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Guias e Dicas
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Casa-grande e Senzala, Esquemas de História

Ano de publicação: 2002. Gilberto Freyre, Casa-Grande e Senzala.

Tipologia: Esquemas

Antes de 2010

Compartilhado em 30/06/2025

Joaoleonardo
Joaoleonardo 🇧🇷

2 documentos

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escritores
que
se
referem
ao
clima e
às
doengas
do
Brasil
nunca
assinalaram
a
existência
desse
mal
entre
os
silvícolas
que
até
então
viviam
isolados
¢
não tinham
tido
contato
com
os europeus.”
(p.
112)
“(...)
uma
espécie
de
sadismo
do
branco
e
de
masoquismo
da
índia
ou da
negra
terá
predominado
nas
relações
sexuais
como
nas
sociais
do
europeu
com
as
mulheres
das
raças
submetidas
do
seu
dominio
(...)
Primeira
direção
tomada
de
sadismo
na
crianga
— sadismo,
masoquismo,
bestialidade
ou
fetichismo
-
depende
em
grande
parte
de
oportunidade
ou
chance,
isto
é,
de
influéncias
externas
sociais...”(p.113).
“(...)
Ação
persistente
desse
sadismo,
de
conquistador
sobre
conquistado,
de
senhor
sobre
escravo,
parece-nos
o
fato
ligado
naturalmente
à
circunstancia
econdmica
da
nossa
formagdo
patriarcal,
da
mulher
ser
tantas
vezes
no
Brasil
vitima
inerme
do
dominio
ou
do
abuso
do
homem.
Criatura
reprimida
sexual
¢ socialmente
dentro
da
sombra
do
pai
ou
do
marido(...)
a
nossa
tradigdo
revolucionaria,
liberal,
demagogica,
é
antes
aparente
e
limitada
a
focos
de
fácil
profilaxia
politica:
no
intimo,
o que o
grosso
do
que
se
pode
chamar
“povo
brasileiro”
ainda
goza
¢
a
pressio
sobre
cle
de
um
governo
másculo
e
corajosamente
autocratico
(...)
Entre
essas
duas
misticas
-
a
da
Ordem
e a
da
Liberdade,
a
da
Autoridade
¢ a
da
Democracia
é
que
vem
equilibrando
entre
nós
a
vida
politica,
precocemente
saida
do
regime de
senhores e
escravos(...)Jo
equilibrio
continua a
ser
entre
as realidades
tradicionais
e
profundas:
sadistas
e
masoquistas,
senhores
¢
escravos,
doutores e
analfabetos,
individuos
de
cultura
predominante
europeia
e
outros
de
cultura
principalmente
africana
e
amerindia...”(p.114-115).
“(...)
Talvez
em
parte
alguma
se
esteja
verificando
com
igual
liberalidade
o
encontro,
a
intercomunicagdo
¢
até
a
fusdo
harmoniosa de
tradigdes
diversas,
ou
antes,
antagdnicas,
de
cultura,
como
no
Brasil
(...)
a
cultura
europeia
se
pds
em
contato
com
a
indigena,
amaciada
pelo 6leo
da
mediagdo
africana
(...).
Na
cristianizagdo
dos
caboclos
pela
misica,
pelo
canto, pela
liturgia,
pelas
profissdes,
festas,
dangas
religiosas,
mistérios,
comédias;
pela
distribuigio
de
verdnicas
com
dgnus-dei,
que
os
caboclos
penduravam no
pescogo,
de
corddes,
de
fitas
e
rosirios;
pela
adoragdo de
reliquias
do
Santo
Lenho
e
de
cabegas
das
Onze
mil
Virgens..."(p.115).
u
“(...)
do
sistema
jesuítico
nos parece
importantissima
na
explicação
da formação
cultural
da
sociedade
brasileira:
mesmo
onde
essa
formação
a
ideia
de
ter
sido
mais
rigidamente
europeia
a catequese
jesuita
teria
recebido
influéncia
amolecedora
da
Africa...”
(p.116).
“(...)
a
miscigenagdo,
a
dispersio
da
heranca,
a
ficil
e
frequente
mudanga
de
profissdo
e
de
residéncia,
o
ficil
e
frequente
acesso a cargos e a
elevadas
posicdes
politicas
¢ sociais
de
mestigos ¢
de
filhos
naturais,
o
cristianismo
lirico
à
portuguesa,
a
tolerdncia
moral,
a
hospitalidade
a
estrangeiros,
a
intercomunicagio
entre
as
diferentes
zonas
do
pais...”
(p.117).
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escritores que se referem ao clima e às doengas do Brasil nunca assinalaram a existência desse mal entre os silvícolas que até então viviam isolados ¢ não tinham tido contato com os europeus.” (p. 112) “(...) uma espécie de sadismo do branco e de masoquismo da índia ou da negra terá predominado nas relações sexuais como nas sociais do europeu com as mulheres das raças submetidas do seu dominio (...) Primeira direção tomada de sadismo na crianga — sadismo, masoquismo, bestialidade ou fetichismo - depende em grande parte de oportunidade ou chance, isto é, de influéncias externas sociais...”(p.113).

“(...) Ação persistente desse sadismo, de conquistador sobre conquistado, de

senhor sobre escravo, parece-nos o fato ligado naturalmente à circunstancia econdmica da nossa formagdo patriarcal, da mulher ser tantas vezes no Brasil vitima inerme do dominio ou do abuso do homem. Criatura reprimida sexual ¢ socialmente dentro da

sombra do pai ou do marido(...) a nossa tradigdo revolucionaria, liberal, demagogica, é

antes aparente e limitada a focos de fácil profilaxia politica: no intimo, o que o grosso do que se pode chamar “povo brasileiro” ainda goza ¢ a pressio sobre cle de um governo másculo e corajosamente autocratico (...) Entre essas duas misticas - a da Ordem e a da Liberdade, a da Autoridade ¢ a da Democracia — é que vem equilibrando entre nós a vida politica, precocemente saida do regime de senhores e escravos(...)Jo equilibrio continua a ser entre as realidades tradicionais e profundas: sadistas e masoquistas, senhores ¢ escravos, doutores e analfabetos, individuos de cultura predominante — europeia e outros de cultura principalmente africana e amerindia...”(p.114-115).

“(...) Talvez em parte alguma se esteja verificando com igual liberalidade o encontro, a intercomunicagdo ¢ até a fusdo harmoniosa de tradigdes diversas, ou antes, antagdnicas, de cultura, como no Brasil (...) a cultura europeia se pds em contato com a indigena, amaciada pelo 6leo da mediagdo africana (...). Na cristianizagdo dos caboclos pela misica, pelo canto, pela liturgia, pelas profissdes, festas, dangas religiosas, mistérios, comédias; pela distribuigio de verdnicas com dgnus-dei, que os caboclos penduravam no pescogo, de corddes, de fitas e rosirios; pela adoragdo de reliquias do Santo Lenho e de cabegas das Onze mil Virgens..."(p.115).

u

“(...) do sistema jesuítico nos parece importantissima na explicação da formação cultural da sociedade brasileira: mesmo onde essa formação dá a ideia de ter sido mais rigidamente europeia — a catequese jesuita — teria recebido influéncia amolecedora da

Africa...” (p.116).

“(...) a miscigenagdo, a dispersio da heranca, a ficil e frequente mudanga de

profissdo e de residéncia, o ficil e frequente acesso a cargos e a elevadas posicdes politicas ¢ sociais de mestigos ¢ de filhos naturais, o cristianismo lirico à portuguesa, a tolerdncia moral, a hospitalidade a estrangeiros, a intercomunicagio entre as diferentes

zonas do pais...” (p.117).

próximos: teriam assim espalhado o seu sangue por muita zona considerada depois virgem de influência negra (...). Os escravos negros gozaram sobre os caboclos e brancarões livres da vantagem de condições de vida antes conservadoras que

desprestigiadoras da sua eugenia: puderam resistir melhor às influências patogênicas,

sociais e do meio fisico e perpetuar-se assim em descendências, mais sadias e vigorosas

(...). Da ação da sifilis já não se podera dizer o mesmo; que esta foi a doença por

excelência das casas-grandes e das senzalas. A que o filho do senhor de engenho

contraia quase brincando entre negras ¢ mulatas ao desvirginar-se precocemente aos

doze ou aos treze anos.”(p. 109)

“À vantagem da miscigenação correspondeu no Brasil a desvantagem tremenda

da sifilização. Começaram juntas, uma a formar o brasileiro - talvez o tipo ideal do

homem moderno para os trópicos, europeu com sangue negro ou indio a avivar-lhe a energia; outra, a deformá-lo (...) vem, segundo parece, das primeiras uniões de europeus, desgarrados à-toa pelas nossas praias, com as indias que iam elas próprias

oferecer-se ao amplexo sexual dos brancos. "A tara étnica inicial" de que fala Azevedo

Amaral foi antes tara sifilítica inicial."(p.110). “A sifilização do Brasil resultou, ao que parece, dos primeiros encontros, alguns

fortuitos, de praia, de curopeus com índias. Não só de portugueses como de franceses e

espanhóis. Mas principalmente de portugueses e france: es. Degredados, cristãos-novos, traficantes normandos de madeira de tinta que aqui ficavam, deixados pelos seus para

irem se acamaradando com os indígenas; e que acabavam muitas vezes tomando gosto

pela vida desregrada no meio de mulher fácil e à sombra de cajueiros e araçazeiros.” (p.

“Menos infectados não deviam estar os portugueses, gente ainda mais movel e

sensual que os franceses. "O mal que assolou o Velho Mundo em fins do século XV",

observa em outro dos seus trabalhos Oscar da Silva Araujo, propagou-se no Oriente,

tendo sido para ai levado pelos portugueses (...). Ainda que varios tropicalistas, alguns

deles com estudos especializados sobre o Brasil, como Sigaud, deem a sifilis como

autóctone," as evidéncias reunidas por Oscar da Silva Araújo fazem-nos chegar a conclusio diversa. "Os viajantes médicos", lembra ainda o autor brasileiro, "que nos últimos tempos estudaram as doengas dos nossos indios ainda não mesclados com

civilizados ¢ entre eles os Drs. Roquette-Pinto, Murilo de Campos ¢ Olimpio da

Fonseca Filho, nunca observaram a sifilis entre esses indigenas, não obstante terem

assinalado a existéncia de varias dermatoses.” Acresce que: "os primeiros viajantes e

“A própria Salvador da Bahia, quando cidade dos vice-reis, habitada por muito

ricaço português e da terra, cheia de fidalgos e de frades, notabilizou-se pela péssima e

deficiente alimentação (...) Má nos engenhos e péssima nas cidades: tal a alimentação

da sociedade brasileira nos séculos XVI, XVII e XVIII. Nas cidades, péssima ¢

escassa.” (p. 102).

*(...) Era a sombra da monocultura projetando-se por léguas ¢ léguas em volta das fibricas de agucar e a tudo esterilizando ou sufocando, menos os canaviais e os homens e bois a seu servigo. Não só na Bahia, em Pernambuco ¢ no Maranhão como em

Sergipe del-Rei ¢ no Rio de Janeiro verificou-se com maior ou menor intensidade,

através do periodo colonial, o fenomeno (...) da escassez de viveres frescos, quer

animais quer vegetais. Mas talvez em nenhum ponto tio agudamente como em

Pernambuco.” (p. 103)

“De modo que a nutrigio da familia colonial brasileira, a dos engenhos ¢ notadamente a das cidades, surpreende-nos pela sua má qualidade: pela pobreza

evidente de proteinas de origem animal; (...) pela falta de vitaminas; de calcio e de

Sc a

quantidade e a composição dos alimentos não determinam sozinhas (...) as diferenças

outros sais mincrais; ¢, por outro lado, pela riqueza certa de toxinas (

de morfologia e de psicologia, o grau de capacidade econômica e de resistência às

doenças entre as sociedades humanas, sua importância é entretanto considerável, (...).

Já se tenta hoje retificar a antropogeografia dos que, esquecendo os regimes alimentares,

tudo atribuem aos fatores raça e clima; (...). É uma sociedade, a brasileira, que a indagação histórica revela ter sido em larga fase do seu desenvolvimento, mesmo entre as classes abastadas, um dos povos modernos mais desprestigiados na sua eugenia e mais — comprometidos na sua capacidade econômica pela deficiência de alimento(...)Aliás, a indagação levada mais longe (...) revela-nos no peninsular dos

séculos XV e XVI, como adiante veremos, um povo profundamente perturbado no seu

vigor fisico e na sua higiene por um pernicioso conjunto de influências econômicas e sociais. Uma delas, de natureza religiosa: o abuso dos jejuns.” (p.104)

“Pode-se generalizar sobre as fontes e o regime de nutrição do brasileiro: as fontes - vegetação e águas - ressentem-se da pobreza quimica do solo, exiguo, em larga

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diante mandaram os governadores da capitania incluir nas datas de terra a cláusula de

que ficava o proprictário obrigado a plantar "mil covas de mandioca por cada escravo

que possuísse empregado na cultura da terra(...) É certo que o padre Fernão Cardim, nos seus Tratados, está sempre a falar da fartura de carne, de aves e até verduras e de frutas com que foi recebido por toda parte no Brasil do século XVI, (...) Mas (...) Era um personagem a quem todo agrado que fizessem os colonos era pouco: a boa impressão

que lhe causassem a mesa farta e os leitos macios dos grandes senhores de escravos

talvez atenuasse a péssima, da vida dissoluta que todos cles levavam nos engenhos de

açúcar.” (pp. 99-100)

“Pelos grandes jantares ¢ banquetes, (...) ndo se há de fazer ideia exata da alimentagdo entre os grandes proprietários; muito menos da comum, entre o grosso dos

moradores. (...) as festas gastronomicas entre cles talvez se compensassem com os

jejuns. O que parece poder aplicar-se, com literal exatiddo, aos banquetes coloniais no

Brasil intermeados decerto por muita parciménia alimentar, quando não pelos jejuns e

pelas abstinéncias mandadas observar pela Santa Igreja. Desta a sombra matriarcal se

projetava entdo muito mais dominadora e poderosa sobre a vida intima e doméstica dos

fiéis do que hoje (...) Pais de Cocagne coisa nenhuma: terra de alimentagio incerta e

vida dificil é que foi o Brasil dos trés séculos coloniais. A sombra da monocultura

esterilizando tudo. Os grandes senhores rurais sempre endividados. As saúvas, as

enchentes, as secas dificultando ao grosso da população o suprimento de viveres.” (pp.

“O luxo asidtico, que muitos imaginam generalizado ao norte agucareiro,

circunscreveu-se a familias privilegiadas de Pernambuco e da Bahia. E este mesmo um

luxo mérbido, doentio, incompleto. Excesso em umas coisas, e esse excesso 4 custa de dividas (...). De todo o Brasil ¢ o padre Anchieta quem informa andarem os colonos do século XVI, mesmo "os mais ricos e honrosos” e os missiondrios, de pé descalgo, a maneira dos indios (...). Nem esquegamos este formidavel contraste nos senhores de engenho: a cavalo grandes fidalgos de estribo de prata, mas em casa uns franciscanos, descalgos, de chambre de chita e as vezes só de ceroulas. Quanto as grandes damas coloniais, ricas sedas e um luxo de teteias e joias na igreja, mas na intimidade, de

cabeção, saia de baixo, chinelo sem meias. Efeito em parte do clima, esse vestudrio tão

a fresca; mas também expressio do franciscanismo colonial, (...).” (pp. 101-102)

“(...) Tanto mais rica em qualidade e condições de permanência foi a nossa vida

rural do século XVI e XIX onde mais regular foi o suprimento de água, onde mais

equilibrados foram os rios ou mananciais (...) Com o bandeirante o Brasil autocoloniza-

se..."(p.88-89).

“Se é certo que o furor expansionista dos bandeirantes conquistou-nos

verdadeiros luxos de terras, ¢ também exato que nesse desadoro de expansio

comprometeu-se a nossa saúde ccondmica ¢ quase que se comprometia a nossa unidade politica...” (p.89).

“Os jesuitas foram outros que pela influéneia do seu sistema uniforme de educação e de moral sobre um organismo ainda tão mole, plastico, quase sem ossos, como o da nossa sociedade colonial nos séculos XVI e XVII, contribuiram para articular

como educadores, o que eles proprios dispersavam como catequistas e missionarios (...).

Os portugueses trazem para o Brasil nem separatismos politicos, como os espanhois

para o scu dominio americano, ne divergéncias religiosas, como os ingleses ¢ franceses

para as suas coldnias...” (p.90).

“O curopeu se contagiara de sifilis ¢ de outras doengas, transmissiveis e

repugnantes. Dai resultard o medo ao banho e o horror à nudez (...). Dos indigenas

parece ter ficado no brasileiro rural ou semi-rural o hábito de defecar longe de casa: em

geral no meio de touga de bananeiras perto do rio.” (p. 91)

“Os indigenas do Brasil estavam, pela época da descoberta, ainda na situagao de relativo parasitismo do homem e sobrecarga da mulher (...).” (p. 93)

“Das comidas preparadas pela mulher as principais eram as que se faziam com a

massa ou a farinha de mandioca (...) eles dão um gosto a alimentagdo brasileira que nem

os pratos de origem lusitana nem os manjares africanos jamais substituiriam (...)” (pp

“Outros conhecimentos úteis à atividade ou à economia doméstica transmitiram-

se da cultura vegetal do indigena à civilizagio do colonizador europeu, que os conservou ou desenvolveu, adaptando-os as suas necessidades (...).” (p.96)

vida livre, inteiramente solta, no meio de muita mulher nua, aqui se estabeleceram por gosto ou vontade própria muitos curopeus...” (p.83).

“(...) Dada a liberdade que tinha o europeu de escolher mulher entre dezenas de

indias. De semelhante intercurso sexual só podem ter resultado bons animais, ainda que

maus cristãos ou mesmo más pessoas(...)o português trazia mais a seu favor, e a favor

da nova colônia, toda a riqueza e extraordinária variedade de experiências acumuladas

durante o século XV na Ásia e na África, na madeira e em Cabo Verde...”(p.84).

“(...) a família colonial reuniu, sobre a base econômica da riqueza agrícola e do trabalho escravo, uma variedade de funções sociais ¢ econômicas (...) o oligarquismo ¢ o nepotismo, que aqui madrugou, chocando-se ainda em meados do século XV com o clericalismo dos padres das campanhas (...) e não encontrando ai outra forma de atividade, nem possibilidade de fortuna sendo a exploragio estavel, agricola, o

povoamento regular, assim procedeu e mostrou, antes de qualquer outro povo da Europa

Medieval, ser excelente povoador, porque juntava as qualidades de primeiro as de

formador de vida agricola e regular em terras novas...”(p.85).

“(...) Para os portugueses o idcal teria sido não uma colonia de plantagio, mas outra india com que israelitamente comerciassem em especiaria e pedras preciosas; ou um México ou Peru de onde pudessem extrair ouro e prata (...)Nem reis de Cananor nem sobas de Sofala encontraram os descobridores do Brasil com que tratar ou

negociar. Apenas morubixabas. Bugres. Gente quase nua e 4 toa, dormindo em rede ou

no chão, alimentando-se de farinha de mandioca, de fruta do mato, de caga ou peixe

comido cru ou depois de assado em borralho...”(p.86).

“(...) Ás necessidades dos homens que criaram o Brasil aquelas formidaveis massas, rios e cachoeiras, só em parte, e nunca completamente, se prestaram as fungdes civilizadoras de comunicagdo regular e de dinamizagio atil(...)Sem equilibrio no volume nem regularidade no curso, variando extremamente em condigdes de navegabilidade e de utilidade, os rios grandes foram colaboradores incertos — se é que

possamos considerar colaboradores - do homem agricola na formagdo economica e

social do nosso pais..."(p.87).

da economia patriarcal; apresentação de Fernando Henrique Cardoso. 51 ed. rev. SãoFREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime

Paulo: Global, ano 2006. Cap. I, pp. 65-117.

“Formou-se na América tropical uma sociedade agrária na estrutura, escravocrata na técnica de exploração econômica, hibrida de índio e mais tarde de negro na composição...” (p.65).

“A singular predisposição do português para à colonização hibrida e escravocrata dos trópicos, explica-a em grande parte o seu passado étnico, ou antes, cultural, de povo indefinido entre a Europa e a África..” (p.66).

“(..) Toda a invasão de celtas, germanos, romanos, normandos- o anglo-

escandinavo, o H.. Europaeus L., o feudalismo, o cristianismo, o direito romano, a

monogamia. Que tudo isso sofreu restrição ou refração em Portugal influenciado pela

Africa, condicionado pelo clima africano, solopolado pela mistica sensual do

islamismo...” (p.67).

“Entre outros, verificou Ferraz de Macedo no português os seguintes

carateristicas desencontrados: “genesia violenta” e o “gosto pelas anedotas de fundo

erótico”, “o brio, a franqueza, a lealdade”, “a pouca iniciativa individual”, “o

patriotismo vibrante”, “a imprevidência”, “a inteligência”, “o fatalismo vibrante”, “a

primorosa aptidão para imitar”... "(p.68).

“O que se sente em todo esse desadoro de antagonismo são as duas culturas, 4

curopeia ¢ a africana, a católica e a católica ¢ a maometana, a dinâmica e a fatalista

encontrando-se no português, fazendo dele, de sua vida, de sua moral, de sua economia,

de sua arte um regime de influencias que s altemam, se equilibram ou se

hostilizam..."(p.69).

“A mobilidade foi um dos segredos da vitéria portuguesa (...) Os individuos de valor.guerreiros,administradores.técnicas,eram por sua vez deslocados pela política colonial de Lisboa como peças em um tabuleiro de gamão: da Ásia para a África,

conforme conveniências de momento ou de relig; .. (p.70).

“(...) Ódio que resultaria mais tarde em toda a Europa na idealização do tipo louro identificando como personagens angélicas e divinas e detrimento do moreno, identificando com os anjos maus, com os decaídos, os malvados, os truidores..."(p.71). “(...) Com relação ao Brasil, que o diga o ditado: “Branca para casar, mulata para ., negra para trabalhar”"; ditado em que se sente, ao lado do convencialismo social da superioridade da mulher branca e da inferioridade da preta, a preferência sexual pela

“Ao contrário da aparente incapacidade dos nórdicos, é que os portugueses têm

revelado tão notável aptidão para se aclimatizarem em regides tropicais...” (p.73).

“.. A falta de gente, que o afligia, mais do que a qualquer outro colonizador,

focando-o à imediata miscigenação — o que não o indispunham, aliás, escrúpulos de

Taça, apenas preconceitos religiosos — foi para o português vantagem na sua obra de

conquista e colonização dos trópicos. Vantagem para a sua melhor adaptação, senão

biológica, social..(p.74-75).

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TRETHE, Olieos Comda economia patriarcal; apresentação de Fernando Henrique Cardoso. 51 ed. rev. gLl Sranão-de, il b ol eSio

Paulo: Global, ano 2006. Cap. 1, pp. 65-117.

“Formou-se nã América tropical uma sociedade agrária na estrutura,

escravocrata na técnica de exploração econômica, hibrida de indio e mais tarde de negro

na composição...” (p.65),

“A singular predisposição do português para a colonização hibrida é

escravocrata dos trópicos, explica-a em grande parte o seu passado étnico, ou antes,

cultural, de povo indefinido entre & Europa ¢ a Africs "(p.66).

() Toda a invasão de celtas, germanos, romanos, normandos- o anglo-

escandinavo, o H.. Europacus L., o feudalismo, o cristianismo, o direito romano, &

monogamia, Que tudo isso sofreu restrição ou refração em Portugal influenciado pela

África, condicionado pelo clima africano, solopolado pela mística sensual do

islamismo...” (p.67).

“Entre outros, verificou Ferraz de Macedo no português os seguintes

carateristicas desencontrados: a “genesia violenta” e o “gosto pelas anedotas de fundo

erótico”, “o brio, 4 franqueza, u lenldade”, “a pouca iniciativa individual”, *

patriotismo vibrante”, “a imprevidência “n inteligência “o fatalismo vibrante”, “a

primorosa aptidão para imitar”... "(p.68)

“0 que se sente em todo esse desadoro de antagonisino são as duas culturas, a

europeia ¢ a africana, a católica e a católica e a maometana, a dinâmica ¢ a fatalista

encontrando-se no português, fazendo dele, de sua vida, de sua moral, de sua economia,

de sua arte um regime de influencias que se altemam, se equilibram ou se

hostilizam..."(p.69).

“A mobilidade foi um dos segredos da vitória portuguesa (...) Os indivíduosde

valor, guerreiros,administradores técnicas.eram por sua vez deslocados pela política

colonial de Lisboa como peças em um tabuleiro de gamão: da Ásia para a África,

conforme conveniências de momento ou de religião..."(p.70).

Ótdio que resultaria mais tarde em toda a Europa na idealização do tipo

louro identi undo como personagens angélicas e divinas ¢ detrimento do moreno,

identificando com os anjos maus, com os decaídos, 03 malvados, os traidores..."(p.71)

(... Com relação ao Brasil, que o diga o ditado: “Branca para casar, mulata para

£.., negra para trabalhar”: udo em que se sente, so ludo do convencialismo social da

superioridade da mulher branca e da inferioridade da preta, a preferência sexual pela

mulata... “(p.72).

“Ao contrário da aparente incapacidade dos nórdicos, é que o5 portugueses tém

revelado tão notável aptidão para se aclimatizarem em regides tropicais...” (p.73).

“.. A falta de gente, que o afligia, mais do que a qualquer outro colonizador,

focando-o 4 imediata miscigenação — o que não o indispunham, alids, escrúpulos de

raça, upenas preconceitos religiosos - foi para o português vantagem na sua obra de

conquista e colonização dos tropicos. Vantagem para n sua melhor adaptação, senão

biológica, social..."(p.14-75),

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