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Este texto discute a importância de compreender o funcionamento do conhecimento científico e suas implicações na nossa vida quotidiana. Ele compara o conhecimento obtido pelo senso comum com o obtido por meios científicos, enfatizando a precisão e confiabilidade do último. Além disso, o texto explora as origens e importância da ciência no mundo moderno.
Tipologia: Resumos
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Não perca as partes importantes!
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o resultado mais preciso e correto possível. Bem, para que isso se concreti- ze, primeiro precisaremos de dinheiro - algo em torno de R$ 350 m i l só para começar (toda pesquisa científica deve ter um orçamento).
O primeiro passo será descobrirmos, por meio de um levantamento de mercado, os modelos e fabricantes disponíveis, para que possamos efetuar comparações. Assim que soubermos quantos modelos vamos testar, podemos planejar as fases seguintes da nossa pesquisa. Digamos que concluímos, após um levantamento que durou 30 dias, que há 600 modelos diferentes de cal- ças, incluindo aí todas as variações de lavagens, tecidos, modelagens e fabri- cantes. O p r ó x i m o passo será adquirirmos, preferencialmente pelo menor preço possível, um exemplar de cada modelo - não nos esquecendo de ano- tar o preço e os dados básicos dos fornecedores em uma planilha, para aná- lise futura.
Teremos, então, de submeter essas 600 calças a uma série de testes. Por exemplo: o teste do "caimento". Vamos convidar cinco especialistas em moda - três estilistas e dois jornalistas especializados - para que possam avaliar esse que- sito, atribuindo-lhe uma nota de zero a dez, enquanto você desfila elegantemen- te em uma passarela, com cada um dos 600 modelos, é claro. Com uma média de 40 modelos por dia, essa etapa levará cerca de 15 dias para ser completada.
Depois, passamos ao segundo teste: montamos um laboratório com 60 máquinas de lavar e 60 secadoras de roupa. Lavamos e secamos continuamen- te cada peça pelo menos 20 vezes. Analisamos dois itens nessa etapa: a taxa de desbotamento da tintura (a cada lavagem) e a taxa de desagregação pro- gressiva do tecido, quando analisado por meio de microscópios. Considerando um tempo (estimado) de uma hora para lavar, 40 minutos para secar e uma hora e 20 minutos para analisar cada peça entre cada operação de "lavagem- secagem-análise", teremos 300 horas de trabalho por peça. Como são 60 má- quinas realizando o serviço simultaneamente, podemos considerar um total de três mil horas de trabalho. Uma vez que nosso laboratório conta com a co- laboração de dezenas de diligentes assistentes de pesquisa, que trabalham 12 horas por dia, podemos estimar que essa fase levará uns 250 dias.
Para encurtar o processo (ou então gastaremos toda a nossa verba), con- cluímos nossa pesquisa, comparando todas essas variáveis (preço, estilo, qua- lidade do tecido) utilizando algumas técnicas especiais da estatística e, ao
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final de aproximadamente dez meses, chegamos à conclusão perfeitamente científica de que a melhor calça jeans do Brasil é a... Bem, não vamos revelar essa informação confidencial de altíssimo valor comercial.
Muito bem. A essa altura, você deve estar pensando: é inviável tentar resol- ver todos os problemas por meio de procedimentos "científicos". No caso da nossa calça, talvez o melhor mesmo seja consultar aquela nossa amiga que já tem opinião formada sobre o assunto e, então, baseando-nos em sua experiên- cia, podemos concluir alguma coisa sobre o tema - só que de forma rápida e gratuita. A esse segundo procedimento damos o nome de senso comum.
O senso c o m u m talvez seja a primeira forma de conhecimento a ter surgi- do sobre a face da Terra, juntamente com o Homo sapiens , há cerca de 40 mil anos. E essa forma de conhecer o m u n d o é extremamente importante: sem ela, não poderíamos resolver os problemas mais banais do nosso dia a dia - como o problema de descobrir a melhor calça jeans entre todas as que existem no mercado brasileiro. A todo instante precisamos tomar decisões: a melhor marca de creme dental, a melhor combinação de cores para a roupa que vamos usar em uma entrevista de emprego, o aparelho celular que devemos comprar (e também qual operadora de telefonia celular e plano de assinatura são os melhores para nós) etc.
Baseando-se no exemplo da calça, você já imaginou se fôssemos nos me- ter a utilizar procedimentos científicos para cada decisão dessas? É óbvio que não podemos fazer isso, pois não teríamos nem o tempo nem os recursos neces- sários para tanto. E é precisamente por isso que o senso c o m u m é muito valio- so: ele nos permite tomar centenas de decisões diariamente, sem que tenha- mos de mover "céus e terras".
Por outro lado, acreditamos ter se tornado perfeitamente óbvio também que o conhecimento adquirido por meio de um "método científico" parece ser bem mais preciso que o obtido por meio do senso comum. No caso do nosso exem- plo, pode até ser que os dois processos conduzissem às mesmas conclusões (embora isso seja improvável), porém o processo científico é muito mais digno de confiança.
Assim, podemos estabelecer as bases para uma primeira comparação en- tre os dois processos:
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Portanto, um método é um procedimento ou um conjunto de passos que se deve realizar para atingir determinado objetivo. Nesse sentido, podemos encontrar o método na culinária (o método para produzir um delicioso pavê de chocolate está especificado em sua receita), na arte (os diversos métodos para produzir uma escultura ou uma pintura também são bem-definidos) e até mesmo na reli- gião (há métodos, por exemplo, para a realização de cerimônias religiosas, ora- ções etc.). Como vemos, o método, como processo organizado, lógico e sistemático, está presente em todos os âmbitos da experiência humana. O método científi- co seria, portanto, apenas um caso particular dos diversos tipos de métodos e consistiria de algumas etapas bem-definidas, como: identificação de um fenô- meno no universo que peça explicação ( observação ); produção de uma expli- cação provisória que desvende esse fenômeno (geração de hipóteses ); execução de um procedimento que possa testar essa explicação, para verificar se ela é ver- dadeira ou falsa ( experimentação ); análise e conclusão, visando estabelecer se a hipótese pode ser considerada verdadeira também em outros contextos, dife- rentes daquele do experimento original {generalização). Por exemplo: um pesquisador na área de educação observa que seus alu- nos parecem obter melhor desempenho acadêmico quando têm acesso ao mate- rial de estudo antes da aula ( observação ). Dessa forma, ele supõe que isso ocor- ra porque, ao ler o material com antecedência, os alunos assistem às aulas mais relaxados e podem fazer perguntas de melhor qualidade {geração de hipóteses). O pesquisador decide, então, testar essa suposição da seguinte forma: distribui seus alunos em dois grupos. O primeiro terá acesso ao material antes da aula, ao passo que o segundo, não. Ao longo de seis meses de aulas, o pesquisador aplica provas de conhecimentos para acompanhar o desenvolvimento da com- preensão dos alunos sobre o tema ensinado e observa o seu comportamento em sala de aula, o tipo de pergunta que fazem etc. ( experimentação ). Ao fi- nal de todo o processo, ele compara as notas dos alunos dos dois grupos e verifica que sua suposição estava correta: "alunos que têm acesso ao material instrucional com antecedência apresentam desempenho acadêmico superior, pois assistem às aulas mais relaxados e fazem perguntas de melhor qualida- de" (generalização). Já temos uma noção do que é o método científico, mas e a ciência, o que seria? Diversos autores têm tentado defini-la e, nos p r ó x i m o s capítulos da
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primeira parte deste livro, vamos investigar em detalhes sua história e prin- cipais conceitos. Mas, por ora, vejamos a etimologia da palavra: ciência vem do latim scientia (ou episteme, em grego), que, por sua vez, tem sua origem no termo scire, cujo significado é "aprender, conhecer" (APPOLINÁRIO, 2004). Vejamos o que dizem alguns autores importantes sobre a ciência:
Q u a d r o 1.2 Algumas definições de ciência
A n d e r - E g g M a r x & H i l l í x K a r l P o p p e r (^) daN e w t o n Costa
"Conjunto de conhe- cimentos racionais, certos ou prováveis, obtidos metodicamente, sistematizados e verificáveis, que fazem referência a objetos de uma mesma natureza" (ANDER- EGG, 1978, p. 15).
"Atividade pela qual os homens adqui- rem um conhecimento ordenado dos fenô- menos naturais, traba- lhando com uma metodologia particular (observação controla- da e análise) e um conjunto de atitudes (ceticismo, objetivida- de etc.)" (MARX; HILLIX, 1978, p. 19).
"Um cientista, seja teórico ou experimen- tal, formula enuncia- dos ou sistemas de. enunciados e verifica- -os um a um. No campo das ciências empíricas, ele formula hipóteses e submete- -as a testes, confron- tando-as com a expe- riência, através de recursos de observa- ção e experimenta- ção" (POPPER, 1974, P- 27).
"A ciência consiste essencialmente em sis- temas de conhecimen- tos alcançados por caminho racional. Seu propósito: o conheci- mento científico, isto é, uma série de cren- ças verdadeiras e justi- ficadas, dentro das fronteiras da racionali- dade (...) poder-se-ia dizer que a razão sozi- nha conduz, em princí- pio, às ciências for- mais; razão mais expe- riência, às reais" (COSTA, 1999, p. 41).
Como se pode observar por meio dessas definições, a ciência parece pos- suir algumas características particulares especiais que a diferenciam de outras formas de conhecimento, como a arte, a religião, a filosofia e, é claro, o senso comum. Sim, caro leitor, existem mesmo diversas formas de conhe- cimento. Vejamos cada uma delas c o m mais detalhes.
Desde os primórdios da civilização, existe a crença em uma força superior, divina, que rege os destinos do universo. Essa crença, p r o d u t o dá fé e da transcendência, permitiu ao ser humano explicar e o r g a n i z a r uma realidade muitas vezes ameaçadora e perigosa. Por exemplo: q u a n d o perdemos um ente querido, a ciência não pode nos consolar, mas as matrizes explicativas religiosas nos trazem conforto e nos ajudam a suportar melhor a perda. A
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Outras duas características importantes do conhecimento artístico são: primei- ra, essa forma de conhecimento é inesgotável, ou seja, a informação estética con- tida em uma obra de arte será encarada de forma diferente por várias pessoas e também de vários modos por uma única pessoa, em momentos diferentes. Certamente você já teve a experiência de ler várias vezes um livro ou assistir diver- sas vezes ao mesmo filme, sempre observando elementos novos e tendo insights diferentes acerca da obra. Segunda, a informação estética não pode ser traduzida para outras linguagens sem perda de informação relevante. Por exemplo: tente des- crever em palavras a obra Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, para uma pessoa que jamais a tenha visto e você entenderá o que estamos dizendo.
Pitágoras (século VI a.C.), por seus enormes conhecimentos, era freqüente- mente chamado de "sábio" por seus discípulos. Quando isso acontecia, ele retrucava: "Minha única sabedoria consiste em reconhecer minha própria igno- rância. Assim, não devo ser chamado de sábio, mas antes de amante da sabe- doria". E é exatamente isso o que significa a palavra filosofia , junção dos ter- mos gregos philos (amor) e sófia (sabedoria).
Tentar definir em termos absolutos essa grandiosa área do conhecimento humano seria, no mínimo, um ato arrogante e destituído de propósito. Vamos fazer diferente: ao explorarmos um pouco o conceito, pelo menos caminhare- mos na direção de uma compreensão aproximada acerca das diferenças fun- damentais entre essa forma de conhecimento e as outras. Para isso, pediremos auxílio a um dos maiores pensadores do século XX, o filósofo britânico Bertrand Russell (1872-1970):
A "filosofia", no meu entender, é algo intermediário entre a religião e a ciência. Semelhantemente à religião, a filosofia consiste de especulações sobre assuntos, com respeito aos quais não foi ainda possível obter conhecimento definido. Mas semelhantemente à ciência, a filosofia apela à razão humana, e não a uma autoridade, seja essa a autoridade da tradição ou da revelação. Todo conhecimento definido, é a tese que defendo, pertence à ciência; todo dogma a respeito daquilo que jaz além do conhecimento definido pertence à religião. Mas entre a religião e a ciência há uma terra de ninguém que está aberta a ataques de ambos os lados: essa terra de ninguém é a filosofia. (RUSSELL, 1945)
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Podemos dizer, então, que um dos mais fortes componentes presentes na filosofia é a razão. Naturalmente isso também ocorre na ciência, mas a dife- rença básica entre elas parece residir no método para a produção do conhe- cimento: a filosofia baseia-se fundamentalmente na razão, tanto como a ciên- cia, mas, ao buscar comprovações empíricas acerca dos fatos, a ciência produz conhecimentos verificáveis. O filósofo norte-americano Richard Rorty disse algo muito elucidativo a esse respeito: "A filosofia é a disciplina por meio da qual se busca o conhecimento, porém só se obtém a opinião" (RORTY, 1982, p. 57).
Podemos considerar, à guisa de conclusão, que no mundo contemporâneo to- das essas formas de conhecimento coexistem. Quando entramos em contato com um fenômeno qualquer, por exemplo, podemos pensá-lo por meio dessas cinco matrizes de compreensão. Assim, dependendo do ponto de vista, constmiremos significados diferentes, dependendo da matriz de compreensão escolhida.
Digamos, por exemplo, que, enquanto você está aguardando o semáfo- ro abrir, observa do seu automóvel a seguinte cena: uma pessoa, ao tentar atravessar distraidamente a rua, por pouco não é atropelada por um carro que consegue frear a tempo. Apesar do enorme susto, ela escapa ilesa e levanta as mãos para cima, gesticulando e murmurando alguma coisa que você não consegue ouvir.
Ao refletir posteriormente sobre essa cena, você pode pensá-la sob diversos ângulos:
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Q u a d r o 1.3 Comparação entre as diversas formas de conhecimento
Características
Formas de conhecimento Características Senso comum Artístico^ Religioso^ Filosófico^ Científico Vinculação com a realidade Valorativo^ Valorativo^ Valorativo^ Valorativo^ Factual
Origem
Tradição oral, observação e reflexão
Inspiração Fé/Inspiração Razão
Observação e experimentação sistemática Ocorrência Assistemático Assistemático Sistemático Sistemático Sistemático Comproba- bilidade Verificável^
Não verificável
Não verificável
Não verificável Verificável Eficiência Falível Infalível Infalível Infalível Falível
Precisão Inexato Não se aplica Exato Exato Aproximada-mente exato
Finalmente, para completarmos esta introdução, valeria a pena mencionar que as ciências encontram-se divididas em ciências formais, naturais e sociais. Há outras propostas classificatórias diferentes, mas essa parece ser uma visão de razoável consenso. Assim, as ciências formais seriam as que lidam unicamente com abstrações, idéias e estruturas conceituais não necessariamente ligadas aos fatos, como a matemática e a lógica. As ciências naturais como a biologia, a fí- sica e a química estudam os fenômenos naturais (a vida, o ambiente etc.). E, por fim, as ciências sociais dedicam-se à investigação dos fenômenos humanos e sociais, como a psicologia, a sociologia e a economia.
F IGURA I. I Proposta de classificação geral das ciências (APPOLINÁRIO, 2004)
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O objetivo deste capítulo foi apresentar ao leitor uma idéia geral introdu- tória do campo científico. Nos próximos capítulos, veremos como se deu o de- senvolvimento da concepção científica acerca do m u n d o e do universo e por que ela é tão importante nos dias atuais.
Concaitos-Chave do Capítulo
Ciência Conhecimento filosófico Ciências naturais Método Conhecimento religioso Ciências sociais Método científico Conhecimento artístico Senso comum Ciências formais
Leitura Complementar Recomendada
ALVES, R. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras. São Paulo: Loyola, 2000. Escrevendo de forma espirituosa, Rubem Alves nos conduz pelo mundo do raciocínio científico e da filosofia da ciência de uma maneira ao mesmo tempo sistemática e agradável. Repleta de exemplos e citações de auto- res consagrados da ciência e da filosofia, a obra explora com propriedade crítica as fronteiras entre o conhe- cimento científico e as outras formas de conhecimento.
SAGAN, C. 0 mundo assombrado pelos demônios: a ciência vista como uma vela no escuro. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. Nessa excelente obra, o astrônomo Carl Sagan faz uma defesa apaixonada da ciência, denunciando o vírus do analfabetismo científico que assola a cabeça da maioria das pessoas e desfazendo mal-entendidos comuns acer- ca do que seja cftj não ciência.