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CADERNO PEDAGÓGICO, Notas de aula de Construção

A linguagem é um mecanismo da atividade intelectual e uma base para o pensamento ... A escolha do método fônico se deu pela funcionalidade já demonstrada em ...

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Saloete
Saloete 🇧🇷

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CADERNO
PEDAGÓGICO
PROGRAMA DE ALFABETIZAÇÃO PARA ALUNOS COM
DÉFICIT INTELECTUAL COM ÊNFASE FONOLÓGICA E
MULTISSENSORIAL
CARLA MARIA DE SCHIPPER
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CADERNO

PEDAGÓGICO

PROGRAMA DE ALFABETIZAÇÃO PARA ALUNOS COMDÉFICIT INTELECTUAL COM ÊNFASE FONOLÓGICA E

MULTISSENSORIAL

CARLA MARIA DE SCHIPPER

CRÉDITOS:

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL- SECRETARIA DE ESTADODA EDUCAÇÃO DO PARANÁ-SEED Professor PDE

: Carla Maria de Schipper

Área PDE

: Educação Especial

NRE

: Guarapuava

Professor Orientador IES

: MS.Ana Aparecida Machado Oliveira Barby

Professor co-orientador IES

: Ms. Eglecy do Rocio Lipmann

IES vinculada

: UNICENTRO

Escola de Implementação

: Escola de Educação Especial Anne Sullivan-APAE de Guarapuava.

Público Objeto da Intervenção

: Alunos com Necessidade Educativas Especiais - Área Mental

A escolha do método fônico se deu pela funcionalidade já demonstrada em outras aplicações a alunos com dificuldades de aprendizagem. Além disto, já foi demonstrado cientificamente que o uso deste método aumenta de ativação cerebral em variadas regiões do córtex, facilitando o processo de aquisiçãoda linguagem oral e escrita deste aluno.

Outro aspecto que justifica esta pesquisa refere-se ao desconhecimento, por parte de alguns professores, das bases teóricas que respaldam as práticas de alfabetização fônica. Desta feita, esta pesquisa pretende inclusive, servir de fonte bibliográfica aos profissionais que sentirem necessidade de elementosconceituais e metodológicos sobre o tema.

Logo, os objetivos deste trabalho estão voltados à aplicação de um programa de alfabetização de relação sonora, fonêmica, motora e sensorial ao aluno com idade propícia para a alfabetização da Escola de Educação Especial Anne Sullivan, mantida pela APAE e localizada na cidade de Guarapuava.

Como suporte teórico facilitador da compreensão dos mecanismos de aquisição da linguagem oral e escrita escolheu-se a base teórica de Vygotsky, em virtude da consistência de suas pesquisas na área e das suas contribuições para os estudos da linguagem da pessoa com déficit intelectual.

À medida que o trabalho propõe-se a descrever o método de alfabetização de eixo fonológico e multissensorial, imperativo se torna descrever as vias neurais do processamento da linguagem que contribuem para a distinção da rota de aquisição da linguagem a nível cognitivo. Para atingir este fim utiliza-seos pressupostos particulares da teoria de processamento da informação e mais abrangentes da neuropsicologia.

A aplicação deste programa somará

estratégias que garantam o sentido de significação e de contextualização com a realidade do aluno e que

valorizem a sua participação e a interação social. O discurso em sala de aula não será constituído por frases, palavras isoladas mas em textos encadeados porconteúdos significativos.

A aplicação do programa ocorrerá de fevereiro a julho de 2009, em sessões de 50 minutos , 3 vezes por semana. O grupo de trabalho constitui-se de 6 alunos. As intervenções foram estruturadas através da proposição de seqüências didáticas temáticas utilizando-se recursos coadjuvantes como jogos,músicas, softwares pedagógicos, e, principalmente, a literatura e as artes. Estas sessões são constituídas de apresentação das letras ou palavras, audição detextos literários, atividades de consciência fonológica, de discriminação visual, motoras e fono-articulatórias.

Serão mobilizadas atividades que propiciem condições cinestésicas para o amadurecimento anatomofisiológico da escrita, pois ela é uma forma de

representação e notação da fala. Além disso, será investida muita energia em atividades de desenvolvimento das singularidades da fala e da competênciacomunicativa como qualidades musicais, expressivas e de entonação da fala oral. Para atingir essas áreas serão utilizados exercícios de experimentação esensibilização estética como estímulos fundamentais ao processo da alfabetização.

O caderno apresenta inicialmente os devidos recortes das teorias basilares deste projeto de intervenção, sendo: idéias de Vygotsky sobre a educação especial e sobre o aluno com déficit intelectual; seus aportes sobre o desenvolvimento

da linguagem do aluno com déficit intelectual;

as vias neurais de

processamento da linguagem; os métodos fonológicos; os estágios de aquisição da leitura e escrita nesta perspectiva e a proposta multissensorial, queabrange conceitos do exercício estético e estésico. Estesia, ao contrário, de anestesia significa acordar sensivelmente, estar atento a todas as percepções eleituras possíveis de uma sensação e ela é fundamental para a alfabetização.

Adentrando o campo prático deste trabalho detalha-se as provas que foram utilizadas previamente para avaliar o desenvolvimento da competência da leitura e para localizar o estágio de aquisição da linguagem oral e escrita em que se encontravam os alunos no início do programa, sendo: teste decompetência de leitura de palavras e prova de consciência fonológica, ambos resultantes do trabalho se pesquisa de Capovilla e Capovilla.

Em seguida apresenta-se o mapa de trabalho que detalha a metodologia, a estrutura, o perfil dos alunos pesquisados e as atividades pedagógicas que serão realizadas. Duas seqüências didáticas são demonstradas como suporte ao professor que desejar aplicar o modelo. Estas contemplam os níveis deaquisição da linguagem escrita logográfico e alfabético. Concluindo os componentes práticos oferece-se sugestões de livros infantis, jogos, softwares, sites elivros de apoio ao professor para criação de suas próprias seqüências didáticas. Finalizando o trabalho, apresentam-se as referências que serviram de alicerceà construção deste caderno pedagógico.

O programa de intervenção pedagógica, ora apresentado, foi concebido sobre a crença de que a alfabetização deve ser um processo estruturado e organizado, no entanto sem perder de vista a essencialidade criativa e lúdica. A idealização deste programa só foi possível graças às importantescontribuições dos teóricos que sustentaram este trabalho. Coube a esta pesquisadora o papel de organizadora, tendo em vista os objetivos aos quais se destinaa produção: o suporte aos atuais e futuros professores das escolas de educação especial paranaense.

TEORIAS

BASILARES

1-CONSELHOS DE VYGOTSKY AOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

Vygotsky foi um dos principais estudiosos de sua época a preocupar-se com o caráter psicológico e desenvolvimentista de crianças com Necessidades Educativas Especiais (N.E.E.). O autor concebia o processo educacional subordinado ao social, desta feita, censurava o destino de isolamento, segregação eo caráter eminentemente assistencial imposto ao sujeito com alguma deficiência, principalmente no ocidente. Acreditava que a educação especial deveriapensar a vida social ativa da criança

Outro ponto admirável, considerando os padrões científicos vigentes em sua época, foi a insistência em considerar o sentido de igualdade entre as crianças, defendendo que: “ em essência, entre as crianças normais e anormais não há diferença”. ( VALDÉS, 2003, p. 47)

Pensando na participação social ativa da pessoa com N.E.E., Vygotsky, buscava convencer a comunidade científica de sua época a perceber a relevância de se considerar as influências sociais e culturais em contraponto à busca reducionista da visão biológica. Apreciava a intervenção educacionalque buscasse enfatizar o aspecto social e psicológico da criança com N.E.E. “ Ao se opor a colocação biológica das deficiências em favor de suaconsideração social, Vygotsky (1989) propõe que se abandone a lenda e a crença popular da compensação biológica dos defeitos corporais...”( VALDÉS,2003, p. 47)

Essas reflexões têm ocorrido na atualidade e ainda não foram totalmente superadas, fala-se em inclusão educacional, no entanto, ainda carrega-se o forte estigma do caráter médico e biológico da deficiência, pensando-se o processo educativo a partir da reabilitação da lesão. Normalmente caracteriza-se acriança com deficiência comparando-a com outras. É recorrente o uso de tabelas de desenvolvimento normal que situam o nível cognitivo e motor da criançacom N.E.E. para assim oferecer o prognóstico e prescrever o atendimento educativo e reabilitativo.

Esse formato de se conceber a educação especial pode carregar um sentido de inadaptação. Aquele que desvia-se do padrão pode ser considerado por alguns como desajustado e encontrar-se à margem do modelo majoritário determinado pela cultura da qual a criança faz parte.

Vygotsky opunha-se a esse modelo homogeneizante, inclusive afirmava que a criança, por não estar situada nas linhas da normalidade estabelecida, não poderia ser considerada “menos desenvolvida”, dever-se-ia perceber sim, a singularidade específica dessa criança, inclusive ele afirmava que “ a criançacujo desenvolvimento se há complicado por um defeito, não é simplesmente menos desenvolvida que seus coetáneos normais, é uma criança desenvolvida de

Considerando que, segundo Vygotsky, a aprendizagem conduz ao desenvolvimento, salutar se torna a escola instrumentalizar-se para proporcionar um ambiente acolhedor, estruturado e centralizado na aprendizagem. Necessita possibilitar o desenvolvimento do potencial do aluno estimulando amanifestação da individualidade de cada um administrando-as adequadamente e, principalmente, estudar diferentes possibilidades técnicas para estimulartodas as dimensões de sua inteligência.

Deve-se lembrar ainda que participar de um processo educativo extrapola a aquisição de conhecimento acadêmico.

Freqüentar a escola deve

significar ao indivíduo a possibilidade de encontro de um sentido particular às suas vivências experimentando uma dimensão social da qual necessita paradesenvolver-se como ser ativo e atuante. 2- DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM

A linguagem tem a função de possibilitar o pensamento e permitir a comunicação ampla desse pensamento. É pela posse e pelo uso da linguagem, falando oralmente ao próximo ou mentalmente a si mesmo, que se consegue organizar o pensamento e torná-lo articulado com encadeamento, seqüência eclareza. Com base nos estudos lingüísticos, a linguagem, quer oral, quer escrita, constitui um todo em que as palavras se estruturam em frases, onde há umarelação de dependência significativa, formando uma seqüência de fatos.

Este caderno pedagógico sustenta-se nas teorias basilares de Vygotsky, pois este teórico imprimiu especial importância à linguagem. Segundo ele, a linguagem causa três mudanças fundamentais no psiquismo humano: permite ao homem lidar com o objeto do mundo exterior mesmo na ausência dele;permite um processo de abstração, generalização e análise e possibilita ao homem preservar, transmitir e assimilar as experiências e informações acumuladaspela humanidade ao longo de sua história.

A linguagem escrita é um processo que ativa o desenvolvimento psico-intelectual causando mudanças radicais nas crianças. Promove modos diferentes e ainda mais abstratos de pensar e de se relacionar com as pessoas e com o conhecimento.

Para Vygotsky, existem diferenças entre a linguagem oral e escrita. Na linguagem oral o pensamento reflete-se em musicalidade, sonoridade,

corporeidade, visualidade, expressão e entonação. Na linguagem escrita o pensamento reflete-se em imagens. Na oralidade o discurso é dialético, ou seja, hápossibilidade de discussão. Na escrita o interlocutor está ausente. A escrita exige análise deliberada e consciência da estrutura dos signos enquanto naoralidade ela é mais informal.

Isso reflete a maior complexidade na composição da linguagem escrita, pois deve-se tomar consciência da estrutura sonora da palavra, dissecá-la e reproduzi-la em símbolos alfabéticos, memorizados e estruturados antecipadamente. Na linguagem oral não há muita exigência cognitiva.

No que se refere à aquisição e desenvolvimento da linguagem infantil o autor realizou estudos importantes embasado nas experiências de Koehler com macacos antropóides. Realizando comparações com as crianças em fase inicial da fala, estes experimentos e análises possibilitaram concluir que, nodesenvolvimento infantil, o pensamento e a fala têm raízes diferentes e que ocorre na fala da criança um estágio pré-intelectual e consequentemente nodesenvolvimento do pensamento um estágio pré-linguístico. Num determinado momento essas duas linhas se encontram e o pensamento torna-se verbal e afala racional, quando há o domínio do significado.( VYGOTSKY, 2005, p.54)

Na fase pré-lingüística a criança experimenta o mundo e inicia o estabelecimento de uma comunicação através do choro e do balbucio que são suas primeiras manifestações de comunicação, motivada puramente por comportamento emocional e satisfação de necessidades primárias, ainda não há relaçãocom o pensamento.

A fase pré-verbal no desenvolvimento do pensamento e pré-intelectual no desenvolvimento da linguagem pode ser entendida pelo exemplo exposto por OLIVEIRA, 1995, P.46:”Antes de dominar a linguagem, a criança demonstra capacidade de resolver problemas práticos, de utilizar instrumentos e meiosindiretos para conseguir determinados objetivos. Ela é capaz, por exemplo, de subir numa cadeira para alcançar um brinquedo.” Isso demonstra que a criançapossui uma inteligência prática que permite que ela atue sobre o meio sem a necessidade da verbalização, apenas com o uso de instrumentos

.

No entanto, as funções sociais da fala manifestam-se muito cedo quando a criança reage positivamente a estímulos de seus familiares como busca de um alívio emocional ou para estabelecer uma relação social, demonstrando uma “ pré-intelectualidade no desenvolvimento da fala”.( VYGOTSKY, 2005,p.53) Ocorre então, mais ou menos aos dois anos de idade, a união do pensamento e da fala, que até então encontravam-se separadas, dando início a umanova forma de comportamento.

A criança não aprende a escrita, complexo sistema de signos, através de atividades mecânicas e externas aprendidas na escola. O seu domínio da escrita resultade um longo processo de desenvolvimento de funções comportamentais complexas, no qual participa e atua e que leva para a sala de aula. (VYGOTSKY-1984)

Isso demonstra que ao se aprender o processo formal de alfabetização a criança inicia esta ação muito antes. Ao realizar gestos, brincadeiras quando muito pequena, ela simboliza as suas vivências, sendo um “

start up

” para a aprendizagem da oralidade e da escrita.

As discussões de Vygotsky acerca da aquisição e desenvolvimento da linguagem oral e escrita ampliam-se, pois o autor, além do exposto, interessou- se em conceber as raízes genéticas do pensamento e da linguagem, no estudo da formação de conceitos pelas crianças, no desenvolvimento dos conceitoscientíficos na vida e na escola e na relação entre pensamento e palavra. O aprofundamento destas questões permitirão uma ampliação no entendimento dasformas como a criança constrói sua relação com a cultura letrada e como os professores poderão interferir positivamente neste processo.

A aprendizagem ocorre quando há inclusão de novos conhecimentos, valores e habilidades que são próprias da cultura e da sociedade. Pois ela nada mais é do que o produto da educação que outros indivíduos projetaram.

Não se deve subordinar a aprendizagem ao desenvolvimento. Primeiro se desenvolve uma série de capacidades cognitivas e depois se pode iniciar o ensino de conceitos que envolvam estas capacidades. Segundo Vygotsky, para que possa haver desenvolvimento é necessário que se produza uma série deaprendizagens, que são uma condição prévia. A aprendizagem na interação com outras pessoas oferece a possibilidade ao indivíduo de avançar em seudesenvolvimento psicológico. 3- VIAS NEURAIS DE PROCESSAMENTO DA LINGUAGEM.

A comunicação se estabelece através do desenvolvimento de três aspectos: inicialmente o eixo fonológico, que engloba o conjunto de traços distintivos (traço de sonoridade, traço de nasalidade, ponto e modo de articulação) que vão resultar nos fonemas, que são unidades distintivas do

vocábulo. Em seguida o eixo sintático e semântico respondem pela estruturação frasal e significado dos vocábulos, respectivamente. A sintaxe ocupa-se coma disposição gramatical das palavras para formar os discursos e a semântica preocupa-se com o sentido das palavras.

Assim, o eixo fonológico, sintático e semântico estão associados, já que, para a comunicação necessita-se ter uma imagem acústica e/ou articulatória, ou seja, um significante (fonologia), associado a um significado (semântico) e ambos combinados em estruturas gramaticais (sintaxe).

A linguagem é constituída de um conjunto de signos e de regras de combinação desses signos que constituem a linguagem oral ou escrita da coletividade. O signo lingüístico é a associação de um

significante –

sons da fala, imagem gráfica, desenho- e um

significado –

idéia, conceito mental,

imagem mental. A ação ou a faculdade de utilização da língua denomina-se fala. A fala é a emissão de determinados sons combinados de modo a transmitirsignificações a outra pessoa.

A fala é a realização individual da língua. Cada indivíduo tem um estilo próprio. Através dela é possível comunicar determinados sons combinados de modo a transmitir significações à outra pessoa. Ao produzir um discurso, deixa-se nele uma marca pessoal carregada de

ideologias, filosofias, e maneiras

particulares de encarar o mundo ou determinadas situações.

A língua é constituída de fonemas que formam a menor unidade sonora que pode provocar uma mudança de sentido em uma palavra. Os fonemas (consoantes e vogais) são produzidos por um complexo jogo de órgãos fonadores. O ar armazenado nos pulmões é expulso no decorrer da expiração: elaserve então de um circuito, onde podem produzir-se fenômenos vibratórios (cordas vocais) e fenômenos de ressonância que dependem dos obstáculosencontrados em seu trajeto. As palavras são então, umas combinações de fonemas.

A neuroanatomia divide o cérebro em áreas ou lobos, conforme exposto na figura 1, sendo eles frontal, parietal, occipital e temporal. A área temporal é responsável pela recepção auditiva, a área de Wernick pela sequencialização, a frontal é responsável pela área motora da fala e área de Broca que selocaliza no hemisfério esquerdo, responsável pela articulação da fala e memória imediata.

Simplificando, as áreas cerebrais envolvidas na linguagem seguem este caminho: Regiões superficiais do lobo temporal e profunda do lobo frontal analisam as categorias de palavras. O córtex auditivo analisa a composição fonética do texto ouvido. No hemisfério esquerdo, a sintaxe e a semântica sãoidentificadas. A elaboração prosódica ocorre no direito. Isso demonstra a bilateralidade cerebral no processo da linguagem.

Na maioria dos indivíduos, o hemisfério esquerdo é especializado na linguagem, análise lógica e dedução, programação de movimentos manuais refinados,raciocínio simbólico e abstrato e, possivelmente, na avaliação das características espaciais dos estímulos. O hemisfério direito, por outro lado, é dominante navisualização espacial, na memória para reconhecimento facial e outros estímulos complexos de difícil tradução verbal e, possivelmente, na avaliação daorganização e características espaciais dos estímulos. O hemisfério esquerdo é superior ao direito na memória para modelos temporais, enquanto o hemisfériodireito é superior ao esquerdo quanto aos modelos espaciais não-verbalizados. Em particular, o hemisfério direito é capaz de representar as ricas qualidades dasexperiências sensorial e emocional, e as complexas relações espaciais que não podem ser descritas em termos de linguagem. (BRANDÃO, 2002, P.216)

Para compreender a especificidade dos aspectos cognitivos envolvidos na linguagem, Brandão (2002) sugere o modelo de N. Geschwind (1979) que estabelece a rota das vias neurais acionadas pelo cérebro no processamento, integração e representação das informações visuais e auditivas da linguagembem como a resposta motora, este roteiro utiliza como exemplo o caminho cerebral para nomeação de um objeto:

O modelo pressupõe que nomear um objeto envolve inicialmente a transferência da informação visual da retina para o núcleo geniculado lateral, e daí para ocórtex visual primário ( área 17 de Brodmann). A informação trafega para o córtex visual secundário (área 18 de Brodmann), e então para uma região específicado córtex de associação parietotemporoccipital (o giro angular, área 39 de Brodmann), onde ocorre a associação de varias modalidades sensoriais. Do giroangular a informação, passa para a área 40 de Brodmann, na qual a percepção do meio externo é formada e onde imagens mnemônicas estão armazenadas,representando o mundo como ele é visto ou aprendido. Quando a representação do estimulo é formada, ela é transportada através do fascículo arqueado para aárea de Broca, onde a sua percepção é traduzida em uma estrutura gramatical de uma frase ou conceito

e onde a memória para a articulação de palavras está

armazenada. Para que esta informação se traduza em expressão motora, na seqüência, são ativadas as áreas do córtex motor associadas aos músculos faciais quecontrolam a articulação das palavras, que estão situadas ao lado da área de Broca.

(BRANDÃO, 2002, P.216)

Conhecendo a rota de aquisição e desenvolvimento da linguagem a nível cognitivo, importante se faz conhecer a teoria de processamento de

informação. Esta abordagem descreve o roteiro de entrada, decodificação, armazenamento, recuperação, codificação e saída de palavras.

Capovilla (2007), apresentando Morton, Ellis e Young, descreve as duas rotas de desenvolvimento da leitura sendo: processo

fonológico

ou

perilexical e processo

ideovisua

l ou lexical.

Na rota fonológica a palavra é pronunciada parte a parte, fazendo ligações entre grafemas e sons. Ainda não ocorreu a produção de sentidos. O que ocorre é que se converte sinais gráficos em sons. Segundo Capovilla ( 2007), esta rota “faz decodificação (isto é, segmentação da seqüênciaortográfica em grafemas, conversão dos grafemas em fonemas e síntese dos fonemas) de palavras novas e pouco comuns e pseudopalavras.”Pseudopalavras podem ser entendidas como aquelas visualmente irreconhecíveis e sem sentido.

Já na rota lexical a pronuncia é iniciada a partir do que já está armazenado na memória. Quando a criança entra em contato com a ortografia da palavra, ela ativa uma representação de significado antes de ativar a área fonológica, ou seja:

A rota lexical faz o processamento ideovisual direto( isto é, leitura não mediada pela fala ou imagem auditiva das palavras) e funciona melhor com palavrasmuito comuns não importando se são regulares ou não do ponto de vista grafofonêmico. Entretanto produz erros com pseudopalavras ou palavras desconhecidasou pouco comuns. (CAPOVILLA, 2007, P. 77)

Ao referir-se a processamento ideovisual o autor refere-se às imagens e símbolos. Em suma, a rota lexical faz o processamento ideovisual e a fonológica decodifica segmento a segmento.

O léxico pode ser dividido em lingüístico ou não lingüístico e visual e auditivo. O quadro abaixo ilustra esta sub-divisão:

LÉXICO SEMÂNTICO
•^

Correlaciona as informações de todos os léxicosapresentados FONTE: ELABORADO PELA AUTORA COM BASE EM CAPOVILLA E CAPOVILLA, P.77,78^ 4- MÉTODOS FONOLÓGICOS:

Alfabetizar implica em desenvolver as habilidades básicas de decodificação e codificação dos signos que constituem a linguagem oral ou escrita de um povo. Mas, além disso, a alfabetização refere-se ao desenvolvimento da sonoridade, visualidade e corporeidade.. Cabe, normalmente, à escola a funçãode encontrar estratégias adequadas ao processo de aquisição da linguagem oral e escrita e ao desenvolvimento de um sujeito multissensorial.

Desde que iniciou-se o processo formalizado de alfabetização no Brasil muitas alternativas metodológicas foram criadas visando adequar e readequar possibilidades que fossem eficientes nesse processo.

Analisando-se a história dos métodos de alfabetização aplicados no país pode-se classificá-los em duas correntes principais: sintéticos e analíticos. Seus preceitos fundamentais consistem em:

Os métodos de

orientação sintética

, referindo-se ao processo mental de combinar elementos de linguagem detalhados em unidades maiores, implicam em partir

do estudo dos elementos mais simples – a letra, o fonema, a sílaba – para chegar gradualmente à palavra, frase ou período

. Os métodos de orientação analítica,

referindo-se ao processo mental de decomposição em unidades maiores em seus elementos constitutivos, partem de estruturas globais – a palavra, a frase, oconto – esperando que os alunos cheguem ao reconhecimento das sílabas. Os últimos, os de

tendência eclética

, têm como características as atividades

simultâneas de análise e síntese, compor e decompor (ou vice e versa) no âmbito de uma lição, onde os alunos são levados a

LEÃO

Estou vendoum LEÃO!!! GRAAAUUUUUCH!! !!

analisar,comparar e sintetizar, simultaneamente, até familiarizarem com os elementos da linguagem e dominar o mecanismo da leitura. (ABUD, 1987, p.29)

A proposta deste trabalho é o aprofundamento nos princípios de abordagem fônica. Não pretende-se aqui aplicá-lo como uma volta ao passado, mas sim reinventá-lo propiciando alfabetizar os alunos construindo um caminho para o letramento. Esclarecendo a organização do método:

O método

fônico

tem como unidade central o fonema e “passou a ser adotado no lugar do alfabético na tentativa de superar a grande dificuldade existente

naquele por causa da diferença entre o nome som da letra” (RIZZO 1986, p. 07).Parte do principio de que é necessário ensinar as relações entre sons e letras,para que seja possível estabelecer relação entre a palavra escrita e a falada, sendo esse o principal objetivo do método.Seu ensino parte do mais simples para o mais complexo, ensinando primeiramente as vogais, suas formas e som, depois é ensinado as consoantes e a relaçãodelas com as vogais. O alfabeto é ensinado através de sons, que unidos a outros sons vão formando as palavras.O método fônico, assim como os anteriores possui sua vantagem, pois quando existe relação equivalente entre fonema e a escrita a aprendizagem acontece deforma rápida e satisfatória.

( COSTA E ANTUNES, 2008, p.2)

Aos alunos com obstáculos na aprendizagem, caracterizado por baixa habilidade no aprender a decodificar, memória auditiva deficitária, dificuldades em leitura ortográficas, o método fônico tem se revelado muito eficaz. Por isso há elementos indicadores de que este venha a ser igualmente ativo ao alunocom déficit intelectual. O método fônico atende

às características específicas na área de aquisição da linguagem oral e escrita destes alunos, como :

imprecisão na captação de dados, dificuldades em considerar duas ou mais fontes de informação ao mesmo tempo, disfunção de orientação viso-espacial,percepção difusa, disfunção verbal receptiva e expressiva, imaturidade lingüística, disfunções entre linguagem e memória verbal, dentre outras. Analisando-se os processos de construção da leitura e escrita:

O ato de ler põe em execução dois processos distintos, porém, inter-relacionados: o processo fisiológico (mecânico) ou percepção e discriminação dos grafemas(representação gráfica dos sons) e dos monemas (menor unidade com significado) e o processo psicológico ou atribuição de significado. Assim, um breveestudo sobre os métodos, em relação a esses processos básicos que caracterizam o ato de ler, evidencia a necessidade de um método de ensino, focalizandosimultaneamente esses dois processos. ( ABUD, 1987,p.30)