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A bunda, que engraçada. Está sempre sorrindo, nunca é trágica. Não lhe importa o que vai pela frente do corpo. A bunda basta-se. Existe algo mais?
Tipologia: Resumos
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Não perca as partes importantes!
E eu desejoso que chegue o Verão, quando a bunda, abunda!
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5
No corpo feminino, esse retiro
Que tanto mais a quero, se me firo Em unhas protestantes, a respiro A brisa dos planetas, no seu giro Lento, violento... Então, se ponho tiro
A mão em concha – a mão, sábio papiro, Iluminando o gozo, qual lampiro. Ou se, dessedentado, já me estiro,
Me penso, me restauro, me confiro, O sentimento da morte ei que adquiro: De rola, a bunda torna-se vampiro.
A bunda, que engraçada. Está sempre sorrindo, nunca é trágica.
Não lhe importa o que vai pela frente do corpo. A bunda basta-se. Existe algo mais? Talvez os seios. Ora – murmura a bunda – esses garotos ainda lhes falta muito que estudar.
A bunda são duas luas gêmeas em rotundo meneio. Anda por si na cadência mimosa, no milagre de ser duas em uma, plenamente.
A bunda se diverte por conta própria. E ama. Na cama agita-se. Montanhas avolumam-se, descem. Ondas batendo numa praia infinita.
Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz na carícia de ser e balançar. Esferas harmoniosas sobre o caos.
A bunda é a bunda, rebunda.
a
moça mostrava a coxa, a moça mostrava a nádega, só não mostrava aquilo – concha, berilo, esmeralda – que se entreabre, quatrifólio, e encerrra o gozo mais lauto, aquela zona hiperbórea, misto de mel e de asfalto, porta hermética nos gonzos de zonzos sentidos presos, ara sem sangue de ofícios, a moça não me mostrava. E torturando-me, e virgem no desvairado recato que sucedia de chofre á visão dos seios claros, qua pulcra rosa preta como que se enovelava, crespa, intata, inacessível, abre-que-fecha-que-foge, e a fêmea, rindo, negava o que eu tanto lhe pedia, o que devia ser dado e mais que dado, comido. Ai, que a moça me matava tornando-me assim a vida
esperança consumida no que, sombrio, faiscava. Roçava-lhe a perna. Os dedos descobriam-lhe segredos lentos, curvos, animais, porém o maximo arcano, o todo esquivo, noturno, a tríplice chave de urna, essa a louca sonegava, não me daria nem nada. Antes nunca me acenasse. Viver não tinha propósito, andar perdera o sentido, o tempo não desatava nem vinha a morte render-me ao luzir da estrela-dalva, que nessa hora já primeira, violento, subia o enjoo de fera presa no Zôo. Como lhe sabia a pele, em seu côncavo e convexo, em seu poro, em seu dourado pêlo de ventre! Mas sexo era segredo de Estado. Como a carne lhe sabia a campo frio, orvalhado, onde uma cobra desperta vai traçando seu desenho num frêmito, lado a lado!
a f
q,
Sob o chuveiro amar, sabão e beijos, ou na banheira amar, de água vestidos, amor escorregante, foge, prende-se, torna a fugir, água nos olhos, bocas, dança, navegação, mergulho, chuva, essa espuma nos ventres, a brancura triangular do sexo — é água, esperma, é amor se esvaindo, ou nos tornamos fontes?
A língua girava no céu da boca. Girava!
Eram duas bocas, no céu único.
O sexo desprendera-se de sua fundação,
errante imprimia-nos seus traços de cobre.
Eu, ela, elaeu.
Os dois nos movíamos possuídos,
trespassados, eleu.
A posse não resultava de ação e doação,
nem nos somava.
Consumia-nos em piscina de aniquilamento.
Soltos, fálus e vulva no espaço cristalino,
vulva e fálus em fogo, em núpcia,
emancipados de nós.
A custo nossos corpos,
içados do gelatinoso jazigo,
se restituíram à consciência.
O sexo reintegrou-se.
A vida repontou: a vida menor.
Amor - pois que é palavra essencial comece esta canção e toda a envolva. Amor guie o meu verso, e enquanto o guia, reúna alma e desejo, membro e vulva.
Quem ousará dizer que ele é só alma? Quem não sente no corpo a alma expandir-se até desabrochar em puro grito de orgasmo, num instante de infinito?
O corpo noutro corpo entrelaçado, fundido, dissolvido, volta à origem dos seres, que Platão viu contemplados: é um, perfeito em dois; são dois em um.
Integração na cama ou já no cosmo? Onde termina o quarto e chega aos astros? Que força em nossos flancos nos transporta a essa extrema região, etérea, eterna?
Ao delicioso toque do clitóris, já tudo se transforma, num relâmpago. Em pequenino ponto desse corpo, a fonte, o fogo, o mel se concentraram.
Amor e seu tempo
Amor é privilégio de maduros estendidos na mais estreita cama, que se torna a mais larga e mais relvosa, roçando, em cada poro, o céu do corpo.
É isto, amor: o ganho não previsto, o prêmio subterrâneo e coruscante, leitura de relâmpago cifrado, que, decifrado, nada mais existe
valendo a pena e o preço do terrestre, salvo o minuto de ouro no relógio minúsculo, vibrando no crepúsculo.
Amor é o que se aprende no limite, depois de se arquivar toda a ciência herdada, ouvida. Amor começa tarde.
B
Bundamel bundalis bundacor bundamor bundalei bundalor bundanil bundapão bunda de mil versões, pluribunda unibunda bunda em flor, bunda em al bunda lunar e sol bundarrabil
Bunda maga e plural, bunda além do irreal arquibunda selada em pauta de hermetismo opalescente bun incandescente bun meigo favo escondido em tufos tenebrosos a que não chega o enxofre da lascívia e onde a global palidez de zonas hiperbóreas concentra a música incessante do girabundo cósmico.
Bundaril bundilim bunda mais do que bunda Bunda mutante/renovante que ao número acrescenta uma nova harmonia. Vai seguindo e cantando e envolvendo de espasmo o arco de triunfo, a ponte de suspiros a torre de suicídio, a morte do Arpoador bunditálix, bundífoda bundamor bundamor bundamor bundamor.
A rede entre duas mangueiras balançava no mundo profundo. O dia era quente, sem vento.
O sol lá em cima, as folhas no meio, o dia era quente.
E como eu não tinha nada que fazer vivia namorando as pernas morenas da lavadeira.
Um dia ela veio para a rede, se enroscou nos meus braços me deu um abraço, me deu as maminhas que eram só minhas.
A rede virou, o mundo afundou. Depois fui para a cama febre 40 graus febre. Uma lavadeira imensa, com duas tetas imensas, girava no espaço verde.
Este livrinho foi composta com a Kinesis de Mark Jamra. Em Dezembro de 2006
C
arlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro – Mato Grosso – em 31 de Outubro de 1902. De uma família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade de Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo, de onde foi expulso por «insubordinação mental». De novo em Belo Horizonte, começou a carreira de escritor como colaborador do Diário de Minas, que aglutinava os adeptos locais do movimento modernista mineiro.
Ante a insistência familiar para que obtivesse um diploma, formou-se em Farmácia na cidade de Ouro Preto em 1925. Fundou com outros escritores A Revista, que, apesar da vida breve, foi importante veículo de afirmação do Modernismo em Minas. Ingressou no serviço público e, em 1934 , transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação, até 1945. Passou depois a trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e aposentou-se em 1962. Desde 1954 colaborou como cronista no Correio da Manhã e, a partir do início de 1969 , no Jornal do Brasil.
O Modernismo não chega a ser dominante nem mesmo nos primeiros livros de Drummond, Alguma poesia ( 1930 ) e Brejo das almas ( 1934 ), em que o poema-piada e a descontração sintática pareceriam revelar o contrário. A dominante é a individualidade do autor, poeta da ordem e da consolidação, sempre contraditórias. Torturado pelo passado, assombrado com o futuro, ele detém-se num presente dilacerado, testemunha lúcida de si mesmo e do transcurso dos homens, de um ponto de vista melancólico e céptico. Mas, enquanto ironiza os costumes e a sociedade, asperamente satírico em seu amargo desencanto, entrega-se com empenho e requinte construtivo à comunicação estética desse modo de ser e estar.
Vem daí o rigor, que beira a obsessão. O poeta trabalha com o tempo, na sua cintilação cotidiana e subjectiva, no que destila do corrosivo. Em Sentimento do mundo (1 940 ), em José ( 1942 ) e sobretudo n'A rosa do povo ( 1945 ), Drummond lançou-se ao encontro da história contemporânea e da experiência colectiva, participando, solidarizando-se, descobrindo na luta a explicitação da sua apreensão para com a vida. A surpreendente sucessão de obras-primas, nesses livros, indica a plena maturidade do poeta.
Drummond foi seguramente o poeta mais influente da literatura brasileira em seu tempo, tendo também publicado diversos livros em prosa. Em mão contrária traduziu autores estrangeiros: Balzac (Les Paysans, 1845 ), Choderlos de Laclos (Les Liaisons dangereuses, 1782 ), Marcel Proust (La Fugitive, 1925 ), García Lorca (Doña Rosita, la soltera o el lenguaje de las flores, 1935 ), François Mauriac (Thérèse Desqueyroux, 1927 ) e Molière (Les Fourberies de Scapin, 1677 ).
Carlos Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro, no dia 17 de Agosto de 1987.