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Miniver Vai ao Brasil: A Recepção dos 'Filmes de Home Front' na Imprensa do Rio de Janeiro (1942-1945). Florianópolis, setembro de 2016 ...
Tipologia: Slides
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A Sra. Miniver Vai ao Brasil: A Recepção dos ‘Filmes de Home Front ’ na Imprensa do Rio de Janeiro (1942-1945)
Florianópolis, setembro de 2016
“Quando os futuros historiadores escreverem a história da Segunda Guerra Mundial, será dedicado um capítulo brilhante à contribuição da indústria cinematográfica para a vitória”.
Walter Wanger, produtor hollywoodiano, 1944^1
(^1) FURHAMMAR, Leif; ISAAKSON, Folke. Cinema e Política. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1976, p. 66.
importante contribuição dos funcionários da PPGH-UFSC, Thiago Pires e Eliane Oro. Ao meu grande amigo Felipe Martin Pamplona, que me auxiliou durante os trabalhos de campo em São Paulo e teve o carinho de revisar esse material. Sua amizade e senso investigativo foram de suma importância para o encaminhamento desta pesquisa. À maravilhosa Francielly Rocha Dossin, amiga de todas as horas que muito me ensinou a crescer como pesquisador e pessoa durante nossa convivência na PPGH-UFSC. Levarei com muito carinho as lembranças de nossos cafés e confabulações. Agradeço também a Felipe Corte Real, companheiro de Fran, que se tornou um amigo igualmente querido. À incrível Samira Peruchi Moretto, amiga dona de um grande coração e de grande paciência, que me ajudou em diversos momentos e foi a principal responsável pelo sucesso de minha estadia na Yale University. À ‘má quirida’ Scheyla Tizzato, cuja amizade inestimável me traz apenas um arrependimento: não tê-la conhecido antes. Importante companhia nos desafios acadêmicos e cafés, me fez aprender muito com as coisas pequenas da vida. Aos amigos e colegas que participaram do Núcleo de Estudos de História e Cinema da UFSC (NEHCINE). Viviane Cavalcante, Rodrigo Candido da Silva, Nayara Franz, Talita Von Gilsa, Lucas Vilela, Guilherme Américo e Juan Garcês, todos vocês foram importantes companheiros ao longo dessa jornada. Agradeço também aos amigos da PPGH-UFSC e também que conheci na UFSC, em especial: Daniele Prozczinski, Eliziane Gava, Tanay Gonçalves, Ricardo Duwe, Priscila Andrade, Antonio José, José Nilo, Gustavo Pontes e Camila Goetzinger. A Caio Ferreira, Helton Piotrowski, Jéssica Mendonça, Emerson Gonçalves da Silva, Carolina Vannucci, Agatha do Vale, Renata Thaís, Silvana Dias, Bárbara Santos Frota e Fabiana Tome, amigos que mesmo estando longe, nunca deixaram de me apoiar de diversas formas. Às professoras Maria de Fátima Fontes Piazza, Letícia Nedel e Maria Bernardete Ramos Flores e aos professores Sílvio Marcus de Souza Correa e Alexandre Bergamo Idargo pelos ensinamentos durante a realização dos créditos de disciplina. Agradeço também ao professor João Klug por suas palavras de apoio.
Ao professor Charles Musser, do Film and Media Studies Program da Yale University , por aceitar ser meu supervisor durante o Programa de Doutoramento Sanduíche no Exterior (PDSE). Foi uma oportunidade única, essencial para o desenvolvimento desta pesquisa. Agradeço também a Katherine Germano, Josh Glick e Tony Sudol pela calorosa acolhida, por sua amizade e por seus conselhos valiosos sobre a vida nos Estados Unidos. À querida Gabriela Buccini, grande amiga que tornou a estadia na Yale University inesquecível. Serei eternamente grato à sua companhia naqueles meses incríveis. Ao pessoal do Wall Street Pizza , em especial, Marilda Marrichi, Celso Marrichi, Melanie Marrichi e Rose Prifitera, que me fizeram sentir em casa mesmo estando em um país estrangeiro. À professora Hesung Chun Koh e às Sras. Eunyoung Jang e Mia Baek Oram, que gentilmente me acolheram no East Rock Institute durante o doutorado sanduíche e compartilharam comigo sua hospitalidade e amizade. Agradeço também à Sra. Alina Kasia Grzadko, pela gentileza e afeição em todos os momentos. Aos amigos Bruno Leal Pastor e Ana Paula Tavares, que me auxiliaram com o andamento das pesquisas no Rio de Janeiro. À professora Izildine Zavadniak e ao professor Luiz Augusto Previate (Batata), por me despertarem o interesse de seguir carreira como historiador durante meus anos de escola. Aos amigos e colegas do Departamento Acadêmico de Estudos Sociais (DAESO) da Universidade Federal Tecnológica do Paraná (UTFPR), pela torcida nos meses finais dessa caminhada, especialmente a Lya Campozano, Elena Camargo Shizuno, Ana Vanali, Alex Calazans e Veronica Calazans. Também agradeço aos alunos que sempre estiveram na torcida pelo sucesso deste trabalho. À Sra. Maria Rocha, por sua gentileza. Às tradutoras Elis Ferreira e Ana Paula Romão, que me auxiliaram com seus serviços. Aos funcionários das seguintes bibliotecas e centros de documentação e pesquisa: Biblioteca Universitária da UFSC, Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC-FGV), Arquivo Histórico do Itamaraty, Arquivo Nacional, Biblioteca Nacional, Biblioteca Pública do Estado de Santa Catarina, Biblioteca Mário de Andrade, Sterling Memorial Library , Anne T. & Robert M. Bass Library , National Archives and Records Administration ,
Os filmes de home front são parte importante da cinematografia hollywoodiana produzida durante a Segunda Guerra Mundial. Embora sejam obras ficcionais, tinham um objetivo prático bem definido: auxiliar na mobilização da população civil estadunidense para o esforço doméstico de guerra. Para tanto, tais títulos fundamentavam-se na narrativa clássica hollywoodiana, no star system e, em grande medida, na representação entusiástica de uma classe média patriótica e engajada na luta contra o Eixo. A proposta desta tese é avaliar o impacto de alguns exemplares dessa filmografia no Rio de Janeiro, entre os anos de 1942 e 1945, concentrando nossos esforços na recepção dos mesmos pela imprensa carioca. Nesse sentido, defendemos que os filmes de home front tiveram um papel importante no desenvolvimento das ações da Política de Boa Vizinhança, contribuindo para difundir o American way of life em território nacional, bem como, buscando fomentar a mobilização do esforço de guerra no Brasil. Para tanto, procuraremos articular o impacto de tais filmes levando em consideração o papel do Brasil nos projetos de defesa e mobilização econômica dos Aliados e, em especial, o relacionamento com os Estados Unidos.
Palavras-chave: Filmes de home front , Segunda Guerra Mundial, relações Brasil-Estados Unidos.
1.1 – Propaganda, uma questão delicada................................................ 1.2 – Uma ‘vitrine’ para o American way of life : As potencialidades do cinema hollywoodiano como instrumento de propaganda..................... 1.3 – “Este filme ajudará a vencer a guerra?” – O Bureau of Motion Pictures (BMP) e o intervencionismo estatal em Hollywood................
2 – A SRA. MINIVER DESEMBARCA NO RIO: OS FILMES DE HOME FRONT E A IMPRENSA CARIOCA.................................
2.1 – Da Complexidade do Cinema: Propostas para uma História Social.................................................................................................... 2.2 – O cinema estadunidense no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial................................................................................................. 2.3 – “Esta é a guerra do povo. É a nossa guerra”: A recepção dos filmes de home front no Brasil........................................................................
3 – DOIS HOME FRONTS AMERICANOS: A MOBILIZAÇÃO DOMÉSTICA NOS ESTADOS UNIDOS E NO BRASIL.............
3.1 – Além da ‘boa guerra’: A mobilização do home front nos Estados Unidos................................................................................................... 3.2 – “Soldados, afinal, somos todos, a serviço do Brasil”: A mobilização do esforço doméstico de guerra no Brasil........................
4 – IMAGENS DE UM FRONT : A REPRESENTAÇÃO DO ESFORÇO DOMÉSTICO DE GUERRA NOS FILMES HOLLYWOODIANOS......................................................................
4.1.1 – ‘Rosa de Esperança’ ( Mrs. Miniver , 1942): Contexto de Produção...............................................................................................
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Kay Miniver desembarcou no Brasil em novembro de 1942. Sua chegada já era anunciada desde setembro pela imprensa carioca. Nos Estados Unidos, os feitos da dona de casa inglesa haviam comovido multidões, tornando-a um símbolo do esforço doméstico de guerra. Uma das primeiras paradas foi o Palácio Guanabara, onde Darcy Vargas se maravilhou com a história daquela mulher. A dois de dezembro, a primeira-dama apresentou a Sra. Miniver à alta sociedade do Rio de Janeiro em um evento realizado no Cine Metro Passeio. Os demais cidadãos tiveram a oportunidade de conhecer a ilustre visitante nas semanas seguintes. A passagem pela então capital nacional foi um sucesso. Nas páginas dos jornais diários, nomes como Vinicius de Moraes teceram elogios à coragem da ilustre dama que, em meio à guerra, veio oferecer ao Brasil uma ‘rosa de esperança’. Os feitos da Sra. Miniver foram notáveis, especialmente se levarmos em consideração que ela não era um ser humano de carne e osso, mas de celuloide^2. O parágrafo acima é uma breve síntese sobre a estreia do filme ‘Rosa de Esperança’ (Mrs. Miniver, 1942) no Rio de Janeiro em dezembro de 1942. Kay Miniver era ninguém menos que a protagonista interpretada por Greer Garson, atriz de teatro britânica que se convertera em uma das maiores estrelas de Hollywood interpretando papéis de mulheres sofisticadas e amáveis em produções dos estúdios Metro- Goldwyn-Mayer (MGM). Na trama, a vida idílica da personagem – uma dona-de-casa que cumpre exemplarmente com as obrigações de mãe e esposa – é transformada pela Segunda Guerra Mundial. Todavia, mesmo sob os bombardeios da Luftwaffe, a Sra. Miniver busca manter a família unida e dedica-se com resignação ao esforço doméstico para a vitória. A produção, maior sucesso de bilheteria daquele ano, chegou ao Brasil após estreias bem-sucedidas nos Estados Unidos, Inglaterra e Argentina, entre outros países. O mais sugestivo nesse cenário é que a campanha de lançamento contou com o apoio do Estado Novo.
(^2) A ideia do personagem fictício como ser humano foi formulada por Antonio
Candido e está associada ao fato de as personagens serem apresentadas aos leitores como seres inseridos em uma realidade palpável e complexa, criada pelo romancista. CANDIDO, Antonio. A Personagem do Romance. In: CANDIDO, Antonio et all. A Personagem de Ficção. São Paulo: Perspectiva, 1998, p. 23. Esse debate será retomado no capítulo 2.
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Em parceria com a Legião Brasileira de Assistência (LBA), órgão dirigido por Darcy Vargas, a MGM do Brasil organizou uma avant- première beneficente, cujos lucros foram revertidos para obras assistenciais a cargo da instituição. O contexto da época fazia de ‘Rosa de Esperança’ um título perfeito para a iniciativa, pois, desde agosto, o Brasil vinha participando efetivamente da Segunda Guerra Mundial, processo que demandava a mobilização da população civil na luta contra o Eixo. Foi a partir das fontes a respeito da estreia de ‘Rosa de Esperança’ no Brasil que delineamos a hipótese deste trabalho: defendemos que os ‘filmes de home front ’ foram um importante instrumento dentro do projeto da Política de Boa Vizinhança, buscando fomentar a mobilização da população civil brasileira no esforço doméstico nacional, bem como, favorecer uma maior identificação com os valores do American way of life ao providenciar uma imagem positiva dos Estados Unidos. A partir da movimentação em torno de ‘Rosa de Esperança’ e de outras produções cinematográficas que abordam esse tema, buscaremos explorar como tal processo foi estruturado e desenvolvido no período de dezembro de 1942 a setembro de 1945. Antes de apresentar novos questionamentos, cabe aqui definir nosso entendimento por ‘filmes de home front ’ – em tradução livre, ‘filmes sobre o front doméstico’. Seguindo a avaliação de Thomas Schatz, consideramos se tratar de um dos três “ciclos de produções fílmicas” que se desenvolveram na Hollywood da Segunda Guerra Mundial e se dedicaram a abordar temas relacionados ao conflito^3. Correndo o risco de dizer alguma ‘obviedade’, a característica fundamental dos filmes de home front é a apresentação de uma trama centrada em temas relacionados à mobilização da população civil, tais como trabalho feminino, racionamentos, serviço voluntário, campanhas para doação de materiais essenciais, etc. As produções que nos interessam, em sua maioria inserem-se no gênero cinematográfico denominado ‘drama’, classificação mais adequada para filmes que se propunham a abordar o que poderiam ser consideradas as ‘questões sérias’ de uma sociedade em um determinado período. Nas palavras dos
(^3) Os demais ciclos compreendiam os ‘filmes de combate’ e os ‘filmes de
espionagem’. SCHATZ, 1997, p. 239-240.