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Este documento discute as interpretações dos prólogos do poema clássico latino de raptu proserpinae de claudiano. O autor examina as conclusões dos críticos sobre o primeiro prólogo e propõe um regresso ao texto original. O documento oferece informações sobre as interpretações da audácia literária anunciada no poema e a relação entre as duas fases de elaboração.
Tipologia: Exercícios
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O último poeta clássico latino tem suscitado ñas últimas duas décadas a atenção dos filólogos, expressa no estabelecimento crítico do texto, levado a cabo por J. B. Hall l, e na produção de urna literatura interpretativa vasta e esclarecedora. A interpretação dos prólogos do De Raptu, porém, tem conduzido os críticos, uns na esteira dos outros, a conclusões que conviria reexaminar. O objectivo desta nota, todavia, é mais um regresso ao texto do que uma crítica da crítica.
A) O prólogo ao canto I
No prólogo I, através da imagem de uma navegação que se vai tornando gradualmente mais ousada, o poeta promete uma empresa literária mais audaciosa do que os seus anteriores trabalhos:
Inuenta primus secuit qui ñaue profundum et rudibus remis sollicitauit aquas, qui dubiis ausus commitere flatibus alnum quas natura negat praebuit arte uias, tranquillis primum trepidus se credidit undis litora securo tramite summa legens; mox longos temptare sinus et linquere terras et leni coepit pandere uela Noto; ast ubi paulatim praeceps audacia creuit corda languentem dedicere metum, iam uagus inrumpit pelago caelumque secutus Aegeas hiemes Ioniumque domat. Praef. I, vv. 1-
1 Claudii Claudiani Carmina, ed. J. B. H all, Teubner, Leipzig, 1985 e J. B. Hall, «Prolegomena to Claudian», Bulletin of the Institut of Classical Studies, Suppl. 45, 1985.
LUIS CERQUEIRA
«Aquele que o mar alto fendeu primeiro, com uma embarcação por si criada, e com toscos remos sulcou as águas, aquele que ousou lançar um navio feito de álamo à incerteza dos ventos, esse abriu através da arte caminhos pela natureza sonegados. Receoso, confiou-se a princípio às águas calmas, costeando a orla das praias em viagens seguras; depois abalançou-se aos vastos golfos e a afastar-se de terra, começando a enfunar as velas com o brando Noto. Mas quando, pouco a pouco, lhe foi crescendo a fogosa audácia e o coração esqueceu o medo frouxo, errante pelo mar se lança, seguindo os astros, afronta as tempestades do Egeu, domina o Jónio.» Segundo a interpretação que Birt fez deste passo, Claudiano anun ciaria um poema de grande extensão e intencionalmente superior à sua obra anterior em mérito literário: «His itaque ille Raptum suum tam grande poema futurum esse praenuntiat quale adhuc scribere non ausus sit»2. Deste proèmio esperar-se-ia, portanto, uma vasta epopeia e o autor é acusado de fazer o que Horácio critica na Arte Poética, vv. 136 ss.: começar com uma exórdio digno de um poema cíclico e depois parturient montes, nascetur ridiculus mus. Há neste prólogo uma ideia de audácia, que a crítica recente tem entendido e utilizado da seguinte forma: 1 — Claudiano promete uma vasta epopeia, donde se infere o inaca- bamento do poema (Birt); 2 — promete uma obra literariamente mais ambiciosa do que qual quer das suas obras precedentes, o que tem sido utilizado pela crítica, na obsessão de datar o texto, para situar cronologicamente o De Raptu no conjunto da obra de Claudiano3; 3 — este prólogo manifesta uma atitude muito distinta do prólogo II, que corresponde a uma segunda fase de elaboração do De Raptu: neste teríamos o tentear de um poeta ainda titubeante, no II um poeta de
2 Th. Bir t, Monumenta Germaniae Historica, A. A., X, München, 1892, reimpressão de 1973, p. XIV. 3 J. B. H all, Claudian, De Raptu Proserpinae, edited with an introduction and commentary, Cambridge, 1969, p. 100, expressa bem a atitude da crítica: «When Claudian (book I praef.) compares his progress in letters with that of the first mariner advancing from less to more hazardous voyages, and implies that at the time of comencing the D. R. P. he is embarking in his most ambicious enterprise (vv. 1-12) to what point of his career is he referring?». Na tentativa de dar uma resposta certa a uma questão errada, gerou-se uma discussão sem fim sobre a localização deste ponto: há os que o colocam no final da carreira de Claudiano (Parrhasius, Deirio, Jeep e Fabbri), os que o colocam no início (Dempster) e um sem número de posições intermédias.
LUÍS CERQUEIRA
B) O prólogo ao canto II
A importância do prólogo II reside, por um lado, na menção explícita de um interregno na composição do poema; por outro, na dedicatória a Florentino (vv. 49-52), que foi praefectus urbis entre 395 e 397 d. C., ano em que caiu em desgraça. Esta dedicatória reveste-se de particular importância, pois constitui o único elemento datável do poema. Relativamente ao intervalo na elaboração do D. R. P., são explí citos os vv. 1-2:
Otia sopitis ageret cum cantibus Orpheus negectumque diu deposuisset ebur ...
«Quando Orfeu, adormecidos os cantos, se entregou ao lazer e aban donou de todo o plectro de marfim que há já muito desleixara...» Claudiano tem aliás por hábito escrever um novo prólogo quando numa obra há um livro escrito e recitado mais tarde do que o primeiro livro ou livros. O problema reside na extensão deste intervalo. Segundo Hall, teria havido uma interrupção não só do D. R. P. mas de toda a actividade poética do autor6. O confronto do longo somno referido no V. 51 com os vv. 1-2 do prefácio ao Bellum Geticum (Post resides annos longo uelut excita somno / romanis fruitur nostra Thalia choris) parece corroborar esta hipótese, se se tratar do mesmo período de intervalo. Cameron7 assim pensa e afirma que o De Raptu II coincide com o Bel. Get. Ill, escrito dois anos depois do poema de circunstância pre cedente. À crítica cautelosa que Fo8 faz a esta teoria há que acrescentar um argumento decisivo: a data que dela resulta para o D. R. P. II, o ano de 402, contradiz frontalmente o elemento datável, a dedicatória a Fiorentino, que não faz sentido após 397. Se a teoria claudica, tem contudo o mérito de aproximar o longo somno do D. R. P. de uma expressão idêntica do mesmo autor, apli cada a um período de dois anos. Isto pode ser útil para evitar a utilização de expressões fluidas no seu significado ( diu , v. 2, longo
6 I. B. H all, ib., pp. 1 04 - 105. 7 A. Cameron, Claudian. Poetry and Propagand at the Court of Honorius, Oxford,
8 A. Fo, «Osservazioni su alcune questioni relative al De Raptu Proserpinae di Claudiano», Quaterni Catanesi, I, 2, 1979, p. 388.
CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROBLEMA DOS PRÓLOGOS
somno, V. 51) e com elas estabelecer cronologias largas para as duas fases de elaboração do poema. Baseando-nos no prólogo II e conjugando as suas informações, apenas podemos afirmar que o D. R. P. foi escrito em duas fases, sendo a segunda encetada antes de 397. Birt vira na dedicatória a Florentino a explicação para o inacaba- mento do poema. Porém, como objecta Hall9, «the disgrace of Floren tinus is totally insuficient as an explanation of the non completion of the epic, when all the reference to the perfect could have been removed by the simple expedient of excising the seconde preface». Qual então a verdadeira razão que levou o poeta a não continuar o poema, uma vez que não parece ter sido mutilado pela transmissão, pois nos catálogos medievais, um dos quais remonta ao séc. V III1 011 , não há traços de um livro IV? Talvez o facto de nada mais haver a acrescentar. Senão vejamos.
C) De Raptu, poema incompleto?
Como vimos em A, o prólogo I não pode ser utilizado como indício de inacabamento. Ao invés do que pretende Jeep “, a proposição é cumprida. Nos vv. 25-31 do canto I, o poeta invoca a inspiração dos deuses infernais:
vos mihi sacrarum penetralia pandite rerum et vestri secreta poli: qua lampade Ditem flexit Amor; quo ducta ferox Proserpina raptu possedit dotale Chaos quantasque per oras sollicito genetrix errauerit anxia cursu; unde datae populis fruges et glande relicta cesserit inuentis Dodonia quercus aristis.
«Revelai-me os arcanos das coisas sagradas e os segredos do vosso mundo, com que himeneu o Amor venceu Dite, de que modo foi a feroz Prosérpina arrebatada e se assenhoreou do Caos, que lhe foi entregue como dote, por quantas praias sua mãe ansiosa vagueou em perturbada correria. Assim aos povos foram dados os frutos e o carvalho de Dodona, abandonada a glande, ficou sem cultivo, uma vez descobertas as espigas.»
9 J. B. Hall, ib., p. 97. 10 Idem, ib., p. 99. 11 L. Γ ε ε ρ , Acta Societatis Philologiae Lipsiensis, I, 11, 1871, p. 347 ss.