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Guias e Dicas
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Clássicos da sociologia 1, Notas de estudo de Sociologia

Visão socilogica de Karl Marx, Weber e outros pensadores.

Tipologia: Notas de estudo

2010

Compartilhado em 18/09/2010

lidiane-laudia-11
lidiane-laudia-11 🇧🇷

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FACULDADE METROPOLITANA
DISCIPLINA: SOCIOLOGIA
PROFº ANDRÉ ANDRADE CURSO: DIREITO
5.5. SOCIALISMO -
Termo que designa, sobretudo a partir do séc. XIX, diferentes doutrinas
políticas tais como o socialismo de Marx, de Saint-Simon, de Fourier, de Proudhon, etc.
Todas essas doutrinas têm, entretanto, em comum uma proposta de mudança da
organização econômica e política da sociedade, visando o interesse geral, contra o
interesse de uma ou mais classes privilegiadas, com base nas idéias de igualdade e
justiça social.
Distingue-se o socialismo democrático, que prega essas mudanças por via
institucional, através de reformas defendidas e realizadas como parte do processo
democrático, do socialismo revolucionário, que defende a necessidade de mudanças
radicais através de um processo revolucionário de transformação da sociedade.
5.6 COMUNISMO
Todo regime político (ou teoria política) fundado na colocação em comum
dos bens ou que absorve os indivíduos na coletividade.
Na teoria marxista, o comunismo é sinônimo de marxismo-leninismo, tanto
pode designar a doutrina revolucionária visando a emancipação do proletariado pela
apropriação coletiva dos meios de produção quanto o regime político-econômico de tipo
coletivista no qual a ditadura do proletariado se estabelece pela destruição total da
burguesia, pela abolição das classes sociais e pelo desenvolvimento das forças de
produção segundo a forma:"a cada um segundo seu trabalho ou a cada um segundo
suas obras"(fase do socialismo); numa segunda fase, a realização de uma sociedade da
abundância deve levar à supressão total do Estado, segundo a fórmula: "a cada um
segundo as suas necessidades".
Esta é a fase do comunismo propriamente dito: "O proletariado se apodera
do poder público e, em virtude desse poder, transforma os meios de produção sociais,
que escapam das mãos da burguesia, em propriedade pública. Por esse ato, ele libera
os meios de produção de sua qualidade anterior de capital e ao seu caráter social
segundo um plano determinado. Na medida em que desaparece a anarquia da produção
social, a autoridade política do Estado também desaparece" (Engels).
5.7 MARXISMO
Termo que designa tanto o pensamento de Karl Marx e de seu principal
colaborador Friedrich Engels, como também as diferentes correntes que se
desenvolveram a partir do pensamento de Marx, levando a se distinguir, por vezes, entre
o marxismo (relativo a esses desenvolvimentos) e o pensamento marxiano (do próprio
Marx). A obra de Marx estende-se em múltiplas direções, incluindo não a filosofia,
como a economia, a ciência política, a história, etc.; e sua imensa influência se encontra
em todas essa áreas. O marxismo e, por vezes, também conhecido como materialismo
histórico, materialismo dialético e socialismo científico (termo empregado por Engels).
O pensamento filosófico de Marx desenvolve-se a partir de uma crítica da
filosofia hegeliana e da tradição racionalista, considerando que essa tradição, por manter
suas análises no plano das idéias, do espírito, da consciência humana, não chegava a
ser suficientemente crítica por não atingir a verdadeira origem dessas idéias, que estaria
na base material da sociedade, em sua estrutura econômica e nas relações de produção
que esta mantém. Isto equivaleria, segundo Marx, a "colocar o homem de cabeça para
baixo". Seria portanto necessário analisar o capitalismo - modo de produção da
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FACULDADE METROPOLITANA

DISCIPLINA: SOCIOLOGIA

PROFº ANDRÉ ANDRADE CURSO: DIREITO

5.5. SOCIALISMO -

Termo que designa, sobretudo a partir do séc. XIX, diferentes doutrinas políticas tais como o socialismo de Marx, de Saint-Simon, de Fourier, de Proudhon, etc. Todas essas doutrinas têm, entretanto, em comum uma proposta de mudança da organização econômica e política da sociedade, visando o interesse geral, contra o interesse de uma ou mais classes privilegiadas, com base nas idéias de igualdade e justiça social.

Distingue-se o socialismo democrático, que prega essas mudanças por via institucional, através de reformas defendidas e realizadas como parte do processo democrático, do socialismo revolucionário, que defende a necessidade de mudanças radicais através de um processo revolucionário de transformação da sociedade.

5.6 COMUNISMO

Todo regime político (ou teoria política) fundado na colocação em comum dos bens ou que absorve os indivíduos na coletividade.

Na teoria marxista, o comunismo é sinônimo de marxismo-leninismo, tanto pode designar a doutrina revolucionária visando a emancipação do proletariado pela apropriação coletiva dos meios de produção quanto o regime político-econômico de tipo coletivista no qual a ditadura do proletariado se estabelece pela destruição total da burguesia, pela abolição das classes sociais e pelo desenvolvimento das forças de produção segundo a forma:"a cada um segundo seu trabalho ou a cada um segundo suas obras"(fase do socialismo); numa segunda fase, a realização de uma sociedade da abundância deve levar à supressão total do Estado, segundo a fórmula: "a cada um segundo as suas necessidades".

Esta é a fase do comunismo propriamente dito: "O proletariado se apodera do poder público e, em virtude desse poder, transforma os meios de produção sociais, que escapam das mãos da burguesia, em propriedade pública. Por esse ato, ele libera os meios de produção de sua qualidade anterior de capital e dá ao seu caráter social segundo um plano determinado. Na medida em que desaparece a anarquia da produção social, a autoridade política do Estado também desaparece" (Engels).

5.7 MARXISMO

Termo que designa tanto o pensamento de Karl Marx e de seu principal colaborador Friedrich Engels, como também as diferentes correntes que se desenvolveram a partir do pensamento de Marx, levando a se distinguir, por vezes, entre o marxismo (relativo a esses desenvolvimentos) e o pensamento marxiano (do próprio Marx). A obra de Marx estende-se em múltiplas direções, incluindo não só a filosofia, como a economia, a ciência política, a história, etc.; e sua imensa influência se encontra em todas essa áreas. O marxismo e, por vezes, também conhecido como materialismo histórico, materialismo dialético e socialismo científico (termo empregado por Engels).

O pensamento filosófico de Marx desenvolve-se a partir de uma crítica da filosofia hegeliana e da tradição racionalista, considerando que essa tradição, por manter suas análises no plano das idéias, do espírito, da consciência humana, não chegava a ser suficientemente crítica por não atingir a verdadeira origem dessas idéias, que estaria na base material da sociedade, em sua estrutura econômica e nas relações de produção que esta mantém. Isto equivaleria, segundo Marx, a "colocar o homem de cabeça para baixo". Seria portanto necessário analisar o capitalismo - modo de produção da

sociedade contemporânea a Marx - para revelar sua natureza de dominação e exploração do proletariado, e desmascará-la. O pensamento de Marx não se restringe a uma análise teórica, mas busca formular os princípios de uma prática política voltada para a revolução que destruiria a sociedade capitalista para construir o socialismo, a sociedade sem classes, chegando ao fim do Estado. "os filósofos sempre se preocuparam em interpretar a realidade, é preciso agora transformá-la". O marxismo se desenvolveu em várias correntes que podemos subdividir em políticas e teóricas, embora nem sempre a fronteira entre elas seja muito nítida. Dentre as correntes políticas temos, p. ex.: o marxismo-leninismo, ou simplesmente Leninismo, também chamado de marxismo ortodoxo, ou materialismo dialético, que tornou-se a doutrina oficial na União Soviética após a Revolução de 1917; o trotskismo, de Leon Trotsky, que defendeu contra o leninismo a teoria da revolução permanente; o maoísmo, doutrina desenvolvida por Mao Tsé-tung, que chegou à China após a revolução de 1947. Dentre as correntes teóricas: Karl Kautsky (Alemanha - 1854-1938), seguidor de Marx, defensor de um socialismo revolucionário; Georg Lukács (Hungria - 1885-1971) propõe interpretação de Marx valorizando suas raízes hegelianas; Antonio Gramisci (Itália - 1891-1937) - fundador do Partido Comunista Italiano e que desenvolveu uma filosofia da praxis; Louis Althusser (França - 1918 - ), que faz uma leitura de Marx em uma perspectiva estruturalista, etc.

5. 8 KARL MARX

(Trier - Al - 1818-1883) de família judia convertida ao Protestantismo. O pensamento de Marx desenvolve-se a partir do contato com a obra do economista Adam Smith e David Ricardo, e da ruptura com o pensamento hegeliano e com a tradição idealista da filosofia alemã. Surge o materialismo histórico, segundo o qual as relações sociais são determinadas pela satisfação das necessidades da vida humana, não sendo apenas uma forma, dentre ouras, da atividade humana, mas a condição fundamental de toda a história. Logo, a economia política, que estuda a natureza dessas relações de produção, deve ser a base de todo o estudo sobre o homem, sua vida social e sua expressão cultural. Grande parte das obras de Marx foram escritas em colaboração com Engels, sendo difícil separar suas idéias. Marx escreveu grande número de artigos para jornais, meio como ganhou a vida em Londres. Nunca abandonou a militância política, nem a convicção de que a tarefa de uma filosofia, que se queria verdadeiramente crítica, deve ser a transformação da realidade.

Principais obras: A crítica da filosofia de Hegel (1843); A sagrada família (1845); A ideologia alemã (1845-46); 18 Brunários de Luís Bonaparte ( 1852); O Capital, 3 vols. (1887-95), com a colaboração de Engels; etc. XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

CONSIDERAÇÕES SOBRE A SOCIOLOGIA DE MAX WEBER 1[1]

Weber ( 1993, pág. 124 ) afirma que a Ciência Social que ele pretende exercitar é uma “Ciência da Realidade”, voltada para a compreensão da significação cultural atual dos fenômenos e para o entendimento de sua origem histórica.

Essa não é uma afirmação trivial. O termo “Ciência da Realidade”, tal como utilizado por Weber, aponta, na verdade, para um concepção específica do objeto e do método das Ciências Sociais.

Esse artigo pretende discutir, justamente, essa especificidade. O que significa esse compromisso enfático com o estudo da realidade? Que objetos são definidos como pertinentes e quais são excluídos do âmbito dessas ciências?

1

A associação entre essas duas premissas, ou seja, o reconhecimento de que as referências valorativas são inevitáveis e de que não é possível selecioná-las segundo critérios objetivos, poderia ter conduzido Weber a uma postura cética e relativista. Partindo dessas premissas, a conclusão aparentemente mais lógica seria a que afirmasse que não é possível um conhecimento objetivamente válido da realidade, sobretudo, no que se refere aos fenômenos culturais. A conclusão de Weber, no entanto, é exatamente a contrária. A objetividade do conhecimento é possível, inclusive, nas Ciências da Cultura.

É importante lembrar que dentro do contexto intelectual alemão do final do século passado, no qual Weber se inseria, existiam pelo menos duas respostas disponíveis à questão da validação do conhecimento das Ciências da Cultura. Ambas, no entanto, foram rejeitadas por Weber. Dilthey, em linhas gerais, acreditava que o conhecimento dos fenômenos culturais se fundamentava na estratégia da compreensão introspectiva, método pretensamente capaz de resgatar o mundo tal como subjetivamente vivido pelos indivíduos. A possibilidade desse resgate estaria, em princípio, garantida pela identidade humana e histórica que une, nas Ciências da Cultura, o sujeito e o objeto. Como sujeito humano o observador poderia compreender de modo relativamente fácil outros universos humanos. Weber rejeita a solução de Dilthey, fundamentalmente, argumentando que o acesso a esse universo subjetivo não é nem direto, nem completo e nem imparcial. Tratar-se-ia, além disso, de um método de difícil controle intersubjetivo, que como tal não poderia ser posto como garantia de objetividade.

A outra solução para o problema da validade do conhecimento presente no contexto intelectual de Weber era sustentada principalmente por Rickert e Windelband. Para estes, existiriam certos valores universais e necessários, supostamente compartilhados pela humanidade e pelo cientista, que orientariam, de modo unívoco, o trabalho de seleção dos problemas e objetos nas Ciências da Cultura. A observação desses valores universais seria a garantia da relevância e pertinência do conhecimento produzido. Como observa Saint-Pierre a relação com os valores seria, particularmente para Rickert, não “apenas um princípio de seleção do material de estudo, mas, e principalmente, constituía o fundamento da validade do conhecimento histórico-social” ( 1994, pág. 24 ). Weber rechaça esse alternativa acentuando, sobretudo, o fato de que os valores não são universais, mas, ao contrário, múltiplos e contraditórios. Não existiria um sistema de valores privilegiado, fundado numa base transcendental, com relação ao qual as Ciências da Cultura pudessem se orientar, mas, apenas, o eterno confronto histórico entre diversos valores inconciliáveis.

Em contraposição a essas duas alternativas, Weber busca uma solução para o problema da objetividade do conhecimento que, como observa Saint-Pierre, se situa no plano metodológico. O conhecimento objetivo é possível desde que os sujeitos cognoscentes se comprometam a observar certas regras próprias à atividade científica. A objetividade não seria alcançada pela extirpação de toda e qualquer referência a valores e pela busca de um olhar imparcial, como talvez sonhassem os positivistas. Weber se mantém fiel a sua primeira premissa. Também não seria obtida por meio da hierarquização das várias referências e da escolha, entre essas, daquela mais verdadeira - talvez, algum sistema teórico ou metafísico ou, ainda, um conjunto de valores superiores, como queria Rickert - a partir do qual se pudesse proceder a uma abordagem unívoca da realidade. Weber, também, não abandona a sua segunda premissa; não é possível selecionar segundo critérios cientificamente válidos qual a referência melhor ou mais verdadeira.

A objetividade do conhecimento é possível, no entanto, desde que, em primeiro lugar, sejam claramente separadas as esferas do conhecimento empírico e da ação prática, particularmente, a de natureza política ou religiosa. Weber se dedica exaustivamente ( Por ex.: 1982 e 1993 ) ao estabelecimento de uma delimitação clara entre essas duas esferas. Os objetivos que a ciência deve se colocar e que ela é capaz de alcançar são radicalmente distintos dos que cabem, por exemplo, à política. Embora se sirva da relação com valores para selecionar seus objetos e ângulos de investigação, a ciência não deve, como tal, fazer julgamentos de valor. Ela deve se restringir a fazer julgamentos científicos sobre a realidade tal como esta é empíricamente, não sobre como ela supostamene deveria ser. Até mesmo porque a ciência não é capaz de fazer julgamentos objetivos sobre valores, sobre como as coisas devem ser. Esses julgamentos são necessariamente subjetivos.

O primeiro passo para se garantir a objetividade do conhecimento científico é, portanto, separar claramente julgamentos de valor e julgamentos de fato e excluir os primeiros do âmbito da ciência. Essa, de certa forma, é uma atitude que depende de uma decisão individual dos pesquisadores, mas que, para Weber ( 1993 ), poderia ser incentivada e cobrada pelas associações e revistas científicas. É importante observar que a objetividade do

conhecimento é possível, na perspectiva weberiana , na medida exata em que os cientistas estejam deliberadamente dispostos a se comprometer com a busca dessa objetividade. Esse compromisso tem como eixo principal a renúncia aos julgamentos de valor, mas é algo mais amplo. Weber espera, na verdade, que o cientista esteja disposto a se curvar frente ao imperativo das proposições empíricas, factuais, que não se apegue às suas referências teóricas e filosóficas de modo dogmático, que esteja aberto ao diálogo e à crítica e que saiba correr o risco constante da refutação empírica de suas idéias.

Uma maneira interessante de se interpretar a concepção weberiana do conhecimento científico é recorrendo à separação entre Contexto da Descoberta e Contexto da validação3[3]^. Weber sabe que o interesse pelo conhecimento e a seleção do problema, do objeto e do ângulo específico das investigações são definidos necessariamente através de uma relação com valores subjetivos – essa é, justamente, uma de suas premissas. Essa relação com valores não alcançaria, no entanto, o plano da verificação empírica das hipóteses. Uma vez proposto, o conhecimento poderia e deveria ser julgado, objetivamente, do ponto de vista de sua lógica interna e validade empírica. A relação com os valores dominaria apenas o Contexto da Descoberta. O Contexto da Validação deveria ser consciente e deliberadamente liberto das influências subjetivas4[4]^. Neste contexto deveria imperar o espírito crítico e antidogmático. Os resultados do conhecimento , para serem considerados cientificamente válidos, teriam que se submeter ao controle intersubjetivo e ser universalmente aceitos.

Weber nos fala, portanto, particularmente, no caso das Ciências da Cultura, de duas dimensões claras do trabalho científico. Uma primeira dimensão, em que nenhuma forma de controle é possível. As referências subjetivas que orientam o conhecimento são múltiplas, inconciliáveis e não são passíveis de nenhum tipo de julgamento ou hierarquização segundo critérios objetivos. Partindo de referências variadas, os sujeitos selecionariam problemas e objetos e construiriam conceitos e hipóteses. Uma vez formuladas as hipóteses, passaria-se para a segunda dimensão, na qual imperaria o controle intersubjetivo, tendo na validação empírica seu critério fundamental.

Do ponto de vista deste artigo, o que é mais importante sublinhar é o compromisso de Weber com a busca da objetividade nas Ciências Sociais. Toda sua reflexão epistemológica está voltada para a construção de uma estratégia capaz de conciliar a referência a valores múltiplos e contraditórios com a conquista da objetividade. Sua afirmação de que a Ciência Social que ele pretende praticar é uma ciência da realidade só pode ser entendida à luz desse compromisso.

A CONCEPÇÃO DE SOCIOLOGIA DE MAX WEBER

As características do paradigma sociológico weberiano só se definem à luz da visão de mundo mais ampla de Weber, dentro da qual se articulam uma concepção específica sobre o que é a realidade sócio-histórica e uma reflexão profunda sobre a natureza do empreendimento científico.

Talvez o ponto central da perspectiva weberiana seja o reconhecimento de que a realidade humana não possui um sentido intrínseco e unívoco, dado de modo natural e definitivo, independentemente das ações humanas concretas. Weber pressupõe que a realidade é infinita e sem qualquer sentido cognoscível imanente. Seriam os sujeitos humanos que estabeleceriam recortes na realidade e se posicionariam diante deles conferindo-lhes sentido.

Weber assume essa perspectiva de modo radical. Orientado por ela, procura excluir das Ciências Sociais qualquer proposição que busque definir de modo geral e substantivo qual a lógica da história, qual a dimensão estrutural determinante da sociedade ou qual o sentido último subjacente às ações individuais. Todas essas definições suporiam a existência de uma realidade atemporal, naturalmente dada, subjacente e determinante dos fenômenos empíricos. Weber não apenas não acredita na existência desses determinantes ahistóricos do comportamento humano, como defende que não seria possível defini-los de um modo objetivo, verificável segundo as regras da ciência.

Os únicos objetos legítimos das Ciências Sociais seriam, então, em si mesmas, as ações sociais. O agente individual seria o único portador real de sentido. A única coisa que realmente existiria seriam sujeitos humanos agindo de uma forma e com um sentido específico e produzindo, de modo intencional ou não, uma série de conseqüências. Cada fenômeno

causal realizado pela Sociologia e pela História. Cada aspecto concreto da realidade empírica poderia ser compreendido em função da sua maior ou menor distância em relação à definição típico ideal.

O tipo ideal mais importante da Sociologia weberiana é o de ação racional com referencia a fins 5[5]^. Este tipo de ação se caracterizaria pelo fato do ator escolher de modo ponderado seus fins, considerando as conseqüências previsíveis, e por adequar do modo que lhe parece mais eficaz, dadas as condições, os meios aos fins. Seria um tipo de ação social no qual o sujeito agiria desapegado de vínculos afetivos ou tradicionais. O que prevaleceria seria a análise objetiva da eficiência e da eficácia, dos custos e benefícios de cada alternativa. A ação racional com referência a valores possuiria, basicamente, as mesmas características. A diferença é que os fins da ação, neste caso, seriam perseguidos de modo absoluto, independentemente das conseqüências previsíveis que possam estar associadas a eles. A idéia de Weber é de que a ação racional, nas suas duas modalidades, seria a forma mais previsível, compreensível, de comportamento humano. Quando desapegados de suas tradições e afetos, os homens agiriam diante das situações de modo muito regular. Suas ponderações sobre os custos e benefícios de cada alternativa de ação são feitas segundo regras que seriam mais ou menos universais de raciocínio. Suas decisões, ou seja, os cursos efetivos da ação seriam, portanto, muito regulares.

Seria, justamente, essa previsibilidade ou compreensividade máxima que faria com que o tipo ideal de ação racional desempenhasse o papel de um recurso metodológico tão central na Sociologia weberiana6[6]^. Os fenômenos poderiam, num primeiro momento, ser interpretados como baseados em ações racionais. Essa interpretação seria, num segundo momento, comparada com a realidade concreta. Os comportamentos divergentes seriam compreendidos como desvios, afetivos ou tradicionais, em relação às ações racionais previstas.

Servindo-se de tipos que recriam, de modo acentuado, vários aspectos da realidade empírica e valendo-se do conhecimento de certas regularidades da ação humana - associadas, principalmente, ao seu caráter racional - Weber pode construir, para cada situação social analisada, um quadro das possibilidades objetivas de ação 7[7]^. Este quadro funciona

como um recurso metodológico complementar que permite avaliar a influência de modificações mais ou menos abrangentes dos componentes de uma situação social sobre a escolha por parte do sujeito do seu curso de ação. Torna-se possível simular vários cenários, através da modificação virtual de determinado componente da situação, imaginar, segundo as regras da experiência, como o ator reagiria às modificações, e, assim, avaliar o peso causal que cada componente da situação desempenharia – ou efetivamente desempenhou, no caso histórico - na definição do curso de ação. A avaliação do significado causal de um fato para o curso subsequente dos acontecimentos seria, assim, realizada considerando-se a probabilidade maior ou menor, de acordo com as regras da experiência, de que, na ausência desse fato, o comportamento dos agentes seja modificado. Seria possível simular a ausência do fato e avaliar, com algum grau de segurança, quais as possibilidades objetivas de que isso se traduza numa mudança do comportamento dos agentes e, indiretamente, numa alteração do curso dos acontecimentos.

A reconstrução analítica de elementos da realidade em termos típico ideais e a simulação das possibilidades objetivas envolvidas num acontecimento ou situação – simulação baseada, principalmente, na previsão de como seria o curso dos eventos no caso de ações puramente racionais – seriam os elementos principais que permitiriam a compreensão causal dos fenômenos sociais. O cientista reconstruiria, em termos típicos, dimensões específicas da realidade, avaliaria, segundo as regras da experiência, como os agentes provavelmente agiriam diante dessas dimensões e compararia os cursos de ação concretos com as previsões realizadas. Essa comparação permitiria definir o grau de proximidade entre a construção típica e a realidade concreta.

A compreensão causal, no sentido weberiano, ou seja, a explicação dos fenômenos a partir da interpretação do sentido visado pelas ações dos sujeitos e da análise das implicações, intencionais ou não, dessas ações supõe a utilização dos três recursos metodológicos acima discutidos: os tipos ideais, que permitem isolar artificialmente dimensões da realidade empírica e avaliar a presença dessas, em maior ou menor grau, em diversas configurações concretas; o

tipo ideal de ação racional, que forneceria uma espécie de padrão previsível de comportamento a partir do qual se poderia identificar desvios; a noção de possibilidade objetiva, que permite avaliar o peso relativo de várias causas possíveis na determinação de um acontecimento.

A sociologia weberiana não lida com indivíduos socialmente isolados, mas com agentes localizados em situações sociais determinadas, nas quais está aberto um campo definido de possibilidades de ação ( Cohn, 1979 ). A primeira condição que torna possível a compreensão sociológica seria, justamente, o fato dos sujeitos agirem dentro desse universo estreito de possibilidades. Os atores lidam com essas possibilidades de um modo que pode ser compreendido quanto ao sentido – na medida em que adequado aos “hábitos médios de pensar e sentir” (Weber, 1991, pag. 8 ) - e previsível de acordo com regras de probabilidade construídas a partir da experiência histórica.

O trabalho do sociólogo seria, basicamente , o de reconstruir de modo típico os elementos considerados significativos em cada situação. A partir dessa reconstrução o sociólogo poderia compreender as possibilidades de ação abertas para o sujeito ( as conexões de sentido possíveis ) e avaliar, a partir da experiência, quais as mais prováveis. A Sociologia poderia, finalmente, afirmar que diante de situações próximas ao caso típico, os sujeitos provavelmente agiriam de uma determinada forma e de acordo com um sentido que poderia ser compreendido8[8]^.

Num certo sentido, pode-se dizer que a Sociologia weberiana tem como projeto a reconstrução conceitual do mundo sócio-histórico. Certamente, não se trata de uma reconstrução exata, completa, definitiva ou imparcial. Weber enfatizou suficientemente a separação existente entre conhecimento e realidade. O mundo social - na verdade, fragmentos dele - seria recriado em termos típicos ideais, ou seja, selecionando-se e exagerando-se algumas de suas dimensões. Seriam explicitadas, ainda, as relações regulares observadas entre dimensões da realidade. Como a realidade empírica é definida em termos de agentes com um objetivo, agindo em relação a outros agentes, servindo-se dos meios disponíveis e das condições dadas pela situação, os elementos tipificados seriam, justamente, os objetivos ou motivos, os meios, as condições e as próprias situações. Mesmo as categorias sociológicas mais gerais utilizadas pela Sociologia, como capitalismo, burocracia ou patrimonialismo, seriam definidas em função da probabilidade de que se repitam certas ações típicas, do ponto de vista do seu sentido, que, supostamente, estão envolvidas e, inclusive, são as responsáveis pela existência desses fenômenos macrossociais.

Weber não pretende e não acha possível ir além dessa reconstrução tipificada dos elementos do real e do estabelecimento de certas relações, mais ou menos regulares e compreensíveis, entre esses elementos. Apenas essas seriam tarefas de uma Ciência Social “da realidade”, no sentido weberiano. É a isso que ele chama de “ordenação conceitual da realidade”. Qualquer objetivo além desse seria visto como inadequado a uma ciência empírica e próprio à “metafísica” ou à “filosofia social”.

O que Weber exclui do campo das Ciências Sociais , ou pelo menos relega a uma posição bastante marginal, é todo tipo de teorização que se refira a dimensões, processos ou mecanismos sociais puramente abstratos, que não possam ser traduzidos em termos de conjuntos típicos ou concretos de ações. Não existiria espaço na Sociologia weberiana para o desenvolvimento de conceitos ou sistemas de teorias que tenham como objeto dimensões não diretamente empíricas dos fenômenos sociais. Assim, num plano macrossociológico, Weber, certamente, desestimularia qualquer esforço no sentido de estabelecer um conhecimento geral e abstrato, válido para qualquer configuração histórico-social, sobre a natureza dos sistemas sociais e de seus mecanismos internos de equilíbrio ou mudança. Ao contrário, ele está interessado em compreender como em diferentes situações históricas, passíveis de serem tipificadas, os homens orientaram suas ações de um modo que tornou possível o estabelecimento de relações sociais mais ou menos estáveis. Da mesma forma, no plano microssociológico, Weber, sem dúvida, não apoiaria iniciativas no sentido de estabelecer os mecanismos gerais subjacentes aos processos de interação social. Não lhe interessariam teorias abstratas sobre a universo subjetivo ou sobre os processos inconscientes envolvidos nas interações. Restringiria-se a compreender, no caso real ou em termos típicos, o sentido visado pelos atores e as conseqüências intencionais ou não de suas ações.

O ponto fundamental é o compromisso de Weber com o plano da ação social: tudo o que se encontra num plano analítico subjacente ou transcendente em relação ao da ação seria excluído do campo específico das Ciências Sociais e reservado ao âmbito filosófico. A única

condicionada pela ação do outro, mas foi gerada a partir da necessidade de se defender da chuva. Weber também busca distinguir ação social de relação social. Para que exista uma relação social é preciso que haja um sentido compartilhado entre os atores. Exemplificando: um sujeito que está andando numa rua e pede a informação a outro que vai por ali passando está estabelecendo uma ação social e não uma relação social. Neste caso, o sujeito que está fazendo a pergunta age em relação ao outro com uma motivação, a fim de atingir um determinado objetivo, porém essa motivação não é compartilhada pelo outro que oferece a informação. Todavia, se pegarmos como exemplo uma sala de aula, onde os objetivos dos sujeitos ali presentes são compartilhados, há uma relação social. Assim, um cientista social através da análise da freqüência com que ocorrem determinadas ações sociais, pode entender as tendências que levam os indivíduos a agirem de determinadas formas.

Weber construiu um instrumento de análise que chamou de tipo ideal. O tipo ideal pode ser considerado uma construção teórica abstrata, que é formulada através de casos particulares. O cientista deve construir um tipo ideal e aplicá-lo a diferentes situações concretas em que dado fenômeno tenha ocorrido. Um bom exemplo disso é a própria teoria das ações sociais. Durante a História humana, as pessoas sempre agiram de determinadas formas, sendo que suas ações eram orientadas para determinados fins. Weber construiu, então, quatro tipos básicos de ação social. São eles:

**- ações orientadas para fins racionais;

  • ações racionais orientadas por valores específicos;
  • ações afetivas;
  • ações tradicionais.**

As ações orientadas para fins racionais são instrumentos através dos quais as pessoas agem com o objetivo de atingir determinados fins. Exemplo: uma pessoa que estuda muito objetivando ser aprovada num concurso. As ações racionais orientadas por valores específicos são aquelas através das quais as pessoas agem guiadas por valores morais, políticos ou religiosos. As ações afetivas são aquelas determinadas por questões sentimentais. Exemplo: amar alguém. As ações tradicionais que são determinadas pelos comportamentos habituais dos indivíduos, bem como por seus costumes. Exemplo: comer utilizando palitinhos é uma ação tradicional do japonês.

Segundo Weber , “obtém-se um tipo ideal mediante a acentuação unilateral de um ou vários pontos de vista, e mediante o encadeamento de grande quantidade de fenômenos isoladamente dados, difusos e discretos, que se podem dar em maior ou menor número ou mesmo faltar por completo, e que se ordenam segundo os pontos de vista unilateralmente acentuados, a fim de se formar um quadro homogêneo de pensamento. Torna-se impossível encontrar empiricamente na realidade esse quadro, na sua pureza conceitual, pois se trata de uma utopia. A atividade historiográfica defronta-se com a tarefa de determinar, em cada caso particular , a proximidade ou afastamento entre a realidade e o quadro ideal (...) Ora, desde que cuidadosamente aplicado, esse conceito cumpre as funções específicas que dele se esperam, em benefício da investigação e da representação" (Max Weber ) Sendo assim, pode-se afirmar que não existe na verdade um fenômeno que se encaixe perfeitamente dentro da especificação do tipo ideal estabelecido por Weber. O tipo ideal é apenas um instrumento conceitual utilizado pelo cientista social para analisar determinados fenômenos de uma dada sociedade. XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXX A descoberta da concepção materialista da história ou, mais exactamente, a aplicação, a extensão conseqüente do materialismo ao domínio dos fenômenos sociais eliminou os dois defeitos essenciais das teorias da história anteriores a Marx.

Em primeiro lugar, estas consideravam, no melhor dos casos, os mobiles ideológicos da actividade histórica dos homens, sem investigar a origem desses mobiles, sem apreender as leis objectivas que presidem ao desenvolvimento do sistema das relações sociais e sem descobrir as raízes dessas relações no grau de desenvolvimento da produção material; em segundo lugar, as teorias anteriores não abarcavam precisamente a acção das massas da população, enquanto o materialismo histórico permite, pela primeira vez, estudar com a

precisão das ciências naturais as condições sociais da vida das massas e as modificações dessas condições.

A "sociologia" e a historiografia anteriores a Marx, no melhor dos casos, acumularam factos em bruto, fragmentariamente recolhidos, e expuseram alguns aspectos do processo histórico. O marxismo abriu caminho ao estudo universal e completo do processo do nascimento, desenvolvimento e declínio das formações econômico-sociais, examinando o conjunto das tendências contraditórias, ligando-as às condições de existência e de produção, exactamente determináveis, das diversas classes da sociedade, afastando o subjectivismo e o arbítrio na selecção das diversas idéias "dominantes" ou na sua interpretação, revelando as raízes de todas as idéias e todas as diferentes tendências, sem excepção, no estado das forças produtivas materiais.

Os homens são os artífices da sua própria história , mas que causas determinam os mobiles dos homens e, mais precisamente, das massas humanas? Qual é a causa dos conflitos de idéias e aspirações contraditórias? Que representa o conjunto destes conflitos na massa das sociedades humanas? Quais são as condições objectivas da produção da vida material nas quais se baseia toda a actividade histórica dos homens? Qual é a lei que preside ao desenvolvimento destas condições? Marx fez incidir a sua atenção sobre todos estes problemas e traçou o caminho para o estudo científico da história concebida como um processo único regido por leis, apesar da sua prodigiosa variedade de aspectos e de todas as suas contradições.XXXXXXXXXXXXXXXX

A Concepção Materialista da História : Dando-se conta do caráter inconseqüente, incompleto e unilateral do velho materialismo, Marx foi levado à convicção de que era preciso "pôr a ciência da sociedade de acordo com a base materialista e reconstruir esta ciência apoiando-se nessa base"24. Se, de uma forma geral, o materialismo explica a consciência pelo ser, e não ao contrário, ele exige, quando aplicado à vida social da humanidade, que se explique à consciência social pelo ser social. "A tecnologia, diz Marx (O Capital, l), revela a atitude ativa do homem para com a natureza, o processo imediato da produção da sua vida e, por conseguinte, das suas condições sociais de vida e das representações espirituais que delas derivam."25 Uma formulação completa das teses fundamentais do materialismo aplicado à sociedade humana e à sua história é dada por Marx no prefácio à sua obra Contribuição para a Crítica da Economia Política, nestes termos: "Na produção social da sua existência, os homens entram em relações determinadas, necessárias, independentes da sua vontade; relações de produção que correspondem a um dado grau de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e à qual correspondem formas de consciência social determinadas. O modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e intelectual, em geral. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, pelo contrário, é o seu ser social que determina a sua consciência. Num certo estádio do seu desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes ou, o que não é senão a expressão jurídica disso, com as relações de propriedade no seio das quais elas se haviam movido até então. De formas de desenvolvimento das forças produtivas que eram, essas relações tornam-se seus entraves. Abre-se então uma época de revolução social. A transformação na base econômica revoluciona, mais ou menos rapidamente, toda a enorme superestrutura. Quando se estudam tais revoluções é preciso distinguir sempre entre as transformações materiais ocorridas nas condições econômicas de produção - que podem ser verifica-das com o rigor próprio das ciências naturais - e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas, em resumo, as formas ideológicas sob as quais os homens tomam consciência desse conflito e lutam por resolvê-lo. "Assim como não se pode julgar um indivíduo pela idéia que ele faz de si próprio, também se não pode julgar uma tal época de revoluções pela consciência que ela tem de si mesma. Pelo contrário, é preciso explicar esta consciência pelas contradições da vida material, pelo conflito que existe entre as forças produtivas sociais e as relações de produção ..." "Em traços largos, os modos de produção asiático, antigo, feudal e burguês moderno, podem ser designados como outras tantas épocas de progresso na formação econômica da sociedade." (Ver a fórmula sucinta que Marx dá na sua carta a Engels datada de 7 de Julho de 1866: "A nossa teoria da organização do trabalho determinada pelos meios de produção.") A descoberta da concepção materialista da história ou, mais exatamente, a aplicação, a extensão conseqüente do materialismo ao domínio dos

dialético. A passagem do modo de produção feudal, para o modo de produção capitalista burguês, e um exemplo claro:

"0 modo de produção feudal é o fato positivo, a afirmação mas já traz dentro de si o germe de sua própria negação: o desenvolvimento de suas forças produtivas propicia o surgimento da burguesia. À medida que estas forças produtivas se desenvolvem, elas vão negando as relações feudais de produção e introduzindo as relações capitalistas de produção. A luta entre a nobreza e a burguesia vai se acirrando; em um determinado ponto deste desenvolvimento ocorre a ruptura e aparece o terceiro elemento mais desenvolvido, que é mo do de produção capitalista. É, portanto, 5 luta entre as classes que faz mover a História.'' (SPINDEL, A. op. cit. p. 39.)

Marx e Engels começaram a formular a concepção matéria da História quando escreveram juntos "A Ideologia Alemã", em 1845/46; o materialismo histórico é, de acordo com Marx, o "fio condutor" de todos os estudos subseqüentes. Os conceitos básicos do Materialismo Histórico(3) constituem uma teoria científica da História, vista até então como uma simples narração de fatos históricos. Ele revolucionou a maneira de se interpretar a ação dos homens na História, abrindo ao conheci mento, uma nova ciência e aos homens uma nova visão filosófica do mundo: o Materialismo Dialético. Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Estratificação: III. Indivíduo, Identidade e Socialização

• A questão da identidade nas várias sociedades ;A emergência do indivíduo/

individualidade e do individualismo ;A diversidade do processo de socialização; A questão da família e da escola na formação do indivíduo

Indivíduo: “Indivíduo ou ser individual significa o portador ou sujeito concreto de uma essência em sua peculiaridade não – comunicável. De indivíduo deriva individuação, termo que designa a determinabilidade individual, ou seja, aquilo que faz com que este indivíduo seja precisamente este e se distinga de todos os outros, por exemplo: este determinado ser – Pedro. “

Durkheim em termos de representações coletivas e instituições trata de separar o social do individual como duas esferas independentes da realidade humana. Para ele, “ a sociedade não é mera soma de indivíduos ; ao contrário , o sistema formado por sua associação representa uma realidade específica que tem suas próprias características “ , e é “na natureza dessa individualidade (...) que se deveriam buscar as causas imediatas e determinantes dos fatos que lá aparecem”. A referência aos fenômenos de “ síntese criadora “ na natureza serve-lhe para comprovar , por analogia, a separação entre os dois níveis de realidade.

Individualismo: De acordo com BRUGGER , este termo designa :

  1. a acentuação do valor da personalidade do homem , o cultivo e desdobramento da mesma, em oposição ao gregarismo humano , à massificação”; e isto entendido em sentido lato, isto é, não só da personalidade individual, mas também de famílias e de outros grupos valiosos , nos quais se cultiva e frutifica a consciência da própria classe e do próprio valor;
  2. a superacentuação do indivíduo ou de grupos particulares;
  3. uma concepção de sociedade que realça o indivíduo a o ponto de reduzir a sociedade a uma soma de entes individuais.

Identidade: “A identidade passa a ser qualificada como identidade pessoal (atributos específicos do indivíduo) e/ou identidade social (atributos que assinalam a pertença a grupos ou categorias).” (Jacques,1998, p. 161).

Os termos identidade e social sugerem, respectivamente, um conceito que "explique por exemplo o sentimento pessoal e a consciência da posse de um eu..." (Brandão, 1990 p.37) privilegiando, de um lado, o indivíduo, e de outro lado, a coletividade, resultando numa configuração na qual se capta o homem inserido na sociedade, bem como à dinâmica das

relações sociais. A importância dessa relação pode ser melhor compreendida nessa citação de Marx (1978a, p.9) “ A sociedade é, pois, a plena unidade essencial do homem com a natureza, a verdadeira ressurreição da natureza, o naturalismo acabado do homem e o humanismo acabado da natureza”.

Hamelink (1989) refere que a identidade diz respeito a uma cultura determinada e opõe este conceito ao de identidade cultural. A identidade de uma cultura referir-se-á às características que se podem atribuir a uma cultura determinada, enquanto a identidade cultural são as características que um indivíduo ou grupo atribui pelo fato de sentir que pertence a uma cultura definida.

Ibáñez (1990) considera a identidade a nível individual. Assim a identidade pessoal é basicamente produzida pela cultura ou sub-culturas que nos socializam enquanto a identidade cultural é estabelecida com base no sentido de pertença à comunidade.

A investigação sobre a identidade revela uma forma de conhecimento de nós próprios que repousa sobre a interpretação da imagem que os outros têm de nós e que serve para consolidar a que nós fazemos de nós próprios

Socialização

A socialização é um tipo específico de interação - que molda a natureza da personalidade humana e, por sua vez , o comportamento humano, a interação e a participação na sociedade. Sem socialização, nem os homens sem a sociedade seriam possíveis.

São facilmente perceptíveis as diferenças de costumes que existem de uma sociedade para outra. Os primeiros pensadores sociais apontaram, com certa razão, que estes costumes são diferentes em parte por causa da própria diferença entre os meios físicos em que se encontram as sociedades: em um ambiente de clima frio, as pessoas usarão mais roupas e provavelmente ficarão menos tempo fora de suas casas; em um local com alimentos abundantes elas poderão trabalhar menos e não terão de competir por comida. Mas como explicar, através desta idéia de determinismo físico, que em certos lugares a manipulação da comida seja feita com dois pauzinhos, em outros com diversos talheres e ainda em outros com as próprias mãos? Estas diferenças são resultados não da adaptação da sociedade ao meio, mas da adequação dos indivíduos à vida em sociedade. É a este processo de integração de cada pessoa aos costumes preexistentes que damos o nome da socialização.

De maneira mais completa, define-se socialização como a internalização de idéias e valores estabelecidos coletivamente e a assimilação de papéis e de comportamentos socialmente desejáveis. Significa, portanto, a incorporação de cada homem a uma identidade maior que a individual: no caso, a incorporação do homem à sociedade. É importante associar de maneira correta a socialização à cultura: esta se encontra profundamente ligada à estrutura social, enquanto que a socialização pode ser resumida à transmissão de padrões culturais.

O processo de socialização por excelência é a educação. Mas não somente aquela que adquirimos na escola, a denominada educação formal que consiste, entre outros conhecimentos, no aprendizado da língua e da história do próprio povo. Há uma outra educação, que aprendemos apenas no próprio convívio com as outras pessoas e que corresponde ao modo como devemos agir em momentos-chave da nossa vida. É a socialização através da família, dos amigos e até mesmo de desconhecidos. As famílias ensinam, a título de exemplo, quais das suas necessidades devem ser atendidas pelo pai e quais devem ser atendidas pela mãe. Com os amigos aprendemos os princípios da solidariedade e a importância da prática de esportes. Com desconhecidos podemos aprender a aguardar a nossa vez em fila, sem atropelos, e a não falar alto em locais como o teatro ou a sala de aula. Outro exemplo claro é o caso de um homem que muda de país e que tem de aprender o idioma e as normas da nova sociedade em que se encontra, isto é, os padrões segundo os quais seus membros se relacionam (v. Relação Social).

Vista dessa maneira, a socialização pode ser interpretada como condicionadora das atitudes e, portanto, como uma expressão da coerção social. Mas a socialização, justamente por se realizar de maneira difusa e fragmentada por diferentes processos, deixa alguns espaços de ação livres para a iniciativa individual espontânea, como a escolha dos amigos, do local onde deseja-se morar ou da atividade que se quer exercer.

Se existem diferentes processos de socialização, tanto entre sociedades quanto dentro de uma mesma, é possível atribuir a eles limites e graduações. A socialização na esfera econômica

d. as classes não existem isoladas, mas como sistema de classes: as relações entre as

classes são relações de oposição.

e. os conflitos são expressão das contradições de sistemas sócio-econômicos

determinados.

Desigualdades Sociais A desigualdade em uma sociedade gira em torno da distribuição diferenciada de recursos de valor às variadas categorias de indivíduos - sendo as de classe, étnica e gênero as três mais importantes. A estratificação de classe existe quando a renda , poder, prestígio e outros recursos de valor são dados aos membros de uma sociedade desigualmente e quando, com base nessa desigualdade, variados grupos tornam-se cultural, comportamental e organizacionalmente distintos. O grau de estratificação está relacionado ao nível de desigualdade, à distinção entre as classes em nível de mobilidade entre as classes e à durabilidade das classes.

Desigualdades sociais : explicações teóricas

Existem várias propostas para o estudo da estratificação: a. Proposta marxista: enfatiza que a propriedade dos meios de produção é a causa da estratificação de classe e mobilização para o conflito, com subseqüente mudança nos padrões de estratificação; b. Proposta weberiana : enfatiza a natureza multidimensional da estratificação ( que gira em torno não apenas da classe, mas de partido e grupos de status também);

c. Proposta funcionalista : argumenta que a desigualdade reflete o sistema de recompensa para encorajar os indivíduos a ocupar posições funcionalmente importantes e difíceis de preencher; d. Proposta evolucionista : argumenta que, a longo prazo, partindo das sociedades de caça e coleta, as desigualdades aumentaram , como refletem as sociedades modernas. A estratificação nos Estados Unidos e no Brasil é marcada por altos níveis de desigualdade com respeito a bem-estar material e prestígio. A desigualdade na distribuição de poder é mais ambígua. Fronteiras obscuras entre as classes sociais próximas existem nos Estados Unidos. A mobilidade é freqüente, mas a maioria das pessoas não consegue grande mobilidade durante sua vida. XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Max Weber (1864-1920) ajudou-nos a compreender a natureza da sociedade.

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Ele discordava da abordagem de Marx mas as suas objecções eram diferentes das de Durkheim.

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Sem negar a importância dos factores materiais, defendidos por Marx , nem a noção de factos sociais externos aos indivíduos, defendida por Durkheim, ele acrescentou que deveríamos olhar para as ideias. Em especial, para os significados que atribuimos às coisas e para o papel das mudanças nas ideias que contribuem para a sociedade e para as mudanças sociais.

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No âmbito dos significados que as pessoas atribuem às coisas, Weber utilizou o termo alemão, " verstehen ," para discutir a nossa compreensão profunda daqueles significados.

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Como a cultura se baseia em símbolos e os símbolos, para o serem, precisam de ter significados, compreender os símbolos é, então, um elemento essencial na compreensão da sociedade.

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Em Sociologia, actualmente, continuamos a usar a sua palavra, " verstehen ," para analisar este

importante elemento da cultura e da sociedade.

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Em oposição à abordagem de Marx relativamente à compreensão da Revolução Industrial, Weber afirmou que, em primeiro lugar, surgiu uma mudança radical nas ideias.

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Este facto reflectiu-se na Reforma Protestante e nas prédicas de líderes protestantes, especialmente John Calvin, que se opunham aos pensamentos e práticas da Igreja Católica, dominantes na altura.

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Entre os vários valores defendidos pelos Protestantes, destacam-se as ideias de auto-suficiência, frugalidade e relações independentes e íntimas com Deus, em vez de através de um padre.

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A frugalidade era uma atitude essencial necessária ao encorajamento da poupança e do investimento, um importante elemento do capitalismo e da Revolução Industrial.

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Os Protestantes afirmavam ainda que não precisavam de uma organização imensa, corrupta e decadente para lhes dizer como pensar. Segundo eles, a independência de pensamento ajudava a que as pessoas começassem os seus próprios negócios e contribuissem para o crescimento da classe detentora de capital.

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A Reforma Protestante, de acordo com Weber , foi o factor determinante que desencadeou a Revolução Industrial e a ascenção do Capitalismo, uma abordagem muito diferente da de Marx.

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Uma terceira contribuição de Weber relaciona-se com a sua visão sobre a natureza social da desigualdade.

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Marx enfatizou as relações com os meios de produção.

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Sem negar a importância da posse de riqueza, Weber acrescentou o prestígio, ou seja, os juízos de valor que as pessoas fazem umas das outras e que contribuem para o seu posicionamento nas respectivas classes sociais.

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Novamente, a grande preocupação de Weber era ao nível das ideias.

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Karl Marx via as classes sociais como sendo relacionadas com os meios de produção.. Ele viu uma mudança de uma sociedade feudal baseada na Agricultura, em que a classe detentora de terras se diferenciava da classe dos camponeses, para uma sociedade marcada pela Revolução Industrial, em que a classe detentora do capital, os prietários das fábricas se diferenciava da dos operários trabalhadores, que viviam do seu trabalho pago.

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Outros profissionais, tais como escriturários, agentes de informação, serviços de espionagem e informação e funcionários públicos, não contribuíam para a produção económica e eram, por isso, inúteis (não produtivos) e não constituiam classes.

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Max Weber , que escreveu meio século mais tarde, pelo contrário, declarava que as classes dependiam de três factores: poder, riqueza e prestígio.

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Na Sociologia actual, tendemos a considerar estes mesmos três factores, embora os sociólogos marxistas ainda sublinhem as relações aos meios de produção, incluindo, hoje, a produção de ideias e informação.

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Weber também considerava que a sociedade era composta por várias camadas e não apenas duas e que, nesta divisão, havia outros factores importantes, para além dos materiais.

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Weber , este presencia o capitalismo mais avançado em fins do século XIX e Durkheim que vê uma grande mudança na França, ele mesmo é um produto dessa mudança, então ele se preocupa em explicar de maneira geral essas mudanças. Em Weber , a emoção é imprevisível, já a razão é previsível, e é encontrada nos valores morais de uma sociedade, os valores não são objetivos, e sim subjetivos, enquanto para Durkheim os valores são objetivos, pois são fatos sociais (coisas). Durkheim estuda o direito, que já está lá (é intrínseco), então pode ser previsto, é no direito que encontra a regulamentação para a vida social (leis). Durkheim é o homem da previsibilidade a partir do empírico e daí chega às análises, Weber parte do substrato cultural para poder fazer alguma previsão certa. Durkheim e Weber vão buscar na religião a essência do conhecimento, ao contrário de Marx , que diz que a religião tem função social , pois opera no acobertamento das relações sociais. O asceticismo cristão, para Weber , é o agente dinâmico em sua relação com o mercado da vida, ao que parece transformando-o intrinsecamente, ao contrário do que dizia Marx no Manifesto, onde o sentimento religioso e o prestígio de tudo o que é sagrado é violado pela ação do capitalismo. Para Durkheim a religião gera coesão social , pois ela é um fato social. A concepção de fato social é diferente para Weber , para ele a somatória das ações individuais criam os fatos sociais. Marx não concorda com a idéia de que a emancipação política (cidadania) reivindicada pelos judeus só se dará quando judeus e católicos deixarem suas diferenças de lado, pois ele acha que isso é emancipação humana e não política, não tendo uma noção de Estado (contrapõe Bauer, no texto “A Questão Judaica”). Para ele o Estado é simultaneamente uma colossal superestrutura do regime capitalista como poder organizado de uma classe social em sua relação com os outros. Para Durkheim a humanidade avança no sentido de seu gradual aperfeiçoamento, governada por uma força rígida: a lei do progresso, ele analisa na sociedade os efeitos que as mudanças acarretam. Para Durkheim o sistema é um todo que funciona integrado, isto é, cada elemento deste sistema tem uma função, e os critérios para regulamentar esse sistema é baseado no direito, pois para ele toda sociedade é normatizada e quem segue essas normas “se dá bem”. Enquanto para Marx o direito é um “véu cinza” que tapa a sociedade protegendo a burguesia. Em Weber uma sociedade pode ser racional tendo valores subjetivos, num primeiro momento o que faz essa mediação entre indivíduo e sociedade são as instituições, a ação racional é pensada tanto no pessoal quanto no individual. Para Marx a vida social é o reflexo das relações materiais, concepção materialista, sendo a mercadoria a síntese das relações sociais. Para Marx a classe social é o sujeito da história, e a desigualdade tem origem na propriedade, sendo esta um elemento fundamental na discussão marxista, pois a propriedade é alienável e leva à alienação, esta significa a separação do homem com ele próprio, do seu semelhante e da natureza. Essa separação do homem, também pode ser vista em Weber , quando ele fala, sobre a autonomização e racionalização do homem do meio natural e do meio social , aumentando o grau de consciência e reflexividade, através disso a ação de cada indivíduo tende a alterar o meio e cada vez mais essa ação é consciente e servem para melhorar e manter a sociedade. A divisão do trabalho para Durkheim leva a solidariedade, isto é, agir homogeneamente a partir dos sentimentos. Enquanto a divisão do trabalho para Durkheim gera solidariedade social , para Marx a idéia é contrária, para ele a divisão do trabalho aparta o homem de seu meio e então gera alienação. Weber , sobre influência de Marx , propôs verificar a capacidade que teria o materialismo histórico de encontrar explicações adequadas à história social , especialmente sobre as relações de infra-estrutura e a superestrutura da sociedade. A preocupação de Weber em suas obras, quando discute os estudos sobre religiões, sua análise do surgimento do capitalismo, seu estudo sobre poder e burocracia, seus escritos metodológicos e sua sociologia do direito, é a racionalidade. Para ele a sociologia é a ciência que pretende entender e interpretar a ação social , para explica-la em seu desenvolvimento e efeitos, observando suas regularidades que são expressas na forma de usos, costumes e situações de interesse. O conceito de ação social é o mais importante na sociologia de Weber , e ação social é uma conduta humana dotada de um significado subjetivo. Para Durkheim o fato social (que é coercitivo e exterior ao indivíduo) influi na ação social , o indivíduo é a sociedade (sui generis). Marx acreditava que a razão era não só um instrumento de apreensão da realidade, mas, também, de construção de uma sociedade mais justa, capaz de possibilitar a realização de todo o potencial existente nos indivíduos. Porém, suas experiências de desenvolvimento

tecnológico e das revoluções políticas, alimentaram sua crença no progresso em direção a uma liberdade. XXXXXXXXXXXXXXX