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Classificação dos tipos de pesquisa em Informática na ..., Resumos de Informática

Metodologia Científica bem antes, lá no segundo semestre do curso. ... A Psicologia do início do século XX era predominada por abordagens positivistas.

Tipologia: Resumos

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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Capítulo
4
Classificação dos tipos de pesquisa em
Informática na Educação
Alex Sandro Gomes (UFPE),
Claudia Roberta Araújo Gomes (UFRPE)
Objetivos do Capítulo
O presente capítulo visa apresentar possíveis classificações da pesquisa científica.
Discutimos suas características e a importância para o pesquisador conhecer as nuances que
as diferenciam. Ao final da leitura deste capítulo, você deve ser capaz de:
Compreender a diferença entre os paradigmas de pesquisa: qualitativo, quantitativo
e misto.
Compreender as influências epistemológicas dos tipos de pesquisa positivista (ex.:
experimento e survey), interpretativa (ou subjetivista), projetiva (ex.: pesquisa-ao
e design science research);
Perceber os diferentes níveis de aprofundamento que podemos atingir com o
método científico;
Saber classificar a sua pesquisa em relação aos tipos de pesquisa apresentados;
Analisar os métodos indutivo, dedutivo, hipotético-dedutivo e dialético;
Entender a utilidade das pesquisas transversal (cross-sectional) e longitudinal (time
series e repeated measures);
Diferenciar entre pesquisa básica e aplicada, analisando a distinção entre a
pesquisa realizada em institutos ou aplicada em contextos industriais.
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Capítulo

Classificação dos tipos de pesquisa em Informática na Educação

Alex Sandro Gomes (UFPE),

Claudia Roberta Araújo Gomes (UFRPE)

Objetivos do Capítulo O presente capítulo visa apresentar possíveis classificações da pesquisa científica. Discutimos suas características e a importância para o pesquisador conhecer as nuances que as diferenciam. Ao final da leitura deste capítulo, você deve ser capaz de:

  • Compreender a diferença entre os paradigmas de pesquisa: qualitativo, quantitativo e misto.
  • Compreender as influências epistemológicas dos tipos de pesquisa positivista (ex.: experimento e survey ), interpretativa (ou subjetivista), projetiva (ex.: pesquisa-aç ã o e design science research );
  • Perceber os diferentes níveis de aprofundamento que podemos atingir com o método científico;
  • Saber classificar a sua pesquisa em relação aos tipos de pesquisa apresentados;
  • Analisar os métodos indutivo, dedutivo, hipotético-dedutivo e dialético;
  • Entender a utilidade das pesquisas transversal ( cross-sectional ) e longitudinal ( time series e repeated measures );
  • Diferenciar entre pesquisa básica e aplicada, analisando a distinção entre a pesquisa realizada em institutos ou aplicada em contextos industriais.

Era uma vez… Ana, foi contratada para atuar como pesquisadora numa startup de tecnologia educacional. Sua função é verificar se os produtos da empresa promovem de fato um aprendizado efetivo. A jovem está cursando seu último ano do curso de graduação em Ciência da Computação. Ela cursou a disciplina de Metodologia Científica bem antes, lá no segundo semestre do curso. O seu tutor de estágio é engenheiro de software e, portanto, não domina muito bem o método científico. Ele solicita que ela inicie a construção de um projeto de pesquisa para coordenar as avaliações dos produtos. Ana iniciou a releitura de seus livros de metodologia, mas não tinha certeza que tipo de método adotar. Decidiu então conversar com a professora da disciplina, Jôse, e pedir ajuda para decidir que técnicas usar na elaboração do método. A decisão foi acertada. A professora ajudou Ana a delimitar o fenômeno que ela precisava observar, que medidas tinha de fazer e que dados tinha que coletar. Foi um trabalho em parceria. Sem uma pessoa mais experiente, Ana não teria conseguido construir o método. Na semana seguinte, Ana iniciou seu processo de coleta dos dados através de várias ferramentas como gravações, fotos, filmagens das telas... e algumas entrevistas no final para saber o que os usuários acharam. Os usuários colaboraram muito e foram muito simpáticos. Para analisar os dados, Ana convidou Jôse e juntas chegaram às esperadas construções sobre a aceitação e a efetividade.

série francesa “ La philo en petits morceaux ” do diretor Philippe Thomine (2011). No episódio ‘E se mudássemos de paradigma?’ (título original Et Si On Changeait De Paradigme ?) o narrador simula várias mudanças para nos ajudar a refletir o que seria uma mudança de paradigma. Numa resposta curta, o narrador explica que mudar de paradigma é mudar a forma como vemos o mundo. Ele ilustra com um exemplo muito interessante: o que aconteceria com a nossa forma de ver o mundo se tivéssemos o tamanho de um inseto? O vídeo ilustra de uma maneira muito simples como evoluiu o pensamento científico, segundo a Teoria das Revoluções Científicas (KUHN, 2001). Nas seções a seguir ilustraremos quatro paradigmas de pesquisa: positivismo, pós- positivismo, teoria crítica (DENZIN; LINCOLN, 2011; FLICK, 2014) e mistos (MERRIAM; TISDELL, 2016). Detalhamos suas influências epistemológicas, as continuidades e rupturas; e refletiremos entre esses tipos de pesquisa. Ilustraremos com exemplos de estudos de áreas afins à área de Informática na Educação. 2.1 Paradigma Quantitativo sob a Perspectiva do Positivismo Histórico A Psicologia do início do século XX era predominada por abordagens positivistas que tentavam explicar o funcionamento humano a partir de dados observáveis. Nesse momento as ideias behavioristas da aprendizagem tinham ganho expressão. Essas teorias propunham modelos do comportamento humano a partir de conceitos que poderiam ser observados, como a complementariedade entre S estímulo (que é apresentado a um humano) e R resposta (sua reação observável). Seu interesse estava mais focado em quantificar comportamentos observáveis pelo que prescrevia o viés psicométrico de pesquisa. Guiados pelas noções de estímulo e resposta e pelos pressupostos behavioristas, muitas tecnologias foram criadas para proporcionar aprendizado. Seus princípios foram usados para conceber tecnologias de instrução. Um exemplo de tecnologia instrucional orientada pela corrente positivista foram as Máquinas de Ensinar de Skinner (SKINNER, 2012). O modelo positivista continua servindo de referencial teórico à concepção de tecnologias educacionais (DE MELO et al., 2006). Os métodos quantitativos são mais utilizados nas investigações de orientação filosófica positivista. A escolha por abordagens quantitativas é mais adequada quando o conhecimento que já possuímos sobre um fenômeno já é amplo e relativamente profundo, detalhado. Num estudo quantitativo o pesquisador conduz seu trabalho a partir de um plano estabelecido a priori, com hipóteses claramente especificadas e variáveis operacionalmente definidas. Preocupa-se com a medição objetiva e a quantificação dos resultados. Busca a precisão, evitando distorções na etapa de análise e interpretação dos dados, garantindo assim uma margem de segurança em relação às inferências obtidas (GODOY, 1995). O tipo de pergunta da pesquisa quantitativa deve remeter a uma relação que pode ser traduzida em medidas ou relações matemáticas; ou seja, que possa ser mensurável. Esse foi o aspecto crucial da visão psicométrica advinda da Psicologia. Vejamos um exemplo. Em um estudo recente, o grupo tentou verificar se a adoção de plataformas de gamificação aumentariam o engajamento de alunos às situações de ensino. A pergunta de pesquisa relaciona duas variáveis (DA ROCHA SEIXAS; GOMES; DE MELO FILHO,

2016). Uma das variáveis podemos controlar e por isso denominá-la de ‘independente’. Neste exemplo, ela corresponde ao uso ou não da plataforma de gamificação. Esse uso pode causar ou não impacto significativo em uma outra dimensão cognitiva que é, neste caso, a noção de engajamento. Os resultados permitiram classificar os 61 alunos em 4 grupos distintos e mostraram que os alunos que receberam mais recompensas do professor obtiveram resultados médios significativamente melhores. Observa-se que a Estatística tem um grande peso e importância na evolução do conhecimento na área. Já o paradigma pós-positivista tenta superar as limitações do positivismo de lidar com a complexidade do mundo real. Propõe uma abordagem baseada em múltiplas metodologias como uma maneira de capturar o quanto mais da realidade for possível. O mundo muda mais rápido do que a nossa capacidade de produzir explicações para os fenômenos. O pós-positivismo enfatiza a proposição e verificação de teorias. Os critérios de verificação internos e externos foram complementados com procedimentos qualitativos para ajudar a estruturar resultados estatísticos (DENZIN; LINCOLN, 2008). Uma forma simples de definir o paradigma quantitativo é com base na noção de variável. Na pesquisa quantitativa tentamos manter constante o maior número de variáveis que podem intervir em um determinado fenômeno e variamos uma variável para medir o efeito dessa variação sobre uma segunda. A primeira é chamada variável independente e ela é ‘a causa’. A segunda é a variável dependente e, portanto, ‘o efeito’. Por essa definição é fácil perceber que o conhecimento gerado por cada experimento é estreito, apesar de válido. O conhecimento avança por aproximações sucessivas e, lentamente, na medida em que vamos descrevendo, confirmando ou refutando as relações entre variáveis. 2.2 Pesquisa qualitativa Por conta das grandes realizações científicas que aconteceram nas ciências exatas e o impacto dessas no desenvolvimento tecnológico das nações, existia, na primeira metade do século XX, uma supremacia dos paradigmas quantitativos diante dos paradigmas qualitativos. No entanto, com o desenvolvimento das cidades, a crescente urbanização e a ampliação dos problemas urbanos, ocorreu um aumento da importância dos estudos dos problemas sociais e a percepção de que o paradigma quantitativo não poderia ser superior em absoluto. A partir de meados do século XX, o crescimento dos problemas urbanos levou ao desenvolvimento de métodos qualitativos em várias áreas que permitiam a construção de um melhor entendimento sobre fenômenos humanos e sociais em comparação ao que podia ser analisado apenas com métodos quantitativos. Ao mesmo tempo, em várias áreas do conhecimento, percebeu-se que apenas uma mudança de paradigma permitia avançar com o conhecimento acumulado sobre um fenômeno. Portanto, para entender os diferentes métodos, precisamos entender a noção de paradigma. Para tal compreensão, é importante conhecer o que aconteceu ao longo do último século com relação a profícua evolução acerca das teorias sobre a cognição humana. A Ciência Cognitiva é uma área de estudos interdisciplinares que se inter-relaciona com psicologia cognitiva, ciência da computação, sistemas de informação, inteligência

construindo na medida em que o estudo se desenvolve. Envolve a obtenção de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos interativos pelo contato direto do pesquisador com a situação estudada, procurando compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos; ou seja, dos participantes na situação de estudo. A profundidade das análises qualitativas pode ser muito variada, indo desde uma descrição simples do que é observado até sofisticadas relações dialéticas e críticas, que visam combater o conhecimento atual sobre fatos e relações de poder, como veremos na seção 2.5. Os estudos mais abertos ocorrem quando sabemos pouco sobre o tema e buscamos descrever minimamente as relações de interesse. Estes caracterizam o que denominamos de pesquisa exploratória. Quando já conhecemos algo mais sobre o fenômeno, os estudos passam a ser denominados de pesquisa descritiva. A pesquisa qualitativa é eminentemente focada em múltiplos métodos. No entanto, a adoção de múltiplas técnicas de coleta e análise, ou triangularização, é uma tentativa de se obter interpretações mais profundas sobre o fenômeno em questão (FLICK, 2014). Decisões procedurais definem como a metodologia qualitativa é usada para produzir conhecimento sobre o mundo. As perguntas devem remeter a descrições. Os dados obtidos são analisados indutivamente com o objetivo de construir modelos, ideias e teorias sobre os fenômenos humanos e sociais, quase sempre efêmeros e não observáveis diretamente. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa. Essa abordagem pode favorecer múltiplas interpretações de um mesmo objeto de estudo. Por esse motivo, as informações obtidas não podem ser diretamente quantificáveis, mesmo que análises quantitativas possam ser realizadas concomitante ou a posteriori. Para tal, os construtos obtidos são compilados em categorias, estas traduzidas em números e as informações, por fim, podem ser classificadas e analisadas. 2.3 Métodos mistos e a falsa dicotomia quali-quanti O método misto, como é denominado, implica na aplicação em um mesmo método de ferramentas quantitativas e qualitativas de pesquisa. Para alguns autores há uma dicotomia entre os dois métodos e os mesmos não deveriam ser usados juntos. Portanto, é importante observar de alguma maneira os riscos de inconsistência da argumentação científica desses métodos (BRYMAN, 2007). Para alguns autores, e nos incluímos neste grupo, entendemos que os dois paradigmas permitem abordagens complementares à construção de conhecimento, respeitando a relação de cada um deles com a validação, e generalização e a noção de verdade. Os métodos mistos podem combinar técnicas qualitativas e quantitativas de muitas maneiras. Para ilustrar alguns deles, discutiremos algumas características de sequências quanti-quali, quali-quanti e de suas aplicações em paralelo. Quando realizamos estudos quanti-quali, é possível perceber relações entre algumas variáveis. A partir dessa identificação inicial, subsequentes estudos quantitativos podem suplantar a verificação das relações uma a uma, complementando o que

antecipadamente fora identificado de forma qualitativa. É o caso, por exemplo, de uma pesquisa que inicia com um levantamento exploratório. A validação e a generalização da etapa qualitativa é circunstancial, mas em alguns tipos de pesquisa, uma excelente interpretação narrativa qualitativa que aprofunde o entendimento dos dados quantitativos são muitas vezes mais informativos que o entendimento de relações entre variáveis isoladas (PINK et al., 2017). Os estudos qualitativos permitem inferir sobre as estruturas subjacentes de relações entre variáveis a partir de uma grande quantidade de indícios. No caso particular dos estudos de processos cognitivos, eles permitem realizar inferências sobre os significados que constroem os sujeitos (DA SILVA, 1998). Dessa forma, o processo qualitativo ajuda a esclarecer pontos obscuros revelados pelos dados. O inverso também é possível. Quando um estudo inicia com perguntas ou observações, somos levados a construir modelos e narrativas. Esses modelos são descritos por meio de um amplo conjunto de variáveis. Relações entre essas variáveis podem ser submetidas a testes de hipóteses realizados experimentalmente na subsequente pesquisa qualitativa que as identificou. Os resultados desses testes reforçam os argumentos que buscam explicar e ampliar o encalce dos estudos exploratórios preliminares, proporcionando suporte necessário para explicar os porquês das relações identificadas. Dessa forma, o processo quantitativo aporta novos argumentos construídos a partir de testes quantitativos, portanto, de validação mais ampla e segura. 2.4 Paradigma projetivo e a epistemologia do Design O paradigma projetivo implica que a hipótese material é um sistema em desenvolvimento, já que a ideia é que projetemos a situação ou o objeto real. Por exemplo, a epistemologia do Design representa uma terceira via entre os fenômenos humanos e os fenômenos artificiais da Ciência da Computação (TURNER; EDEN, 2008). Estamos falando de uma epistemologia que organiza conhecimentos anteriores, novos e circunstanciais sobre a relação entre o ato de criar novos artefatos (sistemas artificiais) e analisar o impacto sobre atividades humanas (NELSON; STOLTERMAN, 2012). O conhecimento que esse paradigma avança corresponde ao próprio artefato em construção, seu modo de produção e todas as dimensões da relação entre o mesmo e os usuários (KOSKINEN et al., 2013). Temos descrito que os métodos científicos evoluem há pelo menos mil anos. Bem mais recente que o método científico, os métodos de Design foram sistematizados nos anos 1920 para dar conta das relações entre a produção em massa de bens de consumo garantindo a qualidade dos artefatos produzidos (BAYER; GROPIUS; GROPIUS, 1919). Na epistemologia do Design, as hipóteses são as versões materiais em evolução das soluções possíveis. Elas são sujeitas às avaliações e, após sequencias de refinamentos, resultam em soluções práticas para problemas humanos e cotidianos. O conjunto de conhecimentos mobilizados para tratar problemas dessa natureza tem um impacto na forma de produção desses bens. O impacto na cultura, na moda, no consumo ou em outra dimensão social decorre de como esse objeto define tendência de uso e de consumo (THOMPSON, 2017).

2.6 Pós-estruturalismo Quando nos constituímos pesquisadores e somos inseridos na prática da pesquisa, inicialmente imaginamos que o nosso olhar seria um referencial absoluto e teríamos autoridade para avançar conhecimentos. As pesquisas qualitativas nos mostram que o ponto de vista das pessoas que são observadas são perspectivas ainda mais interessantes. Passamos então a triangularizar técnicas na busca de uma descrição e de interpretações que traduzam de forma fidedigna os fenômenos sob estudo. O pós-estruturalismo é uma corrente de origem francesa da segunda metade do século XX e os autores pós- estruturalistas apresentam diferentes críticas à abordagem que separa o sujeito do objeto denominada estruturalismo. As críticas mais comuns incluem a rejeição dessa autossuficiência do estruturalismo e uma interrogação das oposições binárias que constituem suas estruturas. Alguns escritores cujas obras são frequentemente caracterizadas como pós-estruturalistas incluem: Roland Barthes, Jacques Derrida, Michel Foucault, Gilles Deleuze, Judith Butler, Jean Baudrillard, Julia Kristeva e Jürgen Habermas, bem como outros das escolas de Frankfurt, embora muitos teóricos que tenham sido chamados de "pós-estruturalista" tenham rejeitado o rótulo. Uma autora que é referenciada tanto nas áreas de Psicologia do Desenvolvimento, quanto em Design e ainda Interação Humano-Máquina é Lucy Suchman (SUCHMAN, 2006, 2011). Sua abordagem pós-estruturalista é denominada de abordagem situada. A partir desse paradigma, o pesquisador está situado na atividade que estuda e, portanto, sua interpretação seria de fato uma ficção pois não há nem a separação entre o sujeito e o que ele estuda, nem o tempo pára com vistas a se realizar uma análise. Neste caso, faz-se necessário que as narrativas consigam capturar os fenômenos em sua continuidade espacial, temporal e subjetiva.

3 Quanto aos tipos de método

De uma forma ampla, o método científico pode ser classificado em: indutivo, dedutivo, hipotético-dedutivo, dialético e fenomenológico (MARCONI; LAKATOS, 2003). Estes se diferenciam pela forma como o conhecimento novo é gerado a partir das relações que estabelecemos entre os dados construídos e os dados advindos da realidade. Vejamos a seguir os critérios que caracterizam cada um deles. 3.1 Indutivo O método científico indutivo caracteriza-se como um processo mental por meio do qual a descoberta de princípios gerais ocorre a partir de conhecimentos específicos (particulares) sobre um fenômeno. Partindo-se de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal não contida nas partes examinadas. Esse método de reflexão teve como pioneiros, no século XVI, Francis Bacon (1561-1626) e Galileu Galilei (1564-1642). Encontramos exemplo deste tipo de método de pesquisa em estudos da psicologia cognitiva que discutem acerca das estruturas de estratégias de resolução de problemas. Os pesquisadores observam a produção dos estudantes e induzem padrões de

comportamento que recebem nomes de estratégias, tipos de erros, concepções, percepções, entre outros. Em artigo recente, pesquisadores descreveram a resolução de problemas de produto cartesiano direto (requer a multiplicação para sua resolução) e inverso (requer a divisão para sua resolução) por estudantes do Ensino Fundamental (MAGINAI; SPINILLOII; DE SÁ MELOII, 2017). 3.2 Dedutivo Este tipo de estratégia de construção de conhecimento, denominada método científico dedutivo, foi atribuída inicialmente aos antigos gregos, com o silogismo do filósofo Aristóteles. Mais tarde ele foi desenvolvido por Descartes, Spinoza e Leibniz. O raciocínio dedutivo é a operação mental de relacionar ideias conhecidas para produzir um novo elemento. O raciocínio opera pela aplicação de princípios gerais a casos específicos (particulares). René Descartes é considerado o primeiro filósofo moderno. No século XVII ele criou as bases da ciência contemporânea. Seu método, que pode ser considerado racionalista, seguia quatro regras básicas:

  • Verificar se existem evidências reais e indubitáveis acerca do fenômeno ou coisa estudada;
  • Analisar, ou seja, dividir ao máximo as coisas, em suas unidades mais simples e estudar tais unidades;
  • Sintetizar, ou seja, agrupar novamente as unidades estudadas em um todo verdadeiro;
  • Enumerar todas as conclusões e princípios utilizados, a fim de manter a ordem do pensamento. O raciocínio dedutivo está na base do desenvolvimento das ciências da computação (TURNER; EDEN, 2008). Enquanto objeto de estudo, o raciocínio dedutivo tornou-se um dos principais domínios da psicologia cognitiva, sobretudo a partir dos anos 80 (QUELHAS; JUHOS, 2013). 3.3 Hipotético-dedutivo É através do método científico hipotético-dedutivo que o cientista: (i) observa inúmeros fatos variando as condições da observação; (ii) elabora uma hipótese e realiza novos experimentos ou induções para confirmar ou negar a hipótese; e (iii) se esta for confirmada, chega-se à lei do fenômeno estudado. A partir das respostas associadas às hipóteses formuladas, induz-se a solução de um problema. Para Karl R. Popper (2007), o método cientifico parte de um problema (P1), ao qual se oferece uma espécie de solução provisória - uma teoria-tentativa (TT); passando- se depois a criticar a solução, com vista à eliminação do erro (EE). E, tal como no caso da dialética, esse processo se renovaria a si mesmo, dando surgimento a novos problemas (P2). Posteriormente, diz o autor, "condensei o exposto no seguinte esquema: P1______TT______EE______P2”

Quanto à utilização de referenciais teóricos na análise da atividade humana, as abordagens ergonômicas que permitem a análise da tarefa seriam as versões mais positivistas, enquanto a utilização de teorias sócio históricas - como a Teoria da Atividade

  • representam uma abordagem dialética (CARROLL, 2003). Comparando as duas abordagens, na primeira as unidades de análise são conceitos objetivos e mensuráveis como a quantidade de gestos, a quantidade de erros, ou um intervalo de tempo (BONNIE E. JOHN, 2003); enquanto na segunda passa-se a abordar a atividade humana considerando que a ação cognitiva é composta de forma complementar por elementos ‘mentais’ e materiais envolvidos na atividade (BERTELSEN; BØDKER, 2003). Essa forma de perceber a realidade também é encontrada no trabalho seminal da antropóloga Lucy Suchman (2006, 2011), já comentada anteriormente. A sua abordagem situada provocou mudanças inclusive na forma como percebemos a prática do Design de artefatos. Tal prática passa a ser vista como um processo contínuo e situado ao longo do qual o designer e usuários estão envolvidos em uma atividade de concepção, imersos em um contínuo material, social e histórico, onde soluções evoluem continuamente, inclusive sob a influência deles mesmos.

4 Quanto à relação com o objeto de pesquisa

Essa forma de classificação nos permite estabelecer diferenciações entre pesquisas, considerando a maneira pela qual o pesquisador apresenta e intervém com seu objeto de estudo. 4.1 Pesquisa bibliográfica Algumas formas de gerar conhecimento sobre um objeto é apenas analisando como ele foi estudado no passado recente. Neste tipo de pesquisa, conhecida como bibliográfica, o pesquisador não utiliza diretamente ou interage com o seu objeto de estudo; mas sim, o pesquisador usa as revisões da literatura pelas quais é possível elaborar conhecimento novo a partir de resultados já publicado em livros, artigos de periódicos, artigos de conferências e qualquer outro registro. É conveniente lembrar que o conhecimento avança sempre que respondemos a uma pergunta para a qual ainda não sabemos a resposta. Os tipos de pergunta que podemos fazer em um estudo bibliográfico estão relacionados ao conteúdo dos resultados anteriores, por exemplo: que métodos foram usados para estudar aprendizagem via smartphones? Neste caso, nenhum novo método ou fenômeno humano será descoberto, mas ganhamos a consciência da variedade de métodos que foram usados para estudar o fenômeno até aquele momento. A pesquisa bibliográfica pode ter muitos níveis de profundidade. Ela pode corresponder a um breve resumo do assunto que se deseja estudar. Esse resultado é obtido de forma muito simples, tendo como condição a localização de um conjunto coeso de fontes de informações sobre o fenômeno, uma leitura crítica e a construção de um texto de síntese (MORAES; CAVALCANTI, 2016). Esse tipo de resumo breve é comum nos trabalhos monográficos de final de curso de graduação ou de pós-graduação lato sensu

(LAKATOS; MARCONI, 1992). Não há aqui nenhuma preocupação em delimitar os contornos da fronteira do conhecimento sobre o tema e também se dispensa a necessidade de chegar a um conhecimento original. No entanto, não é adequado abrir mão da maneira cuidadosa e bem articulada com a qual se lê criticamente e constrói o resumo (MARCONI; LAKATOS, 2003). O texto resultante deve servir de introdução e permitir construir um entendimento inicial sobre um fenômeno. Pesquisas bibliográficas mais amplas e profundas podem ser orientadas por temas de pesquisa. Elas são conhecidas como revisão de literatura ad hoc e temática. Os pesquisadores perseguem as referências uma a uma a partir de suas leituras, até esse atingir um corpus suficiente para posicionar a pesquisa em construção diante do estado da arte. As formas mais exaustivas de revisão bibliográfica são as sistemáticas. Elas são realizadas a partir de buscas automáticas em bases de textos. Essas são técnicas criadas na área de biblioteconomia e os resultados deveriam de fato apontar para uma delimitação clara do limite do conhecimento humano sobre um determinado tema. O artigo (BANO et al., 2018) analisa a evidência empírica de alta qualidade sobre a aprendizagem móvel na educação de ensino médio e matemática. A condição para que esse limite seja bem delimitado reside nos detalhes da aplicação do método (OLIVEIRA; GOMES, 2016). 4.2 Pesquisa empírica em ambiente controlado A principal característica é a sua realização em ambiente controlado, seja em um laboratório ou não. Estas pesquisas, que geralmente são experimentais, adotam ambientes nos quais é possível reproduzir o fenômeno sob estudo. Utilizam-se instrumentos específicos e precisos de coleta e análise dos dados. O controle de experimentos em espaços de laboratório para promover a construção sistemática de conhecimento permite a reprodução do fenômeno sob estudo com as mesmas condições, variando-se poucas variáveis a cada nova tentativa. Procura-se refazer as condições do fenômeno a ser estudado, para observá-lo sob controle de um conjunto de procedimentos estabelecidos, objetivando verificar ou refutar hipóteses, considerando relações de causa e efeito. Esse tipo de experimento corresponde a um tipo de procedimento rigoroso que permite verificar hipóteses que enunciam algum tipo de relação entre antecedentes (causa) e consequência (efeito). O controle é tão mais possível quanto menor for a quantidade de variáveis a serem controladas; a escala e o espaço de tempo ou das condições necessárias devem manter as variáveis sob controle. Grande parte do avanço de conhecimento promovida nas Ciências da Natureza, Ciências Biológicas ou Ciências da Saúde enquadram-se nesse tipo de experimentação. Nos primeiros anos do desenvolvimento da subárea de Interação Humano- Computador, na década de 80, os pesquisadores formulavam perguntas práticas para encontrar as causas dos problemas de usabilidade das interfaces dos sistemas operacionais. Este período é conhecido hoje como a primeira onda do IHC (BØDKER, 2006). Naquela fase inicial, adotaram-se técnicas da área da Psicologia Cognitiva e da

um laboratório controlado, passando-se a estudar o comportamento das pessoas em seus locais de trabalho; (iii) Passa-se a análise de usuários ‘experientes’ em detrimento da análise sempre presente de ‘novatos’ no uso de uma nova interface; (iv) Em lugar de considerar que o produto está acabado e avaliar sua usabilidade, entende-se que o produto está sempre em evolução e o processo de design faz os produtos evoluírem com o envolvimento dos usuários; (v) Contrapondo-se a considerar apenas os dados objetivos de usabilidade (tempo de aprendizagem, taxa de erros, eficiência, entre outros) busca-se agora considerar o grau com o qual as pessoas desejam os produtos, numa dimensão emocional e não objetiva, mas que constitui a experiência de interação dos usuários com computadores (BANNON, 1992b). Essa forma de pesquisa implica em vantagens e desvantagens; e, principalmente, adequação ao tipo de objeto de estudo. Para o acesso ao campo, existem muitas questões práticas e éticas que devem ser observadas (ROGERS; SHARP; PREECE, 2011). Obtido tal acesso, um grande conjunto de técnicas podem ser utilizadas para capturar dados que permitam construir descrições, explicações ou modelo teóricos sobre o fenômeno que se analisa (MARCONI; LAKATOS, 2008).

5 Quanto à profundidade dos objetivos

Sabemos que, em qualquer investigação científica, devemos ter muito claro: (i) qual a questão de pesquisa que se busca responder; (ii) quais os objetivos que são propostos para responder a mesma; e (iii) de que forma, qual o melhor caminho escolhido para se chegar a esta resposta – o método. Nesta seção, discutiremos os diferentes níveis de aprofundamento que podem ser atingidos com uma pesquisa científica, desde o mais superficial e exploratório, passando pelos descritivos e chegando aos métodos mais profundos e explicativos (FLICK, 2014). Apesar de a apresentação a seguir discutir cada um dos níveis por vez, é muito comum que combinações de níveis sejam articulados e descritos em uma mesma pesquisa. 5.1 Pesquisa exploratória A pesquisa exploratória é adequada quando o conhecimento acumulado sobre um problema ou fenômeno particular é limitado; quando a literatura sobre o tema ainda acumula um conjunto limitado de resultados que permita descrever fatos e relações entre variáveis implícitas em situações. Abordagens exploratórias proporcionam familiaridade inicial da humanidade a problemas e fenômenos. Este tipo de abordagem, no entanto, deve ser adotado apenas quando houver pouco conhecimento do objeto de estudo. Não faz sentido explorar ainda mais domínios de conhecimentos já dantes explorados. Quando há conhecimento acumulado por estudos anteriores, recomenda-se iniciar com uma ampla revisão da literatura. 5.2 Pesquisa descritiva Para além de uma exploração inicial, a pesquisa descritiva apresenta um nível um

pouco mais aprofundado de construção de conhecimento sobre algo. Descrever algo já é estudar um fato ou fenômeno de alguma maneira. A observação sistemática e empírica é um processo que envolve nossa capacidade natural de, no dia a dia, observar continuamente objetos, comportamentos e fatos interessantes ao objeto de pesquisa escolhido. Essas observações, de caráter cotidiano ou centradas no vivido, servem de ponto de partida para interpretações diversas. Na pesquisa descritiva, os fatos são observados, registrados, classificados e interpretados, sem interferência do pesquisador. Eles são apenas descritos ipsis litteris como são percebidos e observados. Ainda não há uma interpretação ou uma tentativa de inferir explicações. Os estudos de percepção de pessoas sobre algum fenômeno podem ser considerados estudos descritivos visto que seus objetivos são atingidos quando os participantes emitem suas percepções. Em (ERTMER et al., 1999), os autores buscaram identificar barreiras à adoção de tecnologias digitais em classes da Educação Infantil. Neste tipo de estudo, os autores não necessitam buscar explicações para os resultados. Estudos quantitativos também podem ser explicativos. Neste caso, busca-se apenas descrever algumas variáveis usando estatísticas descritivas que reduzem os dados apenas a indicadores. 5.3 Pesquisa Explicativa A pesquisa explicativa vai para além das descrições de fatos e fenômenos e tenta inferir explicações para os padrões observados. Tais explicações tornam-se hipóteses e são passíveis de serem avaliadas, confirmadas, refutadas ou refinadas em abordagens metodológicas. Com ela, tenta-se identificar os fatores determinantes para a ocorrência dos fenômenos. A unidade de análise pode ser um indivíduo, um grupo de indivíduos, uma organização ou várias organizações, dependendo do fenômeno a ser investigado. As técnicas podem usar entrevistas estruturadas, não estruturadas, observação, exame de registros. Mas como o objetivo é atingir níveis claros de explicações dos fenômenos, é necessário que a construção dos dados seja mais densa e profunda. Isso exige que os/as pesquisadores/as foquem numa quantidade menor de casos a serem estudados, e com mais rigor (YIN, 2001). 5.4 Pesquisa Experimental A pesquisa experimental consiste “em determinar um objeto de estudo, selecionar as variáveis que seriam capazes de influenciá-lo, definir as formas de controle e de observação dos efeitos que a variável produz no objeto” (GIL, 2002). Neste tipo, realizamos o planejamento, e a condução de experimentos envolvendo o fenômeno, processo ou fato avaliado. Ela atua na causa, modificando-a, e avalia as mudanças no desfecho. Neste tipo de pesquisa, o investigador seleciona as variáveis que serão estudadas, configura as condições pré-estabelecidas, define a forma de controle sobre as

objetos sejam teorias são denominadas teóricas. Um exemplo de teoria bastante adotada em nossa área é a Abordagem Sócio Histórica de Lev Vygotsky. Esta abordagem descreve o desenvolvimento cognitivo de pessoas através das interações sociais (BRUNO; MUNOZ, 2010). A partir da proposição de teorias podem-se realizar experimentos que tentam falseá-las; e, ao fazê-lo, refinar o modelo explicativo. É o caso, por exemplo, da relação que há entre a versão original da Teoria Sócio Interacionista de Vygotsky e os modelos recentes da Teoria da Atividade. Na versão original, os construtos que havia eram apenas três: o sujeito realiza ações mediadas por instrumentos para atingir um objetivo. Em versões mais recentes, Ygor Engerstrom (2000) propõe um modelo que possui um conjunto maior de variáveis: o sujeito , inserido em uma comunidade , realizando ações com o trabalho dividido entre os participantes das comunidades que fazem ações mediadas por instrumentos para atingir um objetivo , respeitando as regras sociais d o grupo (NETO et al., 2005). Os termos em itálico são os construtos dessa teoria. Ainda sobre a evolução de teorias, ela ocorre por meio da tentativa constante de falsear suas premissas e pressupostos (POPPER, 2007). As teorias evoluem a cada tentativa e até chegar a um limite. Quando a quantidade de emendas ao modelo inicial torna-o complexo, pode ser mais interessante para a evolução da mesma a busca por uma teoria alternativa que melhor explique o fenômeno (THOMINE, 2011). Quando isso ocorre, dizemos que ocorreu uma revolução científica, conceito definido e estudado por Tomas Kuhn (2001). 5.7 Pesquisa pura versus Pesquisa aplicada A pesquisa aplicada caracteriza-se quando se faz um uso prático da ciência. Trata- se de uma modalidade da ciência que requer que conhecimentos científicos sejam aplicados em tecnologia, soluções ou invenções (FINANCIADORA, 2014). Aplicam-se métodos e técnicas da ciência formal, como a estatística e a teoria da probabilidade. Pode-se fazer um contraponto da ciência aplicada com as ciências ditas ‘puras’. A pesquisa básica, também chamada de pesquisa pura ou pesquisa fundamental, é uma pesquisa científica que visa melhorar as teorias científicas para a compreensão ou previsão de fenômenos naturais ou outros (SCHAUZ, 2014). Como exemplo de pesquisa aplicada e suas ciências puras correlatas, podemos citar a Epistemologia Genética como uma ciência aplicada, que tem a Biologia e a Psicologia como ciências puras de base. Todas as disciplinas da área das Ciências Sociais Aplicadas, tais como Administração e Economia, são aplicações que são embasadas pelas Ciências Humanas e Exatas. Da mesma forma, as áreas das Engenharias e Medicina são ciências aplicadas, que aplicam conhecimentos das áreas de Física e Biologia, respectivamente. A área de Informática na Educação é uma área de pesquisa aplicada, visto que não geramos conhecimentos de base nem sobre seres humanos (Psicologia Cognitiva e afins), nem sobre a Computação. Por outro lado, necessitamos dos conhecimentos, métodos e teorias de ambas para construir novos conhecimentos sobre a relação entre sistemas e

sujeitos. 5.8 Pesquisa Intervencionista As pesquisas que têm como objetivo a geração de conhecimentos por especialistas e consideram as pessoas como objetos de estudo vêm sendo questionadas em suas concepções e eficiências. As pesquisas de abordagem intervencionistas são realizadas com e para os participantes; e são voltadas a intervir na realidade social e verificar o impacto dessa intervenção. Vejamos duas variações de pesquisas deste tipo: a pesquisa-ação e a pesquisa participante. A pesquisa ação é uma forma de construção reflexiva e coletiva de conhecimento. Ela é realizada para e com os participantes com vista a alterar a estrutura de práticas sociais ou educacionais; buscam a compreensão dessas práticas e as situações nas quais aquelas práticas são desenvolvidas, pela observação das alterações. A pesquisa ação é, portanto, colaborativa, e é desenvolvida através da ação e da reflexão sobre a ação dos membros do grupo (ALTRICHTER et al., 2002). Nesta direção, (BITTAR; GUIMARÃES; VASCONCELLOS, 2008) analisam a integração da tecnologia na prática do professor que ensina matemática na educação básica. Uma segunda forma de pesquisa intervencionista é a pesquisa participante. Os princípios fundamentais deste tipo são, segundo (HAGUETTE, 1999): a) a possibilidade lógica e política de os sujeitos e grupos populares serem os produtores diretos ou associados do conhecimento sobre si, mesmo popular, não deixa de ser científico; b) o poder de determinação de uso e do destino político do conhecimento produzido por essa pesquisa, com ou sem a participação de sujeitos populares em suas etapas; c) o lugar e as formas de participação do conhecimento científico erudito e de seu agente profissional do saber, no ‘trabalho com o povo’ que gera a necessidade da pesquisa, e na própria pesquisa que gera a necessidade da sua participação. A adoção das práticas de pesquisas participativas ocorre para questionar discursos hegemônicos sobre gênero, raça, classe social, etc., pois dá voz aos participantes no processo de construção do conhecimento. Em (LYKES; COQUILLON, 2007), as autoras apresentam e discutem vários exemplos de trabalho que refletem aspectos da pesquisa participativa e de ação feminista. As autoras apresentam igualmente as críticas inerentes a esta forma de pesquisa, que estão relacionadas às circunstâncias de sua operação.

6 Quanto ao tempo decorrido

Os fenômenos observáveis diferem em suas escalas de tempo e espaço. A resolução de um problema de Matemática por um aluno da educação básica pode acontecer no decurso de alguns minutos diante do olhar atento de um pesquisador. Por