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b) ECONOMIA BRASILEIRA E CONTEMPORÂNEA.pdf, Notas de estudo de Economia

Caro aluno, a disciplina Economia Brasileira e Contemporânea ... elaboração de resumos (sínteses); a participação dos alunos em fóruns e.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Carioca85
Carioca85 🇧🇷

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B) ECONOMIA BRASILEIRA CONTEMPOIRÂNEA
AUTORA
LENICE YPIRANGA
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B) ECONOMIA BRASILEIRA CONTEMPOIRÂNEA

AUTORA

LENICE YPIRANGA

ECONOMIA BRASILEIRA CONTEMPOIRÂNEA

Introdução Caro aluno, a disciplina Economia Brasileira e Contemporânea objetiva apresentar dentro de uma perspectiva histórica e político- econômica os principais fatos ocorridos no país a partir dos anos 30 do século passado. Ao longo da disciplina, faremos um breve retrato histórico dos principais acontecimentos da economia a partir de 1930 quando se inicia o processo de industrialização brasileira até os dias atuais. Discutiremos também sobre as principais experiências em planejamento econômico, os principais planos econômicos de estabilização ao longo dos anos 80 e 90 e a inserção da economia brasileira no processo de globalização. O caderno é composto de quatro unidades. Na Unidade 1, discutiremos, em breves linhas, a crise de 1929 e suas repercussões na economia brasileira, com ênfase na análise sobre as origens do processo de industrialização: a clássica interpretação de Furtado sobre as origens da industrialização, e o período 1946-1955, que abrange o fim da Segunda Guerra Mundial e o crescimento industrial no país. Na Unidade 2, examinaremos o período econômico compreendido entre o Plano de Metas no governo de Juscelino Kubitschek no qual houve a aceleração do processo de industrialização no Brasil até o golpe militar de 1964. Descreveremos, nessa unidade, o período conhecido como “milagre econômico” (1967 a 1973) e o II PND (1974-79), ainda no governo da ditadura militar. Na Unidade 3, apresentaremos o comportamento da economia da década dos 80, com destaque para a crise da dívida externa em 1982 e os planos de estabilização da economia. Na Unidade 4, mostraremos a evolução da economia nos anos noventa: a mudança de modelo econômico; a globalização da economia; os governos de Fernando Collor de Mello a Luiz Inácio Lula da Silva; os planos de estabilização adotados com destaque para o Plano Real.

Palavras da autora Embora a economia brasileira esteja entre as maiores do mundo, e sua trajetória tenha sido rica e complexa, infelizmente há muito pouco a se falar dos avanços sociais. O Brasil é um país rico com muitos pobres e é, antes de tudo, um país injusto. Detém uma das piores taxas de distribuição de renda do mundo; altos índices de pobreza e miséria da população brasileira. Compreender a evolução econômica do Brasil, portanto, é de suma importância não apenas para os estudantes nos colégios e universidades, mas também, por todos aqueles que buscam entender

ECONOMIA BRASILEIRA CONTEMPOIRÂNEA

Ementa A experiência brasileira de planejamento. A crise do modelo de substituição de importações. O milagre econômico pós-64. A crise do petróleo e seus efeitos na economia brasileira: inflação e dívida externa. A estagnação econômica dos anos 80 e a persistência inflacionária. Os planos econômicos do Governo Sarney. O plano Collor: desregulamentação, abertura comercial, recessão, inflação e competitividade industrial. O Plano Real e a estabilização da economia. A globalização da economia e seus efeitos na economia brasileira.

Objetivos de ensino-aprendizagem

1. Mostrar a trajetória da economia brasileira a partir dos anos trinta do século XX, até o período atual. 2. Descrever a ruptura do modelo agrário-exportador para adoção do modelo urbano-industrial;

  1. Analisar o processo de substituição de importações;
  2. Avaliar o crescimento econômico da década de cinquenta;
  3. Descrever a política econômica dos governos militares;
  4. Analisar a saga dos planos de estabilização da economia;
  5. Analisar criticamente a posição do Brasil diante do processo de globalização da economia internacional.

As origens da industrialização

brasileira

Síntese: Nesta unidade discutiremos as origens da industrialização brasileira até o segundo governo de Getúlio Vargas (1951-54). Mostraremos durante a discussão um período histórico da economia brasileira que se inicia quando há uma mudança do eixo da acumulação interna no campo para as cidades, dos espaços rurais para os urbanos.

Unidade 1

modelo econômico que ficou conhecido na literatura como processo de substituição de importações - PSI. Isto ocorreu a partir do momento em que o setor industrial passou a se aproveitar da capacidade industrial instalada já existente no país a partir das primeiras políticas governamentais de incentivo à produção interna, principalmente das políticas cambiais e tarifárias. Tudo isso aconteceu após a Depressão dos anos 30. Ela marcou o fim de um ciclo e o início de outro na economia brasileira: o fim da hegemonia agrário-exportadora e o início da predominância da estrutura produtiva de base urbano-industrial que só se concretizaria a partir de 1956, quando pela primeira vez a renda do setor industrial superaria a da agricultura. O governo de Getulio Vargas, que tomou o poder com a Revolução de 30, passou a adotar já em 1931, algumas medidas em defesa do café brasileiro, como por exemplo, a forte desvalorização da moeda nacional entre 1930 e 1934. Essa desvalorização da moeda nacional e a defesa do café constituíram bons estímulos para o início do dinamismo industrial com foco na política de substituição de importações. A indústria nascente passou, então, a liderar o crescimento econômico a partir de 1933, com taxas médias anuais de cerca de 9% ao longo do restante da década de

Desta forma, podemos afirmar que o modelo de desenvolvimento econômico baseado nas exportações cafeeira encerrou-se com o advento da crise de 1929. Com efeito, a construção de uma importante etapa do capitalismo industrial brasileiro realizou-se a partir da década dos 30. Ademais, coube ao primeiro governo Vargas administrar essa transição da ordem agroexportadora para a era urbano-industrial.

1.2 A clássica interpretação de Furtado sobre as origens da industrialização Conforme demonstrou Celso Furtado (1970), o grande impulso industrial brasileiro a partir de 1930 deveu-se a dois fatores: em primeiro lugar, à elevação dos preços dos produtos importados, devido à absoluta carência de divisas estrangeiras (as exportações brasileiras caíram pela metade nos anos 30 quando comparadas com as dos anos 20 devido à depressão mundial), tornando viável e lucrativa a produção interna de muitos desses bem. Como os preços dos produtos importados no país se elevaram, abriu-se um leque de oportunidades altamente lucrativas para investimentos industriais, especialmente em um momento em que os

Regimes cambiais - Representa o conjunto de regras ou o “modus operadi” do mercado de câmbio dos diferentes países ou em diferentes períodos de tempo. Pode-se classificar o regime cambial em três categorias: i) regime de câmbio flutuante, em que a taxa é determinada pelo mercado; ii) regime de câmbio fixo, em que a taxa é determinada pelo Banco Central, por meio da compra e venda de divisas no mercado; iii) regime misto (ou de bandas cambiais), em que a taxa pode variar dentro de determinados limites estabelecidos pela política econômica do país.

Substituição de importações

  • Conceito elaborado por economistas da Cepal para designar um processo interno de desenvolvimento, estimulado por desequilíbrio externo e que resulta na dinamização, crescimento e diversificação do setor industrial.

ECONOMIA BRASILEIRA CONTEMPOIRÂNEA

preços dos produtos importados haviam subido fortemente devido à carência de divisas. Ademais, houve a utilização da capacidade ociosa presente nas empresas brasileiras nesse período. O setor industrial brasileiro concentrava-se basicamente na produção de bens de consumo que exigiam máquinas e equipamentos comuns, destacando-se as indústrias alimentícias, farmacêuticas, metalúrgica, artigos de higiene e limpeza, perfumaria, entre outras. O outro fator, segundo Furtado (1970), deveu-se à manutenção da demanda agregada interna graças às compras, pelo Estado, de café para ser estocado e depois queimado. Em vez de se deixar o café sem compradores no pé, ou apenas derrubá-lo no chão, o que pareceria à primeira vista mais lógico, o Estado comprou o café. Colher o café para depois queimá-lo tinha uma virtude básica: sustentava o nível da demanda agregada, ou seja, mantinha os trabalhadores empregados; evitava que as empresas fossem à falência e mantinha o nível de consumo e mesmo de investimento. Verificou- se, então, que o nível de demanda interna se manteve intacto durante a vigência da crise de 1929, porque o governo de Getúlio Vargas assumiu o controle da compra e da destruição dos excedentes de café. Com esta atitude, cresceu a possibilidade do café continuar a ser colhido, garantindo-se um preço mínimo de compra para o mesmo e mantendo- se o nível de emprego na economia exportadora e nos setores produtores ligados ao mercado interno. Furtado (1970) expõe as causas para tal atitude, afirmando que o valor do produto que estava sendo destruído era muito inferior ao montante de renda que estava sendo criado. Deste modo, os investimentos não se destinavam a aumentar a produção, mas sim manter o nível de emprego e de demanda agregada. Visando manter a renda do setor cafeeiro, o governo impulsionou a demanda para os produtos industriais, que tiveram, a partir desse momento, o papel de substituir as importações dos bens manufaturados. Coube ao Estado a tarefa de guiar todo esse processo de transformação econômica no país, mobilizando os recursos externos e internos, criando incentivos à produção doméstica, apoiando a indústria nacional, buscando ao mesmo tempo atrair os investimentos externos necessários. Dessa forma, sob o impacto deste conjunto de políticas, observou-se a incorporação dos principais atores da ordem capitalista em formação: empresários e trabalhadores industriais. Com o advento da Segunda Guerra Mundial, a atitude do governo manteve-se idêntica àquela adotada imediatamente após a crise de 1929,

Demanda agregada - Quantidade total de bens e serviços demandados numa economia por certo período. Os bens e serviços de consumo e de investimentos demandados pelos setores privados, público e externo.

ECONOMIA BRASILEIRA CONTEMPOIRÂNEA

apoiar as concepções norte-americanas de uma nova ordem econômica internacional fundada nos parâmetros do liberalismo universal e ilimitado – do comércio internacional, dos capitais, das empresas e das finanças. A crença de que o liberalismo atrairia significativo fluxo de investimentos diretos estrangeiros para nosso país moldou também os regimes tarifário e cambial no início do governo Dutra. Mas, logo se percebeu o erro das medidas econômicas adotadas. Dessa maneira, decorrido pouco mais de um ano da posse do General Dutra e de suas propostas para a política econômica externa, as autoridades se viram obrigadas a proceder a sensíveis modificações, posto que as moedas conversíveis - sobretudo os dólares norte- americanos - haviam sido gastas. Assim, em 1947, para fazer face ao déficit do comércio exterior foi implantado no país um sistema de controles cambiais e de importações no qual os bancos autorizados a operar em câmbio eram obrigados a vender ao Banco do Brasil 30% de suas compras de câmbio livre à taxa oficial de compra. Em 1948 foi adotado pela primeira vez um sistema de contingenciamento das importações baseado na concessão de licenças prévias para importar de acordo com as prioridades do governo. Como resultado desse controle houve um relativo crescimento da indústria no pós-guerra, principalmente as indústrias de bens de consumo duráveis, como por exemplo, as indústrias de aparelhos eletrodomésticos. No governo Dutra houve, também, a primeira tentativa de intervenção planejada com vistas ao desenvolvimento econômico com o Plano SALTE que visava a saúde, a alimentação, o transporte e a energia. Tratava-se de um programa de gastos públicos nesses quatro campos, a ser executado no período de 1950 a 1954. O plano, no entanto, não durou mais do que um ano em razão de problemas de implementação e sérias dificuldades financeiras para fomentá-lo. Em 1953 a conjuntura econômica brasileira estava completamente dominada pelo colapso cambial, iniciado em 1952. Nesse ano, a Instrução nº.70 da Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC), antecessora do Banco Central, criou o sistema de leilões de câmbio, mantendo as dificuldades para a importação de bens de consumo, o que favoreceu as importações de bens de capital. Verificou-se que a taxa média anual de crescimento do produto, que durante a Segunda Guerra foi de 4,7%, nos cinco anos seguintes subiu para 7,3%; manteve-se ainda em um nível elevado de 5,7%, entre 1951 e 1955. O produto per capita também apresentou um crescimento de 3,5% nestes dez anos (BRESSER PEREIRA, 1985).

Unidade 1

A continuidade desse crescimento exigia, no entanto, aprofundamento da estrutura industrial; a entrada da chamada industrialização pesada, ou seja, a diversificação da atividade industrial, com a criação de novos segmentos produtivos nacionais. A economia brasileira começou a enfrentar problemas no que tange à oferta de bens de capital e de infraestrutura, o que representava relevantes gargalos para a continuidade do desenvolvimento industrial do país.

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Do Plano de Metas ao golpe

militar de 1964

Síntese: Nesta unidade descreveremos, em primeiro lugar, a importância do Plano de Metas para a economia brasileira, que consistiu numa proposta de Juscelino Kubitschek de transformar o país -“cinqüenta anos em cinco”, resultando na aceleração do processo de industrialização no país. Num segundo momento, o texto focará no período da história econômica que vai do início dos anos 60 quando Jânio Quadros foi eleito presidente do Brasil até o golpe militar em 1964.

ECONOMIA BRASILEIRA CONTEMPOIRÂNEA

Foto 1: Palestra de Juscelino Kubitschek no Clube Militar. Fonte: Silva [s.d.].

2.1 De JK (1956 a 1961) à crise nos governos Jânio Quadros e João Goulart (1961-63) O Governo de Juscelino Kubitschek caracterizou-se pelo integral comprometimento do setor público com uma explícita política de desenvolvimento. “Em termos de setor externo, as maiores preocupações giravam em torno da deterioração dos termos de intercâmbio verificadas desde 1954 com a queda nas exportações de café”. (COELHO; SARAIVA, 2004, s.p.) Dessa forma, a possibilidade de compensar o declínio das exportações tradicionais e a manutenção da taxa de investimentos, necessária ao processo de substituição de importações, dependia da entrada líquida de capitais autônomos no país. Esses capitais autônomos referem-se aos capitais externos oriundos de outros países e aplicados em países em desenvolvimento como o Brasil, destinados a complementar o nível de investimentos na economia daqueles países.

Nessa perspectiva, o Governo de Juscelino procurou atrair para o Brasil esses capitais estrangeiros, tanto privados quanto públicos. Dessa maneira, para facilitar a entrada dos primeiros, o governo estabeleceu uma política cambial extremamente favorável, permitindo movimentos absolutamente livres de entrada e saída. (SILVA, 2003, s.p.).

Em 1956, o governo de Juscelino Kubitschek lançou o Plano de Metas. O Plano de Metas de Juscelino Kubitschek tinha como diretriz expandir a indústria de base estimulando os investimentos privados nacionais e estrangeiros, e a

Termos de intercâmbio ou termos de trocas - Relação entre os preços de exportação e os preços de importação de um país. O índice que mede esta relação, geralmente calculado por meio dos índices dos preços das exportações e das importações, reflete a posição de cada país em termos de seu poder de compra em âmbito internacional. Se os preços das exportações sobem mais rapidamente (ou caem mais devagar) que os preços das importações, diz-se que há um aumento ou melhora nas relações de troca. Quando ocorre o inverso, isto é, quando os preços das importações sobem mais (ou diminuem menos) há uma queda na relação de trocas, também denominada “deterioração das relações de troca”.

ECONOMIA BRASILEIRA CONTEMPOIRÂNEA

investimentos em setores não manufatureiros, como o da construção pesada. Além disso, o capital privado nacional se viu beneficiado da expansão da demanda derivada por bens de consumo não duráveis (SERRA, 1982). Além do apoio ao capital privado, o Estado assumiu um caráter empresarial. Dentre suas principais atividades, merecem destaque especial a ampliação da Companhia Siderúrgica Nacional e a criação de mais três companhias produtoras de aço, bem como a expansão da PETROBRÁS e o setor estatal de produção elétrica, com a criação do sistema ELETROBRÁS. Para completar o “tripé” (Estado, capital privado nacional e capital estrangeiro), às empresas transnacionais coube a implantação no país de indústrias que exigissem maior complexidade tecnológica e possibilitasse um considerável volume de economia de divisas internamente. Desta maneira, surgiram no Brasil a partir da utilização do investimento direto do capital estrangeiro, a indústria automobilística, a indústria naval, a indústria de mecânica pesada, entre outras. Portanto, este “tripé” foi o responsável pela consolidação da indústria no Brasil. Como principal característica do Plano de Metas cita-se o fato de que representou um projeto nacional de industrialização ancorado pelo Estado, cuja base de sustentação era dada pelo setor de bens de consumo duráveis, principalmente por parte da indústria automobilística, que saiu praticamente de um nível de produção zero em 1955 para uma produção de 133. veículos, em 1960 (BRESSER PEREIRA, 1985 apud SANTOS JUNIOR, 2004, p.24-26).

Nesta etapa do capitalismo, no Brasil, verifica-se que a industrialização, antes não induzida, mas motivada por estrangulamentos externos, encontrou um projeto de orientação estatal, fundamentado em uma ideologia desenvolvimentista e industrializante.

O crescimento do produto verificado no período resultou, portanto, da concentração de esforços e da definição de prioridades, no sentido de preencher as lacunas da cadeia produtiva, concretizando-se um sistema industrial integrado que superou os gargalos nos setores produtores de bens de capital e insumos. Como resultado final, ainda que a estrutura industrial, depois do plano, apresentasse algumas falhas, verificou-se que o Brasil da década de 1960 podia ser considerado como um país industrial. Após o fim do período referente ao Plano de Metas e com o Brasil já contando com uma estrutura industrial organizada verticalmente, o país enfrentou sua primeira crise de baixo crescimento oriundo do modelo de desenvolvimento baseado na industrialização por substituições de importações. Três fatores básicos podem ser apontados como intensificadores da crise: a maturação dos volumosos investimentos realizados nos anos do Plano de Metas; as políticas econômicas de caráter recessivo que foram implementadas primeiramente pelo governo democrático

Unidade 2

de João Goulart e posteriormente pelo governo militar de Castelo Branco; e, antes disso, a crise política que assolou o Brasil após a renúncia de Jânio Quadros em 1961 até o golpe militar de 1964. Quanto ao primeiro aspecto, verificou-se no período referente ao Plano de Metas uma intensa concentração dos investimentos no tempo. A partir do momento que a fase de maturação destes investimentos foi alcançada, a capacidade instalada tornou-se subutilizada, uma vez que a oferta global da economia estava acima da demanda agregada existente. (SANTOS JUNIOR, 2004, p.25-27).

A queda na demanda do setor produtor de bens de capital e insumos intermediários deveu-se

[ ...] ao fato de que a expansão obtida pelo setor produtor de bens duráveis, no período anterior, já havia atendido à demanda reprimida pelos estrangulamentos externos que haviam motivado a substituição de importações. O mesmo se passou com o setor de bens não-duráveis. (SANTOS JUNIOR, 2004, p.27). Com efeito, observa-se nestes anos uma redução generalizada da taxa de crescimento da formação bruta de capital fixo na economia, sendo intensa também a redução no nível de investimento das empresas privadas e, de forma ainda mais expressiva, a redução no nível de investimento das empresas estatais. Por exemplo, a capacidade ociosa da indústria automobilística, em 1960, ficou estimada em 50% (SERRA, 1982). O super dimensionamento dos investimentos verificado nestes anos ocorreu porque o tamanho do mercado interno brasileiro exigia uma considerável escala mínima de produção. (SANTOS JUNIOR, 2004, p.27-28). Além disso, havia a esperança dos anos de otimismo oriundos do Plano de Metas de que a demanda continuasse em expansão; ademais as empresas estrangeiras, que se instalaram aproveitando os benefícios dos subsídios e incentivos fiscais, trataram de garantir futuros mercados consumidores para seus produtos. Todos estes fatores impulsionaram a realização dos investimentos acima das possibilidades de absorção por parte da demanda interna. Em relação ao segundo aspecto, durante o Plano de Metas, houve a aceleração do processo inflacionário, devido ao financiamento dos gastos públicos via emissão monetária, além de déficits no Balanço de Pagamentos. Estes desequilíbrios exigiram do governo a adoção de políticas que protegessem a estabilidade econômica. O terceiro aspecto está associado ao conturbado período político pelo qual passou a sociedade brasileira no início da década de 1960. Primeiramente, com a renúncia do presidente Jânio Quadros, no sétimo mês de seu governo e, posteriormente, com a posse de João Goulart. (SANTOS JUNIOR, 2004, p.28).

Unidade 2

Quadro 1– Economia Brasileira: síntese de indicadores Macroeconômicos- 1956-1963(médias anuais por período). Indicadores 1956 - 60 1961 - 63 Crescimento do PIB ( % a .a) 8,1 5, Inflação (IGP dez./dez.,% a .a) 24,7 59, FBCF (%PIB a preços correntes) 16,0 15, Tx. de cresc. das exportações de bens (US $ correntes, % a.a)

-2,3 3, Tx. de cresc. das importações de bens (US $ correntes, % a.a)

3,2 0, Balança Comercial (US$ milhões)

125 44 Saldo em conta-corrente (US$ milhões)

-290 - Dívida externa líquida /exportações de bens

1,9 2,

Fonte: Giambiagi et al (2005).

Não obstante a boa performance desses indicadores, não podemos afirmar uma superioridade de gestão macroeconômica do governo JK em relação aos governos que o seguiram, uma vez que existe efeitos defasados associados à política econômica. Por exemplo, o aumento da taxa de inflação e da razão dívida externa/exportações no período 1961-63 foi em grande medida herdado dos anos JK. A desaceleração do PIB nos governos Quadro e Goulart pode em parte ser vista também como um legado do período anterior. Com efeito, essa perda de dinamismo da economia é resultado em grande medida do término do grande bloco de investimentos associado ao Plano de Metas, mas também, das tentativas de estabilização nos dois governos que sucederam a Juscelino dado que a inflação tornou-se o objeto de preocupação daqueles governos (GIAMBIAGI et al, 2005).

2.2 O golpe Militar de 1964 Em 31 de março de 1964, os militares tomaram o poder, depondo o então presidente João Goulart e instituíram no país uma ditadura militar. Durante 20 longos anos, o país estaria subordinado à lógica do regime militar que assumiria, logo de início, um discurso desenvolvimentista comprometido com a retomada do crescimento econômico. O golpe militar de 1964 fez as reformas bancárias e do mercado de capitais, criou o Banco Central, lançou o PAEG (Plano de Ação Econômica do Governo) e abriu caminho para o crescimento que viria a seguir. Giambiagi et al (2005, p.71) ressalta o panorama da economia brasileira herdado pelos militares no início dos anos 60:

ECONOMIA BRASILEIRA CONTEMPOIRÂNEA

Ao longo de 1963 e até o início de 1964, a economia brasileira operou em verdadeiro estado de ‘estagflação’

  • estagnação da atividade econômica, acompanhada de aumento da inflação. Após um crescimento real médio de 8,8% ao ano no período 1957-62, o PIB brasileiro cresceu apenas 0,6% em 1963, enquanto a inflação (medida pelo IGP) elevou-se da média de 32,5% ao ano naqueles anos para 79,9% em 1963. Esse era o cenário a ser enfrentado pela política econômica no início do governo Castello Branco.

O período da economia brasileira compreendido entre 1964- 67, no governo militar de Castelo Branco, foi caracterizado pela operacionalização de um plano de estabilização de preços de inspiração ortodoxa, o Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG), e de importantes reformas estruturais do sistema financeiro, da estrutura tributária e do mercado. Essas reformas permitiram que vários aspectos institucionais, relativos à estrutura de financiamento da economia, fossem alterados. A estrutura de financiamento consistiu na forma específica pela qual a economia financiaria seus gastos (públicos e privados), a natureza da atividade de intermediação financeira e a solidez e natureza da moeda nacional. Foram criadas:

  • uma nova forma de financiamento do setor público através da reforma tributária, com a criação de fundos compulsórios e criação de novos títulos públicos;
  • novas formas de financiamento privado e intermediação: reforma bancária;
  • uma âncora para sustentar a moeda: a correção monetária e
  • reformas institucionais que tornaram possíveis essas alterações e as sintetizaram: os Atos Institucionais e a Constituição de 1967. O Plano de Ação Econômico do Governo (PAEG) buscava, principalmente, interromper a escalada inflacionária que, se mantida, a projeção do primeiro semestre de 1964 ultrapassaria os 100% a.a.. Para tanto, previa-se um programa “desinflacionário” e uma série de reformulações emergenciais da legislação econômica e, sobretudo, da Lei Salarial. Os formuladores desse plano, os economistas Roberto Campos e Octávio Gouvea de Bulhões, instituíram um instrumento de preservação de valor para estimular o crédito que se transformou, com o passar dos anos, em veneno inflacionário: a correção monetária.

Correção monetária - Consiste num mecanismo de reajuste periódico de certos preços na economia pelo valor da inflação passada, de modo a compensar a perda do poder aquisitivo da moeda. Os índices de correção monetária são calculados de acordo com a taxa oficial de inflação, tendo por objetivo compensar a desvalorização da moeda.

Depósito compulsório

  • Dispositivo de política monetária utilizado pelo Banco Central quando deseja reduzir a liquidez do sistema e/ou restringir a capacidade de expansão de crédito do sistema bancário. Consiste em estabelecer uma taxa de depósitos compulsórios que cada banco deverá efetuar junto ao Banco Central. Esses depósitos estão relacionados aos empréstimos que se realizam e aos depósitos que são obtidos, sendo que tais depósitos compulsórios não proporcionam juros para o banco depositante.

Títulos públicos - Os títulos públicos são ativos de renda fixa que se constituem em boa opção de investimento para a sociedade. Os títulos públicos possuem a finalidade primordial de captar recursos para o financiamento da dívida pública, bem como para financiar atividades do Governo Federal, como educação, saúde e infra- estrutura.