopes de Almeida; Minha Irmã é Diferente; A princesa dos cabelos azuis e o horroroso homem dos pântanos ; Não me Chame de Gorducha ; A Montanha Encantada dos Pássaros Selvagens de Ruben Alves ; Como Nasceu a alegria; A menina e o Pássaro encantado;. O Patinho feio de ANDERSEN;.. Júlio Emílio_. Pretinha Eu_? De Júlio Emílio Braz; Histórias Africanas para contar e recontar de Rogério Andrade. Barbosa; A Zebra Branca de Milton Filho Camargo; Irmão negro de Walcyr Carrasco; “ Contar histórias, uma arte sem idade” de Betty Coelho; O Povo Pataxó e suas historias Vanusa Brás da Conceição; A História do Galo Marquês, Ganymedes de JOSÉ;. Menina Bonita do

Laço de Fita de Ana Maria Machado;. Faustino. Luana e sua turma de Arnoldo e Osvaldo Macedo; Maria Heloísa Penteado. Lúcia já vou indo; O amigo do Rei de Ruth Rocha;. O Coelhinho que não era de Páscoa R. O Dragão da Montanha ;VAZ, Joaquim Mattar e João. ; ZIRALDO. Um pai para o Saci; O Menino Marrom de Ziraldo. Estes são alguns dos livros adotados para as sessões de contação. São narrativas agradáveis que deleitam o leitor e fascinam os ouvintes, além de propiciar-lhes uma calorosa conversa. Depois das sessões de contação das histórias selecionadas, as crianças, livremente são convidadas a uma conversa. Foram bastante produtivas porque elas expressam situações que ouvem dos colegas, em casa, dos irmãos, dos vizinhos. Desenham situações constrangedoras e também sinalizam com sentimentos positivos a auto-estima,o gostar-se de si mesmo depois de ouvir as histórias como menina Bonita do laço de Fita”, por exemplo..Há maior interação entre as crianças, mudam de comportamento junto aos professores, e familiares, segundo os depoimentos.Percebemos que o trabalho há 6 anos tem servido como instrumento facilitador de socialização e de inclusão social. .Ajudou os alunos a melhorarem como pessoas, na compreensão dos seus semelhantes, sobretudo os mais carentes. Conseguimos, se não eliminar os mais diversos tipos de preconceito, ao menos amenizá-los .Enfim, fizemos uso da Literatura não só como fonte de prazer, de incentivo à leitura, mas como um instrumento transformador da sociedade e tentamos mostrar que ela pode também ser um meio formador de uma nova mentalidade.

  • Professora de literatura Infanto-juvenil da UFSCar

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Fernanda Lopes de. Não me Chame de Goducha, São Paulo, Ática, 1993. _______________________. Minha Irmã é Diferente. São Paulo, Ed. Ática, 1991. ________________________ A princesa dos cabelos azuis e o horroroso homem dos pântanos. , Sãp Paulo, Ed. Ática, 1991. ________________________ Não me Chame de Gorducha. São Paulo, Ed. Ática, 1994. ALVES, Rubem. A Montanha Encantada dos Pássaros Selvagens. Ed. Paulus, 1987 _______________ Como Nasceu a alegria. Paulus, 1997. _______________ A menina e o Pássaro encantado. Edições Loyola,SP, 2001. ANDERSEN. Hans Cristian. O Patinho feio. São Paulo, Ed. Ática, 1993. BASTIDE, Roger. Relações raciais entre brancos e negros em São Paulo, UNESCO, 1955. BENTO, Maria ap. Silva. Cidadania em Preto e Branco. São Paulo, Ática, 1996. BENJAMIN, W. "O Narrador"im Magia e Técnica, Arte e Política , ed. Brasiliense, 1985. BRAZ, Júlio Emílio_. Pretinha Eu_? Ed. Scipione, 1997. BARBOSA, Rogério Andrade. Histórias Africanas para contar e recontar.Editora do Brasil,s/d. CAMARGO, filho, Milton. A zebra branca. São Paulo, Ática, `987. CÍCERO. Saber Envelhecer , LPM, CARRASCO, Walcyr. Irmão negro. Sãp Paulo, Ed. Moderna, 1996.