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cachorros encrenqueiros se divertem mais, Notas de estudo de Cultura

cachorros encrenqueiros se divertem mais

Tipologia: Notas de estudo

Antes de 2010

Compartilhado em 26/03/2009

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liara-francisco-bueno-6 🇧🇷

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Cachorros Encrenqueiros se

Divertem Mais

Título original Bad dogs have more fun

© 2007 by The Philadelphia Inquirer Copyright da tradução © Ediouro Publicações S.A., 2008

As histórias constantes neste livro foram originalmente escritas por John Grogan e publicadas no The Philadelphia Inquirer, que detém os direitos. Este livro foi publicado em acordo com o The Philadelphia Inquirer. John Grogan não participou desta negociação e, portanto, não recebe direitos autorais por ela.

Capa Christie & Cole/Corbis

Revisão Vanessa de Paula Rita Sorrocha

Editoração eletrônica Dany Editora Ltda.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) _____________________________________________________________________________ Grogan, John Cachorros encrenqueiros se divertem mais / John Grogan ; tradução Elvira Serapicos. — São Paulo: Ediouro, 2008.

Título original: Bad dogs have more fun. ISBN 978-85-00-02239-

  1. Contos norte-americanos I. Título.

08-00762 CDD- _____________________________________________________________________________ Índice para catálogo sistemático:

  1. Contos: Literatura norte-americana 813

Todos os direitos reservados à Ediouro Publicações S.A.

Rua Nova Jerusalém, 345 - Bonsucesso Rio de Janeiro - RJ - CEP 21042- Tel.: (21) 3882-8200 Fax: (21) 3882-8212/3882- www.ediouro.com.br

Sumário

Animais

4 DE MARÇO DE 2003
_______________________________________
O QUE É BOM PARA O GANSO? NÓS

enho conversado com os gansos nos últimos tempos. — Escutem, rapazes, qual é o problema de vocês? Será que não conseguem fazer nada melhor? Vocês não deveriam estar tomando banho de sol, em um belo campo de golfe na Flórida? Eles me olham como se eu fosse uma espécie de lunático e dizem o de sempre: ónc! Gansos do Canadá. Essas aves lindas, grandes e gordas, estão por toda parte, ornamentos onipresentes na paisagem do subúrbio. Passo por elas quando vou caminhando até o shopping, quando passo de carro pelo cemitério, quando levo meus filhos ao parquinho, quando visito os campi da faculdade e também os jardins das empresas, e quando volto para casa. Um grande grupo tomou conta do gramado diante da porta do meu escritório, e aí eles mastigam a grama congelada, ignorando as pessoas que passam a poucos passos. O que não entendo é: por que aqui? A área da grande Filadélfia tem suas virtudes, mas como recanto selvagem e cenário para aves aquáticas deve estar em último lugar da lista. Principalmente em março, com a neve, o gelo, o sal e esse mundo de gente agasalhada. Eu venho tentando fazer com que recuperem o bom senso. Mas eles escutam? Parecem até um bando de adolescentes. — Desculpem — eu digo a eles. — Se pudesse viajar para Nova Orleans de graça, vocês acham que eu estaria aqui comendo grama congelada? Hei! Vocês têm asas. Usem suas asas. Ónc!

VOEM PARA O SUL , SEUS BOBOS

— Escutem, eu vou facilitar para vocês. Vou apontar a direção e vocês voam. Não é tão complicado. O sul fica daquele lado. É só continuar em frente até chegar ao Disney World. Xô! Ónc! — Tudo bem. Se não pretendem voar para o sul no inverno, como qualquer ganso de respeito, vocês poderiam pelo menos ir para o Valley Forge ou qualquer outro espaço aberto. Quer dizer, uma zona industrial coberta de poeira ao longo do rio Schuylkill é realmente a idéia que vocês têm de diversão? Não adianta. Eles continuam a mastigar e defecar, mastigar e defecar. Eu procuro a ajuda de um profissional, apropriadamente chamado Donald Drake, especialista em vida selvagem e professor-assistente do departamento de administração da fauna selvagem da Rutgers University. — Professor Donald, antes de qualquer coisa: esse é realmente o seu nome? — Exatamente — ele garante. — Bem, poderia explicar como é que esses gansos insistem em permanecer no frio da Filadélfia, quando poderiam estar pegando sol na ilha de Hilton Head? Donald não foge da pergunta.

T

com um beagle para tentar localizar o gato em seu esconderijo. Tudo em vão. Seus donos, embora reconheçam que um felino perdido não é exatamente uma manchete, querem-no de volta, desesperadamente. Tão desesperadamente que atravessaram o Oceano Atlântico e voltaram à sua procura. A história começa em Baltimore com Rebecca Smith, babá britânica, e seu marido americano, Darrell, organizador de eventos. No começo do ano, o casal decidiu voltar à Inglaterra para ficar perto dos pais de Rebecca. Rebecca foi para a Inglaterra em janeiro, com a filha de 3 anos do casal. Darrell e Felix, o gato, seguiriam depois. Darrell conseguiu chegar; Felix, preso em uma gaiola com os dizeres "Animal Vivo", não. A U.S. Airways admite que houve um erro. Amy Kudwa, porta-voz da empresa, afirmou: "Continuamos com nossos esforços diligentes para encontrar o animal, que até agora não foi encontrado".

A ESTEIRA ERRADA

Um funcionário encarregado das bagagens deveria levar Felix a uma área de carga para que ele comesse e tomasse água enquanto aguardava a conexão. Em vez disso, um gerente de cargas disse aos Smith que o funcionário colocou por engano a gaiola de Felix em uma esteira e ele saiu passeando pela área de bagagens do aeroporto. Quando os funcionários finalmente localizaram a gaiola, a porta estava aberta e Felix havia desaparecido. — Acho simplesmente incrível que num intervalo de aproximadamente 20 minutos eles tenham perdido um gato de oito quilos — disse-me por telefone, da Inglaterra, Rebecca Smith, 34 anos. Três dias após o desaparecimento, a U.S. Airways trouxe o casal de volta para a Filadélfia, hospedando-os em um hotel, para que pudessem esquadrinhar a área de bagagens e tentar encontrar seu gato. Felix, se ainda estiver no edifício, não mordeu a isca. — A viagem foi pura perda de tempo — disse Darrell Smith. — Queremos nosso gato de volta; essa é a coisa mais importante. Mas acho que isso não vai acontecer. Já está fazendo um mês. Apesar de a companhia aérea insistir que a procura continua, a família Smith tem outra impressão. — Parece que eles não estão mais muito preocupados com esse assunto — concluiu Darrell Smith. Os Smith disseram que a empresa concordou em fazer o reembolso da passagem de Felix, no valor de 257 dólares, e que eles deveriam enviar uma cobrança pelo valor pago pelo gato. — Nós o pegamos em um abrigo quando ele tinha apenas dois meses. Em termos financeiros, o gato não tem valor — disse Rebecca Smith.

UM AMIGO LEAL

Para os Smith, no entanto, Felix é um precioso membro da família. O gato grande e preguiçoso fez companhia a Rebecca nas noites de tristeza em que sentia

saudades da Inglaterra, e se tornou companheiro constante de sua filha, Dominique. "Era como se ele a estivesse protegendo." — Se tivéssemos perdido roupas, não nos importaríamos. Você pode substituir as roupas — disse Rebecca. Então, talvez percebendo como sua preocupação com um gato poderia soar em meio às notícias com o número cada vez maior de feridos de guerra, ela acrescentou: — Você realmente não vai conseguir entender a menos que seja uma pessoa que goste de gatos. Ou pelo menos que goste de animais. Sabemos que não devemos agir assim, mas nós os tratamos como se fossem crianças, mimando-os, ficando preocupados com eles, lamentando quando morrem. O casal já começou a falar de seu bichano no passado, enquanto as relações entre o casal e a U.S. Airways fica cada vez mais tensa. Os Smith dizem que os representantes da empresa se mostram impacientes com a insistência da família em encontrar Felix. A porta-voz da empresa, Amy Kudwa, por sua vez, não fala sobre detalhes do caso, alegando temer uma ação judicial — possibilidade que os Smith negam. Na esperança de localizar seu animalzinho de sete anos, o casal pede ajuda à população da Filadélfia. Se alguém encontrar um grande gato preto com uma mancha branca no peito, por favor, telefone. Existe uma família do outro lado do oceano que o quer de novo em casa.

6 DE JANEIRO DE 2004
_______________________________________
DIZENDO ADEUS A UM COMPANHEIRO

ob o cinza do alvorecer, encontrei a pá na garagem e desci pela colina até o ponto em que o gramado encontra o bosque. Ali, sob uma cerejeira, eu comecei a cavar. A terra estava fofa e felizmente não havia congelado, assim o trabalho andou rápido. Era estranho estar ali fora sem o Marley, o labrador retriever que durante treze anos decidiu que ficaria ao meu lado todas as vezes que eu saísse pela porta, fosse para apanhar um tomate, arrancar o mato ou pegar a correspondência. E agora ali estava eu, sozinho, cavando uma cova para ele. — Jamais haverá outro cão como o Marley — disse meu pai, quando lhe dei a notícia de que eu finalmente tivera que pôr um fim à vida do velho companheiro. Foi a coisa mais próxima de um elogio que o nosso cachorro recebeu. Ninguém jamais dissera que ele era um grande cão — ou mesmo um bom cão. Ele era tão selvagem quanto um banshee e forte como um touro. Passou a vida dando trombadas com um prazer normalmente associado aos desastres naturais. Nunca soube de outro cão que tenha conseguido ser expulso da escola de treinamento. Marley mastigava poltronas, destruía telas, babava, revirava latas de lixo. Era tão grande que conseguia comer da mesa da cozinha com as quatro patas plantadas no chão — e fazia isso sempre que não estávamos olhando. Marley destruiu mais colchões e esburacou mais paredes de gesso do que consigo lembrar, quase sempre devido ao pavor que sentia de seus inimigos mortais: os trovões.

S

Mas quando fiquei alguns minutos com ele antes da médica voltar, pensei nos treze anos — nos móveis destruídos e nas travessuras idiotas; nos beijos molhados e na profunda devoção. Tudo somado, não fora uma jornada ruim. Eu não queria que ele deixasse este mundo acreditando que deixara uma impressão ruim. Encostei minha testa na dele e disse: Marley, você é um grande cão.

13 DE JANEIRO DE 2004
_______________________________________
ELES SÃO ENCRENQUEIROS, E MESMO
ASSIM NÓS OS AMAMOS

apaz, e eu que pensava que meu cachorro era encrenqueiro. Desde que publiquei uma despedida para meu companheiro de treze anos, Marley, o neurótico e incorrigível labrador retriever, meu correio eletrônico mais parece um programa de TV: "Cachorros encrenqueiros — e os humanos que os adoram". Durante a semana que passou após minha crônica sobre a morte de Marley, recebi centenas de correspondências de donos de animais de estimação. Eles me enviaram suas condolências (obrigado a todos). Mas queriam principalmente discutir a exatidão das minhas palavras. Agora sei que errei ao classificar Marley como a criatura mais encrenqueira do mundo. Uma das respostas típicas dizia mais ou menos o seguinte: "o seu cachorro não pode ter sido o pior, porque o MEU é muito pior". E para provar esse ponto de vista todos me forneceram narrativas detalhadas sobre sofás retalhados, armários invadidos e ataques-surpresa cheios de baba. Por estranho que pareça, praticamente todas as histórias envolviam grandes retrievers, como Marley. Sandy Chanoff, de Abington, contou: "Alex era o que chamávamos de 'labrador animado' com um pouco de déficit de atenção. Ele comeu quase todos os meus sapatos de couro, livros e até o carpete. Sempre nos recebia na porta com alguma coisa na boca, e ficava pulando como se não nos visse há anos. Com o rabo ele derrubava tudo o que estivesse em cima da mesinha de centro. A propósito: nós também fomos expulsos do curso de treinamento". Vocês também, hãn?

I NVEJA DO DIPLOMA

Gracie, uma golden retriever que pertence a Lynne Major e Lynn Lampman, de Drexel Hill, conseguiu conquistar o diploma — e ficou tão excitada que se pôs a pular até destruí-lo. Lynne disse: "Ela é adorável, mas também é meio maluquinha". Lois Finegan, de Upper Darby, afirmou que meu vira-lata maníaco não tinha nada da síndrome de ansiedade-separação de sua labrador, Gypsy "Ela era um terror, mordendo as cortinas e as argolas, portas, tapetes, plantas e até a persiana de uma janela." Outras pessoas falaram de seus cães devorando toalhas de praia, esponjas, areia sanitária e até um anel de diamante (o que definitivamente vai além do gosto de Marley por correntes de ouro).

R

Mike Casey, de Pottstown, supera todos eles. Ele disse que seu falecido cachorro, Jason, uma mistura de setter irlandês com retriever, certa vez engoliu o tubo de mais de um metro de um aspirador de pó inteirinho — de uma só vez. Elyssa Burke, de West Goshen, ficou apavorada quando seu cão, Mo (sim, outro labrador extremamente inteligente!), decidiu sair de casa atravessando uma janela do segundo andar. Mo sobreviveu à queda, aparentemente bastante satisfeito com a nova saída que havia acabado de encontrar. "Ele aterrissou em um arbusto, o que amorteceu a queda", Elyssa explicou. Nancy Williams recortou minha coluna a respeito do Marley porque lembrava sua incontrolável retriever, Gracie. Ela escreveu: "Deixei o artigo na mesa da cozinha e fui guardar a tesoura. Quando voltei, Gracie tinha comido o pedaço de jornal". Considero isso um cumprimento.

AFUNDADO ATÉ os JOELHOS NO CONCRETO

Rene Wick, de Havertown, tem um "labrador amarelo que não bate bem da cabeça chamado Clancy", que decidiu impressionar o vizinho fazendo uma visita à obra que tinha começado em sua casa. "Clancy pulou a cerca e caiu direto até os joelhos no cimento fresco", escreveu Rene. E também temos Haydon, o labrador castanho que engoliu um tubo de Superbonder. "Mas seu melhor momento", diz sua dona, Carolyn Etherington, de Jamison, "foi quando ele arrancou o batente da porta da garagem depois que eu ingenuamente deixei a coleira presa ali". Ela acrescenta: "Naquela época, o telefone do veterinário precisava estar sempre à mão para as emergências". Tim Manning, de Yardley, acreditou que enganara seu labrador amarelo, Ralph, colocando um enfeite de chocolate em lugar seguro no alto da geladeira. "Ralph descobriu como abrir a gaveta de um armário que ficava ao lado da geladeira e a usou como escada", escreveu Tim. "Percebemos que ele havia feito isso quando vimos as toalhas que estavam na gaveta espalhadas pelo chão, e o chocolate foi devorado ali mesmo, no alto da geladeira". Todas essas histórias suscitam a pergunta que qualquer pessoa em sã consciência deve estar se fazendo: se os animais de estimação dão tanta dor de cabeça, por que ter um? Como diz Sharon Durivage, de Yardley: "Eles nos dão seu amor e lealdade espontaneamente e sempre nos perdoam pelos dias ruins e pelo mau humor".

21 DE SETEMBRO DE 2004
_______________________________________
ABRIGO EM MEDIA BRINCA
COM SUA MISSÃO

uem disse que é vida de cachorro? Para os cães — e gatos — da SPCA do

Qmunicípio de Delaware a vida não é bem assim.

REDEFININDO " HUMANO "

Uma mulher de Collingdale levou para casa um cachorro com traqueobronquite, vermes e má nutrição. "Dava para contar as costelas em seu corpo", disse a dona para Barbara Boyer. Isso é o que se espera encontrar em um filhote de abrigo de fundo de quintal, não de um grupo de pessoas bem-intencionadas que usam as palavras "prevenção da crueldade" em seu nome. Os voluntários abandonaram as atividades, revoltados. Os veterinários esporádicos reclamaram das condições. O Estado diz que irá investigar. Mesmo assim, a diretoria insiste, defendendo sua incompetência e apegando-se aos seus miseráveis métodos raquíticos. Quando um ex-membro da diretoria da SPCA, Joseph P. Boyle, tentou melhorar as condições no abrigo, foi obrigado a sair. Ele disse a Barbara Boyle que cães doentes, apesar de poderem ser tratados, costumavam ser sacrificados porque a morte era menos dispendiosa que os remédios. O que está acontecendo aqui? Alguns defensores dos animais fizeram uma petição para substituir todos os 13 membros da diretoria do abrigo, e isso é bom. Talvez uma mudança completa na liderança seja necessária para recolocar o abrigo para animais novamente nos trilhos. Entrementes, os membros da diretoria atual precisam colocar lembretes na própria testa com os dizeres: "Trata-se de evitar a crueldade, estúpido".

6 DE JUNHO DE 2005
_______________________________________
GENTE QUE ADORA ANIMAIS?
NÃO, APENAS INFRATORES

região norte de Bucks County ainda guarda vestígios de uma época anterior, mais simples. As vacas se alimentando no pasto; tratores roncando pelas alamedas do campo; grandes extensões de terras cultivadas, milhares de acres estendo-se até a linha do horizonte, uma colcha de retalhos marrons, verdes e dourados. É um lugar onde os silos ainda superam em número as torres de telefonia celular, e onde casas feitas de pedra ainda são ocupadas por fazendeiros com arados, e não investidores com suas BMW. Um cenário bastante improvável para um ousado ataque terrorista. Mas foi ali, em meio à tranqüilidade pastoril da vida rural, em Richland Township, que os terroristas atacaram. Não homens-bomba ou membros da al-Qaeda, mas ativistas dos direitos dos animais. Sua causa: evitar que os animais sejam usados em pesquisas médicas. As vítimas inocentes da sua carnificina: as plantas. Mais especificamente: peônias chinesas, muitas delas raras e caríssimas, todas elas belezas sublimes. Saio com o carro da Route 212 para entrar na fazenda conhecida como Peony Land (Terra da Peônia) e a primeira coisa que noto são as plantas florescendo em

A

fileiras até perder de vista. Sua fragrância toma conta do ar; suas cores vivas cobrem os campos como as tintas a óleo da paleta de um artista.

UMA GRANDE IRONIA

Logo em seguida, noto as obscenidades rabiscadas com tinta spray no celeiro da fazenda. "[Palavrão] com primatas, e nós vamos [palavrão]", diz uma delas. Os vândalos usaram as iniciais FLA, da Frente de Libertação Animal. Os destinatários das mensagens são o dono da Peony Land, Michael Hsu, e seus pais, Chao e Susan Hsu, que planejavam construir um canil na propriedade de 47 acres para abrigar até 1500 macacos para pesquisas médicas. Os vândalos derramaram solventes em dois carros e pintaram com tinta spray várias construções da propriedade. Mas o que deixou a família Hsu de coração partido foram as plantas. Os vândalos destruíram e esmagaram centenas de peônias delicadas e caras que estavam em uma estufa. — Eu não acreditava que as pessoas pudessem fazer uma coisa dessas — disse Michael Hsu. — Pintar os prédios com tinta spray e fazer pichações é uma coisa, mas... essas plantas. Elas não têm nada que ver com nossa proposta. Tenho certeza de que os criminosos que destruíram Peony Land não pretendiam isso, mas o que deixaram foi uma grande ironia — a destruição injustificável e indiscriminada de uma espécie viva para salvar outra. Mate uma planta, salve um primata. A fauna é importante; a flora, aparentemente, não. Isso faz sentido para uma mente transtornada. Outra ironia: os primatas que os Hsu planejavam importar desempenhariam papel importante nas pesquisas que algum dia levariam à cura de flagelos mortais como a AIDS e o câncer. Poderiam ajudar na luta contra o bioterrorismo. Ou, como diz Michael Hsu, poderiam ajudar a "prolongar e mesmo salvar a vida de milhões de pessoas".

TÁTICAS CRIMINOSAS

Para os extremistas mascarados de protetores dos animais isso não é suficiente, mesmo que os macacos recebam tratamento humano, como Michael insiste que receberiam. Em uma mensagem colocada na Internet, um grupo que reivindicava a responsabilidade pelos atos de vandalismo em Peony Land usou os métodos favoritos dos criminosos, terroristas e infratores de todo tipo — a intimidação. "Desistam dos planos de fazer uma prisão para os primatas ou vamos transformar a vida de vocês num inferno", diz a mensagem. "Se decidirem continuar com esse plano, iremos destruir o seu negócio e destruiremos a vida de vocês." Michael Hsu insiste que, por uma coincidência infeliz, a família desistiu de se habilitar a abrigar os macacos em sua fazenda. Essa decisão, disse Michael, nada tem que ver com as ameaças, mas simplesmente porque ele percebeu que a proposta não atenderia as necessidades de espaço da cidade. Talvez seja verdade, mas ele e eu sabemos que os criminosos que o atacaram agora estão cantando vitória.

Os cães eram algo que merecia ser contemplado. Postavam-se em formação impecável, o nariz a poucos centímetros da cauda do animal à sua frente. Nenhum deles se mexia. Nenhum empurrão, nada de cheirar o traseiro, pular no ar como se tivessem molas invisíveis nas patas. Nenhuma tentativa de estabelecer qualquer relação íntima. Nada de dançar com duas patas. Era como se eu estivesse vendo robôs cobertos de pêlo programados para um concurso de boas maneiras. Afinal, quem seria o patrocinador oficial da exposição? Algum fabricante de Prozac para filhotes? Como presidente não oficial e líder espiritual dos Donos de Cachorros Problemáticos dos Estados Unidos, confesso que senti um pouco de inveja profissional. Não pude evitar pensar que o meu falecido e não-tão-grande labrador retriever, Marley, teria tomado a competição de assalto, começando pela toalha da mesa dos juízes.

COMANDOS OPCIONAIS

A atual labradora-residente da casa dos Grogan acha que "Venha!" é uma sugestão que ela aceita levar em consideração para depois nos dizer o que pensa. Ela nunca deparou com uma folha que não merecesse seus latidos até ficar rouca. Todos os cães têm seus pontos fortes, e o dom único de Gracie é sua coordenação olho-língua. Graças a isso ela consegue lamber o ar e bater com o focinho em nossos rostos no momento exato em que estamos abrindo a boca para falar e com isso enfiar a língua onde nenhuma língua canina jamais deveria entrar. Tenho a impressão de que fui até a exposição esperando encontrar algo que me fizesse sentir que até cachorros premiados tinham alguma coisa em comum com meus rejeitados em escolas de treinamento de cães. Examinei atentamente os concorrentes para ver se encontrava alguma falha sob o exterior brilhante. Vamos lá, eu pedia em silêncio, deixe escapar um fiozinho de baba. Nada. Eles trotavam; empinavam; posavam, sem perder o ritmo. Reparei em um poodle, tão imóvel e perfeitamente arrumado, que precisei olhar duas vezes para ter certeza de que não era um animal empalhado. — Isso não está certo — eu disse. Por mais que invejasse aqueles über-animais, eu sabia que a vida para eles, como para todos nós, é feita de escolhas. Os bons cachorros ganham todos os prêmios, é verdade. Mas os encrenqueiros se divertem mais.

31 DE JANEIRO DE 2006
_______________________________________
MARLEY & EU — A VERDADEIRA HISTÓRIA

iante do escândalo envolvendo o autor James Frey, que agora admite ter inserido inverdades e cometido exageros em seu livro de memórias propositalmente não fictícias, A Million Little Pieces, o site SmokingCanine.com iniciou uma investigação sobre outro livro de memórias que também está no topo das listas de mais vendidos. Nós agora trazemos para vocês essa

D

revelação chocante: FILADÉLFIA — Surgiram evidências confiáveis indicando que John Grogan, colunista do Inquirer, talvez tenha exagerado bastante as travessuras de seu agora famoso labrador retriever Marley. Em seu livro de memórias, "Marley & Eu — a vida e o amor ao lado do pior cão do mundo", Grogan retrata seu agora falecido animal de estimação como incorrigível, neurótico, mal educado, flatulento e sentimental. Mas uma investigação do SmokingCanine revelou que as evidências são insuficientes para sustentar retrato tão desfavorável. Uma antiga vizinha, Betty Barcalot, disse ao SmokingCanine: "Marley era um ótimo cachorro. Eu vi quando ele se atirou no meio dos carros para salvar um chihuahua". Mas isso está no livro? Uma antiga babá acrescentou: "Sim, havia muitos estragos na casa, mas deveriam perguntar ao sr. Grogan como isso aconteceu. Só posso dizer que um proprietário incompetente com ferramentas poderosas pode ser muito perigoso".

PICARETAS DE GELO E BABA

Relatos informando que Grogan talvez tenha usado uma picareta de gelo para estragar intencionalmente a madeira de sua casa na tentativa de responsabilizar Marley não puderam ser confirmados. Até mesmo a esposa de Grogan, Jenny, procurou ficar distante do livro, dizendo: "Francamente, se alguém tinha algum problema com baba, era meu marido". Grogan agora admite que a quantidade de saliva produzida pelo animal foi exagerada. "Juro que parecia jorrar em litros na época", ele disse, em uma breve entrevista. O livro de Grogan dizia que Marley "perseguiu seu próprio rabo até o dia em que morreu". Mas o veterinário da família, Andover Yorecash, disse que essa afirmação é "absurda... absolutamente risível". Ele acrescentou: "Nas diversas ocasiões em que Marley veio ao consultório para que extraíssemos de seu estômago algum objeto da casa, jamais o vi correndo atrás do próprio rabo". Em um parque para cachorros que Marley costumava freqüentar, um rottweiler que disse se chamar apenas "Fritz" falou que o livro todo é um exagero grosseiro. Falando através de um intérprete, ele rosnou: "Nunca vi o Marley cheirar o traseiro de um poodle. E mesmo que tivesse feito isso, qual é o problema?" Fritz acrescentou: "Eu conhecia Marley. Marley era meu amigo. O personagem desse livro não é Marley". Duquesa, uma corgi que chegou a ter um relacionamento romântico com o labrador amarelo, acrescentou: "Grogan exagerou o comportamento maluco do Marley, mas não havia nada de especial. Alô! Ele era um labrador macho. São todos desse jeito". O SmokingCanine descobriu que centenas de proprietários de cães labrador retriever questionam o título de "pior cão do mundo".