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Colleen Houck - O Resgate do Tigre, Notas de estudo de Engenharia Elétrica

continuação do romance da maldição do tigre

Tipologia: Notas de estudo

2013
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Compartilhado em 10/12/2013

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COLLEEN HOUCK

O RESGATE DO TIGRE

LIVRO DOIS

Para meu marido, Brad -

prova de que de fato existem caras assim por aí.

O tear do tempo

Autor desconhecido

A vida do homem é urdida no tear do tempo Em um padrão que ele nem mesmo vê, Enquanto os tecelões trabalham e as lançadeiras Voam até a aurora da eternidade.

Algumas lançadeiras sustentam fios de prata Enquanto em outras deslizam fios de ouro, Embora muitas vezes os matizes mais escuros Sejam tudo o que se possa ver.

ARQUEIRO

numa queda livre em direção às selvas lá embaixo. Somente assim eu me sentiria inteira novamente. Eu havia deixado meu coração na Índia e podia sentir sua ausência em meu peito. Tudo o que restava de mim era uma casca vazia, entorpecida e sem sentido.

A pior parte era que...eu tinha feito isso a mim mesma.

Como pude me apaixonar? E por alguém tão... complicado? Os últimos meses tinham voado. Não sei como, de um trabalho no circo, eu partira numa viagem para a Índia com um tigre - que vinha a ser um príncipe indiano - e travara batalhas contra criaturas imortais, tentando juntar os pedaços de uma profecia perdida. Agora minha aventura havia chegado ao fim e eu estava sozinha. Era difícil acreditar que apenas alguns minutos antes eu tinha dito adeus ao Sr. Kadam. Ele não falara muita coisa. Havia se limitado a dar tapinhas em minhas costas enquanto eu o abraçava com força, sem querer soltá-lo. Por fim, o Sr. Kadam se libertara dos meus braços, murmurara algumas palavras na tentativa de me tranqüilizar e me entregara aos cuidados de sua tatatatatataraneta, Nilima. Felizmente, no avião, Nilima me deixou sozinha. Eu não queria a companhia de ninguém. Ela me serviu o almoço, mas eu não conseguia nem pensar em comer. Sabia que estaria delicioso, porém tinha a sensação de estar andando perto de areia movediça. A qualquer segundo poderia ser sugada para um abismo de desespero. A última coisa que eu queria era comer. Sentia-me desgastada e inútil, como o embrulho amassado de um presente de Natal. Nilima retirou a refeição e tentou me seduzir com minha bebida favorita - água bem gelada com limão mas eu a deixei na mesa. Fiquei olhando para o vidro sabe-se lá por quanto tempo, observando a água se condensar no exterior do copo, formando gotículas que escorriam lentamente e empoçavam em torno da base. Tentei dormir, esquecer tudo por pelo menos algumas horas, mas aquela tranqüilidade estava fora do meu alcance. Pensamentos sobre meu tigre branco e a maldição secular que o aprisionava disparavam em minha mente enquanto eu examinava o espaço ao redor. Eu fitava o

assento do Sr. Kadam vazio à minha frente, olhava pela janela ou observava uma luz piscando na parede. De vez em quando me voltava para minha mão, traçando com o dedo o lugar onde o desenho de hena feito por Phet já não era mais visível. Nilima voltou trazendo um MP3 player com milhares de músicas. Várias eram de artistas indianos, mas a maior parte era de americanos. Rolei a tela em busca das canções de amor mais tristes, pus os fones nos ouvidos e apertei o PLAY. Abri o zíper da mochila para pegar a colcha de minha avó e só então lembrei que havia embrulhado Fanindra com ela. Puxando as pontas da colcha, espiei a cobra dourada, um presente da deusa Durga, e a coloquei ao meu lado no braço da poltrona. A joia encantada estava enrascada, descansando - ou pelo menos era o que eu supunha. Esfregando-lhe a cabeça dourada e lisa, sussurrei:

  • Você é tudo que eu tenho agora. Estendendo a colcha sobre minhas pernas, recostei-me na poltrona reclinada, olhei para o teto do avião e fiquei ouvindo uma canção chamada "One Last Cry". Mantendo o volume baixo, coloquei Fanindra no colo e acariciei os anéis reluzentes de seu corpo. O brilho verde dos olhos preciosos da cobra iluminava suavemente a cabine do avião e me consolava, enquanto a música preenchia o vazio em minha alma.

1 Estudos

Várias horas letárgicas mais tarde, o avião finalmente aterrissou no aeroporto de Portland, no Oregon. Quando meus pés tocaram o asfalto da pista, corri o olhar pelo terminal e pelo céu cinzento e nublado. Fechei os olhos e deixei a brisa fria soprar minha pele. Ela trazia o cheiro da mata. Um chuvisco suave molhou meus braços nus. Era bom estar em casa.

não assoviavam, mas certamente admiravam a visão. Nilima os ignorava

e eu pensava: Devo estar tão horrível por fora quanto me sinto por

dentro.

Quando chegamos ao centro de Salem, passamos direto pela ponte Marion Street, que teria nos levado ao outro lado do rio Willamette e à rodovia 22, na direção das fazendas de Monmouth e Dallas. Avisei a Nilima que ela havia perdido a saída, mas ela se limitou a dar de ombros e dizer que estávamos tomando Um atalho.

  • Tudo bem - retruquei com sarcasmo. - O que são mais alguns minutos numa viagem de dias? Nilima jogou seu lindo cabelo para trás, sorriu para mim e continuou dirigindo, movendo-se em meio ao tráfego que seguia para South Salem. Eu nunca tinha ido para aqueles lados. Era definitivamente o caminho mais longo para Dallas. Nilima seguiu em direção a um grande morro coberto pela mata. Lentamente, subimos vários quilômetros pela linda estrada sinuosa e margeada por árvores. Por entre elas, vi ruas de terra e casas que pontilhavam a floresta aqui e ali, mas a área era em grande parte intocada. Fiquei surpresa pelo fato de a cidade ainda não a ter anexado e começado a construir ali. Era um lugar encantador. Reduzindo a velocidade, Nilima tomou uma estrada particular, subindo ainda mais a colina. Embora passássemos por caminhos secundários, eu não via construções. No fim da estrada paramos diante de uma casa geminada aninhada no meio da floresta de pinheiros. Cada lado do prédio era a imagem espelhada do outro, com dois andares, garagem e um pequeno pátio compartilhado. Ambos tinham uma ampla janela na sacada que dava para as árvores. O revestimento de madeira era pintado de castanho e um tom escuro de verde, e o telhado era coberto com telhas verde-acinzentadas. Lembrava, de certa forma, um chalé de esqui. Nilima entrou suavemente na garagem e desligou o carro.
  • Chegamos em casa - anunciou.
  • Em casa? Como assim? Não vamos para a casa dos meus pais adotivos?
  • perguntei, ainda mais confusa do que já estava. Nilima sorriu, compreensiva.
  • Não. Esta é a sua casa - disse ela delicadamente.
  • Minha casa? Do que você está falando? Eu moro em Dallas. Quem mora aqui?
  • Você. Venha, vamos entrar que eu explico. Passamos por uma área de serviço e entramos na cozinha, que era pequena, com cortinas amarelas, eletrodomésticos de aço inoxidável novinhos em folha e paredes decoradas com motivos amarelo-limão. Nilima pegou duas garrafas de refrigerante diet na geladeira. Larguei minha mochila no chão e falei:
  • Ok, Nilima, agora me diga o que está acontecendo. Ela ignorou meu pedido. Em vez disso, me ofereceu o refrigerante, que recusei, e então sugeriu que eu a seguisse. Suspirando, tirei os tênis para não sujar o carpete felpudo da casa e a acompanhei até a pequena porém charmosa sala de estar. Ali nos sentamos num belo sofá de couro marrom. Uma estante alta, cheia de clássicos encadernados com capa dura que provavelmente custavam uma fortuna, me acenava convidativa do canto, enquanto uma janela ensolarada e uma grande televisão de tela plana sobre um rack de madeira polida também disputavam minha atenção. Nilima começou a folhear os papéis deixados sobre a mesa de centro.
  • Kelsey - começou ela -, esta casa é sua. É parte do pagamento pelo seu trabalho neste verão na Índia.
  • Eu não estava trabalhando, Nilima.
  • O que você fez foi o trabalho mais vital de todos. Você realizou muito mais do que qualquer um de nós sequer tinha esperança de conseguir. Temos uma grande dívida para com você e essa é uma pequena forma de recompensar seus esforços. Você superou obstáculos terríveis e quase perdeu a vida. Somos todos muito gratos. Constrangida, brinquei:
  • Bom... - disse Nilima, hesitante. - Ele também tomou a liberdade de matricular você na Western Oregon University. O curso e o material didático já foram pagos. Seus livros estão na bancada, ao lado de sua lista de disciplinas, um moletom da Western Oregon e um mapa do campus.
  • Ele me matriculou na Western Oregon? - perguntei, incrédula. - Eu estava planejando ir para a faculdade comunitária local e trabalhar... não entrar para a Western Oregon.
  • Ele deve ter achado que você iria preferir uma universidade maior. Suas aulas começam na próxima semana. Quanto a trabalhar, você pode, se quiser, mas não será necessário. Ele também abriu uma conta bancária para você. O cartão está na bancada. Não se esqueça de assiná- lo no verso. Engoli em seco.
  • E... hã... exatamente quanto dinheiro tem nessa conta? Nilima deu de ombros.
  • Não faço a menor idéia, mas tenho certeza de que é o suficiente para seus gastos pessoais. Naturalmente, nenhuma das suas contas de consumo será enviada para cá. Tudo irá direto para um contador. A casa e o carro já estão quitados, assim como todas as suas despesas na universidade. Ela deslizou um maço de papéis em minha direção e então se recostou e bebericou seu refrigerante. Por um minuto fiquei sentada ali, imóvel, e então me lembrei de minha decisão de ligar para o Sr. Kadam. Peguei o telefone e procurei o número. Nilima me interrompeu.
  • Tem certeza de que quer devolver tudo, Kelsey? Estou certa de que ele faz questão de que você fique com essas coisas.
  • O Sr. Kadam deveria saber que não preciso de sua caridade. Vou explicar que a faculdade comunitária é mais do que adequada e que realmente não me importo de morar no dormitório e andar de ônibus. Nilima se inclinou para a frente.
  • Mas, Kelsey, não foi o Sr. Kadam quem providenciou tudo isso.
  • O quê? Se não foi o Sr. Kadam, então quem...Ah! - Desliguei o celular

imediatamente. Não havia a menor chance de eu ligar para ele,

qualquer que fosse o motivo. - Entãoele faz questão disso, não é?

As sobrancelhas arqueadas de Nilima se juntaram, expressando sua confusão.

  • É, eu diria que sim.

Deixá-lo havia quase dilacerado meu coração. Ele estava a mais de 11

mil quilômetros de distância, na Índia, e ainda assim arranjava um jeito

de ter algum poder sobre mim.

  • Muito bem - resmunguei. - Ele sempre consegue o que quer mesmo. Não tem sentido eu tentar devolver. Ele vai pensar em algum outro presente exorbitante, que só vai servir para complicar ainda mais nosso relacionamento. Um carro buzinou lá fora, na entrada.
  • Minha carona de volta ao aeroporto chegou - disse Nilima, levantando-se. - Ah! Eu quase esqueci. Isto aqui também é para você. - Ela pôs um celular novo na minha mão, ao mesmo tempo em que pegava o aparelho velho, e me abraçou rapidamente antes de se dirigir à porta da frente.
  • Mas... espere! Nilima!
  • Não se preocupe, Kelsey. Vai dar tudo certo. Os documentos de que precisa para a universidade estão na bancada da cozinha. Tem comida na geladeira e todos os seus pertences estão no segundo andar. Pode pegar o carro e visitar sua família adotiva ainda hoje, se quiser. Eles estão esperando seu telefonema. Ela se virou, caminhou graciosamente para a porta e entrou no carro que a aguardava. Do banco do carona, acenou. Acenei de volta, tristonha, e fiquei olhando até o elegante sedã preto desaparecer de vista. De repente, eu estava só numa casa estranha, cercada pela mata silenciosa. Após a partida de Nilima, resolvi explorar o lugar que eu agora chamaria de lar. Ao abrir a geladeira, vi que as prateleiras estavam bem

e seria bom estar com uma família normal e agir como um ser humano normal, para variar. Dormir no chão da selva, falar com deusas indianas, me apaixonar por um... tigre - nada disso era normal. Nem de longe. Abri o closet e vi que de fato minhas roupas e a coleção de fitas de cabelo tinham sido trazidas da casa de Mike e Sarah. Corri os dedos por alguns daqueles itens que eu não via fazia meses. Quando abri o outro lado do closet encontrei todas as roupas que haviam sido compradas para mim na Índia, assim como várias peças novas ainda em suas capas de proteção.

Como o Sr. Kadamconseguiu fazer essas coisas chegarem aqui antes de

mim? Eudeixei tudo isso na Índia!

Fechei a porta, encerrando as roupas e as lembranças, determinada a não abri-la outra vez. Seguindo para a cômoda, puxei a gaveta do alto. Sarah havia arrumado minhas meias do jeito que eu gostava. Os pares de meias pretas, brancas e de cores variadas estavam enrolados em bolas perfeitas, organizadas em fileiras. Ao abrir a gaveta seguinte, o sorriso desapareceu do meu rosto. Ali estava o pijama de seda que eu, de propósito, deixara na Índia. Meu peito ardeu quando passei a mão pelo tecido macio. Então, resoluta, fechei a gaveta. Virando-me para deixar o quarto claro e arejado, me toquei de uma coisa e na mesma hora o sangue afluiu rapidamente para o meu rosto. As cores do quarto eram pêssego e creme.

Deve ter sido escolha dele, deduzi. Uma vez ele disse que eu cheirava a

pêssego com creme. Era de se imaginar que acharia uma forma de me

fazer lembrar dele, mesmo a um oceano de distância. Como se eu

pudesse esquecer...

Joguei a mochila na cama e imediatamente me arrependi, lembrando que Fanindra ainda estava dentro dela. Depois de tirá-la com cuidado e me desculpar, acariciei-lhe a cabeça dourada e a coloquei sobre uma almofada. Peguei o celular novo no bolso da calça. Como tudo mais, o aparelho era caro e totalmente desnecessário, com design da grife

Prada. Liguei o telefone e esperei que o número dele aparecesse

primeiro, mas isso não aconteceu. Tampouco havia mensagens. Na verdade, os únicos números na memória eram o do Sr. Kadam e o dos meus pais adotivos. Vários sentimentos tomaram conta de mim. A princípio fiquei aliviada. Depois, confusa. E em seguida, desapontada. Uma parte de mim

ponderou:Um telefonema teria sido gentil. Só para ver se cheguei bem.

Irritada comigo mesma, liguei para meus pais adotivos. Disse a eles que estava em casa, cansada da viagem, e que iria jantar com eles na noite seguinte. Ao desligar, fiz uma careta, me perguntando que tipo de surpresa à base de tofu estaria à minha espera. Mas qualquer que fosse o cardápio natural e saudável, valeria a pena suportá-lo pela oportunidade de revê-los. Então desci a escada, liguei o som, preparei um lanche com fatias de maçã e manteiga de amendoim, e comecei a folhear os papéis da universidade que estavam na bancada. O Sr. Kadam escolhera estudos internacionais como minha principal área de interesse, incluindo também história da arte. Examinei o quadro de horários. Eu não sabia como, mas o Sr. Kadam conseguira colocar a mim, uma caloura, em turmas de nível mais avançado. Não só isso, como também já me inscrevera tanto no primeiro quanto no segundo trimestre, embora a matrícula do segundo ainda não estivesse aberta.

A Western Oregon provavelmente recebeu uma polpuda doação vinda

da Índia, pensei, com um sorriso irônico. Não me surpreenderia se visse

um novo prédio ser erguido no campus este ano.

KELSEY HAYES, MATRÍCULA: 69428LT

WESTERN OREGON UNIVERSITY

PRIMEIRO TRIMESTRE

Redação acadêmica 115 (4 créditos). Introdução à redação de trabalhos acadêmicos.

estranho saber que eu deveria voltar à minha antiga vida no Oregon. De certa forma, eu parecia não mais me ajustar a ela. Para minha sorte, as aulas na Western Oregon seriam interessantes, em especial as de religião e magia. O Sr. Kadam tinha escolhido disciplinas que provavelmente eu mesma iria escolher - exceto latim. Franzi o nariz. Nunca fui muito boa em línguas. Pena que a universidade não oferecia nenhum curso de algum idioma indiano. Seria bom aprender híndi, principalmente se eu voltar à Índia algum dia e me dedicar às outras três tarefas indicadas na profecia de Durga para quebrar a maldição do tigre. Talvez... Nesse instante, o rádio começou a tocar "I Told You So", de Carrie Underwood. Ouvir aquela letra me fez chorar. Enxugando uma lágrima,

pensei queele provavelmente encontraria outra pessoa muito em breve.

Eu não me aceitaria de volta se estivesse em seu lugar. Pensar nele, mesmo por um minuto, era doloroso demais. Calei minhas lembranças, guardando-as numa minúscula fenda no meu coração. Então as cobri com um monte de pensamentos novos. Pensei na universidade, em minha família adotiva e no fato de estar de volta ao Oregon.

Vou ter que me manter ocupada, decidi. Esta será a minha salvação.

Vou estudar feito louca, visitar os conhecidos e... e ficar com outros

caras. Isso! É o que vou fazer. Vou sair com outras pessoas e me manter

ativa, assim estarei cansada demais para pensar nele. A vida vai seguir

em frente. Tem que seguir.

Quando fui para a cama já era tarde e eu estava exausta. Fiz um carinho em Fanindra, deslizei para debaixo dos lençóis e dormi.

No dia seguinte meu celular novo tocou. Era o Sr. Kadam, que parecia ao mesmo tempo animado e decepcionado.

  • Olá, Srta. Kelsey - disse ele, alegremente. - Fico muito feliz em saber que chegou em casa em segurança. Está tudo em ordem e a seu contento?
  • Eu não esperava nada disso - repliquei. - Acho que não mereço tanto. Me sinto mal...
  • Nem pense nisso. Foi um prazer providenciar tudo para você. Vencida pela curiosidade, perguntei:
  • Como está indo com a profecia? O senhor já a desvendou?
  • Estou tentando traduzir o restante do monólito que vocês encontraram. Mandei alguém até o templo de Durga para fotografar as outras colunas. Parece que cada uma delas representa um dos quatro elementos: terra, ar, água e fogo.
  • Faz sentido - comentei, lembrando-me da profecia de Durga. - A coluna original que encontramos devia estar relacionada à terra, pois mostrava lavradores fazendo oferendas de frutas e grãos. Além disso, Kishkindha era subterrânea e o primeiro objeto que Durga nos pediu que encontrássemos foi o Fruto Dourado.
  • Exato, mas acabamos descobrindo que existiu uma quinta coluna que foi destruída há muito tempo. Ela representava o elemento espaço, o que é comum na fé hindu.
  • Bem, se existe alguém capaz de decifrar o que virá em seguida, esse alguém é o senhor. Obrigada por ligar para saber de mim - acrescentei. Antes de desligar, prometemos voltar a nos falar em breve. Peguei meus livros novos, estudei por cinco horas e depois fui até uma loja de brinquedos comprar tigres de pelúcia laranja com listras pretas para Rebecca e Sammy, já que eu tinha me esquecido completamente de trazer alguma coisa da índia para eles. Agindo contra o bom senso, também acabei comprando um tigre de pelúcia branco, grande e caro. De volta à casa, abracei o tigre e enterrei meu rosto em seu pelo. Era

macio, mas o cheiro não combinava. O cheiro dele era maravilhoso, um

misto de sândalo e cachoeira. O bicho de pelúcia era apenas uma réplica. Suas listras eram diferentes e os olhos eram vítreos - de um azul

fosco, sem vida. Os olhosdele eram de um azul-cobalto vivo.

O que há de errado comigo? Eu não devia ter comprado isso. Assim vai

ficar ainda mais difícil esquecê-lo.

Deixando de lado as emoções, separei umas roupas e me arrumei para visitar minha família adotiva.

simpático. Também declarou que você é... como foi mesmo que ele disse... "um investimento que trará uma grande recompensa no futuro". Lancei um olhar inseguro a Sarah.

  • Espero que ele esteja certo quanto a isso. Ela riu e em seguida ficou séria.
  • Nós sabemos que você é especial, Kelsey, e que merece coisas maravilhosas. Talvez esta seja a forma de o Universo compensar a perda dos seus pais. Embora eu saiba que nada irá substituí-los. Fiz um gesto afirmativo com a cabeça. Ela estava feliz por mim. E saber que eu estaria respaldada financeiramente para viver com conforto por conta própria devia ser um grande alívio para minha família. Sarah me abraçou e tirou do forno um prato que exalava um cheiro estranho. Ela o colocou em cima da mesa e disse:
  • Agora vamos comer! Fingindo entusiasmo, perguntei:
  • Então... o que temos para o jantar?
  • Lasanha integral orgânica de espinafre com tofu e semente de linhaça.
  • Hum, mal posso esperar - falei, forçando um meio sorriso. Pensei com carinho no mágico Fruto Dourado que eu tinha deixado na Índia - o objeto divino que podia fazer a comida mais deliciosa aparecer instantaneamente. Com ele nas mãos de Sarah, talvez até uma refeição

saudável ficasse gostosa. Provei a lasanha com o dedo. Pensando bem...

Samuel, de 4 anos, e Rebecca, de 6, entraram correndo na cozinha, saltitando e querendo chamar minha atenção. Abracei os dois e os levei para a mesa. Então fui até a janela para ver se Mike já tinha voltado. Ele havia acabado de estacionar o Porsche e vinha andando de costas na direção da porta, olhando para o carro.

  • Mike, hora do jantar - gritei da janela. Ele respondeu por sobre o ombro, sem tirar os olhos do carro:
  • Claro, claro. Já vou. Sentei-me entre as crianças, servi um pouco de lasanha para cada uma e peguei uma fatia minúscula para mim. Sarah ergueu a sobrancelha e justifiquei minha pequena porção dizendo que comera muito no

almoço. Mike enfim entrou e começou a tagarelar animadamente sobre o Porsche. Então perguntou se poderia pegar o carro emprestado para sair com Sarah numa sexta à noite.

  • Claro. Eu posso vir e tomar conta das crianças. Ele sorriu, radiante, enquanto Sarah revirava os olhos.
  • Com quem você está planejando sair? Comigo ou com o carro? - perguntou.
  • Com você, é claro, minha querida. O carro é só uma vitrine para a linda mulher sentada ao meu lado. Sarah e eu nos entreolhamos, reprimindo o riso.
  • Boa, Mike - zombei. Depois do jantar fomos para a sala e dei os tigres de pelúcia laranja às crianças. Elas soltaram gritinhos de alegria e se puseram a correr ao nosso redor, rugindo uma para a outra. Sarah e Mike me fizeram todo tipo de pergunta sobre a Índia e eu falei sobre as ruínas de Hampi e a casa do Sr. Kadam. Tecnicamente, a casa não era dele, mas eles não precisavam saber disso. Então me perguntaram sobre como estava indo a adaptação do tigre do circo do Sr. Maurizio ao novo lar. Fiquei paralisada por um instante, mas em seguida disse que ele estava indo bem e que parecia muito feliz lá. Por sorte, o Sr. Kadam havia explicado que ficávamos fora com freqüência, explorando ruínas indianas e catalogando artefatos. Ele dissera que eu trabalhava como sua assistente, mantendo o registro de suas descobertas e fazendo anotações, o que não estava muito longe da verdade. Isso também explicava por que eu escolhera incluir história da arte em meus estudos. Estar com eles era divertido, mas também me esgotava, pois eu precisava tomar cuidado para não me distrair e deixar escapar algo estranho demais. Eles nunca acreditariam em todas as coisas que haviam me acontecido. Às vezes eu mesma tinha dificuldade em acreditar. Sabendo que dormiam cedo, peguei minhas coisas e me despedi. Dei um abraço em cada um e prometi que voltaria na semana seguinte.