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Análise da Limpeza de Unidade do Paciente em Hospitais de São Paulo: Desafios e Práticas, Notas de estudo de Enfermagem

Entrevistas com enfermeiros em hospitais de São Paulo revelam que a limpeza de unidades de pacientes não segue as normas da literatura, resultando em baixa confiabilidade na desinfecção. A infecção hospitalar é um desafio para a equipe de saúde. A limpeza é crucial, mas a maioria dos enfermeiros não sabe qual produto usar. O fenol sintético é o mais utilizado. A limpeza terminal é valorizada em relação à concorrente. É necessário investimento técnico-científico na limpeza de unidades.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Florentino88
Florentino88 🇧🇷

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AVALIAÇÃO
DA
LIMPEZA
DE
UNIDADE
DO PACIENTE
EM
HOSPITAIS
DO
INTERIOR
DO
ESTADO
DE
SÃO
PAULO
EVALUATI
ON
OF THE PROCEDURES USED FOR DISINFECTING
PATIENT'S UNITS lN HOSPITALS
OF
THE STATE OF SÃO PAULO
EVALUACIÓN
DE
LA LlMPIEZA
DE
UNIDAD DEL PACIENTE
EN
HOSPITALES DEL INTERIOR DE SÃO PAULO
Denise
de
A
ndrade
I
Branca
Maria
de
Oliveira
Santos
1
Adriana
Serafim
Bispo
.1
RESUMO:Este estudo objetiva avaliar o procedimento da limpeza de unidade do paciente assim
como detectar,
apon~r
e alertar sobre
as
possiveis falhas nesse processo de limpeza.
Os
~esuttados
obtidos por entrevistas com os enfermeiros responsáveis pelo Serviço de Enfermagem revelam que
o procedimento realizado nos hospitais
em
estudo não vem atendendo
és
normas preconizadas
pela literatura o que acarreta um produto final com
pouca
confiabilidade do
ponto
de vista da
desinfecção.
PALAVRAS-CHAVE: limpeza de unidade do paciente, desinfecção. infecção hospitalar
INTRODUÇÃO
Com
o
avanço
científico e tecnológico
dos
últimos anos
na
área
da
saúde é visível a
preocupaçao com a proclução
de
serviços que têm por finalidade o diagnóstico e a terapêutica,
através da reunião
de
saberes, tecnologias e
de
profissionais capacitados.
Na
s relações com a
clientela, esses elementos podem desencadear resultados terapêuticos ou iatrogênicos,
dependendo da instrumentalização e
do
encaminhamento das ações, assim
como
de
uma
série de fatores r
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ionados ao ambiente, aos recursos
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anos e materiais e ao emprego
sistemático
de
instrumentos e técnicas que atendam à finalidade
do
trabalho.
Uma
das possiveis complicações
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lações é a infecção hospitalar que
tem se constituido num
de
safio para a equipe multiprofissional
de
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que vem se
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vez
mais
nos últimos anos
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e as causas mais
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mortalidade, com conseqüente ampliação
do
tempo de permanência do paciente no hospital,
aumento
do
custo
de
tratamento e menor utilização
dos
leitos hospitalares.
Embora as principais causas de
Inf
ecção Hospitalar estejam relacionadas com o doente
suscetivel à i
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ecção e
com
os métodos diagnósticos e terapêuticos utiliza
do
s, não se pode
deixar
de
consider
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a parcela
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respon
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bilidade relacionada aos padrões
de
higiene
do
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iente hospitalar,
que
tem
levado a uma preocupação
com
a sua
manut
enção terapêutica.
Esta preocupação tem sido continua e diligente e tem estado sob responsabilidad e da
en
fennagem
desde a atuaçao
de
Florence Nightingale, no século XIX,
que
enfatizava a necessidade
de
se
diminuir os efeitos negativos que o hospital causava aos pacientes, através
do
próprio uso
do
ar
,
'P
rofessor
Doutor
ao
Departamento de Enfermagem Geral e Especializ ada da Escola de
Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
tProfessora Livre·Docente junto ao Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da
Escola
de
Enfermagem
de
Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.
'Bolsista de Iniciação Cientifica
do
Conselho Nacional CientificO e Tecnológ
ico·
CNPq.
504
R. Bras. Enferm., Brasifia, v.
52,
n.4, p. 504-513,
out/dez
.1999
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AVALIAÇÃO DA LIMPEZA DE UNIDADE DO PACIENTE EM HOSPITAIS

DO INTERIOR DO ESTADO DE SÃO PAULO

EVALUATION OF TH E PROCEDURES USED FOR DISINFECTING

PATIENT'S UN ITS lN HOSPITALS OF THE STATE OF SÃO PAULO

EVALUACIÓN DE LA LlMPIEZA DE UNIDAD DEL PACIENTE EN

HOSPITALES DEL INTERIOR DE SÃO PAULO

Denise de A ndrade I Branca Maria de Oliveira Santos 1 Adriana Serafim Bispo.

RESUMO :Este estudo objetiva avaliar o procedimento da limpeza de unidade do paciente assim como detectar, apon~r e alertar sobre as possiveis falhas nesse processo de limpeza. Os ~esuttados obtidos por entrevistas com os enfermeiros responsáveis pelo Serviço de Enfermagem revelam que o procedimento realizado nos hospitais em estudo não vem atendendo és normas preconizadas pela literatura o que acarreta um produto final com pouca confiabilidade do ponto de vista da desinfecção.

PALAVRAS-CHAVE: limpeza de unidade do paciente, desinfecção. infecção hospitalar

INTRODUÇÃO

Com o avanço científico e tecnológico dos últimos anos na área da saúde é visível a preocupaçao com a proclução de serviços que têm por finalidade o diagnóstico e a terapêutica , através da reunião de saberes, tecnologias e de profissionais capacitados. Na s relações com a clientela, esses elementos podem desencadear resultados terapêuticos ou iatrogênicos, dependendo da instrumentalização e do encam inham ento das ações, assim como de uma série de fatores r elac ionados ao ambiente , aos recursos hum anos e materiais e ao emprego

sistemático de instrumentos e técn icas que atendam à finalidade do trabal ho.

Uma das possiveis complicações adv inda sdessas re lações é a infecção hospitalar qu e tem se constituido num de safio para a equipe multiprofissional de saúd e, uma vez que vem se de stacando ca da vez mais nos últim os anos dentr e as causas m ais fre qü entes de m orbi· m ortalidade, com conseqüente ampliação do tempo de permanência do paciente no hospital , aum ento do custo de tratamento e m enor utilização dos leitos hospitalares. Embora as principais causas de Infecção Hospitalar estej am relacionadas com o doente

suscetivel à i nfecção e com os métodos diagnósticos e terapêuticos ut iliza do s, não se pode

deixar de consider ar a parcela de respon sa bilidade relacionada aos padrões de higiene do amb iente hospitalar, que tem levado a uma preocupação com a sua manut enção terapêutica. Esta preocupação tem sido continua e diligente e tem estado sob responsabilidade da en fennagem desde a atuaçao de Flore nce Nightingale, no século XIX, que já enfatizava a necessidade de se diminuir os efeitos negativos que o hospital causava aos pacientes, através do próprio uso do ar,

'P rofessor Doutor ao Departamento de Enfermagem Geral e Especializ ada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.

tProfessora Livre·Docente junto ao Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da

Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. 'Bolsista de Iniciação Cientifica do Conselho Nacional CientificO e Tecnológ ico· CNPq.

504 R. Bras. Enferm ., Brasifia, v. 52, n.4, p. 504-513, out/dez. 1999

Avaliaçêo da limp eza ..

da limpeza , do silêncio, dentre outras, colocando-os nas melhores condições para a natureza

agir (Chairperson, 1980, Nightingale , 1989).

Para a manutenção desse ambiente terapêutico a enfermagem tem procurado organizar

e sistematizar o seu conhecimento, sendo as técnicas de enfermagem , voltadas primeiramente

pa ra o procedimento a ser executado, uma das alternativas utilizadas para esta finalidade.

Nelas aparecem a descrição detalhada de como cada procedimento deve ser realizado , assim

como a razão para cada passo , constituindo-se num conjunto de medidas , descritas passo a

passo, a serem seguidas pelos agentes de enfermagem na execução de um procedimento,

com a finalidade específica de racionalizar o trabalho , economizar tempo e movimento, aumentar

a produção e diminuir gastos (Almeida , 1986, Col/el, 1995).

Um dos proced ime ntos de enfermagem voltado para a manutenção do ambiente

terapêutico é a Limpeza de Unidade do Paciente, com a preocupaçâõ fundamental de higiene

e estética. A unidade do paciente tem sido definida como o conjunto de espaços e móveis

destinados a cada paciente, va riando os seus componentes de hospital para hospital.

Basicamente , a unidade é composta por: cama, colchão , mesa de cabeceira equipada com

material de uso pessoal, cadeira , escada e campainha (Kawamoto ; Fortes, 1986, Sorrii; Nunes,

1988 , Souza, 1976, Torres ; Lisboa , 1999 ).

A literatura tradicional de enfermagem distingue dois tipos de Limpeza de Unidade: a

limpeza concorrente e a teoninal. A Limpeza Concorrente é realizada diariamente, em algumas

partes da unidade do paciente e objetos de uso pessoal , após os cuidados higiênicos·e de

rotina prestados (Torres ; Lisboa, 1999). Já a Limpeza Terminal tem sido considerada aquela

realizada quando o paciente desocupa o leito por motivo de alta , óbito, transferência ou em

casos de hospitalização prolongada (Sorrii; Nune s, 1988, Souza, 1976, Torres; Lisboa, 1999).

Esses tipos de limpeza são realizados para a remoção da sujidade e fundamentalmente

para impedir a disseminação de microrganismos que colonizam principalmente as superfícies

horizontais dos mobiliário s, dentre eles o Staphy/ococcus aureus, Pseudomonas sp, Escherichia

colí. Proteus spe Serra tia marcencens (Ayliffe, 1984), como também para proporcionar conforto

e segurança ao paciente.

No processo de Umpeza de Unidade do paciente tem sido recomendado a utilização de

produtos químicos (desinfetantes) eficazes para a obtenção da remoção e destruição dos

microrganismos existentes nas superfícies. Essa indicação e sua utilização têm levado, inclusive,

a uma mudança de terminologia de Limpeza de Unidade para Desinfecção da Unidade ou de

Superficies, já evidenciada na literatura (BRASIL, 1994, Torres ; Lisboa , 1999).

Vá rios desinfetantes têm sido indicados nesse sentido, devendo os mesmos possuir princípios

ativos fenólicos, compostos orgânicos e inorgânicos liberadoresde cloro ativo , iodo e derivados,

quaternáriOS de amOnia , alcoóis e biguamidas e outros princípios que atendam à legislação

específica (BRASIL, 1992, BRASIL , 1994, Oraz; Rocha, 1996).

É importante atentar que essas considerações não descartam a necessidade de se

obselVar o fato de que a efetividade do processo de de si nfecção da unidade do paciente requer

do pessoal envolvido com esta atividade, conhecimentos quanto às condições que interferem

na ação dos produtos , à padronização dos uso e às normas de aquisição dos me smo s.

Nesta perspectiva , surge a figura do enfermeiro, profissional ainda responsável por esta atividade

na maioria das instituições hospitalares, que deve se sentir igualmente compromissado com a

manutenção de um ambiente seguro tanto para o paciente como para o pessoal sob sua

responsabilidade e estar atento para cada um dos aspectos particulares desse compromisso ,

dentre os quais incluem~se aqueles re lacionados à supervisão das atividades realizadas pelo

seu pessoal. Essa supervisão como instrumento de avaliação, poderá se constitui r em um

indicador das neces si dades de orientação , atualização e reciclagem , a fim de permitir em

tempo hábil , a adoção de medidas corretivas necessárias.

Diante de todas essas considerações é que se propõe neste trabalh o, avaliar a situação

R. Bras. Enferm., Brasília, v. 52, n.4 , p. 504-513, out./dez. 1999 505

Avaliaçao da limpe za ...

pelos hospitais, pode-se observar que a maioria dos mesmos (60 ,9%) caracteriza-se como de

médio porte (com até 150 leitos), dos quais 78 ,6% são de caráterprivado e com assistência do

tipo geral. Observa-se também que a maioria (71 ,4%) dos hospitais de grande porte é do tipo

público e geral.

Em relação às perguntas norteadoras da entrevista , relacionadas a quem realiza a

Limpeza de Unidade, qual o procedimento e os produtos utilizados e quando a mesma é

realizada , obteve-se como resposta à primeira que, em 34 ,8% dos hospitais esta atividade está

a cargo do Serviço de Limpeza do próprio hospital ou de alguma empresa particular. Nos demais

a responsabilidade fica a cargo do Serviço de Enfermagem. Vale considerar que embora a

responsabilidade e a execução do procedimento naqueles hospitais estejam a cargo do Serviço

de Limpeza, o qual nao é da responsabilidade da enfermagem , em 25 ,0% deles o referido

Serviço de Umpeza está subordinado diretamente à enfermagem , recebendo dela as orientações

e supervisão necessárias..

Dos hospitais onde a atividade ainda é de responsabilidade do Serviço de Enfermagem ,

20,0% estão em vias de transferi-Ia para o setorde limpeza. As justificativas foram va riada s,

indo desde a sobrecarga de atividades, a falta de pessoal e o desvio de prioridade de funções,

ou seja , a indicação de um funcionário para executar um cuidado indireto em detrimento do

cuidado direto.

São inúmeras as citações de enfermagem a respeito da insatisfação dos enfermeiros

com as funções desempenhadas, com as péssimas condições de trabalho, baixos salários,

dentre outros. Entretanto , acreditamos que a so lução da problemática supracitada nao deve ser

uma simples transferência de atividade. sem critérios, de um setor para outro, mas que tal

transferência deva estar apoiada na regulamentaçã o do exercicio de enfermagem que prevê ,

dentre as responsabilidades do enfermeiro , M a prevenção e controle sistemático da infecção

hospitalar e doenças transmissiveis em geral , assim como a prevenção e co ntrole de danos

que podem ser causados à clientela durante a assistência de enfermagem M (BRAS IL , 1986).

A nosso ver, ainda que a Limpeza de Unidade seja considerada um procedimento

predominantemente manual e qualificado como um cuidado indireto , esses nao devem ser

motivos para que a enfermagem deixe de executá- lo. Torna-se fundamental que os enfermeiros

reflitam e façam uma avaliação do seu verdadeiro papel nesta atividade, de modo a assegurara

seu espaço na manutenção de um ambiente hospitalar seguro.

Ao se buscar a relação das informações sobre quem executa a atividade com o tipo de

hospital e a assistência prestada , vale considerar que naqueles em que o procedimento tem

sido realizado pelo pessoal do Serviço de Umpeza , 87,5% dos mesmos sao classificados

como hospitais privados e gerais. Por outro lado, em todos os hospitais públicos (gerais ou

especializados) a responsabilid ade pelo procedimento ainda permanece com o Serviço de

Enfermagem , bem como no único hospital considerado privado e especializado.

É importante considerar que dos hospitais onde a Limpeza de Unidade ainda é realizada

pelo Serviço de Enfermagem. 20 ,0% evidenciaram interesse em estar transferindo esta

responsabilidade para o Serviço de Limpeza. Esta constatação levou-nos a questionar quais

seriam os motivos desencadeadores desta postura frente ao procedimento. Os motivos estariam

ligados à questão económica; à escassez de pessoal de enfermagem ; ao fato de ser a Limpeza

de Unidade considerada uma atividade puramente manual e desprestigiada? Esses

questionamentos, apesar de não terem sido objetos do estudo, a nosso ver mereceriam uma

análise para melhor compreensão do mesmos.

Em relação à questao orientadora como é feita a Limpeza de Un idade e que produto

é utilizado para a s ua execução , a análise das respostas evidenciou que 80,0% do entrevistados

referiram sentir dificuldade de responder como é feita , uma vez que o procedimento nao tem

si do realizado com supervisão do enfermeiro. Esta situação foi evidenciada , principalmente ,

nos hospitais cuja atividade fora transferida para o Serviço de Umpeza. Referiram também que

R. Bras. Enfe rm ., Brasilia, v. 52, n.4. p. 504·513, out.Jdez. 1999 507

ANDRADE, Denise de et aI.

na maioria da vezes a "técnica tradicional"(segundo eles, aquela recomendada pela literatura) não tem sido cumprida fielmente, justificando ser trabalhosa, demorada e extremamente cheia de detalhes. Por outro lado reconheceram que o ideal seria a realização do procedimento segundo as normas preconizadas pela literatura. Pelo levantamento das referências bibliográficas relacionadas ao procedimento e a sua execução, constatamos que na literatura norte-americana o assunto é pouco abordado, talvez por não recomendarem a aplicação rotineira da desinfecção de superfícies e por não encontrarem um evidência direta correlacionando o grau de contaminação ambiental com o risco de se contrair uma infecção (Dauschner; Fahlberg, 1982). Já em nossa realidade, apesar de ainda se colocar muita ênfase na desinfecção de superfícies, como uma medida efetiva na redução das taxas de infecções nos hospitais, a literatura de enfermagem parece demonstrar um certo descaso em relação ao assunto, uma vez que o mesmo tem sido pouco mencionado nas publicações mais recentes. Vale considerar ainda que o assunto demonstre uma estagnação no conhecimento este tem sido o referencial utilizado na atualidade para o ensino de enfermagem, nos seus diferentes níveis (Souza, 1976, Teixeira, 1962). Analisando algumas das padronizações do procedimento na literatura, observa-se que existe uma preocupação em detalhar todos os passos a serem desenvolvidos, visando sempre a eficiência, a eficácia e a diminuição do desgaste físico. Esses passos da técnica geralmente são acompanhados apenas do material necessário para sua execução, que em alguns casos extrapola o que tem sido recomendado (ex: sapólio), não especificando a natureza da solução desinfetante e nem os princípios científicos a serem considerados durante o desenvolvimento do procedimento. O depoimento abaixo, ilustra as colocações supracitadas: Sabemos que compete ao enfermeiro, de forma direta, observar e manter a qualidade da Limpeza de Unidade do paciente, entretanto, devido a vários fatores da realidade hospitalar, é comum a realização da técnica e o uso de materiais de forma inadequados. Em resposta à pergunta orientadora sobre o produto utilizado para realização da de Unidade Limpeza, deparou-se com uma diversidade de alternativas, conforme a Tabela2.

T ABELA 2 - Distribuição dos produtos utilizados na Limpeza de Unidade do paciente, segundo a classificação dos hospitais.

.......^ PROOUTOS ....... ... ....... ... ........^ ••••....^.^ TIPO oe HOSPITAl LJl'lº�.o� < PlJEit.ICO • PRIVADO.. •. .•. •. ••. .TOTAL

.. GERAL <ESPECIAUZADO GERAL ESPECIALIZADO N° <% Fenol sintético 4 2 7 30, Não sabia 9 10 43, informar Agua + sabão

  • Álcool 70% Agua + sabão TOTAL

2 4 4

3

14

4 17,

2 8, 23 100,

Numa primeira avaliação observa-se que do total de hospitais, 43,5% dos enfermeiros entrevistados não souberam informar o produto utilizado para a realização da Limpeza de Unidade do paciente. É importante considerar que todos os respondentes eram oriundos de hospitais privados, dos quais 90,0% ofereciam assistência geral e que nesta alternativa foram incluídas as respostas em que os enfermeiros , embora com dúvida, referiram ao hipoclorito de sódio, álcool etílico, fenol sintético ou então, alegaram que seguiam as recomendações do Ministério da Saúde, sem especificar qual o produto utilizado. Um aspecto que merece consideração nesta análise é o fato de que 34,8% dos

508 R. Bras. Enferm., Brasília, v. 52, n.4, p. 504-513, out./dez. 1999

ANDRADE, Denise de et ai.

utilizado (43,5%), assim como de uso de produtos inadequados em unidades de internação (apenas água e sabão). Achamos oportuno destacar os resultados microbiológicos obtidos por Angelo (1998) que evidenciou que a limpeza de unidade com fenol ao invés de diminuir a carga microbiana provoca o deslocamento dessa para outros pontos, resultando na manutenção da quantidade de microorganismo que existia anteriormente à limpeza. Neste sentido, outros autores também mostraram que o fenol foi menos eficaz em comparação com outros produtos químicos desinfetantes (Navajas; Díaz; Castilho; Marin, 1992). Em resposta à pergunta quando é realizada a Limpeza de Unidade, observa-se pelos dados da Tabela 3 que a maioria dos enfermeiros (56,5%) referiu que realiza apenas a limpeza terminal.

TABELA 3 - Distribuição das respostas emitidas pelos enfermeiros em relação a quando é feita a Limpeza de Unidade do paciente, segundo a classificação dos hospitais

3 3 3 7

Vale considerar que 30,4% dos enfermeiros responderam de forma completa uma vez que referiram a limpeza de unidade terminal e a concorrente da unidade do paciente. Isso sugere, de certa forma, que esses enfermeiros tinham conhecimento das diferenças entre os dois procedimentos e dos momentos de suas realizações. Lembramos aqui que a limpeza concorrente é aquela realizada diariamente, após a arrumação da cama e que consiste na limpeza de parte do mobiliário da unidade do paciente que, basicamente, é composta por: cama, colchão, mesa de cabeceira equipada com material de uso pessoal, cadeira, escada e campainha. Já a limpeza terminal tem sido considerada como a realizada quando o paciente desocupa o leito por motivo de alta, óbito, transferência ou em casos de hospitalização prolongada (Sordi; Nunes, 1988, Souza, 1976, Torres; Lisboa, 1999). É importante considerar que apesar de serem definidas de forma a existir uma diferenciação entre ambas, na maioria das referências relativas ao assunto, não se observa uma descrição detalhada de procedimentos distintos que permita ratificar esta diferenciação. Geralmente é feita a diferenciação conceituai, acompanhada da descrição de apenas um procedimento, hipervalorizando a limpeza terminal. Outra consideração a ser feita é que normalmente não definem a periodicidade da realização da limpeza terminal, nas situações em que o paciente permanece no leito por tempo prolongado, o que demostra a necessidade da realização de estudos para melhor definição deste intervalo, garantindo maior segurança para o paciente e para o responsável pela execução do procedimento. Do total de respostas em relação a quando é feita a Limpeza de Unidade, 12,9% dos enfermeiros não citaram nenhum dos tipos de limpeza recomendados, protegendo-se em

510 R. Bras. Enferm., Brasília, v. 52, n.4, p. 504-513, out./dez. 1999

T e r m i n a l C o n c o r r e n t e T e r m i n a l e C o n c o r r e n t e Segue recomendação da literatura Não s o u b e informar Só em casos de contaminação T O T A L

GERAL 1 - 3 - - - 4

T I P O D E H O S P I T A L P Ú B L I C O E S P E C I A L I Z A D O 2 - 1 - - 1 4

G E R A L 9 - 3 1 1 -

14

P R I V A D O E S P E C I A L I Z A D O 1 - 3 - - - 1

T O T A L N° % 13 56,

- - (^7) 30,

1 4,

1 4,

1 4, 23 100,

T I P O D E L I M P E Z A

Avaliaçáo da limpeza ..

respostas evasivas do tipo " segue a recomendação da literatura ~, · s6 em caso de

contaminação~ , ou não souberam sequer informar.

CONCLUSÕES

Ao se pretender conhecer a situação da Limpeza de Unidade do paciente em alguns

hospitais do interior do Estado de São Paulo, através de depoimentos de enfermeiros responsáveis

pelo Serviço de Enfermagem , ve rificou-se pelos resultados apresentados que a Limpeza de

Unidade apesar de na sua origem ter sido reconhecida e mantida sob a responsabilidade do

pessoal de enfermagem, atualmente tem sido relegada pelo mesmo, nos hospitais investigados.

Observa-se que a enfermagem tem "aceitado· a transferência dessa responsabilidade para

outros serviços , sem critérios e sem questionamentos, protegendo-se com justificativas que

vão desde a sobrecarga de atividades, falta de pessoal , passando pela questão do desvio de

funções, ou seja , a execução de um cuidado indireto em detrimento do direto.

No que se refere à maneira de execução do procedimento observa-se que a maioria dos

enfermeiros sentiu dificuldade ou não soube informar. Esta situação parece estar relacionada

com a anterior, que demonstrou um afastamento do enfermeiro desta atividade manifestado,

inclusive , pela pouca ou nenhuma supervisão dos que o executam. No entanto , os enfermeiros

referiram que o procedimento é extremamente cheio de detalhes, trabalhoso e demorado, quando

cumprido fielmente , apesar de reconhecerem que a sua realização deveria ser segundo as

normas preconizadas pela literatura.

Os resultados dos depoimentos demonstraram também que a maioria dos enfermeiros

não soube informar o produto usado quando da realização da Limpeza de Unidade referindo ,

ainda que com dúvidas, o uso de hipoclorito de sódio, álcool etilico, fenol sintético ou que

seguiam a recomendação do Ministério da Saúde. Pode-se observar que o fenol sintético tem

sido o produto químico ma is utilizado pelos hospitais na realização da Limpeza de Unidade ,

demonstrando uma possível falta de conhecimento dos mesmos sobre a variedade de outros

princípios ativos indicados por este Ministério. Nesse sentido , pesquisas de campo poderiam

contribuir para uma melhor definição da relação custo-benefício dos variados produtos indicados

e da utilização segura e adequada dos mesmos. Esta conduta poderia ser justificada pelo fato

de que a negligência em relação à escolha de germicidas envolve sérios riscos, pela possibilidade

do emprego de produtos com atividades não satisfatórias ou mesmo nula e até pelo risco de

contaminação baderiana dos mesmos, com conseqüente transformação em veiculas de infecção.

Emb ora a literatura recomende a realização da Limpeza de Unidade em dois momentos

distintos , ou seja , diariamente (Limpeza de Unidade Concorrente) e após a desocupação do

leito pelo paciente ou em casos de hospitalização prolongada (Limpeza de Unidade Terminal) ,

os resultados do estudo demonstraram uma hípervalorização pelos enfermeiros da Limpeza

Terminal , em relação à Limpeza Concorrente. Esta supervalorização pode estar associada a

um possivel "esquecimento ou desconhecimento ~ dos mesmos em relação aos tipos de Limpeza

de Unidade, atendendo a sua periodicidade. Por outro lado é importante salientar que a pr ópria

literatura , ao mesmo tempo que classifica os dois tipo de Limpeza de Unidade, nem sempre

aborda a sua execução de maneira distinta.

A análise de todos esses resultados deixa antever uma possível falta de investimento

técnico-cientifico nos aspectos relacionados à Limpeza de Unidade , apesar de a mesma ser

considerada um importante requisito para a manutenção de um ambiente biologicamente seguro

para o paciente e para a instituição como um tod o.

Esta situação possibilita questionamentos e reflexões acerca do compromisso e do

envolvimento que administradores de instituições de saúde e profissionais afins têm demonstrado

em relação à temática. A avaliação da qualidade de uma instituição tem passado porquestões

relacionadas a recursos técnicos, serviço de hotelaria , nível técnico do corpo clínico e de

R. Bras. Enferm., Brasílía , v. 52, nA , p. 50 4 -513 , out.ldez. 1999 511

Avaliação da limpeza ...

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