Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Codependência Emocional: Análise de Discursos e Experiências em Grupos de Apoio, Trabalhos de Psicologia

Este trabalho analisa os discursos de pessoas que participam de grupos de apoio para codependência emocional, buscando compreender a cultura desses grupos e as narrativas de seus membros. O estudo inclui um levantamento bibliográfico, visitas de campo e entrevistas semi-estruturadas, explorando as experiências e percepções dos participantes sobre a codependência. O trabalho também discute as diferentes perspectivas sobre a codependência, incluindo a visão de autores como melody beattie e liandra nogueira, e explora as características e os desafios da codependência emocional.

Tipologia: Trabalhos

2015

Compartilhado em 22/09/2024

livremente-com-carol-nejm
livremente-com-carol-nejm 🇧🇷

1 documento

1 / 36

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
(AUTO) BIOGRAFIAS NA CULTURA DE GRUPOS DE
CODEPENDÊNCIA EMOCIONAL
Caroline Nejm (IC)1*
Márcio Silva Gondim (PQ)2
1. FANOR – Faculdades Nordeste – Bolsista PICT
2. FANOR – Faculdades Nordeste – Prof. Orientador – curso de Psicologia
*carolnejm@gmail.com
Palavras-chave: Codependência Emocional. Relatos Autobiográficos. Psicologia.
1. RESUMO
A grande maioria dos autores que trabalham o tema, concorda que as causas da codependência
emocional encontram-se na infância e se dão por situações ou relacionamentos abusivos que
precisaram ser enfrentados. O codepedente emocional é uma pessoa insegura, controladora, que
duvida de suas capacidades, e acaba outorgando a outros, que julga melhores que si próprio, o
direito de determinar as diretrizes de sua vida. Há uma grande ferida na auto-estima, e dificuldade de
estabelecer limites saudáveis. As opiniões de outros acabam definindo sua conduta. Frequentar
grupos de apoio, parece ser uma das formas eficazes de enfrentar o problema. O presente trabalho
visa compreender os discursos de pessoas que participam destes grupos a partir do entendimento da
cultura dos mesmos, através da análise das narrativas de seus integrantes. Objetiva-se elencar os
dados levantados, proporcionando um entendimento sobre esta coletividade. Foi feito um
levantamento bibliográfico a respeito do tema. Concomitantemente foram realizadas visitas de campo
a um grupo de apoio para mulheres que se identificam como codependentes emocionais, em um
projeto chamado Celebrando a Restauração, em Fortaleza. Após este período foram realizadas
entrevistas semi-estruturadas com seis frequentadores destes grupos, maiores de dezoito anos, três
homens e três mulheres. As entrevistas foram gravadas, transcritas e categoriazadas. Dentro das
categorias encontradas, foi esquematizado o pensamento e estudo de cada autor sobre a
codependência emocional. As entrevistas sugerem que as pessoas frequentadoras de grupos de
ajuda mútua com a temática específica da codependência emocional, apresentam conhecimento
sobre o assunto, buscam aprofundar-se através da leitura informativa e encontram no grupo uma
fonte autoconhecimento, sentindo-se melhor depois de sabrem sobre o problema, identificarem seus
sintomas específicos e aprenderem a enfrentá-los. Para o momento, acreditamos que a frequência
aos grupos seja um hábito adequado aos codependentes emocionais, uma das formas benéficas de
buscar ajuda, indicada maciçamente pelos autores que estudam o tema. O campo de estudo na área
ainda carece de aprofundamento, visto que no Brasil o tema é pouco academicamente explorado, o
pf3
pf4
pf5
pf8
pf9
pfa
pfd
pfe
pff
pf12
pf13
pf14
pf15
pf16
pf17
pf18
pf19
pf1a
pf1b
pf1c
pf1d
pf1e
pf1f
pf20
pf21
pf22
pf23
pf24

Pré-visualização parcial do texto

Baixe Codependência Emocional: Análise de Discursos e Experiências em Grupos de Apoio e outras Trabalhos em PDF para Psicologia, somente na Docsity!

(AUTO) BIOGRAFIAS NA CULTURA DE GRUPOS DE

CODEPENDÊNCIA EMOCIONAL

Caroline Nejm (IC)^1 * Márcio Silva Gondim (PQ)^2

_1. FANOR – Faculdades Nordeste – Bolsista PICT

  1. FANOR – Faculdades Nordeste – Prof. Orientador – curso de Psicologia *carolnejm@gmail.com_

Palavras-chave: Codependência Emocional. Relatos Autobiográficos. Psicologia.

1. RESUMO

A grande maioria dos autores que trabalham o tema, concorda que as causas da codependência emocional encontram-se na infância e se dão por situações ou relacionamentos abusivos que precisaram ser enfrentados. O codepedente emocional é uma pessoa insegura, controladora, que duvida de suas capacidades, e acaba outorgando a outros, que julga melhores que si próprio, o direito de determinar as diretrizes de sua vida. Há uma grande ferida na auto-estima, e dificuldade de estabelecer limites saudáveis. As opiniões de outros acabam definindo sua conduta. Frequentar grupos de apoio, parece ser uma das formas eficazes de enfrentar o problema. O presente trabalho visa compreender os discursos de pessoas que participam destes grupos a partir do entendimento da cultura dos mesmos, através da análise das narrativas de seus integrantes. Objetiva-se elencar os dados levantados, proporcionando um entendimento sobre esta coletividade. Foi feito um levantamento bibliográfico a respeito do tema. Concomitantemente foram realizadas visitas de campo a um grupo de apoio para mulheres que se identificam como codependentes emocionais, em um projeto chamado Celebrando a Restauração, em Fortaleza. Após este período foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com seis frequentadores destes grupos, maiores de dezoito anos, três homens e três mulheres. As entrevistas foram gravadas, transcritas e categoriazadas. Dentro das categorias encontradas, foi esquematizado o pensamento e estudo de cada autor sobre a codependência emocional. As entrevistas sugerem que as pessoas frequentadoras de grupos de ajuda mútua com a temática específica da codependência emocional, apresentam conhecimento sobre o assunto, buscam aprofundar-se através da leitura informativa e encontram no grupo uma fonte autoconhecimento, sentindo-se melhor depois de sabrem sobre o problema, identificarem seus sintomas específicos e aprenderem a enfrentá-los. Para o momento, acreditamos que a frequência aos grupos seja um hábito adequado aos codependentes emocionais, uma das formas benéficas de buscar ajuda, indicada maciçamente pelos autores que estudam o tema. O campo de estudo na área ainda carece de aprofundamento, visto que no Brasil o tema é pouco academicamente explorado, o

que faz da área um vasto canal de pesquisa, que gera grande interesse e ainda precisa de muitos dados.

2. INTRODUÇÃO Este trabalho trata de uma forma de comportamento que ocorre nos relacionamentos humanos, chamado codependência emocional. Registra o levantamento bibliográfico realizado para a investigação do tema, bem como visitas de campo feitas a um grupo de pessoas que se identificam como codependentes, e também entrevistas semi-estruturadas realizadas com algumas dessas pessoas. O objetivo da pesquisa é, além de compreender os discursos dos participantes, através do entendimento dessa cultura de grupo, analisar as narrativas dos integrantes, elencar dados e categorizar suas falas dentro do material encontrado na bibliografia, a fim de uma melhor compreensão dentro do âmbito psicológico, visto que que a codependência emocional é um tema ainda pouco estudado e teorizado no Brasil. 3. METODOLOGIA 3.1 LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO Vários livros e artigos foram examinados para a execução deste trabalho, a fim de compreender como a codependência é assimilada, tanto no meio científico, como no senso comum. Há pouca quantidade de pesquisa científica sobre a codependência emocional no Brasil, e os principais livros (norte- americanos traduzidos para o português), que são indicados para o público que se identifica com o problema, são escritos por pessoas que passaram (ou passam) pelo problema, mas não necessariamente têm formação na área psicológica. ‘Co-Dependência Nunca Mais’, o mais comentado e recomendado nos grupos de codependência emocional, foi escrito por Melody Beattie, jornalista, que se identifica com o problema da codependência. ‘O Vício de Amar’ e ‘Enfrentando a Codependência Afetiva’, foram escritos por Pia Mellody, que é consultora de um centro de tratamento para viciados e também se identifica pessoalmente com a codependência. O livro adotado como referencial teórico, escrito por uma psicóloga, brasileira, pesquisadora de codependência emocional, foi ‘Codependência: transtorno e intervenção em rede.’ “Dependência do Vínculo: uma releitura do conceito de co-dependência”, dissertação de mestrado de Lygia Vampré Humberg, que trata sobre a origem do termo, a abrangência que ganhou e a proposta de um novo ‘nome’, da mesma autora um outro trabalho, “Não existe um co-dependente, existem dois dependentes”, mostrando que o problema está na pessoa, mas se manifesta na relação. De Bety France, psicóloga com formação em terapia familiar e especialização em psicooncologia, temos a contribuição através do texto “Um mal chamado co-dependência: por trás da dinâmica familiar na qual impera a figura do cuidador pode

relação de todas as pessoas a quem prejudicamos e dispusemo-nos a fazer reparações a todas elas.

  1. Fizemos as reparações diretas a tais pessoas sempre que possível, exceto quando fazê-lo implicasse prejudicá-las ou a terceiros. 10. Continuamos a fazer o inventário pessoal e, quando estávamos errados nós o admitíamos prontamente. 11. Procuramos, através da oração e da meditação, melhorar o nosso contato consciente com Deus, pedindo apenas para conhecer a Sua vontade para nossas vidas e força para realizá-la. 12. Tendo experimentado um despertar espiritual como resultado destes passos, procuramos levar esta mensagem a outros e praticar esses princípios em todos os aspectos da nossa vida. Especificamente na área da codependência emocional, existem dois grupos, um para homens e outro para mulheres. Na entrada sempre há pessoas para receberem quem chega, sorrindo, dando as boas-vindas e distribuindo um folheto informativo com os doze passos, a oração da serenidade, um mapa das salas em funcionamento e um texto sobre o tema abordado naquela noite. Antes da reunião específica do grupo de apoio, existe um momento coletivo em que são cantadas algumas músicas, é ministrada uma palestra, geralmente explicando um dos doze passos ou dando espaço para que os participantes do programa falem sobre como tem sido sua experiência em viver o programa. Em minha primeira visita, estava sendo celebrado um casamento neste tempo anterior ao acontecimento dos grupos de apoio. Apresentei-me como estudante de psicologia, pesquisadora de codependência emocional, fui muito bem recebida com um largo sorriso, e o aviso de que ali eu teria muito campo de pesquisa. Eu temi pelas barreiras que poderiam ocorrer quando soubessem que eu estava ali como pesquisadora, pois em outras pesquisas que li sobre o assunto, em outros grupos similares, as regras do grupo não permitiam muitas coisas, mas nada disso ocorreu. Fui recebida de braços abertos, inclusive pelas participantes, quando, na “minha vez de partilhar” me apresentei como pesquisadora. Embora minha presença tenha sido marcada como pesquisadora, meu objetivo não é relatar nada sobre as participantes nem o conteúdo exposto nestes momentos, em respeito à regra de sigilo do grupo. Participei do grupo aceitando as regras, com a finalidade de compreender seu funcionamento, e relacioná-lo com os futuros discursos colhidos nas entrevistas que estão propostas no trabalho, a serem feitas em outro momento, individualmente. As reuniões se iniciam com a leitura das regras, feita pelas próprias participantes. Cartões plastificados são distribuídos para que cada uma possa ler cada uma das cinco regras, que são: 1. falar sempre em primeira pessoa, focando em seus próprios sentimentos, pensamentos e ações e evitando comentários sobre terceiros. 2. Respeito. Não estou aqui para dar conselhos nem mudar a vida de ninguém, e sim, para escutar. 3. Sigilo. As pessoas que são vistas no grupo e o que é dito aqui, não é repassado fora; tudo fica dentro do próprio grupo. 4. Tempo. Cada participante tem um limite de tempo para falar, e deve ser respeitado para que todas tenham tempo de fazer sua partilha.5. O celular deve ser desligado ou colocado no silencioso enquanto as partilhas são feitas. A regra do tempo, especificamente, é controlada pela facilitadora ou uma voluntária do grupo, de acordo com o tempo estipulado no dia, que depende do número de participantes. Normalmente, o tempo concedido é de “3+1”, ou seja, cada pessoa pode falar durante quatro minutos. Depois de três minutos de partilha, ela é avisada através de um cartão amarelo, que tem apenas mais um minuto

para falar. Quando o tempo termina, é mostrado um cartão vermelho indicando o fim, e a oportunidade de falar é passada a outra pessoa. Lidas as regras, iniciam-se as partilhas, que são livres. Fala quem quiser, sobre o assunto que quiser. Normalmente, um “mote” é sugerido, dependendo da palestra que foi ministrada no momento anterior, mas a sugestão não precisa obrigatoriamente ser seguida. Exemplos de motes que foram dados nas reuniões: “Só por hoje... eu vou derrubar as paredes dos meus relacionamentos e construir pontes.”, “Como você tem lidado com as finanças.”, ou “Como o serviço tem feito diferença na sua vida.”. Houve reuniões em que ninguém falou nada sobre o tema proposto, outras em que algumas falaram sobre o tema e outras não. A fala de que o grupo tem um efeito terapêutico em suas vidas e um poder transformador, é recorrente. A duração do tempo de partilha é de uma hora. Ao final deste tempo, as mulheres se levantam e fazem juntas o que chamam de oração da serenidade: “Deus, conceda-me a serenidade para aceitar aquilo que não posso mudar, a coragem para mudar o que me for possível e a sabedoria para saber discernir entre as duas. Vivendo um dia de cada vez, apreciando um momento de cada vez, recebendo as dificuldades como um caminho para a paz, aceitando este mundo cheio de pecados como ele é, assim como fez Jesus, e não como gostaria que ele fosse; confiando que o Senhor fará tudo dar certo se eu me entregar à Sua vontade; pois assim poderei ser razoavelmente feliz nesta vida e supremamente feliz ao Seu lado na outra. Amém.” Antes de sair da sala, as participantes devem dar um abraço em pelo menos três companheiras. Há uma média de 15 mulheres aproximadamente por reunião. Quando não vão a todas as reuniões, dão um intervalo de duas ou três semanas, mas após frequentar durante um tempo, percebi que a maior parte das integrantes do grupo já retornaram muitas vezes e têm o hábito de frequentar o programa. Há um revezamento entre as facilitadoras do grupo, que respeitam uma escala previamente combinada. Estas mulheres também se identificam como codependentes, e facilitam a sala por estarem na “caminhada de restauração” há tempo suficiente para conseguirem caminhar “limpas”. Alguns dos lemas do programa é estar “Limpo só por hoje”, “Viver um dia de cada vez”, “A doença sai pela boca e a cura pelo ouvido” e “O segredo está na próxima”, indicando que a persistência em frequentar o programa possibilitará o êxito. Existem sempre, disponíveis na sala, materiais impressos sobre a codependência emocional, e o local conta com uma biblioteca com diversos títulos que tratam sobre recuperação em muitas áreas, inclusive a codependência emocional. Na entrada do local existem vários folhetos expostos, sobre as várias áreas que podem ser tratadas no programa. O folheto de codependência emocional contém algumas perguntas que devem ser respondidas para constatar se há identificação com o problema. Em caso afirmativo, é indicado que a pessoa passe a frequentar a sala do grupo de apoio por algumas semanas, para confirmar se de fato precisa de ajuda específica com a codependência. As perguntas do folheto são:  Você se sente responsável por outra pessoa? Por seus sentimentos, pensamentos, ações, necessidades, escolhas, vontades, bem-estar e destino?  Você sente ansiedade, pena e culpa quando outras pessoas têm problemas?

De acordo com outro material, também distribuído gratuitamente no local, o programa deve encampar: uma busca pela verdadeira identidade, pela perda do contato com a alma gerada pela codependência; uma reconexão com os próprios sentimentos, pois sem contato com eles não há possibilidade de cura; conscientização das próprias necessidades, fundamental para a auto- realização; um espaço seguro, sem o qual não é possível expressar a realidade sobre quem se é, dificuldades, histórias, etc., elementos também imprescindíveis para a cura; estabelecimento de limites, reconhecendo onde foram desrespeitados e ultrapassados, gerando uma baixa auto-estima, para que o valor próprio possa ser retomado; compartilhamento da própria história, ação necessária à libertação da codependência, contando como tudo ‘realmente aconteceu’, pois a cura está na verdade; criar novas regras e mensagens, após ter se livrado das regras e crenças destrutivas do passado; e aprender a brincar e relaxar, o que acontece com a libertação da opressão auto-imposta pelos papéis e máscaras da codependência, podendo reconectar-se com a criança interior, que é mais genuína, espontânea e criativa. Seguem abaixo, um pouco das falas dos entrevistados selecionados, a respeito de sua participação nos grupos de apoio: “C: [...] e... comecei a passar a frequentar as reuniões dia de sexta-feira, e fui identificando na partilha de outras pessoas, comportamentos que eu tinha e que eu não percebia. Aí eu realmente vi que eu

tinha uma doença e que eu precisava busca tratamento pra essa doença; [...] antes de saber que o que eu tava sentindo era codependência, eu busquei ajuda dentro do meu corpo de relacionamento. Com amigos, buscando aconselhamento, pedindo ajuda pra restaurar meu casamento, né, principalmente porque foi a, o estopim da codependência foi o meu divórcio, então assim, a, a... eu, eu, o que eu busquei em termos de ajuda anterior, não funcionou porque as pessoas também não sabiam que... lidar com a doença. Não identificavam aquele comportamento como um comportamento emocionalmente doente. Então, é, eu sofri julgamentos por conta disso, porque a, a falta de conhecimento das pessoas ao invés de me ajudar, fizeram foi piorar a codependência. Então quando eu, eu busquei ajuda no lugar certo, onde pessoas conheciam a codependência e sabiam do que tava falan..., o que tava se... acontecendo comigo, foi com uma amiga que me recomendou ir pro grupo porque lá realmente, ela como codependência, é... como codependente, ela foi curada e tratada dentro do grupo, então, é,quando eu comecei a vir, eu conhecia outras pessoas que já estavam na caminhada com mais de dois anos bem, com, com a doença, e pra mim se eu.. se... aconteceu com ela ia acontecer comigo também. Fiz tudo que o grupo me colocou pra fazer e funcionou. [...] Esse grupo de apoio, ele, ele, ele... é baseado nos princípios bíblicos, né, é... dos 12 passos, e 8 princípios bíblicos baseados nas, na... nas bem-aventuranças, e... é, lá agente... lá eu com.. eu aprendi a falar de mim mesma, né, pra não falar de outras pessoas, a gente tem um, um... grupo, tem uma reunião geral que acontece no, no primeiro tempo, onde essas pessoas, elas, ensinam cada passo, a dar um passo de cada vez, elas vão ensinando como é que funciona o programa, e existe um segundo tempo, que é uma sala de apoio onde tem um... partilhas, né. Nessa sala, é... eu apre... é, eu, eu... pude falar do que eu tava sentindo naquele momento sem ser julgado porque as pessoas que estavam naquela sala também eram vítimas da doença de codependência emocional, e... as partilhas foram me mostrando que na.. que... o que eu sentia era doença realmente e não porque eu tava com um problema, né, era, era uma circunstância que não era naquele momento, era uma coisa que tinha me acompanhado durante toda a minha vida.” “R: mas é aquela coisa de espelhar, né. Então eu começo a me sondar, às vezes uma pessoa fala não tem nada a ver comigo, mas daqui a pouco uma pessoa fala, e... de 10 coisas que ela fala, 3 ali batem comigo e eu me sondo. E eu começo... pelo menos pra mim isso foi um...muito importante porque... eu percebi que eu tropeçava em algumas coisas e eu tinha conflitos emocionais, mas eu não sabia exatamente o que que era que eu tinha; sabia que tinham conflitos, sabia que não conseguia desenvolver relacionamentos construtivos, saudáveis, significativos, profundos, e aí o CODA e a... pelo menos as partilhas e a literatura me ajudou a me autoconhecer. [...] Porque o... é considerada uma enfermidade emocional. E... pra um homem se dobrar e dizer “eu sou codependente, eu tenho uma enfermidade emocional”, ele tem que ter coragem, porque... no nordeste nós temos... temos uma cultura muito machista, tem um pouco disso, eu acredito que o machismo ele... e o desejo de... porque pra você entrar nesse mundo de procurar se autoconhecer, dentro dessa questão da codependência, você vai ter que revirar uma... um baú. Você vai ter que se encarar. Você vai ter que encarar um... o seu lado feio, vai ter que encarar o teu passado, você vai ter que encarar os seus traumas, e admitir seus defeitos, nem todo mundo, eu acredito que nem todas as pessoas tão dispostas a terem essa... disposição, e de certa forma até coragem, de se encarar de

  1. Por que você decidiu buscar ajuda? Buscou em mais de um lugar? Como acabou chegando neste grupo?
  2. Há quanto tempo frequenta este grupo?
  3. O que exatamente você faz no grupo de apoio?
  4. Você identifica alguma diferença na sua vida, em suas emoções ou em seus relacionamentos, antes e depois de participar do grupo?
  5. Já fez terapia individual? Se sim, qual a diferença que encontrou entre ela e o grupo de apoio? Se não, qual o motivo?
  6. A codependência mexe com seu senso de liberdade? De autonomia? De responsabilidade? De privacidade?
  7. Você lê ou pesquisa sobre o assunto? Que tipo de literatura?
  8. O Celebrando Restauração oferece mais alguma ferramenta que você utilize além do grupo de apoio?
  9. Na sua opinião, codependência tem cura? Por quê?
  10. Faça comentários livres ou conte histórias da sua vida em seu processo de luta contra a codependência, que você considera importantes. Cada entrevista foi feita individualmente, gravada e transcrita literalmente. As falas foram estudadas e analisadas de acordo com o levantamento bibliográfico feito, e selecionadas, conforme se encontra na próxima sessão deste artigo. Foram incluídas neste, as entrevistas de U, mulher, 46 anos, casada e mãe de 2 filhos, C, mulher, 35 anos, divorciada e mãe de 1 filha, e R, homem, 35 anos, solteiro e sem filhos.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 CAUSAS E PREVENÇÃO A grande maioria dos autores concorda que as causas da codependência encontram-se na infância e se dão por situações ou relacionamentos abusivos que precisaram ser enfrentados. De acordo com Horney (apud. Feist, 2008), na teoria sociopsicanalítica, caso os pais não venham a suprir as necessidades básicas de segurança e afeto da criança, esta desenvolve sentimentos de “hostilidade básica” para com eles, sentimentos estes que ficam reprimidos, levando a uma profunda sensação de insegurança, e uma constante apreensão, condição chamada de “ansiedade básica”. A cultura moderna acirra os comportamentos competitivos, que unidos à hostilidade básica, resultam em “sentimentos de isolamento. Esses sentimentos de solidão levam a necessidades intensificadas de

afeto, as quais, por sua vez, farão que as pessoas superestimem o amor.” (p. 164) Isso faz com que as pessoas acreditem que o amor e a afeição de outrem se tornarão “a solução para todos os seus problemas.” Horney, (1939 apud. Feist 2008) acreditava que “ a soma total das experiências infantis traz consigo certa estrutura de caráter, ou melhor, inicia seu desenvolvimento” (p.152). A autora conceitua de “movimento em direção às pessoas” , a relação da criança com o outro, não por amor genuíno, mas por tentar proteger-se da sensação de desamparo, que a faz agir de acordo com dois tipos de comportamentos: ou buscar desesperadamente por afeição e aprovação do outro, ou encontrar um parceiro que considere poderoso para assumir a responsabilidade sobre sua vida. Horney (1937 apud. Feist, 2008) chamava esta relação de “dependência mórbida” , conceito que antecipava o uso da palavra codependência. Esta forma de movimentar-se em direção ao outro, para a autora, “Envolve uma série de estratégias, ‘é uma forma completa de pensar, sentir e agir – uma forma completa de vida.’” (Horney, 1945 p. 55 apud Feist, 2008, p. 170). Tais processos intrapsíquicos terminam por fazer parte do sistema de crenças da pessoa, que cria uma auto-imagem idealizada, forma esta de resolver conflitos internos, divinizando a própria imagem. Uma tendência que tem relação com esta, é o auto-ódio. Ao mesmo tempo em que a pessoa passa a divinizar uma auto-imagem irreal, passa a odiar sua realidade. Quanto mais idelaliza seu self , mais distante fica do real, e este abismo criado, leva ao ódio do self atual, pois fica muito abaixo “de sua auto-imagem glorificada”. Como o self idealizado passa a integrar o sistema de crenças, ele passa a ser acionado em todos os âmbitos da vida, gerando uma busca por glória, que inclui a necessidade de perfeição, ambição neurótica e desejo de triunfo vingativo. (Horney, 1950 apud. Feist, 2008). Embora Horney não tenha sido uma especialista no tema da codependência, sua teoria da formação da personalidade contribui bastante para a compreensão do processo causal deste fenômeno, que continuaremos analisando a seguir. Numa abordagem diferente e complementar, Zampieri (2004), baseada no Psicodrama de Moreno, afirma que o amor ou o desamor, independente de onde a criança tenha sido gerada biologicamente, afetará o desenvolvimento neuronal do bebê, desde o período de gestação. Já depois do nascimento, a autora explica que hostilidade e distorção da imagem levarão a uma dificuldade identificação com o outro na primeira infância, outro este onde a criança encontraria seu valor e espelharia sua imagem, porém termina à procura de aplausos dos outros por toda a vida, oscilando entre o sentimento de grandiosidade ou muita desvalorização, por ter tido falhas na formação da “Matriz de Identidade”. (ZAMPIERI, 2004 p. 104). Para Zampieri (2004), o abuso na infância também é palco para o surgimento da codependência. A violência física por exemplo, facilita danos na identidade, e a criança, por ser dependente do adulto, acaba atribuindo culpa a si mesma pela atitude dos pais, incorporando uma crença de que ela é uma “criança ruim”. Por “ser ruim”, precisa ser castigada, o que lhe é confirmado pelo ambiente. Isto forma um ciclo profético não verbalizado, dos pais sobre as crianças. Os pais permanecem batendo, a criança continua crendo que é má, e agindo como tal, e os pais confirmam então a profecia de que a criança “é mesmo ruim”, pois mesmo apanhando, ela não modificou seu comportamento. A criança poderá então se colocar no lugar de vítima, de “bode expiatório da família” (p. 183), e situações que gerem vergonha ou desamparo poderão fazê-la lançar mão de seu personagem de “coitadinha”. Ao invés de gerar bons relacionamentos, este falso self

Outros autores falam nas causas da codependência, embora de forma não tão profunda. Stemateas (2010), atribui a causa do problema à manipulação sofrida na auto-estima, fazendo com que as pessoas não se sintam completas e capazes de alcançar o que se propoem, desenvolvendo o “apego emocional tóxico”. (p. 49) Para o autor, “sempre que há abandono, haverá necessidade de depender das pessoas.” (p. 49). Ele atesta que costuma ver este tipo de conduta em pessoas que vieram de famílias onde havia relacionamentos viciados em violência, romance, sexo, onde havia abuso e assédio moral e em pessoas que foram desvalorizadas na infância. Silva (2008), fala no surgimento da codependência em crianças sobrecarregadas, envolvidas nos problemas dos pais, que terminam por sentir-se responsáveis por eles, e criando um descaso por si mesmas. Uma criança nestas condições tenderá à busca de resgate do amor negado na infância, apegando-se excessivamente em suas relações. R, um de nossos entrevistados, falou sobre essa visão de ambientes abusivos: “R: Eu não tenho codependência em relação a uma pessoa, porque geralmente o termo, você deve saber que o termo codependência surgiu de pessoas que conviviam com alcoólicos e drogadictos, né, e que essas pessoas elas, elas acabavam desenvolvendo uma espécie de doença emocional pra ten... pra se adaptar a... a conviver naquele ambiente abusivo. Só que se constatou que às vezes a pessoa, ela não vive num ambiente com um alcoólico, mas o ambiente do lar, ou o ambiente na igreja ou o ambiente no trabalho, o... ela... a convivência com outras pessoas, a influência faz com que a pessoa desenvolva alguns, algum desses traços, alguma dessas características, e geralmente eu acredito que tá relacionado a uma maneira de se tentar sobreviver a um ambiente abusivo, a um ambiente aonde há instabilidade, e a pessoa ela acaba desenvolvendo, alguns desses traços que... que podem ser diferentes de pessoa pra pessoa. Podem ter pessoas que tem traços de codependência e a pessoa que tem o traço bem diferentes, mas têm algo em comum, né, então, é... mais ou menos isso.” E falando sobre o ambiente que o afetou em particular: “R: Honestamente, a igreja. A igreja que eu participava. Por que era uma igreja que... é... eu sei que são, são servos de Deus, são pessoas zelosas, mas era um ambiente em que se di... se dizia sempre sim, era um ambiente em que não se podia discordar da liderança, discor... discordar da liderança era discordar de Deus, é... era... um ambiente em que... em alguns aspectos eu precisava estar sempre tendo que corresponder às expectativas, então, pelo menos em relação a mim, né, aos meus traços assim que eu desenvolvi, mas que eu também, na verdade talvez eu, eu já tivesse um pouco disso, eu reconheço, mas... serviu pra exacerbar.”

E com relação à própria família...

“R: [...] eu pelo menos percebo que os meus pais, eles não me deram limites, isso foi muito ruim, na minha adolescência. Na minha infância eu tive limites, mas na minha adolescência eu não tive limites e isso me fez caminhar em direção à droga, né, das convivências né, acabei sendo influenciado, e ... o meu pai particularmente ele é um cara que... super prestativo, e que muitas vezes faz as coisas por

mim. Paga uma conta por mim, vai fazer, resolve um problema que não precisaria resolver, resolve um problema dos outros, ele tem aquele, aquele lado da codependência que é o salvador, né, é o salvador, e... aquele cara super ajudador, e que isso acaba atrapalhando, acaba atrapalhando, porque... ele passa a não ter um limite saudável. Esse é um aspecto que eu vejo no meu pai, que é esse lado de querer resolver o problema dos outros. Em alguns, em alguns momentos, né. Eu não culpo ele, foi algo que ele aprendeu que ele foi repassando, e ele é um cara muito auto-suficiente, um cara que resolve mesmo e tudo e que vai fazendo as coisas, acabou extrapolando os limites dele. Eu acredito que eu peguei um pouco dele disso esse negócio de querer ajudar os outros, e às vezes até ajudar demais, além da conta, e isso é negativo.” Em um estudo com mulheres codependentes, estão listados também a convivência com modelos disfuncionais no relacionamento parental, durante a fase de desenvolvimento da personalidade, principalmente quando houve negligência com a criança, privação afetiva. (NOGUEIRA e HENNING- GERONASSO, 2010). Elas acreditam que estes padrões de comportamento são transmitidos pelas gerações, pois são aprendidos e repetidos, assim como acontece nas relações funcionais. Citando Rosset (2003), as autoras colocam que um dos processos mais difíceis e importantes está justamente em aprender a pertencer e separar-se, e a codependência é uma dificuldade de relacionar-se justamente nesta questão. Elas ainda enquadram nas categorias geradoras do problema, não apenas pais que abandonam, mas também pais e avós superprotetores, “que não permitem nos filhos o erro e a autonomia, e que não possuem limites estabelecidos.” (p. 19). U, uma de nossas entrevistadas, confirma que o desequilíbrio na relação parental, ainda que não seja proposital, ou conte com esforço do outro cônjuge, compromete na formação de um codependente: “U: Primeiramente eu fui pro grupo de... eu fui pro grupo de traumas emocionais. Traumas emocionais, porque até aí eu achava que eu tinha traumas emocionais. Eu associava esses traumas à morte do meu pai, né, que foi assassino, e tudo, eu achava que eu tinha esses problemas todos, eu tava querendo descobrir porque que eu era do jeito que eu era e eu, eu queria atribuir essas coisas à minha criação, à morte do meu pai, mas aí depois eu vi que, hoje eu vejo que a minha criação foi ótima, entendeu? Meu pai morreu mas minha mãe soube criar a gente muito bem, muito bem mesmo, e o, e aí, o problema foi esse, eu fiquei realmente com uma carência do meu pai e aí eu fui querer transferir essa carência, eu acho que eu já levei essa carência pro meu casamento e deu a confusão que deu.” A confirmação da causa do problema se dá novamente no trabalho de Humberg e Cohen. Citando Frank e Golden (1992), explicam que a doença se origina na primeira infância, “na época em que as pessoas não aprendem a entrar em relações de dependência, e muitos co-dependentes são filhos de pais negligentes, abusadores ou dependentes.” (FRANK e GOLDEN apud. HUMBERG e COHEN p. 4). Eles citam também Winnicott (1980), e o conceito do falso self , onde, se a mãe não conseguir reforçar o ego do bebê, este desenvolverá o estágio inicial do falso self que é de submissão, pois a mãe tem inabilidade de sentir as necessidades do bebê. Para Winnicott a codependência parece ter início neste ponto, pois o bebê faz o gesto da mãe como se fosse seu para agradá-la, e mais tarde, fará isso com relação às outras pessoas. Citam ainda Bleger (1978), que enfatiza a importância do

que queria dar um testemunho perfeito pra todas as pessoas... Então eu acabei desenvolvendo este lado; pelo menos pra mim eu percebo que... era sempre de fazer, ou ter que dar alguma coisa ou ter que ser voluntário, ou ter que tá sempre agradando as pessoas da igreja, o pastor... e sempre bem, eu não podia tá nunca mal, tinha que tá sempre... é... então eu tinha esse vício de agradar; esse vício de ser aceito, né, e... era muito ruim isso porque, eu acabei me tornando um cara artificial, acabei me tornando um mascarado; acabei usando uma máscara pra tentar viver uma pessoa idealizada e não uma pessoa real.” Zampieri (2004) aposta em todas as formas possíveis de prevenção, como sendo importantes. Sociodrama da codependência, grupos de auto-ajuda preventivos ou de recuperação, que funcionam geralmente em caráter autônomo e têm se proliferado e crescido em número nos últimos anos. “Como parte da responsabilidade social, toda prevenção parece pouca, seja ou não governamental ou religiosa.” (p. 234). A autora tem uma visão sistêmica da sociedade, e isto aponta para mais um motivo importante no estudo e trabalho preventivo: quando mais aumentam os dependentes (químicos ou emocionais), mais aumentam os codependentes, afinal, estamos todos interligados numa rede social. A família que apresenta estrutura rígida, terá dificuldades inclusive de permitir a reinserção do membro dependente na sociedade, procurando manter as funções do padrão dependência-codependência, como que predestinando este membro a manter seu papel, impedindo- o de crescer e alcançar liberdade e autonomia. Além disso, os padrões descritos como codependentes servem de ambientes propícios, facilitadores “para o desenvolvimento do Transtorno da Conduta, bem como para o abuso de substância, como gênese desses e possivelmente outros transtornos, [...] pois a co-dependência guarda estreita relação com sistemas rígidos e transferenciados.” (ZAMPIERI, 2004 p. 271). R nos fala um pouco sobre outras dependências que são geradas pela codependência, que ele observa frequentando grupos de apoio: “R: Como eu disse, eu não sou codependente de uma determinada pessoa porque geralmente o codependente ele é dependente, codependente de alguém. Ele é codependente da namorada, ou ela é codepen... codependente do esposo, ou ele é codependente do patrão ou ela é codependente... do filho, ou da filha, então, é muito comum por exemplo, eu não... eu não sei explicar esse fenômeno, mas é comum as pessoas que... terem... existem comedores compulsivos, existem alcoólicos e existem... nar... narcóticos, é... pessoas que usam drogas, que descobrem que... que são codependentes. Por exemplo no CODA há pessoas que falam assim: não, eu tenho problema com álcool, eu tenho problema com droga, eu sou comedora compulsiva anônima, mas o problema maior é a codependência. Tem companheiros por exemplo que falam, reconhecem que a... ‘eu fui alcoólico durante muitos anos, mas eu sei que meu problema maior é meu problema de codependência emocional. É isso, e isso é curioso, que há uma probabilidade maior. Eu acredito que certas vulnerabilidades. O problema emocional acabam acarretando outras vulnerabilidades. O, o problema da adicção, também abre uma brecha, uma ferida, do lado emocional.” 4.2 CODEPENDÊNCIA: O QUE É E COMO SE MANIFESTA

Assim como existem muitas atribuições às causas, existem também diversas descrições de como é a codependência, quais são os sintomas, características, como são os relacionamentos. Comecemos pela descrição de Stemateas (2010). Para o autor, o codependente é uma pessoa que vive se agredindo e desqualificando porque possui a falsa crença de que o outro é mais importante que ela própria. Tem muitos medos, frustrações, e não se imagina vivendo sem a outra pessoa, à qual outorgou “o direito de determinar sua existência. Certamente, com o tempo, costuma se converter em uma viciada em gente.” (p_._ 49). Stemateas (2010) explica que o codependente entrega ao outro o controle de sua vida, e deposita sobre o outro, expectativas demais. Submete-se incondicionalmente às avaliações e críticas dos outros, e por ter medo de enfrentar o mundo por si mesmo, agarra-se a outra pessoa como um “salva-vidas ou muleta.” É uma pessoa insegura, controladora e duvida de suas capacidades. Segundo o autor, o codependente pode apegar-se não só a pessoas, mas a “lugares, circunstâncias, acontecimentos, crenças ou costumes. Cada um deles funcionará como uma muleta interior. O problema não é o objeto em si ao qual você se apega, ou sente que quer controlar, mas a sua mente.” (p. 53). O entrevistado R, concorda: “R: Por exemplo, agradar todas as pessoas, uma característica que eu acabei desenvolvendo, é... me preocupar mais com o que as outras pessoas pensavam de mim do que eu mesmo pensava de... a respei... de mim mesmo, a respeito de mim mesmo, é... Pra, pra eu ter, me sentir valorizado eu tinha que tá fazendo as coisas ou tendo que tá oferecendo alguma coisa, o meu valor tava relacionado não ao que eu era, mas o que eu fazia, ou o que eu, ou o que eu dava. [...] Então eu acredito que a codependência, ela... se eu puder, se eu puder definir, seria... uma pessoa que tem baixa-estima, uma pessoa que tem experiências em ambientes abusivos, e que tentou de alguma forma se adaptar àquela situação... e que ela busca o valor e a sua validação no outro, mais do que em si mesmo, na sua... na sua própria consciência. Um exemplo, um exemplo que é comum: o, o... se a pessoa ela, ela tá se sentindo, se a pessoa ela tá... chega num ambiente e se ela sente que não está sendo bem recebida, ou ela sente que... o ambiente tá digamos... tenso ou deprimido, ela tende a se contaminar, a pessoa; a pessoa que tem algum traço de codependência, porque ela, ela, digamos ela, o termômetro dela são as outras pessoas. Ela não consegue manter uma temperatura em si mesmo, ela sempre é influenciada pelas reações dos outros, pelas atitudes dos outros, então, a recuperação que eu vejo é isso, é a pess... é começar a entender meu, meu próprio auto-valor, começar a entender as minhas escolhas, me desligar.” Humberg (2003), exatamente pela abrangência do termo e dificuldade em definir a codependência, preferiu utilizar o termo “dependência do vínculo” para definir a relação que “não é caracterizada só por cuidar. Cuidar pode ser bom para os dois, todavia o cuidar na dependência do vínculo é necessidade imperativa, não escolha; é forma de controle de si, e do outro.” (p. 22) A autora quis tirar o prefixo “co”, visto que a dependência é da pessoa, e não do outro. Humberg não restringe seu estudo só a mulheres ou familiares de dependentes, e acredita que existem casais em que nenhum dos dois tem envolvimento com drogas, mas são ambos frágeis e mutuamente dependentes emocionalmente “como se um fosse a droga do outro.” (p. 24). Em outro estudo, Humberg e Cohen

dizer não nunca, eu fazia tudo pra agradar as outras pessoas, eu não sabia que eu estava fazendo isso pra agradar, um exemplo: é... eu tava, eu, ía receber pessoas na minha casa, eu gosto muito de cozinhar e eu preparava a melhor comida que eu tinha, não é porque eu queria fazer aquela comida, é porque eu queria agradar as pessoas que estavam vindo pra minha casa. Então isso era em todos os aspectos, eu fazia no meu trabalho pra ser a melhor funcionária, fazia isso na escola porque quando eu comecei a estudar a codependência eu percebi que eu já tinha esse comportamento desde a minha adolescência, é... mais ou menos entre 10 e 12 anos foi quando começou o processo de codependência, e a, a... assim, eu... todas as... a, o, o... a... necessidade de controlar, de chamar a atenção, de dis... ser a melhor, era em busca de aceitação, inclusive me submetendo a abusos emocionais, sem perceber. Eu não sabia que eu estava sendo abusada emocionalmente dentro do relacionamento, pra não perder aquela pessoa, pra não ficar só. Na realidade eu tinha medo de ficar só, e medo de ser vencida naquela situação, eu não podia ser vencida, então eu tinha que, que fechar a sit... a situação com chave de ouro e do meu jeito, da forma que eu achava que tinha que ser, por codependência. Então eu não dizia não nunca, eu ia no limite do meu corpo, é, uma ferramenta que eu usava também pra mascarar a... a... o, o sentimento, era o ativismo, então eu me envolvia com tudo, eu trabalhava até 18 horas por dia pra cansar o meu corpo, e eu não olhar as coisas que eu estava perdendo o controle delas.” Mariano (2008), na tentativa de definir melhor os comportamentos codependentes, divide-o em certos padrões de ação. O Salvador ou consertador, depende do comportamento de ‘salvar vítimas’, ajudando pessoas que não se responsabilizam por suas vidas. O Agradador sempre se acha inoportuno ou impróprio, tentando agradar o tempo todo, pois não acredita que possa ser apreciado pelas pessoas que convive devido à sua baixa auto-estima. O Inadequado ou perdedor também se sente ‘errado ou defeituoso’, mas em lugar de tentar agradar, se envolve em situações difíceis ou desastrosas para confirmar o papel de perdedor. O Perfeccionista só acredita que pode ser amado se for perfeito. É muito crítico e severo com os outros e consigo mesmo. O Superempreendedor é o ‘herói da família’. Encobre as dificuldades reais através de grandes feitos, escondendo-se atrás do sucesso. É compulsivo por trabalho. O Narcisista é muito inseguro e tem baixa auto-estima, mas mascara com uma imagem de autoconfiança, e têm grande capacidade de manipular. Precisam ser o centro das atenções e não aceitam críticas e questionamentos. Mellody (1995), lista cinco sintomas nucleares da codependência. O primeiro é “A dificuldade de vivenciar níveis adequados de auto-estima” , variando entre os extremos da auto-estima baixa ou inexistente, se colocando abaixo das outras pessoas, ou sendo arrogantes e sentindo-se grandiosos, superiores aos outros. O segundo são as “Dificuldades em estabelecer limites funcionais” , permitindo que as pessoas sejam abusivas e invasivas consigo, fazendo o mesmo com os outros, perdendo o senso de quem ela realmente é. A autora coloca as pessoas que transgridem limites como infratoras , tal qual uma pessoa fisicamente violenta ou assediador sexual. O terceiro sintoma é a “Dificuldade em admitir nossa realidade”. Não conseguem ver com precisão e realidade de como é seu corpo e como funciona, têm dificuldade em detectar quais são seus próprios pensamentos, expressá-los, e interpretam os pensamentos alheios de forma tendenciosa, sentem dificuldade em saber o que

sentem, ou são oprimidos pelas próprias emoções, e têm dificuldade em compreender os próprios comportamentos, e, quando têm consciência deles, têm muita dificuldade em admití-los e assumir o que causaram a outros. O quarto é a “Dificuldade em reconhecer e satisfazer nossas próprias necessidades e desejos”. Mellody explica que existem desejos individuais e necessidades básicas que são de responsabilidade pessoal satisfazer, ou detectar e pedir ajuda quando realmente necessário. Codependentes tendem a responsabilizar os outros por satisfazê-los, ou procuram satisfazer todos os desejos e necessidades dos outros em detrimento dos seus. Esta categoria, a autora ainda subdivide em outras quatro, que são: pessoas excessivamente dependentes , que conhecem suas necessidades e desejos e ficam aguardando que outros as satisfaçam. Pessoas antidependentes que conhecem suas necessidades e desejos e tentam suprir-se de tudo sozinhos, para não se tornarem vulneráveis pedindo ajuda. Pessoas que não têm desejos nem necessidades , ou seja, como todas as pessoas, as possuem, porém, não têm consciência deles. Pessoas que confundem desejos com necessidades , sabem e buscam o que querem, mas não têm consciência clara do que realmente precisam, tendendo a tentar satisfazer necessidades com objetos de desejo. Aqui existem vários padrões e combinações de comportamento. E o quinto sintoma nuclear é a “Dificuldade em experimentar e expressar moderadamente nossa realidade”. Para Mellody este talvez seja o sintoma mais fácil de ser visto pelas outras pessoas, pois não têm moderação, comportando-se nos extremos de ligação ou desligamento total. A moderação lhe parece insuficiente, precisa agir com excesso. Isso se reflete nas quatro áreas da realidade. No corpo, vestindo-se de forma a esconder-se completamente ou camuflar-se, ou, no outro extremo, sendo totalmente chamativos e extravagantes. Esta faceta também se manifesta no corpo, na magreza ou obesidade, ou excesso de asseio ou desleixo. No âmbito dos pensamentos, é preto ou branco, certo ou errado. Não lidam bem com ‘áreas cinzas’. Não são abertos a opções e acham que só existe uma resposta certa. Nas emoções, há grande dificuldade em lidar com sentimentos e expressá-los. As emoções são poucas ou inexistentes, ou então, avassaladoras, muito angustiantes. E por fim, no comportamento há também o extremismo, confiando em todos ou em ninguém, tocando e sendo tocado por todos, ou afastando-se de todos. Fica bastante claro no pensamento de Mellody, a grande dificuldade que o codependente encontra para conduzir-se equilibradamente, alternando-se entre extremos em todas as áreas, e para ela também, vários padrões podem ocorrer, de acordo com as combinações de comportamentos dados pela história de vida e pelo ambiente em que cada um convive. Em outra obra, Mellody (1992) fala ainda em outros cinco sintomas secundários, que são controle negativo, procurando dizer aos outros como devem ser e ouvir dos outros como eles mesmos devem ser, ressentimento, arma fútil de autoproteção utilizada pelos codependentes que os atrasa, pois procuram culpar os outros pela própria incapacidade de proteger-se, disparidade espiritual, tornando outra pessoa seu ‘Poder Maior’ através de ódio, medo ou adoração, vícios, doença física ou mental, procurando fazer com que outra pessoa, hábito ou substância preencha seu senso de adequação e dificuldade com intimidade lidando com as pessoas de forma superficial, ou irreal, já que têm dificuldade de saber quem são eles próprios_._ Mellody (1992) alerta para um aspecto extremamente importante: nossa cultura considera o comportamento codependente como “amor verdadeiro”. Podemos perceber isso, por exemplo, ao ouvirmos as letras de nossas músicas românticas, quando um amante declara que não pode viver