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aula atividade da faculdade metodista da matéria de teologia
Tipologia: Esquemas
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REFLEXUS - Revista de Teologia e Ciências das Religiões | 43
O presente estudo enfoca os inícios da atuação do profeta Jeremias HSUHWHQGHPRVWUDUTXHDQWHVGHVHUFRQKHFLGRFRPRRSURIHWDGRMXt]R VREUH-XGiH-HUXVDOpP-HUHPLDVUHDOL]DYDMXQWRDRVKDELWDQWHVGRDQWL- JR5HLQRGR1RUWHXPDDWLYLGDGHTXHSRGHVHUGH¿QLGDFRPRSDVWRUDO Para tanto, o estudo aborda as questões que se referem a situação, con- teúdo e peculiaridades da pregação mais antiga do profeta.
PALAVRAS-CHAVE Jeremias, vocação profética, mensagem profética.
ABSTRACT This paper focusses on the early ministry of the prophet Jeremiah. It LQWHQGVWRVKRZWKDWEHIRUHKHFDPHWREHNQRZQDVDMXGJPHQWSURSKHW Jeremiah carried out an activity among the people of former Northern Israel that can be characterized as pastoral. In order to do that, the paper GHDOVZLWKLVVXHVUHODWHGWRFRQWH[WFRQWHQWVDQGFKDUDFWHULVWLFVRIWKH earliest preaching by Jeremiah.
(^1) Nelson Kilpp, doutor em teologia pela Philipps-Universität de Marburg (Alemanha), foi professor titular da Faculdades EST até 2010. Desde 2010 trabalha em Kassel, na Alemanha, no Dezernat Ökumene, Weltmission und Entwicklungsfragen der Evangelischen Kirche von Kurhessen-Waldeck.
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KEYWORDS Jeremiah, prophetic calling, prophetic message.
O livro de Jeremias inicia, como quase todos os livros proféticos, FRPDDPELHQWDomRKLVWyULFDGDDWXDomRGRSURIHWD
3DODYUDVGH-HUHPLDV¿OKRGH+LOTXLDVXPGRVVDFHUGRWHVTXH HVWDYDP HP$QDWRWH QD WHUUD GH %HQMDPLP D TXHP IRL GLULJLGD D SDODYUD GR 6HQKRU QRV GLDV GH -RVLDV ¿OKR GH $PRP UHL GH Judá, no décimo terceiro ano de seu reinado, e também nos dias de -RDTXLP $OPHLGD-HRDTXLP ¿OKRGH-RVLDVUHLGH-XGiDWpR¿P GRGpFLPRSULPHLURDQRGH=HGHTXLDV¿OKRGH-RVLDVUHLGH-XGi até a deportação de Jerusalém, no quinto mês. (Jeremias 1,1-3)
'HDFRUGRFRPHVVHWH[WRDDWXDomRGRSURIHWD-HUHPLDVFRPHoD no 13º ano do reinado de Josias e se estende até o quinto mês do 11º ano do reinado de Zedequias. Supondo que o ano israelita iniciava, como o ano babilônico, na primavera do hemisfério norte, o 13º ano do reinado de Josias coincide com o período que vai de março/abril de 627 a mar- ço/abril de 626. Essa informação sobre o início da atividade profética, no entanto, apresenta alguns problemas para a pesquisa.Um deles diz UHVSHLWRjUHODomRGH-HUHPLDVFRPDUHIRUPDMRVLkQLFD
Sabemos que o rei Josias promoveu, em torno de 622, uma re- IRUPDF~OWLFRUHOLJLRVDFXMRVGHWDOKHVHQFRQWUDPRVHP5HLV Essa reforma – também conhecida como reforma deuteronômica, por DSRLDUVHQROLYURGH'HXWHURQ{PLR±WURX[HQRYLGDGHVTXHPDUFDUDP SURIXQGDPHQWHDYLGDGRVMXGDtWDV$VPHGLGDVPDLVLPSRUWDQWHVIRUDP a eliminação de emblemas e símbolos religiosos cananeus e assírios do templo de Jerusalém, a destruição dos locais de culto fora da capital HHPHVSHFLDODFHQWUDOL]DomRGRFXOWRVDFUL¿FLDOQRWHPSORKLHURVR- OLPLWD6DEHPRVWDPEpPTXHMXQWDPHQWHFRPHVVDVPHGLGDVF~OWLFR- UHOLJLRVDV -RVLDV LQLFLRX XP SURFHVVR GH H[SDQVmR WHUULWRULDO TXH R
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Alguns pesquisadores acreditam que Jeremias se tenha posicionado a favor da reforma e argumentam que o profeta, numa denúncia contra RUHL-RDTXLP -HUHPLDV QmRSRXSDHORJLRVD-RVLDVVHXSDL
7HXSDLSRUYHQWXUDQmRFRPHXHEHEHX" 0DVHOHSUDWLFRXRGLUHLWRHDMXVWLoD E tudo correu bem para ele! (OHMXOJRXDFDXVDGRSREUHHGRLQGLJHQWH 1mRpLVWRFRQKHFHUPH" -HUHPLDV
(VVHWH[WRHORJLD-RVLDVSRUWHUSUDWLFDGRDMXVWLoDGXUDQWHRVHX reinado. Reconhece que os reis têm o direito de viver bem desde que UHDOL]HP R TXH GHOHV VH HVSHUD RX VHMD XP JRYHUQR TXH SURPRYD D MXVWLoDHJDUDQWDRGLUHLWRDRVMXULGLFDPHQWHPDLVIUDFRV1RHQWDQWR R WH[WR QmR PHQFLRQD QHQKXPD PHGLGD GD UHIRUPD F~OWLFRUHOLJLRVD PXLWRPHQRVDSROtWLFDH[SDQVLRQLVWDGH-RVLDV Os defensores da ideia de que Jeremias aprovou a reforma de Jo- VLDVD¿UPDPWHUDVHXIDYRURVFDStWXORVHGROLYUR'HIDWRpTXDVH consenso entre os pesquisadores que esses dois capítulos fazem parte da pregação mais antiga do profeta. E os anúncios desses capítulos pa- UHFHPSUHVVXSRUDVLWXDomRDQWHULRUjUHIRUPDGH-RVLDVMiTXHDFXVDP os destinatários de teUHPDEDQGRQDGR-DYpSDUDDGRUDURXWURVGHXVHV
$FDVRXPSRYRWURFDGHGHXVHV"
Essa situação de apostasia e idolatria, de fato, combinaria muito EHPFRPDVLWXDomRTXHSUHFHGHDUHIRUPDGHXWHURQ{PLFDFXMDLQWHQ- omRHUDSUHFLVDPHQWHDEROLURVULWRVQmRMDYLVWDVHGHFXQKRVLQFUHWLVWD destruindo os altares nos altos ( bamoth ) e centralizando o culto no tem- plo de Jerusalém, onde o controle era possível. A reforma de Josias, em 622 a.C., teria, então, sanado os problemas detectados e criticados pelo profeta em Jeremias 2-3. Consequentemente, Jeremias só poderia ter
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saudado a reforma deuteronômica. Mas, também nestes dois capítulos, RSURIHWDQmRVHPDQLIHVWDH[SOLFLWDPHQWHDIDYRUGDUHIRUPD A Jeremias 2 e 3 voltaremos mais adiante. Antes, porém, é neces- ViULR DEULU XP SDUrQWHVH SDUD WUDWDU GH XP SUREOHPD FRUUHODWR R GR silêncio profético entre 622 e 609.
A questão é procedente. Pois, se, de um lado, a pregação conti- da em Jeremias 2-3 provém, como vimos acima, da época anterior à UHIRUPDGH-RVLDVRXVHMDDQWHVGHHGHRXWURODGRDVSDODYUDV autênticas de Jeremias claramente datadas ou datáveis foram proferidas somente a partir de 609, teríamos uma “lacuna” na atuação profética. 4XHDFRQWHFHXHQWUHHD&" Em seu primeiro anúncio datável, o profeta enfoca os aconteci- mentos do ano 609. Neste ano, o rei Josias é morto ao tentar interceptar RDYDQoRGRH[pUFLWRHJtSFLR 5HLV RUHL-RDFD] WDPEpP conhecido por Salum) é entronizado, mas logo destituído e preso pelo Faraó e, depois, levado ao Egito (2 Reis 23,30-34), e Joaquim (Almei- GD-HRDTXLP LUPmRGH-RDFD]pFRQVWLWXtGRUHLSHODJUDoDGRUHLGR Egito (2 Reis 23,34). Jeremias lembra a morte de Josias e o desterro de -RDFD]QXPGLWRGUDPiWLFR
Não choreis aquele que está morto, e não o lamenteis! Chorai, antes, aquele que partiu, porque ele não voltará mais para rever a sua terra natal. (Jeremias 22,10; cf. v.11-12)
1DPHVPDpSRFDRXVHMDQR³FRPHoRGRUHLQDGR´GH-RDTXLP também é datado o conhecido discurso contra o templo de Jerusalém (Jeremias 26;7)^3.
(^3) O “começo do reinado” de Joaquim (Jeremias 26,1) representa “o ano de acesso”, ou VHMDRHVSDoRGHWHPSRHQWUHDPRUWHGRUHLDQWHULRUHRLQtFLRGRDQRQRYR PDUoR
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Apesar de muito interessante, essa tentativa de solucionar o proble- PDGRVLOrQFLRSURIpWLFRHVEDUUDHPPXLWDVGL¿FXOGDGHVeEDVWDQWHLP- provável que o redador tenha confudido a eleição do profeta “antes” do seu nascimento (Jeremias 1,5) com o início do recepção da “palavra do Senhor” (Jeremias 1,2). Além disso, os livros proféticos não se interes- sam pela data de nascimento de seus protagonistas. Importantes são, para eles, a mensagem e a atuação proféticas, eventualmente também a reação a esta mensagem, mas nunca o nascimento de um profeta. Além disso, ao datar o início da atividade de Jeremias no ano 615, Holladay apoia-se na suposição bastante duvidosa de que, de fato, tenha ocorrido uma leitura do Deuteronômio a cada sete anos, como propõe Deuteronômio 31,10- 3RUpPHVVDSUD[HQmRVHFRQ¿UPDHPQHQKXPWH[WRGROLYURGH-HUH- mias. Mas, ainda que ela tivesse ocorrido, por que ela teria desencandea- GRDDWXDomRSURIpWLFDGH-HUHPLDV"1mRYHMRQHQKXPPRWLYRSODXVtYHO 1mRKiH[HPSORVGHTXHXPSURIHWDWHQKDVLGRYRFDFLRQDGRRXVHWHQKD conscientizado de sua vocação através da leitura de um código de leis. Creio ser possível resolver os problemas arrolados acima sem recorrer DKLSyWHVHVIUiJHLVFRPRDGH:+ROODGD\3DUDWDQWRQRVDMXGDPGRLVWUD- balhos que não mais podem ser desconsiderados pela pesquisa séria. Trata- VHGRVDUWLJRVGH1RUEHUW/RK¿QN^6 e Rainer Albertz^7 , que enfocam os pri- meiros anos da atividade profética de Jeremias, onde constatam claramente dois tipos bem distintos de atuação profética, como veremos a seguir.
bertz faz um estudo minucioso de Jeremias 2-6. Ambos levam a sério
Wissenschaft , 1923, pp. 94-153, e J. Philip Hyatt. Jeremiah: Introduction and Exegesis. 1956, pp. 778-779. (Interpreters Bible, v. 5) (^6) 'HUMXQJH-HUHPLDDOV3URSDJDQGLVWXQG3RHW=XP*UXQGVWRFNYRQ-HU,QP. M. Bogaert (ed.) Le livre de Jérémie: Le profète et son milieu, les oracles e son transmission /RXYDLQ3HWHUVSS %(7K/ (^7) Jer 2-6 undGLH)UK]HLWYHUNQGLJXQJ-HUHPLDV Zeitschrift für die alttestamentli- che Wissenschaft , 1982, pp. 20-47.
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os indícios de que não se pode duvidar da atuação de Jeremias na épo- FD GH -RVLDV H[SOLFLWDPHQWH PHQFLRQDGD HP -HUHPLDV Ambos também concordam que, nessa época, Jeremias ainda não era aquele profeta conhecido por seus dramáticos anúncios sobre o inimigo do Norte que invade Judá destruindo tudo o que encontra pela frente (Jeremias 4-6). O profeta que anuncia a destruição de Judá e Jerusalém inicia sua atividade somente em 609, após a morte de Josias, com o iní- cio do reinado de Joaquim. Antes disso, Jeremias tinha uma mensagem GLIHUHQWHHQGHUHoDGDDGHVWLQDWiULRVEHPHVSHFt¿FRVRVGHVFHQGHQWHV dos habitantes do antigo Reino do Norte, Israel, que, em 722, tiveram TXHIXJLUDQWHRDYDQoRGRH[pUFLWRDVVtULRHVHUHIXJLDUDPHP-XGiH de acordo com descobertas arqueológicas, também em torno da locali- dade de Anatot, a aldeia natal de Jeremias. A seguir, um breve resumo das conclusões a que chegam N. /RK¿QN H5$OEHUW] DUHVSHLWRGRVLQtFLRVGDSUHJDomRMHUH- miânica.
3.1. Uma fase “pré-profética”: A evidência de Jeremias 30-
1/RK¿QND¿UPDTXHRSURIHWDGHMXt]R-HUHPLDVDVVLPFRPR nós o conhecemos, inicia sua atividade somente em 609. O discur- so contra o templo é a sua primeira grande manifestação pública -HUHPLDV 1mR Ki QHQKXP DQ~QFLR GH MXt]R TXH SRVVD VHU datado antes de 609. A atuação de Jeremias antes de 609, sob o rei- QDGR GH -RVLDV /RK¿QN FKDPD GH ³IDVH SUpSURIpWLFD´^8 2V WH[WRV provenientes desta fase, ele os encontra no cerne de Jeremias 30-31. 6HP SRGHU HQWUDU QD DQiOLVH GHWDOKDGD GHVVD FROHWkQHD GH WH[WRV TXHFHUWDPHQWHWHYHXPDKLVWyULDEDVWDQWHFRPSOH[DDWpDGRWDUDVXD atual forma^9 , é praticamente consenso da pesquisa que, na origem
(^8) 'HUMXQJH-HUHPLDDOV3URSDJDQGLVWXQG3RHWS (^9) 1 /RK¿QN FRQVLGHUD DXWrQWLFRV RV VHJXLQWHV SRHPDV -HUHPLDV , (II).18-21 (III); 31,2-6 (IV).15-17 (V).18-20 (VI) e 21-22 (VII). Creio que somente os poemas IV, V e VI podem ser considerados trechos ditos por Jeremias ao antigo Reino de Israel. O cerne do capítulo 30 forma uma liturgia profética da época do
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3.2. Duas coletâneas de ditos proféticos: A evidência de Jeremias 2-
R. Albertz analisa o bloco de Jeremias 2-6, considerado quase una- nimemente como a pregação mais antiga do profeta, e constata que o bloco é composto por duas coletâneas de ditos proféticos. A primeira se encontra em Jeremias 2,1-4,2 (coletânea A) e a segunda em Jeremias 4,3-6,30 (coletânea B). Os ditos de ambas as coletâneas são endereça- dos a destinatários distintos. As unidades retóricas da primeira coletânea são dirigidas quase TXH H[FOXVLYDPHQWH YH]HV D GHVWLQDWiULRV GHVLJQDGRV SRU ³,VUDHO´ ³FDVDGH,VUDHO´ ³¿OKRVGH,VUDHO¶ RX³FDVDGH-DFy´ RXVHMDDJUXSRVIDFLOPHQWHLGHQWL¿FiYHLVFRP o Reino do Norte. Nessa primeira coletânea, somente duas vezes apa- UHFHP FRPR GHVWLQDWiULRV JUDQGH]DV RX JUXSRV LGHQWL¿FiYHLV FRP R 5HLQRGR6XODVDEHU³-XGi´ H³-HUXVDOpP´ DTXLFHUWDPHQ- te parte da introdução geral de todo o bloco). Por outro lado, na segunda coleção de ditos do bloco (Jeremias 4,3- 6,30), a situação é inversa. Enquanto que, em 22 ocasiões, os destina- WiULRVVmRLGHQWL¿FDGRVSRUGHVLJQDo}HVTXHUHPHWHPDR5HLQRGR6XO WDLV FRPR ³-HUXVDOpP´ ³6LmR´ RX ³¿OKDGH6LmR´ ³-XGi´RX³FDVDGH-XGi´ H³¿OKRVGH%HQMDPLQ´ TXHQDpSRFDWDPEpPSHUWHQFLD DR5HLQRGR6XO VRPHQWHTXDWURYH]HVRWH[WRVHGLULJHDJUXSRVGH- signados por “casa de Israel” (5,11.15), “casa de Jacó” (5,20) ou “resto de Israel” (6,9)^12. A atribuição das duas partes do bloco mais antigo de palavras pro- féticas (Jeremias 2-6) a dois destinatários distintos não pode ser um mero acaso. O argumento de que Jeremias não mais utiliza o termo ³,VUDHO´ SDUD GHVLJQDU H[FOXVLYDPHQWH R DQWLJR 5HLQR GR 1RUWH PDV WDPEpPR5HLQRGH-XGiQmRFRQYHQFHSRLVQmRFRQVHJXHH[SOLFDUSRU TXHRSURIHWDXVDTXDVHTXHH[FOXVLYDPHQWHQDSULPHLUDSDUWH³,VUDHO´ e, na segunda parte, “Judá”. Não se esperaria, no caso de uma identida- GHGDVGXDVJUDQGH]DVXPDGLVWULEXLomRPDLVHTXLOLEUDGD"ePDLVIiFLO
(^12) Jer 2-6 undGLH)UK]HLWYHUNQGLJXQJ-HUHPLDV, pp. 25-26.
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admitir que a primeira coletânea (Jeremias 2-3) foi destinada a grupos que originalmente eram parte do Reino de Israel (Norte) e que, por isso, IDFLOPHQWHVHLGHQWL¿FDYDPFRPDGHVLJQDomR³,VUDHO´HTXHDVHJXQGD coletânea (Jeremias 4-6) se destinou preponderantemente ao Reino de Judá e Jerusalém (Sul). (VVDKLSyWHVHpFRQ¿UPDGDSHORFRQWH~GRGHDPEDVDVSDUWHVGR bloco, como veremos a seguir (3.2.1. a 3.2.3).
3.2.1. Os anúncios de juízo
¬GLIHUHQoDGHGHVWLQDWiULRVFRQVWDWDGDDFLPDFRUUHVSRQGHXPDGL- ferença de conteúdos. A mensagem da coletânea A (Jeremais 2,1-4,2) é diferente da mensagem da coletânea B (Jeremias 4,3-6,30)^13. Os anúncios GHMXt]RTXDVHQmRDSDUHFHPQRVWH[WRVGDFROHWkQHD$4XDQGRDSDUH- FHP VRPHQWHHP VmREDVWDQWHJHQpULFRV3RUH[HPSOR
(LVTXHYRXMXOJDUWH SRUTXHGL]HV(XQmRSHTXHL
ou então,
Como se envergonha o ladrão que é surpeendido, assim se envegonha a casa de Israel (2,26).
$OpPGHUDURVHVVHVDQ~QFLRVDSDUHQWHPHQWHIDODPGHXPMXt]RMi RFRUULGRQRSDVVDGR
Por acaso é Israel um escravo, ou um servo nascido em casa SDUDTXHVHWRUQHXPSUHVD" Os leões rugiram contra ele, lançaram urros; reduziram à desolação a sua terra suas cLGDGHV IRUDP TXHLPDGDV GHL[DGDV VHP KDELWDQWHV (2,14-15)
(^13) Jer 2-6 undGLH)UK]HLWYHUNQGLJXQJ-HUHPLDV, pp. 34-35.
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3.2.2. As denúncias
Também as denúncias divergem bastante em ambas as coletâneas. Na coletânea A, encontramos principalmente denúncias da apostasia de ,VUDHO(VVDVGHQ~QFLDVWrPXPFDUiWHUJHQpULFR,VUDHO³DEDQGRQRX³ Javé (2,13.17), “afastou-se” (2,5) ou “esqueceu-se” dele (2,32), eles “não perguntaram” por Javé e por sua graciosa atuação no passado (2,6.8.31). Israel abandonou Javé para adorar ídolos que nada valem QHPSRGHP
Eles me abandonaram, a fonte de água viva, para cavar para si cisternas, cisternas furadas que não podem conter água. (2,13; cf. 2,5)
As cisternas furadas são uma metáfora para as imagens de divin- dades, especialmente de Baal. O pecado maior de Israel foi envolver-se com cultos idolátricos (2,5.8.11.13.23-25); seus profetas profetizaram por Baal (2,8). Esta apostasia de Javé e a tendência da baalização da fé MDYLVWDFDEHPPXLWRPHOKRUQDVLWXDomRGRDQWLJR5HLQRGR1RUWHGR que na situação de Judá e Jerusalém; profetizar em nome de Baal é ca- UDFWHUtVWLFDGRVSURIHWDVGH6DPDULDFRPRH[SOtFLWRHP-HUHPLDV Também na coletânea B, encontra-se crítica religiosa, mas ela é to- talmente diferente. A apostasia não se dá por causa da idolatria, mas ela está vinculada à desobediência concreta da lei (talvez na versão da lei deuteronômica). Ninguém – nem os pobres nem a elite – vive de acordo com esta lei (5,4-5). Além disso, em Jeremias 4-6, o profeta denuncia a hipocrisia do ritual religioso no templo, que tenta encobrir os crimes sociais (6,20; cf. 7,9-11). Profetas e sacerdotes não revelam, mas antes escondem os males sociais (5,30-31; 6,13-15). Aqui, não se denuncia XPFXOWREDDOL]DGRRXVLQFUHWLVWDPDVFULWLFDVHRFXOWRMDYLVWDR¿FLDO realizado no templo de Jerusalém. $FROHWkQHD%QRHQWDQWRVHGHVWDFDSRURXWURWLSRGHGHQ~QFLD a dos crimes sociais. Não há, em Jerusalém, ninguém que pratique a MXVWLoDRXGLJDDYHUGDGH RTXHVHYrpDGXOWpULR RSUHV- são, violência e brutalidade (6,6-8), ganância e mentira (6,13), calúnia H[SORUDomRGRVLQFDXWRVSRUSDUWHGHXPDHOLWHHFRQ{PLFD
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(VVHWLSRGHGHQ~QFLDUHÀHWHVHPVRPEUDGHG~YLGDXPDVLWXDomRWR- talmente diferente da pressuposta na coletânea A^15. Na coletânea A, por outro lado, a crítica social é praticamente ine- [LVWHQWH8PD~QLFDYH]VHPHQFLRQDXPFDVRGHKRPLFtGLR PDVHVWHREYLDPHQWHpXPFDVRHVSHFt¿FRGHDVVDVVLQDWRSRUPRWLYRV políticos. Não é a denúncia social, mas a denúncia política que se des- taca nesta primeira coletânea de ditos. Criticada é, em especial, a polí- tica de alianças com os impérios estrangeiros (2,18.25.36). Aliás, essa política de alianças facilmente se confunde com a apostasia religiosa GH,VUDHO
&RPRSRGHLVGL]HU³1mRPHSURIDQHL QmRFRUULDWUiVGHtGRORV´" 8PDMXPHQWDVHOYDJHPDFRVWXPDGDDRGHVHUWR que no ardor do seu cio sorve o vento; TXHPIUHDUiVXDSDL[mR" (YLWDTXHWHXVSpV¿TXHPGHVQXGRV E a tua garganta sedenta! 0DVWXGL]HV³eLQ~WLO1mR Porque eu amo os estrangeiros e corro atrás deles”. (2,23-25)
Cabem aqui duas palavras sobre o caráter das denúncias de Jere- mias nesta primeira coleção. Em primeiro lugar, o leitor ou a leitora tem a nítida impressão de que, em Jeremias 2-3, o profeta denuncia uma transgressão ocorrida no passado, que, no entanto, se prolonga até RSUHVHQWH
2TXHHQFRQWUDUDPRVYRVVRVSDLVHPPLPGHLQMXVWR SDUDTXHVHDIDVWDVVHPGHPLP" 'HVGHWHPSRVUHPRWRVTXHEUDVWHRWHXMXJR rompeste as tuas cadeias. (2,5.20)
(^15) R. Albertz, Jer 2-6 undGLH)UK]HLWYHUNQGLJXQJ-HUHPLDV, p. 40, crê que a coletânea
%UHÀHWHXPGHVHQYROYLPHQWRVRFLDOTXHPRVWUDRIUDFDVVRGDGLPHQVão social da reforma deuteronômica.
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3.2.3. O anúncio de um novo início
3DUD¿QDOL]DUHVWDFRPSDUDomRHQWUHDVGXDVFROHWkQHDVGREORFR-H- UHPLDVFRQYpPOHYDQWDUDTXHVWmRVREUHRREMHWLYRSULQFLSDOGHDP- bas as coleções. Esta não é uma questão inconteste. No entanto, pode-se dizer que, na coletânea B, a intenção é apontar para a iminente invasão do inimigo do Norte; esse inimigo trará destruição e devastação a Judá H-HUXVDOpP$FDWiVWURIHpLUUHYHUVtYHOQmRPDLVH[LVWHSRVVLELOLGDGHGH conversão (6,15-21.27-30). Os motivos para essa catástrofe devem ser EXVFDGRVQRVGHOLWRVGRSRYRHPHVSHFLDOGHVXDOLGHUDQoD2REMHWLYR da coletânea A é outro. Aqui não se tem a impressão de uma desgraça iminente, mas de uma desgraça passada que subsiste até o presente. Além disso, Jeremias insiste para que os seus ouvintes reconheçam a sua culpa (2,17-19.23.29-30.35) e se convertam (3,7.12.22; 4,1) – não apressada PDVFRQVFLHQWHPHQWH±SRLVpFKHJDGRR¿PGDpSRFDGDLUDGLYLQD
Volta, renegada Israel – dito de Javé! Não farei cair sobre vós a minha ira, porque sou misericordioso – dito de Javé! Não guardo rancor para sempre. (3,12)
Portanto, Jeremias vê a possibilidade de seus ouvintes terem um novo início com seu Deus. A desgraça do passado, fruto do rancor divi- QRFKHJRXDR¿P8PDQRYDpSRFDVHDSUR[LPDQDTXDODPLVHULFyUGLD de Deus será maior do que a culpa do passado. Essa mensagem de um novo início, contida na coletânea A, pode ser facilmente detectada tam- bém em Jeremias 31, como vimos acima (3.1).
Podemos concluir aqui. A análise mostrou que Jeremias 2,4-4,2 e 31 preservam a pregação da primeira fase de atuação de Jeremias. Nesta fase, que se estende de DRSURIHWDDLQGDQmRpDTXHOHTXHDQXQFLDRMXt]RFRQWUD-XGi 3HORFRQWUiULRHOHVHGLULJHH[FOXVLYDPHQWHDRVKDELWDQWHVGDVFHUFD-
REFLEXUS - Revista de Teologia e Ciências das Religiões | 59
nias de Anatote, muitos deles descendentes de refugiados do antigo Reino do Norte. Junto a essas pessoas Jeremias tenta trabalhar o passa- GRGHFXOSDHFDVWLJRPRVWUDQGRTXHRWHPSRGHVRIULPHQWRMiSDVVRXH que, agora, é hora de voltar a Javé – talvez até de peregrinar novamente ao templo de Jerusalém (31,6) –, em todo caso, de novamente plantar vinhas nos montes de Samaria (31,5) e de reconstruir a nação (31,4). Esse tipo de atividade do profeta deve ser entendida como atua- ção de cunho nitidamente pastoral^17 , pois Jeremias consola, aconselha H DQLPD RV GHVFHQGHQWHV GRV H[KDELWDQWHV GR 1RUWH EXVFD DIDVWDU D apatia e o conformismo resultante do sentimento de culpa e despertar a esperança por um futuro melhor. O “pastor” Jeremias entendeu como VHQGRVXDWDUHIDDGHDMXGDURSRYRDUHPRYHUDVXDSUySULDFDUJDGH FXOSDHVRIULPHQWRTXHMiKiXPVpFXORSHVDYDVREUHRVVHXVRPEURV Somente a remoção dos entulhos poderia levar a uma nova pers- pectiva de vida. Isso é possível porque, para Jeremias, Javé não mais está irado; pelo contrário, ele quer mostrar novamente seu amor ao seu SRYR1RYDYLGDpSRVVtYHO%DVWDUHFRQKHFHUDFXOSDQmRVHGHL[DUGR- minar por ela e “retornar” a Javé. Nessa sua atuação pastoral, Jeremias atualiza a teologia de Oseias tanto na caracterização da culpa do povo (apostasia) quanto na perspectiva do novo início da relação entre Javé e povo sobre a base do profundo amor divino. Nessa primeira fase de atuação, Jeremias provavelmente ainda vi- via em Anatote. Certamente ainda não era uma pessoa muito conhecida em Jerusalém. Parece que ainda não era conhecido na corte de Josias. Esta primeira fase de atuação coincide com a época em que Josias, com DVXDSROtWLFDGHH[SDQVmRWHUULWRULDOWHQWRXUHFRQTXLVWDUDUHJLmRGRDQ- WLJR5HLQRGH,VUDHO3RGHVHSRUWDQWRD¿UPDUTXH-HUHPLDVDWXRXHP FRQVRQkQFLDFRPDGLPHQVmRSROtWLFDGDUHIRUPDMRVLkQLFDSRLVWDP- bém esta representava uma chance de mudança para uma parte esque- FLGDPDVVLJQL¿FDWLYDGRSRYRGH,VUDHORVGHVFHQGHQWHVGRVIXJLWLYRV do Reino do Norte, que ainda choravam a perda de suas terras e de seus ¿OKRV 1HVVDpSRFD-HUHPLDVDSDUHQWHPHQWHDLQGDQmRWLQKD motivos para criticar o templo de Jerusalém.
(^17) Cf. Rainer Albertz, Jer 2-6 undGLH)UK]HLWYHUNQGLJXQJ-HUHPLDV, p. 38.