Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

BOAS, Franz. Antropologia cultural. Org. Celso Castro. Rio de ..., Notas de aula de Antropologia

BOAS, Franz. Antropologia cultural. Org. Celso Castro. Rio de Janeiro: Jorge. Zahar, 2004. 109 p. Nicole Isabel dos Reis ...

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Salome_di_Bahia
Salome_di_Bahia 🇧🇷

4.5

(469)

226 documentos

1 / 3

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
355
Sincretismo afro-brasileiro e resistência cultural
Antropologia cultural
Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 10, n. 22, p. 355-357, jul./dez. 2004
BOAS, Franz.
Antropologia cultural
. Org. Celso Castro. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2004. 109 p.
Nicole Isabel dos Reis*
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Brasil
Celso Castro, professor do Departamento de Sociologia e Política da
PUC-Rio, organizador e tradutor desse volume, inicia a apresentação do
livro afirmando que é difícil de acreditar que essa seja a primeira coletânea
de Franz Boas publicada no Brasil. Considerando-se a vastidão da obra de
Boas e a sua imensa importância enquanto um dos “pais-fundadores” da
antropologia moderna, uma tradução para o português era mais do que
necessária, principalmente porque torna mais viável o uso dos textos do
autor nos cursos de graduação (e Castro confessa que organizou o livro
pensando principalmente em seus alunos).
Na apresentação, Castro inclui uma breve mas bastante completa
biografia de Boas, usando como fontes dois especialistas, Douglas Cole e
George Stocking Jr. Além disso, justifica a seleção dos artigos e comenta
cada um deles. Todos os artigos são originários de Race, Language and
Culture, de 1940, uma coletânea que Boas organizou quase no final da vida,
contendo 62 textos que ele julgava os mais representativos da sua carreira.
Dos cinco artigos, quatro são da parte de “Cultura” em Race,
Language and Culture. Isso é positivo, já que são provavelmente os artigos
mais usados no ensino de Teoria Antropológica. O primeiro texto é o clássico
As Limitações do Método Comparativo em Antropologia Social, de 1896,
onde Boas critica o evolucionismo social, com base na defesa da pertinência
do método indutivo. Sem impugná-lo diretamente, Boas afirma que a
comparação evolucionista entre povos seria possível somente dentro de
territórios restritos, por meio de precisos estudos individuais. Além disso,
nesse artigo Boas também critica o determinismo geográfico, baseado no
argumento de que ele não dá conta de explicar a diversidade que existia
* Mestranda em Antropologia Social.
entre povos que viviam em condições geográficas semelhantes.
Em Os Métodos da Etnologia, de 1920, Boas critica novamente os
pf3

Pré-visualização parcial do texto

Baixe BOAS, Franz. Antropologia cultural. Org. Celso Castro. Rio de ... e outras Notas de aula em PDF para Antropologia, somente na Docsity!

Sincretismo afro-brasileiro e resistência culturalAntropologia cultural^355

BOAS, Franz. Antropologia cultural. Org. Celso Castro. Rio de Janeiro: Jorge

Zahar, 2004. 109 p.

Nicole Isabel dos Reis ***** Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Brasil

Celso Castro, professor do Departamento de Sociologia e Política da PUC-Rio, organizador e tradutor desse volume, inicia a apresentação do livro afirmando que é difícil de acreditar que essa seja a primeira coletânea de Franz Boas publicada no Brasil. Considerando-se a vastidão da obra de Boas e a sua imensa importância enquanto um dos “pais-fundadores” da antropologia moderna, uma tradução para o português era mais do que necessária, principalmente porque torna mais viável o uso dos textos do autor nos cursos de graduação (e Castro confessa que organizou o livro pensando principalmente em seus alunos). Na apresentação, Castro inclui uma breve mas bastante completa biografia de Boas, usando como fontes dois especialistas, Douglas Cole e George Stocking Jr. Além disso, justifica a seleção dos artigos e comenta cada um deles. Todos os artigos são originários de Race, Language and Culture , de 1940, uma coletânea que Boas organizou quase no final da vida, contendo 62 textos que ele julgava os mais representativos da sua carreira. Dos cinco artigos, quatro são da parte de “Cultura” em Race, Language and Culture. Isso é positivo, já que são provavelmente os artigos mais usados no ensino de Teoria Antropológica. O primeiro texto é o clássico As Limitações do Método Comparativo em Antropologia Social , de 1896, onde Boas critica o evolucionismo social, com base na defesa da pertinência do método indutivo. Sem impugná-lo diretamente, Boas afirma que a comparação evolucionista entre povos seria possível somente dentro de territórios restritos, por meio de precisos estudos individuais. Além disso, nesse artigo Boas também critica o determinismo geográfico, baseado no argumento de que ele não dá conta de explicar a diversidade que existia

  • (^) Mestranda em Antropologia Social.

entre povos que viviam em condições geográficas semelhantes. Em Os Métodos da Etnologia , de 1920, Boas critica novamente os

(^356) Sérgio F. Ferretti Nicole Isabel dos Reis

métodos evolucionista e difusionista, afirmando que a validade das suas teses e conclusões não foi demonstrada pela moderna etnologia. Ele propõe, em troca, um método que estude as mudanças dinâmicas em uma única sociedade, o que pode ser observado no presente. Cada grupo cultural possui uma história própria e única, e, assim, é mais importante esclarecer os processos que ocorrem “diante de nossos olhos” do que propor grandes leis de desenvolvimento da civilização (como faziam o evolucionismo e o difusionismo). Boas também comenta algumas incursões da psicanálise no campo da etnologia, colocando algumas de suas idéias como profícuas, mas veementemente negando que o método psicanalítico por si só seja capaz de avançar na compreensão do desenvolvimento da sociedade humana. Em Alguns Problemas de Metodologia nas Ciências Sociais , de 1930, Boas critica as tendências que certas linhas de investigação tinham, na época, de explicar as complexidades da vida cultural baseando-se num único conjunto de condições ou causas. Assim, é contestada a redução da raça à cultura, combatendo a ascensão do racismo biológico tão comum à época. Também Boas nega ainda que as condições geográficas ou econômicas sejam determinantes da cultura: elas podem estimular as condições culturais existentes, mas não possuem força criativa. Para o ilustre antropólogo, qualquer dessas tentativas de desenvolver leis gerais de integração da cultura não seria cientificamente eficaz. Como alternativa à improdutiva obsessão por leis gerais, Boas sustenta que as ciências sociais devem se preocupar em analisar fenômenos, formas definidas. Na contramão de décadas de reconstruções especulativas, Boas redireciona o método antropológico para a unidade empírica “indivíduo” em sua relação à cultura envolvente, pavimentando o caminho para a emergência da escola Cultura e Personalidade. São basicamente essas idéias que Boas apresenta numa conferência da American Association for the Advancement of Science, em 1932, originando o quinto artigo dessa coletânea, Os Objetivos da Pesquisa Antropológica. Boas define esses objetivos como “uma tentativa de compreender os passos pelos quais o homem tornou-se aquilo que é biológica, psicológica e culturalmente” (p. 88). Ele volta a criticar o evolucionismo, o difusionismo, os determinismos biológicos, geográficos e econômicos, e a defender uma antropologia que considere a cultura como uma totalidade em todas as suas