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Brás, Bexiga e Barra Funda: Representações da Comunidade Italo-Brasileira em São Paulo, Esquemas de Direito

Este texto explora a imigração italiana em são paulo, especificamente no contexto dos bairros de brás, bexiga e barra funda. O autor, antônio de alcântara machado, apresenta três artistas que retrataram a comunidade italiana crescente na cidade: voltolino, juó bananére e alcântara machado. O texto oferece informações biográficas sobre o autor e suas obras, incluindo brás, bexiga e barra funda.

Tipologia: Esquemas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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Picapal_amarelo 🇧🇷

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Brás, Bexiga e Barra Funda
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Baixe Brás, Bexiga e Barra Funda: Representações da Comunidade Italo-Brasileira em São Paulo e outras Esquemas em PDF para Direito, somente na Docsity!

Brás, Bexiga e Barra Funda

Diagramação, revisão e capa: Francisco Achcar.

ÍNDICE

 - Apresentação - ARTIGO DE FUNDO - GAETANINHO - CARMELA - TIRO-DE-GUERRA N.º - AMOR E SANGUE - A SOCIEDADE - LISETTA - CORINTHIANS (2) VS. PALESTRA (1) 
  • NOTAS BIOGRÁFICAS DO NOVO DEPUTADO - O MONSTRO DE RODAS
    • ARMAZÉM PROGRESSO DE SÃO PAULO - NACIONALIDADE

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A PRESENTAÇÃO

Francisco Achcar

O contexto

Em seus aspectos econômicos, sociais e culturais, a imigração italiana foi um fenômeno de grandes proporções, no Brasil e especialmente em São Paulo. Neste estado, os italianos, já em 1900, representavam 16% da população. Eles se encami- nharam, inicialmente, para as fazendas de café do interior; depois se concentrariam em cada vez maior número na capital do estado, especialmente nos bairros do Brás, Bexiga e Barra Funda. Destes bairros, espalharam-se por toda a cidade e quase nada deixou de sofrer sua influência. Um dos aspectos centrais do influxo cultural italiano se nota na língua, no que se pode chamar o dialeto paulista, que apresenta italianismos de todo o tipo, no vocabulário, na sintaxe e na fonética. Esses italianismos de tal forma se generalizaram, que aparecem na linguagem de pessoas de todas as classes sociais, independentemente de terem origem italiana. A sociedade paulista mais tradicional reagiu aos italianos com o preconceito que se exprimia já no termo pejorativo com que eram tratados: carcamanos. A atitude preconceituosa era não apenas resultado da aversão ao imigrante; era, mais ainda, uma atitude de defesa. A aversão seria em parte superada e em muitos casos substituída por atração e fascínio; a defesa foi-se mostrando inútil e deu lugar, não poucas vezes, a associações enriquecedoras, tanto em casamentos, quanto em negócios. Três artistas voltaram-se para a representação do universo

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ítalo-brasileiro, que mais e mais tomava vulto em São Paulo: o caricaturista Voltolino, o satirista Juó Bananére e o contista Alcântara Machado. Voltolino (um dos dedicatários de Brás, Bexiga e Barra Funda), que se chamava Lemmo Lemmi, era o único ítalo-brasileiro dos três. Juó Bananére, que se apresentava como “barbiere e giornalista” e escrevia crônicas e poemas em linguagem “macarrônica” (isto é, com mistura de línguas; no caso, o português e o italiano), era na verdade Alexandre Marcondes Machado, um estudante de engenharia de família tradicional, “quatrocentona”. Sua mais importante produção é uma coleção de paródias de poemas famosos da literatura brasileira, La Divina Increnca (1924). Bananére foi um libertário, tanto na defesa bem-humorada do universo “carca- mano” contra os preconceitos de sua classe (a pretensa aristo- cracia paulista), quanto no inconformismo político (Otto Maria Carpeaux o chamou “uma voz da democracia paulista”) e na atitude irreverente em relação à literatura consagrada (por aí, pode-se associá-lo à renovação modernista). Quanto a Alcântara Machado, também oriundo de família tradicional (teria sido ele, ao que parece, o criador da expressão “paulista de quatrocentos anos”), foi do interior do movimento modernista que ele lançou seus olhos e a sua compreensão de artista para aquele mundo novo que se criava em São Paulo.

O autor

Antônio Castilho de Alcântara Machado d'Oliveira nasceu em São Paulo, em 1901, numa família de antigos participantes das campanhas do Império, juristas, senadores e professores. Iniciou-se como escritor publicando em jornal artigos de crítica literária e depois teatral. Em seu livro de estréia, Pathé-Baby (1926), registrou impressões de sua segunda viagem à Europa, em 1925 (na primeira, era ainda criança). Fez parte de grupos “primitivistas” do Modernismo e foi, com Oswald de Andrade,

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tical, mas sobretudo o “bom gosto” lingüístico. Surpreendente, ainda, pelas técnicas literárias de cunho modernista, de impacto inovador no Brasil daquela época. Entre os elementos mais destacadamente modernos do livro, está a sua forma narrativa, feita de pequenos blocos, que funcionam como cenas ou simples “tomadas”, como no cinema (e lembremos que o cinema, na época, era mudo, sendo as imagens o instrumento quase exclusivo da narração). Como no cinema as tomadas são “montadas”, isto é, associadas em “seqüências”, separadas (ou ligadas) por “cortes”. Essa monta- gem é feita com muita agilidade, com muitos saltos, com algu- mas “fusões” e outros recursos da linguagem cinematográfica. Quanto à linguagem propriamente dita, ela é elemento igualmente central do caráter moderno do livro. É uma lingua- gem que se quer jornalística , colada aos fatos (lembremos o subtítulo do livro: “Notícias de São Paulo”). Na linha do “pri- mitivismo” modernista, a que Alcântara Machado se filiava, ela chega a ser aparentemente “infantil” em sua rapidez cheia de períodos simples (de uma só oração), em suas justaposições de orações e períodos, e em sua concisão. Tal concisão está não só na economia de palavras, mas também na organização dos períodos e mesmo na extrema rarefação da pontuação. De fato, a vírgula quase não é usada, não aparecendo nem em muitos momentos em que ela seria gramaticalmente necessária, como no trecho seguinte, do conto “Armazém Progresso de São Paulo”:

O filho do doutor da esquina que era muito pândego e compra- va cigarros no armazém mandando-os debitar na conta do pai com outro nome bulia todos os santos dias com o Natale.

O uso tradicional da língua aconselharia (ou melhor, exigiria) vírgulas que pelo menos separassem as três orações subordina- das inseridas no meio da principal (sendo duas delas adjetivas

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explicativas. Obs.: oração é um grupo de palavras articulado em torno de um verbo). Assim, o período acima ficaria:

O filho do doutor da esquina, que era muito pândego e compra- va cigarros no armazém mandando-os debitar na conta do pai com outro nome, bulia todos os santos dias com o Natale.

Ainda assim, o trecho, apesar de razoavelmente longo e complexo, é muitíssimo econômico em vírgulas: seriam necessárias, apenas, duas vírgulas. Mas, se fosse redigido em atenção ao gosto da frase “bem pontuada” e clara (com uma alteração na ordem dos termos se evitaria uma ambigüidade), ele ficaria assim:

O filho do doutor da esquina, que era muito pândego e compra- va cigarros no armazém, mandando-os debitar, com outro nome, na conta do pai, bulia, todos os santos dias, com o Natale.

Nesta última versão, a escrita ficou bastante convencional, apesar de só terem sido introduzidas pequenas alterações. A frase perdeu muito da sua rapidez: perdeu o seu desenvolvimen- to sem embaraços (também por isso sem vírgulas), seu aprovei- tamento da agilidade desimpedida da “escrita infantil”. Outro elemento moderno destes contos se encontra no emprego que, em diversos momentos, o autor faz da figura chamada metonímia (ou sinédoque, figura que tem basicamente a mesma constituição). Na metonímia, substitui-se um termo por outro quando há entre eles relações como causa e efeito, autor e obra, continente e conteúdo, parte e todo, singular e plural (nestes dois últimos casos fala-se em sinédoque). O uso da metonímia, em Alcântara Machado, provém da influência de uma das mais extraordinárias obras do Modernismo brasileiro, o romance Memórias Sentimentais de João Miramar (1924), de

Brás, Bexiga e Barra Funda

1 Italiano: “São Vicente é a última colônia dos portugueses: e porque fica num país muitíssimo distante, costuma-se condenar [ao exílio] lá aqueles que em Portugal mereceram cadeia e coisas do tipo.”

SAN VICENZO È L’VLTIMA COLONIA DE’

PORTOGHESI: E PERCHE È IN VN PAESE LONTANISSI-

MO, VI SI SOGLIONO CONDENNARE QUEI, CHE IN

PORTOGALLO HANNO MERITATO LA GALERA, Ò

COSE TALI.^1

GIOVANNI BOTERO, Le relationi universali. In Brescia,

ESTA É A PÁTRIA DOS NOSSOS DESCENDENTES.

CONDE FRANCISCO MATARAZZO, Discurso de saudação ao Dr. Washington Luís. São Paulo, 1926.

1 Artigo de fundo: editorial, artigo que exprime a opinião do jornal. 2 Desdenhoso: que não liga importância, indiferente. 3 Mostrar suas vergonhas: expressão com que Pero Vaz de Caminha se refere à naturalidade com que as índias andavam nuas. 4 Mui gentis: muito belas. Outra expressão de Caminha. 5 Espádoa (grafia antiga de espádua ): ombro. A expressão entre aspas é também de Caminha.

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ARTIGO DE FUNDO

A ssim como quem nasce homem de bem deve ter a fronte

altiva, quem nasce jornal, deve ter artigo de fundo. 1 A fachada

explica o resto. Este livro não nasceu livro: nasceu jornal. Estes contos não

nasceram contos: nasceram notícias. E este prefácio portanto

também não nasceu prefácio: nasceu artigo de fundo.

Brás, Bexiga e Barra Funda é o órgão dos ítalo-brasileiros

de São Paulo. Durante muito tempo a nacionalidade viveu da mescla de

três raças que os poetas xingaram de tristes: as três raças tristes.

A primeira, as caravelas descobridoras encontraram aqui

comendo gente, e desdenhosa 2 de "mostrar suas vergonhas". 3 A segunda veio nas caravelas. Logo os machos sacudidos desta se

enamoraram das moças “bem gentis" 4 daquela, que tinham

cabelos "mui pretos, compridos pelas espádoas”. 5

A LCÂNTARA M ACHADO

6 Mamaluco: variante de mameluco, mestiço de índio e branco; em sentido geral, mestiço. 7 Mucama, mucamba, mumbanda, macuma: variantes da mesma palavra africana, usada para indicar a jovem escrava de estimação, usada para trabalhos domésticos ou para companhia. 8 Intalianinho: corruptela de italianinho.

22 ARTIGO DE FUNDO

E nasceram os primeiros mamalucos. 6 A terceira veio nos porões dos navios negreiros trabalhar

o solo e servir a gente. Trazendo outras moças gentis, mucamas, mucambas, mumbandas, macumas. 7

E nasceram os segundos mamalucos. E os mamalucos das duas fornadas deram o empurrão

inicial ao Brasil. O colosso começou a rolar.

Então os transatlânticos trouxeram da Europa outras raças aventureiras. Entre elas uma alegre que pisou na terra paulista

cantando e na terra brotou e se alastrou como aquela planta

também imigrante que há duzentos anos veio fundar a riqueza

brasileira. Do consórcio da gente imigrante com o ambiente, do con-

sórcio da gente imigrante com a indígena nasceram os novos

mamalucos. Nasceram os intalianinhos. 8 O Gaetaninho. A Carmela. Brasileiros e paulistas. Até bandeirantes. E o colosso continuou rolando.