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Guias e Dicas
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Caminhos da Administração, Manuais, Projetos, Pesquisas de Administração Empresarial

scaneado do livro 112 paginas

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2014

Compartilhado em 01/03/2014

uallace-souza-11
uallace-souza-11 🇧🇷

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| | | Dados Internacionais de Catalogação na Publicação tez; Favz, Rudeus Uamiahor ca a ed. tão Pam A. (Câuara Brasileira dv Tivro, 2007. E T: Brasil) strução / Mubens Faye. -— Pioneira Thomson Learnina, liograLia. H 5-221-0252-x 1. Administração 2, Auninistração - bistória 3 Administração - Trorta 1. Titrio, Wl- eos EuD-658. nao Índices para cals1 ego sistemático: + dninislração : Trorias 1 História . 654.009 PIONEIRA, THOMSON LEARNING Caminhos da Administração Rubens Fava Austrália Brasil Canadá Cingapura Espanha Estados Unidos * México Reino Uni S | Caminhos da Ag nistração Nosso ônibus da Inudança continuou sua viagem, chegando em 1970 com a Revolução da Informação. Ainda temos à produção em massa, porém a visão Passou a ser global (globalização), de adaptação não somente do homem à má- quina, mas também ao Ineio, congestionando a estrada da ecologia, É a Era da Qualidade ou «a Competitividade. É a consciência de que devemos partir pa- Ta à estação da produtividade. É à Consciência de que os Recursos Humanos é que detêm o conhecimento, transformando se no maior capital da empresa, o Capital Intelectual. O talento das pessoas Passou a ser a chave do sucesso e das ovações. Nessa estação, o trabalho em equipe sobrepõe-se ao trabalho indivi- dual; o empregado deixou de ser tratado como subordinado para ser tratado tração Holística e da Administração Virtual, Nessa deixaremos a Tirania do OU, como dizem Collins e Porras, para embarcar em uma visão generalista e espe- alista, porém com toda Segurança Emocional. O conhecimento é apenas uma bela e aconchegante estalagom em nossa caminhada. Querer e não querer scguir adiante está diretamente condicionado à vontade, e querer nos leva à próxima estalagem: Aijiuade Popularmente há uma certa confusão com uma outra denominada comportamento, pois imagina-se que a atitude esteja ligada à ação e, em sua essência, não está. Atitude signífica um juízo de valor sobre determinado conhecimento, ou Seja, uma forma ana- lítica ce pensar em relação a alguma informação que temos. O encanto é o charme dessa estalagem fazem-nos sonhadores. Nosso ônibus abastecido segue deixando-nos estacionados em meio à dúvida do querer. Por isso é preciso agir rapidamente, tomar uma decisão e seguir em frente, Decisão tomada, nossa próxima estalagem, completando a processo de mudança, chama-se Cormporiamento. Nesse caso, explicitamente comportamento tem relação direta com ação. Para tomar o ônibus da mudança é preciso cora- gem, e temos de fazê-lo, mesmo correndo o risco de pegar o ônibus errado, conscientes de que um fracasso é sinal de uma tentativa, e que essas falhas são matcos no caminho do sucessa, Dita isso, convido-os a embarcar neste bate-papo é viajar pela estrada da história da administração. Boa viagem é boa leitura, R.R. lava I Aprender a desaprender Apesar do horário de verão, era um dia atípico. A chuva fina e o céu encober- to encarregavamse de tornar aquele fim de tarde triste e melancólico. deal para ficar em casa. Fábio deixou a via rápida seguindo em sentido à avenida Central O tumulto e o trânsito agitados não lhe tiravam o bom humor. Olhou o relógio, tinha tempo suficiente, afinal sua primeira aula só começaria às sete da noite. A música suave embalava seus pensamentos. Entre eles uma curiosidade O intrigava: qual era seu papel como professor? Admitia que seu perfil não era 9 mais indicado para a profissão. Seu timbre de voz era baixo e à fala, mansa, somados a uma timidez quaso incontrolável, não eram os ingredientes perfei- tos para não ter êxito. Sempre dizia: “Estamos aqui para trocar experiências. Procurava adotar uma atitude socrática em sua conduta na sala de aula, Mais do que ensinar, queria aprender com seus alunos pelo diálogo aberto e pela discussão, Estava convencido de que era querido. Talvez por colocar-se no mes- mo nivel dos alunos, ganhou lhes a simpatia, exercendo uma autoridade con- quistada mediante o conhecimento e O respeito para com todos, Fábio estacionou seu Fusquinha ho pátio da faculdade e seguiu em dire- ção ao prédio principal. Chegando à lanchonete, alunos lhe acenaram. Ele re” tribuiu com um sorriso. Como sempre fazia, subiu os cinco andares até a sala de fazer um pouco de dos professores pela escada, uma maneira que levava uma vida bastante sedentária, Na sala encontrou-se com Epaminon das, um dos professores mais antigos da casa, > Tudo bem? Como tem passado? - acenou Epaminondas comodamen- te instalado em uma das poltronas da sala, — Bem - respondeu-lhe Fábio, servindo se de uma xitara de chá. -- Acei- ta uma? Epaminondas fazendo sinal de consentimento. — Para mim sem açúcar 10 | Caminhos da Adininistração Aprender a cesaprender | JÍ Fábio, que nesse momento dava pequenas estocadas na carteira com sus caneta esferográfica, sorriu, procurando tranquilizá-los: Bemard Shaw disse certa vez: “Você vê as coisas e indaga: por quê? Eu so nho com as cuisas que não existiram e me pergunto: por que não”. Os olhares dos três jovens se encontraram e em cada rosto havia um ar de interrogação. Fábio acrescentou: — Vocês me convenceram, Por que não? a Os alunos continuaram mudos, Fábio então enfatizou: — Sabe, às vezes Faço o que quero fazer, mas o restante do tempu faço o que devo fazer, e neste momento a que devo fazer é aceitar o desafio. Eutopo. No semblante dos jovens surgiu um sorriso de vitória o alívio. Fábio per- cebeu a importância e a seriedade de suas pr opostas e contendo a emoção in- quiriu: Antes de mais nada, precisamos planejar csse estudo. Vocês já ouviram falar da metodologia do SW e LH? — retirou uma folha de papel da pasta e es- creveu em letras garrafais: Quem? Onde? Por quê? O quê? Quando? E como? - Re ferem-se às questões em inglês e que eu já traduzi para vocês compreenderem melhor. As três primeiras questões já estão respondidas. Precisamos responder. as três questões restantes Parece fácil e talvez o 5 Levantando-se, continuou: = À resposta pode até scr facil, mas dessa tesposta depende-o sucesso e a motivação com que vamos direcionar esse trabalho. Os alunos nesse momento aparentavam trangiilidade e equilíbrio. — Bem, professor. — quis interromper Gilberto. — Desculpe, Gilberto! Os alunos o olharam com curiosidade, — Estamos aqui para aprender juntos e, antes que Gilberto continue, tenho um desafio. Aliás, também me incluo nesse desafio — escreveu no papel logo abaixo das questões: “Aprender a desaprender” e continuou — Aprender a olhar as coisas de forma diferente, não con: iderando apenas o que os outros pensam como verdades absolutas, e sim construir as próprias verdades, porém abertos às mudanças, Quando concluirem que têm conhecimento quase absoluto so- bre um detorminado assunto, façam como o professor de literatura no grande filme Sociedade dos Poetas mortos, subam na mesa é procurem observar os obje- tos, vs móveis, enfim, o mundo sob uma ótica diferente, ou seja, de uma outra maneira, Calov-se por alguns minutos. O silêncio denunciava o esforço dos alunos pata compreender o que ouviram até então, Fábio complementou: — Esse talvez seja nosso maior desafio, se não nos propusermos a enfren- tá-la não fará nenhum sentido estar aqui. Jane, com ar pensativo, balançou a cabeça num gesto de quem nada en- tendeu. Fábio continuou a explicar: — Todos nós, ao longo da vida, adquirimos dogmas, verdades absolutas das quais não aceitamos nos desvincular, É por isso que criamos barreiras todas as ve- zes que deparamos com o nova, Aprender talvez seja uma das coisas mais fácis, e todos nós estamos aptos para isso, basta um pouco de esforço e dedicação. Mas apenas aprender não é suficiente. Mais do que aprender, é preciso des prender. É preciso estar aberto às mudanças. Sá assim poderemos evoluir. De saprender significa deixar nossas verdades de lado e aceitar novas verdades. jane então afirmou: — Professor, agora entendo par que minha vová ainda não acredita que 0 homem chegou à Lua, — Exatamente, Jane, sua vovó, apesar de toda experiência e sabedoria, co locotrse deritro de uma armadura tal que não está aberta às mudanças. Mudança faz parte de nosso cotidiano. Somente para exemplificar, csta semana, folhean- do um livro da história da filosofia, oncentrei que Herárlito, mais ou menos no ano 500 a.C, dizia-ENada dura para sempre, tudo flui, tudo se transforma, ou seja, tudo muda... não podemos entrar duas vezes no mesmo sigd Podemos con cluir que não existem verdades eternas. À cada geração surgem novos conhe- cimentos e, consegiientemente, um novo modo de vida. Assim como a morte, mudar é uma das verdades das quais não podernos fugir. Ricardo, agora mais à vontade, interveio: — Aliás, mudar faz parte da natureza humana. A criança ao nascer já entra em um processo de transformação. Queiramos ou não, temos de nos adaptar - 0 processo de mudança a que estarmos fadados. É a lei da natureza. Fábio, acompanhando o taciocínio de Ricardo, complementou: — Resistir à mudança É normal, afinal tudo que é nova e desconhecido ge Fa insegurança; o que não é normal é resistir a mudar A mudança é inquieta, mas não há altemativa. Ou a aceitamos como um desafio ao nosso desenvolvi mento, ou optamos pela estagnação. Mudança significa oportunidade. Jane olhando para Ricardo, retrucou: — Concordo, mas entendo que estamos falando em mudar nossa maneira de agir, nossos habitos, quem sabe até-muclar nossa cukura. Isso sim é difícil, pois Ludo que é novo assusta, faz com que coloquemos barreiras quase intrans- poníveis. É por isso que, muitas empresas, ainda adotam modelos de admínis- tração já ultrapassados, Fábio, com um gesto, cleixou clard que queria continuar sua explanação, Jane percebendo, sorriu e devolveu à palavra a Fábio que prosseguiu: = Um dos personagem de Elie Wicscl, Nobel da Paz de 1986, ao ser inda- gado por que gritava tanto em pregação ao povo se ninguém o ouvia justificou: “No começa pensei que se gritasse suficientemente alto, eu eventualmente os mudaria. Agora sei que nunca os mucdarei. Se grito cada vez mais alto é porque não quero que eles me mudem.” Ratificando O que disse antes, notem que mu- dança é algo difícil de se promover. 12 | Caminhos da Administ-ação Procurando convencer seus alunos, Fábio narrou-lhes uma antiga história: 7 Conhecem a história do sapo e do escorpião? Um dia, um esperto es- corpião chegou à beira de um rio caudaloso. Não havia correnteza, mas atra- vessá-lo era impossível para aquele Bequenino ser. Não muito distante um sapo descansava, atento ao movimento do desconhecido que se aproxima. “Preciso de sua ajuda, Sapo”, disse o Escorpião. Desconfiado respondeu o Sapo: “Não sei em que posso ajudá-lo,” “Simples”, acrescentou o liscorpião, “preciso atra- vessar esse rio, leve-me nas cosius”. O Sapo meio sem jeito respondeu: “Difícil, você é escorpião, pode me ferroar e cu morro” O Escorpião emendou: “Nada disso. Prometo que serei bonzinho, jamais farei isso com você” O sapo aceitou e, no meio do rio, o escorpião olhou bem Para O sapo e disse: “Não tem jeito, eu sou escorpião mesmo, E antes que o desesperado sapo pudesse fazer algo, levou uma superferroada e os dois morreram, A história narrada por Tábio tinha atingido os alunos, Ricardo, se adiantan- do a Jane, replicou: — Corta vez, me candiclatei a uma Yaga em uma grande empresa. Ao me - Apresentar para a entrevista, fui encaminhado para à psicóloga e a primeira - Coisa que ela me perguntou foi se eu cstava acostumado a trabalhar sob pres- são. Ela explicou: “Aqui 70% de nosso tempo é trabalho sob pressão.” Disse ainda que a qualidade que mais importava era o conhecimento técnico do candidato, — Afinal para que cargo você estava se candidatando? - perguntou Gilberto. Ricardo, olhando para Gilberto respondeu: — O cargo era de gerente de um departamento. Jane, aparentando revolta, retorquiu: = Isso é um absurdo! Fábio, que até então manivera-se Calado, apenas acompanhando a discus- são dos três, interveio: — Gente, acho que todos vocês têm razão, Esse é um assunto mais do que importante, mas que deve ser abordado no momento certo. Para mudar, é ne- cessária uma certa dose de coragem c ousadia. Para isso, o homem é dotado de uma razão e de uma consciência que lhe permitem discernir o que é cervo e o que é errado, considerando que nem todas as possibilidades são verdadeiras " = Professor Fábio — interrompeu Gilberio — poderia explicar um pouco melhor? — O que quero dizer, Gilberto, é que não podemos aceitar tudo o que apa- rece de novo como verdade, Temos de usar nossa razão para discernir o que é bom e o que é ruim, mudar sim, mas naquilo que é relevante. É como dizem lá na minha terra em Mato Grosso do Sul, trocar a pele do jacaré pela pele da cobra sá irá torná-lo ainda mais ágil e agressivo! — E como resolver esse impasse, da resistência à mudança, ou como você disse, Fábio, resistir a mudar? Aprender a desaorender | 13 — Às pessoas resistem a mudar por causa do medo dn desconhecido, Creio que uma boa alternativa é tornar cada pessoa personagem da mudança OU sem ja, fazer com que todos participem do processo e não querer, pura e simpies- mente, impor algo novo, desconhecido. — Mas não é nada fácil — lamentou Gilberto. - Eu sei, Gilberto, mas é preciso a-cre-ditar — disse Fábio pausadamente e soletrando. Aproximando se de Ricardo, complementou: Me permitam falar um pouquinho de mim. Eu tive uma infância muito pobre, meu pai era agricultor e morávamos em casa de sapé. Mas éramos feli- zes. Mou pai adorava música de viola e, vez ou outra, até arranhava um violão e uma sanfona, Lembro muito bem de uma músic: 4, cantada por uma dupla cai pira chamada Mureno e Moreninho, que meu pai costumava cantar. Essa mú- sica marcou para sempre minha vida e, sempre que cstou abatido, começo a cantarolá-ta. Não é a melodia que me atrai, mas a letra. — Canta um pedacinho, professor, canta? — brincou Jane, com meiguice. — De jeito nenhum, cu, com essa voz de tenor resfriado? Nem pensar. O máximo que posso fazer é narrar a história da música, serve? — Não é o ideal, mas tudo bem? — conformou-se Ricardo. — Fu gosto da moda de viola porque ela sempre conta uma história, ou um causo, A maioria é de dor de cotovelo — brincou Cilberto. — É verdade — concordon Fábio — mas não é o caso dessa moda. — Então conta, professor — pediu Jane ansiosa. = À história é a seguinte. O nome da música é Mané Tibiriçá — Mané Tibiriçá — repetiu Gilberto, sorrindo. — Gostei do nome — dissc Jane provocando Gilberto. — Conta que um agricultor muito pobre vivia no interior, próximo a um riacho, onde tinha sua rocinha de milho. Todos os dias os passarinhos atacavam sua plantação. Para afugentá-los, ele fez um espantalho. Esse agricultor tinha um filho, um menininho de oito anos, que não tendo com quem brincar, começou a brincar com o espantalho e passou a chamá-lo de Mané Tibiriçã. Todos os dias o menininho ia ao milharal brincar com seu amiguinho Mané, Certo dia, deu uma chuva forte, provocando uma enchente. E a enchente, para desespero do menino, levou o Mané embora. — Coitadinho do garoto — disse Jane consternada, Pois é. Ele ficou tão triste que perdeu totalmente a voz. O pobre agricul- tor fez de tudo para curá-lo. Com sua carroça foi a cidade, levou-o a vários mé- dicos e nada de o garoto recuperar a voz — E não encontratam mais o Mané? — indagou Gilberto. = Encontraram, sim — respondeu Fábia — um velho pescador fisgou o Ma- né c, na sua pureza, pensou que era um santo. Construiu uma igrejinha e colo- 16 | Caminhos da Administração — Sabe, essa é uma oportunidade de fazer com que esses alunos criem uma base teórica sólida, Hoje existem muitos “administradores” que não têm a me- nor idéia do que vem a ser Administração. Tratam na como uma mera profissão sem se conscientizar de que é uma ciência, que deve ser estudada e respeitada como todas as demais. Lêem algumas obras, muitas de excelente qualidade, sem dúvida, mas esquecem-se de que, para compreender melhor a Adininistração, é preciso conhecer as diversas teorias que a transformaram em ama ciência complexa e fascinante. Ronaldo, que ouvia atentamente, olhando para um Pequeno grupo de crianças que brincavam, falou: — O número de lançamentos de iivros na área de Administração realmen te é assustador! - Isso faz da Administração uma ciência viva, em pleno desenvolvimento. Hoje, de cada dez novos lançamentos de livros técnicos, pelo menos cinco são ligados a áreas da Administração, — Sabe, Fábio, o grande problema é essa dúvida que existe em relação à Administração, Afinal, trata-se de uma ciência, de uma técnica ou de uma arte? — Olha, Ronafdo, essa confusão não é um privilégio somente seu. Existe muitos enfoques sobre Administração quando diferentes autores a classificam como ciência, outros como tépnica e até mesmo coma uma arte, Nesse momento o garçom aproximou-se para anotar o pedido deles. Fá- bio continuou: , — De qualquer forma, precisamos definir bem o que vem a ser ciência, téc- nica e arte, — Sem dúvida, talvez assim esclareça, ou amenize, um pouco essa confusão. - Ciência significa conhecer — prosseguiu Fábio - compreender, enfim, ex- Pficar a realidade. Ela não cria objetos e coisas, O objeto da ciência é algo real, algo que existe, — Se entendi, a ciência procura conhecer e explicar algo que já existe, — Exatamente, a ciência busca o conhecimento e à explicação das coisas. — Ea técnica? — indagou Ronaldo com ar compencirado. — Vamos dizer que a técnica tem como objetivo principal a operação ou... podemos clizer, a manipulação da realidade. — Não entendi nada, Fábio, procurando ser mais claro, prosseguiu: — Técnica significa, por mcio de normas e procedimentos, transformar a realidade de um objeto ou coisa, = Então, pode-se dizer que a técnica é uma complementação da ciência. — É isso — confirmou Fábio — a ciênci explica as coisas por hipóteses, leis € teorias, e a técnica não explica nada, apenas transforma coisas e objetos de acordo com a necessidade, =Eaare? A ncia, técnica ou arte — Asarte não explica nem procura transformar coisas é objetos. Ela apenas procura captar uma realidade. — Ou seja - antecipou-se Ronaldo — a arte depende, quase exclusivamen- te, do ponto de vista do indivíduo. ” Fábio, fazendo sinal com a cabeça, confirmou: — Correto, depende do indivíduo. E digo mais: depende até do estado de espírito da pessoa no momento em que está captando essa realidade, É o mes- mo que dizer que a atitude de um gerente depende de scu humor, Fábio silenciou-se por um instante é finalizou: — Como disse a grande Michelangelo: a arte não é matemática, não é em genharia; e eu complemento, não é administração, a arte é idéia, É inspiração. Ronaldo com ar dissoluto, disse; - É infelizmente em muitas empresas essas situações são mais comuns do que você pensa, — Concordo, mas é 0 correto? -- indagou Fábio sorrindo e acenando para um amigo que passava. Ronaldo que ainda não estava satisfeito com o desenrolar da conversa acrescentou: — Esse é um assunto polêmico. Entendo que, diante dos conceitos e da for- ma como você colocou, não podemos considerar a administração uma arte, que a administração não pode ficar à mercê de interpretações subjetivas e “ vências espirituais, isto é, não pode ficar à mercê somente do talento e da apt dão artística, se assi podemos colócat, de um indivíduo. Fábio, olhando o relógio, com ar preocupado, replicon: -É isso, é difícil imaginar como ficariam as empresas dependendo dt lento e da capacidade artística de seus gerentes e diretores, afinal, assim como na música, na pintura e em outras artes, não é todo dia que podemos encos- trar um grande artista. Na minha modesta opinião, a Administração é antes de tudo uma ciência que estuda as organizações a fim de compreender seu funcio namento, sua evolução e seu comportamento, e a técnica atua como um cori- plemento dessa ciência tão maravilhosa e desafiadora. € . Ronaldo, que se mantinha impassível acompanhando a explanação do ir- mão, perguntou: — À administração sofreu influência de outras ciências, não? Fábio, aísentindo, prosseguiu: — Sem dúvida. Podemos comparar a Arministração, por tratar-se de uma ciência em formação, a um objeto que se vai formando em etapas sucessivas. A Administração, ao longo de sua história, foi buscar em outras ciências aquilo que considerava pertinente. Ronaldo quis então saber: — De que forma isso aconteceu? (a ta- 78 | Caminhos da Administração — Por exemplo, Ronaido, a Administração, no início do século, adotou tu- do.o que a Engenharia podia lhe oferecer de bom. Podemos dizer que foi o pe- todo da racionalização do trabalho, isso foi mais ou menos até 1920. Após a Primeira Guerra Mundial, começaram a se destacar as ciências do comporta- menta, tais como a Psicologia e a Sociologia, nas quais a Administração foi bus- car, também, contribuições linportantes para o seu desenvolvimento. Recebeu influência da Matemática, Principalmente depois da Segunda Guerra Mundial, guando os métodos quantitativos foram muito difundidos, E, finalmente, por volta dos anos 50, a Administração começa a ser tratada como parte da teoria getal dos sistemas. Ronaldo, pensativo como quem busca lá no fundo uma informação, com- pletou: — Realmente, se prestarmos bem atenção, não é difícil discernir entro as várias etapas de evolução da Administração. Fábio, após tomar mais um gole de sua bebida, continuou: - Eu não diria exatamente “etapas”, diria enfoques, considerados em pe- ríudos bem definidos. Percebe-se que, até a década de 1980, o enfoque princi- Pal era nos recuisos físicos, ou eja, buscava-se produzir mais e mais investindo Se em equipamentos e máquinas. Após 1980, a ênfase foi nos processos de prociução; constatou-se que investir apenas nos recursos físicos não era suficien- te sc os processos não fossem coerentes, A reengenharia proposta por Michael Hammer é James Champy, que nada mais é do que um completo repcnsar dos Processos de trabalho da empresa, é o melhor exemplo desse enfoque. Ronaido, aliçado pela curiosidade, antes que Fábio pudesse concluir, in- quirtu: — E hoje? — À transformação da sociedade, a partir do século XX, tem sido exiraor- dinária, Passamos de uma sociedade, basicamente, agrária pata uma sociedade dinâmica e industrial, onde a educação e à tecnologia passaram a ser ptiorida- de. Acontece que, muitos de nossos problemas decisivos não estão no mundo das coisas, mas no mundo cas pessoas, Ou seja, esses problemas não podem ser resolvidos apenas por habifidactes técnicas é científicas, exigirão também habili- dades humanas e sociais, uma vez que O maior fracasso do homem tem sido sua incapacidade para conseguir a covperação e a compreensão das pessoas. Hoje, se você investigar os principais lançamentos na área de Administração, não é difícil concluir que a ênfase está na melhoria das relações humanas, — Inteligência Emocional — antecipou-se Ronaldo. — Correto, administrar emoções é, provavelmente, o maior desafio do administrador moderno ao formar equipes harmoniosas e produtivas, na con- cretização do lucro e da felicidade grupal. Essa obra de Daniel Goleman é sem dúvida um marco nesse processo, Não basta você dispor de excelentes equipa- mentos, processos produtivos inteligentes, Pois a eficiência « a eficácia depen- 19 Ciência, técnica ou arte | dem, principalmente, dos recursos humanos dos quais se dispõe, são esses que detêm o conhecimento, — Detêm o conhecimento ca empresa? — Exatamente, Na verdade, em uma organização existem dois tipos de co- nhecimentos. O conhecimento operacional, que é de propriedade da empresa e são Os seus processos, seus procedimentos, suas normas, e o conhecimento inovador, que não pertence diretamente à empresa, pois está arquivado na mer- te das pessoas. — Estou entendendo o porquê da supervalorização das pessoas. Fábio, não permitindo que Ronaldo continuasse, retorquiu: — Supervalorização não, é o reconhecimento da importância do Capitalla- telectual para qualquer organização. São as pessoas que têm a capacidade de promover mudanças, é por ineio delas que as empresas evoluem. São as pes- soas que dão vida às empresas, é por esse mativo que, ao fado de outras fun- ções, a motivação desempenha um grande papel na determinação de emprega- dos, e isso, por sua vez, influi na produtividade e na relativa eficiência para a realização de objetivos da organização. — Existe também o que chamam de conhecimento explícito e conheci- mento tácito, não? N — Sim, esses duis conceitos foram desenvolvidos pelos professores Nona- . ka e lakeuchi da Universidade de Harvard. O Conhecimento Tácito está inter- nalizado na pessoa, está em “seus ossos”. A pessoa não consegue articulálo muito claramente, é dificil explicá-lo. É como ensinar alguém a amarrar os sapatos sem utilizar as mãos, mas apenas as palavras. — “Ensinar à amarrar os sapatos usando apenas as palavras”, essa é boa. You tentar fazer esse exercício. Ambos sorriram e, após alguns instantes, Fábio continuou: ) — Você está sorrindo, mas é difícil conceituar o Conhecimento Tácito. É coma se fosse uma intuição, um insight que cada pessoa adquire e internaliza, É O conhecimento que a pessoa não consegue expressar em números ou pala- vras, Já o Conhecimento Explícito é exatamente o contrário, podemos expres- sálo em palavras é nútncros, podemos disponibilizádo em qualquer meio de comunicação. — Qu seja, todas asinformações e dados disponíveis que cxistem em uma arganização poriemos chamar de Conhecimento Explícito. — É mais ou menos isso — respondeu Fábio, — É como ler um livra, parti cipar de um treinamento. Em um primeiro momento, você recebe um grande número de informações, mas não internaliza essas informações. — Não ficou muito claro, não! — reclamou Ronaldo. - Vou dar um exemplo para que você possa entender a diferença entre um e outro. Quando você foi dirigir pela primeira vez, o instrutor ensinoto di teitinho como fazer e você tinha certeza de que sabia tudo sobre volante, 22 | Caminhos da Administração — Eu gostaria de estudar e questionar todas as Propostas dessa... Não sei se podemos chamar de "macierna Administração”, tais como Qualidade Total e suas ferramentas, produtividade sistêmica e seus cinco fatores e os dois referen ciais, valor agregado etc. ' Jane, nitidamente entusiasmada pela proposta do colega, concordou: — Eu também gostaria de estudar essa — olhando para Ricardo — “moder- na administração”. o Gilberto demonstrou não ter aprovado todo o entusiasmo da amiga em relação a Ricardo. Manteve se calado desde a revelação de Jane. Percebendo que ambos os colegas aguardavam sua opi ião, inquitiu: — Realmente conversamos várias vezes neste final de semana, não é mes- tina Jane? E concordamos que o que devemos estudar é realmente o que Ricar- do chamou de “moderna Actministração”. Fábio acompanhava à desenrolar da conversa dos três jovens; não pôde deixar de perceber a disputa e o ciitme que os rapazes nutriam em refação a Ja- ne. Sorrindo interveio: N — Concordo que todos esses assuntos são interessantes, mesmo porque a maioria deles, talvez até incentivados pela mídia, é debatida por quase todas as Pessoas que trabalham em áreas administrativas. Estou certo de que esse não é O caminho que devermos seguir. Nesse momento todos aparentavam aflição. Fábio foi até a janefa, de on- de, do outro lado da avenida Central, avistou um prédio em construção. Val- tando-se para os alunos solicitou: — Venham até aqui, por favor. Todos se levantaram ao mesmo tempo. Ao chegarem à janela, apontando em direção ao prédio em construção, indagou: — O que vocês estão venda iá do outro fado da avenida? — Um prédio em construção — responderam ao mesmo tempo. - Vocês têm certeza de que aquilo é realmente um prédio em construção? = Claro que sim — respondeu Cilberto atônico. Por quê? — questioneu Fábio mais uma vez, virando-se Para os alunos. Jane, ainda olhando em direção ao prédio, respondeu: — Trata-se da estrutura de um prédio em construção, - Muito bem, Jane — disse Fábio, considerando sua observação, e olhando para os demais continuou — seria Possível construir um prédio sem a estrutura? Aliás, trata-se de algo sujo e feio, não é mesmo? Gilberto, com semblante assustado, retorquiu: — É lógico que não, isso é um absurdo! É na estrutura que está toda a ba- se de sustentação do edifício, Seria o mesmo gue construir um castelo de areia na praia. Fábio retornou para seu lugar, e todos O acompanharam: Plancjando a caminhada | 23 — Estudar o que vocês intitularam de “moderna Adrinistração” é o mes- mo que construir um edifício sem estrutura. Vocês estão preocupados em esti” dar 0... — olhando em direção à construção — podemos dizer, acabamento, sem antes conhecer a base dc sustentação da ciência administrativa. George Hegel, filósofo alemão, costumava comparar a História com a corrente de um rio. O menor movimento na água, em um certo pontélido rio, é determinado pola que- da e pelo torvelinho das águas em algum outro ponto rio acima. Acontece que também são importantes as pedras & as curvas que existem no rio, no ponto em que você se encontra c o observe Assim, a História é como a corrente do ro, ela contém todos os pensamentos formulados por gerações antos de nós e to- dos esses pensamentos determinam a nossa maneira de pensar, no momento em que vivernos, . Fábio dirigiu seu olhar para o altu, como que buscando informações dis tantes armazenadas no funda de sua mente e continuou: — Jostein Gaarder, célebre escritor norueguês, diz que quem se dedica ao estudo sério da História, percebe que gcralmente um novo pensamento suge com base em quiros formulados anteriormente, Uma vez formulado, um novo pensamento setá, inevitavelmente, contradito por outro. Aparecem, assim, duas formas de pensar que se opõem, e entre elas há uma tensão. Essa tensão é que- brada quando um terceiro pensamento é formulado, dentro do qual se acomo- da o que havia de melhor nos dois pontos de vista precedentes. Com o estudo das diversas teorias da Administração, isso se materializará mais claramente. Por aí notem a importância da História, Sei que não é o que gostariam, mas propo- nho que cstudemos a história da administração com ênfase nas teorias adminis: frativas. Fábio circulava ao redor dos alunos que continuavam sentados, enquanto pensav: — Vocês estão sendo preparados para assumir cargos de gerência. Eu per gunto: qual o principal trabalho dia direção? - Ena direção que se tomam as principais decisões da empresa — respon- deu Jane compenetrada. — Acredito que seja a mesma coisa, é na direção que se propõem soluções para os principais problemas da empresa — precipitou-se Ricardo, Fábio completou: — Podemos então concluir que é na direção que está localizado 9 “centro pensante” da organização. Nesse “centro pensante” à habilidade principal de quem dele faz parte é o que alguns autores chamam de habilidade conceitual. — Professor Fábio, eu entendi mais ou menos o que vem a ser essa habili- dade conceitual. Você poderia esclarecê-la melhor? — É claro que sim, Jane. a Dirigiu-se até o quadro. Virando-se para Os três jovens, acrescentou: 24 | Caminhos da Administração Pianejando a caminhada | 25 — De avordo com Robert L, Katz existem, basicamente, tês habilidades importantes para que um administrador possa desempenhar bem seu papel — e completou escrevendo no quaciro habilidade técnica, habilidade humana e ha bilidade conceitual. Novamente dirigindo-se para os alunos, proferiu: A habilidade técnica, como o próprio nome diz, é à realização da tarefa em si utilizando para isso métodos, técnicas e equipamentos adêqiados, adqui- ridos por experiência, educação e instrução, Todos anotavam em seus blocos de rascunho, Fábio aguardou um instan- te e continuou: — Habilidade humana é à capacidade e o discernimento para trabalhar com Pessoas, onde se incluem uma compreensão da motivação c uma aplicação de liderança eficiente. Habilidade conceitual é a habilidade para compreender as complexidades da organização global e o ajttstamento das operações da pessoa, na organização. A combinação adequada de tais habilidades varia de acordo com a posição do indivíduo na hicrarquia da organização, por cxemplo: em né veis inferiores, os supervisores precisam de considerável habilidade técnica, pois muitas vezes precisam instruir e formar técnicos. No outro extremo, os execu- tivos de uma organização não precisam saber como se realizam, em nível ope- racional, todas as tarefas específicas. No entanto, devem ser capazes de observar como tocas essas funções são inter-relacionadas para a reulização dos objetivos da organização total. Os alunos mantinham-se concentrados acompanhado cada palavra do mestre, — À habilidade conceitual só poderá sc desenvolver plenamente com o es- tudo das tearias administrativas. É por meio cas teorias que poderemos desen- volver a capacidade de pensar, de decidir, de propor soluções para os principais problemas organizacionais, ou seja, de cxecutar tudo o que vocês definiram co- mo papel da direção. Abrindo a pasta e, como pensando em voz alta, prosseguiu: — À capacidade de pensar é inerente aos seres humanos. Após retirar uma caneta escreveu em letras garrafais em seu bloco de ano- tações que estava em cima da carteira: “Cogito, ergo sum”, — Essa é uma das premissas mais célebres da história da filosofia escrita por René Descartes. Traduzindo: “Penso, logo existo”. Apontando para seu bloco do anotações, continuou dizendo: — Essa é uma famosa frase que demonstra a importância dessa virtude do homem, virtude essa que deve ser desenvolvida constantemente. Jane olhando com admiração para Fábio, interpelou: — Não basta ter um diploma. Ter um curso superior não significa ter um bom emprego. Mais do que isso, as empresas têm buscado pessoas criativas ca- pazes de propor e promover. mudanças. Hoje, para manter-se no emprego é pre- ciso estudar, estudar é estudar. Esse é o meu entendimento em relação a essa frase, que apesar de tor sido dita há tanto tempo, parece que só agora tem sido DPraticada. — Ratificando q que eu disse anteriormente, as leorias administrativas, sem dúvida, são um dos principais instrumentos para que um administrador possa desenvolver essa grande virtude, conditio sihe qua non para transformar-se cm um administrador de sucesso, — Vocês têm o direito de questionar minha proposta — atirmou Fábio en- quanto os alunos permaneciam calados. — Acredito que não há nada a questionar, Puddemos começar a estudar as teorias agora mesmo e vocês o que acham? — perguntou aos colegas. — Estou de pleno acordo com Gilberto é ansiosa para começar. — Retiro minha proposta, eston convencido - ponderou Ricardo. — Essa era à questão mais difícil a ser respondida, Podemos passar à segun- da questão. Gostaria de lembrá-los de que se trata de um trabalho extracurricu- lar, portanto, não necessitamos nos prender à horários, Jane levantou da carteira, encostou-se à parede e disse: — Acho que não precisamos responder a essa questão. Como o professor Tábio disse, não vamos nos prender a horários. Fodemos a cada encontro pro- gramar O próximo. Todos concordaram. Fábio se colocou ao lado de Jane junto à parede e as- sentiu: — Também estou de acordo. Podemos, então, responder à terceira ques como”, Ricardo, olhando para Fábio e Jane que continuavam em pé, respondeu: — Em primeiro lugar, precisamos pesquisar, e a cada encontra trocar as in- formações. Fábio encaminhou-se à porta e figou o ventilador. — O trabalho será de vocês, eu apenas às orientarei na busca de informa- tã ções, Todos de acordo e em silêncio aguardaram as novas instruções ce Fábio. — Acredito que respondemos às três questões iniciais. Podemos agora iniciar verdadeiramente nosso trabalho de pesquisa. À primeira questão que gostaria que vocês respondessem é: quando e onde nasceu a ciência da Administração. Fábio aguardou por alguns instantes, Após anotarem, Jane que já havia re- tornado ao seu lugar, indagou: Quando nos encontraremos para trocar as informações? — Podemos nos comunicar por telefone durante a semana. Marcar uma data pode ser uma pressão desnecessária. Trata-se de um trahatho extra-sala e temos de arrumar tempo para essa pesquisa sem prejudicar nossos outros afazeres, 28 | Caminhos da Adrninistração Gilberto, como que acordando de um pesadelo, voltou-se rapidamente pa- Ta e ela e respondeu: = Aceita sim, dona Judite. Meu Paí já chegou? - perguntou-lhe enquanto ela scrvia-lhe q café. — Sim, senhor Gilberto — respondeu fndite dirigindo-se à porta. O relógio marcava nove horas. Deu-se conta de que estevo naquele deva- neio por mais de uma hora. Olhando para o telefone, falou Para “si mesmo: Princesa de Calos?”. Pegou o telefone e discou o niimero de Jane, porém, antes que completasse a camada, desligou, Parou por alguns instantes, depois levan- tou-se e saju. Passando pela secretária, avison que estava-na fábrica Seguiu pelo corredor sem dar atenção a Judite, que lhe questionava sobre algo. Circulou pela fábrica parando aqui e ali conversando com alguns super- visores. Nessas Ocasiões, o clima entre os trabalhadores é de tensão e expecta- tiva. Ao aproxima-se de um erupo de funcionários, um deles SUssurrou para o colega ao lado; — Lá vem o "reizinho”, O colega olhou assustado. Gilberto passou por eles sem sequer dirigirlhes um olhar. Retornou ao corredor central e rumou novamente para seu escritó- rio. Na escrivaninha, um bilhete de Judite = “Senhor Gilberto, fui tirar fotocópias de alguns documentos. Sua colega Jane telefonou e disse que liga mais tarde ” Sua priméira reação foi Pegar 0 telefone e retornar a ligação imediatamen- te, porém refletiu por alguns instantes e chegou à conclusão de que não era o melhor caminho. Pensou consigo mesmo: “Tenho de mo fazer de dificil”, Apesar do excesso de trabalho acumulado, Gilberto não conseguia traba- lhar, A cada momento se trai olhando para o telefone na expectativa de que cle pudesse tocar a qualquer momento, Cada minuto parecia urna eternidade. — Senhor Gilberto, seu pai pede para o senhor ir até seu escritório — a voz de Judite soou no interfone. —Já estou a caminho. — Por favor, se a senhorita Jane ligar, diga que retomo a ligação imediata- mente, O pai de Gilberto é um senhor de cabelos brancos, olhar carrancudo, sem- blante sério, que dificilmente sorria, Mantém uma disciplina religiosa em tudo que faz e trata a todos com formalidade, inclusive Gilberto, que é seu único f- lho. Ao entrar no escritório, ele estava ao telefone, Fez sinal para que Gilberto Se sentasse. Ao desligar, o interpelou: = já circulou pela fábrica? Gilberto fez. um sinal afirmativo com a cabeça e, quando ia começar a fa- lar, seu pai antecipou-se; istrador | 29 Tr Uim modelo de ad — Pelo meu cronograma, a produção estã com um atraso de quase três se- manias, precisaremos fazer hora extra. — O senhor sabe das dificuldades de fazermos hora extra. O pessoal não colabora e... — São todos um bando de incompetentes, que só pensam em dinheiro. A partir de hoje, quero que teídos façam no mínimo duas horas extras, essa é a única maneira de colocar a produção em dia. Como vorê irá convencêlos, é problema seu. Levantou-se e, colocando o paletó, continuou: Irei visitar um cliente, avise sua mãe para não me esperar para 0 almoço. Gilberto seguiu rapidamente para seu escritório. Alguém telefonou? — Não, senhor Gilberto - respondeu Judite. Fechou a porta do escritório e pediu que não o incomodasse, dando or- dem para não passar nenhuma ligação, com excoção de Jane, Após alguns ins- tantes, pelo interfone solicitou a presença de todos os supervisores de produção em sua sala. Não demorou muito Judite bateu à porta e entrou comunicando- lhe que os supervisores já se encontravam presentes. Gilberto pediu para en trassem. Após todos se acomodarem, começou: Quero ser o mais abjetivo possível, a partir de amanhã faremos duas ho- Tas extras dia, Sei de todos os argumentos que vocês tentarão me fornecer pa- ra justificar as dificuldades em convencer os funcionários, porém este não é um -pedido e sim uma ordem, portanto, sem argumentações, Estão dispensados. “Todos deixaram a sata em silêncio, Apesar de estarom acostumados com esse módelo administrativo, em cada semblante havia um misto de preocupa- ção e revolta, Após todos deixarem à sala, Gilberto transbordava ansiedade e respirava expectativa não por seus supervisores, mas por Jane, que insistia cm não retornar a ligação. Levantou-se, fechou a porta, pegou o telefone e discou o ntimero de Jane, Enquanto completava a ligação, pensou em desligar, mas não o fez. Jane atendeu: — Jane? É Gilberto, tudo bem? Você me ligou, como estive fora muito term- Po, resolvi retornar a ligação. = Estive com Ricardo na biblioteca ontem, Tentei falar com você, mas não foi possível. Quando nos reuniremos? — Vocês já fizcram alguma pesquisa? — Sim, c gostaria de sugerir Dara nos reunirmos hoje à noite. Falei com o professor Fábio. — Estou de acordo, — Olha, para fugir um pouco da rotina, nos encontraremos no apartamen- to do Ricardo, você tem o endereço? — Sim, já estive lá. — Ótimo, então a partir das sete e meia, está bem? 30 | Caminhos da Adm - Tudo bem. Quer carona? . — Não quero incornodar, mas se puder passar aqui em casa, podemos ir Juntos, — Pode esperar, até mais, Gilberto desligou o telefone mais aliviado, afinal era à Primeira vez que Ja- ne aceitava uma carona e poderiam ficar a sós. Levantou-se é seguiu em dire- ção à fábrica. - V um passeio pela História Quando Gilherto e jane chegaram, Fábio já estava há algum tempo. Cilberto procurou seguir o mais lento possível. Planejara conversar com Jane, porém nada fincionou como previta. Sempre que puxava um assunto paralelo, efa rapidamen- te relomava ao assunto de sta pesquisa sobre Administração. O apartamento de Ricardo, apesar de simples, era um apartamento amplo e aconchegante, Após as formalidades normais, Ricardo convidou a todos para se reunirem em seu pegue no escritório, já devidamente preparado para o encontro, —Já que estamos acomodados, podemos Começar — dissc Fábio, Jane retirou de sua pasta algumas anotações e começou: — Nossa proposta foi estudar a história da Aciministração com ênfase nas teorias.-O senhor pediu para que pesquisássemos sobre a origem da Adminis- tração. — Coreto. — Na verdade, antes da Revolução Industrial não encontramos muita coi- sa que lratasse especificamente de Administração = Mas isso, Ricardo, não significa que ela nasceu com a Revolução Indus- trial. A Administração é uma ciência muito antiga. — Que ela é muito antiga, não ternos dúvida — replicou Gilberto, de for- ma desagradável, — Determinar o momento em que elanasceu, acho meio «dificil, Fábio, percebendo a dificuldade dos três em responder a questão, disse; — Vamos retornar à Pré-história. Nesse período, hã milhões de anos, em um ambiente sombrio, grandes anitnais lutavam pela sobrevivência. Junto com cles, um ser estranho, de longos cabelos e olhar agudo, encolhia-se no vão de uma rocha. Sua pequena estatura fazia dele presa fácil, ótimo prato para aque- les animais famintos. Para não morrer de frio e de fome, esse homem primitivo tentou muitas soluções, porém caçar era a única saída para satisfazcr sua neces- sidade prirnária: a forme, Muito tempo se passa e ele já descobrira, friccionan- 34 | Caminhos da Administração queles sobre estes, Podemos concluir que dessa forma nasceu a primeira orga- nização social. Jane fazia anotações em seu bloco, enquanto Cilberto e Ricardo apenas acompanhavam a explanação de Fábio. Antes de continuar voltou-se para o fp chart, escreveu “Harmurabr — Vamos relacionar alguns nomes importantes que, se não-são tidos como administradores, suas ações, contribuirão decisivamente Pata a evoliição da Ad- ministração. Harmurabi viveu mais ou menos em 2.400 a.C. e sua atuação dei administrado da Antiguidade. Fez obras de irrigação e construiu o famoso Palá- cia da Babilônia, onde morreu Alexandre, o Grancie, no século IV aC, Sua maior contribuição foi o Código de Hamurabi. — "Olho per olho e dente por dente” - interveio-Jane, . — É verdade, essa é uma das premissas do código que trata de uma legis lação que prevaleceu por mais de 1.400 anos. Fle foi o primeiro legislador e sua obra administrativa estava muito além de seu tempo. Ao lado em uma Pequena mesa, Ricardo colocara uma garrafa de café da qual Fábio se serviu e retornou ao assunto: - Vamos deixar a Babilônia e ir para Egito antigo, mais precisamente ao século XIV a.C, Nesse periodo, dez séculos após Hamurabi e um século antes «e Moisés, viveu um dos mais brilhantes, mas pouco reconhecido, faraós egip- eios: trata-se de Acunatom. Por mais de três mil anos nada se falou dele, a não Ser para mencioná-lo como Amendfis IV, o último e apagado faraó da XVIII di- nastia egípcia. Fábio fez uma Pequena pausa para tomar um gole de café e continuou: — No final do século XIX, Acunatom começou a surgir quando foram des- cobertas correspondências suas, feitas em tabletes de cerâmica, Na verdade es- sa sua revelação aconteceu num efeito cascata, Coma assim, professar? — Perguntou Jane interessada. “— Em 1903, foi descoberto o túmulo de seu avô paterno, dois anos depois, em 1905, o de seus avós maternos. Em !907, finalmente foi encontrada à sua Própria múmia, no túmulo de sua mãe, e finalmente o de seu genro, Tute An- que Amon. Em todos esses túmulos, foi descoberta uma vasta documentação que revelava ao mundo as obras, a escultura e as idéias de Acunatom. Foram essas descobertas que nos permitiram conhecer um Pouquinho mais sobre esse atan- ve faraó. Descobrir que ele não sentia nenhuma sedução pelas conquistas miti- tares, que sua atenção estava concentrada em outros objetivos, como a educa- ção de seus filhos, a criação de uma nova arte e, sobretudo, a fundação de uma nova religião. : = Que religião fui essa, professor? — indagou Ricardo. Um passeia pela História | 35 q " — Ele a denominou atonismo. Tratava-se de uma religião que não tinha nenhuma figura humana « não tinha por Deus o Sol, propriamente dito, muito comun nas religiões daquela época, Reverenciava, sim, o calor e a energia que eram emanados pelo Sol. — Mas tinhã um deus? - interveio ansiosamente Jane. — É claro que tinha, você já viu alguma religião sem um deus? — indagou Gilberto em tom de deboche, Diante da reação e do olhar felino de Jane, Fábio tratou de responder: Tinha, sim, Jane, ele o chamava de Aton, por issu ficou conhecida como atonismo. Como monoteísta, Acunatom proibiu o culto dos velhos deuses re- verenciados pelos egípcios, inclusive proibiu qualquer reverência a Amon, que era o principal deus egípcio, — Qusado o rapazinho, hein? — brincou Cilberto. — É verdade — concordou Tábio sorrindo — mas não foi nada fácil realizar seu desiderulum monoteista, principalmente em Tebas, onde o amonismo era ra- dicado. Por essa razão, Acunatom edificou uma nova cidade, para onde trans- feriu a residência rea), c, com o objetivo de dar um caráter universal ao etonismo, fundou duas capitais religiosas fora das fronteiras do Egito, uma na Síria o outra na Etiópia. — Professor, agora estou ligando as coisas? - disse Jane enfática, perante o espanto de todos. — Ligando a quê? — interveio Ricardo. — Eu li o livro de Nika Waltari intitulado O egípcio. — Isso mesmo, Jane — celebrou Fábio. - O egipeio de Nika Wallari narra to- da a história de Acunatom, apesar de o personagem principal ser seu médico, que na narrativa de Waltari se chama Sinuhe. É claro que se trata de uma fic- ção, mas nos dá uma excelente idéia sobre esse grande faraó egípcio. = Existe um filme, também, não? — indagou Gilberto. — Existe sim, Gilberto, e foi feito com base na obra de Waltari — confirmou Jane — aliás, recomendo tanto o filme quanto o livro, se bem que gostei mais da livro, pois é mais completo. Fábio antecipando-sc a Ricardo disse: — Para não dispersarmos, vamos retomar à nossa história, O sucessor de Acunatom foi seu gênro Tute Anque Aton, que, além de rencgar o atonismo do sogro, reimplantou o amonismo, tornando o nome de Tute Anque Amon, ini- ciando uma sombra de mais de 3 mil anos sobre o último c incompreendido faraó da XVIIT dinastia egípcia. — Que genro, hem? — brincou Gilberto. — Pê! você não perde uma hem, cara! — reclamou Ricardo sorrindo, Você não, vocês — corrigiu Fábio, continuando — hoje, sabemos que, na ordem cronológica, Acunatom ou Amenófis IV é considerado o primeiro paci- 36 | Caminhos da Administração 37 Um passeio pela | listária fista, O primeiro monoteísta, o primeiro demociaia, 0 primeiro humanista é o Primeiro internacionatista, — É como dizem: a justiça tarda, mas não falha — lembrou Jane. — É verdade, antes tatde do que nunca, não é mesmo Jane - Tepeiiu Fã Dio e continuou, — O próximo personagem que gostaria de mencionaré um ve- lho conhecido — virando-se para O /lip chaft, escreveu o nome de Moisés lago abaixo do nome de Acunatom, e seguiu dizendo: o = À história de Moisés todos vocês conhecem, Apesar de haver grandes dúvidas sobre a época e o número de anos que viveu, a Bíblia divide sua vida em três períoros distintos de 40 anos cada um. Considerando que os semitas usavam a número 4Q para expressar lotes de dez a 100, é muito provável que ele não tenha vivido 120 anos como aprendemos. Alguns estudiosos afirmam que ele deve ter falecido aos 60 anos. Mas isso não é relevante para nós neste momento, e, sim, o fato de ele conseguir reunir nó deserto as tribos hebraicas, que viviam no Egito sob miserável O pressão, conduzi-as pelo deserto e pelo mar Vermelho e levá-las Para a terra prometida, formando, assim, uma grande na- ção, Para isso foi obrigado a elaborar um cúdigo de Icis, que lhes facilitassem a vida em comum. Esse código ficou conhecido como Os Mandamentos, que fo- tam escritos em decálogos, para que as Pessoas analfabetas pudessem decorá- los com maior facilidade, ordená-los e recitá-los contando-os nos dedos, o que não deixa de ser uma forma de racionalização do trabalho, conforme intitula- mos hoje em dia. = À história de Moisés é fantástica e ele foi, sem dúvida, um homem ge nial — enfatizou Jane. — Concordo, Jane — disse Fábio afirmando — é possível que ele tenha até aproveitado idéias monuteístas de Acunatom, que vivera cem anos antes é de quem acabamos de falar, mas não há como negar que sua forte personalidade criou e firmou o monoteísmo. — Falando um pouco de sua relação com Deus — interveio Jane — ete, na verdade, não conseguia vê-Lo. Ouvia apenas Sua voz que partia de um arbus- to todo em chamas. “ — Não ver Deus era uma das características de todos os profetas coma Moi- sés — afirmou Fábia — e essa simbologia do fogo se imortalizou servindo de ins piração para gerações futuras coma forma de adoração a Deus, — Por exemplo? — indagou Gilberto. = Por exemplo, Gilberto — repetiu Fábio pensativo — vieram depois o fo- Bo sagrado, mantido Permanentemente pelas vestais da Roma antiga, as lâmpa- das eternas dos persas, a lâmpada da sinagoga, a chama gasosa des templos hin- cus do Hirnalaia, o fogo sagrado dos templos de alguns países africanos, os dos indigenas natché, do Mississipi, as velas das igrejas católicas, enfim, todos esses recordam o arbusto de Moisés, que ardia em chamas, sem se consumir, enquan- to ele ouvia a voz de Jeová. — Para Cristo, a obra de Moisés era tão admirável que Ele sempre dizia: “Não vim aqui para destruir a Lei de Moisés, mas para completá-la”. — fernbrou Ricardo, — Congregando religiosamente e legislando de forma genial, Moisés pode, sem dúvida, ser considerado um dos grandes administradores de sua época — concluir Fábio, . Fábio tomou um gole de café « dirigindo-se novamente aos alunos conti- nuou: - Na velha China, no Estado de Lu, um velho de 60 anos sonhava em ter um filho, porém o destino deralhe nove filhas. Com o firme propósito de rea- lizar seu sonho, abandonou sua velha esposa & casou-se com uma jovem de apc nas 17 anos. — Espertinho ete, hem! “É Gilberto, mas estava em forma, pois um ano depois, nascia um varão, que foi chamado de Guin Fu Te, que depois mudou seu nome pata Cong Fa se, tornando-se o grande filósofo a quem os jesuítas deram o pseudônimo de Confúcio. , Fábio, enquanto falava, virou-se para o Pip chart e, escrevendo, continuou: — Confúcio jamais se colocou como profeta, apesar de o pavo ter-lhe atri- buído paderes divinos é considerado sagrados seus livros. Podemos dizer, sem errar, que Confúcio poderia ser colocado ao lado dos grandes precursores da Administração. Vários de seus conceitos persistem até hoje. Dizia que sua mis- são era ensinar os homens a administrar os outros « à si mesmos, Acreditava que o bem estar e o bom funcionamento do Estado estavam diretamente liga- dos à educação do povu, isso 24 séculos atrás. Retirando de sua pasta um papel de rascunho, Fábio continuou: — Confúcio tinha por hábito viajar, levando consigo seu programa educa- cional cuja ementa abrangia a música, a história, a literatura, a moral, além de demonstrações práticas. O reconhecimento de sua sabedoria cra compartilha- do por todos os difigentcs por onde passava, que aproveitavam para consultá- lo sobre suas dificuldades. Abrindo o papel de rascunho que retirara de sua pasta, propôs: — Gostaria de mencionar alguns dos célebres pensamentos que Confúcio ensinava em suas andanças, posso? Todos assentiram com um gesto c Fábio começou a ler pausadarmente ca- da um dos pensamentos ali descritos: — "Não adianta fazermos obra já realizada; ensinar coisas já aperfeiçoadas; nem lamentar coisas já passarias.” “O verdadeiro filósofo procura mudar o cur- so dos rios; se não consegue, coloca-se à matgem ou acompanha a corrente; nunca a afronta.” “O sábio espera tudo de si; o homem vulgar espera tudo dos outros.” 40 Caminhos da Administração R —A— - Um tanto utópico como é o comunismo, Ricardo, mas tudo bem — por derou Jane, — Licurgo pregava ainda que a preparação para a guerra era a maior preocupação de uma atividade aciministrativa, Apontando em direção ao flip chart, disse: . — Solon viveu em Atenas, onde também se destacou como gtande legista- der. Elaborou a fantástica organização política de Atenas, talvez a primeira de- mocracia que se tem notícia. Suas leis protegiam a educação, o Comércio, as ar tes, a vida e o progresso. Toi um dos grandes tesponsáveis pelo florescimento da mais bela civilização da Antiguidade, Ricardo interrompeu Jane, com entusiasmo; — Amiga — disse tocando em seu ombro — estou encantado! Você é o pro- tótipo da mulher Perfeita, linda, inteligente e culta É a mulher de meus sonhos — extrapolou Ricardo em seu elogio deixando Jane vermelha, Gilberto que não gostara nada da atitude de Ii ticardo, apenas acompanhon- o com um olhar de desaprovação, Fábio, tentando amenizar as coisas, disse: — Vamos falar de um jovem discípulo de Aristóteles e fiel admirador da cultura atenicnse, Viveu apenas 33 anos, porém foram suficientes para formar um grande império, 4 Gilberto, cujo olhar concentr ava-se em Jane, antecipou-se dizendo: — Você está falando de Alexandre, o Grande, não? — Muito bem, Gilberto. Ele mesmo. Apesar de ser considerado um homem cruel, era muito inteligente. Seu maior sonho era formar um império mundial com a finalidade de congregar vencidos e vencedores. Fábio fez uma pausa em sua explanação e Gilberto aproveitou para com- plementar. — Após conquistar a Pérsia, elo fez com que muitos de seus comandantes Se casassem com moças desse país, até ele se casou com a filha do rei Dário. O ideat de Alexandre era nobre, é uma pena que, para realizá-lo, procurou o meio mais cruel, a guerra, Morreu jovem, mas deixou um etande império, que tam- bém não demorou muito para se desmantelar, = Muito bem, Gilberto, já percebi que você gosta de História, * — Acho que, se estudarmos a história dos grandes personagens mundiai sempre teremos uma lição para aplicar em nossas vidas. — Diante da colocação de Gilherto — disse Fábio, — quero tomar a liberda- de de falar sobre um Personagem polêmico, que muitas vezes é lembrado ape- nas por suas conquistas, quando na realidade foi mais do que um conquistador. Vitando-se, escreveu no flip chart o nome de Napoleão Bonaparte e pros- seguiu: - Não quero me ater às conquistas desse grande general, porém é impor- tante dizer que Napoleão nasceu na Córsega, então sob domínio francês, par- ticipou da Revolução Jacobina, foi lutar .na Itália S, ao retornar à França, tormgu-se primeiro cônsul. Sey gtande sonho era criar um império universal, Ur passeio pele História | 4! onde ele seria o imperador. Os meios que buscou para realizar seu sonho, mais uma vez repetindo os feitos de Alexandre, o Grande, fai a guetra. Foi umas das fasos mais sangrentas da história da Europa, Como administrador, fez grandes coisas. Ele reorganizou a polícia francesa, criou canais para a navegação fluvial, meio tão importante para o desenvolvimento do comércio, reorganizou o siste ma bancário, defendeu a religião, considerando que, sem ela, seria impossível um governo estável, incentivou a educação básica, é fomentou o estudo sups- rior criando a Universidade da Prança — a Sourbone — e, por último, colocou em prática o sistema métrico decimal, hoje actotado em quase todo à mundo. Napoleão, após a famosa batalha de Waterloo, foi enviado para a ilha de San ta Helena, onde faleceu em [82]. Jane, que até então permanecera calada, acrescentou: — Um des segredos de Napoleão é que seus soldados sabiam exatamen to porque estavam lutando e o que se esperava deles. Napoleão entendia gue uma obediência cega, não necessariamente, leva a uma execução correta ein teligente. A -É importante essa sua colocação Jane, e gostaria de complementá-ja di zendo que o que você disse é o que chamamos de Unidade de Direção, uma das importantes contribuições da otganização militar à Administração. Dirigindo-se novamente aos alunos, continuou: o — Chegâmos à última fase a que nos propusemos. Trata-se da fase ctenti- fica, Os personagens que iremos mencionar são precursores da Ciência da Ad- ministração, por isso não vamos nos preocupar com a cronologia e a época em que viveram. O primeiro deles é o grande filósofo Platão, Ele nasceu em Ate nas. Além de filósofo, foi poeta, Scu mestre foi Sócrates e seu mais famoso dis cípulo foi Aristóteles, Logo após a morte de Sócrates, abafado, Platão vagou pelo mundo sem destino certo. Foi feito escravo e, após ser resgatado, retornou à Atenas onde fundou a Academia. Dando continuidade ao trabalho de seu mes- tre, ensinou que a Filosofia era a mais alta das disciplinas é existia para ajudar os homens e não pelo puro ptazer dos filósofos. Estudou todas as áreas do co nhecimento humano, da Cosmologia à Matemática. Propôs a organização do Estado em sua obra À República, que foi considerada utópica para ser colocada em prática. — Professor Fábio... -- interrompeu Ricardo — é daí que surgiu o adjetivo platônico para designar uma coisa impossível, que fica apenas na imaginação. — Mais ou menos — discordou Fábio. - Na realidade, o termo surgiu por que Platão considerava que tudo q que vemos ao nosso redor, na natureza, ê mero reflexo dc algo que existe no mundo das idéias e, por conseguinte, tam- bém na alma humana. Elc considerava que não existe nada na natureza que não tenha existido no mundo das idéias. o — Reconheço minha ignorância, potém, Jane, entendeu o que eu quis di- zer, não? 42 | Caminhos da Ad: inistração — Não sei, desconheço esso tipo de amor — respondeu ela ruborizada e constrangida. — Esso af - socorreu Fábio — mas continuando, muitas das idéias de Pta- tão contidas em sua República, com o tempo, foram sendo aceitas, e de uma ou outra forma acabaram por influenciar a Ciência da Administração, Sugiro que vocês dêem uma repassada na obra de Platão. Todos mencionaram que haviam entendido o recado e ele cúntinuou: = Aristóteles, por mais de 20 anos, esteve ao lado de Platão, deixando-o so- mente após sua morte no ano de 348 3.C, Foi sem dúvida, seu maior discípulo, e tornou-se tão grande quanto seu mestre. Com a morte de Platão, foi para a Ásia Menor. Ficou tão conhecido, a ponto de Felipe da Macedônia contratá-lo Para ser patrono e mestre de seu filho, Alexandre. Alexandre cresceu e foi um dos maiores conquistadores da História, intitulado Alexandre, o Grande. Levou com sua espada a essência do Pensamento de Aristóteles, implantando-o nas regiões que conquistava. Ao Telornar a Atenas, Aristóteles fundou ali uma es cola filosófica conhecida como Peripatética, -- Peripatética — repetiu Gilberto, com ar de curiosidade, — Soa estranho, mas é isso mesmo. Vem do grego peripaletihás e quer dizer ensinar passeando pelo jardim, - Gostei, que tal aproveitar que Curitiba tem muitos parques com bolos jardins e adotarmos essa metodologia. — Não deixa de ser uma ótima idéia, Gilberto. Com a morte de seu discé pulo, as coisas ficaram ruins Para Aristótelos que nada tinha a ver como espiri- to conquistador de Alexandre. Retirou-se, porém seus pensamentos ficaram gravados para sempre, como parte da história da humanidade, Quatro séculos antes do nascimento de Cristo, Aristóteles defendia o princípio de “Divisão do Trabalho, hoje definitivamente incorporado como um dos mais importantes princípios da Administração. Defendeu ainda o que chamou de “convergência dos esforços”, que nada mais é do que o que conhecemos como unidade de di reção. Fábio levantou-se e serviu-se de café, mas não interrompeu o seu pensa- mento: = Antes de 1500, a visão de mundo que prevalecia na Idade Média (de 400 a 1400) era a visão Orgânica, ou seja, vivenciava-se uma interdependência dos fenômenos materiais e espirituais ea subordinação das necessidades indivi- duais às da comunidade. Toda a estrutura científica dessa visão orgânica de mun- do estava embasada no naturalismo de Aristóteles e na fundamentação teárica de Platão e Santo Agostinho, que consideravam mais importantes as questões Feferentes a Deus, à alma humana e à ética. Naquela época, a vida na terra na- da mais era da que um preâmbulo para a vida eterna, Assim a filosofia tinha co- mo objetivo servir de hase Para a teologia e tinha como causa a salvação da alma após a morte, isto É vivia-se a fase que se denominou tescentrismo, Gilberto mais nma vez interveio: * . , — Para o homem medieval, tudo era sagrado, pois tudo era estabelecido por Deus e cabia ao homem contemplar e compreender toda a harmonia exis- tente na natureza. Foi uma época em que se exigia muito das pessoas. — E corno exigia! - enfatizou Fábio. — Foi uma época em que sc exigia o Tespeito cego às autoridades, aus textos biblicos e aos gregos. Uma époc: de muita repressão, na qual, em termos científicos, pouco se inovou. Aquele que inovava ou discortlava dos textos bíblicos arriscava-se a morrer queimado para se redimir das bruxarias e alquimias, provenientes de sua inovação, 4, É esse o molivo por que-a fade Média foi considerada a fase negra da história do desenvolvimento humano Para esclarecer melhor, gostaria de jem- brálos que a expressão surgiu no Renascimento. Para os renascentistas, a lda- de Média teria sido uma única e longa “noite de mil anos”, que cobrira a Europa entre a Antiguidade e o Renascimento, Jane fez uma pequena pausa € com ar pensativo, continuou: — Mas, sabemos que não é bem assim. = Voçê tem razão, janc - concordou Fábio. - Houve um longo período de - declínio em todas as áreas da sociedade e do conhecimento logo depois do ano 400, é verdade, mas não há coma negar que houve alguns reais na história do desenvolvimento da humanidade. Podemos citar a constituição do sistema es colar, com o aparecimento das primeiras escolas nos conventos medievais. Não poderíamos deixar de citar ainda o tefigente c estudioso frade italiano, Paciolo, que se destacou por divulgar a contabilidade por paítidas dobradas e que viveu nessa época; portanto, podemos concluir que a Idade Média não foi tão negra assim, não é mesmo? Após tomar seu café, Fábio seguiu dizendo: = A pattir dos séculos XVI e XVII, iniciou-se uma mudança na natureza cia ciência e do pensamento medieval. A visão de um mundo orgânica, vivo e espiritual foi sendo substituída Bradativamente pela noção de um mundo má- quina, composto de objetivos distintos, em decorrência das revolucionárias mut- danças na Física e na Astronomia, ocormidas depois de Copérnico, Gulileu e Newton. A partir desse período, iniciado no século XV e que os historiadores denominaram Idade Modema, surgiu 9 Renascimento que recolocou o homem como centro do universo, período esse chamado de antropocentrismo. — Com o Renascimento, o comércio começou a tornar força e com cte surgiram as grandes companhias de navegação, caracterizando-se pelos desco- brimentos marítimos e, como consegiiência, o apogeu do mercantifismo, do ra- cionalismo e o advento da experimentação científica. - É verdade, Ricardo, de acordo com esse modelo de ciência, o homem, senhor do mundo, podia transformar a natureza, explorá-la, c ela deveria servi- to, fazer-se escrava e obedecer Sai o conceito de terra como mãe nutridora e entra q conceito de natureza supridora de todos os desejos do homem. Do pon-